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Aula 03
Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) -
Pós-Edital
Autor:
Michael Procopio
Aula 03
19 de Novembro de 2020
 1 
145 
AULA 03 
TEORIA GERAL DO CRIME: NOÇÕES GERAIS E CONDUTA 
 
SUMÁRIO 
TEORIA GERAL DO CRIME: NOÇÕES GERAIS E CONDUTA ............................................... 1 
SUMÁRIO .......................................................................................................................... 1 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 4 
2. CONCEITO DE CRIME ................................................................................................. 4 
2.1 CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME: TEORIAS .............................................................................. 8 
2.2 – CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME E A TEORIA TRIPARTIDA ....................................................... 11 
3. SUJEITOS DO CRIME ................................................................................................. 12 
3.1 – SUJEITO ATIVO ......................................................................................................................... 12 
3.2 – PESSOA JURÍDICA COMO SUJEITO ATIVO ................................................................................... 13 
3.3 – SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................................... 16 
4. OBJETO DO CRIME ................................................................................................ 17 
4.1 TEORIAS DO BEM JURÍDICO .................................................................................................... 19 
4.2 FUNÇÕES DO BEM JURÍDICO ................................................................................................... 21 
5. FATO TÍPICO ............................................................................................................ 21 
5.1 ELEMENTOS DO FATO TÍPICO .................................................................................................. 21 
5.2 FUNÇÕES DO TIPO PENAL ....................................................................................................... 22 
6. CONDUTA ................................................................................................................. 23 
6.1 TEORIA CAUSALISTA, CAUSAL-NATURALISTA, NATURALÍSTICA OU CLÁSSICA ....................... 23 
Michael Procopio
Aula 03
Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital
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6.2 TEORIA NEOKANTISTA OU CAUSAL-VALORATIVA .................................................................. 25 
6.3 TEORIA FINALISTA ................................................................................................................. 26 
6.4 TEORIA SOCIAL DA AÇÃO ....................................................................................................... 28 
6.5 TEORIA CONSTITUCIONAL DO DIREITO PENAL ....................................................................... 29 
6.6 ELEMENTOS DA CONDUTA ...................................................................................................... 30 
6.7 CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CONDUTA ..................................................................................... 31 
6.8 FORMAS DA CONDUTA: AÇÃO E OMISSÃO ............................................................................... 31 
6.9 ESPÉCIES DA CONDUTA QUANTO AO ELEMENTO SUBJETIVO ................................................... 32 
7. TIPO DOLOSO ........................................................................................................... 33 
7.1 ELEMENTOS DO DOLO: ........................................................................................................... 33 
7.2 TEORIAS DO DOLO .................................................................................................................. 33 
7.3 ESPÉCIES DE DOLO ................................................................................................................. 35 
8. TIPO CULPOSO ...................................................................................................... 41 
8.1 ELEMENTOS DO CRIME CULPOSO ............................................................................................ 42 
8.2 MODALIDADES DE CULPA ...................................................................................................... 43 
8.3 ESPÉCIES DE CULPA ................................................................................................................ 45 
9. TIPO QUALIFICADO PELO RESULTADO ..................................................................... 46 
9.1 CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO E SEUS ELEMENTOS ............................................... 46 
9.2 CRIME PRETERDOLOSO .......................................................................................................... 47 
10. TIPO OMISSIVO ..................................................................................................... 48 
10.1 TEORIAS DA OMISSÃO ............................................................................................................ 49 
10.2 ESPÉCIES DE CRIME OMISSIVO ............................................................................................... 49 
10.3 REQUISITOS DA OMISSÃO ....................................................................................................... 53 
10.4 CRIMES DE CONDUTA MISTA .................................................................................................. 54 
11. ERRO DE TIPO ....................................................................................................... 55 
11.1 ESPÉCIES ................................................................................................................................ 55 
11.2 ERRO DE TIPO ESSENCIAL ....................................................................................................... 56 
11.3 ERRO DE TIPO ACIDENTAL ...................................................................................................... 59 
11.4 DESCRIMINANTES PUTATIVAS ................................................................................................ 63 
11.5 ERRO DE TIPO CAUSADO POR TERCEIRO ................................................................................. 66 
12. QUESTÕES ............................................................................................................. 68 
15.1 LISTA DE QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS ............................................................................... 68 
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15.2 GABARITO .............................................................................................................................. 87 
15.3 LISTA DE QUESTÕES COM COMENTÁRIOS .............................................................................. 87 
15.4 QUESTÕES DISSERTATIVAS ......................................................................................................... 128 
13. DESTAQUES DA LEGISLAÇÃO E DA JURISPRUDÊNCIA .......................................... 129 
14. RESUMO .............................................................................................................. 134 
CONCEITO DE CRIME: .......................................................................................................................... 134 
SUJEITOS DO CRIME: ........................................................................................................................... 135 
OBJETO DO CRIME: .............................................................................................................................. 136 
FATO TÍPICO: ......................................................................................................................................138 
CONDUTA:......................................................................................................................................... 139 
TIPO DOLOSO: .................................................................................................................................... 141 
TIPO CULPOSO: ................................................................................................................................... 142 
TIPO QUALIFICADO PELO RESULTADO: ..................................................................................................... 143 
TIPO OMISSIVO: .................................................................................................................................. 143 
ERRO DE TIPO: .................................................................................................................................... 144 
15. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 146 
 
