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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE EDUCAÇÃO Curso de Graduação de Licenciatura em Pedagogia a Distância CEDERJ LUANNA MOTTONI ROCHA A obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana de acordo com a Lei, 10.639/03 na Educação Básica, que altera a Lei, 9.394 de 20 de dezembro de 1996 RIO DE JANEIRO JUNHO-2016 LUANNA MOTTONI ROCHA A obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana de acordo com a Lei, 10.639/03 na Educação Básica, que altera a Lei, 9.394 de 20 de dezembro de 1996 Monografia apresentada à FACULDADE DE EDUCAÇÃO da UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO como requisito parcial à obtenção do GRAU DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA, na modalidade EAD. Prof. Orientador Elielma Machado RIO DE JANEIRO JUNHO – 2016 FOLHA DE APROVAÇÃO UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE EDUCAÇÃO Curso de Graduação em Licenciatura em Pedagogia a Distância CEDERJ Elaborado por: LUANNA MOTTONI ROCHA A obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana de acordo com a Lei, 10.639/03 na Educação Básica, que altera a Lei, 9.394 de 20 de dezembro de 1996 Monografia apresentada em: ____ / ____ / _____ Banca Examinadora: ______________________________________________ Elielma Machado – Prof. Orientador ______________________________________________ ______________________________________________ RIO DE JANEIRO JUNHO – 2016 Dedico este trabalho à minha mãe Ione Mottoni, meu pai Edmilson de Almeida e a minha irmã Suélly Mottoni que sempre me apoiaram, incentivaram a estudar e me formar que é um sonho e ao meu esposo, Pedro pelo apoio que vem me dando para que eu possa concluir a faculdade AGRADECIMENTOS A Deus em primeiro lugar, que nos conhece e sabe de todos os nossos sonhos e me deu forças para ultrapassar todos os obstáculos. Aos meus pais, Ione e Edmilson que desde pequena sempre me incentivaram a estudar, me orientaram e me apoiaram. A minha irmã, Suélly Mottoni, que passou por muitos momentos bons e ruins comigo. Aos Diretores do Colégio Alpen, Aline Perozo e Fábio Perozo, que estiveram comigo em momentos importantes e me apoiaram muito. A todos que estiveram ao meu lado, principalmente minha amiga Alzira dos Santos que sempre me ajudou, apoiou, incentivou em vários momentos. ROCHA, Luanna Mottoni; A obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana de acordo com a Lei, 10.639/03 na Educação Básica, que altera a Lei, 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Trabalho para o Curso de Graduação em Licenciatura em Pedagogia a Distância CEDERJ na Faculdade de Educação - Universidade do Estado do Rio de Janeiro RESUMO Trata-se de um estudo teórico que visa compreender a implantação da Lei 10.639/03 na educação básica nas escolas públicas. Analisando as obras de diversos teóricos que contribuíram com seus estudos, obras e pesquisas sobre as conquistas, sobre o tema da população declarada como sendo negra, destacando dilemas e a emergência de direitos. Para complementar a análise, foi realizada uma pesquisa em três Escolas Municipais com professores que fazem parte da realidade do dia a dia dos alunos e como essa relação ocorre na prática. E, ainda este trabalho questiona as dificuldades população negra e afrodescendentes com o preconceito que ainda ocorre nos dias de hoje ampliando assim, o debate e contribuindo com a para a formação da sociedade brasileira. Palavras-chaves: Leis; Preconceito; Educação Básica ROCHA, Luanna Mottoni; A obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana de acordo com a Lei, 10.639/03 na Educação Básica, que altera a Lei, 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Trabalho para o Curso de Graduação em Licenciatura em Pedagogia a Distância CEDERJ na Faculdade de Educação - Universidade do Estado do Rio de Janeiro ABSTRACT This is a theoretical study to understand the implementation of Law 10.639 / 03 in basic education in public schools. Analyzing the works of various theorists who contributed their studies, work and research on the achievements on the subject of population declared to be black, highlighting dilemmas and emergency duties. To complement the analysis, a survey was conducted in the Municipal School teacher with this network. And yet this work questions the difficulties black population with prejudice, thus broadening the debate and contributing to society for the formation of Brazilian society. Keywords: Laws; Preconception; Basic Education LISTA DE TABELAS TABELA 1: Matéria Lecionada ........................................................................ 39 TABELA 2: Ano Lecionado ............................................................................. 40 TABELA 3: Tipo de Escola ............................................................................. 40 TABELA 4: Cultura trabalhada na Escola ...................................................... 40 TABELA 5: Religião trabalhada na Escola ..................................................... 40 TABELA 6: Capacitação ................................................................................. 40 TABELA 7: Resistência ao tema .................................................................... 40 TABELA 8: Como o tema é trabalhado .......................................................... 41 TABELA 9: Como o tema é apresentado ....................................................... 41 SUMÁRIO INTRODUÇÃO …………………………………………………………………..... 9 1. A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA E A MISCIGENAÇÃO.... 12 1.1 A Sociedade Brasileira e a presença da diversidade................................. 12 1.2 O Conceito e visão do multiculturalismo..................................................... 16 2. O MULTICULTURALISMO NO BRASIL E A QUESTÃO DO CURRÍCULO NAS ESCOLAS: A CRÍTICA DO MONOCULTURALISMO NO CURRÍCULO ESCOLAR........................................................................................................ 19 2.1 Currículo monocultural versus multicultural......................................... 19 2.2 A educação e sua relação com o currículo monocultural dominante.23 3. O ENSINO DE HISTÓRIA NO AMBIENTE ESCOLAR E A CULTURA AFRO-BRASILEIRA DE ACORDO COM A LEI 10.639/03............................. 25 3.1 Diretrizes da Lei n° 10.639/03 e Novas Diretrizes no Ensino de História.............................................................................................................. 25 3.2. A postura do Educador na sala de aula: Consciência e Criticidade ......... 30 4. ESTUDO DE CASOS................................................................................... 39 4.1 Entrevistas com as docentes...................................................................... 39 CONCLUSÃO................................................................................................... 42 REFERÊNCIAS................................................................................................ 44 ANEXO 1.......................................................................................................... 47 ANEXO 2.......................................................................................................... 48 9 INTRODUÇÃO A tendência de mudanças no currículomonocultural nas escolas se justifica pela concepção de um currículo eurocêntrico que se apresenta com uma tendência de superioridade de determinado grupo. Nesse contexto, a década de 1990 marcou uma luta constante no contexto brasileiro e latino- americano para a superação desse modelo e em seu lugar abrir espaço para um currículo multicultural que possa trazer a realidade da formação do povo brasileiro. Os debates sobre esse contexto, que teve como foco o multiculturalismo a partir do currículo oficial nas escolas se iniciaram tanto pelos autores Latino-americanos como Alba (1993); Parrila (1997), e por Paulo Freire (1992) e Gadotti (1992) no Brasil. Esses pedagogos realizaram estudos no campo do currículo que contribuíram efetivamente para reflexão sobre uma mudança na prática educativa, sendo no caso brasileiro, reconhecida a influência da Educação Popular de Paulo Freire a partir da noção de currículo educacional. Sob esse aspecto, após muitas discussões no campo educacional a partir de estudos acadêmicos em produções sobre o multiculturalismo a partir do currículo, favoreceram um cenário para mudanças no ensino da disciplina História em relação à inserção da afro-brasileira e africana no Brasil a partir da instituição