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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 3 2 CULTURA DIGITAL E EDUCAÇÃO ..................................................................... 4 2.1 As características da cultura digital.................................................................... 4 2.2 As três leis da cibercultura.......................................................................... ....... 6 3 A CULTURA DIGITAL E A EDUCAÇÃO .............................................................. 9 4 CULTURA DIGITAL, MULTILETRAMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL ...... 15 5 MULTILETRAMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL ........................................ 17 6 CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA DIGITAL PARA ENSINO E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA..... ............................................................................ 23 7 MULTILETRAMENTO: METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA...... ..................................................................... 26 8 O PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM NA CULTURA DIGITAL ........ 30 9 AS NOVAS CONCEPÇÕES DE ENSINO-APRENDIZAGEM QUE PERMEIAM A CULTURA DIGITAL.................... ........................................................................... 31 9.1 A formação do professor para atuar na cultura digital..................................... 34 9.2 Os limites e as possibilidades do processo de ensino-aprendizagem na cultura digital.... ................................................................................................................. 37 10 INOVAÇÕES METODOLÓGICAS NA CULTURA DIGITAL ............................. 39 11 REFERÊNCIAS.. .............................................................................................. 43 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 CULTURA DIGITAL E EDUCAÇÃO Ao longo da história, tivemos vários modelos, assim como infraestruturas de comunicação e do ciberespaço, que caracterizaram diferentes fases tecnológicas. O telefone, a televisão, as fitas cassete, foram invenções que trouxeram inovações tecnológicas para cada época. O filme, por exemplo, foi o primeiro meio audiovisual que envolveu conceitos de “armazenamento e distribuição”. A televisão possibilitou a participação, mesmo que mínima, do telespectador — uma vez que ele tinha o poder de decidir o que ver SAGAH, 2018. Hoje, vivemos imersos em uma cultura dominantemente digital, caracterizada pela digitalização do material até então analógico, e da convergência, em que várias mídias, que antes funcionavam separadamente, agora se associam em um mesmo ambiente, formando a hipermídia SAGAH, 2018. A cultura digital abre espaço para a participação digital, que requer pessoas com novas habilidades e conhecimentos. Por isso, é tão importante que os educadores e a escola assumam o compromisso de desenvolver as competências necessárias para garantir a inclusão de todas as pessoas nessa nova cultura SAGAH, 2018. 2.1 As características da cultura digital A cultura digital é uma nova cultura que surge a partir da digitalização das tecnologias analógicas, com o uso do microcomputador, além do desenvolvimento da cibernética, linguagens de programação, e ainda recebe influências de fatores sociais, políticos, econômicos, etc. SAGAH, 2018. Para entender melhor as características da cibercultura, usaremos o teórico Lévy (1999), que utiliza termos como ciberespaço e cibercultura, que surgem no cenário digital. De acordo com ele: […] ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo 5 oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo "cibercultura", especifica o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço (LÉVY, 1999, p. 14). Ou seja, ciberespaço e cibercultura estão interligados, sendo que cibercultura, nos termos de Lévy (1999), é a expressão usada por ele para se referir à cultura digital. O ciberespaço é um espaço de comunicação aberto, formado por um conjunto de sistemas de comunicação eletrônicos, que transmitem informações provenientes de fontes digitais. É um meio que associa todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação. A informação nesse ambiente tem caráter virtual: é fluída, tratável em tempo real, interativa, etc. A cibercultura, que é a cultura que surge desse ambiente, expressa o desejo de construção de um laço social, segundo Lévy (1999). O laço social é formado a partir das possibilidades de criação de comunidades virtuais com os mesmos interesses e de processos abertos de colaboração. O ambiente das tecnologias digitais pode ser propício para a criação de laços. Cerveró (2007) menciona a cibercultura a partir da reformulação do conceito de cultura que conhecemos, que ainda está relacionada à escrita, e nos remete à cultura clássica e humanista. A cultura digital, na visão da autora, de certa forma “desestabiliza” esta cultura clássica, pois representa um novo marco de uma sociodinâmica cultural. Resumindo, a cibercultura (ou cultura digital) tem sido amplamente associada à aparição de novas formas culturais vinculadas ao uso da internet. Não é só a cultura dos computadores — a cibercultura surge a partir da interação entre ciberespaço e cultura (GEERTZ, 2000). A cibercultura reúne formas de significar e de atuar/interagir no ciberespaço, formas que são diferentes das que existiam antes de sua chegada. (CERVERÓ, 2007). 