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Faculdade Anhanguera Centro Universitário Anhanguera de Campinas – Unidade 4 Curso Psicologia Curso Pedagogia Desenvolvimento Humano I Relações Interpessoais e Administração de Conflitos Estudo de Caso Mutismo Seletivo Beatriz Bicalho dos Santos Mylena Gabrielle Machado Dim Érika Danielle da Silva Renata Reghini Ricoy Girio Giuliano Moreira Rita de Cássia Matias Isabella Caroline Ximenes Stephany Cirilo Kely Ferreira de Souza Valdelice Felício de Campos Leila Patrícia Neves Margarete Aparecida Ligeiro e Márcia Cristina Gonçalves Outubro - 2020 Beatriz Bicalho dos Santos Mylena Gabrielle Machado Dim Érika Danielle da Silva Renata Reghini Ricoy Girio Giuliano Moreira Rita de Cássia Matias Isabella Caroline Ximenes Stephany Cirilo Kely Ferreira de Souza Valdelice Felício de Campos Leila Patrícia Neves Trabalho apresentado nos cursos de graduação de Pedagogia e Psicologia do Centro Universitário Anhanguera de Campinas. Orientadoras: Margarete Aparecida Ligeiro e Márcia Cristina Gonçalves Outubro – 2020 SUMÁRIO: 1. Estudo do caso.............................................................................................. 04 2. Um olhar para um Transtorno pouco conhecido............................................08 3. Conclusão.......................................................................................................18 4. Referências....................................................................................................19 1. ESTUDO DE CASO B. criança de 9 anos, branca, trigêmea, nascida de cesárea, 37 semanas de gestação. Foi encaminhada para avaliação pela escola com histórico de dificuldades de aprendizagem, agitação, irritabilidade, dificuldade de seguir regras, trocas fonéticas no D/T, P/B, e F/V e recusa-se terminantemente conversar com qualquer profissional da escola. Possui um bom relacionamento com as crianças, porém, segundo o relatório escolar, o mesmo não ocorre frente aos adultos, inseridos nesse ambiente. Apresenta um olhar desconfiado e não aceita nenhum tipo de toque, recusa-se a fazer o que lhe é pedido e em alguns momentos joga seus pertences no chão e fixa o olhar no professor esperando por alguma reação. Em entrevista com os pais, os mesmos relatam que B. é uma criança extremamente comunicativa e que não possui dificuldade de relacionar-se com adultos fora do ambiente educativo. Relataram que esse episódio teve início na Escola de Educação Infantil... sem que eles soubessem de alguma intercorrência. Em conversa com a professora R. e a Orientadora de Educação L. da atual escola, é relatado que B. não se comunica e que há uma defasagem de aprendizagem para a idade em que ela se encontra. B. é uma criança que está alfabetizada, porém apresenta problemas de aglutinações e trocas fonéticas que ocorrem apenas na escrita. Sua socialização com as demais crianças é boa. Conversa e responde quando questionada pelas mesmas e até é ajudada nos momentos que precisa pedir algo para um adulto, mas não o faz quando questionada por um adulto. Seu comportamento com a professora é de silêncio total, de recusa em execução de algumas atividades, principalmente as que lhe desafiem e assim necessite da intervenção de um adulto. Nesses momentos a professora relata que a aluna joga seus pertences no chão ou levanta e sai sem que lhe seja permitido. Em conversa com B que apresentou uma boa oralidade, um humor estável em alguns momentos e severamente irritadiça em outros, foi perceptível que a mesma não gosta de ser colocada frente a desafios que não seja capaz de resolver sozinha, sem a intervenção de um adulto. B. foi encaminhada para avaliação fonoaudiológica e neurológica e após os resultados foi diagnosticada com Transtorno do Mutismo Seletivo. Como orientação escolar, inicial, foi indicado que a professora fosse agindo naturalmente com a aluna tentando aos poucos conquistar-lhe a confiança e em momentos que ela saísse da sala a professora reforçasse que quando ela estivesse calma que a professora estaria na sala