 
Michael Procopio
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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
Nesta aula, adentraremos na análise da teoria geral do crime, com estudo do conceito analítico de crime e 
das teorias bipartida e tripartida, sujeitos do crime, objeto, aí incluído o bem jurídico. Estudaremos fato 
típico, com seus elementos: tipicidade, conduta e as teorias da conduta, sendo que a análise mais 
pormenorizada da tipicidade, do resultado e do nexo causal serão realizados na próxima aula. Abordaremos, 
ainda, o crime doloso e o crime culposo, o crime qualificado pelo resultado e o crime preterdoloso. 
Finalizaremos com o estudo do erro de tipo. A aula será composta, em sua estrutura, dos seguintes capítulos: 
 
 
 
Iniciando o estudo da teoria do crime, devemos estudar seu conceito e as diferentes teorias sobre os 
substratos do seu conceito analítico. Ademais, é preciso estudar os sujeitos ativo e passivo do crime, bem 
como seu objeto, tanto o material quanto o jurídico. Adentraremos, então, no estudo do tipo penal, com 
análise da conduta, do tipo doloso, o tipo culposo e o erro de tipo. Iniciaremos o estudo da tipicidade como 
um dos elementos do tipo penal. Entretanto, essa matéria será tratada com mais detalhamento na próxima 
aula, em que também abordaremos o resultado e o nexo causal. 
Desejo mais uma ótima aula a todos! Espero que o início do estudo do crime torne a matéria mais instigante. 
 