6 2.2 As três leis da cibercultura Após discorrer sobre os principais conceitos sobre cibercultura, recorremos às três leis principais que caracterizam e dão identidade à cultura digital a partir da visão de Lemos (2010). As três leis nos ajudam a compreender a atual cibercultura. São elas: a lei da liberação do polo de emissão, da reconfiguração sociocultural e de conexão em rede. ➢ A primeira lei: liberação do polo de emissão — a liberação do polo de emissão se torna possível com o advento da geração da web 2.0, em que o receptor passa a emitir sua própria informação, usando várias mídias diferentes e em uma escala global, fato potencializado pelas tecnologias digitais e a interatividade. Essas são características importantes que formam a cultura digital. A cultura digital é formada pelos “produsuários” (junção dos termos “produtor” e “usuário”). Há vários exemplos decorrentes da lei da liberação do polo de emissão.Com a postura ativa dos usuários como produtores de conteúdo, há uma redefinição dos direitos de propriedade intelectual, discussão fortemente ligada à prática do software de fonte aberta, por exemplo. Adaptadas ao ambiente de cultura digital, criam-se novos tipos de licenças mais abertas de uso, modificação e distribuição de conteúdo SAGAH, 2018. A liberação do polo de emissão ainda atende a uma comunicação de auto- -organização, e também de nível sociopolítico, independentes da mediação do sistema de mídia tradicional. Cabe mencionar aqui o exemplo das manifestações a partir do ano de 2010 contra a ditadura nos países árabes, fato que ficou mundialmente conhecido como “Primavera árabe”, em que cidadãos comuns utilizaram as redes sociais para multiplicar rapidamente mensagens vindas de pequenos grupos, sensibilizando o mundo todo. Aqui vemos princípios de 7 coletividade e colaboração, que também estão muito presentes na cultura digital SAGAH, 2018. ➢ A segunda lei: princípio de conectividade generalizada (conexão em rede) — lei que caracteriza a cibercultura atenta para o princípio de conexão em rede. “[...] É preciso emitir em rede, entrar em conexão com os outros, produzir sinergias, trocar pedaços de informação, circular, substituir” (LEMOS, 2009, p. 40). Essa troca em rede potencializa o cenário de inteligência coletiva - um conceito de Pierre Lévy, que é um alicerce importante da cultura digital. A inteligência coletiva é moldada por meio das tecnologias digitais de forma colaborativa. As conexões sociais, estabelecidas pela utilização das redes abertas na internet, possibilitam um processo em que as inteligências individuais são somadas, compartilhadas e potencializadas. Essa rede de troca mútua só é possível pela lei de conectividade generalizada. Ou seja, a cibercultura é formada por uma rede interativa, de troca e compartilhamento entre pessoas, comunidades, grupos, etc. Podemos citar como exemplo as redes de ensino a distância, que se favorecem desse princípio e desenvolvem sistemas de aprendizagem colaborativa em rede. Estudantes do mundo inteiro trocam ideias, conhecimentos, interesses, etc. ➢ A terceira lei: lei da reconfiguração sociocultural — a cultura digital, formada pela postura ativa do usuário como produtor de conteúdo, em um ambiente colaborativo e de conexão generalizada, contribui com mudanças significativas quanto a práticas e instituições sociais e culturais. A cultura digital reconfigura a indústria cultural massiva, e modifica as redes de sociabilidade da sociedade industrial. 8 A cultura trazida pelas tecnologias digitais tem enriquecido a diversidade cultural mundial. O cenário de comunicação em rede se contrapõe aos modelos massificados de indústrias e de comunicação, trazendo à tona as culturas locais em meio ao global supostamente homogeneizante. Com a possibilidade trocar e compartilhar os mais diversos conteúdos, amplia-se o acesso aos mais variados tipos de produção artística, cultural, etc. SAGAH, 2018. 9 3 A CULTURA DIGITAL E A EDUCAÇÃO Google.com.br Vimos, no tópico anterior, as principais leis que caracterizam a cultura digital, ou cibercultura. A postura ativa dos usuários na produção de conteúdo, a conectividade generalizada, e a reconfiguração do cenário sociocultural são as bases dessa nova cultura. E o que a educação tem a ver com tudo isso? SAGAH, 2018. A cultura digital cria um novo cenário de participação social, cultural, profissional, etc. É por meio do uso dessas tecnologias que “medimos” o quanto alguém pode estar totalmente inserido na nova sociedade da informação, ou excluído. É nesse ponto que entra a educação: além de se aproveitar das ferramentas digitais, a principal missão das entidades escolares é incluir as pessoas nesse cenário de participação digital, desenvolvendo competências e habilidades para tal objetivo SAGAH, 2018. 10 Posto isso, não basta apenas relacionar a cultura digital e escola sem pensar na necessidade de reformular práticas de alfabetização. Conforme nos alertam Lee e So (2014, p. 138), “[...] as pessoas precisam de competências e habilidades não tradicionais para lidar com a mudança dos ambientes sociais e tecnológicos”. Ser alfabetizado hoje, em meio à cultura digital, inclui saber ler e escrever não só pelos meios tradicionais, mas também através das tecnologias digitais. Tirar proveito educativo e como cidadão desse cenário digital vai muito além de atuar apenas como mero consumidor de conteúdo SAGAH, 2018. Observa-se que os alunos, em sua maioria, chegam às escolas repletos de habilidades associadas à cultura digital. Muitos sabem manusear dispositivos móveis desde cedo, fazer buscas básicas em motores de busca online, sabem filmar, fotografar, fazer edições básicas, usar editores de textos, jogos, etc. No entanto, o principal desafio da escola não é somente garantir o acesso a essas tecnologias e à formação técnica, mas a formação para o uso ético e crítico da própria tecnologia, engajando o aluno na cultura digital como participante ativo, crítico e cidadão SAGAH, 2018. Mas, quando falamos de alfabetização para a cultura digital, que tipo de alfabetização falamos? A Unesco, em um relatório de 2013 (WILSON et al., 2013), resolveu unir todas as alfabetizações necessárias para o desenvolvimento de habilidades importantes para o cenário digital. A essa reunião de várias áreas a Unesco nomeou de “alfabetização midiática e informacional (AMI)”, conforme a Figura, a seguir. 11 Fonte: Wilson et al. (2013, p. 19). Vemos que, do ponto de vista da Unesco, a alfabetização ideal para o cenário de cultura digital reúne práticas e conhecimentos de várias áreas. Assim, como as tecnologias convergem, não faz mais sentido tratar cada área dessa de maneira isolada, e sim holística SAGAH, 2018. A seguir, no Quadro 1, vamos apresentar as principais habilidades que consideramos relevantes para o ambiente de cultura digital. 12 Fonte: Adaptado de Jenkins et al. (2006). 