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Diniz, Gustavo Saad
Curso de direito comercial / Gustavo Saad Diniz – 1. ed. – São Paulo: Atlas, 2019.
§4
SOCIEDADE EM COMUM
1.CONCEITO E FUNÇÃO
A sociedade em comum é não personificada(a) para organização de atividade empresarial ou não empresarial(b), além de ser o regramento aplicável às sociedades com atividade irregular(c).
Sem registro Sociedade antes da personificação
(a) Cuida-se de tipo societário sem personalidade jurídica [t. II, §3, i. 2.2.] que se presta a formalizar sociedade entre os sócios para os fins do art. 981 do CC, sem a necessidade de registro do contrato e aquisição de personalidade jurídica para separação patrimonial e criação de novo centro de imputação. Não é esse o interesse dos sócios, mas sim criar organização para implementação de atividade com esforço comum e promoção da partilha de resultados e prejuízos. Demonstra-se, com esse tipo, que a sociedade precede a personificação ou, em termos diversos, a personificação não é critério para a existência de contrato de sociedade.
(b) A atividade poderá ser empresarial ou não empresarial, já que a lei não faz essa distinção. Portanto, o escopo comum dos sócios pode ser o desempenho de atividades de produção de bens ou de prestação de serviços, mas também de atividades intelectuais excluídas dos aspectos da empresa.
Atividade Função específica Função geral
(c) Além de ter a função específica de produzir efeitos de contrato de sociedade, sem registro, a sociedade em comum ainda tem uma função geral ou sistêmica prevista na primeira parte do art. 986 do CC, por ser o conjunto de regras aplicáveis a todos os contratos de sociedades que não tenham se registrado, que estejam com atividades irregulares ou que tenham se inscrito no registro incorreto. Conforme já se discutiu [t. II, §3, i. 2.2], a opção do direito brasileiro foi o registro como o termo inicial constitutivo da pessoa jurídica (art. 45 do CC). A consequência jurídica é que a falta do registro ou o registro incorreto determinam a aplicação das regras próprias da sociedade em comum (arts. 986 a 990 do CC). Tal função geral não se aplica, todavia, às sociedades anônimas em organização (art. 986 CC e arts. 91 e 94 da LSA).
Esse tipo societário não personificado determinou o rompimento da legislação com os conceitos vetustos de sociedade de fato e de sociedade irregular: aquelas não registradas, estas com algum problema posteriormente ao registro. Assim, conforme orientação de ERASMO VALLADÃO A. N. FRANÇA, a sociedade em comum tem diferença das demais em relação à eficácia, porque não se cuida mais da irregularidade do contrato de sociedade, mas sim da atividade exercida irregularmente sem o registro (FRANÇA, 2013, p. 115 e 175). Por esse fundamento, não se sustenta o argumento de MARCELO ANDRADE FÉRES de que persistem os antigos conceitos doutrinários para situações de falta de prova escrita ou irregularidades posteriores (FÉRES, 2011, p. 142 e 183), porque as regras dos arts. 986 e seguintes atraíram todos esses casos (FRANÇA, 2013, p. 112-114).
São exemplos desse tipo de sociedade muitas parcerias em que os sócios iniciam atividades comerciais sem o registro, com conjuntos musicais e prestações de serviços.
2.REGRAS ESPECÍFICAS
2.1.Formação de patrimônio especial
A sociedade em comum adotou a técnica do patrimônio especial e titularidade em comum dos sócios (art. 988 do CC) com o fim de criar benefício de ordem para pagamento de débitos derivado do art. 1.024 do CC, já que o art. 989 do CC determina: “Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer”.
Patrimônio especial
Verifica-se que, nesse ponto, houve vinculação à teoria desenvolvida pelo autor dessa parte do CC, SYLVIO MARCONDES, para quem era possível apartar, dentro do patrimônio geral da pessoa, um montante especializado para realizar determinado fim, concentrando ativo e passivo de uma atividade (MACHADO, 1970, p. 98-99). Haveria, então, patrimônio separado ou especial destinado ao fim da sociedade em comum, que permanece na titularidade dos sócios, mas serve de garantia imediata aos credores – que, ainda, podem se valer da responsabilidade solidária e ilimitada dos sócios (FÉRES, 2011, p. 110-114).
2.2.Responsabilidade do sócio
Nesse tipo de sociedade, sem que haja personalidade jurídica, novo centro de imputação e limitação de responsabilidade a capitais integralizados, “todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade” (art. 990 do CC).
Cabe ressalvar que, entre os sócios, pode existir pacto expresso limitativo de poderes. Será oponível a terceiro se ele tiver conhecimento de tal pacto.
Nesse sentido, não bastando os bens do patrimônio especial, podem os credores buscar os bens do patrimônio pessoal de um ou mais sócios, de acordo com as regras de obrigações solidárias previstas no art. 275 do CC. Há preferência, contudo, em execução de bens do sócio que tenha contratado diretamente pela sociedade. O escalonamento da previsão legal é o seguinte:
por responsabilidade direta e sem benefício de ordem do art. 1.024 do CC, sócio que contratou pela sociedade
patrimônio especial da sociedade em comum (arts. 988, 989 e 1.024 do CC)
salvo pacto limitativo de poderes conhecido de terceiro (art. 989 do CC), demais sócios, solidária e ilimitadamente (art. 990 do CC)
entre si, um sócio obtendo ressarcimento do outro, em caso de pacto de limitação de responsabilidade (art. 989 do CC).
2.3.Prova da sociedade
O art. 987 do CC regula a prova do contrato de sociedade em comum: “Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo”. Divide-se a prova em dois destinatários da regra.
Prova escrita entre sócios Terceiros: qualquer meio
Nas relações internas – seja entre sócios, seja destes com terceiros –, os sócios somente podem provar por escrito a existência de sociedade em comum entre si. A razão do dispositivo é trazer segurança da existência efetiva das relações societárias entre os sócios, atribuindo os efeitos de um contrato de sociedade. Perceba-se que a prova escrita é da sociedade e não do contrato de sociedade. Portanto, não é imprescindível a exibição de contrato escrito de sociedade, mas tão somente documentos escritos de que se possam extrair a existência de sociedade (FRANÇA, 2013, p. 131). Prova testemunhal seria meramente subsidiária ou complementar à prova escrita nas relações internas, conforme se depreende do art. 227, parágrafo único, do CC.
Nas relações externas, com terceiros, são admitidos todos os meios de prova (art. 212 do CC).
3.REGRAMENTO SUPLETIVO
Conforme previsão do art. 986, segunda parte, do CC, as regras das sociedades simples são supletivas para solução das omissões do Capítulo da sociedade em comum [t. II, §3, i. 2.3.].
Portanto, serão aplicáveis os dispositivos atinentes ao conteúdo do contrato social (art. 997 do CC); direitos e obrigações dos sócios que sejam compatíveis e não contrariem as regras do tipo (arts. 1.001 a 1.009 do CC); administração, quóruns e relações com terceiros; resolução da sociedade quanto a um sócio; dissolução.
A questão é mais complexa se a sociedade tiver se constituído por escrito, com adoção das regras da sociedade limitada. Segundo ERASMO VALLADÃO A. N. FRANÇA, nas relações internas passará a ser regida por este tipo, ressalvada a impossibilidade de limitar a responsabilidade externamente (FRANÇA, 2013, p. 142-143)
Jornadas do CJF
Enunciado nº 58 – Art. 986 e seguintes: a sociedade em comum compreende as figuras doutrinárias da sociedade de fato e da irregular. (Aprovado na I Jornada de Direito Civil, promovida em Brasília, nos dias 12 a 13.09.2002).
Enunciado nº 212 – Art. 990: Embora a sociedade em comum não tenha personalidade jurídica, o sócio que tem seus bens constritos pordívida contraída em favor da sociedade, e não participou do ato por meio do qual foi contraída a obrigação, tem o direito de indicar bens afetados às atividades empresariais para substituir a constrição. (Aprovado na III Jornada de Direito Civil, promovida em Brasília, nos dias 01 a 03.12.2004).
Enunciado nº 383 – Art. 997: A falta de registro do contrato social (irregularidade originária – art. 998) ou de alteração contratual versando sobre matéria referida no art. 997 (irregularidade superveniente – art. 999, parágrafo único) conduz à aplicação das regras da sociedade em comum (art. 986). (Aprovado na IV Jornada de Direito Civil, promovida em Brasília, 2006).
Jurisprudência
“Direito de empresa. Reconhecimento e dissolução de sociedade empresarial de fato c/c pedido de apuração de haveres c/c liminar de levantamento de protestos. Improcedência do pedido. Inconformismo. Cerceamento de defesa. Inocorrência. A prova oral é inapropriada para demonstrar a existência de sociedade em comum. Inteligência dos arts. 981 e 987, CC. Affectio societatis não demonstrada ônus probatório. Inteligência do art. 333, I, CPC. Decisão mantida recurso desprovido.” (TJSP – Ap 0044467-73.2009.8.26.0576 – São José do Rio Preto – 2ª CD.Priv. – Relª Marcia Tessitore – DJe 19.02.2015).
Bibliografia: FÉRES, Marcelo Andrade. Sociedade em comum. São Paulo: Saraiva, 2011. FERREIRA, Waldemar Martins. Sociedades commerciaes irregulares. São Paulo: S. Paulo Editora, 1927. FRANÇA, Erasmo Valladão A. N. A sociedade em comum. São Paulo: Malheiros, 2013. GONÇALVES NETO, Alfredo Assis. Direito de empresa: comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código Civil. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. HADDAD, Guilherme. Sociedades comerciais irregulares ou de fato. São Paulo: Borsoi, 1962. HILDEBRAND, Lucas Fajardo Nunes. Patrimônio, patrimônio separado ou especial, patrimônio autônomo. In: FRANÇA, Erasmo Valladão A. N. (coord.). Direito societário contemporâneo I. São Paulo: Quartier Latin, 2009. KALANSKY, Daniel. A sociedade em comum: um novo tipo societário? In: FRANÇA, Erasmo Valladão A. N. (coord). Direito societário contemporâneo I. São Paulo: Quartier Latin, 2009. LOPES, Mauro Brandão. A sociedade em comum: inovação do Anteprojeto do Código Civil. RDM 15/16. MACHADO, Sylvio Marcondes. Problemas de direito mercantil. São Paulo: Max Limonad, 1970.