2. CONCEITO DE CRIME 
O crime, instituto que possui importância nuclear no Direito Penal, possui diversos conceitos, a depender 
do aspecto que se tome como preponderante. O estudo dessas concepções é interessante e possui grande 
importância, devendo ser o ponto de partida para o estudo da teoria do crime. 
Sob o ponto de vista legal, podemos extrair o conceito de crime do artigo 1º do Decreto-Lei 3.914/41, 
denominado de “Lei de Introdução do Código Penal e da Lei das Contravenções Penais”: 
Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer 
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração 
penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou 
cumulativamente.” 
O conceito extraído da lei, portanto, leva em conta a resposta penal prevista, pelo legislador, à infração 
penal. Vale destacar que crime, assim como contravenção penal, constitui uma espécie de infração penal. 
Conceito de 
Crime
Sujeitos do 
Crime
Objeto do 
Crime
Fato Típico Conduta
Tipo doloso Tipo Culposo
Tipo 
Qualificado 
pelo 
Resultado
Tipo Omissivo Erro de tipo
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Crime seria, assim, a infração penal à qual se comina pena de reclusão ou de detenção, podendo haver a 
cominação de pena de multa, seja de forma cumulativa, seja de forma alternativa. Portanto, toda vez que 
nos deparássemos com uma infração penal em que houvesse previsão de pena de reclusão ou detenção, 
teríamos um crime, nos termos do que prevê o dispositivo acima transcrito. Referida pena privativa de 
liberdade pode ou não vir acompanhar da pena de multa, de forma cumulativa (pena privativa de liberdade 
e multa) ou alternativa (pena privativa de liberdade ou multa). 
Este conceito passou a ser questionado com a entrada em vigor da nova lei de drogas, a Lei 11.343/2006, 
que trouxe modificação na criminalização do usuário. Seu artigo 28, caput, localizado no Capítulo III – Dos 
Crimes e das Penas, prevê o seguinte: 
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo 
pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será 
submetido às seguintes penas: 
I - advertência sobre os efeitos das drogas; 
II - prestação de serviços à comunidade; 
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 
Com o advento desta lei, passou-se a questionar se o conceito do artigo 1º do Decreto-Lei 3.914/41 restou 
superado, por ser lei anterior (critério cronológico), ou se a figura do artigo 28 da Lei de Drogas não seria 
efetivamente crime, apesar de constar do capítulo denominado “Dos Crimes e Das Penas”. Cuida-se de 
questão controversa. 
Demais disso, insta salientar que se discute a constitucionalidade do artigo 28 da Lei 11.343/2006, no RE 
635.659 ainda em julgamento no STF na conclusão desta aula. Referido julgamento apresentará uma 
conclusão, ao menos do ponto de vista jurisprudencial, sobre o artigo 28 da Lei 11.343/2006 ser ou não 
crime, já que a constitucionalidade diz respeito à própria validade da norma. Vale destacar, entretanto, que 
atualmente a jurisprudência tem entendido que a conduta de porte de drogas para consumo próprio 
constitui, sim, um crime. 
Há, ainda, a infração do artigo 4º, § 2º, da Lei 7.716/89 (Lei dos Crimes Raciais), incluído pela Incluído pela 
Lei n. 12.288/2010, que, apesar de haver referência na lei apenas a crimes, não prevê pena privativa de 
liberdade, mas apenas multa e prestação de serviços à comunidade, desobedecendo, inclusive, ao 
mandamento constitucional de punição dos crimes de racismo com pena de reclusão. 
De todo modo, concluímos que o direito brasileiro, portanto, reconhece dois tipos de infração penal: os 
crimes e as contravenções penais. Estas últimas, por estarem previstas em diploma normativo específico 
(Decreto-Lei 3.688/1941), são objeto de estudo da Legislação Penal Especial ou Extravagante. Por isso, aqui 
não abordaremos de forma minuciosa as infrações penais, que serão estudadas juntamente com as demais 
leis penais especiais. Cumpre, entretanto, entendermos a diferença entre os institutos. 
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O sistema adotado no Brasil foi o dualista ou binário, com previsão de duas espécies de infração penal, o 
crime (ou delito) e a contravenção penal (delito liliputiano, crime vagabundo ou crime-anão). A diferença 
entre ambos é de grau, ou seja, de escolha do legislador quanto à gravidade da conduta, de juízo de valor 
(axiológica). Não há diferenciação de natureza entre ambas as infrações penais, ou seja, não há 
diversificação de cunho ontológico. 
 E qual a diferença entre ambas as espécies de infração penal? 
As diferenças são de opção legislativa, como dito. 
A primeira delas já foi destacada acima e se tornou questionável com o advento da Lei 11.343/2006 e, 
depois, com a aprovação a Lei 12.288/2010 (alteradora da lei de crimes de racismo). É a previsão de que 
crime é a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, com cominação cumulativa ou 
alternativa com pena de multa. Por sua vez, a contravenção penal é a infração penal a que a lei comina, 
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas,seja de forma alternativa ou de forma 
cumulativa. Como já visto, com a previsão do porte de drogas para consumo próprio, no artigo 28 da Lei de 
Drogas, essa diferenciação restou questionada, sendo que, para alguns, passou a ser relativizada. Isto 
porque referida infração penal está no capítulo denominado “Dos Crimes e das Penas”, sendo que as penas 
cominadas são “advertência sobre os efeitos das drogas; prestação de serviços à comunidade e medida 
educativa de comparecimento a programa ou curso educativo”. Ou seja, não há previsão de pena de 
reclusão nem de detenção, nem de forma alternativa, apesar de o título da norma denominar a figura como 
um crime. Portanto, cuida-se de questão controversa, atualmente, referido critério legal para destacar o 
que é crime e o que é contravenção. 
Avançando na diferenciação, no caso dos crimes, é possível a punição da tentativa, em regra, conforme 
prevê o artigo 14, II, do Código Penal. A Lei das Contravenções Penais, por sua vez, em seu artigo 4º, dispõe 
não ser punível a tentativa de referida espécie de infração penal. Deste modo, por expressa disposição legal, 
não é punível a tentativa de contravenção penal. 
No que se refere à extraterritorialidade, a lei penal brasileira pode ser aplicada a crimes ocorridos fora do 
território nacional, como já visto na primeira aula. Por sua vez, as contravenções penais só são puníveis se 
praticadas no território brasileiro, por força do artigo 2º do Decreto-Lei 3.688/1941. 
Quanto ao limite das penas, o artigo 30 do Código Penal, com a redação dada pela Lei 13.964/2019, prevê, 
para os crimes, o máximo de 40 anos, enquanto a Lei das Contravenções Penais estipula, em seu artigo 10, 
o limite de 5 anos de prisão simples. 
No que se refere à ação penal, os crimes podem ser punidos por meio de ação penal pública condicionada, 
ação penal pública incondicionada e ação penal privada. A persecução penal das contravenções, por sua vez, 
é instrumentalizada por ação penal pública incondicionada, nos termos do artigo 17 da Lei das 
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Contravenções Penais. Referido artigo fala que a autoridade deve atuar de ofício. Frise-se, entretanto, que 
após a Constituição de 1988, não é mais possível o início de referida ação penal de ofício, sendo 
imprescindível a iniciativa do Ministério Público. 
Há, ainda, outras diferenças entre crimes e contravenções penais, como o período de prova do sursis (crime: 
2 a 4 anos ou 4 a 6 anos; contravenção: 1 a 3 anos); possibilidade de confisco apenas para os crimes 
(entendimento de parte da doutrina, há divergências); julgamento das contravenções penais sempre pela 
Justiça Estadual, ressalvado apenas o foro por prerrogativa de função, sendo que os crimes que afetam os 
interesses e serviços da União são federais; não cabimento de prisão preventiva (falta de previsão no artigo 
313 do CPP) e de prisão temporária (ausência no rol do artigo 1º, inciso III, da Lei 7.960/89) para as 
contravenções penais, prisões processuais que são cabíveis apenas para os crimes. 
Vejamos um esquema com as principais diferenças entre crimes e contravenções penais: 
 