da lei n.10 639/03 e 11.645/08, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares. A proposta da Lei 10.639/03 é a superação do currículo monocultural e tem como foco revisar a influência eurocêntrica no currículo brasileiro. Sob essa perspectiva, o currículo monocultural se caracteriza pelo não reconhecimento da existência de outras culturas diferentes da europeia. Os educadores de História podem contribuir efetivamente com as mudanças nesse processo, possibilitando tanto no currículo básico quanto no chamado “oculto” e agora redimensionado pela Lei n. 10.639/03 que traz a dimensão do multiculturalismo na realidade brasileira, trazendo sua dimensão para a sala de 10 aula da importância da cultura africana na formação do povo brasileiro. Nesse contexto, a problemática de estudo tem a seguinte investigação: A Lei nº 10.639/03 poderá contribuir para a determinação de um currículo multicultural que possa valorizar a cultura afro-brasileira e africana? O objetivo deste estudo é identificar se a lei n. 10.639/03 poderá influenciar para uma inovação no currículo para o ensino de História na Educação Fundamental. Pretende-se demonstrar as críticas ao currículo monocultural e a necessidade de revisão para um modelo multicultural; apontar a importância de uma mudança de enfoque no ensino partindo do multiculturalismo e do conhecimento da cultura afro-brasileiro como formador da real cultura brasileira e indicar as possibilidades de inovação no currículo do ensino de História. Justifica-se a realização deste estudo com base na possível mudança nos currículos monoculturais das escolas para avançar em algumas questões cruciais como o enfrentamento da tolerância com as diferenças culturais e étnicas para que o educando tenha a possibilidade de refletir sobre a importância da diversidade tanto no discursos educativos focados entre teoria e prática real. A relevância do estudo é demonstrar a importância de se superar o currículo monocultural eurocêntrico na educação a fim de transformar esse instrumento de apoio educativo em um foco que possa abranger a diversidade étnica do Brasil, bem como a História, trazendo a realidade de uma sociedade miscigenada. No ensino brasileiro é muito importante inserir essa abordagem histórico-cultural que foi excluída do contexto escolar em face do etnocentrismo do currículo tradicional. Portanto, Lei n. 10.639/03 vem diretamente sustentar uma nova proposta curricular nas escolas, a partir de uma visão histórica de valorização da cultura afro-brasileira e africana. 11 A metodologia do estudo se orientou por uma pesquisa bibliográfica acentuando os pressupostos de autores estudados para enriquecer a fundamentação teórica. A organização da estrutura do trabalho se orientou por quatro capítulos apresentando a formação da sociedade a e miscigenação entre os povos existentes, as diferenças entre multiculturalismo e monoculturalismo, o ensino da cultura afro-brasileira no ambiente escolar e pesquisa de campo com professor da rede pública municipal. 12 1. A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA E A MISCIGENAÇÃO 1.1 A sociedade Brasileira e a presença da diversidade O Brasil possui uma grande diversidade em sua formação étnica. A formação da sociedade brasileira é, sobretudo, multicultural na medida em que sua base foi formada pela presença de populações de origem africana, ameríndia, europeia entre outras, neste sentido, a cultura brasileira é formada por aspectos diferenciados a partir de culturas que formaram a população brasileira. Gilberto Freyre, autor de Casa Grande e Senzala (1992), avalia a miscigenação como uma espécie de “democracia racial”, encontramos um novo olhar sobre o assunto conforme Silva (2000): O que facilitará a transição [para um regime de mão de obra livre] no Brasil é que lá não existe nenhum preconceito de raça. Nos Estados Unidos e em Cuba todos os homens de cor, mesmo um liberto, são olhados de cima como inferior pelos homens de raça branca. Não há nada disso no Brasil: lá todos os homens livres são iguais; e esta igualdade não é só da lei, mas é também da prática cotidiana (...). A igualdade lá não é só um direito: é um fato. (QUENTIN apud AZEVEDO, 1996, p.156) O que se compreende que existe a crença no princípio de que no Brasil reinaria a paz e equilíbrio entre os diversos grupos raciais que entraram na formação do povo brasileiro. Segundo o artigo de Souza (2000, p. 1): O Mito da democracia racial é a ideia de que haveria no Brasil, ao contrário de outros países como África do Sul e Estados Unidos, uma convivência pacífica das etnias, e que todos teriam chances iguais individualmente de sucesso. Sobre essas chances, nega-se toda a história de escravidão de nosso país. Gilberto Freyre em sua obra comparou os outros povos europeus, o português apresentaria uma capacidade superior para adaptação à vida nos trópicos e ao intercurso sexual mestiço, o que explica em parte o sucesso da empresa colonizadora portuguesa. A sociedade colonial foi profundamente marcada pelas influências da cultura portuguesa como modelo dominante com base na colonização. Assim, pode-se afirmar que o perfil político da colônia 13 estava voltado para o modo de produção escravista que cimentou uma sociedade pautada nas desigualdades sociais. Nas visões de Souza (2001) e Da Mata (1983), a complexa sociedade hierárquica se formou sob uma profunda heterogeneidade cultural alicerçada pela religião católica que se firmava como o grande pilar da colonização. Com isso, a sociedade colonial cresce, mas padece de enormes desigualdades e desequilíbrios internos dos quais a escravidão é a mais completa expressão. A sociedade sob a forte influência da cultura portuguesa se estabeleceu uma extensa mestiçagem com a população nativa e a advinda do tráfico negreiro (índios e negros africanos) durante o processo de colonização e agregadas formando uma acentuada diversidade étnica e cultural que geraram línguas, crenças, costumes e tradições variadas que contribuíram para acentuar a heterogeneidade na visão de Munanga (1996): Alguns dentre nós não receberam na sua educação e formação de cidadãos, de professores e educadores o necessário preparo para lidar com o desafio que a problemática da convivência com a diversidade e as manifestações de discriminação dela resultadas colocam quotidianamente na nossa vida profissional. Essa falta de preparo, que devemosconsiderar como reflexo do nosso mito de democracia racial compromete, sem dúvida, o objetivo fundamental da nossa missão no processo de formação dos futuros cidadãos responsável de amanhã. Com efeito, sem assumir nenhum complexo de culpa, não podemos esquecer que somos produtos de uma educação eurocêntrica e que podemos, em função desta, reproduzir consciente ou inconscientemente os preconceitos que permeiam nossa sociedade. A década de 1970 marcou o revisionismo da Historiografia Brasileira e têm chamado a atenção para a forma perversa e desigual nas quais as relações raciais encontram-se estruturadas na sociedade brasileira que vão desde a desigualdade social existente que tem forte teor na condição de raça, assim como as discriminações que ocorrem no seio da sociedade contra negros e índios que permanecem até os dias atuais. 14 De acordo com Cruz (1989, p. 211): A conjuntura se formou na sociedade colonial e originou diferentes culturas e mentalidades, com base se sustentação na Igreja Católica e no Estado que dirigiram a colonização como instrumento de acumulação de riqueza e poder. Entre os instrumentos de controle, ao lado da doutrinação e do culto. A sociedade colonial impôs a escravidão como elemento necessário e indispensável à sua organização e funcionamento que geraram a resistência e o desenraizamento físico e cultural do africano, sob um trabalho opressivo e rebaixamento social. Reis (1993) avalia que “a miscigenação dos vários elementos formadores que se constituíram o foco da constituição do povoamento, embora houvesse uma grande discriminação em relação ao negro, mestiço e indígena, vistos como raças impuras para ocupar os cargos notórios”. Sob o ponto de vista eurocentrista, predominante no Brasil, a raça branca era considerada superior. Ele também analisa a sociedade patriarcal que era estratificada e heterogênea em seu interior a posição social e as relações entre os grupos eram condicionadas não só pela situação econômica, mas também por atributos de raça, cor, sexo, religião, instrução, etc., estabelecidos pela cultura dominante da elite branca. Para o autor, de acordo com essa cultura, os