13 De acordo com Jenkins et al. (2006), essas são as habilidades mais importantes para a promoção da participação na cultura digital. A partir do desenvolvimento dessas habilidades — pensando não somente nos alunos, mas também nos docentes — podemos promover a chamada inclusão social e digital para os dias de hoje. Todas essas habilidades incluem as pessoas nos mais variados ambientes profissionais, educacionais, sociais e culturais contemporâneos. Tanto o professor como a escola necessitam desenvolver ambientes educacionais que favoreçam o desenvolvimento dessas competências SAGAH, 2018. Para tal, é importante ressaltar que não basta apenas incluir aparatos tecnológicos e digitais nas escolas e salas de aula. Uma escola equipada com computadores e com tudo o que há de mais novo não significa, necessariamente, inclusão na cultura digital. É preciso reformular práticas de ensino e aprendizagem propícias para o desenvolvimento dessas habilidades e para garantir a formação adequada para esse contexto, dentro de um modelo aberto de aprendizagem, com metodologias e abordagens pedagógicas — sala de aula invertida, atividades e avaliações por pares, gamificação, etc. SAGAH, 2018. 14 15 4 CULTURA DIGITAL, MULTILETRAMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL Google.com.br A cultura digital, a diversidade cultural, os letramentos e o multiletramento são conceitos que ganham espaço nos debates e nas formulações de políticas e bases para a educação. Para uma atuação alinhada com essas novas perspectivas, é importante refletir de que forma elas podem ser transportadas para a sala de aula e efetivamente praticadas SAGAH, 2018. Neste capítulo, você vai estudar algumas questões emergentes para a formaçãoe a atuação de professores. Primeiro, vai conferir por que o multiletramento e a valorização da diversidade cultural são importantes na atuação docente. Em seguida, vai ler sobre as contribuições da cultura digital para os processos de ensino e de aprendizagem de língua portuguesa. Por fim, você vai conhecer a relação entre multiletramento e ensino de língua portuguesa e literatura SAGAH, 2018. 16 A cultura digital gera novos desafios – a lacuna da participação, o problema da transparência e o desafio ético são três grandes preocupações que necessitam de intervenção pedagógica SAGAH, 2018. Conheça, no Infográfico a seguir, as características de cada um desses desafios. 17 5 MULTILETRAMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL Letramentos, multiletramentos e pedagogia dos multiletramentos são conceitos que vêm ganhando espaço em pesquisas, políticas e na prática de sala de aula. Nesta seção, vamos entender um pouco sobre cada um desses conceitos SAGAH, 2018. Letramento não é sinônimo de alfabetização. A ideia de letramento surgiu no final dos anos 1970, quando ainda não se fazia muita distinção entre os dois conceitos. Com o tempo, a diferenciação foi sendo melhor compreendida e, atualmente, já existem práticas não só de letramento, mas também de multiletramento. Esclarecendo essas diferenças, Soares (2011, p. 29) explica: O surgimento do termo literacy (cujo significado é o mesmo de alfabetismo), nessa época, representou, certamente, uma mudança histórica nas práticas sociais: novas demandas sociais pelo uso da leitura e da escrita exigiram uma nova palavra para designá-las. Ou seja: uma nova realidade social trouxe a necessidade de uma nova palavra. Essa nova palavra é letramento. De acordo com Tfouni (2010, p. 32), “A necessidade de se começar a falar em letramento surgiu, creio eu, da tomada de consciência que se deu, principalmente entre os linguistas, de que havia alguma coisa além da alfabetização, que era mais ampla, e até determinante desta”. O termo letramento segue conquistando espaço e passou a ser percebido como algo mais amplo do que alfabetização. Porém, o conceito continua sendo aprimorado conforme os estudos desse campo vão evoluindo e de acordo com a realidade social imposta aos pesquisadores. Nessa busca, entende-se que estamos inseridos em uma sociedade que utiliza a escrita e a leitura como formas de mediação da comunicação entre os sujeitos e dos sujeitos com as demandas da sociedade, considerando práticas diferenciadas as quais estão relacionadas com múltiplos contextos SAGAH, 2018. Letramento ainda está muito associado à letra, à escrita, mas o conceito é muito mais diversos e pode ocorrer em todos os espaços de interação em que as formas de comunicação se fazem presentes. Letramento inclui não só a capacidade de leitura e interpretação de textos, mas também a capacidade de leitura dos 18 números, por exemplo. Nas escolas, enquanto certas práticas de letramento são autorizadas, por estarem relacionadas à alfabetização (como leitura e interpretação de um texto escrito), outras não são igualmente valorizadas. Por exemplo, uso de caixa eletrônico, observação das compras registradas no caixa do supermercado e leitura de charge no jornal SAGAH, 2018. Com a necessidade de valorização das diferentes práticas de leitura e de escrita (letras, números, imagens, sons, etc.) surgiu um conceito ainda mais amplo: o de multiletramento, que deve ser entendido na relação com a prática. Por exemplo, quando utilizamos a prática da escrita e da leitura para suprir demandas do contexto em que os sujeitos estão inseridos, de forma que ele possa atuar nesse local, estamos praticando o multiletramento SAGAH, 2018. Esse fato é defendido na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O conceito de multiletramento aparece onze vezes ao longo do documento em afirmações como: A segunda implicação diz respeito à ampliação da visão de letramento, ou melhor, dos multiletramentos, concebida também nas práticas sociais do mundo digital – no qual saber a língua inglesa potencializa as possibilidades de participação e circulação – que aproximam e entrelaçam diferentes semioses e linguagens (verbal, visual, corporal, audiovisual), em um contínuo processo de significação contextualizado, dialógico e ideológico. Concebendo a língua como construção social, o sujeito “interpreta”, “reinventa” os sentidos de modo situado, criando novas formas de identificar e expressar ideias, sentimentos e valores (BRASIL, 2018, p. 242). […] apropriar-se das linguagens da cultura digital, dos novos letramentos e dos multiletramentos para explorar e produzir conteúdo em diversas mídias, ampliando as possibilidades de acesso à ciência, à tecnologia, à cultura e ao trabalho (BRASIL, 2018, p. 474). Nesses trechos, entende-se que a noção de multiletramento considera que a formação dos sujeitos necessita de um trabalho que valorize as múltiplas linguagens e as suas formas de construção para que possam se expressar e produzir conteúdo autorais, a partir do uso consciente das diversas mídias SAGAH, 2018. 