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©Biblioteca do Congresso, Washington, D. C. Livro do professor Livro didático 8o. ano Volume 3 História 9 10 Brasil Império: Primeiro Reinado 2 Brasil Império: Período Regencial 15 ©Biblioteca do Congresso, D C © Washington, D. C. Livro do professor 11 12 Brasil Império: Segundo Reinado 29 Brasil Império: a crise do Segundo Reinado 40 Uma das representações da emancipação do Brasil é a obra A Proclamação da Independência, do artista francês François-René Moreaux. Produzido em 1844, sob encomenda do Senado do Império, o quadro retrata o evento como uma confraternização popular entre diferentes grupos sociais. A respeito da obra, converse com os colegas e responda: • Como D. Pedro foi retratado? • Quais são os grupos sociais que comemoram a Independência brasileira com D. Pedro I? 9 Brasil Império: Primeiro Reinado MOREAUX, François-René. A Proclamação da Independência. 1844. 1 óleo sobre tela, color., 244 cm × 383 cm. Museu Imperial, Petrópolis. Justificativa da seleção de conteúdos.1 Sugestão de abordagem de atividade e gabarito. 2 Observe a imagem a seguir. © M us eu Im pe ria l, P et ró po lis 2 1. A chegada da Família Real portuguesa ao Brasil em 1808 acelerou o processo de independência do país, concluído em 1822. Esse período foi marcado por importantes acontecimentos, como os citados a seguir. Relembre a ordem em que ocorreram e insira os números correspondentes a eles na linha do tempo. I. Revolução Liberal do Porto. 1820. II. Dia do Fico. 9 de janeiro de 1822. III. Elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves. 1815. IV. Revolução Pernambucana. 1817. V. Abertura dos portos brasileiros às nações amigas. 28 de janeiro de 1808. Objetivos • Conhecer as repercussões internas e externas da Independência do Brasil. • Identificar os principais desafios enfrentados pelo governo de D. Pedro I após a Independência. • Analisar as principais características da Constituição de 1824. • Entender as causas e os desdobramentos da Confederação do Equador. • Compreender as características da sociedade brasileira no Primeiro Reinado. • Analisar as condições de vida dos escravizados no Primeiro Reinado. • Descrever as causas da crise no Primeiro Reinado que levaram à abdicação de D. Pedro I. A Independência do Brasil (1822) foi marcada pela manutenção da Monarquia como forma de governo, situação que se estendeu até 1889, ano em que foi proclamada a República no país. Nessa época, revezaram- -se no poder dois monarcas – D. Pedro I, entre os anos de 1822 e 1831, e seu filho, D. Pedro II, de 1840 a 1889, períodos conhecidos, respectivamente, como Primeiro Reinado e Segundo Reinado. De 1831 a 1840, o país foi governado por regentes, daí a denominação Período Regencial. Neste capítulo, serão abordados os principais acontecimentos relacionados ao Primeiro Reinado. Antes, porém, vamos relem- brar a conjuntura na qual se deu o processo de emancipação política do Brasil. Sugestão de abordagem de atividade. 3 Organize as ideias 2. Com a partida da Família Real portuguesa em 1821, a política brasileira: a) ficou a cargo de um governador-geral, pois o Brasil voltou a ser colônia de Portugal. b) passou a ser exercida por uma junta de brasileiros que governava de acordo com as deliberações de Portugal. c) continuou sendo comandada por D. João VI, que permaneceu no Brasil. X d) ficou a cargo da regência de D. Pedro, filho mais velho de D. João VI. e) ficou a cargo de ingleses, aliados de Portugal, aqui deixados por D. João VI para tomar conta do Brasil. Processo de emancipação política do Brasil V III IIV II 1808 1822 3 Política e economia A declaração proferida por D. Pedro I em 7 de setembro de 1822 foi apenas o início do processo de conso- lidação da Independência do Brasil. Para fazer da ex-colônia um grande império, como pretendia o Imperador, eram necessárias algumas medidas, em um primeiro momento. Entre elas, promover o desenvolvimento da economia, garantir a posse sobre o território brasileiro, conseguir o reconhecimento internacional da indepen- dência e elaborar uma Constituição. D. Pedro I foi coroado imperador do Brasil meses após a proclamação da Independência, no dia 1º. de de- zembro de 1822, na Capela Imperial. O artista francês Jean-Baptiste Debret retratou o governante em uniforme imperial nas cores verde e amarela com a coroa à cabeça e o cetro na mão, recebendo o juramento de fidelidade prestado pelo presidente do Senado em nome do povo. DEBRET, Jean-Baptiste. Coroação de D. Pedro I do Brasil. 1828. 1 óleo sobre tela, color., 380 cm × 636 cm. Palácio Itamaraty, Brasília. No início do século XIX, o Brasil passava por uma séria crise econômica que agravava as desigualdades sociais. No período da independência, a economia brasileira não apresentava nenhum produto que garantisse lucros. Além disso, a produção açucareira sofria concorrência das Antilhas e das Índias, a extração de ouro e de pedras preciosas estava em franca decadência e o charque e os produtos de couro sofriam concorrência da Argentina, a qual tinha melhores mercadorias e preços mais acessíveis. Logo, a população esperava do novo governo a solução para os problemas econômicos. Em razão do panorama econômico, D. Pedro I foi obrigado a contrair empréstimos com a Inglaterra e ainda lidar com focos de oposição ao seu governo, formados principalmente no Norte e no Nordeste. As pessoas dessas regiões se mostravam ressentidas em virtude da centralização comercial e administrativa no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais desde a chegada da Família Real portuguesa, em 1808. No Norte e Nordeste havia o temor de que o estabelecimento do governo de D. Pedro I no Rio de Janeiro perpetuasse os privilégios à elite dessa região, mantendo as demais regiões definitiva- mente em segundo plano no cenário nacional. Por esse motivo, grupos da Bahia, do Pará, do Maranhão, do Piauí, do Ceará, além da província de Cisplatina no Sul, aliaram-se aos portugueses contra a independência do Brasil. Inúmeros combates contra as tropas imperiais se estenderam de 1822 até o final de 1823, ocasionando a morte de diversas pessoas. Muitos portugueses residentes no Brasil não desejavam a emancipação política do Brasil por temerem a per- da dos privilégios dos quais gozavam por causa da ligação com Portugal. © M in ist ér io d as R el aç õe s E xt er io re s, Pa lá ci o Ita m ar at y, Br as ília 8o. ano – Volume 34 Aprofundamento de conteúdo para o professor.5 Aprofundamento de conteúdo para o professor e sugestão de abordagem do conteúdo. 4 Participação das mulheres nas lutas pela independência As mulheres tiveram importante participação no processo de independência brasileira. A atuação delas se deu de diferentes formas nos conflitos que ocorreram em províncias contrárias à emancipação do Brasil. Conheça a história de algumas mulheres que se destacaram na luta por uma nação livre da dependência de Portugal. O apoio dos Estados Unidos à independência do Brasil se baseava na Doutrina Monroe, apresentada pelo presidente estadunidense James Monroe, em 1823. Ela defendia a não intervenção dos europeus no continente americano, o que significava, entre outros aspectos, o fim do colonialismo no continente. Reconhecimento da independência O novo governo liderado por D. Pedro I, além de se preocupar em acabar com as rebeliões internas, também precisava conseguir o reconhecimento internacional da in- dependência. Somente assim ele poderia estabelecer no- vas relações comerciais, diplomáticas e militares com outros países. O primeiro país a reconhecer a independência do Brasil foramos Estados Unidos, em 1824. Descendente de escravizados, Maria Felipa de Oliveira (?-1873) combateu os portugueses na Ilha de Itaparica, na província de Salvador, de forma inusitada. Organizou um grupo de mulheres que embriagou os portugueses e lhes deu uma surra. Em seguida, o grupo queimou as embarcações portuguesas. Maria Quitéria (1792-1853) foi a primei- ra mulher a integrar o Exército. Para isso, precisou fugir de casa. Alistou-se vestida com as roupas do cunhado e lutou pela in- dependência nos conflitos que ocorreram na província da Bahia. Em fevereiro de 1822, tropas portuguesas combatiam o movimento de brasileiros pró-independência na Ba- hia. Quando os portugueses avançaram para invadir o Convento da Lapa, a abadessa Joana Angélica de Jesus (1782-1822) tentou defender o local barrando a entrada dos soldados. Foi assassinada com um golpe no peito. É considerada mártir da independência brasileira. FAILUTTI, Domenico. Retrato de Joana Angélica. 1925. 1 óleo sobre tela, color., 157 cm × 125 cm. Museu Paulista, São Paulo. FAILUTTI, Domenico. Maria Quitéria. 1920. 1 óleo sobre tela, color., 253 cm × 155 cm. Museu Paulista, São Paulo. ORGE, Filomena M. Retrato de Maria Felipa de Oliveira. 1 ilustração. Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto, Salvador. © W ik im ed ia C om m on s/ M us eu P au lis ta d a US P/ Hé lio N ob re /J os é Ro sa el © M us eu P au lis ta , S ão P au lo © Fil om en a M od es to O rg e História 5 Para os países europeus, a independência brasileira somente poderia ser oficializada após o reconhecimento de Portugal, que se negava a fazê-lo. Diante desse impasse, a Inglaterra, percebendo a possibilidade de amplia- ção do seu comércio, colocou-se como intermediária entre Brasil e Portugal. Após inúmeras negociações, Por- tugal finalmente concordou em reconhecer a independência, desde que recebesse uma indenização no valor de 2 milhões de libras esterlinas e D. João VI fosse reconhecido como imperador perpétuo do Brasil. A Inglaterra se propôs a realizar o empréstimo desse valor ao Brasil, porém exigiu que o governo brasileiro se comprometesse a tomar medidas para acabar com a escravidão. D. Pedro I aceitou os termos e pagou a indeni- zação aos portugueses. Em agosto de 1825, estes finalmente reconheceram a independência – atitude que foi logo seguida pela própria Inglaterra e por outros países europeus. Constituição de 1824 A elaboração de uma Constituição para o Brasil era fator indispensável ao funcionamento do novo país. Assim, foram eleitos 100 senadores para representar os interesses de suas províncias na Assembleia Consti- tuinte. Em maio de 1823, D. Pedro I abriu os trabalhos da Assembleia. D. Pedro I havia jurado obedecer à Constituição se ela fosse digna dele e do Brasil. Entretanto, o Projeto Constitucional elaborado apresentava características liberais, como o predomínio do Poder Legislativo sobre o Executivo e a autonomia das províncias, cujos presidentes seriam responsáveis por organizar a política local. Aprofundamento de conteúdo para o professor.6 Sugestão de abordagem do conteúdo.7 A Assembleia Constituinte era formada por homens que repre- sentavam os senhores de escravi- zados e de terras no Brasil e tinha por objetivo elaborar leis que re- gulariam o novo país. As mulheres, os homens brancos de baixa renda e os escravizados não tiveram o direito de participar. A imagem liberal de D. Pedro I, visto como libertador do Brasil, foi reforçada pelo fato de o Imperador compor a música para o Hino da Independência em 1822. A letra, caracterizada pelas ideias liberais, foi composta por Evaristo da Veiga. BRACET, Augusto. Os primeiros sons do Hino da Independência. 1922. 1 pintura a óleo, color., 190 cm × 250 cm. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro. A esse projeto colocavam-se contrários alguns membros da Constituinte e o próprio Imperador, que de- sejavam um governo centralizado na figura do D. Pedro I e com amplos poderes. Os defensores do primeiro projeto receberam a denominação “Partido Brasileiro” e os do projeto centralizador foram chamados de “Partido Português”. Os debates entre “brasileiros” e “portugueses” se estenderam até o mês de novembro de 1823. Nesse mo- mento, D. Pedro I, em um gesto de autoritarismo, mandou fechar a Assembleia e encomendou aos “portugue- ses” uma Constituição que preservasse o caráter conservador de governo. Diante da negativa dos senadores de deixar a Assembleia, as tropas imperiais cercaram o prédio. Assim, a passagem do dia 11 para 12 de novembro de 1823, em virtude do nervosismo dos representantes e da falta de informação, ficou conhecida como Noite da Agonia. Na ocasião, vários deputados foram presos e exilados. © M us eu H ist ór ic o Na ci on al , R io d e Ja ne iro 8o. ano – Volume 36 A Constituição elaborada pelo grupo conservador foi outorgada, ou seja, imposta ao país, em 25 de março de 1824. Entre suas principais características, estava a divisão do poder em quatro esferas: Legislativo, Executivo, Judiciário e Moderador. Na prática, o Poder Moderador significava que D. Pedro I tinha amplos poderes e poderia vetar decisões tomadas por membros de quaisquer outras instâncias do poder. As províncias, por sua vez, teriam certa autonomia, mas seus governantes seriam todos designados pelo imperador, garantindo, assim, sua influência sobre o Império brasileiro. A Constituição ainda garantia o direito de posse de todas as terras e de escravizados adquiridos antes da independência e estabelecia o catolicismo como religião oficial do país. O Poder Moderador pertencia exclusivamente ao impera- dor e era superior a todos os demais poderes. Isso garantia a ele o direito de dissolver a Câmara de deputados, convo- car a Assembleia Geral, nomear ministros, escolher senadores, suspender penas e magistrados, conceder anistia e aprovar ou suspender resoluções dos conselhos provinciais. PORTO-ALEGRE, Manuel de A. Retrato de D. Pedro I. 1826. 1 óleo sobre tela, color., 112 cm × 94 cm. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro. Na obra, o Imperador foi retratado tendo à mão a primeira Constituição brasileira. A visão de D. Pedro como líder liberal, reforçada pela letra composta para o Hino da Independência do Brasil, caiu por terra quando ele fechou a Assembleia Nacional Constituinte e encomendou um conjunto de leis que foi outorgado, isto é, imposto aos brasileiros. Reúna-se com um colega e, juntos, leiam o fragmento de texto a seguir. Troca de ideias LOPEZ, Luiz R. História do Brasil Imperial. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982. p. 42. De acordo com o texto, faça o que se pede. 1. Para compreender o texto, procure o significado dos vocábulos sublinhados. 2. A quais características o autor se refere quando diz que a Carta Constitucional de 1824 tinha caráter elitista? 3. Explique a afirmação contida na frase: “a Constituição de 1824 foi elaborada mais com o espírito de manter do que de transformar”. Na parte concernente à legislação eleitoral, fica bem evidente o caráter elitista da Carta Outor- gada. O direito de voto era extremamente limitado, dele estando excluídos não só os escravizados como também os “criados de servir” e mais as mulheres, filhos casados que morassem na casa do pai (“filhos-família”) e indivíduos que não preenchessem os quesitos de renda mínima. Nesse aspecto, como em outros já vistos, percebe-se que a Constituição de 1824 foi elaborada mais com o espírito de manter do que de transformar. Gabarito.8 © M us eu H ist ór ic o Na ci on al , R io d e Ja ne iro História 7 Revoltas do Primeiro Reinado As medidas centralizadoras tomadas por D. Pedro I causaram descontentamentos entre os brasileiros. As reações não demoraram a ocorrer. A Confederação do Equador foi a principal revolta interna do Primeiro Reina- do. Nesse período, o Imperador também enfrentou uma disputa externa pelo território da Província Cisplatina.Confederação do Equador A outorga da Constituição em 1824 não foi bem aceita pelo Partido Brasileiro nem por grande parte da população brasileira, os quais esperavam possibilidades de melhora da condição de vida. Tal situação gerou grande instabilidade durante o governo de D. Pedro I. Uma das primeiras consequências dessa oposição foi a eclosão da Confederação do Equador, em Pernambuco, no mesmo ano em que a Constituição foi aprovada. A província de Pernambuco continha um forte movimento liberal, que já havia se chocado diversas vezes contra as medidas centralizadoras do governo português. O início do conflito entre os pernambucanos e o governo ocorreu em 1824 com a nomeação de Francisco Paes Barreto como presidente da província por D. Pedro I, direito resguardado a ele pela Constituição. Essa atitude autoritária, no entanto, desconsiderava completamente o desejo dos pernambucanos, que almejavam para o cargo o liberal Manuel Carvalho Pais de Andrade. Revoltados com a interferência de D. Pedro I na política local, os líderes liberais de Pernambuco iniciaram uma campanha que tinha por objetivo chamar as províncias vizinhas do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte para se unirem a eles. Com isso, pretendiam fundar um novo país na região, com um regime republicano, denominado Confederação do Equador. A Confederação do Equador foi a denominação recebida em virtude da localização geográfica das pro- víncias envolvidas, as quais estavam próximas à Linha do Equador, que divide o globo terrestre em norte e sul. Sugestão de retomada de conteúdos anteriormente estudados.9 Aprofundamento do conteúdo para o professor.10 Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel M. de. Atlas de Histórico escolar. Rio de Janeiro: Fename, 1978. p. 36. Adaptação. Ta lit a Ka th y Bo ra Confederação do Equador (1824) O movimento foi liderado por intelectuais e grandes proprietários de terra, além dos jornalistas Cipriano Barata, proprietário do jornal Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco, e Frei Caneca, diretor do Tífis Pernambucano. No início, a Confederação do Equador angariou o apoio de vários grupos sociais, desde os donos de terras e grandes comerciantes até as classes populares e os escravizados. Os primeiros desejavam se livrar do con- trole do governo de D. Pedro I. Por sua vez, as classes populares e os escravizados acreditavam que, no novo país, a escravidão seria abolida e todos teriam melhores condições de vida. 8o. ano – Volume 38 Para reprimir o movimento separatista, D. Pedro I enviou suas tropas. Todos os líderes da Confederação do Equador foram presos e julgados. Cipriano Barata e Frei Caneca foram condenados à morte, reafirmando, assim, a autoridade do Imperador sobre todo o territó- rio do Brasil. Guerra da Cisplatina A repressão à Confederação do Equador em 1824 não foi su- ficiente para acabar com a oposição e estabilizar o governo de D. Pedro I. Pouco tempo depois, o Imperador voltou a enfrentar problemas para a preservação das fronteiras nacionais. Dessa vez, o conflito ocorreu no sul, local onde atualmente se encontra o Uru- guai. Essa região havia sido colônia da Espanha e era disputada pelo Brasil e pelas Províncias Unidas do Rio da Prata, atual Argentina, por ser considerada estratégica, já que permitia o acesso aos rios Paraná e Paraguai. Em 1821, o governo brasileiro, ainda sob o comando de D. João VI, conseguiu anexar a região ao território brasileiro com o nome de Província Cisplatina. Em 1825, porém, as Províncias Unidas do Rio da Prata iniciaram uma aproximação com o Brasil com o objetivo de negociar a posse da Província Cisplatina para que esta fosse nova- mente incorporada ao território do Rio da Prata. O governo brasileiro negou-se a ceder e teve início um conflito. Diante dessa situação, D. Pedro I recorreu à Inglaterra, pedindo apoio e financiamento. Após três anos, em 1828, o Brasil reconheceu sua derrota e abriu mão do território disputado, que foi considerado independente des- de então. Aprofundamento do conteúdo para o professor. 