índios, além de selvagens, eram seres indolentes, preguiçosos e incapazes de assumir valores e comportamentos civilizados. Munanga (1996) analisa que os negros africanos foram sempre vistos e tratados como seres inferiores, de pouca inteligência, de costumes primitivos e de sangue impuro, a mesma alegação usada para estigmatizar e marginalizar os mulatos e outras chamadas "raças infectas", como judeus e ciganos. O trabalho da Igreja católica, tanto em relação aos colonos quanto aos índios, negros e mestiços, foi de enorme importância para a colonização e seria fundamental para a formação da sociedade brasileira. A Igreja era detentora do monopólio dos serviços religiosos oficiais, missas, batizados, casamentos, enterros, festas, peregrinações, irmandades, etc, a Igreja católica ajudou a estruturar o cotidiano social de uma população heterogênea, rala e dispersa. Com o domínio absoluto das consciências, moldou hábitos, valores e normas, 15 combateu o que considerava "desvios" de crença e de comportamento, reforçou o sentimento de lealdade e obediência ao soberano, fortalecendo com isso os vínculos entre colônia e metrópole. (ORIÁ,1996) Apesar de atuarem em campos diferentes, na prática a divisão de direitos e atribuições subordinava a Igreja ao Estado português. O grande fator colonizador do Brasil, a unidade produtiva, o capital que desbrava o solo, instala as fazendas, compra os escravos que se tornariam a massa de trabalho, bois, ferramentas, a força social que se desdobra em política, constituindo-se na aristocracia colonial mais poderosa da América. As condições de constituição da história brasileira forma marcadas pela inserção de culturas europeias que eram radicalmente racistas, essa condição gerou uma visão do negro como mercadoria ou como elemento de subalternidade em face de sua entrada no Brasil como escravo. Nesse contexto, Oriá (1996, p. 119) descreve que: Um país miscigenado, dominado por uma elite agrária, seguiu os costumes e a teoria dominante eurocentrista, desde a moda aos costumes, renegando a sua história de formação multicultural e criando uma sociedade que não valoriza suas raízes, mas mantém vivo a cultura exógena europeia, considerada como civilizada. Em face de conjunturas das ciências naturais e do conceito de raças expressas em uma abordagem etnocêntrica. Nesse contexto, evidencia-se que o autor trata do etnocentrismo que foi uma tendência homogênea de visão de mundo, na educação europeia, cujas teorias chegaram ao Brasil entre os séculos XIX e XX, fundamentadas em teorias evolucionistas trazendo um forte apelo racial predominando a tendência de exaltar a cultura dos brancos e a desqualificar a cultura indígena, aborígene e negra em toda a América. (ORIÁ,1996) 16 1.2 O conceito e visão do multiculturalismo O multiculturalismo define a existência de uma diversidade étnica e racial em um território ou nação, que implica em novas identidades políticas e culturais. O termo é aplicado para definir que as sociedades humanas criaram diferentes culturas durante toda a evolução da história da humanidade. (MCLAREN, 1997) A globalização e a visão de aldeia mundial favoreceram a visão da existência das diferenças culturais em uma nova fase do capitalismo. Gadotti (1992) e Freire (1989) utilizam o termo multiculturalismo como um debate político na busca de uma educação voltada para a democracia e cidadania. A visão de que a globalização tem o poder de uniformizar o planeta é um mito, pelo contrário, a partir das tecnologias e as informações constaram-se as desigualdades sociais existentes, assim como a negação de minorias étnicas de serem abafadas ou esquecidas, as identidades locais e regionais se tornaram mais conhecidas. Esse processo passou a implicar o reconhecimento da cidadania, dos direitos humanos e da necessidade de manutenção das individualidades e das diferentes culturas e, portanto, o direito à diferença de gênero, culturais e étnicas. Nos Estados Unidos, o multiculturalismo é conhecido como um conceito que implica o reconhecimento das diferenças culturais e dos direitos humanos, implicando assim na luta pelos direitos das minorias étnicas como as mulheres negras, os afrodescendentes, os hispânicos, os índios que sofrem exclusão social. O canadense Charles Taylor foi um importante ativista do multiculturalismo e representa uma visão de que os direitos minoritários assegurados pelas políticas públicas podem promover as condições de reconhecimento das diferenças culturais e produzir um processo maior de liberdade dos membros de grupos minoritários. 17 Nos EUA, existe uma tendência de afirmação do mito da fusão das culturas na adoção do modelo de vida "american way of life" ou jeito americano de viver que busca uma espécie de justaposição dessas diferenças, como fatores que poderão coabitar no mesmo território. No entanto nos Estados Unidos, o governo aplica as leis antirracistas para favorecer as minorias étnicas. As constituições multiculturais foram reconhecidas devido à existência de uma grande variedade de culturas no território nacional, como é o caso do Canadá, Austrália, África do Sul, Colômbia, Paraguai que possuem muitas etnias diferentes formadas por culturas minoritárias, além de diferentes religiões e raças. O Multiculturalismo no Brasil tem desempenhado um papel mais reflexivo através de vários autores como Gadotti (1992), Freire (1989), Moreira & Candau (2008) realizaram estudos e escreveram obras sobre o tema com base no processo educativo brasileiro, salientando a necessidade de superação de currículo monocultural. Paulo Freire,educador brasileiro, trouxe reflexões importantes no concernente a um novo redirecionamento no currículo, a partir de uma análise comparativa e interpretativa do fenômeno da globalização e da situação da educação na América Latina. Em suas reflexões é muito importante que novos valores sejam ampliados e avaliados no currículo para que ocorra uma inovação na Didática. Ele teve grande influência nas discussões sobre as novas bases para uma inovação curricular, sendo apontado que a postura de mudança depende diretamente de um novo enfoque da didática com base no processo de pluralidade cultural em um currículo multicultural para que possa ocorrer a oportunidade da efetivação de diferentes formas do trabalho pedagógico na contemporaneidade. Gadotti (1992) em sua obra sobre multiculturalismo desenvolveu um pensamento crítico sobre a superação da visão de poder na escola e a necessidade de superação da educação dominante no contexto das relações 18 raciais e na política curricular do sistema de ensino. Segundo o autor, já é possível a partir das produções teóricas contemporâneas determinarem um caminho efetivo rumo a um currículo escolar multicultural. Para Moreira e Candau (2008) a questão multicultural vai muito além do debate, é preciso que represente hegemonias, promover ferramentas, ir além do discurso e promover professores críticos “Partindo do pressuposto que a diferença se encontra na base dos processos educativos”. 19 2 O MULTICULTURALISMO NO BRASIL E A QUESTÃO DO CURRÍCULO NAS ESCOLAS: A CRÍTICA AO MONOCULTURALISMO NO CURRÍCULO ESCOLAR 2.1 Currículo monocultural versus multicultural As escolas brasileiras devem superar os currículos monoculturais e desenvolver currículos que privilegiem a pluralidade cultural para a realidade latino-americana, favorecendo para que o educando tenha conhecimento das realidades sociais e que a educação não seja a que defende uma educação europeizada. (GADOTTI, 1992) Franco (2000) considera que atualmente muitas questões estão levantadas na área de currículo, na verdade é a busca de um novo paradigma que representam muitas linhas e tradições críticas que trazem uma nova visão de mundo a partir da visão de inclusão social, de educação a qual aborde um conjunto unificador de suposições e orientações para o desenvolvimento da teoria e prática curricular com base no multiculturalismo e pluralidade. Candau (2000) critica no campo do currículo, a centralidade da cultura dominante europeia e sua influência no currículo em termos epistemológicos, ao mesmo tempo em que analisa a urgência da superação do currículo monocultural. A autora considera que é necessária a evolução de um caráter multicultural da realidade social para fortalecer o processo de ressignificação da escola. Os Estudos no campo do currículo realizado por autores latino- americanos sob o ponto de vista multiculturalista, buscam mudanças a partir de estudos sobre as teorias do campo curricular operando, a partir dessa