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L ibr as Libras L ibr as Lucineide Machado Pinheiro Lu ci n ei d e M ac h ad o P in h ei ro F un d a m en to s H is tó ri co s d a E d uc aç ão d os S ur d os Agora que você já sabe que as pessoas surdas pos- suem uma identidade própria e compartilham de uma lín- gua em comum, a Libras, a qual apresenta todos os critérios para ser considerada como língua, sendo uma língua viva, autônoma e de modalidade gestual-visual; convido você a voltar um pouco no tempo e a estudar os fundamentos his- tóricos da educação dos surdos. Posteriormente, você será capaz de identificar os possíveis avanços com relação às tendências que marcaram o processo educacional do surdo brasileiro. 5.1 Histórico da Educação dos Surdos Na antiguidade, as pessoas com deficiência, eram consideradas seres castigados pelos deuses. Quando alguém nascia com alguma deficiência, a sociedade enclausurava e não permitia a participação dessas pessoas da vida social, pois as deficiências eram entendidas como doenças conta- giosas e que poderiam se disseminar e contaminar a muitos. Na concepção Aristotélica, no caso dos surdos, o ouvido do surdo era a parte mais importante, logo, os surdos eram também mudos e não podiam falar nada. Nessa época e durante muito tempo, os surdos não tinham direito a voto e nem a receber herança. Ainda no século XIV, Bartollo della Marca d’Ancona, fez a primeira alusão a possibilidade de instruir os Surdos por meio da língua de sinais e da linguagem oral. No século XVI, um médico italiano chamado Girolano Car- dano, desenvolveu pesquisas médicas com o intuito de en- contrar a cura para a surdez, pois além de ser médico, ele tinha um filho surdo. Ele começou a estudar o nariz, o ouvido e o cérebro. Desenvolveu ainda um método de ensino para surdos, mas nunca colocou em prática. Ainda neste século, o monge beneditino espanhol Pedro Ponce de Léon, foi considerado o primeiro profes- sor de surdos da história. Ele foi convidado pelas famílias dos nobres para educar os seus filhos, ele os ensinava a ler, escrever, fazer contas e a orar; com o objetivo de que eles 108 fossem reconhecidos pela sociedade e pudessem assinar os testamentos para herdar os títulos das famílias. Como você deve ter percebido, nessa época, o direi- to a educação ficava concentrado apenas nas mãos dos nobres, que possuíam capital para pagar os monges que ensinavam os seus filhos. Logo, os surdos de classe sociais mais baixas, fi- cavam a margem, era-lhes negado o direito a educação. Não se tem muito registro sobre o método que Pe- dro Ponce de Léon utilizava para educar os surdos. O que se tem registrado, é que ele utilizava um método primitivo do alfabeto manual (que não é o que utilizamos hoje). Em 1620, o espanhol Juan Pablo Bonet foi conside- rado um dos precursores do oralismo após publicar o livro: “Reducción de las letras y artes para ensenar a hablar a los mudos”. Bonet acreditava que os surdos deveriam aprender a leitura e a escrita. Em 1640, John Bulwer, Publica o 1º. Livro em in- glês sobre a Língua de Sinais, chamado Chirologia; conside- rado um avanço uma vez que, as línguas de sinais estavam em processo de formação. Na Inglaterra, em 1650, devido o surgimento de te- orias sobre a aprendizagem da fala e da linguagem, William Oralismo: abordagem educacional que se preocupa com o ensino da fala e da escrita através da leitura labial. 109 Holder desenvolveu pesquisas sobre o ensino da fala e o re- verendo John Wallis foi considerado o pai do método escrito da educação dos surdos, ele utilizava a palavra como meio de ensino e educou dois surdos para que se desenvolvessem intelectualmente. No século XVII, o escocês Dalgarno descreveu um sistema primitivo do alfabeto manual. “Dalgarno declarou que os surdos tinham o mesmo potencial que os ouvintes para aprender e poderiam alcançar níveis iguais de desen- volvimento se recebessem educação adequada” (GUARI- NELLO, 2007, p. 23). No século XVIII, o alemão Wilhelm Keger, defen- deu a educação obrigatória para os Surdos. Em contraparti- da, o espanhol Jacob Rodrigues Pereire, priorizava a fala e proibia o uso dos gestos. Seu objetivo era ensinar os surdos a se comunicarem através do método oral. Na França, em 1750, o abade L’Epée foi o primeiro a considerar que os Surdos tinham uma língua. Ele iniciou seus trabalhos ensinando duas irmãs surdas e escrever e a falar, mas foi com os surdos que perambulavam pelas ruas, considerados como vagabundos, que L’Epée aprendeu a língua de sinais da França e criou o Instituto Nacional para Surdos-Mudos de Paris. Ele foi o primeiro a defender que os surdos tinham uma língua e em 1760 ele funda o Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris. 110 5.2 Histórico da Educação dos Surdos Contudo, para que você possa entender melhor a importância da criação do Instituto Nacional para Surdos-Mudos de Paris, é importante ressaltar que a sociedade francesa no século XVIII estava vivendo constantes atritos. Vejamos um pouco dessa história. A pequena burguesia da época estava crescendo com o apoio de camponeses e artesãos. Esse grupo era contra a ascensão dos senhores feudais que continuavam no pódio da monarquia francesa. Na concepção dessa crescente bur- guesia, as leis impostas e restrições impostas pelo comércio e pela indústria; os benefícios que eram concedidos a no- breza e ao clero, estavam impedindo o desenvolvimento do comércio. A alternativa então que lhes restava para que con- quistassem a ascensão social, era apoiar as manifestações re- volucionárias, ou seja, os levantes; contribuindo assim para uma mudança política na sociedade. Diante dessa situação, os camponeses, artesãos e burguesia (membros do terceiro estado), unem forças em busca de um objetivo em comum: acabar com os benefícios do clero e da nobreza (primeiro e segundo estado). Porém, como a burguesia liderava o terceiro estado, após as lutas, apenas ela consolidava seus objetivos, ganhando força e con- quistando espaço. Consequentemente, os artesãos e campo- 111 neses eram usados como força de trabalho e continuavam à margem de qualquer liderança e ascensão social. Nessa época, o processo de industrialização baseado no modo capitalista de produção, estava em expansão, diante dessa nova realidade, pequenos grupos de pessoas e artesãos, deixam as suas atividades para fazerem parte de uma nova ordem econômica e social nas cidades. É diante desse con- texto que as comunidades surdas começaram a surgir. Manacorda apud Quadros (2006, p.20) relata que, na segunda metade do século XVIII, “a nova produção de fábrica gera o espaço para o surgimento da moderna instituição esco- lar pública. Fábrica e escola nascem juntas”. É durante essa fase que surge a primeira escola pública para surdos de Paris. A burguesia passa então, a conceber o processo edu- cacional através das artes mecânicas como um viés para a conquista da ascensão social. É nesse sentido, que segundo Quadros (2006, p. 21), “os surdos que faziam parte do Ter- ceiro Estado, mesmo que sujeitos às relações sociais vigen- tes, provavelmente como os artesãos e camponeses, também queriam “ser alguma coisa”, como bem disse o abade Sievès” A fundação da primeira escola pública para surdos da França, o Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris, ocorreu através da participação da burguesia, que queria as- 5.3 Fundação da Primeira Escola Pública para Surdos na França 112 cender socialmente e encontraram no surgimento da institui- ção escolar uma oportunidade para tal. Esse grupo se une a L’Epée na fundação do Instituto de Surdos-Mudos de Paris. A educação daquela época, tanto para surdos como para ouvintes, tinha a principal missão de ensinar a leitura e a escrita. Na metodologia utilizada por L’Epée, a língua uti- lizada eraa língua de sinais. Ele fazia demonstrações do seu método em praças públicas para comprovar o que os surdos aprendiam. “Na Escola Pública para Surdos em Pa- ris, após cinco ou seis anos de formação, os surdos dominavam a língua de sinais francesa, o fran- cês