Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Reclamação 1. Introdução Segundo o artigo 102, I, l, da CRFB/88, cabe ao Supremo julgar a reclamação para preservar sua competência e garantia da autoridade de suas decisões. Recebeu status constitucional diferenciado com a Constituição de 1988, embora já existisse no regimento interno dos Tribunais antes. Sua natureza jurídica ainda é controvertida. A reclamação é repressiva, nunca preventiva, recaindo sobre decisão que já foi proferida; também tem natureza documental, havendo necessidade de prova pré-constituída para que o órgão receba a ação. Serve para a uniformização da jurisprudência dos Tribunais. É cabível perante qualquer Tribunal de 2ª instância, Tribunais Superiores e o próprio STF. As decisões proferidas em reclamação não têm eficácia erga omnes. 2. Base Legal Está disposta nos artigos 102, I, l e 103-A, §3º da CRFB, entre os artigos 988 a 993 do CPC e, no caso violação a súmula vinculante, também se utiliza a Lei 11.417/2006. De acordo com o Código de Processo Civil, a Reclamação tem natureza jurídica de manifestação do direito de ação e, no caso de ser proposta frente ao STJ ou STF, ação constitucional. Destaque-se que a reclamação não é recurso, pois este tem como objetivo a invalidação ou reforma da decisão e, em nome do princípio da taxatividade só é recurso a ação definida como tal, sendo que a reclamação não está disposta como tal no rol do artigo 994 do CPC. Ademais, a reclamação não se destina a examinar o ato impugnado com vistas a repudiá-lo por alguma invalidade processual-formal ou corrigi-lo por erros em face da lei ou da jurisprudência. Não há prazo para apresentação da reclamação, havendo somente o limite específico para sua apresentação até o trânsito em julgado da decisão. 3. Hipóteses de Cabimento na Constituição A reclamação pode ser ajuizada, segundo o art. 102, I, l da CRFB/88, para preservar a competência do Supremo Tribunal Federal ou para garantir a autoridade de suas decisões. As competências do Supremo originárias e recursais estão todas previstas na Constituição, sendo– – que estas não podem ser ampliadas por meio da legislação infraconstitucional nem usurpadas por outros órgãos. A grande maioria das competências originárias estão contidas no art. 102 da CRFB, enquanto as recursais são extraídas dos incisos II e III do mesmo artigo, sendo estas o recurso ordinário constitucional e o recurso extraordinário, respectivamente. Ou seja, pode-se ajuizar reclamação ao STF quando alguma das ações de sua competência é julgada por outro órgão, levando à cassação da decisão e avocação do caso para julgamento pelo Supremo. A reclamação para garantir a autoridade da decisão do STF ocorre referente ao controle difuso e concentrado. Todas as decisões do Supremo no controle concentrado geram efeitos erga omnes e vinculantes, portanto, se descumprida, cabe reclamação. Já no controle difuso a regra é que os efeitos sejam inter partes, sendo assim menos comum a interposição de reclamação nesse caso, embora ainda seja possível em face de descumprimento de determinação do STF. Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I processar e julgar, originariamente:– l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; Nunca foi cobrada Com o advento da EC 45/2004, surgiu a súmula vinculante e, com ela, a possibilidade de ajuizar reclamação para garantir o seu cumprimento, conforme disposto no art. 103-A, §3º da CRFB/88, Art. 988 do CPC e Art. 7º da Lei 11.417/06. Frise-se que, no caso da decisão administrativa que descumprir a súmula vinculante, só cabe reclamação após o esgotamento da instância administrativa. Também é cabível a reclamação perante o STJ para preservar a sua competência e garantir a autoridade de suas decisões, segundo o art. 105, I, f, da CRFB/88. Assim como o Supremo, o STJ tem competências originárias (Art. 105, I) e recursais (Art. 105, II e III – Recurso ordinário e recurso especial). 