11 LA GRECA, Murillo. Execução de Frei Caneca. 1924. 1 óleo sobre tela, color., 65 cm × 45,5 cm. Coleção Murillo La Greca, Recife. Condenado à morte por sua participação na Confederação do Equador, demoraram muitos dias para que a sentença de Frei Caneca fosse executada, já que os carrascos se negavam a matar um religioso. Aprofundamento do conteúdo para o professor.12 BLANES, Juan M. Juramento dos 33 orientais. 1877. 1 óleo sobre tela, color., 311 cm × 564 cm. Museu Nacional de Artes Visuais, Montevidéu. Grupo dos 33 orientais, nacionalistas uruguaios que se colocaram contra o Brasil pela independência da Província Cisplatina. Essa região deu origem ao Uruguai. © Co le çã o M ur ill o La G re ca , R ec ife © M us eu N ac io na l d e Ar te s V isu ai s, M on te vi dé u História 9 Cultura e sociedade A separação entre Portugal e Brasil não ocasionou mudanças drásticas no que diz respeito à sociedade e à cultura brasileiras. Isso porque a Independência do Brasil foi um projeto das elites. Elas desejavam se livrar do controle de Portugal para ascender aos altos cargos da política e da economia nacional sem provocar mudanças significativas, como a abolição da escravidão ou uma política de reforma agrária. Esse continuísmo do modelo de sociedade proposto por Portugal também pode ser verificado em relação à cultura brasileira, bastante in- fluenciada pelas correntes artísticas europeias, mesmo após a ruptura com a Metrópole. Sociedade no Primeiro Reinado A sociedade brasileira do Primeiro Reinado se caracterizava pela existência de uma elite nacional. Esta era constituída por grandes proprietários de terra (localizados em especial nas regiões Nordeste e Centro-Sul do Brasil, nas quais se produziam predominantemente açúcar e café), comerciantes (que trabalhavam com a im- portação e a exportação) e altos funcionários públicos. A classe média contava com grande número de profissionais liberais, como médicos e advogados, com for- mação na Europa. Normalmente, estabeleciam-se nas cidades do período – Salvador, Recife, São Paulo ou Rio de Janeiro. Também compunham essa classe média pequenos comerciantes, prestadores de serviços, militares de baixa patente e membros do baixo clero. Além do mais, podem ser mencionados alguns agricultores que viviam nas zonas rurais, os quais trabalhavam para os grandes proprietários de terras ou cultivavam alimentos de subsistência. Havia ainda a classe formada por trabalhadores livres, porém sem posses, que vendiam sua mão de obra, em sua maioria, a baixos salários nos comércios das grandes cidades ou como vendedores ambulantes de pequenos objetos. Faziam parte dela estrangeiros que vieram tentar a sorte em nossas terras, alguns poucos ex-escravizados que haviam conseguido sua liberdade e seus descendentes. Por fim, havia a classe formada pelos escravizados. Os africanos que chegavam ao Brasil eram vendidos pelos traficantes a grandes proprietários de terras do Nordeste e do Sudeste para trabalhar nas lavouras de açúcar e de café. Além disso, eram vendidos a membros das classes alta e média das grandes cidades para a realização das atividades domésticas nas casas das famílias ou para trabalhos cujo objetivo era gerar lucro para seus proprietá- rios, como a fabricação e/ou a venda de produtos alimentícios e artesanato. Também eram alugados a pessoas que não tinham dinheiro suficiente para comprá-los, mas necessitavam de mão de obra para o desempenho de pequenas atividades. Aprofundamento do conteúdo para o professor.13 A chegada de estrangeiros, em especial de franceses, aumentou o consumo de pão na cidade do Rio de Janeiro. Consequentemente, aumentou o número de padarias. Além de estabelecimentos portugueses, também havia franceses, alemães e italianos. A imagem representa o interior de uma padaria. Enquanto o dono do estabelecimento faz a venda dos pães, é possível observar escravizados a descascaro trigo. © M us eu s C as tro M ay a, Ri o de Ja ne iro DEBRET, Jean-Baptiste. Padaria. 1820-1830. 1 aquarela sobre papel, color., 15,2 cm × 22 cm. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro. 8o. ano – Volume 310 As relações estabelecidas entre escravizados e seus proprietários eram muito variadas. Alguns trabalhado- res escravizados, principalmente os que viviam nas cidades, poderiam conseguir certa autonomia, por causa do desempenho de atividades longe de seus proprietários. De forma geral, no entanto, a elite brasileira vivia amedrontada pela possibilidade de os escravizados organizarem revoltas e, em virtude de seu grande número, conseguirem tomar o poder, como havia acontecido no Haiti em 1791. Orientação para a realização da atividade e gabarito.14 Interpretando documentos Sobre as relações entre proprietários e escravizados no Brasil, analise os documentos a seguir. Tolhido em suas liberdades mínimas, o negro deveria receber um bom tratamento por parte de seus senhores, uma vez que a ninguém interessava dilapidar o patrimônio, impedindo o [escraviza- do] de realizar suas tarefas. A legislação, antes portuguesa, depois imperial, teve sempre presente a preocupação de “evitar excessos” [...] Leis, portarias e recomendações – no sentido de os castigos aos escravos não serem despropor- cionais às irregularidades por eles cometidas – sucedem-se nos séculos subsequentes. Todas elas devidamente desobedecidas. O fato é que, para o proprietário de [escravizados], estes eram vistos antes como propriedade do que como seres humanos. Desta forma, viam-se no direito de descumprir leis que considerassem atentatórias à sua condição de donos [...] tolhido: privado, proibido. dilapidar: destruir. PINSKY, Jaime. Escravidão no Brasil. São Paulo: Global, 1985. p. 43-45. DEBRET, Jean-Baptiste. Casamento de negros de uma casa rica. 1826. 1 aquarela sobre papel, color., 15,7 cm × 21,6 cm. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro. Com base na interpretação dos documentos e em seus conhecimentos sobre a sociedade brasileira do Primeiro Reinado, faça o que se pede. 1. Descreva a cena retratada por Debret na imagem. 2. Quais diferenças de tratamento dispensado aos escravizados podem ser percebidas nos documentos? 3. Explique o que justifica tratamentos tão diversificados aos escravizados. © M us eu s C as tro M ay a, Ri o de Ja ne iro História 11 Cultura no Primeiro Reinado Durante o governo de D. Pedro I, o Brasil colhia os frutos do desenvolvimento cultural gerado pela presença da Corte portuguesa entre os anos de 1808 e 1821. O incentivo à vinda de artistas e intelectuais europeus, nesse período, contribuiu para que as correntes artísticas e científicas europeias tivessem grande influência na cultura e na educação da elite brasileira. Nas grandes cidades, era comum a apresentação de peças teatrais estrangeiras, faladas em francês, inglês ou italiano, compreendidas apenas por alguns membros da elite, únicos com acesso ao ensino superior. D. João VI havia criado algumas instituições de ensino superior no Brasil, fato que permitiu a um número maior de habitantes o acesso a ele. D. Pedro I, por sua vez, impulsionou o estudo do Direito, com a criação dos cursos de Ciências Sociais e Jurídicas em São Paulo e Olinda, em 1827. Esses cursos, no entanto, eram frequen- tados apenas pelos homens. As mulheres das classes altas recebiam educação voltada para o desenvolvimento de suas habilidades artísticas em casa, como as damas europeias, e resguardavam-se para o casamento. Quanto à educação das crianças, a Constituição outorgada pelo Imperador em 1824 previa sua gratuidade. Contudo, não determinava como as escolas deveriam ser construídas e mantidas, de forma que seu desenvol- vimento foi bastante lento no início do século XIX. As manifestações de cultura popular, por sua vez, eram marcadas por um misto de influências portuguesas, indígenas e afri- canas. No Brasil do início do século XIX, era comum que as festas religiosas católicas tra- zidas pelos portugueses fossem assimiladas pela população e adaptadas de forma que abrigassem costumes de origem africana e indígena. Nesse sentido, destacava-se o entrudo. Essa festa, trazida pelos portugue- ses, era comemorada pela população mais pobre com batalhas de limões de cheiro e farinha, além de balões cheios de água que as pessoas arremessavam umas nas outras. Segundo o historiador Câmara Cascudo, o entrudo deu origem ao carnaval. Aos poucos, a população foi adotando músicas e danças dos escravizados, a exem- plo do batuque e do lundu, como prática co- mum durante os festejos religiosos. DEBRET, Jean-Baptiste. Carnaval (Dia de Entrudo). 1823. 1 aquarela sobre papel, color., 18 cm × 23 cm. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro. Essa imagem retrata a situação de uma escravizada de ganho percorrendo as ruas do Rio de Janeiro durante o período do entrudo. Ela é submetida a uma série de brincadeiras por parte dos que comemoram a festa, como a aplicação de farinha em seu rosto. Os únicos preparativos do carnaval brasileiro são a fabricação dos limões de cheiro, negócio que ocupa toda a família do pequeno capitalista [...] O limão de cheiro, poderoso e único objeto dos divertimentos do carnaval, é um simulacro de uma laranja, frágil cápsula de cera, de um quarto de linha de espessura e cuja transparência deixa ver o volume de água que contém. [...] BANDEIRA, Julio; LAGO, Pedro C. do. Debret e o Brasil: obra completa. Rio de Janeiro: Capivara, 2008. p. 164. Destaque os elementos presentes na obra de Debret, aliando-os à descrição do artista feita no texto a seguir. Leia, a seguir, a descrição de Debret sobre os preparativos para o carnaval no século XIX. © M us eu s C as tro M ay a, Ri o de Ja ne iro 8o. ano – Volume 312 Crise e abdicação Os empréstimos realizados por D. Pedro I com a Inglaterra a fim de se manter na Guerra da Cisplatina (1825- 1828) contribuíram para ampliar significativamente a dívida externa do Brasil. Diante desse fato, a oposição ao Imperador aumentou. Ele era acusado de manter uma postura autoritária e centralizadora. A isso se somavam acusações de que ele não era preparado para administrar as finanças do país. Repudiado pelos brasileiros, o Imperador buscou apoio no Partido Português, o que apenas contribuiu para aumentar sua impopularidade com os brasileiros. Em meio a essa crise, D. Pedro I foi, em março de 1831, até Minas Gerais, sendo recebido com protestos pela morte de um dos principais críticos ao seu governo, o jornalista Líbero Badaró. Ao retornar ao Rio de Janeiro, foi recebido com uma festa organizada pelos portugueses, que buscavam responder aos protestos realizados em Minas Gerais. A festa foi o estopim para diversos confrontos nas ruas do Rio de Janeiro durante três dias. O episódio ficou conhecido como Noite das Garrafadas. Após esse período, D. Pedro I ainda tentou se reaproximar dos brasileiros, nomeando vários deles para com- por um ministério. Em pouco tempo, no entanto, foram destituídos de seu cargo e, em seu lugar, nomeados amigos pessoais do Imperador, atitude que despertou novos protestos por parte dos brasileiros. Diante da crise política e econômica generalizada, D. Pedro I resolveu atender aos pedidos dos portugueses, que exigiam seu retorno para a Europa após a morte de seu pai, D. João VI. Em 7 de abril de 1831, o imperador abdicou do trono brasileiro em favor de seu filho, D. Pedro de Alcântara, na época com 5 anos de idade, partindo para a Europa com o restante de sua família. Como o herdeiro do trono era menor de idade e, portanto, não podia assumir o poder, o Brasil foi governado por regentes. Orientação para a realização da atividade.15 Cotidiano O carnaval é uma das festas mais populares em nosso país. Ele surgiu da influência de diversas culturas ao longo dos séculos. Descreva, no caderno, as principais características do carnaval na sua região, relacionando-as às carac- terísticas presentesna obra e na descrição de Debret. FIGUEIREDO, Aurélio de. Abdicação de Dom Pedro I. [ca. 1911]. 1 óleo sobre tela, color. Palácio Guanabara, Rio de Janeiro. © Pa lá ci o Gu an ab ar a, Ri o de Ja ne iro História 13 Hora de estudo 1. Relacione os desafios enfrentados pelo governo de D. Pedro I às principais questões a eles pertinentes: a) Manutenção das fronteiras. b) Reconhecimento da independência. c) Elaboração da Constituição de 1824. ( b ) Doutrina Monroe proposta pelos Estados Unidos em 1823; interferência da Inglaterra; indeni- zação de 2 milhões de libras esterlinas a Portugal. ( a ) Conflitos na Bahia, no Pará, no Maranhão, no Piauí e no Ceará; Confederação do Equador; separação da Província Cisplatina. ( c ) Manutenção da estrutura social; estabelecimento de voto censitário; criação do Poder Moderador. 2. O Poder Moderador foi um dos aspectos que mais marcaram a Constituição de 1824. Explique quais eram os poderes que ele conferia ao imperador e de que forma se relacionava com os demais poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário. O Poder Moderador garantia ao imperador o direito de dissolver a Câmara de Deputados, convocar a Assembleia Geral, nomear ministros, escolher senadores, suspender penas e magistrados, conceder anistia e aprovar ou suspender resoluções dos conselhos provinciais. Ele se sobrepunha a todos os demais poderes. 3. A Confederação do Equador objetivou a emancipação política de algumas províncias do Império do Brasil. Mas também foi uma resposta dos liberais a algumas medidas centralizadoras estabelecidas pelo governo de D. Pedro I. Qual foi a principal medida centralizadora? O que desejavam os liberais? A principal medida centralizadora foi a criação do Poder Moderador, o que inviabilizava qualquer medida de caráter liberal, já que ela poderia ser vetada pelo imperador. Os liberais desejavam, principalmente, maior autonomia para as províncias. 4. Sobre a Revolução Pernambucana (1817) e a Confederação do Equador (1824), analise as afirmativas a seguir. I. Ambos os movimentos lutavam por maior autonomia política e econômica para Pernambuco. II. A Revolução Pernambucana tinha por objetivo a implantação de uma república. A Confederação do Equador desejava o estabelecimento de uma monarquia com Frei Caneca como monarca. III. Ambos os movimentos desejavam a separação das regiões envolvidas no conflito do restante Brasil e a formação de um Estado independente. De acordo com a análise, assinale a alternativa correta. a) Todas as afirmativas estão certas. b) Todas as afirmativas estão erradas. c) Apenas as afirmativas I e II estão certas. X d) Apenas as afirmativas I e III estão certas. e) Apenas as afirmativas II e III estão certas. 14 Com base na análise da obra e em seus conhecimentos sobre o Primeiro Reinado, faça o que se pede. • Identifique os personagens representados na obra e comente a importância deles para o cenário político brasileiro do início do século XIX. • Em 1831, D. Pedro I partia para Portugal deixando no Brasil seu filho. Quais foram as circunstâncias que motivaram essa decisão? • Quando D. Pedro I abdicou, seu filho, herdeiro do trono, tinha apenas 5 anos de idade. Com tal idade ele poderia assumir o trono? Justifique sua resposta. Justificativa da seleção de conteúdos.1 Sugestão de abordagem de atividade e gabarito. 2 TAUNAY, Félix-Émile. D. Pedro II e suas irmãs D. Francisca e D. Januária. [ca. 1834]. 1 óleo sobre tela, color. Museu Imperial, Petrópolis. 10 Brasil Império: Período Regencial D. Pedro I foi aclamado por muitos como o herói da independência. Porém, durante o Primeiro Reinado, na visão de diferentes setores sociais, ele havia se transformado em um tirano. Em 1831, diante de uma situação política insustentável, D. Pedro I abdicou do trono brasileiro em favor de seu filho, D. Pedro de Alcântara. A esse respeito, observe esta obra. © M us eu Im pe ria l, P et ró po lis 15 Neste capítulo, você estudará o Período Regencial (1831-1840), o qual foi marcado por uma grave crise po- lítica e social que levou à eclosão de rebeliões em diferentes regiões do Império. Objetivos • Caracterizar os principais grupos políticos do Período Regencial. • Entender os motivos que levaram à criação da Guarda Nacional. • Identificar as principais medidas instituídas pelo Ato Adicional de 1834. • Compreender aspectos da cultura e da sociedade brasileira durante as regências. • Identificar as causas, os grupos envolvidos e os desdobramentos das rebeliões regenciais. • Relacionar o Golpe da Maioridade ao término do Período Regencial. Sugestão de abordagem de conteúdo. 3 1. Sobre o Primeiro Reinado, utilize as palavras a seguir para completar adequadamente o texto. A Constituição de 1824 procurou garantir a liberdade individual, a liberdade econômica e asse- gurar, plenamente, o direito à propriedade [...]. A Constituição afirmava a liberdade e a igualdade de todos perante a lei, mas a maioria da população permanecia escrava. Organize as ideias Abdicar Guerra da Cisplatina Confederação do Equador Monarca Crise Primeiro Reinado 1822 a 1831 D. Pedro I Período Regencial 1831 a 1840 Regentes Segundo Reinado 1840 a 1889 D. Pedro II Entre os anos de 1822 e 1831, muitos fatores contribuíram para a queda na popularidade de D. Pedro I. Nessa época, a economia brasileira passava por uma crise consi- derável, o que provocava descontentamento em diferentes regiões do país. No Nordeste, o au- toritarismo do monarca e o descaso com as províncias da região repercutiram na eclosão da Confederação do Equador . Esse acontecimento, associado ao fracasso na Guerra da Cisplatina e à crise na sucessão do trono português após a morte de D. João VI, em 1826, levou o Imperador a abdicar do trono em 1831. 2. Em 1824, D. Pedro I, poucos meses após determinar a dissolução da primeira Assembleia Constituinte do Brasil, outorgava a Constituição de 1824. A esse respeito, leia o texto a seguir. COSTA, Emília V. da. Introdução ao estudo da emancipação política do Brasil. In: MOTTA, Carlos G. (Org.). Brasil em perspectiva. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. p. 123. 8o. ano – Volume 316 Explique o que estabelecia a Constituição de 1824 em relação aos seguintes aspectos: a) Forma de governo. Monarquia Constitucional hereditária b) Divisão dos poderes. Executivo, Legislativo, Judiciário e Moderador. Política e economia Aprofundamento de conteúdo para o professor.4 O termo “federação” ou “federativa” é utilizado para se referir a uma for- ma de organização política por meio da qual vários estados ou províncias se reúnem sob um mesmo governo, porém todos mantêm ampla auto- nomia em relação aos outros, po- dendo estabelecer suas próprias leis e normas internas. PALLIÈRE, Arnaud J. D. Pedro II, menino. [ca. 1831]. 