escrito, o latim e uma outra língua estrangei- ra também de forma escrita. Além da leitura e da escrita em três línguas distintas, os alunos surdos tinham acesso aos conhecimentos de geografia, as- tronomia, álgebra, etc., bem como artes de ofício e atividades físicas.” (Quadros, 2006, p. 22). Sánchez apud Quadros (2006, p.23), destaca que “a divulgação dos trabalhos do abade L’Epée e a adoção de seu método pedagógico em muitas escolas públicas, permitiram aos surdos, não só da França, mas também em países como Rússia, Escandinávia, Itália e Estados Unidos, a possibili- dade de destacarem-se e ocuparem cargos importantes na sociedade de seu tempo. Enquanto na França, L’Epée defendia o uso da lín- gua de sinais na educação dos surdos, na Alemanha, Samuel 113 Heinicke criou o Método Oral e fundou a 1ª. Escola Pública Alemã para Surdos baseada nesse método. Isso deu origem a uma célebre controvérsia entre os dois. “No fim do século XVIII, surgiu uma céle- bre controvérsia entre Heinicke e L’Epée. Uma das grandes diferenças entre os dois educadores é que L’Epée difundiu seu método, apresentando-o in- clusive em praças públicas, pois achava que assim a população poderia ver seu êxito. Durante essas demonstrações, seus alunos deveriam responder, em francês, em latim e em italiano, a duzentas per- guntas sobre religião e fazer os sinais de duzentos verbos. Já Heinicke não costumava mostrar seu método” (GUARINELLO, 2007, p. 24). Heinicke, em uma das cartas enviadas a L’Epée, afirmou: “nenhum outro método pode ser comparado ao que eu inventei e prático porque esse se baseia totalmente na arti- culação da linguagem oral” (SKLIAR apud GUARINELLO, 2007, p. 25). Em 1821, o médico francês Jean Marc Gaspar Itard, começou a praticar vários procedimentos médicos com o obje- tivo de curar a surdez, o que ficou conhecida como: Medicali- zação da Surdez. Era comum ele aplicar eletricidade no ouvido dos alunos surdos do Instituto de Paris e colocar sanguessugas no pescoço dos surdos, pois ele acreditava que o sangramento pudesse ajudar de alguma forma na cura da surdez. 114 Segundo Lane apud Guarinello (2007, p. 25 e 26), “nenhum dos experimentos de Itard teve resultados satisfató- rios. Para o mesmo autor, após várias tentativas frustradas de curar a surdez, Itard concluiu que o ouvido dos surdos estava morto e que não havia nada que a medicina pudesse fazer a respeito”. 5.4 A Educação dos Surdos nos Estados Unidos (Século XVIII) Já nos Estados Unidos, até o Século XVIII, não ha- via escolas para Surdos. As famílias que queriam que seus filhos estudassem, costumavam mandá-los para a Europa. Foi então que Thomas Hopkins Gallaudet, o primeiro ameri- cano a se interessar pela educação dos surdos, ouve falar do método desenvolvido por L’Epée na França para educar os surdos e decide viajar para aprender de perto sobre o método e conhecer o Instituto de Paris, pois o seu objetivo era fundar uma escola para surdos na América. Ao chegar na França, L’Epée apresenta Laurent Clerc, instrutor surdo, que passa a acompanhar Gallaudet ensinando a língua de sinais e o instruindo. Contratado por Gallaudet, ambos viajam para os Estados unidos com o ob- jetivo de implantar a primeira escola pública para surdos naquele país. Em 1817, eles conseguem atingir o objetivo proposto fundando o que ficou conhecida por Connecticut Asylum for the Education and Instruction of Deaf and Dumb Persons. 115 Para Lane apud Guarinello (2007, p.27), “Laurent Clerc é considerado a figura mais impor- tante no desenvolvimento da língua de sinais e da comunidade surda nos Estados Unidos. Em sua época ele já afirmava que os surdos faziam parte de uma comunidade linguística minoritária e que o bilinguismo deveria ser um objetivo para eles”. Como a Connecticut Asylum for the Education and Instruction of Deaf and Dumb Persons foi fundada por um instrutor francês, inicialmente os professores aprendiam a lín- gua de sinais francesa, sendo aos poucos substituída pela lín- gua de sinais americana, até então em processo de formação. Em 1821, todas as escolas americanas já utilizavam a American Sign Language (ASL – Língua de Sinais Ameri- cana). “Em 1824, o National Deaf-Mute College, uma esco- la para surdos localizada em Washington, foi transformado no Gallaudet College, em homenagem a Thomas Gallaudet. Atualmente essa escola é a Universidade Gallaudet” (GUA- RINELLO, 2007, p. 27). Uma dessas pessoas que ficou conhecida como o inimigo mais temido dos surdos americanos, foi o escocês Alexandre Gran Bell, o inventor do telefone. Sua mãe e es- posa eram surdas e ele era a favor do método oral. Objetiva- va acabar com as línguas de sinais, pois acreditava que a co- municação através dos sinais isolaria os surdos em pequenos grupos, fazendo com que estes, adquirissem muito poder. 116 Em 1869, com a morte de Clerc, o oralismo começou a ganhar força, surgindo pessoas que passaram a pro- clamar que a língua de sinais era prejudicial e conse- quentemente defendendo o oralismo. 5.5 O Congresso de Milão Em 1880, em Milão, na Itália, aconteceu um con- gresso decisivo sobre qual método deveria ser adotado pelas escolas do mundo todo na educação dos surdos, e que ficou conhecido como Congresso Internacional de Milão. Nesse congresso, um grupo defendia a abordagem oral (uso da fala, escrita e da leitura labial na educação) e outro grupo acre- ditava que os surdos tinham uma língua e que poderiam ser ensinados através dela. Surdos e ouvintes foram convocados a participarem do congresso e da votação, porém houve um boicote e os pro- fessores surdos foram excluídos da votação. “Bell, aproveitou- se de todo o seu prestígio em defesa do oralismo e ajudou na votação. O uso do Oralismo venceu, sendo o uso da língua de sinais oficialmente proibido” (GUARINELLO, 2007, p. 29). Skliar apud Quadros (2006, p. 25) cita o conjunto de resoluções votadas no Congresso que demonstram a substitui- ção da língua de sinais pela língua oral na educação de surdos: 117 | I. Considerando la indudable superioridad de la palabra sobre los gestos para restituir al sordomudo a la lengua, el Congresso declara que o método oral deve ser preferido al de la mímica para la educación e instrución de los sordo-mudos. | II. Considerando que el uso simultáneo de la palabra y de lo gestos mímicos tiene la desventaja de dañar la palabra, la lectura sobre los lábios y la precisión de las ideas, el Con- gresso declara que o método oral debe ser preferido [...] Depois do Congresso de Milão, a língua de sinais foi proibida em todas as escolas. Era comum a prática de amarrarem as mãos das crianças para trás a fim de que evi- tar que elas se comunicassem através dos sinais. Os surdos perderam o seu emprego e houve uma queda na qualidade da educação. Oralismo então foi adotado pelas escolas de toda a Europa até os fins de 1970. Porém, a abordagem utilizada nesse período descaracterizou o surdo, subordinando a sua educação à oralidade. O que ficou considerado como um re- trocesso grotesco na educação dos surdos do mundo todo. De acordo com Sanchez, “a educação dos surdos, sempre nas mãos dos ouvintes, manteve quase que invariavelmente um sentido de reabili- tação, de oferecer aos educandos a possibilidade de superar sua limitação auditiva, para agir como ouvintes e com ouvintes, e, dessa forma, integrar-se como se fossem ouvintes na sociedade dos ouvin- tes” (SANCHEZ apud GUARINELLO, 2007, p. 29). 