4. Hipóteses de Cabimento no CPC Estão contidas no artigo 988 do CPC, sendo cabível a reclamação para preservar a competência e garantir a autoridade de qualquer tribunal, sendo um grande instrumento de uniformização da jurisprudência. Também pode ser ajuizada para garantir a observância de enunciado de súmula vinculante. Os institutos de uniformização de jurisprudência dos Tribunais estão no inciso IV, cabendo a reclamação se algum órgão do Tribunal desrespeitar a decisão definida em acórdão. O incidente de resolução de demandas repetitivas está disposto no artigo 976 do CPC e é cabível quando houver vários processos contendo controvérsia sobre a mesma questão de direito e risco de ofensa à isonomia e segurança jurídicas. O incidente de assunção de competência, definido no art. 947 do CPC, é admitido quando o julgamento envolver relevante questão de direito, com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos processos. Se o órgão do Tribunal não cumprir esse acórdão, caberá reclamação. 5. Legitimidade Ativa e Competência O art. 988 do CPC estabelece que a reclamação será proposta pela parte interessada dentro daquele processo (Autor, réu, recorrente, recorrido), sendo que a decisão objeto da reclamação é uma decisão judicial sem trânsito em julgado ou uma decisão administrativa. A reclamação é endereçada ao Presidente do Tribunal que teve a decisão ou competência desrespeitada. Reclamante/Requerente vs Decisão proferida pelo Tribunal ou órgão administrativo Art. 103-A. § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso. Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para: I preservar a competência do tribunal;– II garantir a autoridade das decisões do tribunal;– III garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão do Supremo Tribunal Federal – em controle concentrado de constitucionalidade; IV garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução de demandas – repetitivas ou de incidente de assunção de competência; 6. Prazo Não tem prazo para apresentação da reclamação, mas a súmula 734 do STF estabelece que não cabe reclamação de decisão judicial que já tenha transitado em julgado, disposição reafirmada pelo art. 988, §5º, I, do CPC. Nesse caso, a própria segurança jurídica estaria em risco. 7. Tutela de Urgência É cabível em sede de reclamação segundo o art. 989, II do CPC, levando à suspensão do processo ou ato impugnado para evitar dano irreparável, e tem natureza cautelar. Segundo o art. 992 do CPC, o pedido final da reclamação é a cassação da decisão exorbitante do seu julgado, que violou sua competência ou súmula vinculante. Além disso, o STF pode determinar que nova decisão seja proferida. 8. Decisões do STF Não cabe reclamação contra ato futuro indeterminado, pois não tem natureza preventiva. É impossível haver ofensa à autoridade da súmula vinculante se ela não existia a época da decisão. Não cabe reclamação constitucional para questionar súmula destituída de efeito vinculante. Somente as decisões que concedem as liminares em ADIs e ADCs têm efeito vinculante As denegatórias não, pois o efeito ambivalente só se aplica às decisões definitivas→ Efeito ambivalente: Se a ADI é improcedente entende-se que o ato é constitucional→ Impossibilidade de utilização de reclamação quando há recurso apropriado e cabível contra a decisão reclamada É inepta a petição inicial de reclamação que não identifica comprecisão quais seriam os atos contrários à autoridade do STF, nem que indique analiticamente como os atos reclamados poderiam violar a autoridade dos precedentes invocados A reclamação não se presta a antecipar julgados, a atalhar julgamentos, a fazer sucumbir decisões sem que se atenha à legislação processual específica qualquer discussão ou litígio a ser solucionado juridicamente. A inicial deve vir acompanhada de documento essencial, no que indispensável à compreensão da controvérsia. Não é cabível a condenação em custas e honorários advocatícios, salvo comprovada má-fé. Também é uma peça de prova pré-constituída. 9. Fundamentos Desrespeito de decisão do controle concentrado: Lei 9.868/99 (ADI, ADC, ADO) Lei 9.882/99 (ADPF) Base da violação é súmula vinculante: Lei 11.417/2006 Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para: § 5º É inadmissível a reclamação: I proposta após o trânsito em julgado da decisão reclamada;– Súmula 734 do STF: Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal.
Compartilhar