para apoiá-la no que ela necessitasse. Paralelamente foi realizado um trabalho com os pais de forma que não fossem permissivos ao extremo com ela. Deveriam tratá-la como as outras irmãs, pois em conversa com os mesmos, percebe-se que por causa do diagnóstico e comportamento de B, o tratamento em casa com ela foi alterado. Em continuidade a terapia com B. percebe-se uma resistência da mesma frente aos profissionais da escola e em uma das terapias a mesma verbalizou o medo do fracasso nas atividades propostas e assim a professora gritar igual a tia (?) havia feito na escolinha. O medo e a ansiedade estavam fortemente presente no caso de B e assim, foi diagnosticado que a mesma estava passando por Transtorno do Mutismo Seletivo, porém não hereditário, mas sim vindo de um contexto social ocorrido na escola anterior. Após fechamento total do diagnóstico, foi estabelecido orientações por uma equipe multidisciplinar junto a escola e a família e a continuidade com a terapia era de suma importância. Aos pais foi explicado o que era Transtorno do Mutismo Seletivo, sintomas e tratamento e as seguintes orientações: • Incentivo por parte dos pais para que a mesma se exponha no ambiente que lhe causa medo e ansiedade; • Passar o máximo possível de segurança a mesma sem fazer nada por ela; caso necessite pedir algo a professora, ajudá-la a criar estratégias para isso; • Mostrar aos pais o quanto eles são fundamentais nesse processo terapêutico e também junto a escola. B. irá se sentir mais segura se os pais estiverem tranquilos; • Tratamento com terapia individual e em alguns momentos familiar. Com a escola, após entrega do relatório de diagnóstico, foi realizada uma reunião com a equipe multidisciplinar e estabelecida algumas orientações e estratégias: • Estimular o contato aluna x professora de forma que estabeleça uma confiança entre ambas; • Trabalhar a autoconfiança dela dentro da escola pois sabe-se, agora, que a causa foi dentro do ambiente escolar e nesse momento é necessário a reconstrução dessa confiança; • Estimular que ela encontre uma estratégia de comunicação com a professora sem medo ou ansiedade; • Elogiar suas atividades e não o seu ato de falar; • Incentivar atitudes emocionais de forma que ela não perceba e responda espontaneamente; • Não forçar a comunicação verbal. Isso pode gerar um bloqueio ainda maior; • Evitar a atenção excessiva a ausência da fala. A escrita pode ser um apoio inicial, mas não definitivo; • Pedir para que ela leve algo para a Coordenação ou para a Orientação, com prévia combinação, para que indaguem algo a B, como por exemplo se ela está bem, sem confrontá-la com o olhar. Perguntar de preferência com a cabeça baixa de forma que a force falar. Caso houver a ausência da resposta, perguntar novamente e dessa vez dizer SIM ou Não com o movimento de cabeça para que ela entenda que também pode responder com gestos no segundo momento. Sempre priorizar a resposta verbal, porém sem forçar. • Uma criança pode ser intermediadora provisória caso a estratégia que ela apresentar for essa. Elogiar sua atitude positiva de encontrar uma solução, mas, o professor deverá estar constantemente incentivando-a a mudar as estratégias. • Pressionar, não irá mudar sua atitude, pois esse tipo de comportamento não é intencional e nem falta de educação. Após alguns meses houve o retorno da escola informando que B. estava interagindo com a professora, a princípio através de outra criança e no atual momento suas dúvidas eram expostas através da escritae o Bom Dia e o Tchau no final da aula já estavam sendo verbalizados, muito timidamente, porém verbalizados. Quando queria um contato físico, como um abraço, a mesma encostava no corpo da professora que a enlaçava naturalmente sem criar alarde com o gesto intencional da mesma. Sua escrita houve um avanço significativo e as trocas já não estavam constantemente presentes. Como recomendação a escola, foi que o trabalho continuasse e aos pais que mantivessem o apoio no trabalho multidisciplinar que B. estava até o presente momento. 