§5
SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO
1.CONCEITO E FUNÇÃO
A sociedade em conta de participação é não personificada(a) para organização de atividade empresarial ou não empresarial(b), composta por sócios participantes que disponibilizam capital em conta de participação limitativa de responsabilidade(c) para ser investida pelo sócio ostensivo de responsabilidade ilimitada(d).
(a) Cuida-se de tipo societário sem personalidade jurídica [t. II, §3, i. 2.2.] que se presta a formalizar sociedade entre os sócios com diferentes tipos de atuação e responsabilidade. Os efeitos contratuais são internos entre os sócios – não valendo perante terceiros, já que o sócio ostensivo é quem se vincula – e a personificação não ocorre, ainda que o contrato seja levado a registro (art. 993, caput, do CC)1. Assim, constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito (art. 992 do CC).
Societário
Embora haja querela doutrinária sobre a natureza da sociedade em conta de participação – se societária (SCALZILLI; SPINELLI, 2014, p. 50-63), contrato bilateral (ASCARELLI, 1945, p. 319) ou simples contrato de participação (GONÇALVES NETO, 2012, p. 176) –, alinhamo-nos entres aqueles que consideram tratar de tipo societário, por estarem presentes os elementos de um contrato de sociedade de pluralidade de partes, contribuição para o exercício de atividade econômica e partilha de resultados [t. II, §3, i. 3.3.]. Em obra referencial sobre o assunto, JOÃO PEDRO SCALZILLI e LUIS FELIPE SPINELLI esclarecem que nesse tipo societário há todos os componentes do art. 981 do CC e “os direitos e obrigações dos sócios são idênticos na qualidade, mas não necessariamente na natureza e na quantidade” (SCALZILLI; SPINELLI, 2014, p. 59).
Atividade
(b) A atividade poderá ser empresarial ou não empresarial, já que a lei não faz essa distinção. Portanto, o escopo comum dos sócios pode ser o desempenho de atividades de produção de bens ou de prestação de serviços, mas também de atividades intelectuais excluídas do campo de alcance da empresa.
Participante
(c) O sócio participante faz aporte de capital como investimento, com redução de riscos e limitação de responsabilidade ao montante investimento como conta de participação. Portanto, o sócio participante aufere os resultados correspondentes ao investimento (art. 991, parte final, do CC) e somente amplia a sua responsabilidade, ao ponto a ilimitação e solidariedade com o ostensivo, se tomar parte nas relações dele com terceiros (art. 993, parágrafo único, do CC). As obrigações do sócio participante são perante o sócio ostensivo, além de ter o direito de fiscalização (art. 991, parágrafo único e art. 993, parágrafo único, ambos do CC).
Ostensivo
(d) Já o sócio ostensivo é a pessoa que trava relações com o mercado, obrigando-se, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade (art. 991, caput, do CC) para negócios com fornecedores, empregados, consumidores e demais grupos de interesse. Por essa característica, o sócio ostensivo tem responsabilidade direta perante terceiros pelos negócios praticados.
Cuida-se de prática muito comum e negócio utilíssimo em diversos ramos, como por exemplo no setor hoteleiro (o sócio participante investe na aquisição de apartamentos e o ostensivo os explora com o serviço do hotel), nas prestações de serviços e transferências de tecnologia. Infelizmente, tal contrato também foi muitas vezes mal utilizado para fraude à legislação, por exemplo, com a burla da lei de loteamento (Lei nº 6.766/73), ao fracionar indevidamente o solo, atribuindo conta de participação aos adquirentes dos lotes; utilização como contrato de mútuo disfarçado; consórcios e fundos de investimentos em autorização do órgão governamental competente; fraude à legislação trabalhista.
2.REGRAS ESPECÍFICAS
Patrimônio especial na relação interna
Tal como ocorre com a sociedade em comum, com a sociedade em conta de participação foi utilizada a técnica do patrimônio especial apto à satisfação preferencial dos débitos da sociedade. É o que se extrai do caput, do art. 994, do CC. Todavia, tal especialização somente produz efeitos em relação aos sócios, já que a responsabilidade do sócio ostensivo, perante terceiros, é direta e ilimitada (art. 994, § 1º, do CC). O sócio ostensivo, com efeito, tem posição marcada pelo poder de disposição da conta de participação – SCALZILLI e SPINELLI falam em verdadeira relação fiduciária (SCALZILLI; SPINELLI, 2014, p. 59) –, por isso ela adquire a condição de patrimônio especial da sociedade, mas com produção de efeitos de responsabilidade na relação interna dos sócios. Externamente, a cobrança de terceiros é somente quanto ao sócio ostensivo (STJ – REsp nº 192.603 – Rel. Min. BARROS MONTEIRO), salvo se o participante tomar parte nas relações com terceiros (art. 993, parágrafo único, do CC).
Ostensivo: responsabilidade direta
A relação entre os sócios é direta e personalíssima, justificando-se o conteúdo do art. 995 do CC, porque o sócio ostensivo não pode admitir novo sócio sem o consentimento expresso dos demais.
No que concerne à recuperação da empresa e à falência, a sociedade em conta de participação não poderá ter o benefício para sair da crise ou mesmo padecer da quebra. Poderão os sócios falir, desde que a atividade desempenhada seja empresarial.
No caso de falência do sócio ostensivo, o crédito decorrente da conta de participação do sócio participante se convertia em quirógrafo pela redação original do CC. Com o advento da LREF, o art. 83, VIII, “b” determinou que são subordinados os créditos dos sócios, com derrogação do dispositivo do CC. Portanto, liquidadaa conta de participação, ela se converte em crédito subordinado para fins de classificação. Se o sócio participante conserva a propriedade de bem usado pelo ostensivo, e ele for arrecadado, poderá requerer a restituição (arts. 85 a 93 da LREF) (SCALZILLI; SPINELLI, 2014, p. 294).
Por outro lado, como a falência do sócio participante está sujeita ao art. 994, § 3º, do CC, o contrato de sociedade em conta de participação fica sujeito à disciplina do art. 117 da LREF, podendo até ser cumprido pelo administrador judicial.
3.REGRAMENTO SUPLETIVO
Conforme previsão do art. 996 do CC, as regras das sociedades simples são subsidiárias (supletivas) para solução das omissões do Capítulo da sociedade em comum [t. II, §3, i. 2.3.]. Assim, serão aplicáveis os dispositivos atinentes ao conteúdo do contrato social (art. 997 do CC); direitos e obrigações dos sócios que sejam compatíveis e não contrariem as regras do tipo (arts. 1.001 a 1.009 do CC); administração, quóruns e relações com terceiros; resolução da sociedade quanto a um sócio; dissolução.
Ressalva-se a liquidação, porque o mesmo art. 996 do CC especifica que ela deve ocorrer com uso das regras processuais da prestação de contas (arts. 550 e seguintes do CPC).
Jurisprudência
STJ – REsp nº 1.230.981 – 3ª T. – Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze: “2. Apesar de despersonificadas, as sociedades em conta de participação decorrem da União de esforços, com compartilhamento de responsabilidades, comunhão de finalidade econômica e existência de um patrimônio especial garantidor das obrigações assumidas no exercício da empresa. 3. Não há diferença ontológica entre as sociedades em conta de participação e os demais tipos societários personificados, distinguindo-se quanto aos efeitos jurídicos unicamente em razão da dispensa de formalidades legais para sua constituição. 4. A dissolução de sociedade, prevista no art. 1.034 do CC/2002, aplica-se subsidiariamente às sociedades em conta de participação, enquanto ato inicial que rompe o vínculo jurídico entre os sócios”.
STJ – REsp nº 192.603 – 4ª T. – Rel. Min. Barros Monteiro: “Sociedade em conta de participação. Responsabilidade perante terceiros. Sócio ostensivo. ‘Na sociedade em conta de participação, o sócio ostensivo é quem se obriga para com terceiros pelos resultados das transações e das obrigações sociais, realizadas ou empreendidas em decorrência da sociedade, nunca o sócio participante ou oculto que nem é conhecido dos terceiros nem com estes nada trata’ (REsp 168.028/SP)”.
TJSP – AC 9217063-28.2005.8.26.0000 – 10ª CDPriv. – Rel. Des. João Carlos Saletti: “Contrato. Sociedade em conta de participação. Objetivo: aquisição, reforma ou construção de imóvel. Não configuração da sociedade assim regulada pelo Código Civil (art. 991 do Código Civil). Dissimulação de consórcio. Não liberação do crédito após pagamento de 24 parcelas. Rescisão por culpa exclusiva da ré, com devolução de todos os valores pagos, sem direito à retenção, por abusivas as cláusulas. Consumidor em nítida desvantagem frente à sociedade. Cláusulas de retenção abusivas”.
