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O boi é quem manda

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50 DBO novembro 2013
Maristela Franco
maristela@revistadbo.com.br
Acostume seus ouvidos – o termo rotatínuo veio para ficar, se ins-crevendo definitivamente no di-
cionário da pecuária. Cunhado pelo pro-
fessor Paulo César Faccio Carvalho, da 
Universidade Federal do Rio Grande do 
Sul (UFRGS), esse neologismo define um 
novo sistema de manejo de pastagens, que 
promete aumentar a produção tanto de 
carne quanto de leite no País. Mescla de 
rotativo com contínuo, a palavra dá uma 
pista clara do conceito técnico que o nor-
teia. Os bovinos continuam sendo agrupa-
dos em lotes que mudam frequentemente 
de piquete (como no rotacionado), mas o 
principal critério para definição do tempo 
de permanência na área não é o capim e 
sim o comportamento dos animais, que 
O boi é quem manda
Pastejo “rotatínuo” não abre mão da rotação de piquetes, 
mas respeita comportamento natural dos animais, que consomem 
apenas porção mais nobre do pasto.
podem selecionar o alimento, como no 
pastejo contínuo.
Essa é a grande “sacada” do novo sis-
tema, ainda pouco conhecido pelos pecu-
aristas de corte, mas já bastante usado por 
produtores de leite do Rio Grande do Sul. 
“Após 14 anos de pesquisa, comprovamos 
que os ruminantes têm hábitos de pastejo 
muito próprios. Quando podem escolher, 
comem apenas a parte mais nutritiva das 
plantas (as folhas), rejeitando os materiais 
senescentes e os mais duros, como os col-
mos. O que fazemos, no rotatínuo, é respei-
tar esse comportamento, elevando a pro-
dutividade tanto de carne quanto de leite”, 
explica Faccio. Segundo ele, o grande dile-
ma atual do manejo de pastagens é escolher 
entre duas correntes: a máxima eficiência 
de colheita do capim e a máxima eficiência 
de utilização desse alimento pelo animal. A 
partir de determinado momento, elas pas-
sam a ser antagônicas. “Nós privilegiamos 
a segunda”, salienta.
A altura de entrada do gado no pasto 
não tem segredo: corresponde a 95% de 
interceptação luminosa, conforme reco-
mendam pesquisadores como Sila Carnei-
ro da Silva, professor da Escola Superior 
de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). 
Acima desse percentual de luz incidente, a 
planta começa a emitir mais colmos do que 
folhas, perdendo qualidade. “Chegamos à 
mesma conclusão, em 2004, por intermé-
dio de outra linha de pesquisa. Observando 
o comportamento dos animais, descobri-
mos que, em pastagens com altura corres-
pondente a 95% da interceptação luminosa, 
ocorriam as máximas taxas de ingestão”, 
esclarece o pesquisador gaúcho. Mas qual 
deve ser a altura de saída? Neste ponto, o 
rotatínuo diverge dos demais sistemas de 
pastejo em uso e ganha singularidade.
Pastagens
Animais no módulo 
de tifton irrigado, que 
é usado praticamente 
o ano inteiro.
fo
to
s:
 m
ar
is
te
la
 f
ra
n
c
o
O que é o índice de 
interceptação luminosa?
 
É um parâmetro técnico obtido ao 
medir-se, com aparelho adequado, 
a quantidade de luz acima e abai-
xo do capim. A diferença entre esse 
valores é o percentual interceptado 
ou captado pela planta para fazer fo-
tossíntese. Índices baixos de IL não 
garantem boa produção de forragem, 
índices acima de 95% resultam em 
acúmulo de material duro e senes-
cente. O índice ideal de IL correspon-
de a determinada altura do pasto, 
medida prática utilizada pelos pecu-
aristas para manejá-lo.
novembro 2013 DBO 51
do sol, e nem à noite. Portanto, é necessá-
rio fornecer-lhes condições para que man-
tenham a maior velocidade possível de in-
gestão. Quando isso acontece, a resposta é 
imediata: de um dia para o outro a produção 
de leite aumenta. No gado de corte, apesar 
dos resultados serem menos evidentes (não 
podem ser medidos no balde), pesagens re-
gulares confirmam aumento no ganho de 
peso diário, quando se respeita o hábito na-
tural de pastejo dos animais.