linha de superação do currículo monocultural na escola, um novo redesenho curricular (ALBA, 1993). A partir desta perspectiva crítica o multiculturalismo, se tornou uma teoria com força empírica para buscar tanto a função ética, mas também a função política do currículo com o foco na pluralidade. Esse novo paradigma exige maior reflexão prática com base no significado humano no tocante a 20 questão da raça e do reconhecimento de um Brasil com várias culturas. Alba (1993) avalia necessidade de uma redefinição do desenho estrutural do currículo monocultural para ampliar neste importante instrumento pedagógico, a visão social, dimensionando a pluralidade. Nos campos social, cultural e pedagógico, emerge também a mesma mudança de perspectiva: atualmente existe a constante busca de um sujeito tolerante e plural como perspectiva da pós-modernidade. Esse fato gera necessariamente a transformação do indivíduo diante das relações sociais, na buscado sucesso e da superação de seus limites diante da diferença, reconhecendo que a escola é um espaço de diferenças conforme GUGLIANO (2000, p.68): É preciso considerar que a globalização produziu na Educação, a necessidade de reconhecimento das minorias étnicas e dos problemas que se transformaram em nível planetário em situações conhecidas, como à luta pela cidadania e os direitos fundamentais de negros e índios. Neste sentido, essa postura exige especialmente uma visão crítica para uma educação transformadora capaz de superar a visão dominante existente no currículo. O autor avalia que o indivíduo em seu meio tem a consciência de seus papéis sociais e de como a sociedade lhe cobra posturas e atitudes como um ator social. Em outros termos, o mundo pós-moderno não separa o sujeito individual de seus papéis sociais. Portanto a formação do sujeito deve ser tanto para agir como ser coletivo nos interesses comuns e, portanto, na luta pela democracia e igualdade de oportunidades para todos, como ter sua dimensão individual. Neste contexto, o educador Freire (1994) afirma a importância da consciência crítica para a leitura do mundo inerente à educação e à proposta do ensino de História, como instrumento de libertação dos oprimidos e superação da Educação Bancária. A leitura do mundo é esta capacidade de visualizar, questionar, analisar e interpretar o mundo social com seus significados tendo o próprio currículo uma seleção de uma cultura mais ampla. 21 A partir desta perspectiva, os novos críticos argumentam a favor de uma reavaliação completa do relacionamento entre currículo, escolas e sociedade. Esta reavaliação concentra-se em dois grandes inter-relacionamentos: Por um lado, o foco é o relacionamento entre as escolas e a pluralidade. O foco crítico se direciona à superação do currículo monocultural e seus aspectos ideológicos, além de superar a o poder no âmbito escolar para transformar a escola em um ambiente democrático. (SANTOMÉ, 1995) Na corrente que busca a renovação do Currículo, o foco é a própria textura dos relacionamentos cotidianos em sala de aula que geram diferentes significados, restrições, valores culturais e relacionamentos sociais. Subjacente, a estas duas preocupações estão em um interesse profundamente arraigado no relacionamento entre as diferentes culturais brasileiras. Alguns dos críticos do currículo atual, mencionados neste estudo, têm se preocupado particularmente acerca de como se constrói e se atua sobre o significado nas escolas e para torna-las mais democráticas e plurais. Assim, discutem-se as teorias críticas que favoreçam as formas de desenvolvimento cognitivo que reforcem o questionamento das formas existentes de opressão institucional, o reconhecimento de que o poder, o conhecimento, a ideologia e a escolarização estão relacionados em padrões de complexidade em constante transformação. (ALBA, 1993) O vínculo que dá forma a estes inter-relacionamentos é de natureza social e política, sendo tanto produto como processo da história renovando a forma de perceber seu contexto em uma visão mais pluralista e incorporando inúmeras vertentes teórico-críticas no ensino de História. No plano pedagógico o currículo multicultural identifica o educando como sujeito e construtor de seus conhecimentos, ou como agente social que contribui para mudanças através da participação social e da cidadania. Portanto, envolve um contexto histórico que enriquece o um enfoque que 22 privilegia a cidadania, no qual o aluno é incentivado a refletir e discutir, a se motivar com o estudo da dinâmica da sociedade. (FREIRE, 1989) Os propósitos desse novo currículo é gerar possibilidades de emancipação, teremos que desenvolver uma nova linguagem e novas formas de racionalidade para realizartal tarefa. A situação de nossa era não é diferente da situação enfrentada atualmente pelo campo curricular segundo Alba (1993): Esta situação é tão envolvente quanto radical: construir as condições que permitam que a humanidade busque sua auto compreensão e significado com diversas possibilidades para o desenvolvimento de formas mais flexíveis e humanas de currículo. (p. 98) Assim, constata-se que existem críticas ao currículo dominante existente, cujas bases só levam em conta as demandas de caráter econômico e a educação tecnológica que trazem o viés econômico com maior intensidade. Na evolução do currículo atual tem-se a concepção de necessidade de se privilegiar uma educação tecnológica mais abrangente devido às rápidas transformações tecnologias e caminho que definiu as novas gestões nas organizações produtivas. O currículo atua como instrumento para possibilitar que a escola cumpra o papel social na sociedade de formadora frente às perspectivas de uma educação plural. A estratégia é a articulação de conteúdos com ênfase à organização de um currículo para a adaptação à pluralidade cultural. A questão cultural/social (qual?) não foi contemplada nas bases do currículo que está pautado nas diretrizes de currículo monocultural (eurocêntrico) 23 2.2 A educação e sua relação com o currículo monocultural dominante Com essas diretrizes associadas ao ensino das ciências naturais foram se construindo valores e crenças que passaram por paradigmas dominantes que determinaram julgamentos sobre os povos considerados mestiços determinando as diferenças culturais como não civilizadas ou mesmo inferiores. Nessa conjuntura, na visão de Munanga (1999, p. 113), a educação que se perpetuou também na educação entrelaçando-se ao currículo e não apenas na sociedade a cultura do racismo se expandiu às vezes de forma velada, dentro da lógica da dominação e da visão de classes sociais. “Esse tipo de aprendizado social monocultural erigido no currículo oficial das escolas discrimina a diversificação cultural”, passando a ter grandes implicações na vida das pessoas que se sentem discriminadas, como os negros na sociedade. Desse modo se cria um grande distanciamento entre a cultura negra e a cultura implementada nas escolas, a discriminação racial que se configura desde tempos remotos na estrutura histórica e social expressas nas desigualdades sociais existentes e na complexa luta de constituir na sociedade uma identidade do negro. No contexto escolar essa situação gera evasão escolar e dificuldade de aprendizagem. O currículo nas escolas públicas depende efetivamente de passar por uma renovação, disso depende a disciplina de História para tornar-se mais dinâmica para tratar de temas fundamentais e seus graves problemas sociais, como a intolerância às diferenças. Portanto, Alba (1993) analisa que “não cabe ao educador tomar posturas tradicionais e continuar mantendo as bases ideológicas que favorecem a visão dominante dos currículos monoculturais (eurocêntrico)”. Neste sentido, é preciso o desvelamento da realidade social e a denúncia, o uso diálogo com o aluno sobre a necessidade de deter os conhecimentos culturais e evidenciar a riqueza produzida pelo multiculturalismo. Assim, uma visão positiva da diversidade é fundamental, na medida em que existe no âmbito escolar uma visão dominante e classificatória que ainda reside nas posturas tradicionais. Os professores devem superar a 24 visão de poder existente, e usar suas aulas de História para um leque com dimensão crítica sobre os processos sociais no tocante às diferenças existentes na formação do povo brasileiro. Na visão de Gadotti (1992), o resultado esperado de uma articulação curricular é o desenvolvimento de competências para a solução dos complexos problemas relativos à pobreza, dependência econômica, multiculturalismo e tolerância pelas diferenças, maior ética econômica e política. Neste aspecto, as orientações da base curricular estão fora dos padrões e concepções requeridas pelas tendências curriculares preconizadas para um currículo com base no social e nas questões que envolvem a América Latina e seus problemas de desenvolvimento. 