Diferenças Crimes Contravenções Penais 
PENAS 
Reclusão ou detenção com 
aplicação cumulativa ou alternativa 
com pena de multa (exceções: art. 
28 da Lei 11.343/06 e art. 4º, § 2º 
da Lei 7.716/89?) 
Prisão simples com cominação 
alternativa ou cumulativa com 
pena de multa 
TENTATIVA Punível Impunível 
EXTRATERRITORIALIDADE Prevista Não prevista 
LIMITE DAS PENAS 40 anos 5 anos 
AÇÃO PENAL 
Ação penal pública condicionada, 
ação penal pública incondicionada 
ou ação penal privada. 
Ação penal pública 
incondicionada 
 
Vejamos, agora, outras formas de se conceituar crime que, a despeito de aplicáveis também às 
contravenções penais, serão vistas no tocante àquela espécie de infração penal. Isto porque, como dito, as 
contravenções penais devem ser estudadas com a Legislação Penal Especial (ou Extravagante). Neste Curso, 
estudaremos, após a análise da Parte Geral do Código Penal, apenas os crimes em espécie previstos na sua 
Parte Especial. 
Quanto ao seu conceito material, crime é a conduta humana contrária aos interesses sociais, representando 
lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, tornando necessária a imposição de sanção penal. 
Analisando o seu conceito formal, crime é toda conduta vedada pela lei, sob a ameaça de pena. Neste 
critério, considera-se a opção do legislador. Aquilo que o Congresso Nacional decide ser crime, aprovando 
lei neste sentido, é o que se pode ter como conduta criminosa. 
Entretanto, a forma de se conceituar o crime mais usual na doutrina do Direito Penal, por sua importância 
científica e didática, é a analítica. É assim denominada porque se analisa o crime por meio de seus 
substratos, os elementos que devem estar presentes para a configuração do delito. Para se definir o 
conceito analítico do crime, temos diferentes teorias, a serem estudadas no próximo item. Entretanto, já 
adiantamos que, para a corrente dominante, crime é o fato típico, antijurídico (ilícito) e culpável. Percebam 
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que, para esta conceituação, há a previsão dos substratos do crime, como o “fato típico”, a “ilicitude” (ou 
“antijuridicidade”) e a culpabilidade. 
 
2.1 CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME: TEORIAS 
Como já dito, o conceito analítico de crime é definido de formas diversas pelos doutrinadores, a depender 
da corrente que se adote. Os elementos que podem ser selecionados para a conceituação, conforme a teoria 
que se adote, são o fato típico, a antijuridicidade ou ilicitude, a culpabilidade e a punibilidade. Cabe uma 
análise introdutória sobre esses elementos, com a ressalva de que serão estudados pormenorizadamente 
no decorrer do curso: 
 
 Fato Típico: é a ação, ou conduta, que se amolda àquilo que a hipótese de incidência prevê. Isto é, é 
a ação ou omissão do agente que se encaixa naquilo que dispõe a norma penal, aquela que estipula 
o que é o tipo penal. Ademais, caso haja resultado naturalístico (modificação no mundo real), é 
necessário que se constate um nexo ou um vínculo causal entre ele e a conduta praticada. 
 
 Ilicitude ou antijuridicidade: é a contrariedade da conduta em relação ao ordenamento jurídico. 
Cuida-se da ilegalidade do ato. Não basta que o agente tenha praticado a conduta que se amolda ao 
tipo penal. Para haver crime, é imprescindível que tal conduta contrarie o que o Direito dispõe. Como 
exemplo, não há ilicitude se o indivíduo assim agiu em legítima defesa. 
 
 Culpabilidade: é a possibilidade de se atribuir a conduta praticada, bem como seu resultado, ao seu 
autor, com um juízo de censura. Cuida-se da análise da conduta realizada sob o ponto de vista da 
reprovação. Não é censurável, por exemplo, a conduta de quem age por estar embriagado, 
embriaguez que seja completa e decorrente de caso fortuito ou força maior. Ainda que a conduta 
seja típica e ilícita, a situação de embriaguez completa involuntária afasta a censurabilidade da ação 
humana. No caso de haver fato típico e ilícito, há uma conduta contrária ao ordenamento jurídico, 
sendo que a ausência de culpabilidade apenas faz com que o autor não seja punível por ausência de 
reprovabilidade. No entanto, uma atuação típica e ilícita pode ensejar, por exemplo, a legítima 
defesa de um terceiro, já que, mesmo que não seja reprovável (ausência de culpabilidade), o fato 
típico e ilícito demonstra que o agente atua de forma oposta às normas de conduta previstas pelo 
Estado. 
 
 Punibilidade: este substrato diz respeito à possibilidade de o Estado aplicar ao sujeito ativo a sanção 
penal prevista para a conduta típica praticada. Há vários fatores que extinguem a punibilidade, como 
a morte do agente ou a prescrição. 
 