Só no filé – As pesquisas mostraram tam-
bém que os bovinos têm outro comporta-
mento típico: em condições naturais, re-
movem no máximo metade da forragem 
disponível por horizonte de pastejo. Ou seja, 
comem camadas sucessivas de forragem, 
sempre na mesma proporção: 40% a 50% do 
total ofertado. “Ainda precisamos entender 
melhor por que isso acontece, mas se trata de 
um fato inequívoco, confirmado por inúme-
ros trabalhos de pesquisa, independentemen-
te da planta forrageira estudada”, diz Faccio. 
Velocidade de ingestão norteia novo sistema de pastejo
Faccio, da UFRGS: filosofia
do não-desperdício rebaixa muito 
o pasto e prejudica o animal.
o boi fala – Segundo Faccio, nos últimos 
anos, disseminou-se, entre técnicos e produ-
tores, uma filosofia do não-desperdício que 
leva ao rebaixamento excessivo do pasto. 
Isso prejudica principalmente o gado, que é 
obrigado a comer forragem de menor qua-
lidade. “Somos totalmente contrários a essa 
prática”, diz o pesquisador. No rotatínuo, a 
altura de saída é ditada pelo “comensal”, ou 
seja, pelo boi. Um produtor gaúcho usuário 
do sistema costuma dizer que, “quando os 
animais começam a conversar com as formi-
gas” (ou seja, diminuem o ritmo de pastejo) 
é hora de mudá-los de piquete, pois, do con-
trário, haverá queda de desempenho.
Diversos trabalhos realizados ao longo 
da última década pelo Grupo de Pesquisa 
em Ecologia do Pastejo da Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Sul (UFRGS), co-
ordenado por Faccio, comprovaram que os 
bovinos reduzem a velocidade de colhei-
ta de capim quando este perde qualidade. 
Ficam andando a esmo, em busca de algo 
melhor. “Comprovamos isso ao colocar pe-
quenos computadores no pescoço dos ani-
mais, que registram os movimentos de sua 
mandíbula e, consequentemente, o número 
de bocados (ato de apreensão do alimento) 
desferidos durante um dia de pastejo, o que 
possibilita medir sua velocidade de inges-
tão”, explica o pesquisador.
Quando o pasto está fora do padrão dese-
jável, o número de bocados cai drasticamen-
te e o bovino demora mais tempo para se ali-
mentar. Imagine uma mesa cheia de pratos 
apetitosos, que atraem imediatamente a aten-
ção dos comensais. Em pouco tempo, ela 
fica vazia, enquanto outra, com comida in-
sossa ou já velha, somente é visitada quando 
a fome bate forte. Isso também acontece com 
os bovinos. Em pastagens com boa estrutura 
(altura adequada), ricas em folhas novas, nu-
tritivas, cada indivíduo pode dar até 40 bo-
cados por minuto, apreendendo mais de 570 
mg de matéria seca por bocado, enquanto em 
pastos muito baixos ou já fora do ponto óti-
mo de colheita, esse número cai para a me-
tade, com reflexo negativo sobre o desempe-
nho do bovino.
Animais de alta demanda nutricional, 
como as vacas leiteiras, são especialmente 
prejudicadas pelo fenômeno, pois têm pou-
co tempo para pastejar. Colhem forragem 
praticamente 1,5 hora antes da ordenha da 
manhã e 1,5 hora antes da ordenha da tar-
de. Não pastejam ao meio-dia, por causa 
Como o bovino se comporta
 Tifton 85 Sorgo
Ta
xa
 d
e 
in
ge
st
ão
 (g
M
S
/m
in
) 
Rebaixamento do pasto (% da altura inicial)
0.20
0.18
0.16
0.14
0.12
0.10
0.08
0.06
0.04
0.02
0.00
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Consumo cai após pastejo de 40% da altura inicial
s
52 DBO novembro 2013
No gráfico, pode-se ver que a taxa de inges-
tão (medida em gramas de matéria seca por 
minuto) mantém-se alta e contínua enquanto 
os bovinos estão colhendo até 50% da altura 
do pasto; depois disso, ela cai progressiva-
mente. “Eles comem somente o filé do ca-
pim”, diz Faccio.