25 3 O ENSINO DE HISTÓRIA NO AMBIENTE ESCOLAR E A CULTURA AFRO- BRASILEIRA E AFRICANA DE ACORDO COM A LEI, 10.639/03 3.1 Diretrizes da Lei n. 10.639/03 e Novas Diretrizes no Ensino de História O estudo de História impõe a compreensão de que as melhorias nas condições de vida, os direitos políticos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações socioculturais são conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, empenhar-se em democratizá-las; conhecer e saber utilizar procedimentos de pesquisa. A reflexão sobre o currículo e sua base de orientação é um processo didático-pedagógico relevante que tem o poder de superar e reconstruir uma nova didática baseada na ética e tolerância e na busca de uma aproximação da realidade escolar e a prática da reflexão com base em novos enfoques que estimulam um olhar crítico para os temas multiculturais. Assim, uma base de análise do currículo exige uma avaliação dos instrumentos que possibilitem a sua flexibilização frente às constantes mudanças sociais, quanto à participação do professor em seu processo de ensino, a dinâmica do currículo oculto, a identificação com o currículo, a posição ideológica na qual o currículo se baseia e sua relação com o processo de cultura e mantendo as coerências em relação ao currículo e sua ação interdisciplinar. Com base na obrigatoriedade de trazer um ensino mais voltado à realidade social e superar o modelo tradicional de currículo monocultural (eurocêntrica), criou-se a Lei 10.639/2003 que teve a função de inserir nos conteúdos curriculares de História, uma abordagem voltada à cultura afro- brasileira e de origem africana a partir da Educação Básica onde a aprendizagem acontecerá de forma gradativa e então fará parte natural do processo de aprendizagem que virá posteriormente. 26 Nesse contexto, a sociedade deverá apontar as relações conflituosas, as desigualdades sociais e internacionais, as relações de gênero, os preconceitos e o racismo, a questão ambiental, a indústria e a produção do espaço, as diferenças culturais, etc. O educador será o sujeito crítico que servirá de mediador entre o educando e o conhecimento afim que o aluno possa reconhecer as condições de sua produção e compreender a necessidade de intervir trazendo à tona o desenlace do discurso neutro, mas trazer o discurso para a realidade, buscando uma transformação e uma construção de aprendizado. Cabe aos docentes utilizar a forma específica e metódica: a comunicação como linguagem crítica em sala de aula, de preferência que ela esteja inserida em um projeto didático-pedagógico maior, com um grau intensivo de regulação a fim de obter os objetivos esperados no processo de aprendizagem conforme Gasparin (2002): “O papel do educador é favorecer ao aluno uma visão de mundo crítica e engajada na transformação da escola em espaço de reflexão, no desvelamento de uma realidade e sua correlação com a concretude cotidiana”.(p. 46) Assim, caberá ao docente avaliar as formas de superar a premissa maior que vincula a objetividade à neutralidade usando sua criticidade quando assume as posturas diante dos conteúdos que exigem uma formação crítica. Nos dias atuais, quando o contexto educativo exige tanto do docente, não se pode deixar de repensar as práticas sociais, no âmbito da escola, que sejam comprometidas com uma abordagem educativa valorizadora da formação política. Atualmente, a conjuntura social e política impõem verdadeiros desafioseducativos em relação ao papel do professor como mediador do conhecimento e da formação de consciências. Nesse contexto, Gramsci (1991) afirma que a partir da afirmação da ação do educador, como prática educativa, tem um caráter intelectual, na 27 prática efetiva das mudanças positivas em relação à função social em uma sociedade de classes. O aspecto mais relevante para uma mudança qualitativa na universidade é o educador ter firmeza e coragem para empreender debates e discussões político-sociais, organizar e estimular o comprometimento com os aspectos sociais em relação ao caráter formativo para um âmbito pedagógico que incorpore o caráter político da prática pedagógica. A visão do processo histórico deve ser amplamente inserida no contexto escolar, por que a educação requer do educador uma postura comprometida com a formação da consciência de que para centrar-se no conteúdo e na prática da formação política deve haver engajamento e predisposição para lutar contra o sistema de produção que contribui para as desigualdades e exclusões sociais. Para Saviani (2000) na realização de uma reflexão para a mudança, o docente deve antes de tudo compreender as diferentes modalidades de educação e em contrapartida um profundo conhecimento da escola. A análise do papel de educador, sob o ponto de vista da dialética e das mistificações ideológicas pode ser a condição fundamental para que sejam analisadas as correntes ideológicas que se mesclam no cotidiano escolar que necessitam de certa consciência social. O caráter ambíguo da educação e a forma como o erro e a verdade se confundem face aos múltiplos aspectos ideológicos que perpassam as relações internas da escola, estão profundamente arraigadas no processo histórico e cultural da sociedade. Para Giroux (1997), a questão essencial é o desenvolvimento de uma linguagem através da qual, o educador possa desvelar e compreender o relacionamento entre ensino escolar, as relações sociais mais amplas que o informam e as necessidades e competências historicamente construídas que os estudantes trazem para as escolas. 28 Segundo Gadotti (1992) o educador tem o papel social de superar a visão dominante e produzir um novo discurso social com base na tolerância e na aceitação das diferenças, associadas à superação das discriminações de origem sexual, raça, etnicidade, diversidade e diferença cultural. A sala de aula é o local ideal para o desenvolvimento de uma nova noção de ética e tolerância. A questão do multiculturalismo deve ter como espaço o ambiente escolar e as disciplinas em seus contextos sociais, políticos, educativos e culturais, implicando a superação de visão do poder, de uma educação de classes sociais ou que desconsidera o conhecimento da realidade da formação do povo brasileiro. Neste contexto, a abordagem multicultural deverá ser realizada com base no contexto social e cultural escolar sem ser visto apenas como mero elemento da História do Brasil, mas em contextos mais amplos em que se tornam necessário ao educador uma intervenção que aborde o tema de maneira criativa e crítica. Alguns professores são acostumados a trabalharem sozinhos e tem resistência ao trabalho interdisciplinar com temas abrangentes como o multiculturalismo. Na medida em que os integrantes buscam soluções para os vários problemas comuns enfrentados no momento de decidir como realizar um trabalho, a escola poderá ter condições de efetivamente desenvolver um bom trabalho. Cabe ao educador expressar e definir os diversos níveis de significação e de interpretações das ideias expostas relativas ao multiculturalismo e a crítica a um tipo de posturas que não se assente na consciência de que existem muitas diferenças sociais, econômicas e políticas, além da visão de formação da cultura brasileira vista como híbrida ou heterogênea. Neste sentido, como participante efetivo da construção do conhecimento e do currículo escolar, cabe ao educador atuar abrindo um leque de oportunidades para a discussão de temas que envolvem a cultura diversificada e a necessidade de reconhecimento da diversidade da cultura brasileira. 