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Neste ponto, tomando como possíveis substratos do crime o fato típico, a ilicitude, a culpabilidade e a 
punibilidade, a divergência repousará em quais desses elementos devem estar presentes para se 
compreender que há a ocorrência de crime em determinado caso. Vejamos: 
 
 Teoria bipartida1 (brasileira): crime é o fato típico e antijurídico (ou ilícito). Cuida-se de concepção 
que se aponta ter surgido com o finalismo, teoria da conduta a ser estudada nesta mesma aula. 
Dentre os substratos com que a teoria do crime trabalha (“fato típico”, “antijuridicidade”, 
“culpabilidade” e “punibilidade”), o causalismo entendia que o dolo ou a culpa ocupavam o substrato 
da culpabilidade, o que fazia com que esse elemento fosse imprescindível para a formação do que 
se entende por crime. 
Com o advento do finalismo, a culpa em sentido amplo (abrangendo o dolo e a culpa em sentido 
estrito) deixou de integrar a culpabilidade, passando a fazer parte do fato típico. Com isso, parte da 
doutrina passou a entender que crime é o fato típico e antijurídico. E a culpabilidade? Passou a ser 
mero pressuposto da pena, ou seja, requisito indispensável para que se aplique a sanção penal, mas 
não para que exista um crime. 
Para tal entendimento, existindo um fato típico e ilícito, teremos um crime. 
Consoante entendem os doutrinadores que defendem essa corrente, a culpabilidade não tem 
nenhum elemento que interessa à definição do crime, já que o finalismo retirou da culpabilidade a 
culpa em sentido amplo (dolo ou culpa stricto sensu). 
Analisa-se, apenas para fins de aplicação da sanção penal, se existe a culpabilidade, exigível para 
imposição de pena, ou a periculosidade do agente, que deve existir para aplicação da medida de 
segurança. 
Muitos penalistas ainda entendem que o Código Penal adotou essa concepção. Ela melhor explicaria 
que basta o fato típico e ilícito para punição do autor. Além disso, justificaria de forma adequada por 
que o Código se refere a isenção de pena nos casos de excludentes de culpabilidade – haveria crime 
(fato típico e ilícito), mas, por falta de culpabilidade (pressuposto de pena), o agente seria isento da 
sanção penal (veja os artigos 21 e 26 do CP). 
O seu maior expoente é o Professor Damásio de Jesus. 
 
 Teoria tripartida: crime é o fato típico, antijurídico (ou ilícito) e culpável. Cuida-se de concepção do 
crime adotada pelas teorias causalista e neokantista da conduta, assim como por grande parte dos 
partidários da teoria finalista. É a corrente que prevalece atualmente na doutrina brasileira. 
Compreende-se como crime a ação ou omissão que consista em um fato típico, que se apresente 
como ilícito e que enseje um juízo de reprovabilidade. Com essa compreensão, a censurabilidade da 
conduta pratica faz parte da definição do delito, sendo imprescindível para sua configuração. 
Cuida-se de concepção compatível tanto com o causalismo (concepção clássica da conduta) quando 
com o finalismo. 
É adotada na obra de Nelson Hungria, Heleno Fragoso, Guilherme Nucci e Engenio Raúl Zaffaroni. 
 
 
1 A teoria bipartida aqui tratada não é a mais antiga, de origem europeia (crime é o injusto culpável). Tratamos aqui da teoria 
bipartida brasileira, concebida pelo Professor Damásio de Jesus (crime é fato típico e ilícito). 
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 Teoria quadripartida: crime é o fato típico, antijurídico (ou ilícito), culpável e punível. Para esta 
concepção de crime, todos os substratos devem estar presentes para configuração do crime. Deste 
modo, só é crime a conduta típica, ilícita, com agente culpável e que seja punível. 
Seus críticos apontam que a extinção da punibilidade, como por exemplo pela ocorrência de 
prescrição, faria desaparecer o crime, o que seria incongruente. A simples perda do direito de punir 
pelo Estado, por exemplo, pelo decurso do prazo máximo previsto para sua persecução, faria com 
que se não pudesse falar em crime. 
Pouco difundida e aceita no nosso país, foi adotada por doutrinadores como Hassemer e Battaglini, 
no exterior, bem como pelo brasileiro Basileu Garcia. 
 
O quadro seguinte resume essa diferenciação, demonstrando quais das estruturas (fato típico, antijurídico, 
culpável e punível) são consideradas como elementos do crime e pressupostos da pena, de acordo com a 
teoria. Por exemplo, no caso da teoria bipartida (primeira linha), são elementos do crime o fato típico e a 
antijuridicidade, enquanto culpabilidade e punibilidade são pressupostos da pena: 
 
 
 