118 5.6 Comunicação Total Em 1970, devido à insatisfação com os resultados do Oralismo, alguns estudiosos propuseramuma abordagem conhecida como Comunicação Total. Definido como o uso de vários recursos, tais como: fala, escrita, gestos, mímica, pantomima, sinais e outros para a educação dos surdos. Todo recurso existente era aceitável para comunicar alguma ideia. Rapidamente essa abordagem foi disseminada, ad- quirindo um reconhecimento maior do que outros métodos americanos já existentes como: “Rochester (que utilizava o alfabeto manual e a fala na educação dos surdos) e o Cued Speech (que combina o uso da audição residual e da leitura orofacial a formato de mão, correspondentes aos fonemas da linguagem oral)” (GUARINELLO, 2007, p. 31). “De fato, não se pode negar o valor dos métodos da Comunicação Total para a visualiza- ção da língua falada em uma série de aplicações da língua escrita. No entanto, havia outros aspectos críticos em que os problemas começavam a acumu- lar-se. Tais problemas diziam respeito ao fato im- portante de que, embora, por princípio, a Comuni- cação Total apoiasse o uso simultâneo da língua de sinais com sistemas de sinais; na prática, tal conci- liação nunca foi e nem seria efetivamente possível, devido à natureza extremamente distinta da língua de sinais” (CAPOVILLA, 2001, p. 1.485). 119 5.7 Bilinguismo Porém, no final da década de 1970, inicia-se um movimento de reivindicação pela língua de sinais, surgin- do então à abordagem bilíngue para Surdos. O bilinguismo é uma proposta de ensino usada por escolas que pretendem tornar acessível à criança duas línguas no contexto escolar. O bilinguismo propõe que os surdos devem usar a sua língua natural, a libras, que é a sua primeira língua (L1) e posteriormente devem aprender a língua portuguesa, pois para eles é segunda língua (L2). Ressaltando que, as línguas de sinais são autônomas e não estão subordinadas as línguas orais. No entanto, como os surdos vivem em países que ofi- cialmente possui duas línguas, é interessante que eles apren- dam também a primeira língua do seu país. Segundo Skliar apud Guarinello (2007, p.32), “a adoção do bilinguismo é compatível com a concepção socio- antropológica de sujeito surdo e surdez”. Essa concepção compreende que os surdos se agrupam em comunidades linguísticas minoritárias, as co- munidades surdas; compartilham valores, crenças, hábitos, cultura e uma língua entre si. Essa concepção concebe os surdos como seres integrantes da sociedade, como cidadãos pró-ativos, com direitos e deveres. Os surdos passam assim a serem vistos como diferentes e não mais como deficientes. 120 5.8 Quadro Resumo das Principais Abordagens na Educação dos Surdos ‘O oralismo’ é um dos recur- sos que usa o treinamento de fala, leitura labial, e outros. Perlin e Strobel (2006, p. 20). Oralismo Comunicação Total Bilinguismo A Comunicação Total inclui todo o espectro dos modos linguísticos: gestos criados pelas crianças, língua de si- nais, fala, leitura oro-facial, alfabeto manual, leitura e es- crita. Denton apud Freeman, Carbin, Boese (1999), por Perlin e Strobel (2006, p. 23). O Bilinguismo tem como pressuposto básico que o sur- do deve ser Bilíngue, ou seja, deve adquirir como língua materna a língua de sinais, que é considerada a língua natural dos surdos e, como Segunda língua, a língua ofi- cial de seu país. Goldfeld apud Perlin e Strobel (2006, p. 24). 121 5.9 Histórico no Brasil Enquanto isso no Brasil, em 1911, o Brasil, em obe- diência as decisões tomadas no Congresso Internacional de Milão, decide também proibir o uso da língua de sinais em território nacional e adotar o método oralista. Em 1957, a ex-diretora do Instituto Nacional de Educação de Surdos, Ana Rimola de Faria Doria, proibiu o uso da língua de sinais dentro das salas de aula. Porém, se- gundo Vieira citado por Guarinello (2007, p. 34), “apesar de todas as proibições, a língua de sinais sempre foi utilizada pelos alunos às escondidas”. Em 1970, assim como aconteceu nas escolas de surdos do mundo todo, como o oralismo não produziu os resultados esperados, a comunicação total foi adotada pelas escolas. Entre os anos de 1970 e 1980, iniciam-se os estudos sobre a língua de sinais brasileira através das pesquisas de- senvolvidas pela linguista Lucinda Ferreira Brito e posterior- mente por outros pesquisadores. Atualmente aqui no Brasil, a proposta aceita e que vem sendo largamente utilizada pelas escolas, associações e institutos, é a abordagem bilíngue. As pesquisas dos linguis- tas e pesquisadores contribuíram de forma positiva para que a língua de sinais fosse reconhecida oficialmente como meio legal de comunicação e expressão através da lei 10.436 de 24 de abril de 2002, promulgada pelo ex-presidente da Repúbli- ca Fernando Henrique Cardoso. 122 E Exercícios | 1. Explique as principais abordagens educacionais: Oralis- mo, Comunicação Total e Bilinguismo. | 2. Cite o conjunto de resoluções votadas no Congresso Internacional de Milão que demonstram a substituição da língua de sinais pela língua oral na educação de surdos. | 3. Quais os benefícios advindos da criação da primeira escola pública para surdos na França? | 4. Como surgiu a primeira instituição escolar nos Estados Unidos? | 5. Quais as mudanças que as resoluções do Congresso de Milão provocou na educação dos surdos brasileiros? B Referências Bibliográficas | CAPOVILLA, F. C.; WALKIRIA, D. R. Dicionário Enci- clopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasilei- ra - Libras.Volume I - Sinais de A a L e Volume II - Sinais de M a Z. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001. | GUARINELLO, Ana Cristina. O papel do outro na escri- ta de sujeitos surdos. São Paulo: Plexus, 2007. | QUADROS, Ronice Muller (org). Estudos Surdos I – Sé- rie Pesquisas. Petrópolis, RJ: Arara Azul Ltda, 2006. 123 C Referências Complementares | SKLIAR, Carlos. A surdez: um olhar sobre as diferen- ças. Porto Alegre: Mediação, 3ª. Ed, 2005. | VIEIRA, M.I.S. O efeito do uso de sinais na aquisição de linguagem da criança surda filha de pais ouvintes. 2000. Dissertação (Mestrado em Distúrbios da Comunicação) – Faculdade de Fonoaudiologia, Pontifícia Universidade Ca- tólica de São Paulo, São Paulo. | PERLIN, G.; STROBEL, K. Fundamentos da Educação dos Surdos. Florianópolis, 2006. L eg is la çã o E sp ec ífi ca Como estudamos em aulas anteriores, sabemos que os surdos se agrupam em comunidades surdas que possuem hábitos, valores, identidade, língua e uma cultura em co- mum. Juntos, eles lutam pelos seus direitos e deveres já as- segurados pela constituição brasileira e por leis específicas; mas será que sempre foi assim? Vejamos agora alguns pontos principais dessa tra- jetória. 6.1 Legislação na Antiguidade Os surdos na antiguidade, não tinham direito a re- ceber herança, não tinham direito a educação e nem ao voto, logo, eram excluídos da sociedade, sendo considerados pes- soas com doenças contagiosas, representando assim, uma ameaça a saúde da população. Apenas após os trabalhos do americano William Stokoe em 1960, comprovando e conferindo a língua de si- nais o status de língua, é que muitos países passam a se com- prometer legalmente com a educação dos surdos. Rômulo, o fundador de Roma, por volta de 753 a.C. decretou que todos os surdos recém-nascidos e crian- ças até aos três anos de idade teriam de ser insemina- das, porque eram um peso e problema para o Estado? (RADUTZKY apud STROBEL (2006, p. 46) 6.2 Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e a Constituição Brasileira Aqui no Brasil, em 1961, a Lei de Diretrizes e Ba- ses da Educação Nacional (LDB) em seus artigos 88 e 89, as- segura os direitos a educação das pessoas excepcionais. No 130 artigo 89, declara que o governo se compromete em ajudar as organizações não governamentais (ONGs) a prestarem servi- ços aos deficientes, entre eles os surdos (STROBEL, 2006). Segundo Strobel(2006, p. 47), “na Cons- tituição brasileira de 1967, há também alguns ar- tigos assegurando aos surdos o direito de receber educação. Do mesmo modo, a atual Constituição datada de 1988, abre espaço a nossos direitos à educação diferenciada uma vez que assegura o di- reito à diferença cultural”. Segue o texto da constituição atual datada de 1998, onde um de seus artigos refere-se sobre a cultura. Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercí- cio dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a di- fusão das manifestações culturais. § 1º - o Estado protegerá as manifestações das cul- turas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. § 2º - a lei disporá sobre a fixação de datas comemo- rativas de alta significação para os diferentes segmen- tos étnicos nacionais. 