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VERGUEIRO, Waldomiro. Desenvolvimento_de_Coleções

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;Y, 
W ALDOMIRO VERGUEIRO \)'-f 
DESENVOLVIMENTO 
DE . -
COLEÇOES 
editora polis 
associação paulista de bibliotecários 
1989 
Copyright© 1989 do autor 
Capa: Maria Luiza Marinho Silva 
VERGUEIRO, Waldomiro de Castro Santos. Desenvolvi· 
V498d mento de Coleções. São Paulo: Polis : APB, 1989. (Co­
leção Palavra-chave, 1) 
96 p. 
1. Desenvolvimento de Coleções 1. Título 
lndice para catálogo sistemático: 
CDD ( 19a) - 025.2 
CDU - 025.2 
1. Desenvolvimento de Coleções (Biblioteca)
Direitos reservados ·pela 
LIVRARIA E EDITORA POLIS L TOA. 
Rua Caramuru,. 1196 - Saúde - 04138 - São Paulo - SP 
Tel.: (011)275-7586 
SUMÁRIO 
Introdução, 7 
Por que desenv,olvimento de coleções?, 1 O 
O processo de desenvolvimento de coleções, 15 
Políticas para desenvolvimento de coleções, 24 
Estudo de comunidade, 29 
A seleção como atividade técnica e intelectual, 38 
Instrumentos auxiliares à seleção, 45 
Seleção e censura de materiais, 55
A aquisição como processo administrativo, 63 
Desbastamento: a hora da decisão, 74 
Avaliação de coleções: a busca do método, 81 
Conclusão, 92 
Bibliografia complementar, 94 
5 
INTRODUÇÃO 
Em minha atividade acadêmica, tive a oportunidade de 
entrar em contato com muitas bibliotecas e, aos poucos, 
passei a conhecer algumas das características comuns a lodas. 
Notei que existia uma incógnita em relação às coleções, como 
se algo não,estivesse suficientemente definido. Tinha-se a im­
pressão de que alguma coisa não estava bem, embora não se 
conseguisse atinar exatamente com o quê. As coleções lá 
estavam e os profissionais precupavam-se, às duras penas, cm 
mantê-las vivas e atuantes. Louvável, extremamente louvá­
vel, embora, cm muitos casos, não o suficiente. 
Comecei a perguntar-me as razões disto e desta fonna, 
quase sem me dar conta, fui direcionando minhas pesquisas e 
trabalhos teóricos para a questão do descrwoJvimento de 
coleções. Assim, surpreendi-me, não sem uma cena dose de 
satisfação,, ao ver que minhas preocupações eram partilhadas 
a nível mundial. Um bom sinal, pelo menos um indício de que 
minhas dúvidas não estavam totalmente equivocadas, pos­
suíam alguma razão de ser. Foi o que pude depreender do 
levantamento da literatura internacional sobre desenvolvi­
mento de coleções. 
No entanto, ao verificar que a questão estava já rclativ a-
7 
mente amadurecida internacionalmente, possuindo mesmo 
uma literatura até que bastante ampla, registrada cm perió­
dicos e livros especializados, notei que no Brasil o mesmo não 
se repetia. Senti, então, falta de um texto que tratasse a questão 
por inteiro, de uma forma que fosse acessível a bibliotecários 
sem pretensões a pesquisas aprofundadas, mas sim dispostos 
a resolver seus problemas no trato diário com as coleções, 
pelas quais, em última análise, silo os responsáveis diretos. 
Senti também, após muita leitura da literatura nacional e 
internacional sobre o assunto, tentando adaptá-la à nossa 
realidade com vistas à orientação de futuros bibliotecários, 
que tinha alguma contribuição a oferecer. Talvez tenha sido 
excesso de pretensão da minha parte. No entanto, decidimos 
arriscar uma tentativa, procurando atender a uma população 
que parece necessitar- ou preferir- textos mais leves e de 
fácil entendimento, embora não necessariamente tão superfi­
ciais a ponto de nilo apr,esentarem novidade alguma. A meu 
ver, este é o campo dos manuais especializados que podem ser 
úteis tanto para profissionais com prática no assunto em busca 
de um enfoque teórico - sem, no entanto, deixarem de ser 
guias práticos -, como para estudantes ou bibliotecários 
recém-formados em busca de maiores conhecimentos que os 
auxiliem em sua vida profissional presente e futura. O texto, 
que se segue é, além de, como disse, uma ousadia, também 
uma tentativa de propiciar aos bibliotecários esta visão geral 
do desenvolvimento de coleç,ões. Será, por isso mesmo, 
necessariamente breve e procurará ser também, ao mesmo, 
tempo, não muito superficial. Tentaremos ,evitar o excesso de 
8 
citações e referências a outros autores, pois este não será um 
trabalho com vistas a ser apresentado perante urna banca 
examinadora. Entenda-se, ponanto, que muitas das idéias 
ventiladas a scguir não �o exclusivamente deste autor, mas se 
constituem em um apanhado das preocupações de diversos 
autores sobre o assunto; devido aos objetivos do livro, farei 
referência a todos eles ao final, no capítulo dedicado às 
leituras complementares (desta fonna, aqueles que não se 
sentirem suficientemente interessados poderão simplesmente 
prescindir da leitura do mesmo). 
9 
POR QUE DESENVOLVIMENTO 
DE COLEÇÕES? 
Há alguns anos, Umberto Eco escreveu O nome da rosa,
romance que ficou durante muito tempo na lista dos mais 
vendidos, transformando-se, posterionnente, em um filme 
dos mais. badalados. Por um certo periodo, a leitura do livro 
tomou-se obrigatória entre as "pessoas de cuhura", que pas­
saram a discuti-lo em seus barzinhos favoritos. Para os biblio­
tecários, então, foi um prato cheio, pois lá estava, inteirinho, 
o sonho de suas vidas: uma biblioteca enorme, colossal
mesmo, contendo milhares de livros cuidadosamente arruma­
dos em suas estantes. Perfeito. Que tristeza provavelmente
não foi, para muitos bibliotecários, quando ao final a biblio­
teca é incendiada, destruindo tudo aquilo que o bibliotecário
da ficção, contrariamente ao bibliotecário real, havia podido
acumular (que pena.já contei o final do livro ... ). O que muitos
não repararam, no entanto- ou não quiseram reparar-, era
que o gigantismo da biblioteca não existia apenas na obra de
ficção, mas era um fantasma a rondá-los diariamente. Em
muitos casos, um fantasma até mesmo abençoado, pois, para
muitos, o tamanho da coleção ainda parece significar um sinal
de status, algo de que se pode jactar perante os colegas, como
10 
meninos de creche discutindo, qual tem algo a mais ou maior 
que o outro ... 
Felizmente, brincadeiras à pane, ,esta não é mais uma 
situação a ser encarada como regra de conduta entre os 
bibliotecários.Já de alguns anos para cá a questão do tamanho 
da coleção deixou de ser o ponto mais importante para os 
profissionais da biblioteconomia. Descobriram outras coisas. 
Primeiro, descobriram o usuário; depois, a coleção; agora, 
estão descobrindo o computador e estão extasiados com ele ... 
Mas o que interessa aqui, entretanto,é apenas a coleção. O que 
já é muito, diga-se de passagem. 
Desde alguns anos, mais precisamente a partir de finais 
da década de 60 e inícios da de 70, desencadeou-se na 
Biblioteconomia internacional um movimento ao qual se 
resolveu denominar de Movimento para ó Desenvolvimento 
de Coleções. De repente, no mundo inteiro (o Brasil demo­
rou um pouco para aderir) boa parte dos bibliotecários 
começaram a preocupar-se com suas coleções, buscando 
desenvolvê-las, selecioná-las, expurgá-las, enfim, trans­
formá-las em alguma coisa mais coerente. E houve, então, o 
que alguns autores chegaram a denominar de bnom do desen­
volvimento de coleções (um modismo?): artigos sobre o 
assunto começaram a sair, com frequência cada vez maior, 
nos periódicos de Biblioteconomia; manuais foram escritos, 
buscando conscientizar os profissionais sobre a importância 
do tema (aliás, este é mais um deles ... ); teses e pesquisas foram 
realizadas nas universidades; periódicos especializados cm 
Desenvolvimento de Coleções foram criados. Pode-se imagi-
J/ 
nar até, como foi dito antcrionnente, que, talvez com alguns 
(!) anos de atraso, os bibliotecários haviam finalmente desco, 
bcrto suas coleções ... tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe. 
Ouvindo isto, fica-se tentado a imaginar o que fizeram os 
bibliotecários antes disso. Não realizaram eles por tanto 
tempo a atividade de seleção, escarafunchando índices e 
bibliografias,pesquisando cm reviews e tudo quanto é mate­
rial de divulgação? Não receberam sempre um número maior 
de pedidos de compra que a verba disponível para aquisição, 
tendo que estabelecer prioridades na efetivação das compras? 
Não fizeram contatos com livreims, com agentes, buscando 
adquirir o material da fonna menos dispendiosa? Não rece­
beram doações? Não descartaram material? Não fizeram 
inventários ou avaliações do acervo? Afinal, por que toda esta 
celeuma em tomo de algo que os bibliotecários já vêm 
fazendo, desde sempre, no dia-a-dia de suas bibliotecas? Pois 
é, ótimas perguntas. E talvez a resposta esteja exatamente aí, 
na rotina do dia-a-dia. Pode ser quê - e isto é apenas uma 
suposição -, realizando rotineiramente algumas das 
atividades ligadas à coleção, não tenham jamais se preocu­
pado em en>tergar o objeto das mesmas além do cotidiano, 
aceitando tacitamente que aquele era um terreno sobre o qual 
nunca se poderia mesmo ter uma grande possibilidade de 
controle. Com tudo isto, graças ao trabalho abnegado dos 
bibliotecários, as coleções foram crescendo, crescendo, cres­
cendo até que ... não, não chegaram a estourar. 
