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SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL (SUA) Sangramento uterino normal: descamação cíclica do endométrio, em resposta à queda de estrogênio e progesterona, devido ao mecanismo de autodigestão enzimática da camada funcional do endométrio e de seu plexo capilar. Manifestação da função ovariana na ausência de gravidez. “É a expressão do funcionamento integrado do eixo hipotálamo - hipófise e seus órgãos efetores” · Ciclo de 21-35 dias · Duração: 2-7 dias · Perda sanguínea de 20-80mL Estrogênio Progesterona - Secretado pelos ovários, a partir da aromatização de androgênios; - Desenvolvimento do antro e maturação do folículo dominante; - Nível máximo precedendo a ovulação; - Indução receptores para FSH; - Proliferação e secreção das células foliculares; - Indução receptores para LH na granulosa; - Feedback para LH e FSH - Endométrio com padrão proliferativo - Secretada pelos ovários, nos folículos luteinizados; - Níveis começam a aumentar imediatamente antes da ovulação; - Pico ocorre 5 a 7 dias após ovulação; - Estimulam liberação de enzimas proteolíticas (ovulação); - Induzem migração de vasos sangüíneos para o interior do folículo; - Estimulam secreção de prostaglandinas no folículo; - Endométrio com padrão secretor Sangramento uterino anormal: perda sanguínea que não segue a sequência de eventos hormonais do ciclo. Geralmente apresenta repercussões físicas, emocionais, sociais e materiais na qualidade de vida da mulher que podem ocorrer isoladamente ou em combinação com outros sintomas. “Sangramento excessivo em quantidade, duração ou freqüência. ” · Pode ou não estar associado ao ciclo menstrual · Características: ausência de ciclicidade, sangramento volumoso · É considerado um sintoma e não um diagnóstico deve-se procurar a causa para orientar tto EPIDEMIOLOGIA · Afeta até 40% de mulheres no mundo · Causa mais frequente de consulta ginecológica · 2/3 das causas de histerectomia · Impacto negativo importante na qualidade de vida e altos custos econômicos diretos e indiretos. · Condição desafiadora saúde no que se refere ao diagnóstico e tratamento · Mais comuns nos extremos de vida reprodutiva (ciclos anovulatórios) · Prevalência varia com a forma de avaliação (objetiva x subjetiva) · Em caso de hemorragia disfuncional, 80% está associada à anovulação ETIOLOGIA/FISIOPATOLOGIA Fisiopatologia · Alteração na vasculogênese endometrial · Aumento da proliferação de céls endometriais, céls musculares ao redor de arteríolas espiraladas · Alteração na síntese de prostanoides vasodilatadores (prostaglandinas e prostaciclinas) · Redução do VEGF e endotelina Etiologia · Sangramento uterino disfuncional: “Perda sangüínea oriunda da cavidade uterina e de origem endometrial, que ocorre na ausência de doenças orgânicas, atribuída às alterações nos mecanismos neuroendócrinos que controlam a menstruação”. Corresponde a 50% das causas de SUA. Pode ser ovulatório ou anovulatório. Diagnóstico de exclusão (causas orgânicas ou anatômicas). Mais comum nos extremos de vida reprodutiva. · Alterações hormonais: anovulação; imaturidade hipotalâmica; insuficiência lútea; estresse · Queda súbita/privação absoluta de estrogênio - ooforectomia bilateral, interrupção de estrogenioterapia, irradiação de folículos maduros · Privação relativa de estrogênio ou disruptura estrogênica: sangramento irregular (tipo escape), ciclos anovulatórios. Nos ciclos anovulatórios ocorre queda transitória dos níveis de estrogênios (regressão folicular recente) ou constante estímulo estrogênico não estabilizado pela progesterona. · Níveis elevados de estrogênio mantidos por longos períodos sem oposição de progesterona. (ex. ciclos anovulatórios – sangramento por fragilidade endometrial) – anovulação