A relação entre finalismo e causalismo e a teoria bipartida de Damásio de Jesus e a teoria tripartida serão 
analisados de forma mais detida. 
No causalismo, ou seja, segundo a teoria clássica da ação, o dolo e a culpa são modalidades de culpabilidade. 
Por isso, não há como conceber crime sem culpabilidade – caso se exclua a culpabilidade do conceito do 
crime, teríamos um crime sem dolo nem culpa! O crime seria cometido sem qualquer análise do elemento 
subjetivo presente na conduta do agente, ou, como analisariam os causalistas, sem o vínculo psicológico do 
agente em relação à sua atuação. Por isso, os causalistas não poderiam adotar a teoria bipartida brasileira. 
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Com o surgimento do finalismo, na concepção de Hans Welzel, passou-se a conceber que dolo e culpa 
integram a própria conduta e, assim, fazem parte do fato típico. Por isso, a culpabilidade passou a ser 
concebida em um âmbito normativo. Para Welzel, crime é fato típico, ilícito e culpável (concepção 
tripartida). Entretanto, a partir daí, foi pavimentado o caminho para que o brasileiro Damásio de Jesus 
defendesse que a culpabilidade não integra o crime. Isto porque, sendo a culpabilidade o juízo de 
reprovação, a exclusão deste substrato do crime não retira do crime seu elemento subjetivo (como ocorreria 
na concepção clássica, no causalismo). 
Por isso, tornou-se possível, com o finalismo, defender que a culpabilidade não pertence ao conceito de 
crime, surgindo a teoria bipartida brasileira (crime é fato típico e ilícito). Entretanto, vários finalistas, como 
o próprio Welzel, defendem a concepção tripartida (crime é fato típico, ilícito e culpável). O finalismo 
permitiu essa divergência brasileira. Essa a relação entre o finalismo e a concepção bipartida surgida no 
Brasil. 
 
 
 
Como dito, a teoria tripartida prevalece, razão pela qual cabe analisá-la no próximo tópico. 
 
2.2 – CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME E A TEORIA TRIPARTIDA 
Segundo a teoria tripartida, crime é o fato típico, antijurídico e culpável. É a concepção que prevalece na 
doutrina e na jurisprudência pátria, razão pela qual é interessante visualizar e memorizar a estrutura de seu 
conceito analítico: 
 
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Como já dito, cuida-se de teoria que se compatibiliza tanto com a teoria causal da conduta quanto com a 
teoria finalista, que passou a prevalecer no Direito Penal. Também se compatibiliza com a teoria 
neokantista, de base causalista. Para a concepção tripartida, só é crime o fato típico, ilícito e culpável. A 
punibilidade é pressuposto para aplicação da pena, não fazendo parte da conceituação de infração penal. 
Portanto, são elementos do crime: fato típico, ilicitude e culpabilidade. 
É pressuposto de pena a punibilidade. 
 
3. SUJEITOS DO CRIME 
O Direito visa a regular a vida em sociedade, sendo objeto do Direito Penal o estudo das infrações penais e 
suas respectivas sanções, as quais visam a tutelar os bens jurídicos mais importantes para o convívio social. 
Interessa a este ramo do Direito a conduta humana, que, como será visto adiante, possuisempre uma 
finalidade. É, portanto, a conduta humana finalística e voluntária que interessa para a configuração das 
infrações penais. 
Excluem-se do âmbito de estudo da disciplina as ações praticadas pelos animais, salvo, claramente, se forem 
utilizados como instrumentos da conduta humana, como no caso do sujeito que solta seu cachorro e o 
comanda para que ataque seu desafeto. Também não interessam ao estudo do crime as forças da natureza 
ou as tidas como de origem divina, como nas fases embrionárias do Direito Penal moderno. 
Portanto, é a conduta humana que deve merecer atenção do jurista na análise criminalista. Por isso, sujeito 
do crime é o ser humano. Neste ponto, discute-se, de forma mais recente, a possibilidade de a pessoa 
jurídica figurar também como sujeito do crime, o que veremos neste item. 
Ademais, o estudo dos sujeitos do crime abrange a questão de quem sofre a ação ou omissão criminosa. 
Temos, em um primeiro plano, o Estado, a quem interessa a observância de suas normas. Ademais, há a 
vítima, o indivíduo que sofre diretamente com a conduta criminosa. 
Vejamos os sujeitos do crime de forma particularizada. 
 
3.1 – SUJEITO ATIVO 
Sujeito ativo é a pessoa que pratica a conduta prevista na norma penal. Por exemplo, no caso do crime de 
homicídio, o crime é “matar alguém”. Logo, sujeito ativo é aquele que mata alguém. Cuida-se, portanto, da 
pessoa que pratica a conduta típica prevista em lei. 
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Entretanto, cabe enfatizar que o sujeito pode atuar de forma isolada ou em concurso com outros agentes. 
É sujeito ativo do delito tanto autor (que pratica o núcleo do tipo) quanto o partícipe (que induz, instiga 
ou auxilia). A diferenciação entre autor e partícipe é matéria a ser estudada quando formos abordar o 
Concurso de Pessoas, mais à frente. 
De todo modo, para a doutrina que prevalece, autor é aquele que pratica a conduta prevista no tipo penal, 
que executa o núcleo do tipo (o verbo que reflete a conduta punível pela norma). Partícipe, por sua vez, é o 
indivíduo que auxilia, instiga ou induz outrem a praticar a conduta típica. Pode haver mais de um autor no 
que se refere ao mesmo crime, caso denominado de coautoria. 
Já sabemos que o sujeito ativo é o homem, no sentido de ser humano. 
Mas, além de pessoa física ou natural, é possível que a pessoa jurídica seja sujeito ativo de um crime? 
Vejamos a seguir. 
 