A explosão, na realidade, ocorreu em um outro nível: no 
posicionamento dos profissionais perante a questão do desen-
/2 
volvimento de suas coleções. É muito provável, aliás, que 
uma outra explosão, a tão falada "explosão bibliográfica", 
tenha, esta sim, ex,ercido muita influência nesta mudança de 
atitude, colocando definitivamente no passado a era do desen­
volvimento de grandes coleções compreensivas. Ficou mais 
claro para os bibliotecários que, se pretendiam manter as 
bibliotecas pelas quais eram responsáveis corno organismos 
vi vos e atuantes, deveriam necessariamente mudar a ênfase de 
seu trabaJho da acumulação pura e simples do material para o 
acesso ao mesmo. Sinal dos tempos, que, através dos moder­
nos sistemas de comunicação, tomou as coleções, mesmo as 
mais retrospectivas delas, acessíveis a nível mundial. Hoje, 
através do compartilhamento de recursos informacionais 
que-, praticamente, não conhece fronteiras-, o limite para 
o uso das coleções passou a ser o próprio limite do conheci·
mento recuperável. Como pensar, di·ante disto, em armazenar
apenas para si? Está bem claro que nenhuma biblioteca pode
ser auto-suficiente, dando-se ao luxo de suprir todas as neces­
sidades de seus usuários com recursos próprios. Esta é uma
ilusão da qual, por mais tentadora que seja, os bibliotecários
devem procurar fugir. Na realidade, é uma aspiração huma­
namente impossível de concretizar. Passou o tempo do biblio­
tecário armazenador de livros - os fonnatos já são em nú­
mero bastante elevado e estão presentes em praticamente
todas as bibliotecas -, a tentar conseguir manter sob sua
guarda a totalidade do conhecimento humano ... Chegou o
tempo da biblioteca abrir-se a todas as fontes de informação,
e o bibriotecário tomar-se a ponte entre o acervo sobre o quaJ
13 
tem a responsabilidade e um usuário cuja exigência cresce ex­
ponencialmente. Mais ainda, ponte entre este usuário e o 
universo de fontes de infonnação, estejam elas onde estive­
rem, entre as quais a coleção da biblioteca será apenas uma 
parcela. E é por isso mesmo que este se caracteriza como o 
tempo do planejamento de acervos seletivos, dinâmicos, não 
meros agrupamentos de livros e alguns outros poucos mate­
riais. Acervos integrados à comunidade. 
Sem dúvida, uma mudança muito radical esta, ocorrida 
com uma rapidez surpreendente, chegando mesmo a pegar 
alguns profissionais de surpresa. Não é, também, uma tarefa 
fácil, pois exige uma transfonnação de mentalidade. Mas 
parece ter sido, ex.atamente por isso, uma mudança bastante 
benéfica, haja vista a escassez de recursos econômicos, sem­
pre uma constante nas bibliotecas. Talvez, quando usuários e 
administradores culturais descobrirem que as verbas aplica­
das em bi Miotecas e centros de documentação não estão sendo 
dispendidas aleatoriamente na aquisição de materiais inade­
quados, comecem a chegar maiores volumes de recursos 
financeiros às mãos dos bibliotecários. Ingenuidade isto? Até 
pode ser. De qualquer {onna, o desenvolvimento de coleções, 
aliado a outros fatores - formação dos profissionais, recon­
hecimento social da profissão, etc. -, poderá conttibuir em 
grande medida para que as instituições responsávds pela 
guarda e disseminação da infonnação - entre as quais as 
bibliotecas são, pelo menos cm um país subdesenvolvido 
como o nosso, ainda a maior parte - tenham reconhecido o 
seu valor. Sonhar é possível? 
14 
O PROCESSO DE 
DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES 
Tendo convencido o bibliotecário desavisado dos moti­
vos favorávds ao· desenvolvimento de coleções e porquês. 
desta mudança de atitude dos profissionais em nível mundial. 
agora o tenho entusiasmado com isto- pelo menos. é esta a 
minha esperança -. e disposto a sair pelo mundo desen­
volvendo todas as coleções que lhe apareçam pela frente ou 
venham a cair-lhe às mãos. Necessário é, ponamo. refreá·lo. 
Calma! Calma! Calma! Desenvolvimento de coleções é. 
acima de tudo, um trabalhodepÍanê}amento-alg.umas vezes 
sou tentado a denominá-lo de planejamento de acervos, o que, 
provavelmente, é muito mais sonoro ... - e_, sendo um tra­
balho de planejamento, exige comprometimento com meto­
dologias. Não é, efçli'vamente, algo assim tão simples como 
pode parecer à primeira vista. Na realidade, trata-se de um 
e�sSo que, ao mesmo tempo, afeta e é afetado por muitos 
fatores externos a ele. E, ,como, processo, é, também, ininter­
rupto, scm_qye se possa indicar um começo ouimfim�-Nãoé 
algo que começa hoje. e .tem um prazo estipulado para seu 
ténnino. Nem é, tampouco, um processo homogêneo, idên-
15 
tico em toda e qualquer biblioteca. O tipo de biblioteca, os 
objetivos específicos que cada uma delas busca atjngir, a 
comunidade específica a ser atendida, influem grandemente 
nas atividades do desenvolvimento de coleções, como vere­
mos a se,guir. 
Esta visão do Desenvolvimento de Coleções como um 
processo, abordado de uma perspectiva sistémica, é muito 
importante para transmitir a noção de que as atividades 
ligadas à coleção não podem ser encaradas isoladamente. O 
modelo do processo, elaborado pelo bibliotecário norte­
americano G. Edward Evans, é, aliás, muito elucidado.r a este 
respeito (figura 1), pois mostra o caráter cíclico do desen­
volvimento de coleções, sem que uma etapa chegue .a distjn­
guir-se das outras. Estão todas em pé de igualdade, girando em 
tomo de um pequeno círculo onde se situam os bibliotecários 
responsáveis pelo desenvolvimento da coleção. Ao redor dos 
componentes do processo, servindo como. subsídio a todos 
eles - à exceção única a da etapa de aquisição-, encontra­
se a comunidade a ser servida. Desta fonna, o modelo cobre 
o processo inteiramente, não se limitando a tratar o desen­
volvimento de coleções como se Fosse apenas as atividades de
seleção e aquisição, erro muito comum em que incorrem
bibliotecários desprevenidos. A figura é bastante esclare­
cedora por mostrar que este é um processo inintcmJpto, sem
começo ou fim, tendo necessariamente que se tornar uma
atividade rotineira das bibliotecas, garantia única para sua
total efetividade. Procura o bibliotecário none-amcricano
demonstrar que todas as etapas devem necessariamente estar
16 
Figura l - Processo de desenvolvimento de coleções. 
17 
presentes, em toda e qualquer biblioteca, como atividades 
nonnais; e rotineiras - como o são a catalogação, a classifi­
cação, o empréstimo e a elaboração de relatórios-. não pro� 
cedendo, absolutamente, aquela velha desculpa, tão utilizada 
pelos bibliotecários, de que não realizam uma ou outra etapa 
ou fase do processo de desenvolvimento de coleções - usu­
almente a avaliação ou o estudo de comunidade - por 
absoluta falta de tempo. A partirdo momento cm que se passa 
a considerar o.dc:senvolviJ!l�nto de coleções como atividade 
rotineira das bibliotecas - afinal, as coleções não se desen­
volvem no vazio, fruto de geração espontânea ... -, qualquer 
desculpa para a não realização de todas as fases do processo 
perde sua razão de ser. Mas esta, a colocação do desen­
volvimento de coleções no mesmo nfvcl das demais 
atividades das bibliotecas- e não como um luxo ao qu.al se 
podem dar apenas alguns bibliotecários mais privilegiados em 
tennos de tempo e pessoal auxiliar -, é uma luta árdua. 
Existem, sabemos bem, diversos empecilhos para a sua con­
cretização, empecilhos estes que vão desde barreiras psico­
lógicas em relação a algumas fases do processo - como o 
descarte, por exemplo -, até a quase total incapacidade de 
muitos profissionais para pensar a coleção como um vir-a-ser, 
ou seja, como objeto de reflexão e planejamento, passando 
pela dificuldade que muitos encontram para colocar, em 
termos claros, o que desejam alcançar e sob que critérios 
nortear seu procedimento. Em suma, falta, muitas vezes, a 
visilo da coleção como um .todo, ficando-se preso a pontos 
fatuais ou a detalhes que não são o essencial do trabalho de 
18 
desenvolvimento de coleções. Como aquele episódio com 
nativos africanos, quando pela primeira vez lhes foi exibido 
um filme cinematográfico: ficaram extasiados com a cena da 
galinha, o que muito impressionou os exibidores, pois no 
filme, segundo se sabia até então, não existia galinha alguma. 
Repetida a exibição, notaram surpreendidos que realmente, 
em detenninado momento do filme, uma daquelas aves pas­
sava correndo por um canto da tela. Na realidade os nativos, 
desacostumados àquela linguagem de comunicação de massa, 
não conseguiam enxergar a tela como um todo, fixando sua 
atenção em partes da mesma. Questão de falta de contato com 
o meio de comunicação ou de domínio daquela linguagem
específica, concluíram os estudiosos do assunto. Os biblio­
tecários, em seu relacionamento com as coleções, correm o
risco de também - figurativamente falando- estarem a ver
galinhas atravessando os cantos da tela. Falta de domínio
sobre o processo de desenvolvimento de coleções, pode-se
imaginar. Feliz.mente, algo sanável.