Bibliografia: ANDRADE, Fábio Martins. Da sociedade em conta de participação. RDP 33. jan.-mar. 2008. BRANCHER, Paulo M. R. Sociedade em conta de participação. In: COELHO, Fabio Ulhoa. Tratado de direito comercial. v. 2. São Paulo: Saraiva, 2015. FRANÇA, Erasmo Valladão A. N. A sociedade em comum. São Paulo: Malheiros, 2013. GALIZZI, Gustavo Oliva. Sociedade em conta de participação. Belo Horizonte: Mandamentos, 2008. GALIZZI, Gustavo Oliva. A sociedade em conta de participação como subespécie do gênero joint venture. RDM, 135. GONÇALVES NETO, Alfredo Assis. Direito de empresa: comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código Civil. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. HILDEBRAND, Lucas Fajardo Nunes. Patrimônio, patrimônio separado ou especial, patrimônio autônomo. In: FRANÇA, Erasmo Valladão A. N. (coord.). Direito societário contemporâneo I. São Paulo: Quartier Latin, 2009. PICHI, Flavio Augusto. A sociedade em conta de participação e os contratos de investimento coletivo: paralelismo e assimetria. RDM, 134. MACHADO, Sylvio Marcondes. Problemas de direito mercantil. São Paulo: Max Limonad, 1970. ROCHA, João Luiz Coelho da. Conta de participação, consórcio e parceria – formas associativas não personalizadas. RDM, 105/97. SCALZILLI, João Pedro; SPINELLI, Luis Felipe. Sociedade em conta de participação. São Paulo: Quartier Latin, 2014.
___________
1Ressalve-se que, somente para fins de tributação, a sociedade em conta de participação é equiparada às pessoas jurídica, de modo que o fisco possa fazer incidir os tributos devidos. É o que se colhe do Regulamento de Imposto de Renda (RIR), Decreto nº 9.580/2018, nos arts. 160 e 161. Pelo art. 269 do mesmo regulamento administrativo, a escrituração das operações de sociedade em conta de participação deverá ser feita em livros próprios. Demais disso, “o prejuízo fiscal apurado por sociedade em conta de participação somente poderá ser compensado com o lucro real decorrente da mesma sociedade”, vedando-se “a compensação de prejuízos fiscais e lucros entre duas ou mais sociedades em conta de participação ou entre estas e o sócio ostensivo” (art. 586 do RIR).
§6
SOCIEDADE SIMPLES
1.CONCEITO, FUNÇÃO E CARACTERÍSTICAS
A sociedade simples foi opção do legislador civil, que rompeu com a dupla dicotomia das sociedades no sistema anterior: sociedades comerciais e sociedades civis e, quanto a estas, sociedades civis com fins lucrativos e sociedades civis sem fins lucrativos. A diferenciação era incerta e o histórico jurisprudencial facilmente nos noticia diversos e insolúveis problemas. Há maior clareza: as associações não têm fins lucrativos; as sociedades, agora, são empresárias ou simples (não empresárias).
O modelo veio do direito comparado. Seguiram-se os art. 2.295 e 2.315 do Código Civil italiano, que por sua vez se inspirou na einfache Gesellschaft (eG) dos arts. 530 a 551 do schweizerichen Obligationenrechts (OR), Código Suíço.
Conceito
A sociedade simples é sociedade personificada e não empresária(a), que tem por função organizar(b) as atividades intelectuais, de natureza científica, literária ou artística que não acompanham elemento de empresa. Além disso, a sociedade simples tem uma função sistêmica de ser a provedora das regras para os demais tipos societários(c).
Não empresária
(a) A função material da sociedade simples é servir de instrumento societário para as pessoas que querem se unir por contrato de sociedade e desempenhar atividade não empresarial (art. 966, parágrafo único, CC). Portanto, atividades de médicos, arquitetos, farmacêuticos, dentre outros, enquanto ficarem restritas ao conteúdo intelectual da profissão – e não forem subsumidas pela atividade empresarial – serão organizadas em sociedade simples.
Organização
(b) A sociedade simples também é organização [t. I, §5, i. 2], mas não se mostra apta a colocar fatores de produção uns em função dos outros, mas sim permitir o exercício de um fim comum baseado em profissão intelectual, científica, literária ou artística. O reconhecimento da competência profissional já se deu, inclusive, no âmbito do STJ, como se constata no REsp nº 958.116, relatado pelo Min. RAUL ARAÚJO: “Esse tipo de sociedade, como se sabe, caracteriza-se, normalmente, por não demandar a reunião de grandes capitais financeiros, na medida em que baseia suas atividades nos conhecimentos técnico-científicos dos profissionais que reúne, seja como sócios ou como empregados, os quais poderiam atuar individualmente como profissionais liberais, mas optam pelo exercício profissional em sociedade. Essas sociedades oferecem serviços profissionais à clientela e, com isso, uma vez contratadas, vão acumulando acervo de conhecimentos técnicos, ou seja, expertise, com os serviços realizados”.
Provedora
(c) Além de ser, por essência, a sociedade não empresária, as regras das sociedades simples ainda têm a função de serem provedoras do sistema societário brasileiro, servindo como regramento supletivo para os demais tipos[t. II, §3, i. 2.3.]. Estudam-se as regras da sociedade simples para elas próprias e para as demais. Diversos preceitos do CC remetem ao conteúdo da sociedade simples como supletivos, como é o caso dos arts. 982, parágrafo único, 986, 996, 1.040, 1.046, 1.053 e 1.096. Quando não o fazem, aplicam-se as regras com analogia.
Cabe ressalvar, todavia, que a sociedade simples poderá constituir-se de conformidade com um dos tipos das sociedades empresárias (menos a sociedade anônima). Isso quer dizer que a sociedade simples ser pura ou se alimentar de regras dos demais tipos. Admite-se, então, a sociedade simples limitada, com regras de limitação de responsabilidade de sócio ao capital integralizado.
Jurisprudência
STJ – AgRg-Ag-REsp nº 792.878 – 2ª T. – Rel. Min. Humberto Martins – DJe 14.12.2015: “(...)2. ‘A forma societária limitada não é o elemento axial ou decisivo para se definir o sistema de tributação do ISS, porquanto, na verdade, o ponto nodal para esta definição é a circunstância, acolhida no acórdão, que as profissionais [...] exercem direta e pessoalmente a prestação dos serviços’ (AgRg-AREsp 519.194/AM, Relª p/ Ac. Min. Regina Helena Costa, DJe 13.08.2015). 3. No caso dos autos, não obstante a agravante ser uma sociedade limitada, o Tribunal de origem assentou que se ela se dedica, precipuamente, à exploração do ofício intelectual de seus sócios, de forma pessoal, sem caráter empresarial, razão pela qual é cabível o benefício da tributação por alíquota fixa do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN). Agravo regimental provido”.
STJ – REsp nº 1.227.240 – 2ª T. – Rel. Min. Luis Felipe Salomão – J. 26.05.2015: “(...) De acordo com o Código Civil, as sociedades podem ser de duas categorias: simples e empresárias. Ambas exploram atividade econômica e objetivam o lucro. A diferença entre elas reside no fato de a sociedade simples explorar atividade não empresarial, tais como as atividades intelectuais, enquanto a sociedade empresária explora atividade econômica empresarial, marcada pela organização dos fatores de produção (art. 982, CC) (...)”.
2.CONSTITUIÇÃO, FORMAÇÃO E CONTRATO SOCIAL
A constituição da personalidade jurídica da sociedade simples se dá com a inscrição no registro não empresarial, junto aos Cartórios de Registro de Pessoas Jurídicas, conforme art. 998 do CC [t. I, §6, i. 2]. Se não registrar, a sociedade fica sujeita às regras das sociedades em comum [t. II, §4].
Além disso, o art. 997 do CC determina o conteúdo do contrato social, particular ou público, que, além de cláusulas pactuadas entre as partes, deverá conter:
I – nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas: a qualificação das partes não é descrição inócua, já que por meio desse conteúdo identificam-se as pessoas com status socii [t. II, §3, i. 3.3.4.], além da capacidade, nacionalidade, estado civil para os fins do art. 977 do CC e impedimentos para exercício da administração previsto no art. 1.011, §1º, do CC. Verifica-se, ainda, que são admitidas pessoas jurídicas como sócias. Tal possibilidade repercute nos demais tipos societários, ressalvado o sócio comanditado em sociedade em comandita simples, que deve ser pessoa física (art. 1.045 do CC).
II – denominação, objeto, sede e prazo da sociedade: a denominação é a designação do nome sob o qual opera a sociedade, com tratamento equiparado ao de nome empresarial, conforme art. 1.155, parágrafo único, do CC. O objeto não empresarial deverá ser especificado sob a qualificação da licitude, precisão e não empresarialidade. Por fim, o dispositivo indica serem admitidas sociedades de tempo indeterminado e determinado. Nesse último caso, podem ser sociedades com objeto social determinado ou específico, com exaurimento assim que executado referido objeto ou no prazo que se espera adequado para a sua finalização.
III – capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária: apesar de admitir sócios de serviços, a sociedade simples deve apresentar o valor do capital [t. II, §3, i. 4.1.] e a integralização pode se dar com bens. O capital poderá ser medida de atribuição de poder societário, além de ser instrumento de limitação de responsabilidade, caso sejam adotadas regras da sociedade limitada na composição do ordenamento patrimonial.
IV – a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la: a quota é bem móvel de propriedade do sócio. Uma vez subscrita ou prometida pelo sócio, deve ser integralizada ou realizada, por meio do aporte de capital prometido pelo sócio. Se o capital prometido não é realizado, há consequências para a sócio, que passa a ser qualificado como remisso, com aplicação do art. 1.004 do CC.
V – as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços: a sociedade simples admite o sócio de serviços, devendo o contrato descrever com exatidão em que consiste tal prestação prometida. O trabalho a ser desempenhado pelo sócio terá vinculação com a atividade não empresarial desempenhada pela sociedade e não inibe direitos políticos dos sócios. A dificuldade está mensuração da participação do sócio de serviços nos lucros, até pela confusa redação do art. 1.007 do CC: “(...) aquele, cuja contribuição consiste em serviços, somente participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas”. Outra anotação importante é que tal dispositivo não se aplica às sociedades limitadas, que não admitem sócios de serviços (art. 1.055, § 2º, do CC).