131 6.3 Lei de Oficialização da Libras nº 10.436 A Língua de Sinais Brasileira - Libras, a língua materna do surdo brasileiro, foi oficializada através da lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002, pelo ex-presidente da repúbli- ca Fernando Henrique Cardoso, como meio de comunicação legal e como segunda língua do Brasil. Esta lei foi regulamen- tada através do decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Convido você a fazer uma leitura minuciosa da lei nº 10.436, a fim de que você possa compreender melhor o assunto que estamos estudando. Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002 Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. O Presidente da República Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, no capítulo V, descreve as modalidades de educação oferecidas aos portadores de necessidades educa- cionais especiais. Defende que, de preferência, a educação dessas pessoas deve acontecer na escola regular. Assegura que é dever do estado a oferta de educação infantil na faixa etária de 0 a 6 anos e confere que devam existir ainda méto- dos, técnicas e profissionais adequados com vistas a atender as especificidades das pessoas especiais. 132 sanciono a seguinte Lei: Art. 1º É reconhecida como meio legal de comuni- cação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e ou- tros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2º. Deve ser garantido, por parte do poder públi- co em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação obje- tiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3º. As instituições públicas e empresas conces- sionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4º. O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal de- vem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 133 6.4 Decretos e Leis que Antecederam a Oficialização da Lei de Libras Art. 1º - A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 26-B: "Art. 26-B - Será garantida às pessoas surdas, em to- das as etapas e modalidades da educação básica, nas redes públicas e privadas de ensino, a oferta da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, na condição de língua nativa das pessoas surdas". Art. 2º - Esta Lei entra vigor na data de sua publicação. É importante ressaltar que, antes disso, o decreto 9.394 de 20 de dezembro de 1996, já assegurava o direito à co- municação através da língua de sinais em seus artigos 26 e 27. Em pouco tempo depois do decreto 9.394 de 1996, surgiu o Projeto de Lei do Senado nº 180, DE 2004 que al- terou a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que esta- beleceu as diretrizes e bases da educação nacional, fazendo o enquadramento no currículo oficial da Rede de Ensino à Brasília, 24 de abril de 2002; 181º da Independên- cia e 114º da República. Fernando Henrique Cardoso Paulo Renato Souza 134 obrigatoriedade da oferta da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS - em todas as etapas e modalidades da educação básica (STROBEL, 2006, p. 50). Hoje, graças à efetivação da lei de Libras e da regu- lamentação do decreto, as comunidades surdas espalhadas por todo o Brasil podem se expressar livremente através da língua de sinais, sem mais repressão como aconteceu ao longo da história em anos anteriores. A Lei de Libras foi uma conquista e um marco fundamental na vida dos surdos brasileiros. Vejamos agora o que o decreto nº 5.626 que regu- lamenta a lei 10.436, conhecida como lei de Libras, institui sobre as conquistas que contribuíram para a liberdade de ex- pressão do surdo através do uso da língua de sinais. 6.5 Decreto 5.626 de 22 de Dezembro de 2005 O decreto inicia em seu artigo segundo, descreven- do que a pessoa surda, é aquela que tem perda auditiva, com- preende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras. Audiometria: exame da audição realizado por meio de ins- trumentos e avaliação da capacidade para apreender os dife- rentes sons da fala e de classificação de surdez em vários graus. 135 Considera como deficiência auditiva a perda bilate- ral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. O artigo 3º, aponta para a inclusão da Libras como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de pro- fessores para o exercício do magistério em nível médio e supe- rior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A inclusão de Libras como disciplina curricular, torna-se um ponto extremamente relevante, em face da ne- cessidade crucial de termos profissionais capacitados em Libras para o ensino, atendimento e interpretação da libras para língua portuguesa e vice-versa, objetivando promover a inclusão efetiva do surdo na sociedade. Sobre a formação desses profissionais, é imprescin- dível que você conheça de que forma deve acontecer essa formação, quem são esses profissionais e qual o tempo pre- visto. Para tanto, convido você a fazer uma leitura minuciosa de alguns trechos do decreto 5.626; um dos mais importantes para a comunidade surda brasileira. Capítulo III Da Formação do Professor de Libras e do Instrutor de Libras Art. 4º. A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior deve ser realizada em nível 136 superior, em curso de graduação de licenciatura plena em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda língua. Parágrafo único. As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 5º. A formação de docentes para o ensino deLibras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fun- damental deve ser realizada em curso de Pedagogia ou curso normal superior, em que Libras e Língua Portuguesa escrita tenham constituído línguas de instrução, viabilizando a for- mação bilíngue. §1º. Admite-se como formação mínima de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos ini- ciais do ensino fundamental, a formação ofertada em nível médio na modalidade normal, que viabilizar a formação bi- língue, referida no caput. §2º. As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. §1º. A formação do instrutor de Libras pode ser re- alizada também por organizações da sociedade civil repre- sentativa da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por pelo menos uma das instituições referidas nos incisos II e III. §2º. As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 9º A partir da publicação deste Decreto, as ins- tituições de ensino médio que oferecem cursos de formação para o magistério na modalidade normal e as instituições de 137 educação superior que oferecem cursos de Fonoaudiologia ou de formação de professores devem incluir Libras como disciplina curricular, nos seguintes prazos e percentuais mí- nimos: I. até três anos, em vinte por cento dos cursos da instituição; II. até cinco anos, em sessenta por cento dos cursos da ins- tituição; III. até sete anos, em oitenta por cento dos cursos da insti- tuição; IV. dez anos, em cem por cento dos cursos da instituição. Parágrafo único. O processo de inclusão da Libras como disciplina curricular deve iniciar-se nos cursos de Edu- cação Especial, Fonoaudiologia, Pedagogia e Letras, am- pliando-se progressivamente para as demais licenciaturas. Art. 10. As instituições de educação superior devem incluir a Libras como objeto de ensino, pesquisa e extensão nos cursos de formação de professores para a educação bási- ca, nos cursos de Fonoaudiologia e nos cursos de Tradução e Interpretação de Libras-Língua Portuguesa. Da Garantia do Direito à Educação das Pessoas Surdas ou com Deficiência Auditiva Art. 22. As instituições federais de ensino respon- sáveis pela educação básica devem garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência auditiva, por meio da orga- nização de: I. escolas e classes de educação bilíngue, abertas a alunos surdos e ouvintes, com professores bilíngues, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental; II. escolas bilíngues ou escolas comuns da rede regular de 138 ensino, abertas a alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino fundamental, ensino médio ou educação profis- sional, com docentes das diferentes áreas do