Para início de conversa, deixemos bem claro que, em­
hora o processo esteja presente por inteiro em todas as 
bibliotecas, é lógico que ele não ocorrerá da mesma forma em 
cada uma delas. Parece bastante evidente que a coleção de 
uma biblioteca pública não se desenvolverá da mesma fonna 
que a de uma biblioteca universitária, escolar ou especiali­
:,.ada. As.ênfases, em cada uma delas, serão diferentes. Se não, 
vejamos: 
a) Bibliotecas públicas: possuem uma clientela mais
dinâmica, diversificada, que deve ser acompanhada com 
19 
bastante atenção devido à mudança de gostos e interesses. As 
necessidades infonnacionais da comunidade .servida pela 
biblioteca pública variam quase que na mesma proporção cm 
que variam os grupos, organizados ou não, presentes na 
mesma. O trabalho de análise da comunidade parece ser, 
assim, aquele que maior ênfase deve receber por pane do 
bibliotecário, não se descartando, porém, exatamente em 
virtude das flutuações detectadas pelos estudos de comu­
nidade, um cuidado especial com a seleção de materiais, 
devidamente alicerçada em uma política de seleção. Boa 
ênfase nas atividades de avaliação e desbasta mente parece ser, 
também, uma característica do desenvolvimento de coleções 
cm bibliotecas públicas, principalmente para atender a de­
manda imediata dos usuários; 
b) Bibliotecas escolares: existem-ou, pelo menos, de­
veriam existir-para dar suporte às atividades pedagógicas 
das unidades escolares. Mais que isto: devem estar integradas 
no processo educacional. A coleção das bibliotecas escolares 
segue, na realidade, o direcionamento do sistema educacional 
vigente. A ênfase está, pcmanto, muito mais na seleção de 
materiais para fins didáticos - normalmente alicerçada cm 
uma política de seleção que tem sua base no currículo ou 
programa escolar. O desbastamento da coleção irá acompa­
nhar as mudanças nos programas e/ou cunículos; 
e) Bibliotecas universitárias: devem atender aos objeti­
vos da universidade, a saber, o ensino, a pesquisa e a extensão 
20 
à comunidade. Isto vai exigir, quase que necessariamente, 
uma coleção com forte tendência ao crescimento, pois ativi­
dades de pesquisa exigem uma grande gama de materiais para 
que o pesquisador possa ter acesso a todos, os pontos de vista 
importantes ou necessários. A seleção, no caso, não é o que há 
de mais importante, pois a biblioteca precisa ter um volume de 
recursos infonnacionajs suficiente para dar suporte à pesquisa 
realizada tanto por docentes como por alunos de pós-gra­
duação. Da mesma fonna, .a comunidade é. relativamente 
homogênea, não exigindo estudos ou avaliações de gf"',mde 
monta. A ênfase maior, no caso, parece estar muito mais no 
desbastamento e avaliação da coleção, medidas necessárias 
para otimização do acervo. As bibliotecas das chamadas 
"instituições isoladas de ensino superior", no entanto, con­
trJriamcnte às de bibliotecas ligadas às universidades, exa­
tamente por não terem que prestar suporte à pesquisa, nortcarn 
o desenvolvimento de suas coleções apena,;; pelas exigências
dos programas ou currículos dos cursos por elas oferecidos.;
d) Bibliotecas especializadas ou de empresas: cx.istem
para atender às necessidades das organizações a que estão 
subordinadas e, por isso - mais do que qualquer uma das 
outras-, têm seus objetivos muito melhor d·efinidos. Prova­
velmente, a di ferença maior no desenvolvimento de coleções 
de bibliotecas especializadas é a presença, com muito maior 
frequência, de ma1c.riais não convencionais - relatórios, 
pnténtcs, pré-prints,ctc. -, que exigem dos bibliotecários um 
2/ 
melhores serviços aos usuários, que terão ampliado o 
universo de materiais à sua disposição. Apesar de programas 
efetivos. de colaboração entre bibliotecas apresentarem 
problemas devidos à falta de infra-estrutura, nunca é demais 
frisar que a persistência deve ser mantida, buscando o aper· 
fciçoamento do serviço. Se, em pafscs mais privilegiados cm 
termos de recursos econômicos.esta é uma medida de racio­
nalização, em países sutxicsenvolvidos, então, é, pratica­
mente, uma medida de sobrevivência ... 
Além do mais, o_ d��e_ny_e>lvimento 9e coleções, como 
atividade de planejamento, deve ter um plano detalhado pre­
esiaõêlecido, a fim de garantir um mínimo de continuidade ao 
processo e correções de rota, quando necessárias. É o que se 
costuma chamar, genericamente, de estabelecimento de uma 
política para o desenvolvimento da coleção, um documento 
onde se detalhará quem será atendido pela coleção, quais os 
parâmetros gerais da mesma e com que critérios esta se 
desenvolverá. Algo que, por sua importância, merece um 
capítulo à pane. 
23 
melhores serviços aos usuários, que terão ampliado o 
universo de materiais à sua disposição. Apesar de programas 
efetivos. de colaboração entre bibliotecas apresentarem 
problemas devidos à falta de infra-estrutura, nunca é demais 
frisar que a persistência deve ser mantida, buscando o aper· 
feiçoamento do serviço. Se, cm países mais privilegiados cm 
teTmos de recursos econômicos, esta é uma medida de racio­
nalização, cm países subdesenvolvidos, então, é, pratica­
mente, uma medida de sobr:cvivência ... 
Além do mais, o __ dÊse!!_volvimento de coleções, como 
atividade de planejamento, deve ter um plano detalhado pre­
estabelecido, a lim de garanti r um mínimo de continuidade ao 
processo e correções de rota, quando necessárias. É o que se 
costuma chamar, genericamente, de estabelecimento de uma 
política para o desenvolvimento da coleção, um documento 
onde se detalhará quem será atendido pela coleção, quais os 
parâmetrosgerais da mesma e com que critérios esta se 
desenvolverá. Algo que, por sua imponância, merece um 
capítulo à parte. 
23 
Os propósitos de uma política, na realidade, são muito 
mais amplos do que se sugeriu no parágrafo anterior. Trata-se 
de deixar clara a filosofia a nortear o trabalho bibliotecário no 
que diz respeito à coleção. Mais exatamente, trata-se de tomar 
público, expressamente, o relacionamento entre o desenvol­
vimento da coleção e os objetivos da instituição a que esta 
coleção deve servir, tanto por causa da necessidade de um guia 
prático na seleção di:ária de itens, como devido ao fato de ser 
tal documento uma peça-chave para o planejamento em larga 
escala. Além do mais, poderíamos dizer que o processo 
mesmo de elaboração desta política tem uma função peda­
gógica, digamos assim, à medida que propicia ao bibliotecário 
oportunidade de auto-avaliação e reflexão sobre sua prática de 
desenvolvimento da coleção. Acrescente-se, também, que 
apenas a existência de tal documento pode garantir, pelo 
menos no limite do possível, uma coleção consistente e um 
crescimento balanceado dos recursos informacionais da 
biblioteca. Ou seja: a política irá funcionar como diretriz para 
as decisões dos bibliotecários cm relação à seleção do material 
a ser incorporado ao acervo e à própria administração dos 
recursos informacionais. É ela que irá prover uma descrição 
do estado geral da coleção, apontar o método de trabalho para 
<.,'Onsccução dos objetivos e funcionar como elemento de 
argumentação do bibliotecário. dando-lhe subsídios para 
discussão com autoridades superiores, tanto para a obtenção 
de novas aquisições como para recusa de imposições esta­
pafúrdias. 
A elaboração de um documento que contenha a política 
25 
Os propósitos de uma política, na realidade, são muito 
mais amplos do que se sugeriu no parágrafo anterior. Trata-se 
de deixar clara a filosofia a nortear o trabalho bibliotecário no 
que diz respeito à coleção. Mais exatamente, trata-se de tomar 
público, expressamente, o relacionamento entre o desenvol­
vimento da coleção e os objetivos da instituição a que esta 
coleção deve servir, tanto por causada necessidade de um guia 
prático na seleção diária de itens, como devido ao fato de ser 
tal documento uma peça-chave para o planejamento em larga 
escala. Além do mais, poderíamos dizer que o processo 
mesmo de elaboração desta política tem uma função peda­
gógica, digamos assim, à medida que propicia ao bibliotecário 
oportunidade de auto-avaliação e reflexão sobre sua prática de 
desenvolvimento da coleção. Acrescente-se, também, que 
apenas a existência de tal documento pode garantir, pelo 
menos no limite do possível, uma coleção consistente e um 
crescimento balanceado dos recursos infonnacionais da 
biblioteca. Ou seja� a política irá funcionar como diretriz para 
asdecisões dos bibliotecárioscm relação à seleção do material 
a ser incorporado ao acervo e à própria administração dos 
recursos informacionais. É ela que irá prover uma descrição 
do estado geral da coleção, apontar o método de trabalho para 
consecução dos objetivos e funcionar como elemento de 
argumentação do bibliotecário, dando-lhe subsídios para 
discussão com autoridades superiores, tanto para a obtenção 
de novas aquisições como para recusa de imposições esta­
pafúrdias. 
A elaboração de um documento que contenha a política 
25 
der. No correr do tempo, em suma, uma boa política deve 
infonnar aos bibliotecários sobre: 
a) que material fará parte da coleção (tanto em termos
de conteúdo quanto de fonnato, incluindo a política da biblio­
teca para acesso aos materiais cuja posse nào lhe é de 
interesse); 
b) quando e sob quais condições este material poderá
ingressar no acervo (políticas de seleção,, aquisição, doação, 
etc.); 
c) que necessidades específicas e de que parcelas da
comunidade ele deve atender (incluindo-se os: métodos para 
obtenção destas informações); 
d) como será avaliada a importânciado do material para
a biblioteca, uma vez incorporado à coleção (métodos para 
a1taliação da coleção); 
e) quando e sob quais condições ele será retirado do
acervo (políticas de remanejamento e descane). 
Além disso, deverá constar do documento quem, cm 
última análise, é o responsável pela tomada das decisões 
previstas e estipuladas na política para o desenvolvimento da 
coleção, ou seja, se o bibliotecário sozinho é quem decide, 
se alguém o fará em seu lugar ou se estas decisões serão 
tomadas em conjunto com grupos fonnaimente instituídos 
para este fim (comissões de seleção). 
A política para desenvolvimento de coleções não pre­
cisa ser necessariamente um documento extenso, mas, isto 
27 
der. No correr do tempo, ,em suma, uma boa política deve 
informar aos bibliotecários sobre: 
a) que material fará parte da coleção (tanto em tcnnos
de conteúdo quanto de fonnato, incluindo a política da biblio­
teca para acesso aos materiais cuja posse nào lhe é de 
interesse); 
b) quando e sob quais condições este material poderá
ingressar no acervo (polúicas de seleção, aquisição, doaç::i.o, 
etc.): 
e) que necessidades específicas e de que parcelas da
comunidade ele deve atender (incluindo•se os métodos para 
obtenção destas informações); 
d) como será avaliada a importânciado do material para
a biblioteca, uma vez incorporado à coleção (métodos para 
avaliação da coleção); 
e) quando e sob quais condições ele será retirado do
acervo (polfticas de remanejamento e descane). 