Interessante a perspectiva do valor do serviço intelectual na sociedade simples, expresso no REsp nº 958.116, do STJ, relatado pelo Min. RAUL ARAÚJO: “Com efeito, o acervo imaterial agregado ao patrimônio material de uma sociedade civil (atual sociedade simples) de profissionais especializados decorre de acumulação de méritos, traduzidos na experiência reunida com os serviços prestados com êxito à clientela (que não é mera freguesia), refletindo confiança para todos. Não há, dessa maneira, propriamente fundo de comércio, mas um acervo técnico acumulado”.
VI – as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições: o contrato deve designar pessoas naturais incumbidas da administração, que podem atuar de forma disjuntiva ou coletiva. Ainda que haja sócio pessoa jurídica, não se admite administrador pessoa jurídica, que deverá designar a pessoa física ou natural que cuida das funções administrativas da sociedade [t. II, §3, i. 5.1.].
VII – a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas: a participação nos lucros e perdas normalmente é estimada pela proporcionalidade das quotas de participação no capital social (art. 1.007, caput, primeira parte, do CC). Todavia, a distribuição poderá levar em consideração a participação do sócio de serviços, com base de cálculo distinta do capital e mensuração apurada com base no trabalho descrito no contrato social. A questão remonta a dificuldade de calcular o significado do art. 1.007, caput, segunda parte do CC, especialmente na determinação da proporção da média do valor das quotas para a participação nos lucros do sócio de serviços. Em geral, interpreta-se que ao sócio de serviços são atribuídas quotas, de certa maneira referenciadas em relação às quotas de capital, com possibilidade de remuneração proporcional quanto a essa participação.
Não distribuir lucros ou proteger sócio de arcar com prejuízos implica nulidade da cláusula (art. 1.008 do CC)
VIII – se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais: a regra da sociedade simples é a subsidiariedade e o benefício de ordem, ou seja, “os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais” (art. 1.024 do CC). Entretanto, a sociedade simples poderá adotar o modelo da sociedade limitada, romper com essa regra geral e determinar que os sócios respondem somente nos limites docapital social integralizado.
Integra a redação do dispositivo, ainda, a previsão do parágrafo único, que prevê a ineficácia de pactos separados em relação a terceiros e que sejam contrários ao disposto no contrato. Em verdade, o dispositivo não é a negativa dos pactos parassociais ou acordos de sócios em relação às sociedades, com aplicação analógica do art. 118 da LSA. Ao contrário, tais contratos são admissíveis, desde que não contrariem a essência do contrato social e das características do tipo, além de não produzirem efeitos em relação a terceiros não sócios.
3.DIREITOS E OBRIGAÇÕES DOS SÓCIOS
Além da moldura do status socii pelo tipo [t. II, §3, i. 3.3.4.], é preciso ainda especificar para as sociedades simples algumas peculiaridades – que, de certa maneira, podem repercutir em outros tipos societários.
Os direitos dos sócios iniciam com o contrato, se este não fixar outra data – e não com o registro. É o que dispõe o art. 1.001 do CC, de modo que os direitos e obrigações decorrentes da adquirida condição de sócio começam com a adesão à sociedade. Se ela não for registrada, por conseguinte, avocam-se as regras da sociedade em comum, especialmente na questão da responsabilidade. Além disso, a contratação da sociedade perdurará até a liquidação e extinção de todas as responsabilidades sociais. Por esse motivo que se discute, sob o ponto de vista dos credores, a regularidade da liquidação como fator de inibição da responsabilidade pessoal do sócio [t. II, §3, i. 3.7.].
Fixado o termo inicial dos direitos e obrigações, a legislação fixa três grupos de regras: (a) personalismo das obrigações; (b) cumprimento das obrigações prometidas; (c) distribuição de resultados.
(a) Nesse tipo de sociedade, muitas das obrigações dos sócios são contraídas com personalismo e devem ser por eles executadas. Esse o sentido do que dispõe o art. 1.002 do CC, ao prever que o “sócio não pode ser substituído no exercício das suas funções, sem o consentimento dos demais sócios, expresso em modificação do contrato social”.
Tal personalismo se constata até o momento da saída do sócio, porque a eficácia da cessão de quota, total ou parcial, somente ocorre com a modificação do contrato e respectivo consentimento dos demais sócios. Antes disso, a cessão não produz efeitos e o sócio continua com os mesmos direitos e obrigações perante a sociedade, tal é a previsão do art. 1.003, caput, do CC. Acontece que a legislação ainda fixou solidariedade e prazo prescricional em relação ao cedente de quotas, conforme parágrafo único do mesmo art. 1.003: “Até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio”. Portanto, o sócio cedente de suas quotas na sociedade continua por dois anos, contados da data da alteração na Junta Comercial (que dá publicidade e conhecimento a terceiros), solidariamente responsável com os sócios cessionários, pelas dívidas e obrigações sociais existentes na época de sua retirada. Por extensão de raciocínio, a cessão das quotas desobriga o sócio cedente das obrigações contraídas pela sociedade posteriormente à averbação da modificação do contrato social. Tal regra é confirmada pelo art. 1.032 do CC: “A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a averbação”.
Com relação ao sócio ingressante na sociedade, ele não poderá se eximir das dívidas anteriores à sua admissão no quadro de sócios (art. 1.025 do CC), já que ele ter obrigação de conhecer a situação econômico financeira, realizando o chamado due diligence, da sociedade em pretende atuar.
(b) Outro conjunto de regras é cumprimento de obrigações prometidas. Ao ingressar na sociedade, o sócio subscreve (promete) a realização de quotas de capital ou de serviços (ressalvando-se os tipos que admitem essa condição).
No caso das quotas de capital, a integralização é fundamento sine qua non do benefício da limitação de responsabilidade. Por isso é grave, perante a sociedade, a condição do sócio que não cumpre a obrigação de realização do capital. Sob o ponto de vista do contrato plurilateral e da impossibilidade de aplicação da exceptio non adimplenti contractus [t. II, §3, i. 3.3.1.], exsurge a consequência da qualificação do sócio como remisso. Nesse sentido, o art. 1.004 do CC prevê a constituição em mora por meio de notificação com antecedência de 30 dias e, caso persista o inadimplemento, o sócio responderá perante pelo dano emergente. Consolidada a mora, surge ao quórum da maioria dos demais sócios optar pela indenização, exclusão do sócio remisso, ou reduzir da quota a montante eventualmente já realizado, aplicando-se no § 1º do art. 1.031 do CC. Ressalva importante é que o dispositivo se aplica também aos demais tipos societários com limitação de responsabilidade a capital integralização, mas nas sociedades limitada ainda existe o conteúdo do art. 1.058 do CC, que permite aos outros sócios tomar as quotas para si ou transferi-las a terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago.
Se a contribuição do consistir em transferência de domínio, posse ou uso de bem, responderá ele pela evicção; e pela solvência do devedor, aquele que transferir crédito (art. 1.005 do CC). Tal conteúdo pode ser lido em conjunto com os arts. 7º a 10 da LSA.
Esse grupo de regras de obrigações prometidas ainda cuida da contribuição do sócio de serviços e da lealdade [t. II, §3, i. 3.3.3.] que dele se espera no desempenho desse trabalho em prol da sociedade e sem se empregar de atividade estranha, sob pena de ser privado de seus lucros e dela excluído (art. 1.006 do CC).
(c) Finalmente, o CC cuida da distribuição de resultados, porque os sócios participam dos lucros e das perdas na proporção das quotas, conforme previsão do contrato social (art. 997, VII, do CC). A complexidade está no conteúdo final do art. 1.007 do CC, no que concerne ao sócio de serviços, porque ele deve participar dos “lucros na proporção da média do valor das quotas”. Interpreta-se que ao sócio de serviços são atribuídas quotas, referenciadas em relação às quotas de capital, com possibilidade de remuneração proporcional quanto a essa participação.
Conforme já se deduziu [t. II, §3, i. 3.3.], é da essência do contrato de sociedade que todos os sócios concorram para arcar com os prejuízos e também receber os lucros da atividade. Por afetar a essência do contrato de sociedade e lhe suprimir um dos elementos essenciais, é nula a cláusula contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas (art. 1.008 do CC), com caracterização do que se pode chamar de sociedade leonina. Muitas vezes esse tipo de estipulação não vem explicitada com a simples exclusão das perdas, mas pode vir disfarçada como mútuo se, por exemplo, ao sócio é permitido se retirar da sociedade após algum tempo, retirando o capital integralizado com juros e correção monetária. Tal conteúdo afronta a essência do contrato de sociedade e é nulo com base no art. 1.008 e 1.031 do CC.
O sócio deve responder pelos prejuízos da sociedade e somente pode receber lucros se eles efetivamente se concretizaram no exercício social. A distribuição de lucros ilícitos ou fictícios acarreta responsabilidade solidária dos administradores que a realizarem e dos sócios que os receberem, conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade (art. 1.009 do CC).
Ademais, nas sociedades simples a regra é a responsabilidade subsidiária por débitos, havendo o benefício de ordem de execução dos débitos recaindo primeiro sobre os bens sociais, para depois se buscarem bens dos sócios. Ressalvam-se os casos de adoção do modelo de responsabilidade limitada (arts. 1.023 e 1.024 do CC).
Jurisprudência
STJ – REsp nº 1.537.521 – 3ª T. – Rel. Min. Villas Bôas Cueva – j. 11/02/2019: Para orelator do recurso no STJ, ministro Villas Bôas Cueva, a solução da questão passa pela interpretação dos artigos 1.003, 1.032 e 1.057 do CC: “A interpretação dos dispositivos legais transcritos conduz à conclusão de que, na hipótese de cessão de cotas sociais, a responsabilidade do cedente pelo prazo de até dois anos após a averbação da modificação contratual restringe-se às obrigações sociais contraídas no período em que ele ainda ostentava a qualidade de sócio, ou seja, antes da sua retirada da sociedade”.