é a principal causa em adolescentes · Queda súbita nos níveis de progesterona após estimulação prévia por estrogênio – interrupção de terapia · Níveis de progesterona proporcionalmente maiores que os de estrogênio (ex. contracepção apenas com progestágenos) – sangramentos irregulares e intermitentes (atrofia endometrial) · Complicações da gravidez: abortamento; doença trofoblástica; gravidez ectópica – principal causa em mulheres 20-40 anos · Alterações anatômicas: miomas submucosos; pólipos endometriais/cervicais; adenomiose · Doenças sistêmicas: hipo/hipertireoidismo; insuficiência renal; cirrose hepática · Coagulopatias: doença de von Willebrand; deficiência de protrombina; disfunção plaquetária; deficiência de fatores V, VIII e IX – 2ª causa em adolescentes · Medicamentos: anticoagulantes · Neoplasias: hiperplasia endometrial; ca de endométrio/colo; tumor ovariano secretor de estrógeno – devem ser sempre pesquisadas em mulheres > 35 anos · Infecções: cervicite; endometrite · Outros: traumas; corpo estranho; DIU ESTRUTURAIS (PALM) NÃO ESTRUTURAIS (COEIN) Pólipos Adenomiose Leiomiomas Malignidade e hiperplasia Coagulopatia Ovulação disfuncional Endometrial Iatrogênica Não especificada ORGÂNICAS DISFUNCIONAIS Gravidez Doenças sistêmicas Doenças pélvicas Traumas Uso de medicamentos Diagnóstico de exclusão: alteração de mecanismos endócrinos INFÂNCIA ADOLESCÊNCIA ADULTOS PERIMENOPAUSA PÓS MENOPAUSA Corpo estranho Trauma/abuso Irritação vulvar Infecção Prolapso uretral Sarcoma botrioide Tumor ovariano Puberdade precoce Anovulação (imaturidade do eixo) Anormalidades hematológicas HUD Gravidez Abortamento ectópico/mola Hormônios exógenos Afecções sistêmicas (tireoide, hep, SOP, hiperprolactinemia) Infecções Causas anatômicas Gravidez HUD Causas anatômicas Afecções sistêmicas Discrasia sanguínea Medicamentos, hormônios Infecções Neoplasias (>35) Anovulação HUD Causas anatômicas Neoplasia Atrofia endometrial (sem TRH) Neoplasia (endométrio) TRH Trauma Causas anatômicas Hiperplasia endometrial DIAGNÓSTICO Anamnese: o diagnóstico pode ser estabelecido pelas seguintes questões-chave: 1) De onde o sg vem? (Doenças da uretra (uretrites), bexiga (ca ou ITU) vagina, vulva, e intestino (doenças intestinais inflamatórias ou hemorroidas) podem causar sg e serem confundidas com sangramento uterino). 2) Qual é a idade da mulher? (ver qual patologia é mais comum por idade) 3) A paciente é sexualmente ativa? Pode estar grávida? 4) Como é o seu ciclo menstrual normal? Existem sinais de ovulação? mudança no padrão menstrual é a informação mais importante. Os sangramentos anormais cíclicos ocorrem a favor de sangramento disfuncional, ao passo que os sangramentos acíclicos são mais sugestivos de patologia orgânica. 5) Qual é a natureza do sg anormal (frequência, duração, volume, relação com coito)? Quando ele ocorre? 6) Existem sintomas associados? 7) A paciente está usando medicações ou tem doenças associadas? 8) Existe história pessoal ou familiar de desordem de sangramento? Exame físico · Confirmará se o sangramento é uterino. · Objetiva afastar causas orgânicas de sangramento (gravidez e suas complicações, neoplasias e processos infecciosos, grandes miomas e pólipos, etc). · Sua normalidade não exclui completamente causa orgânica (adenomiose, pequenos miomas e pólipos endometriais podem não ser identificados). · Observar: obesidade, magreza excessiva, hirsutismo, hipotireoidismo, Cushing Exames complementares: · BetaHCG: solicitar em todas as pctes em idade reprodutiva, mesmo que negue atividade sexual · Hemograma: avaliar anemia · Coagulograma: avaliar coagulopatia · Função tireoidiana (TSH, T4 livre): se a pcte manifestar sinias/sintomas de disfunção tireoideana · USTV: avalia o útero (forma/tamanho) e alterações anatômicas (forma/tamanho/localização). Exame de 1ª linha para diagnóstico etiológico de SUA (se pct não tiver iniciado vida sexual ou não tolerar poder ser realizado US pélvica transabdominal). · SUA na pós menopausa: mensuração e aspecto do endométrio · Espessura de até 4/5 mm nas mulheres sem TRH · Espessura de até 8 mm nas mulheres com TRH · Se espessado ou paciente com fatores de risco para Ca de endométrio (anovulação crônica, obesidade, nuliparidade, idade > 35 anos, DM, uso de tamoxifeno) é obrigatório realizarhisteroscopia e biópsia endometrial ou curetagem para estudo anatomopatológico. · RNM: elevada acurácia para adenomiose e mais preciso para detecção de miomas. Alto custo · Histeroscopia: Padrão ouro para investigação da cavidade uterina/ endométrio e permite biópsia dirigida. Pode ser também terapêutico. Alta E e S para investigação endometrial. Útil para diagnóstico diferencial de miomas submucosos. Alto custo e invasivo. · Biópsia endometrial: Padrão ouro para diagnóstico de afecções endometriais. Ideal é a dirigida por histeroscopia. Outras formas são às cegas (desvantagem de não fornecer amostragem de todo endométrio e podem deixar passar lesões focais). Mostra o aspecto endometrial, hiperplasia, adenocarcinoma. · Curetagem semiótica: às cegas; necessita de sedação; baixo custo · AMIU: acurácia de 98%; necessita de sedação · Biópsia com Pipelle de Cornier ou cureta de Novak: simples, execução ambulatorial; não requer dilatação do colo; alta acurácia para detecção de ca endometrial Mulheres < 35 anos: história + exame clínico; citologia oncótica; exclusão de gravidez; USTV Mulheres > 35 anos: história + exame clínico; citologia oncótica; exclusão de gravidez; USTV; biópsia endometrial. Mulheres pós-menopausa: história + exame clínico; citologia oncótica; USTV; biópsia endometrial. TRATAMENTO · Objetivo: diminuir as repercussões do SUA - redução da perda de sangue e melhora da qualidade de vida · Diagnóstico e tratamento de condições subjacentes que possam interferir no sangramento menstrual como o hipotireoidismo e anemia · Escolha da opção terapêutica: · Efetividade no alívio dos sintomas · Tolerância aos efeitos colaterais · Presença de condições clínicas e/ou comorbidades subjacentes · Risco de complicações · Duração do tratamento · Compatibilidade com fertilidade e/ou concepção futura · Aceitabilidade do método pela paciente. Medicamentoso · 1ª escolha · Eficaz em 50% das pctes · Necessita de longos períodos de uso · Deve ser considerado nas pacientes sem anormalidades histológicas ou estruturais significativas. (sangramento disfuncional, miomas < 3cm, adenomiose) · A classificação PALM-COEIN deve ser utilizada para excluir causas estruturais de SUA. · Considerar: Necessidade de contracepção, comorbidades, dismenorreia associada, corrigir repercussão hemodinâmico e hematimétrica. · A escolha entre tratamento hormonal ou não depende de fatores individuais, mas em casos de o sangramento irregular ou prolongado, o uso de tratamento hormonal regula o ciclo reduzindo a probabilidade de sangramento não programado ou aumentado, além de proteger o endométrio da hiperplasia/câncer. As opções neste caso são os progestágenos, o sistema intrauterino de levonorgestrel. · Tto medicamentoso é seguro e eficaz em adolescentes · Hemorragia aguda: · Estabilização da pcte – reposição hidroeletrolítica · Estrogênio em altas doses – reestruturar o endométrio e interromper/diminuir o sangramento - Estrogênios conjugados 2,5mg VO 6/6h até parar o sangramento - Progestagênio para proteção endometrial · AMIU ou curetagem – ausência de resposta com estrogênio 1. Não Hormonais AINES - Inibem a produção de PGs endometriais, alterando relação entre prostaciclina e tromboxano – redução de 30-40% no sangramento. - Normalmente