Além disso, deverá constar do documento quem, em 
última análise, é o responsável pela tomada das decisões 
pn�vistas e estipuladas na polftica para o desenvolvimento da 
coleção, ou seja, se o bibliotecário sozinho é quem decide, 
se alguém o fará em seu lugar ou se estas decisões serão 
tomadas cm conjunto com grupos. formalmente instituídos 
para este fim (comissões de seleção). 
A política para desenvolvimento de coleções não pre­
cisa ser necessariamente um documento extenso, mas, isto 
27 
ESTUDO DE COMUNIDADE 
A pergunta que poderia agora ser feita seria: afinal, o 
quê, em verdade, é esta comunidade que a biblioteca deve 
servir? É, em muitos casos, algo bastante nebuloso, disperso, 
quase impossível de ser apontado com clareza; cm outros, no 
entanto, é algo tão específico e minúsculo - pelo menos 
aparentemente- que qualquer definição pode ser mais larga 
do ,que ela. Pois, para cada tipo de biblioteca, a comunidade 
irá variar - e isto é mais que evidente. Para a biblioteca 
pública, comunidade são todas as pessoas que residem na 
jurisdição política servida por ela; para a biblioteca escolar, 
:,;ão todos os alunos matriculados na institujção e, também, os 
professores a atendê-los; para a biblioteca universitária, são os 
corpos docente e discente e, eventualmente, também os fun­
cionários; para a biblioteca especializada, é a companhia, a 
instituição comercial, a fundação ou empresa que a criou. De 
qualquer forma, a comunidade não é, absolutamente -e este 
é um equívoco no qual facilmente incorrem muitos biblio­
tecários-, apenas e tão somente o usuário real, aquele que vai 
com grande frequência à biblioteca e se toma, com o tempo, 
quase íntimo do profissional responsável por ela. Não, ela é, 
29 
ESTUDO DE COMUNIDADE 
A pergunta que poderia agora ser feita seria: afinal, o 
quê, em verdade, é esta comunidade que a biblioteca dev,e 
servir'! É, cm muitos casos, algo bastante nebuloso, disperso, 
quase impossível de ser apontado com ciarcza; em outros, no 
entanto, é algo tão específico e minúsculo - pelo menos 
aparentemente-que qualquer definição pode ser mais larga 
do que ela, Pois, para cada tipo de biblioteca, a comunidade 
irá variar - · e isto é mais que evidente. Para a biblioteca 
pública, comunidade são todas as pessoas que residem na 
jurisdição políüca servida por ela;para a biblioteca escolar, 
são todos os alunos, matriculados na instituição e, também, os 
professorllS a atendê-los; para a biblioteca universitária, são os 
corpos docente e discente e, eventualmente, também os f un­
cionários; para a biblioteca especializada, é a companhia, a 
instituição comercial, a fundação ou empresa que a criou. De 
qualquer forma, a comunidade não é, absolutamente - e este 
é um equívoco no qual facilmente incorrem muitos biblio­
tecários-, apenas e tão somente o usuário real, aquele que vai 
com grande frequência à biblioteca e se torna, com o tempo, 
quase íntimo do profissional responsável por ela. Não, ela é, 
29 
ncira bem ampla, de modo a incluir, quando for o caso, 
também as necessidades JX)r informação utilitária e rc­
creacional. E exigirá, também, a definição de prioridJldes de 
atendimento em relação à COmurndadc Cm SI, levando Cm
co_p.!_a o acesso de algumas parcelas da mesma a outras 
instituições fornecedoras de informação - em alguns casos, 
outras bibliotec� -, mais aptas a atendê-las. 
O trabalho de análise da comunidade não é, absolu­
tamente, cm um primeiro momento, dos mais fáceis de rea­
lizar, principalmente para bibliotecários de países subdesen­
volvidos, como é o nosso caso, onde o domínio de técnicas de 
pesquisa - devido, entre outras coisas, a falhas· da fonnação 
educacional - não é um atributo dos profissionais; estes, 
numa proporção muito maior do que a dcscjáve.l, só conhecem 
de técnicas de pesquisa as atividades ligadas ao levantamento 
da opinião dos usuários sobre os serviços da biblioteca em que 
atuam, realizados, as mais das vezes, com a utilização de 
formulários mal-clabomdos e malredigidos (tanto que o re­
sultado, normalmente, é descobrir a "completa" e "total" 
satisfação do usuário cm relação aos serviços recebidos, a 
coleção inclusive ... ). Esta dificuldade, no entanto, não deve 
ser motivo para esmorecimento por parte dos profissionais, 
pois as atividades bibliotecárias necessitam ser realizadas 
com maior nível de profissionalismo, sob risco de ficarmos 
eternamente medindo a satisfação de um usuário - que não 
é, nem de long.e, o usuário ideal -, cujo nível de exigência 
cm relação à biblioteca parece ser o menor possível, tanto por 
seu dcsconhecimcnto das potencialidades informacionais dis-
3 / 
ncira bem ampla, de modo a incluir, quando for o caso, 
também as necessidades por infonnação utilitária e re­
creacional. E exigirá, também, a definição de priorid-ªdes d.e 
atendimento em relação à-comuiffdade cm sC1evando cm 
con!a o acesso de algumas parcelas da mesma a outras 
instituições fornecedoras de informação - em alguns casos, 
outras bibliotecas-, mais aptas a atendê-las. 
O trabalho de análise da comunidade não é, absolu­
tamente, cm um primeiro momento, dos mais fáceis de rea­
lizar, principalmente para bibliotecários de países subdesen­
volvidos, como é o nosso caso, onde o domínio de técnicas de 
pesquisa- devido, entre outras coisas, a falhas· da fonnação 
educacional - não é um atributo dos profissionais; estes, 
numa proporção muito maior do que a desejável, só con_hcccm 
de técnicas de pesquisa as atividades ligadas ao levantamento 
da opinião dos usuários sobre os serviços da biblioteca cm que 
atuam, realizados, as mais das vezes, com a utilização de 
fonnulários mal-elaborados e malredigidos (tanto que o re­
sultado, nonnalmcnte, é descobrir a "completa" e "total" 
satisfação do usuário cm relação aos serviços recebidos, a 
coleção inclusive ... ). Esta dificuldade, no entanto, não deve 
ser motivo para esmorecimento por pane dos profissionais, 
pois as atividades bibliotecárias necessitam ser realizadas 
com maior nível de profissionalismo, sob risco de ficannos 
eternamente medindo a satisfação de um usuário - que não 
é, nem de longe, o usuário ideal -, cujo nível de exigência 
cm relação à biblioteca parece ser o menor possível, tanto por 
seu desconhecimento das potencial idades informacionais dis-
3 / 
evolução e crescimento, que poderão trazer-lhe subsídios para 
melhor compreensão do ponto cm que esta comunidade se 
encontra atualmente; 
b) �<;>gráficas: número de habitantes, idade, sexo,
nacionalidade, taxas de natalidade e mortalidade, caráter 
urbano ou rural da comunidade etc.; 
c) Geo ráfica�: direção de crescimento físico da
comunidade, levando cm consideração, entre outras coisas, a 
existência ou não de barreiras para a expansão da comunidade 
e a distribuição da população na área de abrangência da 
biblioteca; 
d).§ctucativas: grau de analfabetismo existente, nível de 
instrução da população, instituições educacionais e o número 
de estudantes matriculados, cursos de férias, iniciativas edu­
cacionais ligadas a grupos com interesses variados, como é o 
c:,so de igrejas, associações, sindicatos, indústrias, etc.; 
e) Sócio-económicas: atividades econômicas mais
imponantes, visando principalmente identificar se estas 
:11ividades ocorrem todo o tempo ou se são sujeitas a va­
riações; nível econômico da população e taxa de desemprego; 
l< necessário, também, coletar informações sobre os serviços 
p1íhlicos existentes na área de saúde e assistência. Ní_yel de 
organização da comunidade no que diz respeito à existência 
,k organizações comunais e vicinais e à identificação dos 
lf,lcres da comunidade; 
() Transpone: combinado com os fatores geográficos, 
1 ., determinar os pontos de serviço mais apropriados. Além 
lia ,lcterminação da existência ou não dos meios de transporte 
33 
evolução e crescimento, que poderão trazer-lhe subsídios para 
melhor compreensão do ponto cm que esta comunidade se 
encontra atualmente; 
b) Dcmo_gráfiças: número de habitantes, idade, sexo,
nacionalidade, taxas de natalidade e monalidade, caráter 
urbano ou rural da comunidade etc.; 
c) Geo ráfi��: direção de crescimento físico da
comunidade, levando cm consideração, entre outras coisas, a 
existência ou não de barreiras para a expansão da comunidade 
e a distribuição da população na área de abrangência da 
biblioteca; 
d).§<!µcativas: grau de analfabetismo existente, nível de 
instrução da população, instituições educacionais e o número 
de estudantes matriculados, cursos de férias, iniciativas edu­
cacionais ligadas a grupos com interesses variados., como é o 
c:iso de igrejas, associações, sindicatos, indústrias, etc.; 
e) Sócio-econômicas: atividades econômicas mais
importantes, visando principalmente idcntilicar se estas 
atividades ocorrem todo o tempo ou se são sujeitas a va­
riações; nível econômico da população e taxa de desemprego; 
l� necessário, também, coletar infonnaçõcs sobre os serviços 
públicos existentes na área de saúde e assistência. Níy_cl de 
organização da comunidade no que diz respeito à existência 
,k organizações comunais e vicinais e à identificação dos 
lfllcres da comunidade; 
I) Transporte: combinado com o� fatores geográficos,
·i .• 1 dctcnninar os pontos de serviço mais apropriados. Além
lia determinação da existência ou não dos meios de transpone
33 
na comunidade e a influência que estes partidos ou correntes 
políticas têm sobre a comunidade como um todo. 