19 De acordo com Rojo e Almeida (2012, p. 23), os materiais que consideram multiletramentos: “a) são interativos (colaborativos); b) fraturam e transgridem as relações de poder estabelecidas; e c) são híbridos, fronteiriços, mestiços (de linguagens, modos, mídias e culturas)”. Na ideia de multiletramento, portanto, trabalha-se com (CURSOS MEC, 2019): ➢ múltiplas linguagens; ➢ múltiplas mídias; ➢ múltiplas referências culturais. A multiplicidade de linguagens está relacionada à variedade semiótica e à hibridização de linguagens. Na história em quadrinhos, por exemplo, textos, imagens e, até mesmo, os balões carregam significados (CURSOS MEC, 2019). Observe as Figuras 1 e 2. 20 Fonte: Oliveira (2014, documento on-line). 21 Fonte: Oliveira (2014, documento on-line). Fotorreportagens, vlogs e animes são outros exemplos que trabalham com a multiplicidade de linguagens. No caso dos animes utilizam-se desenhos, fotos, músicas, elementos gráficos, entre outros SAGAH, 2018. 22 Como mencionado anteriormente, o multiletramento considera também uma multiplicidade cultural. Desse modo, o aluno tem contato com diversas culturas, ampliando seus conhecimentos. Além disso, pode se sentir representado e, consequentemente, mais interessado no conteúdo SAGAH, 2018. A BNCC (BRASIL, 2018, p. 474) afirma que: […] para além da cultura do impresso (ou da palavra escrita), que deve continuar tendo centralidade na educação escolar, é preciso considerar a cultura digital, os multiletramentos e os novos letramentos, entre outras denominações que procuram designar novas práticas sociais de linguagem. No entanto, a necessária assunção dos multiletramentos não deve apagar o compromisso das escolas com os letramentos locais e com os valorizados. É preciso garantir que as juventudes se reconheçam em suas pertenças culturais, com a valorização das práticas locais, e que seja garantido o direito de acesso às práticas dos letramentos valorizados. A partir da valorização da diversidade cultural, amplia-se a valorização das práticas locais, e os sujeitos passam a entender criticamente as reflexões propostas pela escola, pois são próximas de suas realidades: Sem aderir a um raciocínio classificatório reducionista, que desconsidera as hibridizações, apropriações e mesclas, é importante contemplar o cânone, o marginal, o culto, o popular, a cultura de massa, a cultura das mídias, a cultura digital, as culturas infantis e juvenis, de forma a garantir uma ampliação de repertório e uma interação e trato com o diferente (BRASIL, 2018, p. 70). 23 Isso não significa uma reduçãodo acesso às práticas dos letramentos valorizados, mas sim uma ampliação dos espaços de ensino e de aprendizagem, inserindo a diversidade cultural, que passa a fazer parte da dinâmica de sala de aula SAGAH, 2018. 6 CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA DIGITAL PARA ENSINO E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA Google.com.br A cultura digital é a integração entre mundo real e mundo virtual por meio de ferramentas digitais. Considerando, portanto, o multiletramento e a diversidade cultural como elementos integrantes dos processos de ensino e aprendizagem, tem- se também a cultura digital como espaço de contribuição para o ensino de língua portuguesa. Atualmente, “[…] os jovens têm se engajado cada vez mais como protagonistas da cultura digital, envolvendo-se diretamente em novas formas de 24 interação multimidiática e multimodal e de atuação social em rede, que se realizam de modo cada vez mais ágil” (BRASIL, 2018, p. 61). Portanto, a cultura digital precisa fazer parte da dinâmica de sala de aula. A cultura digital tem promovido mudanças sociais significativas, principalmente com o avanço e a multiplicação de diferentes tecnologias de informação e comunicação. Neste panorama, os jovens estão inseridos como protagonistas, além de consumidores, e inovam os seus processos de comunicação de acordo com as exigências de cada uma das novas tecnologias. Envolvem-se, cada vez mais, em “[…] novas formas de interação multimidiática e multimodal e de atuação social em rede” (BRASIL, 2018, p. 61), elaborando diferentes discursos e empregando a língua portuguesa de forma específica. Ou seja, mais sintética e “[…] privilegiando análises superficiais e o uso de imagens que diferem dos modos de dizer e argumentar característicos da vida escolar” (BRASIL, 2018, p. 61). Esse fato pressiona escolas, professores e pais a aceitar a necessidade da cultura digital e suas contribuições como parte dos processos de ensino e de aprendizagem da língua portuguesa, da mesma forma que outras disciplinas. Isso significa valorizar a diversidade cultural. Considere as produções em blogs, Facebook, Instagram, Pinterest, Twitter, WhatsApp, YouTube, LinkedIn, etc.: nesses espaços, a dinâmica de produção e interpretação de texto representa a construção de novos gêneros textuais para além daqueles consolidados como tradicionais. A produção escrita (texto, imagem e som) nessas novas ferramentas tecnológicas amplia e contribui para o ensino de língua portuguesa. De acordo com Bakhtin (1952 apud BALTAR, 2004, p. 46-47): Gêneros textuais são unidades triádicas relativamente estáveis, passíveis de serem divididas para fim de análise em unidade composicional, unidade temática e estilo, disponíveis num inventário de textos, criado historicamente pela prática social, com ocorrência nos mais variados ambientes discursivos, que os usuários de uma língua natural atualizam quando participam de uma atividade de linguagem, de acordo com o efeito de sentido que querem provocar nos seus interlocutores. 25 As produções nos novos meios digitais contribuem para o ensino e a aprendizagem da língua portuguesa, pois representam, também, prática social (língua em uso) em um ambiente discursivo específico (mundo virtual) de forma a gerar atividade de linguagem e participação social. A cultura digital possibilita o trabalho com editorais, revistas, jornais e artigos disponibilizados de forma eletrônica, e-books, animações, podcasts, tutorias, imagens, etc. SAGAH, 2018. Em todos esses exemplos, e em tantos outros, a língua portuguesa está presente e de forma específica. São essas especificidades que conferem riqueza para o trabalho do professor em sala de aula. Isso não significa de forma alguma considerar tudo que é produzido como emprego adequado da língua portuguesa, mas essa é uma oportunidade de valorização da diversidade e de reflexão crítica sobre os usos sociais da língua portuguesa SAGAH, 2018. O professor pode estabelecer reflexões paralelas sobre as formas de produção dos discursos nesses diferentes meios. Por exemplo, de que forma a língua portuguesa é utiliza pelos influenciadores digitais? De que maneira eles constroem os seus discursos para conquistar milhares de seguidores? O objetivo é valorizar essas produções que fazem parte do cotidiano dos alunos. Significa, portanto, levar para a prática as definições da BNCC SAGAH, 2018. 