STJ – REsp nº 1.348.449 – 4ª T. – Rel. Min. Luis Felipe Salomão – DJe 04.06.2013: “(...) 1. A desconsideração da personalidade jurídica é técnica consistente na ineficácia relativa da própria pessoa jurídica – rectius, ineficácia do contrato ou estatuto social da empresa –, frente a credores cujos direitos não são satisfeitos, mercê da autonomia patrimonial criada pelos atos constitutivos da sociedade. 2. Ao se pleitear a superação da pessoa jurídica, depois de verificado o preenchimento dos requisitos autorizadores da medida, é exercido verdadeiro direito potestativo de ingerência na esfera jurídica de terceiros – da sociedade e dos sócios –, os quais, inicialmente, pactuaram pela separação patrimonial. 3. Correspondendo a direito potestativo, sujeito a prazo decadencial, para cujo exercício a lei não previu prazo especial, prevalece a regra geral da inesgotabilidade ou da perpetuidade, segundo a qual os direitos não se extinguem pelo não uso. Assim, à míngua de previsão legal, o pedido de desconsideração da personalidade jurídica, quando preenchidos os requisitos da medida, poderá ser realizado a qualquer tempo. 4. Descabe, por ampliação ou analogia, sem qualquer previsão legal, trazer para a desconsideração da personalidade jurídica os prazos prescricionais previstos para os casos de retirada de sócio da sociedade (arts. 1003, 1.032 e 1.057 do Código Civil), uma vez que institutos diversos. 5. ‘Do encerramento irregular da empresa presume-se o abuso da personalidade jurídica, seja pelo desvio de finalidade, seja pela confusão patrimonial, apto a embasar o deferimento da desconsideração da personalidade jurídica da empresa, para se buscar o patrimônio individual de seu sócio’ (REsp 1259066/SP, Relª Min. Nancy Andrighi, DJe 28.06.2012). (...)”.
STJ – AgRg-REsp nº 617.281 – 5ª T. – Rel. Min. Gilson Dipp – DJU 24.05.2004: “A obrigação decorrente da fiança locatícia deve se restringir ao prazo originalmente contratado, descabendo se exigir do garantidor o adimplemento de débitos que pertinem ao período de prorrogação da locação, à qual não anuiu, consoante a regra dos arts. 1.003 e 1.006 do Estatuto Civil. (...)”.
4.ADMINISTRAÇÃO
Os fundamentos da administração já foram descritos em teoria geral e aqui podem ser reiterados [t. II, §3, i. 5]. Especificam-se, entretanto, alguns pontos de relevo para as sociedades simples – muitas vezes aplicáveis aos demais tipos. Nesse sentido, é preciso constatar que a Seção III do Capítulo que cuida das sociedades simples no Código Civil é intitulado “Da Administração”, mas também cuida de tema atinente ao órgão deliberativo da sociedade. Afirma MARCELO VIEIRA VON ADAMEK que órgão é “centro de imputação de poderes funcionais exercidos, por um ou mais indivíduos que nele estejam investidos, para formar e manifestar a vontade juridicamente imputável à pessoa jurídica” (ADAMEK, 2009, p. 11).
4.1.Reunião de sócios (órgão deliberativo)
O art. 1.010 do CC é relevante na determinação do órgão de deliberação e também na definição do quórum de maioria absoluta para a sociedade simples e para os demais tipos societários do CC.
Em regra, se o contrato ou a lei nada especificarem, o quórum é da maioria de votos, contados segundo as quotas de cada um. Para a formação da maioria absoluta são necessários votos correspondentes a mais de metade do capital. É o que se extrai do art. 1.010, no caput e no § 1º, que deve ser interpretado em conjunto com o art. 999, segunda parte, do CC. A lei ainda define o critério de desempate nas deliberações: prevalece a decisão sufragada por maior número de sócios, contados por cabeça, e, se persistir o empate, caberá a decisão ao Juiz competente para a causa (art. 1.010, § 2º, do CC) ou então por arbitragem, caso haja cláusula compromissória.
Entre os casos previstos na lei, está o quórum da unanimidade para a deliberação que modifique o contrato social (art. 999, primeira parte, do CC).
Problema que de certa celeuma é a aferição da participação do sócio cuja quota consista em serviços. O art. 997, inciso V, do CC, determina que sejam especificadas as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços. Nesse sentido, atribuem-se-lhe quotas, que terão a mensuração de valor para os fins de determinação do poder político do sócio de serviços dentro das deliberações. Isso porque ele não pode ser afastado do direito essencial de participação das decisões da sociedade.
Ainda é definido um critério geral de reparação por conflito de interesses [t. II, §3, i. 3.4.] no art. 1.010, § 3º, do CC, que prevê responsabilidade por perdas e danos ao sócio que, tendo em alguma operação interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a aprove graças a seu voto.
Em linhas gerais, então, é possível delinear um quadro de quóruns da sociedade simples:
Unanimidade: art. 999, primeira parte, do CC ou previsão especifica no contrato; deliberação de dissolução da sociedade do art. 1.033, inciso II, do CC.
Maioria absoluta (quórum geral e residual, para todas as matérias): Art. 999, segunda parte e art. 1.010 do CC. Art. 1.033, inciso III, no caso de deliberação de dissolução em sociedades de prazo indeterminado. Art. 1.038, caput e § 1º, inciso I, do CC, para a nomeação e destituição de liquidante.
Maioria dos demais sócios (quórum específico, que implica exclusão da deliberação de um sócio que tenha interesse direto na matéria): É o caso das consequências para o sócio remisso: art. 1.004, parágrafo único, do CC e da exclusão do sócio do art. 1.030 do CC.
Maioria dos sócios (mensurado pelo número de sócios e não pela participação no capital): art. 1.015 do CC, com relação à venda de imóvel.
4.2.Administração
As constatações de teoria geral são aqui aplicáveis [t. II, §3, i. 5.1.], porque o administrador é órgão que pratica os atos pertinentes à gestão da sociedade, ressalvada a venda de imóveis, que dependo do que maioria dos sócios decidir (art. 1.015 do CC). O administrador é a pessoa que deverá ter atuação com cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios (art. 1.011 do CC), com vistas ao cumprimento do objeto social. Deriva de tal padrão de conduta o dever de prestação de contas aos sócios (arts. 1.020 e 1.021 do CC).
Também nesse ponto se remontam os raciocínios de administração disjuntiva e administração conjunta, já tratados na teoria geral e aplicáveis em razão do conteúdo dos arts. 1.013 e 1.014 do CC, além dos critérios de imputação de responsabilidade pessoal, especificados nos arts. 1.009, 1.016 e 1.017 do CC.
O que pode ser especificado é o personalismo da administração, que veda a substituição do administrador – nomeado no contrato ou em ato em separado – no exercício de suas funções. Tal proibição não inibe a possibilidade de nomeação de procurador, com outorga de mandato para a prática de atos especificados no instrumento (art. 1.018 do CC). Diferente do administrador, que é órgão da sociedade e tem obrigações especificadas na legislação, o procurador atua por força de mandato e com obrigações contratuais derivadas da característica desse negócio jurídico.
Por fim, a destituição do administrador em sociedades simples atende ao comando do art. 1.019 do CC, que prevê dois sistemas: (a) irrevogabilidade de poderes de sócios investidos na administração pelo contrato, salvo justa causa reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios; (b) revogabilidade dos poderes conferidos a sócio ou não sócio por ato separado. No primeiro caso, ao tirardos sócios o poder de decidir pela destituição de administrador, a legislação criou extrema dificuldade para os negócios das sociedades simples, apegadas que estão à unanimidade e à solução final pelo Poder Judiciário.
5.RESOLUÇÃO DA SOCIEDADE EM RELAÇÃO A UM SÓCIO
Depois de grandes e profundas discussões doutrinárias a respeito da dissolução da sociedade e a sua evolução jurisprudencial para a dissolução parcial, o Código Civil melhorou a técnica e o tratamento dos casos de saída de sócio e continuidade da sociedade. A partir do CC, não se falava mais dissolução parcial da sociedade, mas sim em resolução da sociedade em relação a um sócio, com as três hipóteses específicas e corriqueiras para os casos (morte, retirada e exclusão), além de especificação de critérios de apuração de haveres e responsabilidade posterior à saída.
Acontece que o advento de nova codificação processual civil retrocedeu o avanço da legislação de direito material e trouxe de volta a dissolução parcial da sociedade (arts. 599 a 609 do CPC), com certas diferenças de regulação em relação à resolução quanto a um sócio do CC (arts. 1.028 a 1.030), conforme já observamos nessa obra [t. II, §3, i. 3.7.1.].
5.1.Morte
Em razão das características de personalismo da sociedade simples, em regra deve ocorrer a resolução da sociedade em relação às quotas do sócio falecido (art. 1.028, caput, do CC), com pagamento dos haveres na forma do art. 1.031 do CC, tomando-se por base a data da abertura da sucessão (art. 1.784 do CC) para apuração do valor da participação do falecido. Entretanto, há três ressalvas:
I – se o contrato dispuser diferentemente: nesse caso, os sócios contratam ou deliberam alteração de contrato que implica aceitação dos herdeiros do sócio falecido na sociedade. Ainda assim, é possível que, depois do falecimento, os sócios por unanimidade não admitam os herdeiros na sociedade, prevalecendo essa última manifestação.