A posse de todos estes dados - ou, pelo menos, da 
maior quantidade possível deles- permitira ao bibliotecário 
- aí, sim, uti-lizando grandemente as técnicas de pesquisa de
campo, tais como a entrevista e o questionário-, determinar
as necessidades infonnacionais da comunidade a que ele pre­
tende atender, considerando não apenas os dados quantita­
tivos da população, mas também o direcionamento para
aqueles cujo atendimento representa maior benefício social
para a comunidade. Estas necessidades, uma vez definidas
através da análise aprofundada de todos os dados coletados,
ir.io goiarnão apenas todas as etapas do desenvolvimento da
l'olcção, mas tam�m todo o planejamento do serviço biblio­
tecário, incluindo aquitanto o serviço t�cnico de processa�
mcnto do material adquirido como, também, os serviços de
rderência, de marketing, o balcão de informações utilitárias
l' os trabalhos de ativação e animação cultural, para não falar
1las atividades ligadas à ação cultural, hoje praticamente in­
rorporndas à rotina das bibliotecas públicas.
Esta última observação levou-me a constatar que este 
, .,pftulo ficou muito mais voltado para as bibliotecas públicas 
qm· às bibliotecas em geral. Isto, de uma certa forma, é até 
h.,stante lógico, pois é este tipo de biblioteca - pelo menos 
, 111 tl·nnos de Brasil - o que mais se ressente da falta de 
1 1 udos de comunidade, exatamente por ser o que possui uma 
, hl·11tl'la potencial com maior dinamicidade (paradoxalmente 
35 
na comunidade e a influência que estes partidos ou correntes 
políticas têm sobre a comunidade como um todo. 
A posse de todos estes dados - ou, pelo menos, da 
maior quantidade possível deles-permitirá ao bibliotecário 
-af, sim, utilizando grandemente as técnicas de pesquisa de
campo, tais como a entrevista e o questionário-, determinar
as necessidades infonnacionais da comunidade a que ele pre­
tende atender, considerando não apenas os dados quantita­
tivos da população, mas também o direcionamento para
aqueles cujo atendimento representa major benefício social
para a comunidade. Eslas necessidades, uma vez definidas
:umvés da análise aprofundada de todos os dados coletados,
ir.io guiar não apenas todas as etapas do desenvolvimento da
c:oleção, mas também todo o planejamento do serviço biblio­
tecário, incluindo aqui tanto o serviço técnico de processa·
mcnto do material adquirido como, também, os serviços de
rl'fcrência, de marketing, o balcão de informações. utilitárias
l' os trnbalhos de ativação e animação cultural, para não falar
,las atividades ligadas à ação cultural, hoje praticamente in­
rorporadas à rotina das bibliotecas públicas.
[�sta última observação levou-me a constatar que este 
1 .,pflulo ficou muito mais voltado para as bibliotecas públicas 
qul' às bibliotecas cm geral. Isto, de uma certa fonna, é até 
h,,stantc lógico, pois é este tipo de biblioteca -pelo menos 
1111 tcllTIOS de Brasil - o que mais se ressente da falta de 
, tmlosdecomunidade, exatamente por scr o que possui uma 
, hl·111l'lapotencial com maior dinamicidadc (paradoxalmente 
35 
ir inchando "amebicalmcnte", sem .controle algum, mes­
clando de fonna aleatória os fundos disponíveis para aqui­
sição com as preferências pessoais do bibliotecário ou do 
usuário. O desenvolvimento da coleção deve ter um plano 
predeterminado, que deve ser seguido e modificado à medida 
que as necessidades informacionais da comunidade vão-se 
modifi�ando. Todo o trabalho de triagem do material a ser 
incorporado ao acervo - a seleção - deve ter em vista este 
plano, consubstanciado na política para o desenvolvimento da 
coleção. Desta forma, o trabalho diário de seleção de mate­
riais - sem dúvida, o elemento do processo mais familiar ao 
dia-a-dia do bibliotecário - deixará de ser uma atividade 
isolada, dispersa, sem objetivos, como se tentará mostrar cm 
seguida. 
37 
ir inchando "amebicalmente", sem controle algum, mes­
clando de fonna aleatória os fundos disponíveis para aqui­
sição com as preferências pessoais do bibliotecário ou do 
usuário. O desenvolvimento da coleção deve ter um plano 
prcde�erminado, que deve ser seguido e modificado à medida 
que as necessidades infonnacionais da comunidade vão-se 
modificando. Todo o trabalho de triagem do material a ser 
incorporado ao acervo - a seleção - deve ter em vista este 
plano, consubstanciado na política para o desenvolvimento da 
coleção. Desta forma, o trabalho diário de seleção de mate­
riais -sem dúvida, o elemento do processo mais f amíliar ao 
dia-a-dia do bibliotecário - deixará de ser uma atividade 
isolada, dispersa, sem objetivos, como se tentará mostrar em 
seguida. 
37 
A SELEÇÃO COMO ATIVIDADE 
TÉCNICA E INTELECTUAL 
Por muito tempo, os profissionais consideraram a ativi­
dade de seleção como se fosse uma anc, concepções esta que 
trazia muitas implicações para o trabalho bibliotecário, pois, 
sendo anc, cx,igia uma capacidade ou aptidão especiais, quase 
que uma qualidade inata ao indivíduo. Felizmente, esta con­
cepção foi abandonada e a atividade de seleção passou a ser 
encarada como uma técnica especializada, fornecida por 
conhecimento e experiência, criticamente testada e acompa­
nhando princípios gerais. Esta desmistificação, digamos as­
sim, da atividade de seleção de materiais permitiu um enfoque 
muito mais pragmático-ou científico-da questão. Afinal, 
diante da expansão desenfreada da produção editorial e dos 
recursos sempre insuficientes parn a aquisição de materiais, é 
preciso deixar claros os critérios que noncarão a opção por 
determinados materiais cm prejuízo de outros. E mesmo que, 
porventura, recursos suficientes venham um dia a existir- o 
que é �ma utopia-, a atividade de seleção não poderia nunca 
ter sua importância subestimada, pois nenhum recurso extra 
justifica a incorporação ou aquisição de materiais inadequa-
38 
dos. Da mesma fonna, não se pode permitir que a ânsia por 
novas tecnologias aplicadas ao serviço bibliotecário venha a 
colocar cm segundo plano a preocupação pela seleção de 
materiais que visam beneficiar a coleção como um todo. É 
preciso tomar especiais cuidados para evitar que a utilização 
de novas tecnologias para tratamento, disseminação ou recu­
peração da informação - para o quê, é claro, são de im­
ponância indiscutível-possam vir a comprometer outra das 
finalidades dos serviços de informação e biblioteca: a consti­
tuição e planejamento de acervos que sejam rcílcxo de uma 
comunidade específica. Até o momemo, pelo menos, nin­
!!,Uém ainda conseguiu convencer-me de que qualquer compu­
tador do mundo, seja ele qual for, tenha que capacidade tiver, 
conseguirá tomar útil a ·seus usuários uma coleção malse­
k·donada, malplancjada, maldescnvolvida e que não possua 
tJualquer relação com a comunidade por ela servida. Este 
parece ser o risco maior que se corre e ao qual se deve estar 
rada vez mais atento. Verba demasiada já foi dispcndida na 
l ompra de materiais inadequados cm bibliotecas e centros de 
,h:umcntaçao, desde recursos informacionais adquiridos 
akatoriamcnte a máquinas que depois se mostraram trambo­
lhos indesej.áveis e incômodos, devido a uma aquisição des­
p111vida de qualquer tipo de critério .. 
Não se pretende, aqui, apresentar quaisquer critérios 
1111iwrsalmentc aceitos para guiar os bibliotecários cm sua 
p1;\til'a de seleção. Em primeiro lugar, porque não acredito, 
1h ol11tamcnte, na aplicabilidade de critérios universais e, em 
1•1111do, porque para cada critério existe pelo menos um que 
39 
lhe é diametralmente oposto. Q_estabclccimt;nto de critérios 
d_c seleção é uma tarefa. bastante individual, subjetiva mesmo, 
qu,e deve ser reafüada pelos profissionais levando cm consi­
deração a comunidade a que estão servindo, os recursos dis­
poníveis para aquisição e as próprias características do as­
sunto ou do material objeto da atividade de seleção, o que não 
quer dizer que será o biblioux:ário a realizá-la pessoalmente. 
Na realidade, a decisão sobre quem dará a última palavra na 
seleção de materiais é uma questão bastante delicada pois 
envolve, muitas ve1.cs, ,esferas de influência além daquelas 
privativas do profissional de biblioteconomia. A seleção 
realizada cm grupo, por intcnnédio de comissões compostas 
tanto por usuários como por profissionais, parece constituir­
se na modalidade a trazer maior número de vantagens, entre 
as quais pode-se salientar a de funcionarem como canal para 
divisão da responsabilidade pela seleção com a própria 
comunidade servida por ela, além de levar a comunidade, de 
uma cena fonna, a participar maisativamente da gestão da 
biblioteca. Mas esta é, além de tudo, uma decisão política 
sobre a qual nem sempre os profissionais possuem a in­
fluência que desejariam, sendo, cm alguns casos, quase que 
.totalmente alijados desta etapa do processo de desenvol­
vimento de coleções; transformam-se, então, cm meros exe­
cutores de decisões tomadas cm outras esferas e/ou escalões 
da administração. Quer me parecer, no entanto, que os bi bl io­
tecários-pelo menos a grande maioria deles-têm efetiva­
mente algo para contribuir à seleção de materiais para as 
coleções sob sua responsabilidade, e que a luta para participar 
40 
deste trnbalho da maneira mais eficaz possível é uma obri­
gação à qual não se deve funar nenhum profissional. 
