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8o. ano Volume 4 ooo Livro do professor Livro didático Arte 7 8 Inventando moda 2 Com que roupa? 17 © Sh ut te rs to ck /D eb ra H ug he s 2 © Es ta dã o Co nt eú do /R ob so n Fe rn an de s/ AG E Aula 1 Encaminhamento da atividade.1 • Desfile da coleção A costura do invisível, do estilista Jum Nakao, na São Paulo Fashion Week, 2004 1. Você já assistiu a um desfile de moda, ao vivo ou pela televisão? 2. Normalmente, o que acontece nesse tipo de evento? 3. O que significa quando dizemos que alguma coisa “está na moda”? 4. Podemos considerar que a moda é um tipo de arte? 7 Inventando moda 3 Fo to s: © Ge tty Im ag es /F er na nd a Ca lfa t Objetivos • Estudar os principais movimentos da arte moderna. • Refletir sobre o conceito e a definição de arte. • Conhecer o estilo único da nova-iorquina Iris Apfel. Objetivos Em 2004, o estilista paulistano Jum Nakao (1966-) criou A costura do invisível, que foi considerado o desfile da década pelo maior evento de moda do nosso país, a São Paulo Fashion Week (SPFW), e também um dos desfiles de moda mais significativos do século pelo Museu de Moda da França. © La tin st oc k/ M ar co A nd ra s/ O ra ng eS to ck R F • Veja o cabelo do boneco original Playmobil – linha de brinquedos que ficou famosa a partir de 1975 Esse desfile foi tão inovador porque os vestidos foram milimetrica- mente elaborados com papel vegetal. Depois, os vestidos foram molda- dos direto no corpo das modelos, que só ficaram sabendo na hora o que usariam. Para isso, meia tonelada do material e mais de 700 horas de trabalho foram necessárias. Jum Nakao inspirou essas criações em roupas do século XIX, que eram peças únicas, artesanais, feitas à mão e pensadas exclusivamente para cada cliente. Na cabeça, as modelos usavam uma espécie de pe- ruca de Playmobil. Texto complementar.2 • Nas imagens do desfile A costura do invisível, perceba como Jum Nakao combina o corte refinado das roupas do século XIX ao “cabelo” dos brinquedos Playmobil Ao final do desfile, as modelos rasgaram todos os trajes – o que surpreendeu a plateia e fez história. Texto complementar.3 Estilista artista? Até o século XIX, era comum que, para comprar roupas, as pessoas de maior poder aquisitivo fossem até um costureiro e encomendassem um traje de acordo com o que precisavam. Assim, eram normalmente os clientes que faziam as exigências de como as roupas deveriam ser, estabelecendo a forma, o volume, as cores, os tecidos e os acessórios usados (como botões), etc. Troca de ideiasTroca de ideias Nos dias de hoje, será que podemos considerar que a moda está mais próxima da produção artesanal do século XIX ou das linhas de montagem de bonecos Playmobil? Por quê? Como você interpreta a escolha de Jum Nakao de apresentar as modelos como bonecos produzidos em série? Existe relação entre a destruição dos vestidos no desfile A costura do invisível e a maneira como consumi- mos moda atualmente? De que forma o uso de um material frágil como o papel está relacionado a isso? Normalmente, quanto tempo duram suas roupas e seus calçados? Você os utiliza até se desgastarem com- pletamente ou você enjoa desses itens com facilidade e os descarta logo? Converse sobre essas questões com os colegas e o professor. • Momento do desfile A costura do invisível em que as modelos rasgam as roupas © Fo lh ap re ss /A yr to n Vi gn ol a © G lo w Im ag es /A P Ph ot o/ A le xa nd re M en eg hi ni 8o. ano – Volume 44 Foi então que o inglês Charles Frederick Worth (1825-1895) inovou esse cenário, definindo previamente como seriam as peças e apresentando-as prontas, em desfiles, para os seus clientes. Ele foi um dos primeiros criadores de moda de que temos notícias e foram dele os primeiros desfiles de moda do mundo. Ou seja, Worth assumiu o risco de produzir roupas sem receber encomendas e sem a garantia de que seu trabalho seria aceito pelas pessoas, e por isso podemos dizer que ele se tornou um formador de opinião. Depois de Worth, muitos costureiros passaram a se ver como estilistas e, assim como fazem os artistas, passaram a assinar suas próprias coleções. Com o tempo, em seus desfiles de moda, os estilistas deixaram de apenas apresentar peças do vestuá- rio. Esses eventos foram se tornando cada vez mais espetaculares, com músicas, iluminações e até mesmo enredos. Atualmente, quando assistimos a um desfile ou quando folheamos revistas de moda, é comum perceber- mos a extravagância das roupas, dos cabelos e das maquiagens dos modelos, que são bem diferentes dos que vemos em nosso dia a dia, não é mesmo? Normalmente, o que aparece nas passarelas acaba tendo pouco em comum com os produtos que de fato vão para as lojas. Com base no que vimos até aqui, podemos perceber que, tanto por meio da produção do traje em si quanto por meio da apresentação de uma coleção, a moda guarda aproximações com a arte. Mas será que a moda pode ser considerada arte e que o estilista pode ser considerado um artista? Não existe uma resposta definitiva para essa pergunta. Ao refletirmos sobre essa questão, o mais impor- tante é sempre nos perguntarmos: De que moda estamos falando? Devemos analisar caso a caso e questionar em que situações a moda está próxima o suficiente da arte a ponto de ser pensada como arte e, de outro lado, em que situações esses dois campos estão mais distantes. Troca de ideiasTroca de ideias No mundo, em quase todas as questões que estudarmos, vamos encontrar pessoas que concordam com determinadas ideias e pessoas que se contrapõem a elas. Nessa questão do tratamento da moda como arte, não seria diferente: alguns teóricos dizem que, por conta de o estilista trabalhar com formas, volumes, cores, e por muitas vezes as peças serem criadas exclusivamente para alguns clientes, a produção da moda está relacionada ao fazer artístico. Outros estudiosos discordam, dizendo que usar roupas para se proteger é uma necessidade básica do ser humano e que, portanto, não é uma atividade artística. Há, ainda, quem argumente que os desfiles de moda de Worth poderiam ser considerados arte porque foram autônomos: ninguém nunca tinha feito aquilo antes dele (ele sequer sabia se haveria público para ver e comprar a sua produção). Por isso, há quem diga que a moda de hoje em dia não pode ser considerada autônoma, porque os estilistas criam suas peças para atender às demandas do mercado, ou seja, para vender, exclusivamente – e às vezes em grande escala. Agora, converse com os colegas e o professor sobre estas questões: • Tendo por base o que você estudou até agora, com qual dessas opiniões você concorda? Por quê? • Para você, quais são os pré-requisitos para que algo seja considerado arte? • Você considera que produtos produzidos em grande escala podem ser considerados arte? Leitura complementar.4 Texto complementar.5 Leitura complementar.6 Leitura complementar.7 Encaminhamento da atividade.8 