Essa descoberta foi usada para definir a 
altura de saída dos lotes (veja tabela). Se a 
área é de tanzânia, por exemplo, a altura de 
entrada deve ser de 70 cm (95% da intercep-
tação luminosa ou máxima velocidade de in-
gestão) e a altura de saída (resíduo) de 42-40 
cm, que representa consumo de 40% do total 
ofertado. No máximo, é possível rebaixar o 
pasto a 35 cm, ou seja, 50% da altura inicial. 
Na primeira metade do estrato forrageiro, 
encontram-se os alimentos preferidos pelos 
animais, como hastes finas e folhas tenras, 
que apresentam melhor valor nutricional. 
Abaixo disso, devido às característicasmor-
fológicas das plantas forrageiras, esses com-
ponentes tornam-se escassos e o ritmo de 
ingestão diminui, não apenas em função da 
menor qualidade do capim, mas porque fica 
mais difícil colhê-lo.
O grupo de pesquisa coordenado por 
Faccio confirmou que há forte correlação en-
tre a estrutura do dossel forrageiro e o tem-
po dispendido pelos bovinos para se alimen-
tar. Em pastos baixos, eles precisam desferir 
mais bocados para capturar a mesma quanti-
dade de alimentos e gastam mais tempo nes-
sa tarefa. “É como levar o garfo várias vezes 
ao prato e retirá-lo de lá vazio ou somente 
com duas tirinhas de alface”, diz o pesqui-
sador. Se, ao invés da altura ideal de entrada 
(20 cm), um pasto de tifton tiver 15 cm, os 
animais gastarão 25% mais tempo para cap-
turar a mesma quantidade de alimento que 
obtinham antes. Se pastejavam 10 horas, te-
rão de pastejar 12,5. “Caso o produtor deci-
da rebaixar ainda mais o dossel, para 10 cm, 
eles precisarão de 20 horas para se alimen-
tar e, como não dispõem de todo esse tempo, 
sentirão fome ou engordarão menos, inclusi-
ve porque terão de dispender energia andan-
do pela área”, explica Faccio.
ProPoSta de manejo – A proposta do 
sistema rotatínuo, portanto, é manejar o 
pasto de modo a favorecer os animais. “Não 
somos como pais rígidos e tradicionais que 
dizem a seus filhos: vocês têm de comer 
tudo. Deixamos eles degustarem apenas o 
miolinho da chuleta e descartar ossos, gor-
dura e porções menos nobres do alimento, 
passando ao próximo prato”, compara o 
pesquisador gaúcho. “O conceito de desper-
dício é uma criação do homem, não exise 
na natureza”, salienta. Ao se colher somente 
a parte superior da pastagem, a velocidade 
de ingestão aumenta e, consequentemente, 
diminui o período de descanso, que se tor-
na variável, devido às flutuações no cresci-
mento das forrageiras. No verão, em regi-
ões de clima quente, esse período cai para 
até um terço do praticado anteriormente. A 
lotação é ajustada conforme a oferta de for-
ragem, medida pela técnica do quadrado ou 
pelo olho do manejador.
Como o animal fica menos tempo em 
cada pasto, é preciso fazer alguns ajustes 
no layout (desenho) dos módulos de paste-
jo. “Reduzimos o número de piquetes pela 
metade, aglutinando-os, para imprimir maior 
velocidade à rotação”, informa Faccio. Se-
gundo ele, no começo, os pecuaristas estra-
nham um pouco isso, mas depois agrade-
cem, porque o manejo fica mais fácil. Não 
há risco de se prejudicar a rebrota do pasto 
ou favorecer o acúmulo de material de baixo 
valor nutricional. Pelo contrário, com o giro 
rápido dos piquetes, a pastagem está sempre 
no ponto certo de entrada e apresenta alto vi-
gor vegetativo, mantendo bom desenvolvi-
mento radicular. “Em manejos mais agres-
sivos, que levam ao rebaixamento excessivo 
do pasto, a planta é forçada a direcionar boa 
parte de suas reservas para a emissão de fo-
lhas e novos perfilhos, com prejuízo às raí-
zes”, explica Faccio.