Interessa, neste momento
,, 
muito mais que enumerar 
critérios de seleção, transmitir a noção de que estes são 
imprescindíveis ao desenvolvimento de qualquer coleção. O 
estabelecimento de uma política de seleção, como parte inte­
grante de uma política maior, mais global, para o desen­
volvimento da coleção, é, sem dúvida, um passo importante e 
necessário para transformar um grupo de materiais informa­
cionais, abrigados cm um edifício ao qual se convencionou 
denominar de biblioteca, em um verdadeiro projeto informa­
cional. Já que biblioteca alguma, como anterionncnte citado, 
jamais poderá ter a posse de todo o universo infonnacional 
disponível cm seu campo de atuação, é preciso que sejam 
csfabelecidas as regras - os bibliotecários, como alguém já 
d'issc, adoram regras ... - para extrair deste universo aquela 
fraç-ão que interessa à biblioteca possuir. E esta é, essen­
cialmente, uma atividade bastante técnica e intelectual, cujo 
criLfrio primeiro a guiá-la será, sem sombra de dúvida, a 
comunidade a ser servida. É claro que a velha celeuma entre 
��lecionar pela demanda e selecionar pela qualidade pode ri a 
ser levantada novamente, mas ela não parece ser assim tão 
crítica; mais importante é, a meu ver, que a decisão a nortear 
a atividade de seleção, seja pela demanda, seja pela qualidade 
do material, tenha como parâmetro, ela também, a 
comunidade a ser atendida. Particularmente, acho difícil 
acreditar na possibilidade prática de deixar de atender à 
demanda da comunidade, pois, mesmo quando se seleciona 
41 
com base em um dctcnninado "padrão de qualidade", está-se 
pretendendo atender a uma demanda - ainda não manifes­
tada. muitas vezes -, que se pretende gerar através de 
trabalhos de promoção do material selecionado ou de 
esquemas para educação do usuário. Acima de tudo, parece 
ser esta um a questão de - para usarmos um a ex.pressão mui to 
em moda hoje em dia - "postura" do bibliotecário ... De 
qualquer modo, toda decisão de seleção deverá ser primordi­
almente guiada pela comunidade a que se pretende atender. 
Ou seja: o recorte será diferenciado, para cada tipo de público. 
Se não, vejamos: 
a) em bibliotecas públicas, a seleção de materiais deverá
ter cm vista a própria diversificação da clientela, tendo uma 
abrangência bastante ampla, a fim de atender tanto às neces­
sidades de informação - sejam elas por infonnação escolar 
formal ou por informação utilitária-, como às necessidades 
rccrcacionais da comunidade. O recone, no caso de biblio­
tecas públicas, ao que tudo indica, deverá situar-se em tomo, 
digamos assim, de um nível médio, do material, tendo um 
menor peso na escolha itens que se situem cm um nfvel muito 
com plexo de tratamento do assunto, propensos a di Ocultar seu 
entendimento pelo leitor comum ou mesmo a tomá-los não 
atrativos. Tudo parece indicar, tamMm, que a demanda ime­
di ata deve ser necessariamente atendida nas bibliotecas públi­
cas, tom ando-se o cuidado para não cair, pura e sim plcsmente, 
cm um basismo demagógico; isto equivale, em outras 
palavras, a atender, na medida em que as solicitações da 
42 
comunidade o justifiquem, aos pedidos por materiais sobre 
assuntos do momento ou a selecionar materiais mais popu­
lares, produzidos pela indústria cultural; 
b) em bibliotecas escolares, a seleção terá em vista os
objetivosdoscursosoferecidoseo níveldosalunos.Oaspecto 
pedagógico dos materiais - tanto em termos estritos, como 
no caso de manuais, textos didáticos, etc., como mais genéri­
cos. caso de material de apoio-parece ser o fator preponder­
ante para a seleção, sendo que os critérios utilizados deverão 
ter, em última análise, este ponto de v.ista; 
e) em bibliotecas acadêmicas e universitárias tanto o
fator pesquisa como o ensino terão quase que pesos idênticos 
(o 1tabalho com a comunidade, geralmente, é atendido com
quase os mesmos materiais com que se atende ao ensino}. O
critério básico de seleção, no caso, é o valor do item para as
atividades de ensino e pesquisa desenvolvidas naquela
unidade universitária c:m particular, valor este que irá variar
de acordo com os assuntos de interesse da coleção; bibliotecas
universitárias tendem, ainda, devido a trabalharem com a
questão do apoio à pesquisa, a serem muito abmngentes em
relação aos fonnatos do material selecionado;
d) em bibliotecas especializadas ou de em presas o ponto
primordial para a seleção, segundo tudo indica, é que o 
material esteja relacionado diretamente com os objetivos da 
instituição mantenedora da biblioteca. A escolha, neste caso, 
passa de seletiva a exaustiva - por mais paradoxal que isto 
seja - sendo que, em última análise, vinualmcnte tudo que 
está dentro da área de interesse da empresa ou instituição, 
43 
esteja cm que fonnato ·estiver, interessa à biblioteca. No caso 
de bibliotecas especializadas, ainda, a atividade de seleção 
. deixa de ser realizada com relação apenas a itens individuais 
e começa-se a considerar a seleção de conjumos inteiros de 
itens, ou seja, a seleção de bases de dados. 
No entantoi costuma-se afinnar que, independente­
mente do tipo de biblioteca em que venha a ocorrer, a prática 
do trabalho de seleção irá resumir-se basicamente cm duas 
etapas: em um primeiro, momento, uma lista de itens de 
interesse da coleção é confeccionada a panir tanto de indi­
cações feitas pelos usuários, como da identificação de 
materiais, efetuada pelos próprios bibliotecários, através dos 
chamad.os instrumentos auxiliares à seleção, ou seja, listas de 
material corrente, catálogos de editores, volantes, anúncios e 
bibliografias; a segunda etapa do trabalho ocorre após a 
confecção desta lista, quando alguém - o bibliotecário ou 
uma comiss.ão de seleção - avalia cada um dos materiais em 
relação aos recursos disponf veis e às prioridades anteri­
ormente definidas. Como nem sempre é possível avaliar o 
material in loco, o responsável final pela seleção tem, em 
grande número de casos, que confiar nas informações ofere­
cidas pelos instrumentos auxiliares. Dev.ido a isto, parece ser 
interessante dedicar algumas linhas deste trabalho à análise 
desses instrumentos e ao papel que os mesmos desempenham 
nessa atividade. 
44 
INSTRUMENTOS AUXILIARES 
À SELEÇÃO 
A experiência mostra que confiar apenas nas indicações 
dos usuários para a confecção de urna lista de materiais de 
interesse não é, em um grande número de vezes, suficiente 
para os objetivos da biblioteca. A atividade de seleção não 
pode também, por outro lado, basear-se apenas nos conheci­
mentos dos bibliotecários eventualmente responsáveis pela 
seleção. Assim, para obter conhecimento a respeito dos 
materiais de interesse da biblioteca.lançados no mercado, o 
recurso a instrumentos auxiliares parece ser uma tarefa indis­
pensável. Esta tarefa, por seu lado, será também muito influ­
enciada pelo tipo de biblioteca em que ocorra, pois a utilidade 
ou não de urna fonte de seleção será detcnninada, em grande 
medida, pela finalidade do trabalho. Ou seja: um instrumento 
útil para urna biblioteca pública pode não o ser para uma 
biblioteca escolar, ou vice-versa- o que, aliás, parece 
bastante óbvio. Mesmo assim., nunca é demais salientar que 
apenas as peculiaridades de uma coleção específica - seus 
objetivos, sua clientela, etc. - é que irão definir, em última 
instância, a quais instrumentos irá o bibliotecário recorrer 
para o desenvolvimento da coleção. Desta forma, a descrição 
45 
feita a seguir, enfocando alguns instrumentos auxiliares da 
seleção, deve ser necessariamente cotejada com os objetivos 
específicos da coleção que interessa ao profissional desen­
volver. 
Não interessa, no momento, buscar a exaustividade das 
fontes de seleção e/ou oferecer listas bibliográficas onde 
constem em detalhe todas as características de cada fonte em 
panicular. A litennura biblioteconômica, aliás, tem apresen� 
tado, cm várias oportunidades, listagens desse tipo. Parece 
muito mais interesssante, considerando os objetivos deste 
manual, oferecer subsídios aos profissionais para a decisão 
sobre qual é ,o instrumento mais apropriado para suas neces­
sidades, analisando as vantagens e desvantagens de cada tipo 
de fonte de seleção cm função destas necessidades. Os exem­
plos eventualmente citados nos próximos parágrafos devem 
ser entendidos, apenas, çomo ilustrativos desta ou daquela 
categoria de fonte à qual se referem, e não como uma reco­
mendação para uso por parte dos bibliotecários. 
Entre os muitos instrumentos auxiliares à seleção, dis­
poníveis aos bibliotecários, podem ser destacados: 
1) Catálogo§ de editores, folhetQs, etc.
As bibliotecas são quase que diariamente inundadas por
catálogos de editores ávidos por vender seus produtos, pois, 
afinal de contas, são empresários a quem interessa em grande 
medida - para não dizer exclusivamente - o lucro que 
podem obter com suas vendas. E este verdadeiro dilúvio de 
catálogos, folhetos, foi.ders, anúncios, etc. vem, em muitos 
46 
casos, parar - e abarrotar - à mesa dos bibliotecários que 
têm, às vezes, vontade de fazer com o material uma bela 
fogueira, semelhante àquela referida no primeiro parágrafo do 
primeiro capítulo deste livro. No entanto, deve-se - neste 
caso específico, ao menos-realizar o maior esforço possível 
para resistir à tentação, pois estes catálogos e tudo o mais que 
se lhe assemelhe podem conter muitas informações úteis e 
que, absolutamente, nao devem ser desprezadas. Por outro 
lado, estas informações devem, também, ser encaradas com 
bastante prudência, pois não se pode esperar de um vendedor 
que se disponha a denegrir o seu produto a ponto de afastar 
possíveis compradores - convém lembrnr que, cm muitos 
casos, a seleção será realizada a pani r apenas das informações 
disponíveis nestes catálogos, sem que se possa cotejá-las 
antes da aquisição do material. Da mesma forma, por mais 
aborrecido que possa parecer, em um primeiro momento, a 
coleta deste material, o bibliotecário precisará necessari­
amente coletá-los e, mais que isto, ter à sua disposição um 
arquivo de catálogos de editores, /o/ders e folhetos para 
auxiliá-lo na tarefa diária de seleção, além de, posteriormente; 
no trabalho de aquisição dos itens selecionados. 
A estes catálogos de editores individuais, digamos as­
sim, devem ser acrescentados, ainda, aqueles catálogos que 
visam repenoriar todas as obras correntemente publicadas cm 
um determinado país, normalmente organizados ou subsi­
diados pelos editores, seja enviando regularmente a notifi­
cação de novos útulos por eles publicados, seja colaborando 
com suporte financeiro para a elaboração do catálog:o. Em 
47 
tennos internacionais, estes catálogos são bastante numero­
sos, tendo, em muiLos casos, periodicidade até mesmo sema­
nal, como é o caso do Weekly Record, publicado pela Bowker 
Company. Em tennos de Brasil -que é o que mais nos inte­
ressa -, foi lançado há algum tempo, em microfichas, o 
Catálogo Brasileiro de Publicações, que procurar repertoriar 
todos os títulos disponf veis no mercado nacional. 
