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Automutilação: Comportamento Autolesivo

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AUTOMUTILAÇÃO
De acordo com Nock (2010 apud SANTOS; FARO, 2018) existe um senso inato de autopreservação que faz com que os sujeitos busquem comportamentos e contextos que denotam maior longevidade durante a vida. No entanto, às vezes esses mesmos sujeitos se engajam em comportamentos inconsistentes com essa busca, não-saudáveis ou prejudiciais a si mesmos. Como exemplo desse tipo de comportamentos pode-se citar a conduta autolesiva, ou autolesão, executada de forma intencional e que causa danos físicos e psicológicos aos indivíduos a praticam.
No decorrer dos anos, tem-se observado um crescente interesse na comunidade científica pelo comportamento de automutilação. Embora não haja uma concordância sobre as causas desse comportamento, ele é frequentemente associado a transtornos mentais e gera relativa tranquilidade psíquica para suportar a confusão mental, o que representa um grande impacto na vida do indivíduo que se automutila (DUQUE, 2004 apud VIEIRA; PIRES; PIRES, 2016).
A denominação mais aceita para autolesão refere-se a conjunto de comportamentos que podem resultar em dano intencional ao indivíduo, com conhecimento de que podem ou vão trazer algum de dano físico ou psicológico (NOCK, 2010 apud SANTOS; FARO, 2018). De forma geral, conceitua-se comportamento autolesivo em dois grandes grupos: no primeiro, o ato de se lesionar é a intenção do comportamento, já no segundo, a autolesão é produto ou resultado de uma ação deliberada que não objetiva tal dano (NOCK, 2010 apud SANTOS; FARO, 2018).
De acordo com Giusti (2013 apud SILVA; BOTTI, 2017) a atomutilação deliberada consiste na destruição deliberada direta ou modificação do tecido corporal sem intenção consciente de suicídio, no entanto que resulta em ferimentos graves o suficiente para a ocorrência de lesões. Tal comportamento, está associado a mecanismos desadaptativos de enfrentamento ou estratégias de regulação emocional, portanto a automutilação deliberada pode ser utilizada para alívio de emoções muito fortes e diminuição da tensão. Além das consequências físicas é possível observar ainda que tal comportamento autolesivo está associado com uma variedade complexa de interferências negativas como internos ou externos (GRATZ, 2001 apud SILVA; BOTTI, 2017).
Pesquisas indicam que este tipo de comportamento tem prevalência em diversas faixas etárias, sendo predominante em adolescentes do sexo feminino. Geralmente, inicia-se entre os 13 e 14 anos e pode perdurar por 10 ou 15 anos, ou ainda mais tempo. No Brasil os estudos sobre prevalência do comportamento autolesivo ainda se apresenta inconsistente, no entanto verifica-se aumento significativo na busca por esse comportamento (CEDARO; NASCIMENTO, 2013; GIUSTI, 2013; HAWTON; RODHAM; EVANS; WEATHERALL, 2002 apud SILVA; BOTTI, 2017).
Entre os fatores associados à automutilação entre crianças de 5 a 12 anos encontram-se história familiar de tentativa de suicídio ou suicídio consumado e história maltrato físico por um adulto. Verificam-se também evidências entre fatores psicopatológicos específicos, tais como transtornos de conduta, personalidade bordeline, depressão e sintomas psicóticos (FISHER et al, 2012 apud SILVA; BOTTI, 2017).
De acordo com Ronka et al. (2013 apud SILVA; BOTTI, 2017) um estudo de base populacional que investigou a frequência da automutilação deliberada entre adolescentes mostrou que 18,0% das meninas e 5,3% dos meninos não tinha amigos íntimos, 24,7% das meninas e 13,7% dos meninos sentiam que ninguém gostava deles e 40,5% das meninas e 15,4% dos meninos estavam insatisfeitos com a própria vida, sendo a solidão um fator importante a ser considerado entre adolescentes. 
Além disso, a exposição à violência (psicológica, física ou sexual) também está associada ao comportamento de auto dano. Intimidação frequente ou bullying entre crianças e adolescentes, bem como maus tratos por familiar, problemas de parentalidade e abuso sexual estão relacionados com o aumento das taxas de automutilação (FISHER et al, 2012 apud SILVA; BOTTI, 2017). Uma investigação sobre maus tratos na infância e automutilação mostram associação entre abuso sexual na infância e posterior automutilação na adolescência. 
Já no que se refere aos adultos, verifica-se maior vulnerabilidade para automutilação deliberada entre adultos que apresentam pelo menos um evento negativo grave nos últimos 6 meses. Entre estes eventos relatados encontram-se dificuldades de relacionamento com parceiros, amigos, cônjuges e vizinhos, crises financeiras e história de transtorno mental (Ritchie et al., 2011 apud SILVA; BOTTI, 2017).
De acordo com Clayton (2018) o diagnóstico da autolesão deve necessariamente excluir comportamento depressivo ou suicida. Nesse sentido é importante uma anamnese bem estruturada e bem conduzida e o exame físico extenso, para avaliar o corpo. Antes do início do tratamento é essencial que haja uma discussão com o paciente para a avaliação e planejamento adequado deste. Algumas etapas são: validar a experiência do paciente, mostrando-se atento ao seu relato e comunicando que suas experiências são consideradas com seriedade; demonstrar compreender as emoções do paciente que motivaram suas ações; determinar tipo, quantidade e gravidade das lesões; definir com que frequência as autolesões acontecem e há quanto tempo vêm ocorrendo; investigar a função/motivação/significado da autolesão para o paciente; verificar transtornos psiquiátricos coexistentes; estimar o risco de tentativa de suicídio, bem como determinar a disposição do paciente para adesão ao tratamento. 
REFERÊNCIAS
CLAYTON, Paula J.. Autolesão não suicida (ALNS). 2018. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/comportamento-suicida-e-autoles%C3%A3o/autoles%C3%A3o-n%C3%A3o-suicida-alns. Acesso em: 13 dez. 2020.
SANTOS, Luana Cristina Silva; FARO, André. Aspectos conceituais da conduta autolesiva: uma revisão teórica.. Revista Psicologia em Pesquisa, Juiz de Fora, v. 12, n. 1, p. 1-10, 26 abr. 2018. Universidade Federal de Juiz de Fora. http://dx.doi.org/10.24879/201800120010092.
SILVA, Aline Conceição; BOTTI, Nadja Cristiane Lappann. Comportamento autolesivo ao longo do ciclo vital: Revisão integrativa da literatura. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental,  Porto ,  n. 18, p. 67-76,  dez.  2017 .   Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1647-21602017000300010&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  13  dez.  2020.  http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0194.
VIEIRA, Marcos Girardi; PIRES, Marta Helena Rovani; PIRES, Oscar Cesar. Automutilação: intensidade dolorosa, fatores desencadeantes e gratificantes. Rev. dor , São Paulo, v. 17, n. 4, pág. 257-260, dezembro de 2016. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-00132016000400257&lng=en&nrm=iso>. acesso em 13 de dezembro de 2020.  https://doi.org/10.5935/1806-0013.20160084 .