II – se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade: nesse caso, ao invés da admissão do sócio, opta-se por dissolver a sociedade, sem continuidade das atividades. Normalmente é a alternativa adotada quando o pagamento dos haveres aos herdeiros do falecido implica descapitalização da sociedade, a ponto de inviabilizá-la.
III – se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido: é possível, ainda, que ocorra composição de interesses para que o sócio falecido seja substituído por herdeiro ou até mesmo por terceiro adquirente das quotas, caso haja consenso para tal finalidade (GONÇALVES NETO, 2012, p. 277).
Jurisprudência
STJ – 3ª T. – REsp nº 1.422.934 – Rel. p/ Acórdão Min. João Otávio de Noronha – j. 14/10/2014: “(...) 1. Ação declaratória de inexistência de relação jurídico-societária ajuizada em 30/3/2007. 2. Demanda em que se discute a possibilidade de o espólio do sócio falecido exercer a função de sócio ante a alteração do contrato social, firmada pelo sócio remanescente e pelo inventariante, há mais de 16 anos. 3. O falecimento de sócio, em regra, dissolve parcialmente a sociedade por quotas de responsabilidade limitada, hipótese em que caberá ao espólio, representado pelo inventariante, administração transitória das quotas enquanto se apuram os haveres e a divisão do espólio (art. 993, parágrafo único, II, do CPC). 4. Resguarda o art. 1.028, III, do CC/02, em observância ao princípio da preservação da empresa, a possibilidade de os sócios remanescentes e herdeiros acordarem a substituição do sócio falecido. 5. A inclusão do espólio no contrato social, mediante alteração contratual arquivada na junta comercial competente, e o regular exercício da atividade empresarial sob o novo quadro societário ao longo de 16 anos denotam a concreta intenção das partes de ajustarem a sucessão do sócio falecido. 6. A ausência de capacidade de uma das partes, in casu, o espólio, não pode ser suscitada pela contraparte, que efetivamente se beneficiou da contratação e conhecia a situação desde o início, sob pena de violação da boa-fé objetiva”.
5.2.Retirada
A resolução também pode se dar com o pedido de retirada do sócio, que atende ao preceito constitucional de que ninguém é obrigado a se associar ou permanecer associado (art. 5º, XX, da CF). O art. 1.029 do CC destaca duas hipóteses vinculadas ao prazo da sociedade:
(a) Se a sociedade for de prazo indeterminado, deve ocorrer notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de 60 dias, comunicando a retirada. Tal prazo tem a função de permitir o levantamento de balanço especial para apuração de haveres do sócio retirada. Além disso, cuida-se de prazo mínimo, nada impedindo que seja ampliado por cláusula contratual.
(b) Se a sociedade é de prazo determinado, presume legítima expectativa dos demais sócios de que aquele quadro societário e de estrutura de capital permanecerá durante o interregno pactuado. Portanto, o legislador somente admite a retirada se provada judicialmente a justa causa para tal mister. ALFREDO ASSIS GONÇALVES NETO enumera entre hipóteses de justa causa o desentendimento entre os sócios, prática de ilícitos por administradores, inexequibilidade dos fins sociais (GONÇALVES NETO, 2012, p. 279).
Feita a notificação, nos 30 dias subsequentes à notificação, os demais sócios podem ainda optar pela dissolução da sociedade.
5.3.Exclusão
A exclusão está prevista no art. 1.030 do CC e, além da hipótese de sócio remisso do art. 1.004 do CC, ainda contempla o caso de falta grave no cumprimento das obrigações de sócio e incapacidade superveniente.
Nas sociedades simples (e demais que usam a regra supletivamente), a exclusão de sócio depende de prévia deliberação tomada pela maioria dos demais sócios em conclave convocada para esse fim específico, incluindo o direito de defesa do sócio a ser excluído. Uma vez aprovada a deliberação para exclusão, o iter de resolução da sociedade dependente do ajuizamento de ação de exclusão.
5.4.Apuração de haveres
Ante a revogação tácita do caput do art. o 1.031 do CC pelo art. 606 do CPC [t. II, §3, i. 3.7.3.] para processos judiciais, a resolução da sociedade simples quanto a um sócio provoca a apuração dos haveres devidos ao sócio falecido, retirante ou excluído, considerando-se a data da resolução como a base para tal cálculo. Segundo dispõe o art. 605 do CPC, a data da resolução da sociedade será: I – no caso de falecimento do sócio, a do óbito; II – na retirada imotivada, o sexagésimo dia seguinte ao do recebimento, pela sociedade, da notificação do sócio retirante; III – no recesso, o dia do recebimento, pela sociedade, da notificação do sócio dissidente; IV – na retirada por justa causa de sociedade por prazo determinado e na exclusão judicial de sócio, a do trânsito em julgado da decisão que dissolver a sociedade; e V – na exclusão extrajudicial, a data da assembleia ou da reunião de sócios que a tiver deliberado.
Assim, criam-se as condições para a apuração de haveres, que é o levantamento patrimonial para aferir o valor da participação do sócio, baseando-se em dados contábeis, avaliação de ativo e cálculo do passivo.
Se o contrato for silente quanto a critérios, o art. 606 do CPC determina que cabe ao juiz definir a forma de apuração dos haveres, segundo “o valor patrimonial apurado em balanço de determinação, tomando-se por referência a data da resolução e avaliando-se bens e direitos do ativo, tangíveis e intangíveis, a preço de saída, além do passivo também a ser apurado de igual forma”.
Jurisprudência
STJ – REsp nº 958.116 – Rel. Min. João Otávio de Noronha – J. 22/05/2012: “Recurso Especial. Ação de apuração de haveres. Resolução da sociedade em relação a um sócio. Sociedade não empresária. Prestação de serviços intelectuais na área de engenharia. Fundo de comércio. Não caracterização. Exclusão dos bens incorpóreos do cálculo dos haveres”.
6.DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO
Já se observou que a dissolução é a causa da extinção e pode se dar de pleno direito (art. 1.033 do CC) e judicial (art. 1.034 do CC) [t. II, §3, i. 3.7.3.].
De pleno direito a sociedade simplesse dissolve quando ocorrer:
I – o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado: são admitidas as sociedades contratadas por tempo determinado. Implementado o termo e findo o prazo, a sociedade pode se dissolver, a não ser que os sócios não iniciem os atos de liquidação, prorrogando a eficácia do contrato por tempo indeterminado.
II – o consenso unânime dos sócios: a unanimidade é o quórum das alterações estruturais da sociedade e da alteração do contrato social (art. 999 do CC). Se há consenso unânime, os sócios podem também deliberar pela dissolução e liquidação da sociedade simples.
III – a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado: o quórum da maioria absoluta é definido pelo art. 1.010, § 1º, do CC e essa deliberação poderá ser tomada com o objetivo de dissolver a sociedade. Os sócios dissidentes e minoritários, nesse caso, poderiam continuar a atividade? Entende-se que não, porque a deliberação teve por objetivo a dissolução e a liquidação, determinando que os negócios devem ser ultimados e os acervos distribuídos entre os sócios.
IV – a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias: cuida-se do caso de unipessoalidade temporária já estudado [t. I, §3, i. 3.2.]. O mesmo art. 1.033, no parágrafo único, com vistas ao princípio da preservação da empresa [t. I, §2, i. 2.3.], prevê a transformação da sociedade em EIRELI em caso de falta de recomposição da pluralidade.
V – a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar: há sociedades que dependem de autorização do Poder Executivo para funcionamento (arts. 1.123 e seguintes do CC e legislação especial). Uma vez que ocorra a extinção de tal ato administrativo de autorização, há causa de dissolução da sociedade.
Por outro lado, a sociedade simples se dissolve judicial uma vez identificadas as causas do art. 1.034 do CC, que são:
I – anulação da constituição: a anulação da constituição da sociedade tem relação com o reconhecimento de invalidade do contrato social, com declaração de anulabilidade, mas também de nulidade devem ser reconhecidas em processo judicial que faz iniciar a dissolução societária. Serão discutidos no processo a ausência de elementos essenciais do contrato de sociedade, como a capacidade das partes, simulação e a licitude do objeto, para eventual pronúncia de nulidade. Ainda, a ocorrência de defeitos do negócio jurídico também podem ser discutidas e provocar a anulabilidade. Entende Alfredo Assis Gonçalvez Neto que “os efeitos da anulação produzem-se ex nunc; já os da nulidade produzem-se (i) ex nunc, relativamente aos atos decorrentes do exercício da atividade por ela até então desenvolvida, e (ii) ex tunc naquilo que diga respeito ao seu regime jurídico peculiar (limitação de responsabilidade, direito a resultados etc.) (GONÇALVES NETO, 2012, p. 307).
II – exaurido o fim social, ou verificada a sua inexequibilidade: a causa principal de dissolução judicial são o exaurimento (perda de objeto) e inexequibilidade do fim social. Torna de impossível cumprimento o escopo meio da atividade societária. Controvertida é a questão da inexequibilidade, geralmente confundida com falta de affectio societatis [t. II, §3, i. 3.3.3.], mas a nosso ver a falta de cumprimento do fim social pode se dar de variadas formas e atingir as diversas esferas organizacionais. Assim, pode ocorrer incompatível relacionamento intrassocietário que não permite à sociedade executar seus objetos (organização societária); dificuldades financeiras, incapacidade de produção de lucros (STJ – AgRg-AI nº 1.316.266) e patrimoniais determinantes do impossível cumprimento do fim social (ordenamento patrimonial); ou ainda, com inviabilidade da própria empresa ou problemas administrativos que geram a derrocada do escopo meio societário.
Uma vez dissolvida a sociedade, poderá o administrador, o sócio ou interessados requererem a liquidação – inclusive judicial (art. 1.036, parágrafo único, do CC) – que consiste na finalização de todos os negócios da sociedade, arrecadação do ativo, pagamento do passivo, distribuição de eventual acervo restante entre os sócios e prestação final de contas (arts. 1.107 e 1.108 do CC).