29 A escola tem um papel muito importante nesse processo de produção de um novo discurso que supere as visões deterministas e preconceituosas e de uma postura de aceitação das diferenças, de cor, de religião e de ideias. (Rosemberg e Pinto, 1987) 30 3.2 A postura do Educador na sala de Aula: Consciência e Criticidade O educador que atua em sala de aula no contexto da disciplina História ao aplicar os conteúdos sobre a formação do povo brasileiro deve explorar em visão crítica a questão da sociedade racista; fato esse que dificulta sobremaneira a articulação de medidas sociais, políticas e jurídicas de enfrentamento desse estado de coisas. Os livros, de modo geral, expressam a forma pelos quais seus autores veem o mundo para entendê-los é indispensável não só penetrar em seu conteúdo básico, mas também ter sensibilidade, espírito de busca, para identificar, em cada texto lido, os diversos níveis de significação e de interpretações das ideias expostas por seus autores. É nesse processo de investigação e consciência de seu papel social como formador de opinião que o educador deverá atuar abrindo um leque de oportunidades para a discussão de temas que envolvem a cultura diversificada e a necessidade de reconhecimento da diversidade da cultura brasileira. A escola tem um papel muito importante nesse processo de produção de um discurso e de uma postura de aceitação das diferenças e do debate em uma leitura de mundo, demonstrando as diversidades culturais que enriquecem os conhecimentos. (Rosemberg e Pinto, 1987) Assim, ao discutir a formação brasileira e a diversidade, deve-se analisar a concepção de Freire (1984, p. 22), para quem “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”; tornando-se necessário ir mais além, demonstrando ao educando a necessidade de olhar em volta a diversidade existente na sua própria sala de aula. Neste contexto, o educador que reflete sobre a formação do povo brasileiro deve considerar de forma crítica a efetividade da existência da diversidade cultural, manifestada nos estudos de muitos antropólogos, historiadores e cientistas sociais, que avaliam somente o reconhecimento e a compreensão da cultura brasileira em suas múltiplas dimensões deverão ser 31 acatados na sala de aula, sob a forma de compromisso de educar para a realidade prática. (ORIÁ, 1997) O professor não deve tomar atitudes de neutralidade em sala de aula, mas deve discutir as questões mais relevantes de forma clara, crítica e bem informada. É fundamental a consciência política, para que a formação do educando não seja deformada por posições político-ideológicas que mantenham as características de uma educação dominante que não coloca com clareza a realidade dos fatos históricos, mas mascarando-a exclui grupos sociais importantes que construíram a história. Gadotti (1992) e Mclaren (1997) avaliam a relevância da cultura como recurso intangível na riqueza de sua diversidade que deverá ser trazida para o âmbito escolar. Portanto, a miscigenação entre brancos e negros trouxe como resultado do processo histórico-social as dimensões de diferentes culturas que povoaram território brasileiro trazendo diferenças culturais e traços fenótipos diferentes que tornam a nação brasileira diversificadas de religiões, de concepções de mundo, de arte e de costumes. Devido à pluralidade étnica já se utilizam atualmente o termo "culturas brasileiras" para designar as diferentes formas étnicas que contribuíram para a sua formação. No entanto, existiu uma corrente dominante que construiu uma história de heróis e reiscom traços europeus que tenderam a tratar o índio nativo como elemento discriminado por ter uma cultura diferente das classes dominantes. O choque de culturas foi intenso e produziu uma visão dominante de um Brasil europeizado e não mestiço. Segundo Ribeiro (1995) mesmo na sociedade atual onde existe um mito de democracia racial existe racismo nas escolas devido o quadro social. E durante toda a história houve a confluência do entrechoque cultural e do caldeamento do invasor português dominante com índios silvícolas e campineiros e com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos. Portanto, a visão de raça é muito influencia muito as questões sociais no Brasil, as inter-relações estão em crescentes transformações, à escola é o local onde 32 essas mudanças necessitam produzir resultados através do processo de Educação. Um dos parâmetros de qualidade docente é a capacidade de imprimir diretrizes políticas ao conhecimento. Segundo Demo, (1995, p. 24/29) qualidade formal e política constituem a alma gêmea do processo de construção do conhecimento. É impossível ao professor expressar as necessidades de implantação de uma verdadeira cidadania popular, sem ele próprio exerça a sua atividade de cidadão e de ser político. A educação antes de tudo marcada pelos aspectos políticos, econômicos e culturais que devem fazer parte essencial dos debates e discussões que demonstrem as contradições existentes na sociedade. Portanto, o professor de História está diretamente atrelado a uma proposta de cunho político com base na criticidade, ou seja, não permitindo que o conhecimento se transforme apenas em mera informação, sem que o educador atue de forma consciente sobre os conteúdos que exigem criticidade e se refere à formação de uma consciência crítica do mundo, da sociedade e da educação. O professor de História necessita demonstrar ao aluno as formas de ler o mundo a partir de uma determinada prática social, mas para isso, ele próprio precisa engajar-se, buscar um compromisso de atuação com um novo projeto de Educação na busca de um novo modelo, um paradigma diferente da concepção conservadora e autoritária que se constitui por muito tempo no decorrer da história como reflexo da face de poder que emergiu das condições criadas pela sociedade, em que se construiu um modelo que negou a participação e a democracia. Segundo Resende (1995, p. 23): A escola historicamente herdou todas as conjunturas de poder, hierarquia e privilégios que se refletiram no modelo de sociedade vigente nos dias atuais. Nesse contexto, os questionamentos da autora estão presentes na dicotomia que jaz no seio da sociedade refletida nas contradições socioculturais, sendo a escola um dos instrumentos do Estado autoritário. Assim é papel do educador lutar por condições melhores para a sua própria condição de docente e para a aplicação de uma Educação crítica 33 através de um embasamento teórico, de uma fundamentação alicerçada em uma visão do mundo, a partir da noção de construção social do conhecimento para a mudança. O Educador para tomar essa postura na sala de aula depende de competências que exigem uma formação mais complexa que geralmente os cursos de formação não estão aptos a oferecer de forma concreta, então os educadores têm dificuldades, repassando ao educando apenas uma visão abstrata da realidade político-social, sem que chame a atenção do educando para a sua transformação. Neste sentido, como o educador da disciplina História deverá tratar a questão do negro na sala de aula? Como levar ao educando a noção de multiculturalismo e de pluralidade? Como desenvolver a superação da visão de que a diversidade cultural faz parte integrante da nação brasileira? Santos (1990) avalia que o educador não deve abdicar de sua responsabilidade levar um discurso crítico e desmistificador, demonstrando a existência de preconceitos sociais e culturais existentes na sociedade. Deve-se considerar também, que a visão do docente no momento da formação está delineada em torno da concepção do homem que se deseja formar. Neste sentido, uma formação crítica é fundamental para desenvolver nos alunos a curiosidade de conhecer e a construir novos conhecimentos. A escola tradicional eliminou as diferenças, a partir de um discurso homogêneo, esse caráter muitas vezes contraditório, favoreceram a alienação sobre a existência de um país multicultural e pluralístico. Neste sentido, o educador não pode ser neutro, o professor exerce um trabalho pedagógico de forma a expor suas ideologias, sua visão de mundo. Portanto, é possível que alguns alunos possam ter essa percepção, inclusive na observação prática vivenciada. A prática é mais convincente que o discurso. Já para outros, a construção desse ambiente será sempre contraditório e incompreensível. Existem perfis de professores que se diferenciam em relação à forma de atuar no mundo. As bases das práticas pedagógicas e da prática política se encontram vertentes diversificadas em relação ao trabalho docente. A consciência romântica, ainda é predominante e revela um tipo de educador que possui uma visão alienada do processo político e se centra na crença das 34 potencialidades da natureza do indivíduo, deixando de avaliar os fatores determinantes que agem sobre a natureza dos fenômenos sociais. Nesse aspecto, o docente dispensa a consciência política e de uma práxis social em favor de uma ação consciente subjetivista e individualista. (GIROUX, 1997) Já o outro perfil de professor de História coerente é o que possui uma forte consciência política de seu trabalho como educador em relação ao trabalho produtivo material do sistema de produção e historicamente reconhece a existência do poder nas