2. Um olhar para um Transtorno pouco conhecido. O Transtorno do Mutismo Seletivo é um distúrbio relacionado a fala que é pouco conhecido e pouco investigado no Brasil. Esse distúrbio foi estudado pelo alemão Kussmaul, em 1877, partindo da observação de alguns pacientes que se recusavam a falar em algumas situações ou locais pré estabelecidos por elas mesmas, mesmo apresentando total domínio e total habilidade linguística para realizá-lo. Inicialmente esse distúrbio era conhecido como Afasia Voluntária, porém a Afasia no meio psiquiátrico, era a perda da capacidade de compreender e expressar símbolos, palavras, gestos devido a uma lesão no cérebro. Então em 1934, Morris Tramet, muda a terminologia para “Mutismo Eletivo”, ainda designando as pessoas “incapazes” voluntariamente de falar. Mas, em 1994, após estudos e levantamentos, o DSM-IV, (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, alterou mais uma vez o nome para “Mutismo Seletivo”, onde a criança é capaz de falar e compreender o que lhe é dito normalmente, porém seleciona, por algum motivo, um grupo e não mais emite qualquer verbalização com eles, porém na Classificação Internacional de Doenças, o CID, sua nomenclatura ainda recebe o nome de Mutismo Eletivo – CID 10-F94.0. e posteriormente acrescentou-se o 313.23, que caracterizava o Mutismo Seletivo. “O mutismo seletivo é um transtorno pouco frequente que se caracteriza pela ausência total e persistente da linguagem em determinadas circunstâncias ou diante de determinadas pessoas, em crianças que adquiriram a linguagem ou a utilizam adequadamente em outros contextos ou em presença de outras pessoas. O Mutismo Seletivo ocorre amiúde em crianças muito tímidas, que apresentam condutas de isolamento e negativismo”. (Coll, 2004). Ainda segundo Coll, o Mutismo Seletivo pode estar relacionado à separação súbita do responsável da criança, ou a exposição da mesma a uma situação que a impacta negativamente. Essa segunda opção é o que ocorreu com a criança B. conforme relato de sua psicóloga: “Em continuidade a terapia B. percebeu-se uma resistência da mesma frente aos profissionais da escola e verbalizou o medo do fracasso nas atividades propostas e assim a professora (R) gritar igual a professora (?) havia feito na Escola de Educação Infantil.” Wallon defende que o processo de evolução e aprendizagem depende tanto da capacidade biológica quanto do ambiente, que pode afetá-lo de alguma forma. Ele nasce com um componente orgânico, que lhe oferece determinados recursos, mas é o meio que irá permitir que essas potencialidades se desenvolvam. Uma criança com um aparelho fonador em perfeitas condições, como o caso de B, somente irá desenvolver sua fala se estiver em ambiente que desperte isso, com pessoas que falam e possam ser imitadas. Vygotsky afirma que o indivíduo não nasce pronto e nem é cópia do ambiente externo. Para que ocorra a sua evolução intelectual, é necessário que a criança tenha uma interação constante e ininterrupta entre processos internos e influências do mundo social. Para ele a maturação não é um fator principal. Apesar da criança precisar de um fator maturacional para falar, somente o fará se participar ao longo de sua vida de um grupo que se comunica através da fala. Piaget defende que a linguagem nasce da internalização dos esquemas sensórios-motores produzidos pela experimentação constante da criança. A linguagem será construída mediante a interação entre criança e o meio a qual está inserida. Através da participação em situações de relações interpessoais em sua vida, que o indivíduo desenvolve seus padrões relacionais. Se o ambiente dessas relações for estimulado a tais interações, tanto mais genuíno será a estruturação de sua autonomia e respeito a regras e valores. Na escola, por exemplo, o tempo das aulas, atividades organizadas em grupo, nas quais os alunos possam expressar seus conhecimentos e valores, mostrar suas produções para a escola, enfim, práticas que viabilizem tais interações podem favorecer o desenvolvimento social e cognitivo. Conclui-se então, que B. não