3.2 – PESSOA JURÍDICA COMO SUJEITO ATIVO 
Importante assunto no estudo dos sujeitos do crime é a possibilidade de a pessoa jurídica figurar como 
autora de delito. Essa discussão ganhou contornos mais relevantes com a Constituição de 1988, que prevê, 
no seu artigo 225, § 3º, o seguinte: 
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas 
físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar 
os danos causados. 
Da redação deste dispositivo, surgiu a celeuma. Parte dos doutrinadores passou a entender que a pessoa 
jurídica deve responder pelos crimes que praticar, entendendo que a Constituição prevê, na norma acima 
transcrita, um mandado de criminalização no que se refere às atividades lesivas ao Meio Ambiente. Referida 
ordem constitucional, dirigida ao legislador, determinaria a punição, na seara criminal, tanto das pessoas 
naturais quanto das jurídicas, por se prever a sujeição a sanções penais em relação a umas e outras, 
indistintamente. 
Por outro lado, outra parte da doutrina continuou entendendo inconciliável a teoria do crime com a pessoa 
jurídica como sujeito ativo. Em razão de a conduta criminosa envolver conceitos como dolo ou culpa, 
culpabilidade e conduta voluntária, entende-se não ser possível conciliar a responsabilização criminal com 
a cominação de sanção a uma sociedade empresária, por exemplo. A leitura que essa corrente faz da 
Constituição é que se determina sim a punição dos responsáveis por lesão ao Meio Ambiente, mas a previsão 
de sanções civis, penais e administrativas, aplicáveis às pessoas físicas e jurídicas, deve ser interpretada de 
acordo com a sua compatibilidade. Deste modo, para as pessoas jurídicas se reservariam tão somente as 
sanções civis e administrativas, mas não as penais. 
A divergência não possui solução no âmbito doutrinário. Antes de analisarmos como a jurisprudência tem 
tratado o tema, vamos analisar as teorias sobre a pessoa jurídica como sujeito ativo de crimes: 
 Teoria da ficção: A pessoa jurídica é uma ficção jurídica, de modo que sua existência é irreal. Por sua 
existência não ser real, a pessoa jurídica não possui consciência, vontade nem finalidade. Não há 
como se configurar a sua culpabilidade, já que não se lhe pode imputar alguma conduta, nem se falar 
em potencial consciência da ilicitude. As decisões da pessoa jurídica na verdade são vontade livre e 
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consciente de seus sócios ou diretores, de modo que o crime seria cometido por estes, não pela 
pessoa jurídica. Essa corrente possui base no aforismo romano societas delinquere non potest, ou 
seja, pessoa jurídica não pode delinquir. 
Ademais, argumenta-se que a pena imputada à pessoa jurídica violaria o princípio da pessoalidade 
da pena, já que poderia afetar, inclusive, os sócios minoritários, que podem não ter sido favoráveis 
à conduta que ensejou a condenação da sociedade empresária. A própria pena falharia em sua 
função preventiva especial ou retributiva, já que não se poderia falar em se coibir a pessoa jurídica 
de praticar novos delitos (função preventiva especial), já que os sócios e diretores podem se alterar 
com o passar do tempo, por exemplo, além de a pessoa jurídica não possuir temor em relação à 
prática delituosa, pelo próprio fato de não ter consciência ou vontade próprias. 
Teve como precursor o renomado autor Friedrich Carl von Savigny. 
 
 Teoria da realidade: A pessoa jurídica possui vontade própria, além de apresentar capacidade. Ela 
se torna, com sua criação, uma entidade existente no mundo real e, por isso, possui capacidade de 
cometer delitos. Argumenta-se que a vontade da pessoa jurídica se diferencia da dos seus membros, 
individualmente considerados. Assim, em uma votação, um sócio fica vencido e na outra, seu voto é 
o vencedor; o que demonstra a diferença entre a vontade de ambos: pessoa jurídica e seu sócio. A 
culpabilidade da pessoa jurídica se basearia na exigibilidade de conduta diversa, sendo possível se 
pensar no que se pode exigir, naquelas circunstâncias, como conduta de uma sociedade empresária. 
Por fim, a pena respeitaria o princípio da intranscendência, já que os efeitos sobre os sócios são 
financeiros. Tais efeitos, indiretos, seriam os mesmos que ocorrem com relação aos filhos menores 
de um indivíduo condenado à pena privativa de liberdade. Apesar de a pena não se estender a outras 
pessoas, ela possui consequências inevitáveis, que atingem terceiros inocentes de forma indireta, 
como a esposa que se vê sem o auxílio do marido, recolhido ao cárcere, para sustento da família. 
Esta concepção foi defendida pelo jurista Otto Gierke. 
 