conhecimento, cientes da singularidade linguística dos alunos surdos, bem como com a presença de tradutores e intérpretes de Libras - Língua Portuguesa. §1º. São denominadas escolas ou classes de educa- ção bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo. §2º. Os alunos têm o direito à escolarização em um turno diferenciado ao do atendimento educacional especiali- zado para o desenvolvimento de complementação curricular, com utilização de equipamentos e tecnologias de informação. §3º. As mudanças decorrentes da implementação dos incisos I e II implicam a formalização, pelos pais e pelos próprios alunos, de sua opção ou preferência pela educação sem o uso de Libras. §4º. O disposto no §2º deste artigo deve ser garanti- do também para os alunos não usuários da Libras. Art. 23. As instituições federais de ensino, de edu- cação básica e superior, devem proporcionar aos alunos sur- dos os serviços de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa em sala de aula e em outros espaços educacio- nais, bem como equipamentos e tecnologias que viabilizem o acesso à comunicação, à informação e à educação. §1º. Deve ser proporcionado aos professores acesso à literatura e informações sobre a especificidade linguística 139 do aluno surdo. §2º. As instituições privadas e as públicas dos sis- temas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. Art. 24. A programação visual dos cursos de nível médio e superior, preferencialmente os de formação de pro- fessores, na modalidade de educação à distância, deve dispor de sistemas de acesso à informação como janela com tradu- tor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa e subtitulação por meio do sistema de legenda oculta, de modo a reproduzir as mensagens veiculadas às pessoas surdas, conforme prevê o Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004. 6.6 Os Profissionais Intérpretes da Língua de Sinais Sinal retirado do Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. Capovilla e Raphael (2000). Volume I - Sinais de A a L e Volume II - Sinais de M a Z. (Ilustradora: Silvana Marques) 140 Os profissionais intérpretes de libras são responsáveis pela tradução e interpretação simultânea, da língua portuguesa para língua de sinais e de língua de sinais para língua portu- guesa. Ele deve ser fluente em Libras e em língua portuguesa e deve interpretar fielmente a informação oral transmitida. Existem profissionais intérpretes de língua de sinais em todo mundo. Aqui no Brasil, o aparecimento de profis- sionais intérpretes em instituições religiosas iniciou-se em 1980. Em 1988, aconteceu o I Encontro Nacional de Intér- pretes de Línguas de Sinais organizado pela Feneis para pro- mover o encontro entre os intérpretes do Brasil e a discussão sobre temas relevantes. Dos anos 90 em diante, muitas unidades de intér- pretes foram formadas, filiadas aos escritórios regionais da Feneis. Em 2000, foi criada a página dos intérpretes de língua de sinais www.interpretels.hpg.com.br. Também foi aberto um espaço para participação dos intérpretes através de uma lista de discussão via e-mail (Quadros, 2004). Em 2001, em Montevidéu no Uruguai, foi realizado um encontro internacional sobre a formação de intérpretes de língua de sinais com o apoio da Federação Mundial de Surdos. A seguir são apresentadas as principais conclusões e recomendações feitas por ocasião deste encontro respei- tando as características e situação de cada um dos países participantes, conclui-se em primeiro lugar que é necessário, principalmente (Quadros, 2004, p. 44): | a. Que a comunidade de pessoas surdas seja consciente da im- portância de sua própria língua e dos Intérpretes profissionais; | b. Que as associações e federações de pessoas surdas se- 141 jam fortalecidas em todos os aspectos, por si mesmas, e com o apoio de organismos públicos e internacionais; | c. Que em todos os países se reconheça a Língua de Sinais a nível; | d. Que exista reconhecimento da profissão e titulação de Intérprete de Língua de Sinais; | e. Que exista reconhecimento da profissão e titulação de formador de Intérpretes de Língua de Sinais. E logo, no terreno da capacitação e formação: • Que se dê importância equivalente à Língua de Sinais e à Língua Oficial do país; • Que os programas deformação incluam um estudo sistemá- tico de ambas as línguas; • Que se estimule e favoreça a garantia à primeira língua; • Que se destine maior tempo à investigação linguística com respeito à Língua de Sinais; • Que a comunidade de pessoas surdas assuma um papel pro- tagônico nos processos de investigação, junto com os espe- cialistas; • Que exista um trabalho conjunto ente intérpretes e pessoas surdas na formação de futuros intérpretes e de futuros forma- dores de intérpretes; • A elaboração, execução e avaliação dosprogramas de for- mação devem ser conceitualmente interculturais e interdis- ciplinares; • Que os centros de formação de intérpretes façam o inter- câmbio de suas metodologias e experiências, dinamicamente; 142 • Preferivelmente as federações ou Associações deveriam, em função de sua capacidade e interesse, liderar os cursos; • Que exista uma base de lineamentos gerais para planejar um curso de Língua de Sinais como, por exemplo: | a. objetivos; | b. conteúdos; | c. tempo; | d. metodologia; | e. atividades; | f. materiais e recursos; | g. avaliação; | h. continuação e prática; • Que os quatro países que atualmente dispõem de cursos de Língua de Sinais e de formação de intérpretes (Argentina, Brasil, Colômbia e Uruguai) prestem seu apoio aos países que ainda não contam com estes cursos (Bolívia, Paraguai, Chile, Equador, Peru e Venezuela) para o qual cada um dos primeiros quatro designará a duas pessoas: uma ouvinte e outra surda especialistas em formação, que sirvam como formadores, assessores e consultores dos futuros agentes multiplicadores de cada um dos seis países. Os critérios para selecionar os agentes multiplicadores deverão ser desenvol- vidos. A Federação Mundial de Surdos designará um espe- cialista que será o coordenador de todo esse processo; • Os agentes multiplicadores, com a ajuda do especialista co- ordenador, contribuirão para o estabelecimento de um pro- grama de capacitação em Língua de Sinais e outro de For- mação de Intérpretes em cada país. Estes programas poderão aplicar-se de forma sequencial (primeiro um depois o outro) 143 ou paralelamente (ambos os programas de uma vez, consi- derando que, por exemplo, os intérpretes empíricos sejam os primeiros alunos dos cursos de Formação de Intérpretes). O acompanhamento deste processo se dará entre os quatro países e o especialista coordenador; • Os usuários devem conhecer o código ético pelo qual se rege a interpretação; • Que a Federação Mundial de Surdos continue respaldando estes processos. Segundo o código de ética dos intérpretes (docu- mento orientador da profissão), os intérpretes de libras de- vem ter um alto caráter moral, ser honesto, consciente e ter equilíbrio emocional; interpretar fielmente e com o melhor da sua habilidade, sempre transmitindo o pensamento, a in- tenção e o espírito do palestrante; reconhecer seu próprio ní- vel de competência e ser prudente quanto a aceitar tarefas; manter sempre uma atitude imparcial durante o transcurso da sua interpretação e adotar uma conduta adequada de se ves- tir, sem adereços, mantendo a dignidade da profissão, sem chamar a atenção indevidamente sobre si mesmo. Segue abaixo o código de ética dos intérpretes que é parte integrante do Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérpretes (FENEIS). D - Registro dos Intérpretes para Surdos (em 28-29 de janeiro de 1965, Washington, EUA) Tradução do original Interpreting for Deaf People, Stephen (ed.) USA por Ricardo Sander. Adaptação dos Representantes dos Estados Brasilei- ros - Aprovado por ocasião do II Encontro Nacional de Intér- pretes - Rio de Janeiro/RJ/Brasil - 1992 (Quadros, 2004, p.28). 