possuindo nenhum problema no seu aparelho fonador, os fatores sociais e as situações interpessoais, foram uma influência considerável do Mutismo Seletivo, desencadeado por uma experiência negativa que a mesma passou, considerando que o grito relacionado a atividade que estava sendo executada, causou-lhe uma grande decepção ou um trauma. Seguindo com a fala da psicóloga de B em seu relatório: “B apresenta um olhar desconfiado e não aceita nenhum tipo de toque, recusa a fazer o que lhe é pedido e em alguns momentos joga seus pertences no chão e fixa o olhar no professor esperando alguma reação Seu comportamento com a professora é de total silêncio, de recusa em execução de atividades, principalmente as que lhe desafiem e assim necessite da intervenção de um adulto.” Crianças com Mutismo Seletivo geralmente por serem muito tímidas não se destacam dentro de um ambiente escolar. B., porém, além do Mutismo possui em alguns momentos uma alteração de humor desafiador que pode se caracterizar como a forma encontrada para chamar a atenção da professora atual como forma de testar sua reação e assim talvez iniciar um contato seguro com a mesma. Erick Ericsson que divide o desenvolvimento humano em estágios, afirma que quando um equilíbrio ideal entre a iniciativa individual e uma vontade de trabalhar com outras pessoas é alcançado, a qualidade do ego conhecida como finalidade emerge. A afetividade defendida por Wallon é a peça chave para a reconstrução do processo de confiança e segurança, porém deve-se entender que afetividade é a capacidade do ser humano de ser afetado positiva ou negativamente tanto por sensações internas como externas. Erick Ericsson que divide o desenvolvimento humano em estágios, afirma que quando um equilíbrio ideal entre a iniciativa individual e uma vontade de trabalhar com outras pessoas é alcançado, a qualidade do ego conhecida como finalidade emerge. Um exemplo fácil de se identificar em um Mutista é a sensação de angústia da criança que por não conseguir se comunicar, não consegue satisfazer nem suas necessidades básicas como pedir para ir ao banheiro ou beber água. O medo do fracasso, faz com que a criança se torne perfeccionista no que faz e assim evita exposição frente ao adulto e quando do contrário ocorre, reage com raiva, acesso de birras e agressividade como relatado no caso de B. “O medo e a ansiedade estavam fortemente presente no caso de B e assim, foi diagnosticado que a mesma estava passando por Transtorno do Mutismo Seletivo, porém não hereditário, mas sim vindo de um contexto social ocorrido na escola anterior”. Ericsson, diz que as crianças que não conseguem completar estes processos de iniciativa e culpa são inseridas um sentimento de culpa, auto-dúvida e falta de iniciativa. Quando um equilíbrio ideal entre a iniciativa individual e uma vontade de trabalhar com outras pessoas é alcançado, a qualidade do ego conhecida como finalidade emerge. Ao estudar a criança, Wallon não coloca a inteligência como o principal componente do desenvolvimento, mas defende que a vida psíquica de um indivíduo e formado por três fases: motora-afetiva-cognitiva,que atuam de forma integrada. O que é conquistado em um momento, atinge o outro mesmo que não haja consciência. B quando reage a professora dessa forma, a resposta se positivamente, irá gerar nela, aluna, uma aprendizagem de confiança, o que a estimulará em uma outra ocasião a fazer o que lhe foi pedido. Já Piaget, a afetividade para ele não se restringe a emoções, mas também as vontades da criança, visando a adaptação. Silvia, 2004 diz que para Piaget a afetividade é uma energia impulsionadora das ações do sujeito, o que Wallon complementa dizendo: “A afetividade é um componente permanente da ação” E complementamos com o que Eriksson afirma: “aquelas que recebem incentivo e reforço adequados através da exploração pessoal vão emergir com um forte senso de si mesmas e uma sensação de independência e controle. Aquelas que permanecem inseguras de suas crenças e desejos vão se sentir inseguras e confusas sobre si mesmas