Arte 5 Agora, vamos voltar a falar do desfile A costura do invisível, de Jum Nakao. Inicialmente, poderíamos pensar que esse trabalho está no campo da moda, principalmente porque foi apresentado na São Paulo Fashion Week. Por outro lado, devemos analisar que esse desfile não foi criado com a intenção de vender peças, já que toda a coleção foi destruída ao final da apresentação. Além disso, o estilista apresentou elementos inéditos, que ser- vem de base para uma série de questões de reflexão sobre a moda. Pensando sobre esses aspectos, converse com os colegas e o professor sobre estas questões: • Você considera que A costura do invisível está mais próximo do campo da moda ou da arte? Por quê? • Como seria se, em vez de ser apresentado na SPFW, o desfile estivesse em um teatro ou em um museu? Agora, é a sua vez de planejar a moda. Você vai criar uma camiseta e, para isso, deve se inspirar em um tema atual, como paz x violência, consumo desenfreado, corrupção, direitos dos animais, ecologia, ali- mentação industrializada,câncer de mama, entre outros. • Pense em uma criação visual que possa ilustrar sua ideia principal e faça um primeiro esboço do que você vai apresentar como proposta. • Com o esboço pronto, apresente sua ideia aos colegas e peça sugestões. Explique a eles, brevemente, a forma como você pretende colocar o seu projeto em prática. • Você também pode utilizar textos verbais: uma palavra ou frase (cuidando do espaço, para que fique legível na camiseta). • Você pode utilizar tinta spray (com moldes vazados ou não), tinta para tecido ou estampa aplicada por meio de software. Troca de ideiasTroca de ideias Leitura complementar.10 Atividades Encaminhamento da atividade.9 Aulas de 2 a 4 © Pu lsa r I m ag en s/ Lu ci an a W hi ta ke r © Pu lsa r I m ag en s/ Ro gé rio R ei s • Camiseta da campanha “Xô, zika”, criada para prevenir contra a proli- feração do mosquito que transmite o zika vírus • Indígena Huni Kui usando um talo de grama para pintar camiseta com látex, Sena Madureira, Acre 8o. ano – Volume 46 Cineminha IRIS Direção: Albert Maysles Gênero: Documentário Ano de lançamento: 2015 Duração: 1 h 23 min País: Estados Unidos Sinopse: Esse documentário apresenta a trajetória de Iris Apfel e sua singular relação com a moda e a arte. Uma de suas falas marcantes no documentário é: “Eu gosto de combinar coisas assim. [...] Tem que parecer certo para mim. Sempre que eu faço, eu faço de uma maneira diferente. Eu gosto de indivi- dualidade. Tanto é perdido nos dias de hoje. Há tanta mesmice. Tudo é homo- geneizado. Eu odeio isso.” © Ge tty Im ag es /B ra d Ba rk et • Na foto, Iris Apfel, para quem “Há necessidade de se ter artistas, pelo simples fato de que, se eles não existirem, as pessoas murcham e morrem sem a arte” © M ay sle s F ilm s Das passarelas para o museu Em suas obras, Jum Nakao usa esse diálogo possível entre moda e arte, tanto que expôs seu trabalho em museus brasileiros e estrangeiros, como o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e o Museu de Arte Contempo- rânea de Tóquio. Assim como ele, a nova-iorquina Iris Apfel (1921-), um ícone fashion, também transita pelas duas áreas. Ela tem uma grande coleção de joias, bijuterias, roupas e objetos que reuniu pelos diversos países pelos quais passou ao longo da vida. Essa coleção foi exposta em 2005, no Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque. Além disso, podemos dizer que Iris é performer de sua própria coleção, e uma das leituras que podemos fazer sobre o modo como ela se veste é a beleza da individualidade. Para Iris, o importante é sermos nós mesmos, independentemente da idade, e ter estilo não é algo que está diretamente relacionado a seguir tendências ou a ter roupas de grife. Ela mistura, por exemplo, peças muito baratas, compradas em camelô, com uma túnica antiquíssima de um povoado chinês. Tudo pelo prazer sensorial de mesclar cores, formas e texturas. Referência.11 Arte 7 Desfile de vanguardas: arte moderna No início do século XX, começaram a surgir as vanguardas artísticas, em diversos grupos que, de forma se- melhante ao que ocorre na moda, queriam produzir algo novo. Vários movimentos foram criados, cada um mais “moderno” que o outro. Era o tempo dos “ismos”: Pós-impressio- nismo, Fauvismo, Cubismo, Futurismo, Abstracionismo. Juntos, eles fazem parte do Modernismo nas artes. Assim como na exposição de Jum Nakao, as marcas desse movimento foram o estranhamento e a ruptura. Figura? Que figura? Há quem diga que o Impressionismo inaugurou a arte moderna. Você lembra o que os impressionistas retratavam? Eles deixaram de pintar temas mitológicos e religiosos, como era de costume, para representar o mundo fora do ateliê, buscando uma aproximação máxima dessa realidade, com suas luzes e sombras. Para isso, inovaram na técnica e pintaram paisagens que só formavam figuras quando eram olhadas de alguma distância. Se suas pinceladas soltas e aparentemente des- leixadas surpreenderam muita gente na época, ima- gine o que esse mesmo público diria da tela ao lado, do ucraniano Kazimir Malevich (1878-1935), produ- zida alguns anos depois. Não, não houve falha de impressão. Você está mesmo vendo dois quadrados brancos sobrepos- tos. A obra Branco sobre branco e diversas outras do mesmo período transformaram radicalmente o entendimento de arte que se tinha até o início do século XX. O artista buscou expressar a ausência do objeto e, para isso, escolheu a cor branca e a forma quadrada, que é fruto da razão humana, uma vez que não existe na natureza. Foi um movimento radi- cal de ruptura em relação às representações anterio- res das obras de arte visuais. Leia a seguir o que diz Will Gompertz sobre isso. Leitura complementar.12 Leitura complementar.13 © M us eu d e Ar te M od er na , N ov a Io rq ue MALEVICH, Kazimir. Branco sobre branco. 1918. 1 óleo sobre tela, 79,4 cm × 79,4 cm. Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, Estados Unidos. [...] Qual é?! Todos nós podemos fazer isso. Por que seus esforços são reverenciados e valem milhões de dólares, quando os nossos seriam considerados fáceis e inúteis? Será que se trata [...] simplesmente de um caso de ter tido a ideia primeiro? Sim, em certa medida, creio que é disso que se trata. Originalidade em arte é importante. Não há nenhum valor intelectual no plágio. Mas na autenticidade, sim. A arte moderna é uma questão de novidade e originalidade, não de status quo, ou pior, de pálida imitação. Depois, há o valor financeiro que atribuímos à raridade em nossa sociedade capitalista, regida pelas leis da oferta e da procura. Junte essas três coisas – originalidade, autenticidade, raridade – e você saberá por que o [quadro] de Malevich custa um milhão de dólares e uma versão feita por você ou por mim, não. Aquele é um objeto único, historicamente importante, que exerceu um impacto de longo alcance sobre todas as artes visuais. GOMPERTZ, Will. Isso é arte? 150 anos de arte moderna do Impressionismo até hoje. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. p. 189. 8o. ano – Volume 48 Pós-impressionismo/Expressionismo – 1880-1906 Organize as ideias Encaminhamento da atividade.14 Texto complementar.15 © Co re l S to ck P ho to s VAN GOGH, Vincent. A noite estrelada. 1889. 1 óleo sobre tela, color., 73,7 cm × 92,1 cm. Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, Estados Unidos. O holandês Vincent van Gogh (1853-1890) não estava interessado em representar fielmente a realidade, como uma fotografia. Ele pintava o que sentia e o que queria que os outros sentissem quando vissem sua pin- tura. Por isso, frequentemente distorcia as figuras. Com o pincel, aplicava camadas grossas de tinta sobre a tela, para dar a ela um caráter quase tridimensional. Acompanhe as imagens a seguir. Elas estão em ordem cronológica e representam diferentes movimentos da arte moderna. Note que, com o passar do tempo, a arte foi deixando de ser figurativa para se tornar, aos poucos, abstrata. Leia atentamente as descrições de cada imagem e sublinhe com um lápis as partes do texto que você considerar importantes para explicar como cada movimento, estilo ou escola apresenta uma forma própria de fazer arte. No primeiro caso (Pós-Expressionismo/Expressionismo), a comparação deve ser feita em relação à arte acadêmica. Siga as orienta- ções do professor. Professor, nos textos a seguir, foram sublinhadas em azul as partes que se referem às novidades que cada estilo apresenta em relação ao anterior. Dizemos que as obras estão em ordem cronológica porque elas estão dispostas da mais antiga para a mais recente. Chamamos de arte figurativa aquela em que é possível identi- ficar uma forma reconhecível na natureza. Arte 9 Texto complementar.16 Texto complementar.17 © Fo to ar en a/ Al am y MATISSE, Henri. Mulher com chapéu. 1905. 1 óleo sobre tela, color., 80,65 cm × 59,69 cm. Museu de Arte Moderna, São Francisco, Califórnia, Estados Unidos. © M us eu d e Ar te M od er na , N ov a Io rq ue Fauvismo– 1905-1910 Henri Matisse (1869-1954) era um dos admiradores de Van Gogh. Por isso, na sua pintura, ele também procurava privilegiar uma expressão emocional e tinha a influência da arte produzida por tribos da África, da América do Sul, da Austrália e do Pacífico Sul – consideradas livres, instintivas e não idealizadas. A princi- pal característica desse artista francês é o uso de cores fortes e contrastantes, aplicadas sem mistura e diretamente do tubo. O quadro Mulher com chapéu, em que Matisse retratou sua espo- sa, foi um escândalo para a época. As pessoas se perguntavam: Como esse artista ousa expor sua esposa de forma tão impre- cisa, como um esboço? E ainda usando cores bem distantes da realidade, como o verde para representar seu nariz. Cubismo – 1907-1914 O espanhol Pablo Picasso (1881-1973) morou em Paris por muito tempo e foi lá que Matisse lhe apre- sentou uma máscara africana que o deixou profundamente tocado. A pintura Les demoiselles d’Avignon é fruto desse encantamento. Nela, Picasso afasta-se da representação realista da pintura figurativa. Perceba também que as partes dos corpos aparecem como cacos de um espelho estilhaçado. Triângulos e losan- gos compõem a imagem, que é totalmente bidimensional. PICASSO, Pablo. Les demoiselles d’Avignon. 1907. 1 óleo sobre tela, color., 243,9 cm × 233,7 cm. Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, Estados Unidos. © M us eu d e Be la s A rte s, Ba sil ei a BRAQUE, Georges. 1909-1910. Violino e paleta. 1 óleo sobre tela, 117 cm × 73,5 cm. Museu de Arte, Basileia. 8o. ano – Volume 410 © M us eu V on d er H ey dt , W up pe rta l BOCCIONI, Umberto. Visões simultâneas. 1911. 1 óleo sobre tela, color., 60,5 cm × 60,5 cm. Museu Von Der Heydt, Wuppertal, Alemanha. Texto complementar.18 manifesto: declaração pública, normalmente feita por escrito, em que os artistas expressam uma espécie de programa do seu trabalho. DicionArte Pouco tempo depois, o francês Georges Braque (1882-1963), parceiro de Picasso, pintou a obra Violino e paleta. No quadro, é possível observar o violino de diversos pontos de vista, ao mesmo tempo. Essa nova maneira de pintar ficou conhecida como Cubismo. É como se abrissem uma caixa de papel (um objeto tridi- mensional) para registrar cada uma de suas faces no espaço bidimensional da tela. Futurismo – 1909-1919 O Futurismo foi idealizado pelo italiano Filippo Marinetti (1876-1944), que era escritor e criou o movimento por meio de um manifesto. Para ele, essa era uma forma de inserir a Itália na elite da arte moderna. Marinetti era contra tudo que fosse “velho”, contra toda a tradição artística da qual a Itália foi berço (lembre-se dos importantes artistas do Renascimento). Ele era a favor das novidades, que na época eram representadas pelas máqui- nas, pelo ruído e pela fumaça que elas geravam. Marinetti foi a favor até mesmo da guerra e apoiou o fascista italiano Benito Mussolini. Os futuristas foram muito influenciados pelos cubistas. Também apresentavam as imagens “estilhaçadas”, mas acrescentaram movimento a elas. Como se a velocidade dos carros e a dinâmica acelerada da vida mo- derna aparecessem nas telas. As ideias de Marinetti foram apreciadas por muitos artistas, entre eles Umberto Boccioni. Observando a obra Visões simultâneas, podemos compreender uma das premissas do Futurismo: “múltiplas ações aparecem em diferentes momentos e lugares, e são todas mescladas”. Referência.19 Arte 11 Abstracionismo – 1910-1914 KANDINSKY, Wassily. Composição VII. 1913. 1 óleo sobre tela, color., 2 m × 3 m. Galeria Tretyakov, Moscou, Rússia. © Ga le ria Tr et ya ko v, M os co u Na arte dos cubistas e dos futuristas, as figuras representadas aparecem bem diferentes do que são na realida- de, mas ainda é possível identificá-las. Podemos ver o violino de Braque, os prédios e as feições dos personagens de Boccioni. Experimente agora identificar algo do mundo real nesta obra de Wassily Kandinsky (1866-1944). Im- possível, né? O artista não nos dá nenhuma pista do que está retratando. O que vemos são puramente formas e cores. Ele foi um ícone da arte abstrata – que, ao contrário da arte figurativa, não representa nada de concreto – e suas obras são algo semelhante à música erudita, que apenas escutamos e sentimos, sem buscar uma narrativa. Feras, cubinhos e uma jogada de marketing Você se lembra da origem do termo “Impressionismo”, que dá nome a um movimento importante da história da arte? Essa palavra foi usada pela pri- meira vez por um crítico de arte para debochar do trabalho de alguns artistas do período. Na arte, esse mesmo tipo de situação aconteceu mais vezes. Por exemplo, o termo “fauvismo” surgiu porque o crítico Louis Vauxcelles disse que as pinturas de Matisse e outros artistas do movimento eram o trabalho de “feras”, fauves em francês, no mau sentido. Já