26 7 MULTILETRAMENTO: METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA Google.com.br O multiletramento se relaciona com a metodologia e a prática do ensino de língua portuguesa e literatura. Isso porque defende a importância da inserção em sala de aula de atividades de leitura, escrita e oralidade que valorizam as práticas tradicionais da escola, mas também insere, na sua abordagem, as práticas cotidianas dos alunos. Isso significa: […] uma importante contribuição dos estudos do letramento para a reflexão do ensino da língua é a ampliação do universo textual, ou seja, a inclusão de novos gêneros, novas práticas textuais, a partir da combinação de diferentes modos de representações (imagens, músicas, cores, linguagem oral, linguagem escrita etc.) que, até pouco tempo, não eram tão valorizadas nas salas de aula (ANACLETO; MIRANDA, 2016, p. 68). Nas Figuras 1 e 2, do tópico anterior, temos o exemplo das histórias em quadrinho. Com elas, é possível trabalhar com linguagem verbal, não verbal, 27 onomatopeias, discurso direto e indireto, elementos de narrativa, fatos históricos, tempo e espaço, entre muitos outros conteúdos SAGAH, 2018. Séries, tutoriais, vlogs e podcasts também fazem parte dos novos gêneros, das novas práticas textuais e do cotidiano dos alunos. Em todos esses casos, é possível trabalhar com interpretação de texto e de discurso, coerência, coesão, entre outros, além de desenvolver o senso crítico dos alunos, de acordo com a faixa etária. Para os mais novos, por exemplo, existe uma série de desenhos animados educativos, que podem servir de base para o trabalho em sala de aula SAGAH, 2018. Evidentemente, essas sugestões enfrentam as dificuldades pela precariedade do sistema público de ensino no Brasil. Levar essas novas tecnologias para a sala de aula não é tão simples quanto a teoria indica. No entanto, quando for possível e existir condições para esse tipo de trabalho baseado no multiletramento com uso de tecnologias e novas mídias digitais, é importante que ele seja considerado e realizado na escola. Caso as condições não sejam favoráveis, o professor pode adequar para meios possíveis e de acordo com o contexto dos alunos, de acordo com o que os alunos apresentam como produções cotidianas de língua portuguesa e literatura SAGAH, 2018. Por exemplo, caso os alunos sejam assíduos jogadores de jogos on-line, interativos e de cooperação com pares, considere que, na maioria das vezes, esses jogos exigem a construção de personagens representativos do jogador e utilizam trajetórias e histórias em cenários progressivos. Então, o professor pode desafiar os alunos a transportar essas histórias para outro gênero do discurso e outro gênero textual SAGAH, 2018. Nesta prática, trabalha-se com língua portuguesa, literatura, história, gêneros textuais, gêneros do discurso, produção e interpretação de texto, adequação da produção às exigências do contexto de produção, entre muitas outras possibilidades. Lembre-se de que: Cada época e cada grupo social têm seu repertório de formas de discurso na comunicação socioideológica. A cada grupo de formas pertencentes ao mesmo gênero, isto é, a cada forma de discurso social, corresponde um grupo de temas. Entre as formas de comunicação (por exemplo, relações entre colaboradores num contexto puramente técnico), 28 a forma de enunciação (“respostas curtas” na “linguagem de negócios”) eenfim o tema, existe uma unidade orgânica que nada poderia destruir. Eis porque a classificação das formas de enunciação deve apoiar-se sobre uma classificação das formas da comunicação verbal. Estas últimas são inteiramente determinadas pelas relações de produção e pela estrutura sociopolítica (BAKHTIN, 2004, p. 43). Essa reflexão reforça a questão da valorização da diversidade e da prática do multiletramento a partir do reconhecimento do repertório de cada grupo social e nas formas de produção do discurso. A escola e os professores, desse modo, operam como agentes de letramentos pela criação de espaços para experimentação de formas diferentes de participação social com usos possíveis das diferentes linguagens SAGAH, 2018. O importante é estruturar o trabalho com língua portuguesa e literatura em todos os ciclos, de forma que os múltiplos letramentos da vida social dos sujeitos estejam presentes em sala de aula. Assim, eles identificam que o que se discute e se constrói de conhecimento na sala de aula tem relação significativa com o mundo que eles enfrentam foram dos muros da escola. Isso significa identificação dos diferentes gêneros e também oportunidade de desenvolver um ambiente que valorize a fala, a imagem, os sons em livros impressos e digitais (clássicos da literatura e novas produções), crônicas, filmes, charges, periódicos, trabalhos acadêmicos, redes sociais, revistas, blogs, etc. SAGAH, 2018. A sociedade se torna cada vez mais tecnológica. O uso das tecnologias da informação e da comunicação passam, também, a ter relação com aquisição e domínio de gêneros textuais e do discurso. Portanto, precisam ser considerados na formação de professores para uma atuação docente que pratique multiletramentos. O uso intenso das TIC e a aquisição e domínio dos vários gêneros digitais satisfazem às exigências daqueles que acreditam na funcionalidade e utilidade que qualquer tipo de letramento pode proporcionar aos indivíduos que o adquirem para agir em uma sociedade e atende aos que postulam o desenvolvimento da capacidade analítica e crítica do cidadão como objetivo maior da aquisição de qualquer tipo de letramento (XAVIER, s/d; SNYDER, 2010) (SANTOS, 2017, p. 2746-2747). Para a prática de uma formação baseada no multiletramento, é necessário compreender que leitura é um processo em que o leitor constrói significado para o 29 texto, tendo como base as suas próprias experiências e o seu conhecimento de mundo. Logo, o texto está pronto para o leitor, no sentido de que está consolidado por algum meio que possibilita o acesso a ele, mas é na construção de significado (na relação do texto com o leitor) que ele passa a ter sentidos. É essa relação que o professor deve explorar em sala de aula utilizando metodologias e práticas que valorizem as múltiplas formas de letramento para a formação de sujeitos críticos e ativos socialmente SAGAH, 2018. 