relações sociais. Esta consciência passa pela compreensão do educador como profissional de ensino e de sua função social de levar ao educando uma educação baseada na construção de sociedade tolerante, de sua importância nas finalidades do processo educativo nos rumos políticos do processo social e da aceitação do outro diferente e de sua cultural como riqueza da nação. Os professores que possuem uma consciência política, segundo Alves (1992, p. 18) já atuam em uma luta política na construção de uma nova sociedade. Este perfil de docente é o mais preparado para intensificar uma prática pedagógica mais objetiva e conscientização permitindo assim que o conhecimento seja concreto e vivenciado integrado com a realidade social a partir de um projeto pedagógico e um currículo multicultural. Como afirma Freire (1999, p. 32): A educação exige o desvelamento crítico que implica em uma ação transformadora. A realidade "não é só dado objetivo, o fato concreto, senão, também, a percepção que o homem tem dela". O desvelamento crítico se torna possível quando o educador permite ao discente as condições de estabelecer um diálogo sobre a teoria e a prática trazendo para o centro a realidade de crianças e jovens dos estratos sociais mais pobres, constituídos, na sua grande maioria, de negros e mestiços. No diálogo entre a História como disciplina e a leitura permitem ao educando o descortinar de um aprendizado amplo produzindo uma inter- relação entre o ensino de História como uma responsabilidade social. Os 35 PCN’s propõem um ensino de História voltado para os problemas que a escola brasileira enfrenta, em virtude da diversidade cultural. Segundo Cabral (2008): O corpo docente, sobretudo o que exerce o magistério no Ensino Fundamental, precisa estar habilitado a trabalhar com essa nova temática curricular, sendo importante fazer cursos de extensão sobre História da África e da cultura afro-brasileira. No ensino superior, poder-se-ia fazer uma maior intervenção para que, no currículo obrigatório dos cursos das áreas de ciências humanas e sociais, esteja presente adisciplina História da África; é importante lembrar que, na graduação de História o aluno só estuda História da África em uma disciplina eletiva. Nesse contexto, o educador tem a oportunidade de inserir a disciplina no currículo de História, para discutir e trazer à tona projetos interdisciplinares que estimulem ações interdisciplinares na escola com a finalidade de desenvolver estudos e oficinas sobre a cultura afro-brasileira, favorecendo através de recursos e técnicas didático-pedagógicas “um instrumento de afirmação de uma identidade pluricultural”. (CABRAL, 2008) O professor de história deve priorizar na sua aula um processo de reflexão sobre a identidade nacional, discutindo e debatendo a questão da valorização das culturas existentes no país, trazendo para o educando as oportunidades de conhecer as peculiaridades culturais dos índios, negros e imigrantes que devem integrar o currículo multicultural. As inserções de temas que envolvem o multiculturalismo e a pluralidade devem adentrar nos currículos escolares de forma que se constituía um novo discurso e uma nova prática educativa para a superação de preconceitos e estereótipos por parte dos próprios alunos, desnudando a história oficial e dominante e demonstrando a história marginal dos quais negros e índios foram excluídos. Nesse sentido, o educador que tem consciência da importância da superação desse tipo de história dominante existente nos currículos, programas de ensino e livros didáticos, mostra uma preponderância da cultura da considerada superior e civilizada que tem a sua matriz na cultura greco-romana de matriz europeia. O educando tem a 36 oportunidade de conhecer, por exemplo, a História da América de forma rápida e sem acatar a devida criticidade profundidade que um estudo sobre a América Latina exige no tocante ao multiculturalismo. Os livros didáticos de História ainda mantêm uma concepção positivista da historiografia brasileira, que exige do educador uma responsabilidade no tocante à práxis histórica de desenvolver a curiosidade do educando para a reflexão sobre a participação das minorias étnicas, especialmente índios e negros na história brasileira e a relevância de valorizar as culturas existentes no espaço nacional. (SANTOMÉ, 1995) Reis (1993) avalia que a prática educativa exige um profissional consciente de que não existe neutralidade na escola e que o conhecimento escolar deve percorrer antes de tudo a realidade social brasileira, a luta de classes e o preconceito com as culturas africanas e indígenas. As Ciências Sociais passaram por grandes renovações e reavaliações teórico-metodológica que exigiram uma renovação do conteúdo programático para a escola fundamental no tocante ao fazer prevalecer uma história voltada para a realidade brasileira tratando o processo de conquista e colonização que devem ser discutidos e refletidos com os alunos de forma crítica assumindo as convicções de que a ocupação do território criou uma dominação em relação à cultura europeia e como houve por parte do colonizador uma visão preconceituosa em relação ao índio brasileiro, levando-se em consideração a questão do genocídio e o etnocídio praticados contra esses povos nativos. Nos contextos dos livros didáticos a disciplina se apresenta com a finalidade de buscar explicações objetivas e quantitativas da realidade sobre a formação da cultura brasileira, cabendo ao educador questionar seus fatores determinantes de forma crítica e analítica sobre o enfoque que determina uma consciência sobre a discriminação existente na sociedade brasileira. As aulas de história devem ter a crítica social para que o educando possa estabelecer as relações necessárias à construção do conhecimento e da 37 cidadania. Os professores devem implementar situações de aprendizagens que permitam evidenciar como a sociedade brasileira ainda se comporta de forma dominante em relação às minorias étnicas como os índios e em relação ao negro. Portanto, Rocha (2002) considera que a disciplina História precisa superar a tendência positivista com base em estudos que não produzem reflexões críticas sobre uma visão politizada aos contextos sociais e fenômenos. A História como disciplina se constitui em um conhecimento abrangente e uma área do conhecimento comprometida em tornar o mundo compreensível para os alunos, explicável e passível de transformações, mas somente a História crítica fornece ao educando as bases para a compreensão da realidade social. Assim, o enfoque sobre a formação do povo brasileiro deverá ser crítico, permitindo ao educando compreender que existe uma grande diversidade cultural no Brasil, portanto, a História por se tratar de uma disciplina que inclui sempre novos temas e debates que permitem a compreensão do mundo atual tem uma função social e educativa importante. O ensino da disciplina no ambiente escolar reflete a necessidade de propostas que dimensionem a renovação pela qual essa área do conhecimento tem abrangido como Ciência Social e integrante de um contexto interdisciplinar, partindo-se de uma concepção de História como prática de ensino crítico na escola. A disciplina de História tem grande importância quando o seu ensino desvincula a noção de uma neutralidade científica diante dos conteúdos, posturas e ações dos fatos históricos que marcaram a realidade. Deve-se superar a disciplina como um processo que esteve marcado pela visão dominante que refletiu a visão de uma História fora da realidade social. Portanto, somente uma educação crítica poderá favorecer o avanço da disciplina como relevante no contexto da realidade do educando. No processo de inovação da História, deve-se considerar que o ensino do multiculturalismo que contempla o enfoque da tolerância e da aceitação das diferenças como uma totalidade que deve ser reconhecida pela extensa 38 diversidade cultural existente entre as populações. Neste sentido, a diversidade não deverá ser vista como problemática, a menos que seja evidenciada sob a noção errônea de superioridade e intolerância. Neste sentido, o papel do educador é trazer as práticas educativas que colaborem para uma visão de riqueza da diversidade e tolerância com o que é diferente. Candau (1993) considera que as transformações desencadeadas pelas dinâmicas das relações na globalização geraram mudanças em todos os campos do conhecimento, inclusive para o que introduziu uma visão da diversidade cultural entre os povos. Esse processo cultural deve ser introduzido no saber do educando, evocando nesta nova situação de interação com o mundo, a reestruturação do saber com base na valorização das diferentes culturas e do avanço de uma consciência política crítica acerca dos sistemas e das relações sociais existentes entre as potências ricas e pobres. As mudanças provocaram novas expectativas que afetaram profundamente a educação em todos os níveis. A necessidade de um impulso qualitativo no ensino a partir da formação dos docentes para atuar nas escolas de forma crítica, para engajar-se em um “ofício” cuja prática exige cada vez mais profissionalização; trabalho em equipe; pedagogias diferenciadas; responsabilidades crescentes; a progressão sistemática de competências com qualidade nos indicadores de aprendizagem e o domínio de situações de abordagem formativa. 