usa-se associado a um ACO, principalmente se dismenorreia. - Não há evidencia para uso em pct com mioma uterino Ácido mefenâmico 500mg VO 8/8h Ibuprofeno 400mg 12/12h Ácido tranexâmico (antifribrinolítico) - Mais efetivo tto não hormonal - Análogo sintético da lisina que interfere na transformação de fibrinogênio em fibrina, aumentando a capacidade de coagulação. - Usar do início do ciclo até 5 dias - EA: cefaleia, lombalgia - Considerada a primeira opção terapêutica para SUA – eficácia e segurança, mas possui alto custo. - Não aumenta incidência de trombose. - Uso temporário antes de tto cirúrgico. 2. Hormonais Progestagênios isolados - Pctes anovulatórias, com ciclos irregulares AMP 10mg VO 12 dias/mês por 6 meses - Pctes com hemorragia disfuncional AMP de depósito, implante Estrogênio - Pctes com atrofia endometrial, spotting (pós menopausa, usuárias de implante de LNG ou depósito de AMP, adolescentes com sangramento prolongado) estrogênio conjugado 1,25mg ou estradiol 2mg 7-10 dias ACO -Quase sempre é a primeira opção. -Muito efetivo na diminuição do sangramento menstrual -Pode ser usado em SUA de origem estrutural, disfuncional ou por coagulopatias -Reduz o risco de ca de ovário e endométrio, promove contracepção -CI: fumantes com mais de 35 anos, HP de tromboembolismo, ca de endométrio ou mama -Ex. valerato de estradiol + dienogeste eficaz para pctes sem doença orgânica associada -No período de sangramento prolongado podem ser usados de 12/12h ou de 8/8h durante 7 dias. SIU-LNG -Significativa redução na perda sanguínea – 71 a 96% -Amenorreia em 1 ano de uso em 50% -Mais efetivo que progestogênios para sangramento menstrual aumentado. -Eficácia superior aos inibidores de PGs e antifibrinolíticos -Alto grau de satisfação e continuidade -Eficácia se compara a histerctomia Danazol -Androgênio sintético com atividade anti-estrogênica e anti-progestagênica. -Bloqueia função ovariana (anovulatório por bloqueio de gonadotrofinas) e provoca atrofia endometrial -Mais efetivo que AINES, progestagênicos e ACO. -Alta ocorrência de efeitos colaterais androgênicos: ganho de peso, acne, voz grave. -Indicado para pcts que estão aguardando cirurgia. -Uso por mais de seis meses associado à osteoporose e osteopenia. Análogos de GnRH -Supressão ovariana hipoestrogenismo, atrofia endometrial e redução do volume uterino após 3/6 meses de tto. -Efeitos colaterais: menopausa medicamentosa (fogachos, ressecamento vaginal, osteopenia/osteoporose – cessam com interrupção) limitam seu uso ao máximo de 6 meses. -Uso temporário antes de tto cirúrgico em pcts anêmicas com úteros volumosos (↑ probabilidade de cirurgia via vaginal) Tratamento cirúrgico Em caso de contraindicação ou falha ao tto farmacológico Ablação endometrial -Terapia minimamente invasiva -Indicada em caso de falência do tto medicamentoso em mulheres sem desejo de futuro reprodutivo que não desejam ou não podem ser submetidas à histectomia. -Baixos índices de complicações (mas pode ocorrer perfuração uterina, sobrecarga hídrica, edema cerebral), menor custo. -Altos índices de recorrência do sangramento, procedimento não deve ser repetido. -Sempre realizar histeroscopia diagnóstica com biópsia antes do procedimento lesões hiperplásicas ou neoplásicas contraindicam procedimento. Embolização de aa uterinas -Curta permanência hospitalar e retorno mais rápido às atividades. - Tto não invasivo para miomas - Indicação: miomas volumosos, múltiplos, não pediculados e degenerados em mulheres que desejam preservar o útero. Histerectomia - Definitivo - Pacientes com prole definida - Altos riscos de complicações, mais tempo para recuperação. - Mais eficaz que tto medicamentoso em relação à redução do sangramento ao final de 1 ano
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