30 8 O PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM NA CULTURA DIGITAL Google.com.br A cultura digital influência todos os segmentos da sociedade e traz novas concepções de ensino e aprendizagem. O modelo tradicional de ensino não atende mais às demandas geradas pela cultura digital e exige readaptações. As novas abordagens e modalidade de ensino-aprendizagem precisam atender ao dinamismo e às características da cultura digital, que é inovadora, colaborativa, etc. SAGAH, 2018. Nesse contexto, o professor também assume novos papéis diante dos desafios gerados para a educação nesse novo panorama digital, fator que exige formações inicial e continuada específicas para o cenário contemporâneo. O docente não é mais o detentor exclusivo do conhecimento, e o aluno passa a ser o principal responsável pela construção do seu conhecimento. Posto isso, apresentamos neste capítulo novas concepções de ensino-aprendizagem que permeiam a cultura digital, discutimos a formação necessária do professor para essa conjuntura, seus desafios e suas possibilidades SAGAH, 2018. 31 9 AS NOVAS CONCEPÇÕES DE ENSINO-APRENDIZAGEM QUE PERMEIAM A CULTURA DIGITAL Google.com.br A revolução tecnológica vivida nos últimos anos mudou a forma de nos relacionarmos com as tecnologias, nas relações interpessoais, gerou novos modelos de comunicação, etc. Para a educação, a cultura digital gera novos modos de ensinar e aprender Castells (2012). Várias novas perspectivas surgem para a educação, e estas vêm sendo discutidas por vários estudiosos da área e por organizações. Castells (2012) nos chama atenção para a emergência do auto comunicação, que se apoia em redes horizontais de comunicação multilateral e interativa. A escola tradicional, antes tida como principal fonte de saber, não é mais o único grande centro de ensino e aprendizagem. Amplia-se a dimensão da aprendizagem, que se estende para outros centros e setores sociais e econômicos. Uma nova concepção surge de “aprendizagem ao longo da vida”, considerando que o cenário digital dinamiza o processo de aprendizagem, ao gerar novas necessidades, habilidades e saberes Castells (2012). 32 Partindo desse panorama geral, podemos nos questionar sobre qual o futuro do aprender e ensinar na cultura digital, quais as tendências. A seguir, vamos apontar algumas ressignificações importantes a serem pontuadas que indicam novas concepções de ensino-aprendizagem para o novo século: ➢ Maior conexão entre espaços físicos e virtuais: as novas concepções de ensino e aprendizagem apontam para uma combinação entre os espaços virtuais e os espaços físicos, entre os processos presenciais e os processos de educação a distância (EaD). Assim, o atual contexto educativo deve estar aberto para as possibilidades geradas pelo desenvolvimento de suportes tecnológicos, que permitem uma gama de facilidades para a interação, colaboração, etc. A educação perde seu caráter “de cima para baixo” e, com ênfase no on-line, coloca o aluno como protagonista da aprendizagem, combatendo a hierarquização de papéis e saberes, assim como o viés reducionista de comunicação em sentido único. ➢ Muda-se o foco do ensino: com uma rede que permite a interação e a troca mútua, o ensino se torna de “todos para todos”, e não de “um para todos”, com interconexão, acesso a informações de todas as partes, em que não existe somente uma fonte de transmissão de conhecimentos – os novos meios tecnológicos incentivam que o próprio aluno seja cada vez mais autor de seu processo de ensino- aprendizagem, a partir da construção colaborativa. Há uma descentralização de certas estruturas da escola tradicional. ➢ Aprendizagem como construção coletiva: os espaços formais de ensino são combinados com outros espaços de construção coletiva e informal de conhecimento. As redes sociais são um exemplo. Os 33 conteúdos educacionais estão presentes em cenários não escolares que permitem interação. Colaboratividade, horizontalidade dos processos de ensino-aprendizagem, mudanças de papéis entre alunos e professores, etc. são algumas mudanças que marcam este novo cenário. Importante enfatizar que essas novas concepções colocam as tecnologias digitais em um patamar que ultrapassa o nível instrumental. A questão tecnológica no contexto educacional deve ultrapassar a necessidade de oferta de equipamentos nas escolas. Ligado a isso, mais importante é criar condições para a construção de comunidades de aprendizagem on-line que amplia a aprendizagem, de acordo com as possibilidades do novo ambiente. De acordo com Alonso et al. (2014, p. 166): As comunidades mudam a cultura do aprender e ensinar pelo compartilhamento. Em tempos e espaços dilatados vínculos são criados, estabelecem-se objetivos comuns e coletivamente convivemos, conectando ideias e práticas em redes. Há uma conexão, as comunidadesfazem ressignificar objetivos, conteúdos, papéis e métodos da educação escolar. Embora mais tendência do que realidade definida e delimitada é um movimento que possibilita antever processos dinâmicos e colaborativos para se pensar o desenvolvimento/construção de conhecimentos. Considerando essa nova realidade e a mudança inevitável de vários fatores no ambiente e na cultura escolar, uma pergunta importante surge: como fica a formação do docente? É o que vamos falar no próximo tópico SAGAH, 2018. 