O sistema rotatínuo tem outro compo-
nente atrativo – é autosustentável. Nas pro-
priedades que já o adotam há dois/três anos, 
verifica-se maior acúmulo de matéria orgâ-
nica no solo, o que também indica alta taxa 
de seqüestro de carbono, devido ao cresci-
mento quase ininterrupto da gramínea for-
rageira. Além disso, o sistema é mais “ver-
de”, ou seja, a engorda ou produção de leite 
dá-se quase exclusivamente a pasto, pois os 
animais, ao consumirem apenas a parte no-
bre do capim, demandam menos alimentos 
complementares, como silagem e ração con-
centrada. O grupo de pesquisa coordenado 
por Paulo César Faccio agora está realizan-
do experimentos para avaliar ganhos de peso 
no rotatínuo, em comparação com o rotacio-
nado comum, e para investigar uma possível 
redução nas emissões de gás carbônico den-
tro desse novo sistema.
Alturas de entrada e saída do 
capim no Sistema Rotatínuo
Espécies Entrada Saída
Aveia 29 17
Azevém 20 12
Tifton 20 12
Campo nativo 12 7
Sorgo/Milheto 50 30
Aruana 40 25
Mombaça 90 50
Tanzânia 70 40
Braquiarão 30 18
Xaraés 25 15
Fonte: Faccio/Davi Teixeira
Equipamento 
mede quantos 
bocados o 
animal dá por 
minuto.
Pastagens
ar
q
u
iv
o
 d
bo
Fazenda usa sistema para produzir 
novilho precoce
Na Fazenda Santa Cruz, localizada em São Borja, na fronteira oeste do Rio 
Grande do Sul, o produtor Sidnei Pires 
Gerhardt, 63 anos, decidiu adotar o siste-
ma de pastejo rotatínuo e tem obtido ga-
nhos de 900 g a 1 kg/cab/dia. Durante 
muito tempo, ele foi produtor de bezer-
ros, chegando a ganhar prêmios, mas há 
cinco anos dedica-se exclusivamente à re-
cria/engorda. Seu rebanho soma 1.200 ca-
beças e apresenta taxa de desfrute eleva-
da, entre 60% e 70%, o que significa abate 
de 720 a 900 novilhos precoces por ano. 
Os animais são comercializados aos 18-24 
meses, com peso de 17 a 18@, para pro-
gramas de carne de qualidade como os 
conduzidos pelas associações de Angus e 
Hereford. “Nossa meta é abater 1.000 no-
vilhos/ano”, explica Gerhardt.
A propriedade (herança de sua esposa 
Simone) possui 1.200 hectares, dos quais 
760 são ocupados por pastagens, parte de-
las manejadas de forma intensiva.
novembro 2013 DBO 53
“Temos dois módulos de rotatínuo, 
ambos usados para terminação”, informa 
o produtor. O primeiro é composto por 
22 ha de tifton, divididos com cerca elé-
trica em 18 piquetes de 1,2 ha cada. “De-
cidimos irrigar a área com aspersores do 
tipo canhão porque nosso verão costuma 
ser marcado por períodos de estiagem, ao 
contrário do que ocorre no Centro-Oeste”, 
explica Gerhardt. No inverno, a pastagem 
é consorciada com aveia, semeada em 
plantio direto. Essa forrageira anual viceja 
de junho a outubro, quando o tifton volta 
a rebrotar com vigor e se torna o principal 
alimento do gado. As duas gramíneas são 
complementares e possibilitam a engor-
Fazenda em números
• Nome: Fazenda Santa Cruz
• Localização: São Borja, RS
• Área total: 1.200 ha
• Área de pastagens: 720 ha
• Lavoura de arroz: 220 ha
• Rebanho: 1.200 machos
• Abate: 720 a 900 cab/ano
• Área com rotatínuo: 72 ha
RS
Porto Alegre
Novilhos no módulo 
de rotatínuo de 
sequeiro, em 
pastagem consorciada 
de inverno, que 
contém aveia, azevém 
e trevo vesiculoso 
(detalhe).