e o futuro. Vygotsky também nos apresenta que não há como separar o cognitivo do afetivo, e que um dos grandes problemas da Psicologia Tradicional é o rompimento da influência e o afeto. Uma vez que o pensamento vem do que ele nomeou como motivação que nada mais é do que a necessidade de interesses, afetos e emoções que significará a aprendizagem, e isso parte da socialização. Com relação a socialização de B com as demais crianças, consta o seguinte: “Sua socialização com as demais crianças é boa. Conversa e responde quando questionada pelas mesmas e até é ajudada nos momentos que precisa pedir algo para um adulto, mas não o faz quando questionada por um adulto”. Apesar de B estar com uma boa socialização com as crianças e essas ajudas constantes serem vistas como um ato de integração e apoio por parte delas, acaba por reforçar esse silêncio e negação em relação aos adultos. Para Piaget (1994) a construção da autonomia moral é de fundamental importância, pois a interação ativa da criança com a comunidade ela vai construindo seus valores e suas regras. B, nesse processo, interage apenas com as crianças e assim cria uma dependência das mesmas. O processo de interação de acordo com as pesquisas Piaget (1994) é importante para a construção da autonomia moral dos indivíduos. Porém, ele acredita que esse processo deve ser estimulado, proporcionando uma participação ativa da criança nas relações sociais, de forma a desenvolver seus valores e suas regras. A autonomia só se apresenta com interdependência, quando o respeito mútuo e suficientemente potente, para que o indivíduo perceba a necessidade de tratar os outros como gostaria de ser tratado. É pela interação que ele aprende a atribuir funções e valores às sensações percebidas no ambiente. Assim, torna-se essencial que tais experiencias sejam direcionadas muitas vezes, intencionalmente, principalmente quando se trata de intervenções pedagógicas Partindo da teoria que a conquista das relações se dá por meio de cooperação que ao longo da vida será adquirido e por esse motivo o vínculo de dependência de B, não deve ser estimulado. Erikson acreditava que era vital que as pessoas desenvolvessem relações estreitas e comprometidas com outras pessoas. Aquelas que são bem sucedidas nesta etapa irão formar relacionamentos que são duradouros e seguros. Lembre-se que cada etapa se baseia em habilidades aprendidas nas etapas anteriores. Erikson acredita que um forte senso de identidade pessoal foi importante para o desenvolvimento de relações íntimas. Estudos têm demonstrado que as pessoas com um mau senso de si tendem a ter relações menos comprometidas e são mais propensas a sofrer isolamento emocional, solidão e depressão. Aqui podemos notar um dos fatores do Mutista: o isolamento social. Já para Vygotsky, a importância das relações sociais, conduz a ideia de mediação, portanto é a partir de uma inserção na cultura que a criança, através da sua interação social com todos que a rodeiam, vai se apropriando de aprendizagens culturalmente estabelecidas. Evoluindo da forma elementares, passando pelas abstratas até chegar ao conhecer e controlar a realidade. A importância do outro aqui, não é apenas no processo de construção de conhecimento, mas também no próprio sujeito e nas suas formas de agir. Nesse sentido, quando B cria a dependência do outro, ela deixa de construir a sua própria forma de agir para viver a que o outro formulou. Aqui, a autonomia fica comprometida como afirma Piaget, pois ela aparece com a reciprocidade, quando o respeito mútuo já está fortalecido, para que o indivíduo experimente interiormente a necessidade de tratar os outros como gostaria de ser tratado. Para Erikson aqueles que são bem sucedidos durante esta fase vão sentir que estão contribuindo para o mundo por ser ativos em sua casa e na comunidade. Aqueles que não conseguem atingir essa habilidade vão se sentir improdutivos e não envolvidos no mundo, na vida adulta. Os Mutistas Seletivos. Apesar de serem caracterizados com maior facilidade de concentração, atenção redobrada