a palavra “Cubismo” foi criada pelo próprio Matisse. Como uma brin- cadeira, ele disse que as pinturas de Braque pareciam feitas de cubinhos. Os cubistas estavam interessados em explorar a bidimensionalidade da tela, mostrando um mesmo objeto de diversos ângulos. Por sua vez, o termo “pós-impressionista” foi usado primeiramente pelo curador britânico Roger Fry. Em 1910, ele iria organizar uma exposição com obras de Van Gogh, de Paul Gauguin, de Georges Seurat e de Paul Cézanne, mas o trabalho desses artistas não tinha muito em comum e o curador esta- va com dificuldade de criar um título para agrupá-los. Além disso, os artistas não eram conhecidos e dificilmente atrairiam público. Aulas de 5 a 7 © Sh ut te rs to ck /P op ar tic Perceba que, quando observamos um cubo reproduzido em um suporte bidimensional (como a folha deste livro), o enxergamos apenas de um ponto de vista. Das seis faces que o objeto tem, vemos apenas três. Isso não acontecia nas pinturas cubistas: elas representavam as várias faces de um mesmo objeto, mas “desdobradas” na tela. Texto complementar.20 8o. ano – Volume 412 © W ik im ed ia C om m on s/ M us eu d e Vi en a © Ge tty Im ag es /Im ag no KLIMT, Gustav. Retrato de Emilie Flöge. 1902. 1 óleo sobre tela, color., 80 cm × 178 cm. Museu histórico de Viena, Áustria. Gustav Klimt e Emilie Flöge posam com suas túnicas, Viena, 1905 Acontece que, no mesmo evento, seriam expostas pinturas de Édouard Manet, e esse artista, bem como a arte impressionista, já era bastante conhecido e valorizado. Por isso, Fry chegou à conclusão de que as palavras “Manet” e “impressionistas” deveriam fazer parte do título. Acrescentou então o prefixo “pós” e, em uma jogada de marketing para tornar a exposição mais interessante, acabou “criando” um movimento, ao apresentar a expo- sição chamada Manet e os pós-impressionistas. Como você pôde observar, boa parte dos movimentos modernos que conhecemos não surgiram de uma in- tenção clara. Ninguém acordou de manhã e pensou “hoje vamos fundar o Cubismo”. A busca por novas formas e pelo rompimento com a representação da realidade foram os princípios que orientaram os artistas da época. Agrupados por afinidade, eles produziam cada um à sua maneira, mas sempre influenciando uns aos outros em alguma medida. A maioria deles não desejou ser o pivô de uma grande revolução ou inscrever seu nome na história da arte ocidental, embora esses tenham sido os resultados que esses artistas conseguiram por produzir um tipo de arte radicalmente diferente de tudo que existia até então. O artista como estilista Além de obras de arte, muitos artistas modernos também fizeram moda. Por exemplo, em suas pinturas, o pintor austríaco Gustav Klimt (1862-1918) dedicava grande atenção ao vestuá- rio. Observe o retrato que ele pintou de sua companheira Emilie Flöge (1874-1952), uma importante estilista, também austríaca. O vestido dela aparece ricamente ornamentado, como um ca- leidoscópio, e às vezes se mistura ao fundo da tela. Arte 13 Os dois artistas também criaram, juntos, modelos de túnicas soltas e brilhantes,que combinavam diversas texturas. Essas, sim, para serem vestidas em uma época em que o uso dos incômodos espartilhos era pratica- mente obrigatório para as mulheres. Outro artista que também idealizou alguns trajes foi o italiano futurista Giacomo Balla (1871-1958). Para ele, era preciso romper com o terno (que ele considerava tedioso e de- cadente) e inventar uma roupa que estivesse mais relacionada com o futuro, transmitindo o frenesi da modernidade. Provavelmente você já notou que as roupas formais masculinas são infinitamente mais discretas que as femininas, e normalmente em tons mais sóbrios. Balla refletiu sobre o assunto e criou peças masculinas abso- lutamente vívidas, com cores fortes que ele chamou de linhas-velocidade, formas-barulho, ritmos cromáticos e interpenetração de planos. Ele criou ainda a ideia de modificadores, que eram pequenas peças para serem fixas com colchetes na roupa, de acordo com a variação do humor de quem os estivesse usando. Nas peças a seguir, observe a proposta do artista no que se refere à assimetria e à justaposição de partes. © BA LL A, G ia co m o/ AU TV IS /G lo w Im ag es /D e Ag os tin i © BA LL A, G ia co m o/ AU TV IS /L at in st oc k/ AK G Im ag es Exaltação, atividade intensa, agitação. BALLA, Giacomo. Terno para ser vestido em casa. 1925. Assemblage de tecido. BALLA, Giacomo. Estudo para bolsa. 1916. © BA LL A, G ia co m o/ AU TV IS /L at in st oc k/ AK G Im ag es BALLA, Giacomo. Esboços de jaquetas. 1930. Têmpera sobre papel. Coleção particular. 8o. ano – Volume 414 © Ge tty Im ag es /A rt yo m G eo da ky an \T AS S © Ge tty Im ag es /F RA NC O IS G UI LL OT /A FP DALÍ, Salvador. Paletó de smoking afrodisíaco. 1936. • Joia surrealista criada por Salvador Dalí Troca de ideias Atividades Encaminhamento da atividade.21 Aula 8 O surrealista espanhol Salvador Dalí também se envolveu com a moda. Ele criou joias bastante inusitadas e também peças de vestuário que subvertiam a razão, imprimindo à roupa outros significados, como no paletó supostamente criado para atrair o sexo oposto. Nele, há diversos pequenos copos com um líquido verde aco- plados a um terno masculino. Você usaria algum dos trajes que acabou de conhecer? Como você faria para transformar alguma roupa que tem em casa ou para fazer o projeto de uma roupa nova? E sobre os modificadores criados por Giacomo Balla, você tem algum objeto que poderia exercer essa função? Compartilhe suas ideias com os colegas e o professor. Agora, com base nos trabalhos com os tecidos e artefatos criados pelos artistas estilistas, você vai transfor- mar um objeto que possa ser usado como parte ou complemento do vestuário. Pode ser um chapéu, uma sombrinha, um casaco, um sapato, etc. Assim como fez Dalí com o terno, modifique o objeto que você escolher, adicione elementos a ele, pinte, crie uma estampa para um tecido (a exemplo do Retrato de Emilie Flöge, de Klimt). Depois, junto com a sua turma, organize um desfile com todos os objetos recriados. Arte 15 Agora vou mudar minha conduta, Eu vou pra luta Pois eu quero me aprumar Vou tratar você com a força bruta, Pra poder me reabilitar Pois esta vida não está sopa E eu pergunto: com que roupa? Com que roupa eu vou Pro samba que você me convidou? Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Agora, eu não ando mais fagueiro, Pois o dinheiro Não é fácil de ganhar Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro, Não consigo ter nem pra gastar. Eu já corri de vento em popa, Mas agora com que roupa? Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Eu hoje estou pulando como sapo, Pra ver se escapo Desta praga de urubu Já estou coberto de farrapo, Eu vou acabar ficando nu. Meu terno já virou estopa E eu nem sei mais com que roupa Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Encaminhamento da atividade.22 Agora, além da sua análise da letra da canção de Noel Rosa, use também seus conhecimentos de Língua Portuguesa e de História e assinale as al- ternativas corretas. Depois, indique o somatório correto. X (01) A letra da canção deixa subentendido o fato de que o eu lírico não tem dinheiro para ir a uma festa para a qual foi convida- do de modo inesperado. X (02) A composição de Noel Rosa dialoga com o cotidiano da população que vivia no ambiente urbano, com muitas pessoas em situação de miséria. X (04) Trata-se de uma crítica que mostra um lado da sociedade que não tinha terno e podia vestir-se até mesmo com farrapos. (08) A crítica de Noel Rosa não é mais pertinen- te nos dias de hoje. X (16) A crise econômica que teve início em 1929 teve impactos em muitos países ao redor do mundo, inclusive o Brasil. Como a le- tra de Noel Rosa foi escrita um ano depois disso, em 1930, é possível estabelecer uma relação entre os tempos difíceis retratados pelo autor da música e os problemas eco- nômicos pelos quais o nosso país passava, muito embora a miséria não seja apenas reflexo disso, mas também da diferença de classes e outros aspectos sociológicos. (32) Devido ao aspecto bem-humorado e irô- nico da composição de Noel, os dilemas humanos, como os desejos reprimidos ou não satisfeitos, a miséria e os sofrimentos da população pobre são abordados de forma pejorativa e relegados a um segun- do plano, sendo também disfarçados pelo ritmo alegre do samba, o que é uma carac- terística desse gênero. Somatório: 23 (01 + 02 + 04 + 16) Neste capítulo, vimos alguns dos artistas que se preocuparam com a moda e o modelo mais ade- quado, seja para ir a determinados eventos, seja para atrair a atenção de um público específico, en- tre outros objetivos. O compositor carioca Noel Rosa, por sua vez, nos tempos difíceis em que viveu, se perguntava até mesmo com que roupa alguém podia ir a um samba. Sua letra cheia de ironia faz referência à malandragem e é acompa- nhada pelo ritmo alegre do samba. Isso fez com que a canção ficasse bastante popular logo após a época em que foi composta, em 1930. ROSA, Noel. Com que roupa?. 1930. Intérprete: Noel Rosa. In: ROSA, Noel. Noel por Noel. São Paulo: EMI, 2003. 1 CD. Faixa 3. fagueiro: carinhoso, agradável. estopa: sobras de fio não aproveitado na tecelagem. DicionArte 08) Incorreta. A letra de Noel Rosa é atual e po- deria se aplicar à sociedade em que vivemos. 32 ) I nc or re ta . A c om po siç ão e vi de nc ia o s pr ob le m as s oc ia is, o q ue é fe ito d e m od o di ve rt id o, m as n em p or is so d ep re ci at iv o. P el o co nt rá rio , e fo i i ss o o qu e to rn ou e ss a ob ra b as ta nt e po pu la r a in da h oj e, g er an do id en tif ic aç ão c om o p úb lic o de d iv er so s p er ío do s. A lé m d iss o, d e fo rm a ge ra l, o sa m ba te m ta m bé m , hi st or ic am en te , u m c ar át er q ue st io na do r e cr íti co , c om m ui ta s l et ra s t ra ze nd o as pe ct os p ro bl em át ic os d a so ci ed ad e, co m o é o ca so d e m ui ta s d as co m po siç õe s de A do ni ra n Ba rb os a. Hora de estudo 16 17 1. Para você, quem está em destaque nessa imagem? Por quê? 2. Que roupas você costuma usar na rua, em uma festa, na escola, na praia? Por que você faz essas escolhas? 3. Você é livre para vestir o que quiser, onde quiser? 4. Com que roupa, em especial, você se sente melhor? Por quê? 5. Você sabe quem criou suas roupas e de onde elas vêm? 8 Com que roupa? © Fo lh ap re ss /A ce rv o UH Encaminhamento da atividade.1Aula 1 • Flávio de Carvalho em seu traje de Experiência nº. 3 © Fo lh ap re ss /AA ce rv o UH Objetivos • Perceber o potencial artístico do vestuário. • Refletir sobre o efeito das roupas no corpo e no comportamento de quemas veste. • Criar arte com elementos do vestuário. • Conhecer obras que transitam pelas linguagens de teatro, dança, música e artes visuais. Saia, camisa folgada, sandálias e meia arrastão. Na década de 1950, o artista Flávio de Carvalho (1899-1973) imaginou que esse poderia ser o novo traje do homem brasileiro. Ele considerava que essa proposta era ideal para o clima quente do país, por ser mais leve e ventilada do que o tradicional conjunto de paletó, camisa, gra- vata, calça e sapato. A foto que você viu na abertura deste capítulo mostra Carvalho usando seu modelo, para espanto de mui- tos, em uma caminhada pelo centro de São Paulo, em 1956. Nomeada Experiência n .º 3, essa ação artística virou notícia e entrou para a história da arte nacional. Ela também serviu de base para uma série de reflexões sobre o vestuário publicadas pelo artista em artigos de jornal. Carvalho não queria simplesmente lançar uma nova moda e lucrar com suas roupas. Ele desejava que as pessoas refletissem sobre seus trajes, em vez de apenas vestir modelos copiados de tradições de outros países. Observe o croqui feito por ele e perceba que, ao redor do desenho, há algumas ideias que foram anotadas pelo artista. croqui: esboço de uma ideia artística, como a de uma roupa, um cenário, uma obra arquitetônica. DicionArteTexto complementar.2 • Croqui do traje de Flávio de Carvalho, usado em sua Experiência nº .3 © Fl áv io d e Ca rv al ho 8o. ano – Volume 418 Flávio de Carvalho pesquisou a história do vestuário e concluiu que as roupas eram importantes para os po- vos não só por proteger ou embelezar o corpo, mas especialmente por afetar o equilíbrio mental das pessoas. Você notou que no croqui ele escreveu “cores vivas substituem desejos de agressão” e “tendem a evitar guerras”? Essas são algumas ideias que vieram dos estudos que ele fez. Em um artigo de jornal, ele também afirmou: É o traje o que mais forte influência tem sobre o homem porque é aquilo que está mais perto do seu corpo, e o seu corpo continua sempre sendo a parte do mundo que mais interessa ao homem. CARVALHO, Flávio apud COSTA, Cacilda Teixeira da. Roupa de artista: o vestuário na obra de arte. São Paulo: Imprensa Oficial/Edusp, 2009. p. 51. Troca de ideias Você concorda que uma roupa pode afetar tanto assim nosso estado de espírito? Imagine se, de uma hora para outra, você fosse obrigado a usar um sapato muito apertado ou uma roupa que você definitivamente odeia. Como você se sentiria? Conseguiria ficar em paz consigo mesmo e com os outros? Converse com os colegas e o professor sobre essas questões. Encaminhamento da atividade.3 Atividades Como você considera que deveria ser a roupa utilizada pelas pessoas na região em que você mora? Pense em situações de trabalho ou lazer e crie, como Flávio de Carvalho, um croqui com uma proposta de roupa para ser usada em uma determinada situação. Do mesmo modo que o artista, faça também suas anotações explicativas. Aulas de 2 a 3 Zíper na barriga No dia a dia e até em muitos espetáculos artísticos, é comum que o vestuário seja usado de modo que não levante questionamentos. Ou seja, uma roupa costuma ser apenas uma