Dissolvida a sociedade, nomeia-se liquidante (art. 1.038, § 2º e art. 1.102 do CC), com poderes de atuação pela sociedade (art. 1.105 do CC), com obrigações equivalentes às de administrador (art. 1.104 do CC) e deveres previstos no art. 1.103 do CC: I – averbar e publicar a ata, sentença ou instrumento de dissolução da sociedade; II – arrecadar os bens, livros e documentos da sociedade, onde quer que estejam; III – proceder, nos quinze dias seguintes ao da sua investidura e com a assistência, sempre que possível, dos administradores, à elaboração do inventário e do balanço geral do ativo e do passivo; IV – ultimar os negócios da sociedade, realizar o ativo, pagar o passivo e partilhar o remanescente entre os sócios ou acionistas; V – exigir dos quotistas, quando insuficiente o ativo à solução do passivo, a integralização de suas quotas e, se for o caso, as quantias necessárias, nos limites da responsabilidade de cada um e proporcionalmente à respectiva participação nas perdas, repartindo-se, entre os sócios solventes e na mesma proporção, o devido pelo insolvente; VI – convocar assembleia dos quotistas, cada seis meses, para apresentar relatório e balanço do estado da liquidação, prestando conta dos atos praticados durante o semestre, ou sempre que necessário; VII – confessar a falência da sociedade e pedir concordata, de acordo com as formalidades prescritas para o tipo de sociedade liquidanda; VIII – finda a liquidação, apresentar aos sócios o relatório da liquidação e as suas contas finais; IX – averbar a ata da reunião ou da assembleia, ou o instrumento firmado pelos sócios, que considerar encerrada a liquidação.
Há uma questão importante quanto à liquidação em dissolução judicial. Dispõe o art. 1.111 do CC que no caso de liquidação judicial seria observado o disposto na lei processual. Todavia, o CPC em vigor revogou as disposições do CPC/1939 que tratavam da liquidação e não trouxe novo ritual para essa finalidade. Portanto, na ausência de texto legal específico, a doutrina é chamada a integrar a lacuna, o que pode ser feito com a aplicação dos arts. 1.102 a 1.112 do CC no processo, com nomeação do liquidante para finalização dos negócios da sociedade (FRANÇA; ADAMEK, 2016, p. 20).
De se anotar, ainda, que os credores têm o prazo prescricional de um ano de obtenção de ressarcimento junto a sócios e liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade (arts. 206, § 1º, V, 1.110 e 1.026, do CC).
Por fim, a pessoa jurídica subsiste até que se conclua a liquidação, conforme preveem os art. 51 e 1.109 do CC. Assim, encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica no registro que lhe for peculiar. Sendo sociedade simples, a comunicação se dá no Registro Civil Pessoas Jurídicas.
7.SOCIEDADE DE ADVOGADOS
Tipo especialíssimo de sociedade simples é a sociedade de advogados (art. 15 do EOAB), que tem por objeto organizar a atividade intelectual e prestar serviços privativos da profissão do advogado, sem que isso implique caracterização de empresa (art. 16, caput, do EOAB). ALFREDO DE ASSIS GONÇALVES NETO acentua que a finalidade desse tipo societário é “possibilidade que os advogados nela reunidos (como sócios, associados ou empregados), possam exercê-la de modo mais racional e organizado do que o fariam isoladamente” (GONÇALVES NETO, 2005, p. 35).
Além de ser privativa de advogados, esse tipo ainda tem o diferencial do registro no Conselho Seccional da OAB em cuja base territorial tiver sede (art. 15, § 1º, do EOAB), com limites ao status não somente para a qualificação como advogado, mas também integrar mais de uma sociedade de advogados, ou integrar, simultaneamente, uma sociedade deadvogados e uma sociedade unipessoal de advocacia, com sede ou filial na mesma área territorial do respectivo Conselho Seccional (art. 15, § 4º, do EOAB).
Em termos de responsabilidade, além da sociedade, o sócio e o titular da sociedade individual de advocacia respondem subsidiária e ilimitadamente pelos danos causados aos clientes por ação ou omissão no exercício da advocacia, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar em que possam incorrer (art. 17 do EOAB).
7.1.Sociedade unipessoal da advocacia
A sociedade unipessoal de advocacia é inovação no direito brasileiro inserida pela Lei nº 13.247/2016. Se com relação à EIRELI resta grande dúvida sobre a sua natureza societária ou de novo tipo de pessoa jurídica [t. II, §2, i. 1], em relação à “sociedade unipessoal de advocacia” (art. 15 e 16, caput, do Estatuto da Advocacia) ou “sociedade individual de advocacia” (art. 16, § 4º, do Estatuto da Advocacia) a legislação deixou muito clara a opção do legislador brasileiro de romper com a pluralidade subjetiva e admitir a sociedade de único sócio [t. II, §3, i. 3.2.]. Acolheu-se o paradoxo, há muito superado no direito europeu, da sociedade de um sócio.
Com efeito, o modelo do direito brasileiro permite concluir ser admitida a organização da atividade intelectual do advogado por meio de estrutura jurídica societária unipessoal. Para CALIXTO SALOMÃO FILHO “é nessas estruturas [de sociedades unipessoais] que o contrato que dá vida à sociedade adquire seu valor organizativo puro, ou seja, passa a ter como objeto exclusivamente estruturar um feixe de contratos” (SALOMÃO FILHO, 2006, p. 49).
Ainda assim, afastando a profissão do advogado da mercantilização (GONÇALVES NETO, 2005, p. 35; MAMEDE, 2003, p. 150), preserva-se a ausência de elementos de empresa (art. 966, parágrafo único, do CC e art. 16, caput, do Estatuto da Advocacia) e mantém-se responsabilidade subsidiária e ilimitada (art. 17 do Estatuto da Advocacia), mas culposa (art. 32 do Estatuto da Advocacia e art. 14, § 4º, do CDC) do titular da sociedade unipessoal da advocacia pelos danos causados ao cliente.
Jurisprudência
STJ – REsp 1.531.288 – 3ª T. – Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze – DJe 17.12.2015: “1. A partir do modo pelo qual a atividade profissional intelectual é desenvolvida – com ou sem organização de fatores de produção – será possível identificar o empresário individual ou sociedade empresarial; ou o profissional intelectual ou sociedade uniprofissional. (...) 1.1 Especificamente em relação às sociedades de advogados, que naturalmente possuem por objeto a exploração da atividade profissional de advocacia exercida por seus sócios, estas são concebidas como sociedade simples por expressa determinação legal, independente da forma que como venham a se organizar (inclusive, com estrutura complexa). (...) 3. Ante a inegável expressão econômica das quotas sociais, a compor, por consectário, o patrimônio pessoal de seu titular, estas podem, eventualmente, ser objeto de execução por dívidas pessoais do sócio, bem como de divisão em virtude de separação/divórcio ou falecimento do sócio. (...) 4. Oportuno assinalar que o atual Código Civil, ao disciplinar a partilha das quotas sociais em razão do falecimento do cônjuge ou da decretação da separação judicial ou do divórcio, apenas explicitou a repercussão jurídica de tais fatos, que naturalmente já era admitida pela ordem civil anterior. E, o fazendo, tratou das sociedades simples, de modo a tornar evidente o direito dos herdeiros e do cônjuge do sócio em relação à participação societária deste e, com o notável mérito de impedir que promovam de imediato e compulsoriamente a dissolução da sociedade, conferiu-lhes o direito de concorrer à divisão periódica dos lucros. 5. Recurso especial provido, para, reconhecendo, em tese, o direito da cônjuge, casada em comunhão universal de bens, à partilha do conteúdo econômico das quotas sociais da sociedade de advogados então pertencentes ao seu ex-marido (não se lhe conferindo, todavia, o direito à dissolução compulsória da sociedade), determinar que o Tribunal de origem prossiga no julgamento das questões remanescentes veiculadas no recurso de apelação”.
STJ – REsp nº 1.227.240 – 4ª T. – Rel. Min. Luis Felipe Salomão – DJe 18.06.2015: 4. As sociedades de advogados são sociedades simples marcadas pela inexistência de organização dos fatores de produção para o desenvolvimento da atividade a que se propõem. Os sócios, advogados, ainda que objetivem lucro, utilizem-se de estrutura complexa e contem com colaboradores nunca revestirão caráter empresarial, tendo em vista a existência de expressa vedação legal (arts. 15 a 17, Lei nº 8.906/1994). 5. Impossível que sejam levados em consideração, em processo de dissolução de sociedade simples, elementos típicos de sociedade empresária, tais como bens incorpóreos, como a clientela e seu respectivo valor econômico e a estrutura do escritório. 6. Sempre que necessário o revolvimento das provas acostadas aos autos e a interpretação de cláusulas contratuais para alterar o julgamento proferido pelo Tribunal a quo, o provimento do recurso especial será obstado, ante a incidência dos Enunciados das Súmulas nºs 5 e 7 do STJ. 7. Recurso especial a que se nega provimento”.
Bibliografia: ABRÃO, Carlos Henrique. Sociedades simples. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. COSTA, Lucas Fernandes. Sociedade unipessoal de advogado. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018. FRANÇA, Erasmo Valladão Azevedo e Novaes; ADAMEK, Marcelo Vieira von. Da ação de dissolução parcial de sociedade: comentários breves ao CPC/2015. São Paulo: Malheiros, 2016. GONÇALVES NETO, Alfredo Assis. Direito de empresa: comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código Civil. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Sociedade de advogados. 3. ed. São Paulo: LEX, 2005. MAMEDE, Gladston. A advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003. SALOMÃO FILHO, Calixto. O novo direito societário. 3 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2006.