34 9.1 A formação do professor para atuar na cultura digital Google.com.br A cultura digital gera novas possibilidades no âmbito pedagógico, assim como a necessidade do desenvolvimento de novas habilidades para tirar o melhor proveito desse cenário. Quando falamos em desenvolver as habilidades necessárias para esse novo panorama, não devemos só pensar no aluno, mas também no professor, ainda mais aqueles que não são os “nativos digitais” e tiveram uma formação tradicional, que não inclui o contexto das novas mídias e do ensino- aprendizagem em ambiente on-line SAGAH, 2018. Na cultura digital, a tecnologia não se limita à condição de instrumento de trabalho, então, a formação ideal do docente deste atual contexto vai além de saber manusear softwares e aparelhos tecnológicos. Isso, inclusive, boa parte dos alunos já chega às escolas sabendo. O desafio é: como usar as novas tecnologias, no contexto de cultura digital, para favorecer processos de ensino- -aprendizagem significativos? SAGAH, 2018. O primeiro passo a ser pensado quanto à formação docente é a necessidade de reformulação de grades e currículos de licenciatura que atendam aos anseios da cultura digital. As universidades e faculdades de licenciatura necessitam incluir mais disciplinas focadas para essas temáticas, além de adaptar 35 todo o currículo visando à formação mais adequada para a era digital, unindo teoria e prática. O professor precisa ter a capacidade não somente de teorizar sobre as habilidades e abordagens pedagógicas, mas também vivenciar e experenciar SAGAH, 2018. Existem várias propostas para a formação de professores pensadas para a atual conjuntura. Consideramos a proposta da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) (WILSON et al., 2013), bastante completa para atender às demandas da cultura digital. Em um cenário em que velhas e novas mídias convergem, a construção colaborativa de conhecimento se sobrepõe ao ensino “de cima para baixo”, e o aluno é o principal protagonista de seu processo de aprendizagem. A UNESCO propõe a chamada “alfabetização midiática e informacional”, com três áreas temáticas centrais inter-relacionadas, que devem servir de base curricular para a formação docente que atenda aos desafios e às necessidades da cultura digital. São elas: ➢ O conhecimento e a compreensão das mídias e da informação para os discursos democráticos e para a participação social: os docentes necessitam ter conhecimentos sobre todos os provedores de informação, inclusive os de ambiente on-line, suas funções, características, etc. ➢ A avaliação dos textos de mídia e das fontes de informação: envolve a necessidade de formação que aponte para a compreensão dos critérios para a avaliação de conteúdos gerados em ambiente de mídia on-line e das fontes de informação. ➢ A produção e o uso das mídias e da informação: aqui a atenção é voltada para uma formação que considere os conteúdos gerados pelo usuário por meio das novas mídias e plataformas (redes sociais, interações on-line, etc.) e insira esses conteúdos nos processos 36 educacionais. Os docentes precisam ter habilidades para explorar como a informação e os textos de mídia são produzidos, o contexto social e cultural da informação e da produção, quais os usos feitos pelos cidadãos, e com quais propósitos. Ou seja, vemos que essas três grandes áreas de formação para os docentes em alfabetização midiática e informacional, calcada no contexto de cultura digital, se preocupam não somente com a compreensão do funcionamento dessas novas mídias, mas seu papel, assim como seus conteúdos devem ser utilizados criticamente em sala de aula SAGAH, 2018. Os conteúdos gerados por usuários em redes sociais, frutos de construção colaborativa de conhecimento, também devem estar associados aos processos de ensino-aprendizagem, mas essa produção coletiva e o protagonismo do aluno devem sempre ser avaliados criticamente pelo professor. Ou seja, mesmo que o aluno esteja mais autônomo e os ambientes virtuais se cruzem com a sala de aula tradicional, o professor deve ter visão crítica desses processos — sem exaltar a atuação dos alunos nem rebaixar. O ideal é que se tire proveito das novas possibilidades, mas com criticidade SAGAH, 2018. 37 9.2 Os limites e as possibilidades do processo de ensino-aprendizagem na cultura digital Além das tendências colocadas no primeiro tópico, é importante pensar nos percalços, nos limites e nas possibilidades pedagógicas que daí surgem. A cultura digital é muito favorável para um contexto educacional baseado na colaboração, na horizontalidade, etc., como bem vimos. No entanto, algumas limitações precisam ser ponderadas, assim como o papel do docente em cada uma delas. A seguir, algumas delas serão discutidas SAGAH, 2018. Em relação ao aumento exponencial dos fluxos de informação e a falta de criticidade, é notável que, apesar de a inteligência coletiva ser um processo que contribui para uma grande rede de conhecimento e “bagagem” de conteúdo, é necessário saber lidar de forma ponderada e crítica com o grande volume de informações. Além de desenvolver habilidades de criticidade nos alunos sobre qual fonte de informação utilizar, como chegar a fontes de informações confiáveis e como comparar e organizar conteúdos em rede, o docente precisa chamar a atenção para aspectos éticos, de direitos autorais, plágio, etc. As interações e a troca de informações nesse fluxo em rede devem se atentar à diversidade de opiniões e à diversidade cultural, dentre outros SAGAH, 2018. A respeito da lacuna de participação, Jenkins et al. (2006) alertam para o fato de que o acesso às tecnologias e culturas digitais não é o mesmo em todas as regiões de um mesmo país, assim como nos vários cantos do mundo. Existe também um acesso desigual às oportunidades, às experiências, às habilidades e aos conhecimentos que vão preparar os jovens para a plena participação na cultura digital SAGAH, 2018. Fatores econômicos, sociais e até políticos influenciam no grau de participação. Os professores e as escolas devem estar atentos às desigualdades de acesso, considerando alunos mais ou menos inseridos nessa cultura do digital, e procurar superar essas lacunas promovendo atividades cooperativas, em que uns aprendem com os outros, considerando esses diferentes níveis de acesso SAGAH, 2018. 