144 Capítulo 1 - Princípios Fundamentais Artigo 1º. São deveres fundamentais do intérprete: 1°. O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente, confidente e de equilíbrio emo- cional. Ele guardará informações confidenciais e não poderá trair confidencias, as quais foram confiadas a ele; 2º. O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante o transcurso da interpretação, evitando interferên- cias e opiniões próprias, a menos que seja requerido pelo grupo a fazê-lo; 3º. O intérprete deve interpretar fielmente e com o melhor da sua habilidade, sempre transmitindo o pensamen- to, a intenção e o espírito do palestrante. Ele deve lembrar dos limites de sua função e não ir além de a responsabilidade; 4°. O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e ser prudente em aceitar tarefas, procurando assistência de outros intérpretes e/ou profissionais, quando necessário, especialmente em palestras técnicas; 5°. O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem adereços, mantendo a dignidade da profis- são e não chamando atenção indevida sobre si mesmo, du- rante o exercício da função. Capítulo 2 - Relações com o Contratante do Serviço 6°. O intérprete deve ser remunerado por serviços prestados e se dispor a providenciar serviços de interpreta- ção, em situações onde fundos não são possíveis; 7°. Acordos em níveis profissionais devem ter re- 145 muneração de acordo com a tabela de cada estado, aprovada pela FENEIS. Capítulo 3 - Responsabilidade Profissional 8°. O intérprete jamais deve encorajar pessoas sur- das a buscarem decisões legais ou outras em seu favor; 9º. O intérprete deve considerar os diversos níveis da Língua Brasileira de Sinais bem como da Língua Portu- guesa; 20°. Em casos legais, o intérprete deve informar à autoridade qual o nível de comunicação da pessoa envolvida, informando quando a interpretação literal não é possível e o intérprete, então terá que parafrasear de modo claro o que está sendo dito à pessoa surda e o que ela está dizendo à autoridade; 11º. O intérprete deve procurar manter a dignidade, o respeito e a pureza das línguas envolvidas. Ele também deve estar pronto para aprender e aceitar novos sinais, se isso for necessário para o entendimento; 12°. O intérprete deve esforçar-se para reconhecer os vários tipos de assistência ao surdo e fazer o melhor para atender as suas necessidades particulares. Capítulo 4 - Relações Com Os Colegas 13°. Reconhecendo a necessidade para o seu desen- volvimento profissional, o intérprete deve agrupar-se com colegas profissionais com o propósito de dividir novos co- nhecimentos de vida e desenvolver suas capacidades expres- sivas e receptivas em interpretação e tradução. Parágrafo único. O intérprete deve esclarecer o público no que diz respeito ao surdo sempre que possível, 146 reconhecendo que muitos equívocos (má informação) têm surgido devido à falta de conhecimento do público sobre a área da surdez e a comunicação com o surdo. É um direito do surdo que todas as instituições, tanto educacionais, como financeiras, comerciais, públicas e privadas, disponham de profissionais intérpretes para inter- mediarem a comunicação com os surdos. Infelizmente, a presença do profissional intérprete em todas as instituições brasileiras ainda não é uma reali- dade. Apesar de muitas Universidades, escolas e até mesmo agências bancárias, terem hoje em seu quadro de funcioná- rios intérpretes de Libras, para promoverem acessibilidade na comunicação entre surdos e ouvintes, quando percorre- mos as instituições e empresas, podemos facilmente perce- ber, que ainda falta muito para que a acessibilidade na comu- nicação através do intérprete aconteça na sua totalidade. O intérprete de língua de sinais, além de ser uma pessoa de alto caráter moral, ético, se faz necessário que possua formação superior em nível de graduação ou pós- graduação e que tenha sido habilitado através da Proficiência em Língua de Sinais – Prolibras, exame promovido em nível nacional que visa habilitar os intérpretes e professores para a profissão, mas que não substitui a formação em todos os níveis educacionais. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é a instituição coordenadora do Prolibras desde 2006. 147 6.6.1 Exame Prolibras O exame Prolibras não substitui a formação em to- dos os níveis educacionais. Vejamos o que o Decreto nº 5.626/2005 artigos séti- mo e oitavo regulamentam sobre o Prolibras. Leia com aten- ção, pois atualmente esse exame tem sido uma dos assuntos mais discutidos entre surdose ouvintes. Art. 7º. Nos próximos dez anos, a partir da publi- cação deste Decreto, caso não haja docente com título de pós-graduação ou de graduação em Libras para o ensino des- sa disciplina em cursos de educação superior, ela poderá ser ministrada por profissionais que apresentem pelo menos um dos seguintes perfis: | I. professor de Libras, usuário dessa língua com curso de pós-graduação ou com formação superior e certificado de proficiência em Libras, obtido por meio de exame promovi- do pelo Ministério da Educação; | II. instrutor de Libras, usuário dessa língua com formação de nível médio e com certificado obtido por meio de exa- me de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação; | III. professor ouvinte bilíngue: Libras – Língua Portugue- sa, com pós-graduação ou formação superior e com certifi- cado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação. Art. 8º. O exame de proficiência em Libras, referido no art. 7º, deve avaliar a fluência no uso, o conhecimento e a competência para o ensino dessa língua. 148 §1º. O exame de proficiência em Libras deve ser promovido, anualmente, pelo Ministério da Educação e ins- tituições de educação superior, por ele credenciadas para essa finalidade. §2º. A certificação de proficiência em Libras habili- tará o instrutor ou o professor para a função docente. §3º. O exame de proficiência em Libras deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento em Libras, constituída por docentes surdos e linguistas de instituições de educação superior. Os intérpretes de Libras também já possuem um projeto de lei que reconhece a sua profissão. Faça uma leitura desse projeto e conheça mais sobre essa profissão. 6.6.2 Projeto de Lei que Reconhece a Profissão de Intérprete Projeto de Lei nº /2004 (Da Sra. Maria do Rosário) Reconhece a profissão de Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Art. 1.º Fica reconhecido o exercício da profissão de Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – Libras, com competência para realizar a interpretação das duas línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tra- dução e interpretação de LIBRAS e Língua Portuguesa, com as seguintes atribuições: | I. efetuar comunicação entre surdos e ouvintes; surdos e 149 surdos; surdos e surdos-cegos; surdos-cegos e ouvintes, atra- vés da Língua Brasileira de Sinais para a Língua Oral e vice- versa; | II. interpretar, em Língua Brasileira de Sinais / Língua Por- tuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais, via- bilizando o acesso aos conteúdos curriculares, desenvolvidas nas instituições de ensino que ofertam educação fundamen- tal, de ensino médio e ensino superior; Art. 2.º Os Intérpretes de Libras para o exercício de sua profissão deverão estar devidamente habilitados em curso superior ou de pós-graduação, em instituição regular- mente reconhecida pelo MEC. Parágrafo único. Os Intérpretes de Libras que exer- cem a função sem a formação que determina o ‘caput’, terão o prazo de 10 anos para a sua adequação, podendo atuar nes- te período através de exame de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras e Língua Portuguesa do MEC. Art. 3.º Além da habilitação definida, o exercício da profissão de intérprete de sinais deverá atender os seguintes requisitos: | I. domínio da língua de sinais; | II. conhecimento das implicações da surdez no desenvolvi- mento do indivíduo surdo; | III. conhecimento da comunidade surda e convivência com ela; | IV. filiação a órgão de fiscalização do exercício desta pro- fissão; | V. noções de linguistica, de técnica de interpretação e bom nível de cultura; |VI. habilitado na interpretação da língua oral, da língua de 150 sinais, da língua escrita para a língua de sinais e da língua de sinais para a língua oral. Art. 3.