§8
SOCIEDADE DE PESSOAS
Tais tipos societários foram mantidos no CC, mas atualmente a utilização prática é reduzida. Apontam-se várias razões, mas entre elas está principalmente a substituição por modelos mais eficientes e que desempenham o mesmo papel sem a atribuição de personalidade jurídica – como no caso da sociedade em comum e da sociedade em conta de participação – tal como ocorre na Alemanha e na Itália, por exemplo, em que sociedades de mesma natureza não tem personificação. Além disso, é preciso constatar que o tipo personificado e com ilimitação de responsabilidade de sócios aumenta a insegurança dos investimentos e perdas patrimoniais, além de implicar a falência também do sócio com ilimitação de responsabilidade (art. 81 da LREF).
Por todos esses e outros fatores, a descrição desses tipos atenderá somente a critérios históricos e didáticos.
1.SOCIEDADE EM NOME COLETIVO
1.1.Conceito e função
A sociedade em nome coletivo é sociedade personificada e empresária(a), que tem por função organizar(b) as atividades de pessoas físicas(c) que respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais(d).
(a) Cuida-se de tipo societário com personalidade jurídica utilizado para fins empresariais, embora a sociedade simples possa, em teoria, se aproveitar dessa estrutura jurídica (art. 983, caput, do CC).
(b) Também se trata de organização, cuja característica é oferecer ao mercado estrutura de personalidade jurídica com ilimitação de responsabilidade dos sócios. Portanto, o patrimônio ativo da sociedade em nome coletivo não é a garantia exclusiva que se oferece aos credores da sociedade.
(c) conforme se depreende do art. 1.039, caput, do CC, a sociedade em nome coletiva é composta somente por pessoas físicas, de modo a não se provocar a burla do sistema de responsabilidade solidária dos sócios com a inserção de pessoas jurídicas com limitação de responsabilidade.
(d) É da essência da sociedade em nome coletivo que os sócios respondam solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.Os sócios até podem, entre si, pactuar no contrato social a limitação de responsabilidade, mas tal conteúdo não produz efeitos em relação aos terceiros que negociam com a sociedade (art. 1.039 do CC).
1.2.Regras específicas
Tratando-se de sociedade pessoas e com ilimitação de responsabilidade, é essencial que ela se apresente ao mercado com a indicação dos nomes das pessoas que participam da sociedade. Justifica-se, assim, a regra dos arts. 1.041 e 1.157 do CC, que trata da firma como espécie de nome empresarial para a sociedade em nome coletivo.
Outra característica prevista na legislação é que a administração da sociedade compete exclusivamente a sócios (art. 1.042 do CC), que devem usar o poder de administração nos limites do art. 1.015 do CC [t. II, §3, i. 5.1.2.]. Em razão do personalismo, não há a opção de administração – enquanto órgão da sociedade – desempenhada por terceiros que não sejam sócios.
A lei ainda se preocupa em regular a responsabilidade da sociedade por dívidas do sócio, criando regra protetiva peculiar no art. 1.043 do CC, que determina: “O credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a sociedade, pretender a liquidação da quota do devedor”. Em outros termos, a regra do art. 1.043 bloqueia a aplicação da regra do art. 1.026, parágrafo único, do CC, porque nas sociedades em nome coletivo exige-se a finalização do processo dissolutório, arrecadação de ativos e cumprimento de obrigações de liquidação para que o credor particular do sócio satisfaça o seu crédito. A regra somente é excepcional quando: I – a sociedade houver sido prorrogada tacitamente; II – tendo ocorrido prorrogação contratual, for acolhida judicialmente oposição do credor, levantada no prazo de noventa dias, contado da publicação do ato dilatório (art. 1.043, parágrafo único, do CC).
1.3.Regramento supletivo
Conforme previsão do art. 1.040 do CC, as regras das sociedades simples são subsidiárias (supletivas) para solução das omissões do Capítulo da sociedade em nome coletivo [t. II, §3, i. 2.3.]. Assim, serão aplicáveis os dispositivos atinentes ao conteúdo do contrato social (art. 997 do CC); direitos e obrigações dos sócios que sejam compatíveis e não contrariem as regras do tipo (arts. 1.001 a 1.009 do CC); administração, quóruns e relações com terceiros; resolução da sociedade quanto a um sócio; dissolução e liquidação (art. 1.044 do CC).
2.SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES
2.1.Conceito e função
A sociedade em comandita simples é sociedade personificada e empresária(a), que tem por função organizar(b) as atividades de sócios comanditados(c) e comanditários(d), que assumem diferentes riscos perante terceiros.
(a) Cuida-se de tipo societário com personalidade jurídica utilizado para fins empresariais, embora a sociedade simples possa, em teoria, se aproveitar dessa estrutura jurídica (art. 983, caput, do CC).
(b) Também se trata de organização, cuja característica é oferecer ao mercado estrutura de personalidade jurídica com sócios de dois tipos de responsabilidade (limitação e ilimitação).
(c) O status de sócio [t. II, §3, i. 3.3.4.] na sociedade em comandita simples é caracterizado pela diferença de regras quanto aos dois tipos. Conforme prevê o art. 1.045 do CC, as sociedades em comandita simples têm dois tipos de sócios: comanditados, que são, necessariamente, pessoas físicas que administram a sociedade, assumem os riscos e com responsabilidade solidária e ilimitada pelas obrigações da sociedade.
(d) Os comanditários, pessoas físicas ou jurídicas com responsabilidade limitada ao valor das quotas integralizadas, não têm participação em atos de gestão.
2.2.Regras específicas
Nas sociedades em comandita simples os sócios têm as suas funções estanques e bem distintas. Pratica atos de gestão somente o sócio comanditado. Assim, “sem prejuízo da faculdade de participar das deliberações da sociedade e de lhe fiscalizar as operações, não pode o comanditário praticar qualquer ato de gestão, nem ter o nome na firma social, sob pena de ficar sujeito às responsabilidades de sócio comanditado” (art. 1.047 do CC). A atuação do comanditário como procurador é facultada para negócio determinado.
Preocupou-se o legislador com regras específicas de redução do capital da sociedade em comandita simples. A diminuição da quota do comanditário somente produz efeitos para terceiros depois de averbada a alteração do RPEM, sem prejuízo dos credores. Uma vez deliberada a redução do capital, o sócio comanditário não pode receber lucros, mas também não precisa repor lucros recebido de boa-fé e em conformidade com os balanços, já que não tem atribuição de gestão (arts. 1.048 e 1.049 do CC).
Em caso de falecimento, a regra das comanditas simples é inversa em relação àquela do art. 1.028 do CC: a sociedade, salvo disposição do contrato, continuará com os seus sucessores, que designarão quem os represente (GONÇALVES NETO, 2012, p. 335).
2.3.Regramento supletivo
Conforme previsão do art. 1.046 e, por extensão lógica, do art. 1.040, ambos do CC, as regras das sociedades simples são subsidiárias (supletivas) para solução das omissões do Capítulo da sociedade em comandita simples [t. II, §3, i. 2.3.]. Assim, serão aplicáveis os dispositivos atinentes ao conteúdo do contrato social (art. 997 do CC); direitos e obrigações dos sócios que sejam compatíveis e não contrariem as regras do tipo (arts. 1.001 a 1.009 do CC); administração, quóruns e relações com terceiros; resolução da sociedade quanto a um sócio; dissolução e liquidação (art. 1.051 do CC).
Ressalva-se que, na falta de uma das categorias de sócio, por mais de 180 dias, há causa para o pedido de dissolução da sociedade em comandita simples. Se faltar o sócio comanditado, os comanditários nomearão administrador provisório para praticar, durante o período os 180 dias e sem assumir a condição de sócio, os atos de administração (art. 1.051, inciso II e parágrafo único, do CC).
3.SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES
3.1.Conceito e função
A sociedade em comandita por ações é sociedade personificada e empresária(a), que tem por função organizar(b) as atividades de sócios acionistas administradores(c) e acionistas investidores(d), que assumem diferentes riscos perante terceiros.
(a) Cuida-se de tipo societário com personalidade jurídica utilizado para fins empresariais, embora a sociedade simples possa, em teoria, se aproveitar dessa estrutura jurídica (art. 983, caput, do CC).
(b) Também se trata de organização, cuja característica é oferecer ao mercado estrutura de personalidade jurídica com sócios de dois tipos de responsabilidade (limitação e ilimitação).
(c) O status de sócio [t. II, §3, i. 3.3.4.] na sociedade em comandita por ações é caracterizado pela diferença de regras quanto aos dois tipos. Conforme prevê o art. 282 da LSA, as sociedades em comandita por ações terá o sócio administrador e o sócio investidor. O primeiro tem qualidade para administrar ou gerir a sociedade e, como diretor ou gerente, responde subsidiária, mas ilimitada e solidariamente, pelas obrigações da sociedade.
(d) Já a segunda modalidade de sócios (investidores) tem a responsabilidade limitada ao capital integralizado nas ações subscritas.
3.2.Regras específicas
Pelo tipo de responsabilidade e para facilitar a identificação, a sociedade em comandita por ações opera sob firma, aparecendo os nomes dos administradores e menção final “comandita por ações”, já que respondem ilimitada e solidariamente pelos débitos (art. 281 da LSA).
Conforme prevê o art. 282, § 2º, da LSA, os diretores ou gerentes serão nomeados, sem limitação de tempo, no estatuto da sociedade, e somente poderão ser destituídos por deliberação de acionistas que representem dois terços, no mínimo, do capital social. Ainda que destituído, o administrador continua responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração.
3.3.Regramento supletivo
Por falta de previsão específica, as regras das sociedades simples são aplicáveis por analogia para solução das omissões do Capítulo da sociedade em comandita por ações [t. II, §3, i. 2.3.].

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