rou- pa. Ela destaca o visual de um músico, de um dançarino, ou caracteriza um personagem em uma peça de teatro, por exemplo. Entretanto, especialmente a partir do sécu- lo XX, vários artistas têm usado elementos do vestuário para criar obras que geram experiên- cias, sensações e interpretações variadas no público. Observe a imagem ao lado. Ita ú Cu ltu ra l/A ss oc ia çã o Cu ltu ra l o M un do d e Ly gi a Cl ar k Este traje foi desenvolvido pela artista mineira Lygia Clark para que, ao interagir com ele, os homens possam experimentar ações que se remetam ao preenchimento e ao esvaziamento da barriga feminina na gravidez. • Na imagem, você vê a proposta artística Cesariana, da artista Lygia Clark Arte 19 Em 1967, a artista Lygia Clark (1920-1988) criou uma espécie de macacão de tecido plástico, para que fosse experimentado especialmente por homens. Na parte do abdômen, o traje tinha um zíper. Ao abri-lo, a pessoa encontraria um bolsão interno, cheio de espuma e confetes. Colocando para fora esses materiais, as pessoas faziam uma ação que se remete à operação cesariana, que é feita em mulheres para o nascimento dos bebês. Por isso, essa proposta artística foi chamada de Cesariana. Público participante Para Lygia Clark, que criou uma série de trabalhos inte- rativos, o público não podia mais ser tratado como mero observador. Sua obra dependia da experiência direta das pessoas com seus materiais. Assim, o macacão de Cesariana, para fazer sentido, precisa ser vestido e manipulado. Amigo dela, o artista carioca Hélio Oiticica (1937-1980) também criou obras que dependem da participação do público. Uma das mais conhecidas, desenvolvida na déca- da de 1960, é uma espécie de capa para o corpo, chamada Parangolé. 4 Leitura complementar. 5 Leitura complementar. © Cé sa r e C la ud io O iti cic a Mistura de manto e farrapo, o Parangolé se transforma de acordo com cada corpo e cada dança criada por quem o veste. Alguns trajes traziam mensagens. Na capa à direita está escrito “eu incorporo a revolta”. © Ge tty Im ag es /A nd re as A rn ol d/ pi ct ur e a llia nc e 20 8o. ano – Volume 4 Segundo Hélio, os Parangolés só ganhavam vida em contato com corpos que dançam. A dan- ça era uma arte fundamental para ele, que foi até passista na escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Inspiração que vem do morro Você sabe o significado da palavra “parangolé”? Ela é uma gíria que pode ter vários sentidos. Por exemplo, se você perguntasse a alguém “Qual é o parangolé?” seria equivalente a dizer “Como vão as coisas?”. Hélio Oiticica se interessou por esse termo quando o viu escrito em uma construção improvisada de um morador de rua. Mais tarde, influenciado por suas experiências de vida na comunidade do Morro da Mangueira, no Rio de Janeiro, onde muitas pessoas também construíam casas com materiais reciclados, Oiticica decidiu criar capas que seriam como abrigos lúdicos para o corpo. © M au ríc io H or a Construções com materiais improvisados, presentes nos morros cariocas, serviram de inspiração para Oiticica pensar nos Parangolés como abrigos criativos, produzidos com restos de tecidos e plásticos. Fo to s: © Isa be l D ie gu es /F áb io G hi ve ld er /S on y • Adriana Calcanhoto vestindo um parangolé Inspirada em Oiticica, a cantora e compositora gaúcha Adriana Calcanhoto (1965-) também criou um parangolé. Em 1998, em homenagem a essa obra, ela lançou uma música chamada Parangolé Pamplona. Com a ajuda de seu professor, pesquise na internet a letra dessa música e observe que refe- rências a compositora faz ao trabalho de Oiticica. Arte 21 Performance: entre teatro, dança, música e artes visuais Além do fato de trabalharem com vestimentas, agora vamos pensar no que mais existe em comum entre as propostas artísticas de Flávio de Carvalho, Lygia Clark e Hélio Oiticica. Perceba que todas essas propostas envolvem ações (caminhar, vestir um traje, abrir um zíper, dançar), mas não são teatrais. Ninguém se preocupa em virar um personagem e não há um enredo que envolva a proposta. No caso da obra Parangolés, é preciso dançar com a vestimenta, mas não há uma coreografia definida ou uma música certa para a ocasião. Cada pedaç o de pa no deve med ir [...] [274 cm] no comprimento; Para fazer a capa o pano não dev e ser cortado; Alfin etes de fralda devem ser usados na construção e depois o pano pode ser costurado para faze r a capa permanente; A estrutura construída no corpo deve se r improvisada pelo próprio participante (se precisar da ajuda de outra pessoa, ok) e feita de forma que possa ser retirada sem cortar; Algumas pesso as podem participar junta s, mas uma só cor, [...] um só pedaço de pano deve ser usado para c ada capa.Hélio Oiticica Ca Pa © Sh ut te rs to ck /K ad irk ar a/ U nt itl ed Em 1968, Oiticica enviou as seguintes instruções a uma exposição artística na cidade de Pamplona, na Espanha: OITICICA, Hélio apud CALCANHOTO, Adriana. MADE-ON-THEBODY CAPE 1968 (PARANGOLÉ PAMPLONA). In: CALCANHOTO, Adriana. Maritmo. 1 CD. Rio de Janeiro: Sony Music, 1998. Encaminhamento da atividade e texto complementar.6 Agora você vai criar o seu próprio parangolé. Será necessário ter um pedaço de tecido e alguns alfinetes. Inspire-se nas indicações da cantora Adriana Calcanhoto e nas de Hélio Oiticica para a sua confecção. Atividades Aulas de 4 a 6 8o. ano – Volume 422 © An dr ew R us se th - © A br am ov ic, M ar in a/ A UT VI S, B ra sil , 2 01 9. • Na foto, à esquerda, a artista Marina Abramović Em todos os casos, há uma preocupação com a escolha dos materiais vestidos, mas eles, por si só, não im- portam. Só ganham vida em contato com os corpos. Ou seja, os trajes não foram criados para serem objetos de contemplação, como quadros e esculturas. Além disso, as ações de Carvalho, Clark e Oiticica foram criadas para valorizar a experiência do momento: seja a do artista, seja a do público participante ou a de ambos, juntos. Ações artísticas como essas, que não eram exatamente teatro, dança, música ou artes visuais, co- meçaram a ser desenvolvidas a partir da primeira década do século XX, com o Futurismo e as vanguardas seguintes. Essas manifestações ganharam nomes diferentes, que variavam de acordo com a visão dos novos artistas e dos críticos. Um dos termos mais usados para nomear essas propostas híbridas é o de origem inglesa performance (que em português significa atuação, desempenho). Durante três meses, ao longo de oito horas por dia, Marina Abramović permaneceu sentada em uma cadeira no Museu de Arte Moderna de Nova York, praticamente imóvel, sem falar. Sua proposta consistia em olhar para os visitantes e compartilhar seu tempo com eles. Realizada em 2010, essa performance chamada de A artista está presente provocou diversas reações no público. Texto complementar.7 Arte 23 Uma das performers mais conhecidas internacionalmente é a sérvia Marina Abramović (1946-). A seguir, leia um texto