e serem extremamente perfeccionistas, apresentam um baixo desempenho escolar. “Em conversa com a professora R. e a Orientadora de Educação L. da atual escola, é relatado que B. não se comunica e que há uma defasagem de aprendizagem para a idade em que ela se encontra”. Tendo-se em vista que a média de idade de encaminhamentos dos primeiros diagnósticos tem sido em torno de 3 a 7 anos, B no momento do relatório já apresentava a idade de 9 anos e dentro das suas dificuldades estão relatados: “B. é uma criança que está alfabetizada, porém apresenta problemas de aglutinações e trocas fonéticas que ocorrem apenas na escrita.” Agora, acompanhada por uma equipe Multidisciplinar as quais suas principais funções são: Pedagogo Os pedagogos podem auxiliar no processo de comunicação em crianças, pois as atividades realizadas nesse primeiro momento com essas crianças estão ligadas ao estabelecimento de relação de sentimento, pensamento e gesto, que irão favorecer para um clima harmonioso, onde através de brincadeiras lúdicas pode gerar momentos descontraídos entre ambos. Psicopedagogo a psicoterapia é feita a partir da sobreposição de duas áreas do brincar, a do paciente e a do terapeuta, e trata-se de duas pessoas que brincam juntas. O brincar é por si mesmo uma terapia e pode até prescindir da interpretação verbal. O papel do analista é o de sustentar este brincar do paciente, no espaço e tempo construídos transferencialmente. Psicologia/Psicoterapeuta: A ludoterapia e a ludoterapia comportamental foram analisadas tendo-se confirmado a sua importância nas diferentes fases do transtorno do Mutismo Seletivo, do diagnóstico ao tratamento. Assim, na prática direta com a criança, o terapeuta considera a etapa específica do desenvolvimento em que esta se encontra, descobrindo e utilizando a sua linguagem própria, tentando entrar no seu mundo, trabalhando indiretamente através de metáforas e jogos, e ajustando-os ao objetivo escolhido para cada etapa do processo. O objetivo é auxiliar na expressão das emoções de cada criança, pois através da brincadeira ela pode expandir seus sentimentos acumulados e ressignificar os eventos traumatizantes. Neuropsiquiatria sua função seria a de administração do fármaco quando necessário, ou seja, nem todas as crianças Mutistas tomam medicações, mas se necessário ele é quem fará. Fonoaudiólogo O papel do fonoaudiólogo que trabalha na área da linguagem é proporcionar o desenvolvimento das habilidades da criança e a sua inclusão social. Ele deve fazer o estudo, a avaliação, o diagnóstico do distúrbio e prosseguir com o tratamento dos transtornos relacionados à comunicação oral e escrita. Os principais métodos são colocar a criança em uma sala com alguém de sua confiança e, gradualmente, introduzir uma nova pessoa na sala; e estimulara criança a articular as palavras em situações incomuns. Para o tratamento ser efetivo, é preciso que o fonoaudiólogo conheça os métodos e abordagens mais adequados para cada situação e faixa-etária. Toda criança é única, por isso é tão importante que o terapeuta conheça o pequeno paciente a fundo e estabeleça uma conexão com ele para saber de suas reais necessidades. Após passar pela referida equipe acima realizando vários exames e testes, não apresentou outros diagnósticos que não fosse o Mutismo Seletivo. Para o desenvolvimento cognitivo de B, as práticas pedagógicas não deverão ser fixas e sim muito bem planejadas de acordo com suas necessidades, onde a organização de situações de ensino aprendizagem devam inserir não apenas B, mas todo o grupo de forma que ela não se sinta diferenciada dentro do grupo, não levando- a a gravidade do caso para um Mutismo total. A orientação é que fosse investida na construção da confiança centrando-se em métodos para auxiliar a redução da ansiedade e do medo, aumentando assim a autoestima da aluna que, com o passar do tempo, através da confiança estabelecida, a comunicação no contexto social seria a consequência de todo esse investimento dentro de sala de aula e assim seu rendimento escolar teria uma melhora