º. Esta lei entra em vigor 120 dias após sua publicação. Sala das Sessões, em dezembro de 2004. MARIA DO ROSÁRIO NUNES Deputada Federal PT/RS Texto disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/259154.pdf Acesso em 26 de dezembro de 2009. Art. 2º. Acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida. 6.7 Acessibilidade É importante que você saiba que, outras leis promo- veram para a efetivação dos direitos da pessoa surda em âm- bito nacional. Uma delas é a lei de acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, lei nº 10.098 de 10 de dezembro de 2000. 151 Art. 18. O Poder Público implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita em braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de de- ficiência sensorial e com dificuldade de comunicação. Vejamos primeiramente o conceito de acessibilida- de descrita na lei acima citada. Em seu artigo 17, lei nº 10.098, cita a promoção da eliminação de barreiras de comunicação e estabelece meca- nismos e alternativas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização às pessoas portadoras de defici- ência sensorial e com dificuldade de comunicação, para ga- rantir-lhes o direito de acesso à informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer. Veja também o que propõe o artigo 18. Os sistemas de radiodifusão sonora e de sons e ima- gens são também responsáveis pela promoção da acessibili- dade ao surdo. De acordo com o art. 19, eles devem adotar planos de medidas técnicas com o objetivo de permitir o uso da linguagem de sinais ou outra subtitulação, a fim de garan- tir o direito de acesso à informação às pessoas portadoras de deficiência auditiva. 152 6.8 Símbolo Internacional de Surdez Neste tópico você vai conhecer os símbolos da sur- dez e a sua importância. Eles foram criados mediante a lei nº 8.160 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a caracterização de símbolos que permitam a identificação de pessoas porta- doras de deficiência auditiva. Lei No. 8.160 De Janeiro De 1991 O Presidente De República, Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1º. É obrigatória a colocação, de forma visível, do "Símbolo Internacional de Surdez" em todos os locais que possibilitem acesso, circulação e utilização por pessoas por- tadoras de deficiência auditiva, e em todos os serviços que forem postos à sua disposição ou que possibilitem o seu uso. Art. 2º. O "Símbolo Internacional de Surdez" deve- rá ser colocado, obrigatoriamente, em local visível ao públi- co, não sendo permitida nenhuma modificação ou adição ao Imagens retirada e disponíveis em: http://www.detran.pe.gov.br/boletim.shtml 153 desenho reproduzido no anexo a esta lei. Art. 3º. É proibida a utilização do "Símbolo Inter- nacional de Surdez" para finalidade outra que não seja a de identificar, assinalar ou indicar local ou serviço habilitado ao uso de pessoas portadoras de deficiência auditiva. Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo não se aplica à reprodução do símbolo em publicações e ou- tros meios de comunicação relevantes para os interesses do deficiente auditivo, a exemplo de adesivos específicos para veículos por ele conduzidos. Art. 4º. O Poder Executivo regulamentará esta lei no prazo de noventa dias, a contar de sua vigência. Art. 5º. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 6º. Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 8 de janeiro de 1991; 170º da Independên- cia e 103º da República. FERNANDO COLLOR Jarbas Passarinho Margarida Procópio Texto disponível em: http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1991/8160.htmAcesso em 26 de dezembro de 2009. 154 E Exercícios | 1. O que é Audiometria? | 2. O que o Decreto no. 5.626/2005 artigo sétimo regula- menta sobre o Prolibras? | 3. Qual o objetivo do símbolo internacional da surdez? | 4. O que é acessibilidade? | 5. O que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, no capítulo V descreve? R ef er ên ci as B Referências Bibliográficas | LUCIANO, Anita Holm Thomsen. A Interpretação si- multânea sob a ótica da linguística Aplicada. Dissertação de Mestrado. 113f. Programa de Pós graduação. Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2005. (Disponível em http://libdigi.unicamp.br/do- cument/? code=vtls000349698). | PAGURA, Reynaldo. A Interpretação de Conferências: interfaces com a tradução escrita e implicações para a for- mação de intérpretes e tradutores. D.E.L.T.A., 19, ESPE- CIAL, 2003. p.209-236. (Disponível em http://www.scielo.br/ pdf/delta/v19nspe/13.pdf). | PERLIN, G.; STROBEL, K. Fundamentos da Educação dos Surdos. Florianópolis, 2006. | PEREIRA, Maria Cristina Pires. Interpretação interlín- gue: as especificidades da interpretação de língua de sinais. Cadernos de Tradução XXI, Vol. 1, p. 135-156. Florianópolis: UFSC, PGET: 2008. (Disponível em http://www.periodicos. ufsc.br/index.php/traducao/arti cle/view/8231/7587). | QUADROS, Ronice Muller.O tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa. Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educa- ção de Surdos – Brasília: MEC; SEESP, 2004. | QUADROS, Ronice Muller (org). Estudos Surdos I – Série Pesquisas. Petrópolis, RJ: Arara Azul Ltda, 2006. C Referências Complementares | Declaração de Salamanca (http://www.lerparaver.com/legislacao/internacional_sala- manca.html) | Lei de Diretrizes e Bases da Educação (lei nº 9394/96) (http://www.rebidia.org.br/noticias/educacao/direduc.html) | Lei no 10.172, de 9 de janeiro de 2001 (http://www.presidencia.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/ L10172.htm) | Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002 (http://www.presidencia.gov.br/CCIVIL/LEIS/2002/ L10436.htm G ab ar it o | 1. É a área que estuda a estrutura e os componentes perti- nentes a toda e qualquer língua denomina-se linguística; ela procura estudar cientificamente os fatos linguísticos. | 2. Linguagem é comumente utilizada para designar toda e qualquer forma de comunicação, sejam sistemas naturais ou artificiais. Já as línguas são sistemas complexos, capa- zes de comunicar sentimentos, emoções, ideias abstratas ou simplesmente conversações cotidianas como “Oi!”, “Tudo bem?”. É ainda um sistema padronizado pelo qual podemos construir um número infinito de sentenças | 3. Em 1970 e 1980, Lucinda Ferreira Brito e outros pes- quisadores, estudando a Língua de Sinais, observaram que esta também possui os mesmos critérios que a classificam como língua, ou seja, aspectos fonológicos, morfológicos, sintaxe, semântica e pragmática. | 4. Flexibilidade, arbitrariedade, descontinuidade, criativi- dade, dupla articulação, padrão e dependência estrutural. | 5. MITO 1: A língua de sinais seria uma mistura de panto- mima e gesticulação concreta, incapaz de expressar concei- tos abstratos. (QUADROS, 2004, p. 31). As línguas de sinais expressam conceitos abstratos. Os usu- ários podem discutir sobre todo e qualquer assunto como: política, filosofia, economia, matemática, física e psicologia. (QUADROS, 2004). MITO 2: Haveria uma única e universal língua de sinais usa- 01 da por todas as pessoas surdas. (QUADROS, 2004, p. 33) A Língua de Sinais Brasileira não é universal, cada país pos- sui a sua. Dessa forma, temos aqui no Brasil (Libras), nos Estados Unidos (American Sign Language – ASL) e na Fran- ça (Langue de Signes Française - LSF). | 1. “O conjunto de sujeitos surdos que não habitam no mes- mo local, mas que estão ligados por uma origem, tais como a cultura surda, costumes e interesses semelhantes, histórias e tradições comuns e qualquer outro laço” (STROBEL apud PERLIN & STROBEL 2006, p. 8). | 2. Segundo Skliar (1998, p 15), “é um conjunto de repre- sentações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e narrar-se como se fosse ouvinte.” | 3. As associações são espaços existentes em todo o Brasil, onde os surdos se reúnem para juntos lutarem pelos seus di- reitos. É estruturada através de uma diretoria composta