São Borja
s
54 DBO novembro 2013
da quase ininterrupta de animais, sempre 
sob altas lotações (4 novilhos de 450 kg 
de peso vivo/ha na saída do inverno, che-
gando-se a 12 no verão). “Dá para colocar 
até 200 animais nessa área, por causa da 
irrigação e do bom manejo da pastagem”, 
diz Gerhardt.
O segundo módulo também é usado 
de forma bastante intensiva, apesar de não 
ser irrigado. Seus 50 hectares de pastagens 
anuais são divididos em sete piquetes de 
sete hectares cada. No inverno/primave-
ra, a área é coberta por um consórcio de 
aveia, azevém e trevo vesiculoso. Plan-
tado em abril para pastejo de junho a no-
vembro, esse trio forrageiro sustenta de 3 
a 4 novilhos de 450 kg por hectare. No ve-
rão/outono, a área é plantada com culturas 
de verão (sorgo forrageiro, milheto ou ca-
pim sudão), que possibilitam 120 dias de 
pastejo e garantem lotação de 5 a 6 cab/ha. 
Nos dois módulos de rotatínuo, os animais 
são suplementados com ração produzida 
na fazenda e fornecida na proporção de 
1% do peso vivo, apenas nos últimos 45 
dias de engorda, para melhor acabamento 
de gordura.
manejo SimPleS – Os piquetes são pas-
tejados durante um ou dois dias, depen-
dendo da época do ano, e ficam apenas 
10 a 20 dias em descanso. Os funcioná-
rios responsáveis pelo manejo já estão 
totalmente familiarizados com o sistema 
rotatínuo e sabem calcular tanto a oferta 
forrageira do pasto quanto as alturas cor-
retas de entrada e saída. Foram treinados, 
inicialmente, pela técnica do quadrado, 
com pesagem e desidratação do material 
colhido para medição da quantidade de 
matéria seca disponível na área, mas de-
pois, com o olho já “calibrado”, passaram 
a fazer isso de forma empírica. A altura 
das pastagens sempre norteia o manejo. 
Como elas são consorciadas, o cálculo é 
feitocom base na espécie forrageira pre-
dominante em determinado momento, o 
que exige atenção especial.
No módulo de rotatínuo maior (50 ha), 
não se faz adubação regular. Já no menor 
(22 ha irrigados), a reposição deverá ser fei-
ta com base em análise anual. “Trata-se de 
uma área recém formada, previamente sub-
metida a um mapeamento de precisão para 
se avaliar a fertilidade do solo, que foi cor-
rigido e adubado”, informa Sidnei Gerhar-
dt. Antes do plantio da gramínea perma-
nente (tifton), a área foi calcariada (3 t/ha). 
Depois, no plantio, recebeu 150 kg de clo-
reto de potássio e 150 kg de fósforo. A adu-
bação nitrogenada (180 kg/ha) foi realizada 
em duas aplicações (fevereiro e junho), pe-
ríodos em que o tifton, na região Sul, pre-
cisa de uma “cota extra” de nitrogênio para 
recuperar sua força de rebrota.
“Não trabalhamos com adubações pe-
sadas, como propõem alguns sistemas ro-
tacionados. Rapar um piquete e depois 
despejar adubo químico nele é uma prática 
muito imediatista; é trabalhar com injeção 
O casal Sidney e 
Simone Gerhardt 
aposta na 
tecnologia para 
produzir novilhos 
precoces.
Sistema de aspersão 
por canhão, com 
reservatório incluído 
(ao lado), demandou 
investimento de 
R$ 150.000.
Pastagens
s
na veia para ressuscitar um paciente enfra-
quecido. Nós procuramos retroalimentar o 
sistema, elevando o teor de matéria orgâ-
nica do solo, o que garante maior retenção 
de nutrientes como o potássio, por exem-
plo”, explica o zootecnista Davi Teixeira, 
da consultoria SIA (Serviço de Inteligên-
cia em Agronegócio), que presta assistên-
cia à Fazenda Santa Cruz e também tem 
difundido o rotatínuo dentro do Pisa (Pro-
grama de Produção Integrada de Sistemas 
Agropecuários), que reúne 575 peque-
nas propriedades do Rio Grande do Sul, a 
maioria delas voltada à produção leiteira.