39 4 ESTUDO DE CASO O estudo foi desenvolvido, a partir de uma abordagem qualitativa, com a realização de três entrevistas idênticas em formato de questionários com três docentes e coordenação durante o tempo de estágio em três Escolas Municipais em diferentes Bairros de Itaguaí que atendem turmas da educação fundamental e são conhecidos como CIEP’S (Centro Integrado de Educação Pública). Com a organização destes questionários qualitativamente, observamosque o tema apesar de importante para o desenvolvimento das crianças, como seres pensantes que são e para o crescimento como ser social ainda causa muita discussão entre educador, pais e os alunos, porém a ação para que essa realidade seja modificada caminha a passos lentos. Nesta linha de observação e questionamento em Escolas diferentes foi importante verificar como está em curso a introdução do estudo sobre a Cultura Afro-Brasileira e Africana com diferentes públicos e, como os docentes se preparam para introduzir e abordar este tema em sala. A partir das obras pesquisadas, juntamente com as três entrevistas e observações dos diferentes espaços e públicos foi possível entender os questionamentos sobre a rejeição ou aceitação da introdução da Cultura Afro-Brasileira e Africana nas escolas. Para melhor entendimento sobre o que foi perguntado no questionário e as respostas dadas pelos professores, colocamos nas tabelas para melhor entendimento e visualização dos dados coletados neste estudo conforme as tabelas abaixo: Matéria lecionada Qtde Portugues 2 História 1 Tabela 1: Matéria Lecionada 40 Ano lecionado Qtde 6° ao 9° 3 Tabela 2: Ano Lecionado Escola Pública Qtde CIEP 3 Tabela 3: Tipo de Escola A cultura Afrobrasileira e Africana é trabalhada na Escola Qtde Sim 3 Não 0 Tabela 4: Cultura trabalhada na Escola A religião Afrobrasileira e Africana é trabalhada na Escola Qtde Sim 1 Não 2 Tabela 5: Religião trabalhada na Escola Houve preparação para trabalhar o tema na Escola Qtde Sim 1 Não 2 Tabela 6: Capacitação Houve resistência para trabalhar o tema na Escola Qtde Sim 0 Não 3 Tabela 7: Resistência ao Tema 41 Esse tema é matéria ou atividade extracurricular Qtde Extracurricular 2 Matéria 0 Opcional 1 Tabela 8: Como o tema é trabalhado Atividades extracurriculares são realizadas com os alunos Qtde Pesquisa e Exposição 1 Apresentação de trabalhos 2 Tabela 9: Como o tema é apresentado Com a análise dos dados da entrevista, notamos que ainda que haja a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana de acordo com a Lei, 10.639/03 na Educação Básica, são encontradas dificuldades em relação à capacitação, quanto à própria obrigatoriedade, visto que entra como Atividade Extracurricular e com isso, os assuntos que dizem respeito à História da Cultura Afro-brasileira e Africana. Outro problema encontrado nos estudos da cultura afro-brasileira e africana é em relação às religiões provenientes dela e vimos claramente nas respostas quando foi perguntamos sobre o ensino e/ou discussão religiosa da cultura Afro-brasileira e Africana uma professora relata que há muitos evangélicos em sua escola e eles são muito intolerantes em relação às religiões afro-brasileiras e africanas o que faz com que os professores optem por não falar sobre as mesmas, mas ao respeito a todas as religiões. Apesar de não encontrarem resistência do ensino da cultura afro-brasileira e africana por parte dos alunos, responsáveis, professores e a comunidade; ainda há muita dificuldade em fazer com que realmente aconteça a inclusão da Historia da Cultura Afro-brasileira e Africana, pois apesar da lei que estabelece a obrigatoriedade como matéria, encontramo-la como matéria extracurricular. Observamos também a dificuldade em capacitar os professores para a implantação de forma efetiva e eficaz e talvez por isso, um silêncio velado em relação às religiões provenientes de tais culturas. 42 CONCLUSÃO: Observando com um olhar histórico, a cultura e o negro foram tratados de forma preconceituosa pela educação brasileira. Resultando assim, numa educação não igualitária, inferior que transparece no material didático e nos currículos monoculturais existentes até os dias atuais. Foi preciso muita luta para conquistar alguns direitos, dentre essas conquistas está a criação da Lei 10.639/03 que visa à obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira na educação fundamental e ensino médio. Este trabalho foi realizado com muitas leituras, pesquisa de campo, entrevistas, uma verdadeira busca histórica que se iniciou no ensino médio normal quando a professora de P.P.P (Projeto Político Pedagógico) pediu para que os grupos escolhessem temas para apresentar as outras turmas e aos professores no teatro da escola mostrando “como podemos inserir um tema em todas as disciplinas”. Neste dia o grupo do qual eu fazia parte não estava presente, então no dia seguinte a professora disse que a liberdade de escolher o nosso tema “A obrigatoriedade de inserir na grade escolar a Cultura Afro- Brasileira e Africana”. O trabalho foi apresentado duas vezes, também apresentamos grupo de capoeira, grupo de teatro e o grupo Italata (grupo de percurssão formado por crianças e adolescentes da costa verde do rio de janeiro, em Itaguaí) para tocar músicas. Nesse contexto, pudemos observar as mudanças no currículo que seriam feitas nas escolas. Pois, com o currículo multicultural foi demonstrado como trabalhar em todas as disciplinas temas relacionados a cultura Afro brasileira e africana. Foi necessário pesquisar de forma direta com as entrevistas e de forma indireta com as leituras e vídeos assistidos sobre a discriminação étnico-racial; vividos ou presenciados no cotidiano escolar. O objetivo deste trabalho foi identificar se a Lei 10.639/03 influenciou um novo currículo para o ensino da Cultura Afro-brasileira e Africana na Educação 43 Básica e Fundamental. O que contribuiu muito para a minha pesquisa foi poder observar de perto como professora o campo de pesquisa (escola) a resistência ao tema, na escola pública. Por outro lado perceber que em outros campos de pesquisa o tema foi bem recebido como relataram os professores entrevistados. Porém diante da reflexão de tanto material rico de informação, não podemos deixar de perceber o quanto ainda temos que caminhar na direção da implementação dessa lei, mas antes temos que mudar a mentalidade das pessoas, fazendo a diferença, fazendo diferente e levando a todos a uma reflexão, pois acreditamos que tudo ainda está tão longe da efetivação da lei que somente mudando a mentalidade das pessoas, para que elas modifiquem sua vida é que conseguiremos diminuir pouco a pouco as grandes consequências tais como a marginalização ou fracasso escolar. É muito importante que a Lei 10.639/03 se cumpra para que aconteça uma desconstrução histórica e social. A maior parte da população julga conhecer/saber sobre a cultura e a História Afro-brasileira e Africana, respeitar e reconhecer os negros e seus descendentes como participantes da formação do povo brasileiro e de sua cultura, enriquece-nos como um povo com uma identidade social singular e se identificar como sujeito ativo dessa história. Finalizo este trabalho com a sensação que estou contribuindo um pouco para a mudança na educação e para que as futuras gerações não permaneçam no mesmo erro de continuar numa sociedade excludente seja por cor, religião, orientação sexual, ou qualquer outro motivo. Que a educação seja modificada para que haja equidade. 44 Referencias Bibliográficas ALBA, Alicia de; El currículum universitario de cara al nuevo milênio; Plaza y Valdez, 1993; México ALVES, José M.; Organização, gestão e projecto educativo das escolas, Porto Edições Asa, 1992 BRASIL. 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