por surdos, a qual é responsável por administrá-la, sendo que, os ciclos de eleições são regidos por estatutos, havendo também a participação e envolvimento das pessoas ouvintes. | 4. A principal função da Feneis tem sido ministrar e divul- gar a Libras através de cursos, oficinas, palestras. A Feneis também organiza ações políticas e manifestações em prol dos direitos da comunidade surda brasileira. É ainda uma 02 entidade filantrópica com objetivos educacionais e sociais. | 5. A Confederação Brasileira de Desporto de Surdos (CBDs) é a organização que visa promover a integração do surdo por meio do esporte. Assim, os surdos participam de campeonatos e torneios nas mais diversas modalidades em todo o território nacional. | 1. A Língua de Sinais Brasileira (Libras) é a língua ma- terna dos surdos brasileiros. É uma língua viva, autônoma, capaz de transmitir todo e qualquer conceito, dos mais com- plexos até os mais abstratos. Os usuários da Libras, podem discutir sobre todo e qualquer assunto, desde economia, po- lítica, física, literatura, histórias de humor e etc. | 2. A Língua de Sinais Brasileira teve sua origem através do alfabeto manual francês. A convite de D. Pedro II, um Padre surdo da França, chamado Ernest Huet, veio ao Brasil por volta de 1857. Na cidade do Rio de Janeiro, ele encon- trou surdos cariocas mendigando e perambulando pelas ruas, sem saberem se comunicar. Foi através do “método combi- nado”, utilização da língua de sinais como meio para o en- sino da fala, que Ernest Huet começou a trabalhar com os surdos do Brasil. | 3. Línguas orais-auditivas: o canal emissor da comunica- ção é a voz, através da fala e o canal receptor da comunica- 03 ção são os ouvidos, através da audição. Línguas gestuais-visuais: o canal emissor da comunicação são as mãos, através dos sinais e o canal receptor da comuni- cação são os olhos, através da visão. | 4. Os empréstimos linguísticos, são expressões de outro país que são adotadas pelos falantes de determinada nacio- nalidade. Por exemplo, em português, fizemos o empréstimo linguístico da língua inglesa de palavras como: show, rock in roll, chock, equalization etc; estas palavras passaram a inte- grar o léxico do português. | 5. A datilologia é a soletração do português no espaço através do alfabeto manual. É usada quando uma determina- da palavra em português não possui um sinal próprio, então é necessário fazer soletração manual, seguida da explicação do conteúdo semântico. | 1. Configuração de mão, locação, movimento, ponto de articulação e expressões não-manuais. | 2. Configuração da mão: é o formato que a mão assume para a realização de um determinado sinal. - Locação ou Ponto de Articulação: Local onde incide a mão predominante, ou seja, lugar onde é feito um determinado sinal. - Movimento: Alguns sinais apresentam movimento outros não. 04 | 3. As afetivas são as expressões ligadas a sentimentos / emoções. As expressões faciais gramaticais lexicais estão ligadas ao grau dos adjetivos. As expressões faciais gramati- cais sentenciais estão ligadas às sentenças. | 4. Como exemplo, podemos citar os sinais de QUERER e QUERER-NÃO, IR e VIR. | 5. “As palavras da Libras e do português se estruturam a partir de unidades mínimas sonoras e espaciais, respectiva- mente. Essas unidades ou fonemas, são distintivas, porque quando substituídas uma por outra, geram uma nova forma linguística com um significado distinto”. |1. O oralismo é um dos recursos que usa o treinamento de fala, leitura labial, e outros. A Comunicação Total inclui todo o espectro dos modos linguísticos: gestos criados pelas crianças, língua de sinais, fala leitura orofacial, alfabeto ma- nual, leitura e escrita. O Bilinguismo tem como pressuposto básico que o surdo deve ser Bilíngue, ou seja, deve adquirir como língua materna a língua de sinais, que é considerada a língua natural dos surdos e, como segunda língua, a língua oficial de seu país. | 2. Skliar apud Quadros (2006, p. 25) cita o conjunto de resoluções votadas no Congresso que demonstram a substitui- ção da língua de sinais pela língua oral na educação de surdos: 05 I – Considerando la indudable superioridad de la palabra sobre los gestos para restituir al sordomudo a la lengua, el Congresso declara que o método oral deve ser preferido al de la mímica para la educación e instrución de los sordo-mudos. II – Considerando que el uso simultáneo de la palabra y de lo gestos mímicos tiene la desventaja de dañar la palabra, la lectura sobre los lábios y la precisión de las ideas, el Con- gresso declara que o método oral debe ser preferido [...] | 3. Sánchez apud Quadros (2006, p.23), destaca que “a di- vulgação dos trabalhos do abade L’Epée e a adoção de seu método pedagógico em muitas escolas públicas, permitiram aos surdos, não só da França, mas também em países como Rússia, Escandinávia, Itália e Estados Unidos, a possibili- dade de destacarem-se e ocuparem cargos importantes na sociedade de seu tempo. | 4. Thomas Hopkins Gallaudet, o primeiro americano a se interessar pela educação dos surdos, ouviu falar do método desenvolvido por L’Epée na França para educar os surdos e decidiu viajar para aprender de perto sobre o método e co- nhecer o Instituto de Paris, pois o seu objetivo era fundar uma escola para surdos na América. Ao chegar na França, L’Epée apresenta Laurent Clerc, ins- trutor surdo, que passa a acompanhar Gallaudet ensinando a língua de sinais e o instruindo. Contratado por Gallaudet, ambos viajam para os Estados unidos com o objetivo de im- plantar a primeira escola pública para surdos naquele país. Em 1817, eles conseguem atingir o objetivo proposto fun- dando o que ficou conhecida por Connecticut Asylum for the Education and Instruction of Deaf and Dumb Persons. | 5. Depois do Congresso de Milão, a língua de sinais foi proibida em todas as escolas. Era comum a prática de amar- rarem as mãos das crianças para trás a fim de que evitar que elas se comunicassem através dos sinais. Os surdos perderam o seu emprego e houve uma queda na qualidade da educação. Oralismo então foi adotado pelas escolas de toda a Europa até os fins de 1970. Porém a abordagem utilizada nesse pe- ríodo descaracterizou o surdo, subordinando a sua educação à oralidade. O que ficou considerado como um retrocesso grotesco na educação dos surdos do mundo todo. | 1. Audiometria: exame da audição realizado por meio de instrumentos e avaliação da capacidade para apreender os diferentes sons da fala e de classificação de surdez em vários graus. | 2. Art. 7º. Nos próximos dez anos, a partir da publica- ção deste Decreto, caso não haja docente com título de pós- graduação ou de graduação em Libras para o ensino dessa disciplina em cursos de educação superior, ela poderá ser ministrada por profissionais que apresentem pelo menos um dos seguintes perfis: I – professor de Libras, usuário dessa língua com curso de pós-graduação ou com formação superior e certificado de proficiência em Libras, obtido por meio de exame promovi- 06 do pelo Ministério da Educação; II – instrutor de Libras, usuário dessa língua com formação de nível médio e com certificado obtido por meio de exa- me de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação; III – professor ouvinte bilíngue: Libras – Língua Portuguesa, com pós-graduação ou formação superior e com certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promo- vido pelo Ministério da Educação. | 3. Permitir a identificação de pessoas portadoras de defi- ciência auditiva. | 4. Acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pes- soa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida. | 5. Descreve as modalidades de educação oferecidas aos portadores de necessidades educacionais especiais. Defende que, de preferência, a educação dessas pessoas deve aconte- cer na escola regular. Assegura que é dever do estado a oferta de educação infantil na faixa etária de 0 a 6 anos e confere que devam existir ainda métodos, técnicas e profissionais adequados com vistas a atender as especificidades das pes- soas especiais.