O sistema tem perfil conservacionista 
e busca privilegiar a ciclagem de nutrien-
tes. Somente o nitrogênio é reposto regu-
larmente, em áreas submetidas a maiores 
lotações, mesmo assim em doses modera-
Ao lado, cerca elétrica divide piquete
recém-pastejado de outro em uso.
Abaixo, Davi Teixeira mostra alturas
ideias de entrada e saída do pasto.
das, para não pesar no bolso do produtor. 
Apesar do pouco tempo de uso (um ano), 
o módulo irrigado da Fazenda Santa Cruz 
já possui teor elevado de matéria orgâni-
ca, acima do patamar mínimo recomen-
dado, que é de 2,5%. Oscila entre 3,3% 
e 3,4%, enquanto nas pastagens degrada-
das esse índice não passa de 
1%. “É fundamental mane-
jar bem o pasto para garan-
tir boa conservação do solo 
e melhor aproveitamento 
de outros recursos naturais 
como a água. Na média anual, esse mó-
dulo tem produzido mais de 20 toneladas 
de matéria seca por hectare/ano”, salien-
ta Teixeira. 
VálVula de eScaPe – A Fazenda Santa 
Cruz normalmente adquire seus animais 
com seis/sete meses de idade, na própria 
região. Quando chegam, eles vão para 
pastagens de braquiária e pensacola diferi-
dos por 40 dias (abril/março), onde são su-
plementados com mistura protéica ou pro-
téica-energética. Essas áreas constituem 
importantes “válvulas de escape” dentro 
da propriedade, em momentos críticos de 
oferta de forragem, como o período de es-
tabelecimento das forrageiras de verão 
(sorgo, milheto etc), plantadas em novem-
bro. São 100 hectares de braquiária MG-5, 
previamente vedados, que podem receber 
grande quantidade de bezerros 45 dias an-
tes da semeadura das forrageiras de ciclo 
anual no módulo de rotatínuo.
Já a pensacola (Paspalum notatum), 
gramínea originária da Argentina e adap-
tada a climas temperados, ocupa áreas an-
tes cultivadas com arroz. Sidnei Gerhardt 
arrenda cerca de 240 hectares anualmente 
para arrozeiros da região, que, após dois 
Sistema tem perfil
conservacionista e privilegia
ciclagem de nutrientes
Pastagens
56 DBO novembro 2013
s
58 DBO novembro 2013
anos de cultivo, lhe entregam o pasto já 
pronto. A lavoura vai mudando de lugar, 
em determinada parte da fazenda, visan-
do à redução de pragas. Nas glebas ocu-
padas pela pensacola durante três anos, o 
solo apresenta melhor perfil físico, devi-
do à grande deposição de matéria orgâni-
ca proporcionada pelo capim, e se observa 
bom controle do “arroz vermelho”, inva-
sora prejudicial à cultura arrozeira. A fa-
zenda também possui pastagens naturais 
melhoradas com aveia, azevém e trevo 
que sustentam parte dos animais de recria.
Para atingir sua meta de abater 1.000 
novilhos precoces por ano, Sidnei Gerhar-
dt planeja montar mais um módulo de ro-
tatínuo irrigado. “O primeiro fator que 
limita a produção de capim é a água e o 
segundo é o nitrogênio”, explica o pro-
dutor, que investiu R$ 150.000 no siste-
ma composto por aspersores, poço artesia-
no, tanque e canalizações que irrigam seus 
atuais 22 ha de tifton (quase R$ 7.000/ha). 
Considerando-se uma produção média de 
160 kg de peso vivo/dia, se o módulo for 
usado durante 300 dias no ano, produzirá 
48.000 kg/período ou 2.200 kg/ha, que, ao 
preço de R$ 3,30 por quilo no Rio Gran-
de do Sul, garantem receita bruta de R$ 
7.260/ha. “Vale à pena. Com dois ou três 
anos de uso, já se recupera o investimento 
realizado”, conclui o produtor. n
Animais de 
recria em 
pastagens
nativas 
melhoradas 
com espécies
mais produtivas, 
como a aveia.
Pastagens

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