1 óleo sobre tela, color., 45 cm × 39 cm. Museu Imperial, Petrópolis. D. Pedro de Alcântara ainda criança, pouco antes da abdicação do pai, D. Pedro I, ao trono brasileiro. Conforme previsto na Constituição de 1824, na ausência do impera- dor e na impossibilidade de um herdeiro assumir o trono, o poder deve- ria ser entregue a três regentes. Em 1831, com a abdicação de D. Pedro I e pelo fato de seu filho, D. Pedro de Alcântara, ter apenas 5 anos de idade, iniciou-se uma das fases mais violentas e incertas da História do Brasil, o Período Regencial (1831-1840). Com a abdicação de D. Pedro I, foi instituída a Regência Trina Pro- visória, formada pelos senadores Nicolau Pereira de Campos Vergueiro e José Joaquim Carneiro de Campos, além do brigadeiro Francisco de Lima e Silva. Eles permaneceram no poder até junho de 1831, quando foram realizadas eleições para a escolha da Regência Trina Perma- nente, que deveria governar o país pelos próximos quatro anos. A Câmara dos Deputados, órgão que deveria realizar as eleições para a escolha dos próximos regentes, encontrava-se politicamente divididaem três grupos políticos principais: • Restauradores (Caramurus) – Grupo identificado com os in- teresses do Partido Português do Primeiro Reinado, formado por altos funcionários da administração pública e ricos comerciantes. Desejava o retorno de D. Pedro I ao Brasil e a centralização dos po- deres nas mãos do monarca. • Liberais Moderados (Chimangos) – Grupo formado principal- mente por ricos proprietários de terras e intelectuais. Esse grupo defendia a centralização política a fim de se garantir a integridade do território brasileiro e a manutenção da ordem social. • Liberais Exaltados (Farroupilhas) – Grupo formado por proprie- tários de terras e membros das camadas médias da população. As posições variavam no interior desse grupo – alguns desejavam uma monarquia federativa, ou seja, descentralizada; outros, mais radicais, defendiam a proclamação da República no Brasil. © M us eu Im pe ria l, P et ró po lis História 17 Regência Trina Permanente O grupo predominante na Câmara dos Deputados no momento da eleição da Regência Trina Permanente era o dos Liberais Moderados. Por esse motivo, a maior parte dos cargos de regente foi ocupada por integrantes desse grupo. milícia: termo utilizado para se referir a forças armadas constituídas por civis, que não fazem parte das forças militares de um país. No ano seguinte, em 1832, a Regência Trina Permanente promulgou o Código de Processo Criminal, que determinava como deveriam funcionar os processos criminais no país. Ele concedia amplos poderes aos juízes de paz, cargo que já existia desde 1827 como responsável pela justiça nos municípios, mas que, a partir de então, teria sua atuação ampliada, passando a ter poderes administrativos e policiais. Os juízes poderiam, assim, mandar prender pessoas que julgassem suspeitas e instaurar processos contra elas. Sob sua responsabilidade também ficavam os coronéis comandantes da Guarda Nacional. Em 1831, o padre Diogo Feijó, ministro da Justiça e figura política de destaque do período, criou a Guarda Nacional. Essa organização era uma milícia formada por membros das classes altas, uma vez que era necessário ter renda superior a 100 mil-réis para poder ingressar em seus quadros. Os integrantes da Guarda Nacional deveriam agir regionalmente, contendo manifestações contrárias às regências, em geral promovi- das pelos Liberais Exaltados ou pelos Restauradores. Além de evitar e combater rebeliões populares, essa força também atuava na moraliza- ção dos costumes, controlando “agitadores” e “arruaceiros”. Os integrantes dos postos mais altos da Guarda Nacional eram no- meados pelos presidentes das províncias com o título de coronel. O título de coronel era concedido a grandes latifundiários detentores de poder político e econômico no interior do Brasil. Essa prática teve origem com a criação da Guarda Nacional, quando milícias foram organizadas e coman- dadas por esses grandes proprietários. No decorrer do tempo, em diferentes regiões do Brasil, os coronéis adquiri- ram tamanho prestígio e poder a ponto de esse fenômeno ser conhecido como coronelismo. PORTO-ALEGRE, Manuel de A. O juramento da Regência Trina Permanente. 1831. 1 óleo sobre tela, color., 30,5 cm × 44,5 cm. Museu Imperial, Petrópolis. Para compor a Regência Trina Permanente, foram eleitos o brigadeiro Francisco de Lima e Silva, que já havia feito parte da Regência Trina Provisória, e os deputados João Bráulio Muniz, representante das províncias do Norte, e José Costa de Carvalho, representante das províncias do Sul. Na obra, os eleitos para a Regência Trina Permanente fazem o juramento diante da Igreja. © M us eu Im pe ria l, P et ró po lis 8o. ano – Volume 318 Outra importante realização desse período foi o Ato Adicional de 1834, uma emenda à Constituição de 1824. Por meio dele, extinguiu-se o Conselho de Estado e, em seu lugar, foram criadas as Assembleias Le- gislativas Provinciais. Estas legislariam sobre organização civil, judiciária e eclesiástica, instrução pública, desapropriações, impostos e funcionalis- mo dentro das províncias, aumentando a autonomia das elites regionais. O Conselho de Estado era um órgão composto de pessoas de confiança do imperador, as quais o assessoravam nos assuntos políticos, administrativos e judiciários. Gabarito.5 Troca de ideias A autonomia das províncias imperiais foi uma das questões mais discutidas durante o Período Regencial. Restauradores e Liberais Moderados defendiam a centralização do poder político na figura do imperador ou na dos regentes. Os Liberais Exaltados defendiam maior autonomia para as províncias. Alguns historiadores classi- ficam os anos de 1830 a 1837 como um período de avanço liberal, uma vez que ocorreu uma série de medidas nesse sentido. No caderno, explique como as decisões e as organizações a seguir contribuíram para a autonomia das províncias. a) Criação da Guarda Nacional, em 1831. b) Criação do Código de Processo Criminal, em 1832. c) Ato Adicional de 1834. No ano da criação do Ato Adicional de 1834, D. Pedro I faleceu em Portugal, ironicamente no mesmo quarto, no Palácio de Queluz, onde havia nascido em 1798. Esse fato causou mudanças na política brasileira, uma vez que o regresso do Imperador já não era possível, esvaziando as reivindicações dos Restauradores. O Ato Adicional de 1834 ainda previa o fim das Regências Trinas e estabelecia a criação das Regências Unas. Também declarou a cidade do Rio de Janeiro como sede do governo e estabeleceu a suspensão do Poder Moderador. MAURIN, Nicolas-Eustache. Morte do rei D. Pedro IV de Portugal, primeiro imperador do Brasil. 1834. 1 gravura colorida à mão, color., 31,5 cm × 36,5 cm. Palácio Nacional de Queluz, Lisboa. © Pa lá ci o Na ci on al d e Q ue lu z, Q ue lu z História 19 Regência Una Em 1835, foram realizadas eleições para a escolha do regente único. Foi eleito para o cargo o ex-ministro da justiça, padre Diogo Feijó. Em seu governo, Feijó criou uma nova facção política, denominada Progressista – sendo uma de suas principais bandeiras a defesa do Ato Adicional de 1834, voltado para a autonomia das províncias. Congregaram-se nesse grupo par- te dos Liberais Exaltados e parte dos Liberais Moderados. Os políticos contrá- rios ao Ato Adicional organizaram-se no grupo dos Regressistas, que abrigou parte dos membros dos Liberais Moderados e parte dos Restauradores. O governo de Feijó deveria estender-se até o ano de 1840. No entan- to, os confrontos entre Progressistas e Regressistas, aliados à crise econô- mica e social pela qual o Brasil passava, representados pelas inúmeras revoltas que se multiplicavam pelo Império – como a Cabanagem e a Farroupilha – levaram o regente a renunciar em 1835. Após a renúncia do padre Diogo Feijó, quem assumiu o governo foi Araújo Lima, político apoiado pelos Regressistas, cujo posicionamento era contrário ao liberalismo e à autonomia das províncias. Para esse gru- po, a centralização do poder era o único caminho capaz de controlar as rebeliões que se multiplicavam pelas províncias. Durante seu governo, foi elaborada a Lei de Interpretação do Ato Adicional, em 1840, a qual reformava o Código de Processo Penal de 1832, retirando dos juízes de paz grande parte de suas atribuições. Ela as transferia para agentes nomeados pelo poder central. Também retirava grande parte das atribuições das Assembleias Provinciais, completando um processo de revogação das liberdades adquiridas pelas províncias. Por fim, recriava o Conselho de Estado. Todas essas medidas provocaram a antipatia de parte dos membros das elites locais, que não desejava ter o seu poder diminuído. SILVA, Oscar P. da. Padre Diogo Antônio Feijó. 1925. 