38 Jenkins et al. (2006) pondera sobre o culto às habilidades das novas gerações: o fato de existir uma tendência em cultuar as habilidades da geração chamada millenium (nativos digitais), sem supervisão e adequação. Ou seja, o papel do professor e das escolas deve ser crítico sobre o uso que se faz das novas tecnologias. Alguns defensores da cultura digital agem como se os jovens pudessem simplesmente adquirir habilidades por conta própria, sem intervenção e mediação. Crianças e jovens sabem mais sobre esses novos ambientes de mídia do que a maioria dos pais e professores — de fato, não precisamos protegê-los dizendo que são vítimas desses sistemas, mas é preciso promover uma apropriação crítica e reflexiva. Sobre a resistência da cultura escolar às novas mídias, é evidente que a inserção das novas mídias e tecnologias no ambiente escolar possibilitou uma ampliação dos espaços de aprendizagem.No entanto, ainda há uma barreira a ser vencida para que a escola não se limite apenas a usar as tecnologias de forma instrumental, sem o desenvolvimento de novas abordagens e práticas. A cultura escolar engessada, assim como a formação ultrapassada do professor, dos gestores educacionais, etc. são limitações para a promoção de processos de ensino-aprendizagem mais voltados para o ambiente de cultura digital. Não é tão fácil e rápido para que as instituições escolares mudem o formato de ensinar e aprender, considerando que a escola já não é mais a única instituição a repassar ou socializar conhecimentos. As salas de aula tradicionais já não combinam mais com a dinâmica dos espaços interativos on-line, mas persistem. Os alunos já não aprendem somente com o professor e estando somente na escola, mas em diferentes locais, em diferentes tempos, interagindo com diferentes pessoas. Assim, se faz importante reformular vários aspectos ligados à cultura escolar que ainda persistem e não combinam mais com o panorama da era digital. O docente precisa também revisar práticas inadequadas que não colaboram mais com essa conjuntura SAGAH, 2018. 39 10 INOVAÇÕES METODOLÓGICAS NA CULTURA DIGITAL Google.com.br Oliani et al. (2015) apontam inovações metodológicas para o ensino- aprendizagem na cultura digital. Vamos conhecer algumas dessas abordagens: Blended learning é conhecido como “abordagem híbrida”, ou educação semipresencial, e consiste em cursos que combinem modalidades de EaD e presencial tradicional. A utilização simultânea desses ambientes — presencial e virtual — objetiva explorar as potencialidades de cada modalidade. O doente precisa 40 organizar e saber como combinar essas duas modalidades de ensino, pensando nos conteúdos e nas atividades ideais para esse tipo de abordagem. Um exemplo eficaz do sistema blended learning ocorreu na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Durante o oferecimento de um programa voltado para a formação de jovens, constatou-se que a metade dos alunos matriculados não concluía o curso. A combinação de momentos presenciais e virtuais, com interação e comunicação, foi favorável à adesão dos alunos, que reconhecem o uso benéfico da tecnologia para seu aprendizado. No entanto, conforme apontam Sharpe et al. (2006), nem todos os alunos substituiriam todas as aulas presenciais com a utilização das tecnologias digitais. Active learning refere-se à metodologia de aprendizagem ativa, ou active learning, e prioriza a autonomia do aluno e o coloca como principal protagonista para o desenvolvimento de sua aprendizagem. O professor media todo o processo, atuando mais como um incentivador e mediador, deixando o papel principal para o aluno na construção do saber. Nesta perspectiva, e de acordo com Olani et al. (2015), os alunos são instigados a desenvolver habilidades ligadas a solução de problemas, criticidade, capacidade de síntese, autoavaliação, etc. Essa metodologia exige maior envolvimento do aluno, que precisa assumir uma postura bastante ativa para conseguir dar andamento ao curso. Diferente do modelo de aula tradicional, o aluno precisa aprender a buscar informações, desenvolver habilidades e competências por meio de atividades práticas e colaborativas. Este modelo pedagógico demanda adaptações no ambiente físico da sala de aula – que devem contar com a presença e a utilização de tecnologias digitais com foco educacional. Esses ambientes devem facilitar a construção do conhecimento proposta pelo active learning. ão exemplos de ambientes educacionais baseados nessa metodologia a Universidade de Harvard e o Massachusetts Institute of Technology (MIT), que apresentam espaços equipados com mesas de formato circular para os alunos, propiciando as atividades de caráter prático, baseadas no processo de colaboração entre aluno-professor e aluno-aluno. Essas mesas são equipadas com 41 microcomputadores conectados à internet, multisserviços para o acesso aos arquivos midiáticos, entre outros. A proposta é que o aluno seja protagonista de sua aprendizagem, interagindo com outras pessoas e tecnologias. Veja a seguir, na Figura, dois exemplos de layouts desses tipos de abordagens. Fonte: Oliani et al. (2015, p. 11). Flipped classroom é uma metodologia também conhecida como “sala de aula invertida”. Ela se baseia na inversão do espaço de aprendizagem em grupo para a aprendizagem individual. Para isso, faz uso das tecnologias digitais de informação e comunicação (OLIANI et al., 2015). O tempo maior de aula presencial é dedicado às atividades colaborativas. O professor não é mais o principal ator nesse processo, ele age como mediador, problematizador, instigador, etc., e oportuniza o acesso às informações, incentivando os alunos a se apropriarem do conhecimento (OLIANI et al., 2015). 42 A metodologia de sala de aula invertida “coloca” os conteúdos teóricos de uma aula tradicional e expositiva em formatos digitais (videoaulas, podcasts, e- books, etc.), considerados como recursos auxiliares. Nessa abordagem, geralmente o aluno deve ter acesso a esses conteúdos e estudá-los antes dos momentos presenciais nas salas de aulas. “Quando os alunos se encontram nas salas de aulas, esses ambientes tornam-se locais para o desenvolvimento de atividades práticas, para discussões dos temas que foram estudados” (OLIANI et al., 2015, p. 13). Importante ressaltar que essas abordagens estão relacionadas e podem ser combinadas. Tais metodologias atendem a características emergentes da cultura digital: a interatividade, a autoaprendizagem, a colaboração, a produção autoral de conteúdo, entre outras. 43 11 REFERÊNCIAS ALONSO, K. M. et al. Aprender e ensinar em tempos de Cultura Digital. Em Rede: Revista de Educação A Distância, Cuiabá, v. 1, n. 1, p.152-168, jul. 2014. Disponível em: Acesso em: 25 dez. 2018. ANACLETO, Ú. C.; MIRANDA, J. D. O. Multiletramentos e práticas de leitura, escrita e oralidade no ensino de língua portuguesa na educação básica. 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