2) Resenhas
As resenhas, sob certos aspectos, são muito mais valio­
sas para o trabalho de seleção que ·os catálogos de editores, 
pois, enquanto estes, em geral, trazem apenas as informações 
indispensáveis para a identificação do item - autor, título, 
editor, local, data de publicação e preço-, aquelas trazem, 
nonnalmente, um resumo e/ou avaliação do material. É claro 
que nem todas as resenhas têm as mesmas características, 
dependendomui�o do autor que as elabora e, tam�m. do meio 
cm que são veiculadas. Resenhas publicadas em periódicos 
especializados, por exemplo, são muito mais confiáveis, 
porque são, as mais das vezes, elaboradas por especialistas na 
área do assunto tratado no material e, além domais, direciona­
das para a leitura de seus pares; já as resenhas veiculadas pela 
grande imprensa, tanto em jornais como em revistas de caráter 
geral, têm o grande inconveniente de serem elaboradas por 
jornalistas que não têm fonnação na área do assunto tratado, 
tendo, necessariamente que realizá-las de maneira superficial 
(muitas vezes deixando evidente que nem sequer leram na 
totalidade o material por eles resenhado). Por tudo isto, este 
48 
"comentário avaliativo", digamos assim, disponível nas re­
senhas, precisa ser, por sua vez, analisado pelo bibliotecário 
com grande discernimento a fim de detectar os problemas 
citados, além de casos de flagrante preconceito do resenhador 
<.'m relação ao autor resenhado. Outro inconveniente das 
resenhas é serem muito raras as que analisam uma obra de 
maneira negativa-à exceção, talvez, de obras "menores" de 
aulores "maiores"-, ficando relativamente difícil definir se 
o fato de um determinado título não aparecer sob a forma de
resenha deve-se apenas ao volume de tf tulos lançados no
mercado - várias vezes maior, diga-se de passagem, que o
número de resenhas publicadas -, ou a não ter sido consi­
derado em um nível mínimo de qualidade que jus ti ficasse sua
resenha (contrariamente ao que podem pensar muitos biblio­
lccários, a ocorrência de resenhas de obras de "leitura desobri-
1atória" não é tão freqüente assim ... ). Apesar de todos estes
senões acima apontados- ou, talvez, também por causa de­
les-, as resenhas se constituem em valioso instrumento auxi­
liar à seleção; a leitura das mesmas, além de constituir um
hábito até que bastante agradável, parece ser pane integrante
e necessária do trabalho de seleção.
A nível internacional, os bibliotecários contam, além 
dos dois tipos de resenhas aventados no parágrafo anterior, 
com um outro: resenhas avaliativas preparadas por biblio­
tecários ou por especialistas; mas direcionadas às necessi­
dades dos bibliotecários. Normalmente, estas resenhas são 
publicadas em vários periódicos de biblioteconomia, como 
Ubrary Journal, Wilson Ubrary Bulletin, ALA Record, sem 
49 
contar aquelas direcionadas para tipos de bibliotecas, como é 
o caso de Choise, para bibliotecas acadêmicas e univer­
sitárias, e Baoklist, para bibliotecas públicas. No Brasil, no
entanto, as únicas opções disponíveis são as resenhas veicu­
ladas na grande imprensa e na literatura especializada, além de
um ou outro título que aparece e desaparece do mercado sem
conseguir firmar-se, à exceção do jornal Leia Livros, já com
vários anos de publicação.
3) Bibliografias e listas de livros recomendados
Bibliografias, tanto nacionais como de assunto, podem
também servir como, instrumentos auxiliares à seleção, prin­
cipalmente para a seleção retrospectiva. Da mesma forma, os 
catálogos de grandes bibliotecas também podem ser utili­
zados para fins de seleção. Em to4os estes casos, no entanto, 
talvez até mais do que com outras fontes de seleção anteri­
ormente citadas, deve•se atentar para as peculiaridades da 
comunidade que se deseja atender. Afinal, o simples fato de 
um título constar da coleção de uma biblioteca especializada 
cm um determinado assunto não quer dizer, porsi só, que o 
mesmo seja indicado para toda e qualquer biblioteca com o 
mesmo interesse temático; aspectos outros - como limi­
tações lingüísticas e realidade sóciocultural da clientela -
precisam, necessariamente, ser levados em consideração. 
Estes instrumentos auxliares, no entanto, podem of erccer 
bons eXicmplos de títulos para seleção, desde que o profis­
sional responsável pela mesma tome os cuidados necessários. 
50 
Similares às bibliografias e catálogos são as listas de 
livros recomendados, listas básicas de assunto, de melhores 
livros, de bibliotecas ou de coleções básicas, etc., que apresen­
tam uma listagem de materiais que "deveriam" estar das 
hibliotecas: necessitam, também, ser encaradas com as devi­
das restrições. Manda a prudência que se desconfie um pouco 
desse tipo de listas, exatamente por pretenderem, arvorar-se 
cm universais e indispensáveis (nunca é demais salientar que 
urna coleção é básica sempre em relação a uma comunidade 
real e específica e não cm relação a um padrão de qualidade 
,lctcnninado previamente ... ). A tentação para seguir listas 
como estas, por outro lado, é muito grande, talvez por possi­
hilitarem - teoricamente ao menos -, um "parâmetro" já 
comprovado de excelência, digamos assim. Outro aspecto a 
considerar. também, é que é muito mais cômodo seguir uma 
lista já organizada que selecionar a panir de critérios próprios. 
Mas, por outro lado, para não se descambar para o radica­
lismo, é preciso admitir que algumas listas podem realmente 
prestar valioso auxílio à seleção, principalmente quando 
elaboradas por especialistas no assunto de que tratam e 
recomendadas por associações oficiais; nestes casos, é claro, 
os itens por elas arrolados precisam ser seriamente analisados 
p,rra seleção, utilizando para eles, lógico,os mesmos critérios 
utilizados para quaisquer outros não constantes da mesma. 
4) lnslrnJJJento_u.u�iliares e_ara a sele窺- ºe peri2_dicos
A seleção de periódicos apresenta peculiaridades diver­
sas às da seleção de livros, uma vez que o compromisso com 
51 
a seleção de um periódico, em termos de recursos financeiros, 
é muito maior que com a seleção de uma monografia, pois no 
primeiro haverá um comprometimento, que será renovável 
periodicamente, não só em termos de alocação de recursos 
financeiros, com a verba necessária para renovação de assi­
natura, como também de recursos humanos e materiais, repre­
sentados pelo trabalho de registro e processamento de cada 
fascículo a ser acrescentado à coleção. Desta forma, a seleção 
de periódicos deve ser realizada com muito mais cuidados, 
sendo aconselhável, as mais das v,czes, a avaliação pessoal do 
título antes da decisão definitiva. Existem, é claro, para 
publicaç,õcs periódicas, os mesmos tipos de auxiliares de 
seleção existentes para livros, os quais devem ser consultados 
na medida do possível. É indiscutível, por exemplo, o auxílio 
que, à atividade de seleção, podem prestar diretórios de 
periódicos, como os amplamente conhecidos U lrich' s Inter­
national Periodical Directory, da R. R. Bowker, e N ew Serial 
Titles, da Library of Congress. Da mesma forma, princi­
palmente para o conhecimento de novos titulos, é valiosíssima 
a leitura de resenhas sobre periódicos, apesar destas não serem 
tão abundantes como as sobre livros; podem ser encontradas 
tanto na literatura especializada de cada área do conheci­
mento, como em periódicos de biblioteconomia tipo Library 
Journal ou Wilson Library Bulletin. 
Tal ·qual os periódicos, outros tipos de materiais, como 
microformas, rnultimeios, materiais não-convencionais, etc., 
possuem instrumentos auxiliares à seleção. A utilidade de tais 
instrumentos, no entanto, irá variar de acordo com cada tipo 
52 
de material, sendo que caberá ao profissional definir as 
vantagens e desvantagens de cada um cm relação ao seu caso 
específico, conseguindo tirar o melhor proveito deles. Foge 
:ios objetivos deste trabalho a discussão detalhada dos instru­
mentos auxiliares à seleção destes outros tipos de materiais; o 
leitor interessado em obter mais mais informações sobre o 
assunto poderá recorrer à bibliografia complementar, citada 
no final do texto. 
Esta rápida pincelada sobre alguns dos muitos instru­
mentos auxiliares à seleção de mate ri ais procurou demonstrar 
que essa atividade não pode ter sua importância minimizada 
tlcntro do processo de desenvolvimento de coleções, devendo 
o profissional lançar mão de tudo que lhe for possível para
1omá-la melhor alicerçada. Mas sabemos muito bem que, por
maisj_nstrumentos de que se utilize o bibliotecário, a seleção
lerá sempre a influenciá-la um fator extremamente subjetivo,
o qual será-impossível dominar completamente. O estabeleci­
mento de critérios e a utilização de instrumentos auxiliares
visam, na realidade, manter este fator subjetivo dentro dos
limites do aceitável, sem o que o trabalho do bibliotecário
falalmentc se transformaria cm um simples caso de definição
de preferências pessoais dele, profissional, sem qualquer
rnnsideração com o usuário ou a comunidade a ser servida. E
o hibliotecário, principalmente quando realizando a seleção
,k materiais para sua coleção, tem cm suas mãos, entre outras
rnis.as, o poder de decidir a quais informações a comunidade
11� ter acesso, o que pode ser, cm muitos casos, fonte de
,ksvinuamento de todo o processo de desenvolvimento da
53 
coleção. Como Maquiavel já dizia que "o poder corrompe", (; 
interessante nos detennos um pouco não apenas neste desvir­
tuamento do processo de seleção por pane dos bibliotecários, 
mas, também, nas pressões que estes sofrem, por parte de 
autoridades e usuários, para que efetuem este desvirtuamento. 
A isto, pode-se chamar censura. 