1 óleo sobre tela, color., 180 cm × 180 cm. Museu Paulista, São Paulo. Interpretando documentos No século XIX, a economia brasileira caracterizava-se pela agroexportação. Observe o quadro com os principais produtos exportados pelo Brasil durante o PrimeiroReinado e o Período Regencial. EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS (1821-1840) Produto 1821-1830 1831-1840 Açúcar 30% 24% Algodão 21% 11% Café 18% 44% Outros 31% 21% FAZOLI FILHO, Arnaldo. O Período Regencial. São Paulo: Ática, 1994. p. 50. Com base nas informações anteriores, responda: a) O que os dados do quadro permitem afirmar a respeito da economia brasileira durante o Período Regencial? A economia brasileira se encontrava em crise. Entre os produtos citados, dois deles (açúcar e algodão) apresentaram queda significativa nas exportações entre os anos de 1831 e 1840, que correspondem ao Período Regencial. b) Qual foi o único produto que apresentou crescimento nas exportações entre os anos de 1831 e 1840? O café. ©W ikim ed ia C om m on s/ M us eu P au lis ta d a US P/ Hé lio N ob re/ Jo sé Ro sae l 8o. ano – Volume 320 Cultura e sociedade A formação do Estado brasileiro passava, de maneira inevitável, pela necessidade de se criar no país uma identidade nacional. Nos anos que se seguiram após a independência, a maior parte da população brasileira se identificava com a região na qual vivia e, propriamente, não havia um sentimento nacional. Durante o Período Regencial, os governantes deram início a um esforço a fim de criar essa identidade. Nesse sentido, inauguraram e desenvolveram uma série de instituições voltadas, sobretudo, para a história, a memória e o ensino no Brasil. Em 1838, foi inaugurado o Arquivo Nacional, cujo objetivo era recolher e abrigar toda a documentação ofi- cial produzida no Brasil. Em outubro desse mesmo ano, foi criado o Instituto Histórico e Geográfico Brasilei- ro (IHGB), responsável por estabelecer no país as bases do desenvolvimento da pesquisa histórica e geográfica. Aprofundamento de conteúdo para o professor.6 Aprofundamento de conteúdo para o professor. 7 A primeira sede do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) funcionava em uma pequena sala no Largo do Paço Imperial. Atualmente, nessa região, localizada no Centro Histórico do Rio de Janeiro, fica a Praça XV de Novembro. MARTINET, Alfredo. Rio de Janeiro, vista do morro do Castelo. 1852. 1 litografia a duas cores (preto e sépia) e aquarela sobre papel, 54,4 cm × 78,1 cm. Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro. No século XIX, diferentemente da maior parte das cidades do Brasil, o Rio de Janeiro, na condição de capital do Império, recebeu uma série de investimentos e melhorias, os quais em geral beneficiavam apenas os setores privilegiados da sociedade. Em 1837, no Rio de Janeiro surgiu o Imperial Colégio de Pe- dro Segundo, instituição-modelo do ensino secundário. Ao fundar esse colégio, o governo brasilei- ro pretendia criar as bases para a educação das crianças das elites nacionais, que, posteriormente, ocupariam cargos na administra- ção, no comércio e nos serviços. Foi constituída como instituição pública de ensino, pois se acredi- tava que, dessa forma, era possível assegurar maior qualidade de en- sino, em comparação com o que ofereciam as escolas privadas nes- se período. BRIGGS, F.; LUDWIG, I. Largo do Paço Imperial. 1845-1846. 1 litogravura sobre papel, 17,4 cm × 26,5 cm. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. © Fu nd aç ão B ib lio te ca N ac io na l, R io d e Ja ne iro © Ac er vo In st itu to M or ei ra S al le s História 21 Cotidiano O documento a seguir é um trecho do primeiro regimento interno do Imperial Colégio de Pedro Segundo. Realize a leitura. Capítulo IX Do movimento dos alunos Antes do meio dia Art. 52. Das 5 horas e meia às 6: os alunos levantam-se, vestem-se e vão para a Oração comum. Das 6 às 7 horas e meia: os alunos preparam nas Salas de estudo os trabalhos, que lhes houverem sido marcados pelos Professores. Das 7 e meia às 8: almoço, e recreio. Das 8 ao meio-dia: vão para as diversas Aulas. [...] Depois do meio-dia Art. 53. Do meio-dia a hora e meia: jantar e recreio. Da hora e meia às 5: vão os alunos para as diversas aulas. Das 5 às 5 e meia: merenda e recreio. Das 5 e meia às 8: preparam os trabalhos escritos e decoram lições. Das 8 às 8 e meia: ceiam. Das 8 e meia às 9: recreio, segue-se leitura moral e Oração comum. Às 9 e meia: vão deitar-se. REGIMENTO Interno do Imperial Colégio de Pedro Segundo. Coleções das Leis do Império. Tomo 1, parte 2, seção 6. Regulamento no 8, 31 de janeiro de 1838. Com base no documento, procure apontar semelhanças e diferenças entre a sua rotina diária e a de um estudante do século XIX do Imperial Colégio de Pedro Segundo. SEMELHANÇAS DIFERENÇAS Esperamos que os alunos percebam que, tanto no século XIX quanto nos dias atuais, as instituições de ensino tinham/têm re- gimentos que determinavam/determinam os horários de início e término das aulas, recreio e outros intervalos. Além disso, os alu- nos tinham/têm aulas e a obrigatoriedade de realizar trabalhos. Entre as diferenças, podem-se apontar os horários das aulas e das refeições, bem como os métodos de ensino nos quais os alunos deveriam “decorar lições”.8o. ano – Volume 322 Rebeliões O Período Regencial foi marcado pela eclosão de uma série de rebeliões em todo o país. Elas se caracteriza- ram pelo questionamento da legitimidade das regências, pelo conflito entre membros de elites regionais que disputavam o poder local e pelas camadas populares que exigiam melhores condições de vida. Organize as ideias No material de apoio, você encontrará um mapa com as principais rebeliões do Período Regencial. Monte as duas partes do mapa e, à medida que for estudando os assuntos, complete os quadros com informações referentes a esses movimentos ocorridos no Brasil durante a primeira metade do século XIX. Cabanagem No início do século XIX, havia grande insatisfação por parte da população pobre que vivia na Província do Grão-Pará. Essa camada menos abastada era formada por escravizados e homens livres, em sua maioria indí- genas e mestiços que viviam em cabanas muito pobres à beira dos rios. Por esse motivo, os revoltosos foram chamados de cabanos e a revolta, de Cabanagem. Em 1833, o presidente da província nomeado pelo governo regencial agiu com grande violência ao reprimir focos de revoltas populares. Essa atitude aumentou o descontentamento da população. Liderados pelo cônego Batista Campos, pelos lavradores e irmãos Francisco e Antônio Vinagre, pelo fazendeiro Félix Antônio Clemente Malcher e pelo seringueiro Eduardo Angelim, os cabanos invadiram a cidade de Belém em 1835. Os revoltosos exigiam melhorias nas condições de vida da população e a expulsão dos portugueses, considerados os grandes causadores da pobreza. Os cabanos fuzilaram o presidente da província e entregaram o cargo a Félix Malcher. Ao assumir a função, no entanto, o fazendeiro traiu o movimento e jurou fidelidade ao governo regencial. Essa atitude levou os revol- tosos a executá-lo. Em seu lugar, assumiu o cargo Francisco Vinagre. Em 1836, o governo regencial enviou a Belém ampla força militar, a qual expulsou os cabanos. Estes re- tornaram para a região rural, onde lutaram por cerca de três anos, até serem completamente derrotados em 1840. Durante o conflito, cerca de um terço da população da província morreu, o equivalente a cerca de 30 mil pessoas em uma população de 120 mil. Gabarito.8 Aprofundamento de conteúdo para o professor.9 SILVA, Ignácio A. da. Prospectiva da cidade de Santa Maria do Belém do Grão-Pará. [ca. 1800]. 1 gravura colorida a mão. Arquivo Histórico do Exército, Rio de Janeiro. A Cabanagem foi um dos principais movimentos populares do Brasil. Na imagem, à esquerda, próximo à Igreja da Sé, pode-se observar o Palácio do Governo, o qual foi ocupado pelos cabanos em 1835. © Ar qu iv o Hi st ór ic o do E xé rc ito , R io d e Ja ne iro História 23 Leia o fragmento de texto a seguir. Troca de ideias Perfurações de bala nas paredes das construções em Belém e plantações abandonadas compu- nham um cenário desolador na província do Pará. Eram as marcas da Cabanagem (1835-1840), revolta popular que abalou as atividades comerciais e a vida social tanto na cidade como no campo [...]. Diante do panorama sombrio, a economia local tratava-se de se reerguer. A recuperação veio de um lugar bastante familiar para a população ribeirinha: as águas da Amazônia. Rios, igarapés e lagos eram locais de trabalho de vendedores itinerantes que faziam um pequeno comércio, o cha- mado regatão. Canoas e outros tipos de embarcação tornaram-se verdadeiros armazéns flutuantes, levando os mais variados produtos para moradores ribeirinhos. As mercadorias chegavam pelos rios da região, como Acará, Anajás, Moju, Capim, Guamá, Maguari, Tocantins e Xingu. A população do interior dependia desses pequenos comerciantes, que se abasteciam nos portos das cidades fluviais e faziam chegar às povoações remotas um pouco de tudo. Tecidos, bebidas, ferragens, cereais, pa- neiros (cestos) de farinha, quinino – remédio para tratar malária – são apenas alguns exemplos do que era vendido. LOPEZ, Siméia de N. Mercador das águas. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 5, n. 51, p. 27, 2009. a) Descreva a situação econômica e social da Província do Grão-Pará após a Cabanagem. A Província do Grão-Pará, antes mesmo do início da Cabanagem, já enfrentava uma grave crise econômica e social. Após o conflito, a gravidade da crise atingiu o ápice. A destruição de cidades e plantações, associada aos cerca de 30 mil cabanos mortos, deixou marcas profundas e duradouras na província. b) De que forma o comércio de regatão auxiliou na recuperação econômica da Província do Grão-Pará? Os comerciantes de regatão transportavam produtos essenciais à população do Grão-Pará. Esse abastecimento, em certa medida, contribuiu para recuperar a economia da província. Rusga Durante o Período Regencial, dois grupos políticos disputavam o poder na Província de Mato Grosso. De um lado, estava a Sociedade dos Zelosos da Independência; de outro, a Sociedade Filantrópica. Em 1834, mem- bros da Sociedade dos Zelosos da Independência planejaram tomar o poder provincial, que estava nas mãos de pessoas ligadas à Sociedade Filantrópica. Na tentativa de evitar um conflito armado, o conselho de governo nomeou como presidente da província um membro da Sociedade dos Zelosos da Independência, João Poupino Caldas. Todavia, essa medida não foi capaz de conter as camadas populares, que saíram armadas às ruas de Cuiabá em 30 de maio de 1834. A manifestação popular era con- sequência da crise econômica vivida pela Província de Mato Grosso, que resultava no atraso do pagamento de salários, aumentando a miséria so- cial. A repressão ao movimento foi implacável. Alguns integrantes foram condenados à morte, outros, à pena nas galés, e outros, à prisão. O significado de pena nas galés é pena de trabalhos forçados. De acordo com o Código de Processo Criminal, o réu deveria andar e tra- balhar com calceta e correntes de ferro nos pés. 8o. ano – Volume 324 Balaiada A Província do Maranhão, que havia conhecido grande prosperidade com as plantações de algodão, estava em decadência desde o início da década de 1830. A razão é que as exportações desse produto diminuíram, principalmente em virtude da concorrência dos Estados Unidos. Nesse período, a vida política do Maranhão era marcada pela oposição entre liberais (bem-te-vis) e conservadores (cabanos). No poder, estavam os conservadores. A principal atividade de muitos dos revoltosos era a produção de balaios, motivo pelo qual o nome Balaiada foi adotado para se referir a esse movimento. Ao vencer os balaios, Luís Alves de Lima e Silva recebeu o título de no- breza de Barão de Caxias. Em 1869, após participação na Guerra do Pa- raguai, tornou-se Duque de Caxias. Em 1838, percebendo na insatisfação da população pobre uma pos- sibilidade de desestabilizar o governo conservador, os liberais apoiaram movimentos populares que pediam melhores condições de vida. Aos poucos, o movimento se fortaleceu e, em julho de 1839, os balaios, como passaram a ser chamados, invadiram e tomaram o poder em Ca- xias, uma das maiores cidades do Maranhão. Esse fato desagradou tam- bém aos liberais, que, preocupados com os rumos que a revolta poderia tomar, retiraram o apoio à rebelião popular. Liberais e conservadores uniram-se contra os balaios e apelaram ao governo regencial, que enviou para a região o coronel Luís Alves de Lima e Silva, no comando de uma tropa de 8 mil homens, com o obje- tivo de acabar com a rebelião. Os conflitos entre os balaios e as tropas do Exército oficial se estenderam por cerca de dois anos, ao longo dos quais praticamente todos os revoltosos e os principais líderes do movimento foram massacrados. Estima-se que o número de mortos tenha ficado em torno de 12 mil pessoas. Revolta dos Malês Os malês eram africanos e afro-brasileiros muçulmanos, escravizados ou libertos, que em 1835 se revoltaram em Salvador contra a escravidão, a imposição do catolicismo e os maus-tratosaos quais eram cotidianamente submetidos. O movimento, que tomou as ruas da capital, Salvador, em janeiro de 1835, foi violentamente reprimido pelos membros da Guarda Nacional e pelo Exército oficial. Execuções, prisões, torturas e deportações marcaram o desfecho da rebelião. SINETY, Jules M. V. Bahia. 1838. 1 aquarela e grafite sobre papel, color., 31,2 cm × 45,4 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo. Muitos africanos e afro- -brasileiros que viviam em Salvador eram muçulmanos. Havia entre os revoltosos inclusive aqueles que sabiam ler e escrever em árabe, o que dificultava a compreensão do conteúdo de muitas das mensagens dos revoltosos apreendidas pelas autoridades locais. © Pi na co te ca d o Es ta do d e Sã o Pa ul o, S ão P au lo História 25 Sabinada Revolta que ocorreu na Província da Bahia entre os anos de 1837 e 1838. Foi liderada pelos liberais da província, que se colocavam contra o governo regencial, não reconhecido por eles como legítimo. Para isso, desejavam a independência da Bahia até que D. Pedro II assumisse o governo. Liderados pelo médico Francisco Sabino, os revoltosos tomaram Salvador em novembro de 1837. Decretaram sua independência, a insta- lação de uma república e a convocação de uma Constituinte, que deveria discutir as novas leis que regeriam a província nesse período. Além de médico, Francisco Sabino era proprietário de um jornal deno- minado Novo Diário da Bahia, por meio do qual divulgava ideias re- publicanas. O movimento foi cha- mado de Sabinada em referência ao sobrenome desse médico. O presidente da província pediu reforços ao governo regencial. Esses reforços estabeleceram um cerco à cidade de Salvador, evitando que gêneros básicos entrassem nela, o que gerou grande carestia. No auge do conflito, os revoltosos prometeram a liberdade a todos os escravizados que concordassem em lutar pela causa liberal. No dia 14 de março de 1838, as tropas oficiais invadiram Salvador e, após intenso conflito, que culminou com a morte de cerca de 1 300 rebeldes, o movimento foi contido. Os líderes foram presos e receberam puni- ções de pena de morte, que posteriormente foram revertidas em pena de exílio da província. Revolução Farroupilha Na primeira metade do século XIX, a principal fonte de renda da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul era a criação de gado para o comércio de couro, charque e gado muar para as demais províncias brasileiras. A independência do Uruguai (antiga Província Cisplatina), além de privar os estancieiros sul-rio-grandenses das terras de pastagem da região, ainda representou concorrência no comércio do charque. Isso porque o produto vindo do Uruguai e da Argentina entrava no Brasil com valor mais baixo do que o produzido no Rio Grande do Sul. O governo brasileiro se negou a aumentar a taxação sobre o charque vindo do exterior. Esse fato, associado à centralização dos poderes políticos no Rio de Janeiro, fez com que os estancieiros sul-rio-grandenses dessem início, em 1835, à Revolução Farroupilha. Suas principais reivindicações eram a separação da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul em relação ao Brasil e a implantação de uma república na região. BAUVIER, Pietro. Garibaldi carregando Anita pelos pântanos de Comacchio. 1864. 1 óleo sobre tela, color. Museu do Risorgimento, Brescia. Em Laguna, durante a Revolução Farroupilha, Garibaldi conheceu a brasileira Ana Maria de Jesus Ribeiro, conhecida como Anita. Em 1847, os dois, na época com três filhos, foram para a Europa, onde participaram do processo de lutas pela unificação italiana. Na obra, Garibaldi carrega Anita pouco antes da morte da esposa, em 1849. A revolta foi iniciada por Bento Gonçalves, líder da Guarda Nacio- nal na província, que, apoiado por outros estancieiros e líderes milita- res da região, invadiu Porto Alegre, a capital da província, obrigando seu presidente a fugir. Em 1836, os farroupilhas proclamaram a República Rio-Grandense, com sede na Vila de Piratini. Em 1839, liderados por Bento Gonçalves e pelo revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi, os revoltosos conquistaram Laguna, na Província de Santa Catarina, onde proclamaram a República Juliana. © M us eo d el R iso rg im en to , B re sc ia 8o. ano – Volume 326 Hora de estudo 27 Em 1840, o governo deu início a uma longa campanha militar, por meio da qual buscou acabar definitiva- mente com a revolução. Foram cinco anos de conflitos. Em 1845, tiveram início as negociações para a elabora- ção do tratado de paz – segundo o qual o governo central estabelecia concessões aos sul-rio-grandenses. Entre elas, estavam: a anistia aos oficiais farroupilhas e a incorporação deles ao Exército imperial, o fortalecimento da assembleia local e o aumento de 25% dos impostos sobre o charque estrangeiro. Golpe da Maioridade A instabilidade política e social vivida pelo Brasil durante o Período Regencial deu origem a um movimento que pedia a antecipação da maioridade de D. Pedro II. Em 1840, uma ação liderada pelos deputados liberais aprovou um projeto de lei para a antecipação dessa maioridade. Essa medida, conhecida como Golpe da Maioridade, pôs fim a esse período. O Golpe da Maioridade foi ideali- zado pelos Liberais. Diante da crise, havia um desejo generalizado de que o governo de D. Pedro II aca- basse com a instabilidade, o que levou sua aclamação a ser festejada pelas elites. 1. Sobre a política no Período Regencial, marque V para a(s) afirmativa(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s). ( V ) Esse período teve início após a abdicação de D. Pedro I em favor de seu filho Pedro de Alcântara, futuro D. Pedro II, que na época era uma criança e não tinha, portanto, condições para governar. ( F ) Os grupos políticos predominantes no início desse período eram o dos Progressistas e o dos Regres- sistas, que se transformaram, respectivamente, em Liberais Moderados e Restauradores. ( V ) A principal bandeira dos Regressistas era a criação de uma monarquia centralizada em D. Pedro I, ideia desfeita após a morte dele, em 1834. ( F ) O início do Período Regencial é chamado de regresso conservador em virtude da criação de medi- das centralizadoras, como a criação da Guarda Nacional, do Código de Processo Criminal e do Ato Adicional de 1834. ( V ) A Regência de Araújo Lima ficou marcada como um período de regresso conservador, em virtude da elaboração de medidas que tinham como objetivo concentrar os poderes novamente no gover- no central. Entre elas, podemos citar a Lei de Interpretação do Ato Adicional, em 1840, e a recriação do Conselho de Estado. Em 18 de julho de 1840, D. Pedro de Alcântara foi coroado como imperador do Brasil aos 14 anos de idade. Teve início, assim, o período do Segundo Reinado, que se estendeu de 1840 até 1889, ano em que foi procla- mada a República. Farrapo é o nome dado a uma pessoa que anda com as vestes rasgadas e sujas. Os conservadores sul-rio-grandenses atribuíram esse nome, de forma pejorativa, para se referir aos revoltosos, motivo pelo qual o movimento foi denominado Farroupilha ou Guerra dos Farrapos. Queremos Pedro Segundo. Embora não tenha idade. A nação dispensa a lei. E viva a maioridade. SCHWARCZ, Lilia M. As barbas do imperador. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 74. a) Qual é a proposta defendida por aqueles que entoavam essa quadrinha? A antecipação da maioridade de D. Pedro II. b) Explique por que essa medida beneficiava os políticos liberais e alguns setores da elite brasileira. Ao antecipar a maioridade de D. Pedro II, os liberais almejavam retirar os conservadores do poder. Ao mesmo tempo, setores da elite, que temiam que a instabilidade vivida pelo país resultasse em mudanças “radicais”, apoiavam a medida como forma de controlar a população. 3 Extinguia o Conselho de Estado e aumentava o poder das As- sembleias Legislativas Provinciais, dominadas pelas elites locais. 1 Milícia criada pelo governo regencialcom o objetivo de forta- lecer a força militar nacional. Acabou reforçando o poder das elites regionais, já que era necessário ter renda superior a 100 mil réis para poder ingressar em seus quadros. 2 Essa medida concedia amplos poderes aos juízes de paz, que passariam a ter funções judiciárias, administrativas e policiais. Também contribuiu para o fortalecimento das elites regionais, uma vez que o cargo de juiz era censitário. 3. (ENEM) Após a abdicação de D. Pedro I, o Brasil atravessou um período marcado por inúmeras crises: as diversas forças políticas lutavam pelo poder e as reivindicações populares eram por melhores condi- ções de vida e pelo direito de participação na vida política do país. Os conflitos representavam também o protesto contra a centralização do governo. Nesse período, ocorreu a expansão da cultura cafeeira e o surgimento do poderoso grupo dos “barões do café”, para o qual era fundamental a manutenção da escravidão e do tráfico negreiro. O contexto do Período Regencial foi marcado: a) por revoltas populares que reclamavam a volta da monarquia. b) por várias crises e pela submissão das forças políticas ao poder central. c) pela luta entre os principais grupos políticos que reivindicavam melhores condições de vida. d) pelo governo dos chamados regentes, que promoveram a ascensão social dos “barões do café”. X e) pela convulsão política e por novas realidades econômicas que exigiam o reforço de velhas realidades sociais. 4. Leia esta quadrinha, que se tornou popular no Rio de Janeiro em 1840. 2. Relacione as colunas. 1. Guarda Nacional 2. Código de Processo Criminal 3. Ato Adicional de 1834 28 Observe a obra de Moreaux e em seguida converse com o professor e os colegas sobre ela. 1. Qual evento foi representado na obra? 2. Quais grupos sociais foram representados? Como você chegou a essa conclusão? 3. Relacione a notícia publicada no jornal Diário do Rio de Janeiro, de 1841, acima reproduzida, com a representação de Moreaux. Brasil Império: Segundo Reinado 11 Sugestão de retomada de conteúdos anteriormente estudados e gabarito. 1 MOREAUX, François-René. O ato de coroação de Dom Pedro II. 1842. 1 óleo sobre tela, color., 238 cm × 310 cm. Museu Imperial, Petrópolis. A SAGRAÇÃO e coroação do senhor D. Pedro II. Diário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 19 jul. 1841, ano XX, ed. 157. “E vós, Senhor, que invocaes o auxilio de Deus, que recebeis das mãos de seu servidor e ministro da corôa, que o povo brasileiro guar- dou e acatou na época de vossa minoridade [...]” gabarito. o de Janeiro, 19 jul. 1841, ano XX, eeeeeeeusususususuu , quququeeee rereeececeeeeeebebebbebebebeisisisisisisii ddddddasasasasaasa popopopoppoppovovoovoo bbbbbrararaarasisiileleeleiririrriririiro o oooo oo guguguggguguguuguararararar-----rr ”” © M us eu Im pe ria l, P et ró po lis 29 O Golpe da Maioridade levou ao poder D. Pedro de Alcântara, que ocupou o cargo de imperador de 1840 a 1889, constituindo o governo mais longo da história do país. Em 18 de julho de 1841, o jovem foi coroado com o título de D. Pedro II. Objetivos • Identificar os partidos políticos do Segundo Reinado e os interesses por eles defendidos. • Analisar os motivos das disputas políticas durante o Segundo Reinado. • Caracterizar a Revolução Praieira. • Reconhecer a importância do café como principal produto da nossa economia durante o Segundo Reinado. • Reconhecer a relevância da mão de obra imigrante para o desenvolvimento econômico no Segundo Reinado. • Identificar as transformações culturais ocorridas no Segundo Reinado. Organize as ideias Sugestão de retomada de conteúdo anteriormente estudado. 2 Gabarito.3 Antes de avançarmos em nossos estudos sobre o Brasil Império, vamos retomar alguns dos temas estudados. 1. A respeito do Período Regencial (1830-1841), analise as afirmativas a seguir. I. Como comprova a denominação, o período foi marcado pelo governo de regentes. II. Durante todo o período, governaram apenas três regentes, que integraram a Regência Trina Permanente. III. Esse período foi marcado por revoltas em diversas partes do território brasileiro. As questões polí- ticas regionais e o descontentamento com a política nacional podem ser apontados como causas dessas revoltas. De acordo com a análise das afirmativas, assinale a alternativa correta. a) Todas as afirmativas estão certas. b) Todas as afirmativas estão erradas. c) Apenas as afirmativas I e II estão certas. X d) Apenas as afirmativas I e III estão certas. e) Apenas as afirmativas II e III estão certas. 2. Explique em termos gerais como estava a economia brasileira durante o Período Regencial. Sugestão de abordagem do conteúdo.4Política A política no Segundo Reinado foi marcada pelas disputas entre membros dos partidos Liberal e Con- servador. • Partido Liberal: originou-se do Partido Progressista. Formado por grandes proprietários de terra, predomi- nantemente da Região Centro-Sul do país, e membros da classe média urbana, favoráveis à descentralização do poder político. • Partido Conservador: originou-se do Partido Regressista. Formado por grandes proprietários rurais, oriun- dos principalmente das regiões Norte e Nordeste, grandes comerciantes e funcionários do alto escalão do governo, favoráveis à centralização do poder político. 8o. ano – Volume 330 TAUNAY, Félix-Émile. Retrato de sua majestade, o imperador D. Pedro II, em 1835. 1837. 1 óleo sobre tela, color., 202,5 cm × 131,4 cm. Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro. O Golpe da Maioridade foi obra dos membros do Par- tido Liberal, motivo pelo qual esse grupo político predo- minou no primeiro momento do governo de D. Pedro II. Pouco após assumir o cargo, no entanto, o Imperador convocou eleições para compor a Câmara dos Deputados. Liberais e conservadores não se limitaram ao confronto nas urnas. O processo eleitoral foi marcado por grande violência e inúmeras fraudes, o que lhe rendeu o título de “eleições do cacete” (1840). O resultado garantiu a vitória aos liberais. A polêmica envolvendo a eleição fraudulenta levou D. Pedro II a utilizar o Poder Moderador para anu- lar o resultado e nomear um novo ministério, composto exclusivamente de conservadores. O novo ministério to- mou medidas voltadas para a centralização do poder po- lítico na figura do imperador, restaurando definitivamente o Conselho de Estado e aprovando a reforma do Código de Processo Criminal. Como resposta ao poder concedido por D. Pedro II ao Partido Conservador, os membros do Partido Liberal, lide- rados pelo ex-regente Feijó e por Teófilo Ottoni, promove- ram, em 1842, uma série de revoltas nas províncias de São Paulo e Minas Gerais. Entre suas reivindicações, estavam a dissolução do ministério conservador e a deposição dos presidentes de província nomeados por D. Pedro II. Em pouco tempo, as tropas imperiais conseguiram acabar com a revolta, prendendo seus líderes. As revoltas que ocorreram nos estados de São Paulo e Minas Gerais em 1842 envolveram os conservadores, conhecidos pela alcunha de saquaremas, e os liberais, apelidados de luzias. Nesse contexto, leia o texto: Interpretando documentos Derrotados pelas forças do Barão de Caxias, os “revolucionários” de 1842 foram apresentados como revoltosos. Carregariam pelos tempos afora, como um estigma, o apelido de luzias, lembrança do local onde sofreram sua mais contundente derrota militar. Tenderiam a implementar, quando no governo, as ideias e as propostas dos conservadores, conforme lembrava o ditado popular: Nada tão parecido com um saquarema como um luzia no poder. MATTOS, Ilmar R. de; GONÇALVES, Marcia de A. O império da boa sociedade: a consolidação do Estado imperial brasileiro. São Paulo: Atual, 1991. p. 67. (História em documentos). De acordo com a frase “Nada tão parecido com um saquarema como um luzia no poder”, responda: Havia diferenças entre os interesses políticos de liberais e conservadores? Justifique sua resposta.
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