gradativa. As ações pedagógicas devem permear o incentivo a interação verbal, porém sem pressionar como já citado, para que não haja um retrocesso no tratamento. Para Santos (2013): “Não se deve desistir de estimular a interação verbal e a interatividade da criança, mas de forma alguma se deve fazê-lo através da pressão, atitudes rígidas não compreensivas, nem de criar sentimento de culpa por uma atitude crítica ou evasiva com relação à criança mutista.” Conforme aponta o relatório de B, não apenas a escola e a equipe multidisciplinar devem estar inseridas no tratamento, mas o apoio e a segurança da família de um MS são, de suma importância para o seu desenvolvimento escolar e também para o seu tratamento. A família para B é sinônimo de segurança e a tranquilidade a ela transmitida e se isso for mantido não irá gerar uma maior ansiedade e fobia na escola, facilitando assim que se crie uma ligação com os profissionais nela inserida, pois se B perceber que os pais estão seguros, ficará um pouco mais tranquila. De acordo com Myers, 2013: ...a colaboração dos cuidadores é imprescindível, uma vez que o vínculo de confiança transmite a criança uma maior credibilidade e segurança dos que estão a sua volta. 3. Conclusão: Com base em todo estudo desenvolvido, chega-se à conclusão que viver isoladamente não é possível. A interação com o meio é fundamental, pois nele haverá o aprendizado, a transformação e a significação de tudo, pois é na comunicação que se faz as trocas de experiências, aprendizado entre os pares de diferentes ou iguais culturas. O Mutismo Seletivo gera grandes prejuízos ao desenvolvimento social e cognitivo da criança. Sendo um transtorno psicológico, relacionado a fatores emocionais, deve ser procurado apoio multidisciplinar evitando o agravamento do mesmo, pois felizmente, apesar de pouco conhecido, possui diagnóstico, tratamento e cura, mesmo que a longo prazo. 4. Referências: AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (DSM-IV) Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais. Lisboa, 1ª ed. Portuguesa. Lisboa: Climepsi editor. (1994). CALDEIRA, N. Suzana / VEIGA, H. Feliciano - Desenvolvimento pessoal psicossocial e moral - ANO de publicação 2013. COLL, Cesar, Álvaro Marchesi e Jesús Palácios. Desenvolvimento psicológico e educação; Tradução Fátima Murad - 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. COLL, Cesar, Álvaro Marchesi e Jesús Palácios. Desenvolvimento psicológico e educação; Tradução Fátima Murad - 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. MYERS, D. G. Psicologia, Linguagem e pensamento, 9ed – LTC, Rio de Janeiro, 2013 PIAGET, J. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olympio, 2002. PIAGET, Jean. O juízo moral na criança. Tradução Elzon L. 2ª. ed. São Paulo: Summus, 1994. RABELLO, Elaine/ PASSOS, S. José - Teoria psicossocial do desenvolvimento - ANO de publicação: 2008 RIBEIRO, Célia Margarida da Silva. O Mutismo Seletivo e a Ludoterapia/Atividade Lúdica. 2012. 99. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação). – Escola Superior de Educação João de Deus. Lisboa, 2012. SANTOS, R. P.; SANTOS, M.; SILVA, K. A.; OLIVEIRA, S. B. Mutismo Seletivo: o silêncio que incomoda em sala de aula. In: Jornada de Educação, 12ª. (JE) Cáceres/MT: Departamento de Pedagogia – Campus Universitário de Cáceres, Vol. 12 (2013). Cód. 12149. ISSN ONLINE 2318-4280. CDROM 2175-7712. Brasil, 02-06 setembro 2013. http://siec.unemat.br/anais/jornada_educacao/impressao-resumo_ex pandido.php?fxev=MA==&fxid=MjUyOQ==&fxcod=MTIxNDk=&fxdl=I. Acesso em: 23 de outubro de 2013. SILVA, Ana Maria Oliveira da. Inclusão de Alunos com Necessidade Escolar Especial (Mutismo Seletivo) nas Aulas Regulares de Língua Estrangeira – Espanhol. Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Mestrado em Ensino do Português.2011/2012.http://sigarra.up.pt/flup/pt/publs_pesquisa.show_publ_file?pct_ gdoc_id= 8087. Acesso em: 05 de outubro de 2013. VYGOTSK, Lev S. Formação Social da Mente. Trad. 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