54 
SELEÇÃO E CENSURA DE MATERIAIS 
A questão poderia ser colocada de várias fonnas. De um 
lado, temos os usuários que possuem direito de acesso a todas 
:L-. informações, sem restrições de espécie alguma; de outro 
lado, temos os bibliotecários lutando no seu dia-a-dia contra 
pressões. que lhes vêm de todos os lados - até deles mesmos 
·, para colocar limites à liberdade intelectual do usuário.
t•arcce ser relativamente fácil, aos bibliotecários, posicio­
n:1rcm-se de forma favorável à liberdade intelectual e con­
trários à censura em bibliotecas, quando os interlocutores são 
outros colegas com os quais se reuniram para tomar um 
:,pcritivo ou para debates em reuniões ou seminários profis­
sionais. Outra coisa, no entanto, já não tão fácil assim, é agir 
l'Ontra as pressões que vêm da parte de autoridades gover­
namentais, de associações civis ou de indivíduos que se 
sentem no direito de exigir a rcti rada, da coleção da biblioteca, 
tlaquclcs livros e outros materiais que veiculam conceitos dos 
quais discordam e que não gostariam de ver disseminados 
c:ntrc os outros membros da comunidade. E outra coisa ainda, 
muito mais difícil, é conseguir refrear a tendência, incrente a 
todos os profissionais bibliotecários, de fonnar uma coleção 
de acordo com sua própria visão de mundo, não pcnnitindo 
55 
que dela façam parte obras que defendam ponlos de vista que 
ele, pessoalmenle, como cidadão, considera perniciosos. lslo 
pode soar att um pouco exagerado - principalmente para a 
realidade brasileira, onde parece existir um acordo Lácito para 
minimização daqueles atos que poderiam ser definidos como 
atos de censura em bibliotecas. É certo que em países subde­
senvolvidos, como é o nosso caso, onde as bibliotecas têm 
uma participação ainda muito pequena na vida da comu­
nidade, sendo vistas muito mais corno benesses provindas da 
adminisLração que direitos assegurados à coletividade, a 
questão realmente não tem a amplitude que possui, por 
exemplo, cm países com maior tradição de leitura e bibliote­
cas. Afinal,parecemuito mais importante, aos governantes de 
países subdesenvolvidos,o controle das informações geradas 
por meios de comunicação de massa, corno a televisão e o 
rádio - que todas as pessoas vêem ou ouvem -, que as 
veiculadas pelas bibliotecas - às quais, comparativamente, 
poucos recorrem. Mas a experiência mostra que, mesmo em 
menores dimensões que a realizada em grandes meios de 
comunicação, a censura em bibliotecas chega efetivamente a 
ocorrer, pois tam�m interessa aos poderosos do dia cercear 
o acesso às informações para a minoria pensante do país. E
estes encontram, aliás, maiores facilidades para perpetrar atos
repressivos às coleções das bibliotecas, graças, principal­
mente, à fragilidade dos próprios profissionais bibliotecários
que, devido a não possuírem uma tradição de luta em favor da
liberdade intelectual de seus usuários e a não estarem suficien­
temente organizados cm � sociações, sindicatos ou fedcra-
56 
,•,cs, não têm quase que a mínima condição de oferecer rcsis-
1focias eficientes. 
Os_ bibliotecários brasileiros não possuímos quaisquer 
1kdaraçõcs de princípios a direcionar o comportamento 
pmíissional diante das questões de censura de materiais. 
Quase. tudo,. infelizmente, fica a nível do individual, terreno 
onde as condições de luta são as mais adversas possíveis, pois, 
lll'Sle nível, o biblioLecário é particularmente vulnerável a 
ameaças a sua integridade física ou à perda de seu emprego. 
N,1o possuímos, por exemplo, nada parecido a uma De-
1·Laraçá() dos Direitas da Bibilioteca (Ubrary Bill of Rights), 
que, nos Estados Unidos, resume em seis itens bastante 
.ahrangentes as políticas básicas de liberdade intelccLual a 
nortear os serviços de todas as biblioLecas. Apesar de não 
dotar o bibliotecário - ou a biblioteca- de qualquer direito 
legal,� bastanLe significativa como um guia ético de conduta, 
constituindo-se em política oficial da ALA (American Li­
bmry Association) no que se refere aos direitos que possuem 
os usuários de ler aquilo que desejam e ter acesso ao maLcrial 
requisitado sem sofrer pressões ou intervençõoes de quais­
quer indivíduos ou grupos de indivíduos para que deixem de 
fazê-lo, incluindo neste rol o próprio bibliotecário. No en­
lanto, como política oficial da ALA, deve ser vista como 
respondendo às necessidades dos bibliotecários norte-ameri­
canos, sendo necessário, para sua aplicação em outros países, 
análise detalhada e adaptação à realidade local; entendemos 
que esta análise e adaptação deveria necessariamenle ser 
realizada por comissão ligada às associações de bibliotecários 
57 
ou à Federação de Associações de Bibliotecários (FEBAB) e, 
posteriormente, levada para aprovação da classe biblio­
tecária. No entanto, na falta de outros parâmetros, a De­
claração dos bibliotecários norte-americanos pode funcionar, 
também para os brasileiros, como modelo de ação na luta 
contra atendados à liberdade intelectual, venham eles de onde 
vierem .. O texto d.a Declaração dos Direitos da Biblioteca, 
conforme aprovado na reunião da ALA de 1980, é apresen­
tado abaixo: 
Declaração dos Direitos da Biblioteca 
A American Library Association afirma que todas as bibliotecas 
são foros de informação e idéias, e que as seguintes políticas básicas 
devem guiar seus serviços: 
1. Livros e outros materiais de bib1ioteca devem ser providos para
o interesse, informação e esclarecimento de todas as pessoas da
comunidade a ser servida. Nenhum material deve ser excluído por
motivos de origem, antecedentes ou pontos de vista daqueles que
contribuíram para sua criação.
II. As bibliotecas devem prover materiais e informação que
apresentem todos os pontos de vista com relação a fatos históricos e 
correntes. Os materiais não devem ser proibidos por razões de 
desaprovaç�o doutrinal ou partidária. 
III. As bibliotecas devem desafiar a censura no cumprimento de
sua responsabilidade de prover informação e esclarecimento. 
IV. As bibliotecas devem cooperar com todas as pessoas e grupos
preocupados em resistir à restrição da livre expressão e livre acesso 
às idéias. 
V. O direito de um indivíduo ao uso de uma biblioteca não deve
58 
ser negado ou reduz'ido devido à sua o rigem. idade, antecedentes ou 
pontos de vista. 
VI. As bibliotecas que tomam acessível, ao público que servem,
e,spaços e salas de reuniões, devem propiciar tais facilidades aces­
síveis em bases equitativas, independente das crenças ou afiliações 
de indivíduos ou grupos que solicitem seu uso. 
� dizer qu�. basicamente, existem três tipos de 
censura: 
a) legal ou governamental;
b) pressão individual ou de grupo;
c) autocensura.
Teoricamente, ao menos, é muito mais fácil lidar com os 
dois primeiros tipos de censura do que com o terceiro, pois 
naqueles existem apenas duas alternativas: ou se luta contra a 
censura ou se compactua com ela. O caso da autoccnsura é 
bem mais complexo, pois, além das pressões sociais e políti­
cas que forçam, muitas vezes, sua existência, existe também 
:t questão inerente ao próprio profissional bibliotecário que, 
sem o saber, realiza autopoliciamento para evitar prováveis 
polêmicas; quando, no entanto, tal policiamento é consciente 
e expomâneo, deixa de existir autocensura para passar a existir 
a censura exercida pelo bibliotecário. Afinal, a linha a dividir 
a L"Cnsura da seleção do material é, às vezes, muito tenue, 
principalmente para o usuário, a quem qualquer ato de seleção 
contrário a seus interesses representa um ato de censura por 
trazer restrições quanto ao material a que pode ter acesso. 
59 
Parece ser evidente que qualquer seleção implica, necessaria­
mente, restrições. No entanto, é preciso ter bem claras as 
distinções que são feitas a um material dentro de um processo 
nonnal de seleção e as que são feitas quando da prática da 
censura. Enquanto, no primeiro caso, levam-se em conta 
restrições que abrangem, por exemplo, a adequabilidade do 
material ao tipo de biblioteca ou ao nível de interesse do 
usuário ou comunidade, no segundo,, as restrições são devidas 
a preconceitos pessoais, que podem ser resultado de con­
cepções políticas, econômicas ou estéticas. 
As definições arroladas no parágrafo anterior muito 
devem ao trabalho de Lester Ashcim sobre seleção e censura 
de materiais, que j.á se tomou, praticamente, um clássico da 
literatura biblioteconômica. Embora se tenha tentado, durante 
todo o trabalho, evitar as citações de autores (afinal, este não 
é um trabalho para um público acadêmico), tomou-se im­
prescindível a rcfei;ência a este autor, cujas idéias continuam 
tão atuais quanto vinte anos atrás, como a distinção que faz 
entre as posturas do censor, procurando achar em uma obra 
razões para retirá-la de circulação e dificultar o acesso do 
público à mesma, e a do bibliotecário cm sua atividade de 
seleção, procurando encontrar na obra razões que jus ti fiquem 
sua incorporação ao acervo. Enquanto a postura do primeiro 
é negativa, destrutiva, a do segundo reveste-se de característi­
cas positivas, é uma postura construtiva: construir uma co­
leção para atender a uma determinada comunidade. O censor 
procura razões fora do livro para garantir sua posterior re­
jeição, razões estas que enfocam as afiliações do autor, as 
60 
cores de sua bandeira, seus hábitos pessoais; o selecionador, 
ao contrário, procura analisar apenas o conteúdo do I ivm e as 
contribuições que este possa porventura trazer à comunidade. 
O selecionador tem fé na inteligência do usuário, partindo do 
pressuposto de que este saberá retirar da obra o que de positivo 
existe na mesma; o censor, por outro lado, tem fé apenas em 
sua própria inteligência e capacidade de julgamento, imagi­
nando que todas as demais pessoas são poços de ingenuidade 
que precisam ser protegidos das mazelas e malfeitos da vida. 
As ponderações acima citadas -e outras sobre as quais 
não se discorreu - podem ser de bastante utilidade para

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