escrito pela artista, no qual ela compartilha a sua visão sobre o que é performance. Marina, que já veio diversas vezes ao Brasil, também conta sobre uma de suas experiências no país. [...] A minha infância foi mesmo muito difícil e acho que os artistas sempre tiram a maior parte de sua inspiração de seu próprio material, de sua própria história, dos tipos de situações que de fato vivem. O material particular que você absorve é muito importante, mas quem vai se incomodar com o seu material particular se você não o transformar, não o desvirtuar e não o transformar em algo ver- dadeiramente universal? Então, quando o artista apresenta o seu trabalho, na verdade pode ser uma imagem espelhada, de modo que o público realmente possa se refletir em você e se encontrar em você. Algo que é muito importante na performance é a relação direta com o público, a transmissão direta de energia entre o público e quem se apresenta. Em primeiro lugar: o que é a performance? Performance é um certo tipo de construção mental e física em que um artista se apresenta na frente do público. Performance não é uma peça teatral, não é algo que se pode aprender e, então, interpretar, fazendo o papel de uma outra pessoa. É mais como uma transmissão direta de energia. No meu caso, eu nunca poderia fazer performan- ces fechadas, em casa, porque, nessas circunstâncias, não teria público. Eu nunca seria realmente capaz de ultrapassar meus limites físicos e mentais de maneira privativa. Sempre será preciso ha- ver o público, sempre é preciso haver espectadores que me entregam esse tipo de energia. Quanto mais público, melhor a performance fica, mais energia passa pelo espaço. Em performances [...] é muito importante não ensaiar, não repetir e não ter um fim previsto. Tudo tem que ser aberto. Você só tem um tipo de partitura, como um concerto, como uma recei- ta. O público chega, você faz a peça e é possível que a peça siga por vários caminhos diferentes. Acidentes talvez aconteçam, o público pode interromper, as coisas podem mudar, você pode alcançar limites que não conhece. Todos esses tipos de acontecimentos imprevisíveis se tornam parte da peça e você precisa aceitá-los como tal. [...] Fiquei pensando que não é suficiente o bastante eu fazer a performance e o público ser uma espécie de voyeur, passivo, em algum lugar no escuro, olhando para mim. O público precisa dar esse passo histórico e realmente se unir ao objeto e tirar uma experiência muito mais de vida para si. [...] As pessoas só mudam por meio de sua própria experiência. É só a experiên- cia pessoal que realmente importa. Fui ao Brasil e fiquei com os mineiros brasileiros durante muito tempo. Extraí minerais, jade, hematita, sodalita, cristais, pedras, ímãs e assim por diante. Fiz um tipo de escultura com a proposta de que o público fizesse a performance. Shoes for Departure [Sapatos para Partir] são feitos de ametista pura e pesam setenta quilos, por isso, não dá para caminhar com eles. As pessoas no público tinham que tirar os sapatos delas, calçar os sapatos de ametista, fechar os olhos, não se mover e partir. A proposta é a partida mental – não física. © Ab ra m ov ić, M ar in a/ AU TV IS , B ra sil , 2 01 9 ABRAMOVIĆ, Marina. Body art. Disponível em: <http://performatus.net/traducoes/body-art/>. Acesso em: 10 maio 2019. • Marina veste seus sapatos que não servem para andar. Feitos de pedra ametista, eles pesam 70 quilos Nesta proposta artística, as pessoas são convidadas a experimentar os pesados sapatos e a imaginar uma caminhada com eles. 8o. ano – Volume 424 Agora, com a orientação do professor, você vai ouvir a música Com que roupa?, de Noel Rosa (1910-1937), que foi a inspiração para o título deste capítulo e que você já conheceu na seção Hora de estudo do capítu- lo anterior. Criador de diversas letras bem-humoradas, esse artista foi um dos maiores sambistas da música brasileira. Organize as ideias Encaminhamento da atividade.8 Encaminhamento da atividade.9 1. Anote, no Diário de bordo, as principais ideias do texto de Marina AbramoviĆ. Depois, responda às questões a seguir. a) Para Marina, qual é a principal fonte de inspiração para um artista? b) E o que é performance para ela? Seria como um teatro? c) Para Marina, o público pode participar da performance ou deve apenas observar o artista atentamente? d) Como foi a experiência de Marina no Brasil e o que ela criou depois disso? e) De que forma os trabalhos de Flávio de Carvalho, Lygia Clark e Hélio Oiticica se relacionam com as ideias sobre performance de Marina AbramoviĆ? 2. No material de apoio, você encontrará dois manequins e diversas peças de vestuário inspiradas nas obras de Flávio de Carvalho, Hélio Oiticica, Lygia Clark e Marina AbramoviĆ, estudadas neste capítulo. Recorte-os e organize as peças de roupa, compondo o traje de cada proposta artística isoladamente. Depois, vista os manequins. Atividades © Fo to ar en a/ Al am y Noel Rosa, também conhecido como Poeta da Vila, morreu aos 27 anos, mas em sua pequena trajetória de vida deixou um grande legado, com muitas obras-primas. Arte 25 Preparação Para que essas performances aconteçam, é importante que cada colega traga ao menos três peças de roupa velhas, com funções diferentes, que possam ser usadas por todos nessas experiências. Tecidos e outros objetos que possam ser vestidos também são válidos. Por exemplo: uma cesta que possa virar um chapéu, um lençol, etc. O importante é reunir materiais variados que possam ser usados livremente pela turma, sem medo de possíveis estragos. Planejamento No Diário de bordo, anote suas ideias para a performance. • Materiais: Com quais materiais você vai trabalhar? Como será suavestimenta ou a vestimenta do público? Por que você escolheu esses materiais? Quais são as características deles? Lembre-se de fazer um croqui, mostrando seu visual, os objetos escolhidos e o espaço da performance. • Local: Onde sua performance vai acontecer? Você precisa preparar esse espaço de alguma forma? Como você pode organizar a disposição do público durante a performance? • Ações: Quais serão suas ações nessa performance? Se for fazer uma dança com um tipo de parangolé, você vai escolher uma música? Qual? • Público: Que tipo de relação você espera estabelecer com o público? Pretende interagir com as pessoas? Como? • Identidade: Qual é o nome de sua performance? O que você pretende com ela? De que forma a performan- ce se relaciona com algo da sua vida? Registro e reflexão Após apresentar sua performance e de assistir às dos colegas, faça novas anotações no Diário de bordo, orientado por estas questões: N g i Depois de ouvir Com que roupa?, samba criado pelo carioca Noel Rosa, reflita por um instante: Com que roupa você criaria uma performance de até cinco minutos de duração, inspirada nos artistas deste capítulo? Experimente uma das sugestões a seguir. 1. Com uma capa inspirada no Parangolé de Hélio Oiticica, apresente uma performance sozinho ou em dupla. Seu parangolé pode conter uma mensagem explícita, seja com algum símbolo, seja com uma frase escrita. 2. Inspirado em Flávio de Carvalho, crie um traje diferente. Depois, faça um experimento com ele, cami- nhando pela escola. 3. Inspirado em Marina Abramović e em Lygia Clark, aproveite roupas e objetos para propor um tipo de situação a ser experimentada, que coloque as pessoas em contato com você ou com elas próprias. • O que de fato aconteceu na sua performance? • Como você se sentiu usando a vestimenta da performance? • Como esse traje afetou seus movimentos? • Surgiram imprevistos, coisas que você não tinha imaginado? Como você lidou com isso? • O que mais lhe chamou atenção na reação das pessoas que o viram? • Se você fosse refazer essa performance, o que faria de diferente? • Das performances que você viu, quais mais lhe chamaram a atenção? Descreva-as. • O que você sentiu presenciando esses trabalhos? 8o. ano – Volume 426 Saiba + Você se lembra de Experiência n .º 3, de Flávio de Carvalho? Meio século depois dele, pesquisadores dos Estados Unidos também chega- ram a conclusões interessantes so- bre o efeito dos trajes nas pessoas. Leia o texto a seguir. Orientação metodológica.10Aulas de 7 a 8 © Fo to ar en a/ M ic ha el Te m ch in e/ Th e N ew Y or k Ti m es Sim, o hábito faz o monge, mostra pesquisa Estudo americano comprova que significado social das peças que vestimos interfere nos pro- cessos cerebrais O antigo ditado [...] sobre não julgar as pessoas pela aparência acaba de ser contraria- do por um estudo americano, pelo menos no que diz respeito às roupas. Cientistas desco- briram que a forma como interpretamos o valor simbólico da vestimenta pode afetar nossos processos cognitivos. E o estudo realizado por pesquisadores da Northwestern University, em Illinois, mostra que não basta olhar uma peça para que esta influência ocorra, é preciso vesti-la. Os pesquisadores, liderados por Adam Galinsky, realizaram [...] experiências usando jalecos brancos [...] de médicos e pintores. [...] As pessoas que vestiram as peças que seriam dos pro- fissionais de saúde – a quem costuma ser atribuído um comportamento cuidadoso, rigoroso e atento – apresentaram melhores resultados em testes de atenção e percepção visual de erros. [...] A descoberta [...] é significativa para uma área de estudos em crescimento, chamada de cognição incorporada. “Pensamos não apenas com nossos cérebros, mas com nossos corpos, e nossos processos de pensamento estão baseados em experiências físicas que provocam conceitos associados abstratos. Agora, parece que estas experiências incluem as roupas que vestimos”, ex- plicou Galinsky [...]. [...] Para os cientistas, um dos pontos mais interessante do estudo é a possibilidade de com- preender se o significado da roupa que vestimos afeta nossos processos psicológicos: ele altera a forma como nos aproximamos e interagimos com o mundo? Na opinião do psicólogo e autor do livro “Homens invisíveis” (Editora Globo), Fernando Braga da Costa, a resposta é sim: “Tudo o que é intelectual é guiado também pelo nosso equilíbrio emocional. Além disso, o que controla nossas vias neurológicas está relacionado com nossas emoções, cuja construção passa pelos rela- cionamentos e a concepção de valores sociais.” Os pesquisadores americanos agora querem entender o que acontece quando alguém veste uma batina de padre ou um uniforme de policial todos os dias, por exemplo. A ideia é desvendar se os indivíduos se acostumam e as alterações cognitivas não ocorrem, fazendo os efeitos desapa- recerem. Para isso, no entanto, mais estudos ainda serão conduzidos. CÂMARA, Juliana. Sim, o hábito faz o monge, mostra pesquisa. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/sim-habito-faz-monge- mostra-pequisa-4488046>. Acesso em: 10 maio 2019. Em uma experiência científica realizada nos Estados Unidos, pesquisadores verificaram que o uso de um jaleco de médico foi capaz de aumentar a atenção das pessoas que o vestiram. Arte 27 Festival das Artes Durante nossos estudos aqui, você pôde refletir sobre a moda e as vanguardas da arte moderna, e também experimentou na prática o que é uma performance. Agora, é hora de selecionar algo para compartilhar com os colegas das outras turmas e com a comunidade, no Festival das Artes. Quem sabe, com a apresentação de uma de suas performances, o público também possa refletir sobre o vestuário e a arte do nosso tempo. © M or ris /T ra so v Ar ch iv e • Vestido como um amendoim de cartola, o artista canadense Vincent Trasov realizou várias performances bem-humoradas na década de 1970 Com base no que você estudou neste capítulo, assinale com V as alternativas verdadeiras e com F as falsas. ( F ) Mesmo quando são elaboradas por diversos artistas, as criações inusitadas, com elementos do ves- tuário, só fazem sentido no universo da fantasia. Afinal, as roupas servem apenas de elementos de proteção ou embelezamento e não podem afetar nosso comportamento. ( V ) A pesquisa norte-americana apresentada na página 27 chegou a conclusões parecidas com as do artista brasileiro Flávio de Carvalho, criador de Experiência n .º 3: as roupas afetam nossa mente e nosso comportamento. ( V ) Se, por um lado, o uso de um jaleco branco de médico pode estimular a atenção nas pessoas que o vestem, é possível levantar a hipótese de que o uso de um parangolé – capa criativa, de formato inusitado e tecido colorido – pode estimular a movimentação de quem o veste. Aliás, para o artista Hélio Oiticica, suas obras Parangolés só faziam sentido se as pessoas que as vestissem dançassem. ( V ) No século XX, surgiram obras que já não são exatamente teatro, dança, música ou artes visuais. Em muitas delas, a própria experiência do artista e do público, em determinada situação, transforma-se no ponto principal da obra. ( F ) O sapato de pedra preciosa criado pela artista Marina Abramović, o macacão da obra Cesariana, de Lygia Clark, e o traje de Flávio de Carvalho vestido por ele em Experiência n .º 3 ultrapassaram a fronteira da arte e se transformaram em peças caras da moda. Falso. Esses trajes não foram criados com a intenção de se transformarem em produtos comerciais. Hora de estudo Falso. De acordo com a pesquisa apresentada na página 27, as roupas podem afetar nossos pensamentos e a forma como interagimos com o mundo. Assumindo a identidade de “Senhor Amendoim” (Mr. Peanut, em inglês), Trasov chegou a concorrer à prefeitura de Vancouver, no Canadá, provocando uma série de reflexões sobre a política e a arte do seu tempo. 2828 Capítulo 8 – Página 25 – Organize as ideias DK O E st úd io .2 01 9. D ig ita l. DK O E st úd io . 2 01 9. D ig ita l. 8o. ano – Volume 4 Material de apoio Arte 1 DK O E st úd io . 2 01 9. D ig ita l. 8o. ano – Volume 4 Material de apoio Arte3
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