 Teoria eclética: busca conciliar as duas correntes anteriores. Defende-se que às pessoas jurídicas 
devem ser aplicadas sanções administrativas, quase penais. 
Dentre seus defensores, podemos citar Winfried Hassemer. 
Feitos os breves comentários sobre os posicionamentos doutrinários, cabe analisar como o Poder Judiciário 
vem tratando o tema. 
Com relação ao STJ, o entendimento que foi adotado anteriormente era de que só era possível a 
responsabilização penal da pessoa jurídica por crime de forma conjunta com uma pessoa física. Cuida-se da 
chamada teoria da dupla imputação, que só entendia cabível a responsabilidade criminal de uma pessoa 
jurídica se houvesse, de forma concomitante, a denúnciae a punição da pessoa física responsável pelo ato. 
Referida teoria não é adotada atualmente pelas Cortes Superiores, segundo os precedentes mais recentes. 
Posteriormente, o STJ passou a entender possível a punição da pessoa jurídica, no âmbito penal, por crimes 
ambientais, independentemente da responsabilização da pessoa física. Este é também o entendimento do 
Supremo Tribunal Federal, vejamos: 
“(...) IMPUTAÇÃO CONCOMITANTE DO DELITO A UMA PESSOA NATURAL. DESNECESSIDADE. (...) 
2. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, na assentada de 06/08/2013, por ocasião do 
julgamento do RE 548.181/PR, de relatoria da em. Ministra Rosa Weber, decidiu que a exigência 
relativa à imputação concomitante do delito ambiental a pessoa natural para o fim de 
responsabilizar a pessoa jurídica importa indevida restrição ao comando estampado no art. 225, 
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§ 3º, da Carta Política, que, ao permitir a imputação desses delitos às empresas, intencionou fazer 
frente às dificuldades de individualização dos agentes internamente responsáveis pelas condutas 
nocivas cometidas pelas coorporações societárias. 3. Agravo regimental não provido.” (STJ, AgRg 
nos EDcl no RMS 43817/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Quinta Turma, DJe 18/09/2015). 
 
“(...) 3. Embora em um primeiro momento o elemento volitivo necessário para a configuração de 
uma conduta delituosa tenha sido considerado o óbice à responsabilização criminal da pessoa 
jurídica, é certo que nos dias atuais esta é expressamente admitida, conforme preceitua, por 
exemplo, o artigo 225, § 3º, da Constituição Federal. (...)” (STJ, AgRg no HC 508036/SC, Rel. Min. 
Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 04/06/2019). 
 
“EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE 
PENAL DA PESSOA JURÍDICA. CONDICIONAMENTO DA AÇÃO PENAL À IDENTIFICAÇÃO E À 
PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA PESSOA FÍSICA QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NA 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a 
responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal 
da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a 
necessária dupla imputação. 2. As organizações corporativas complexas da atualidade se 
caracterizam pela descentralização e distribuição de atribuições e responsabilidades, sendo 
inerentes, a esta realidade, as dificuldades para imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3. 
Condicionar a aplicação do art. 225, §3º, da Carta Política a uma concreta imputação também a 
pessoa física implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a intenção do constituinte 
originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas também de evitar a 
impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização dos 
responsáveis internamente às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental. 4. 
A identificação dos setores e agentes internos da empresa determinantes da produção do fato ilícito 
tem relevância e deve ser buscada no caso concreto como forma de esclarecer se esses indivíduos 
ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de suas atribuições internas à sociedade, e 
ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em benefício da entidade coletiva. Tal 
esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado delito à pessoa jurídica, não se 
confunde, todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa jurídica à responsabilização 
conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em não raras oportunidades, as 
responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou parcializadas de tal modo que não 
permitirão a imputação de responsabilidade penal individual. 5. Recurso Extraordinário 
parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido.” (STF, RE 548181/PR, Rel. Min. Rosa Weber, 
Primeira Turma, Julgamento em 06/08/2013). 
 
Portanto, tem prevalecido nas Cortes Superiores que é possível a responsabilização penal da pessoa 
jurídica. Ademais, não se exige a dupla imputação, sendo possível que a pessoa jurídica seja condenada 
sem que haja a concomitante imputação de conduta a uma pessoa natural. 
 
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3.3 – SUJEITO PASSIVO 
Sujeito passivo é aquele que sofre as consequências do delito, aquele sobre o qual recai a ação criminosa. A 
doutrina divide o sujeito passivo em duas categorias: 
 
a) Formal, corrente, constante ou geral: o Estado. Como o ente que estabelece as normas jurídicas e 
possui a titularidade do poder de punir, todo delito representa uma afronta ao Estado. Portanto, ele 
é sujeito passivo formal de todas as infrações criminais, possuindo essa posição de forma constante. 
 
b) Material, eventual, acidental ou particular: é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado de lesão. 
Além do sujeito passivo formal (o Estado), é possível que haja um indivíduo ou uma pessoa jurídica 
que sofre as consequências do delito. No estupro, é a pessoa natural que tem sua dignidade sexual 
violada. No roubo, aquele que possui o patrimônio violado, bem como aquele que sofre a violência 
ou grave ameaça, caso não seja o próprio titular do patrimônio lesado. Pode figurar como sujeito 
passivo material do delito a pessoa natural e, em alguns casos, também a pessoa jurídica. O morto 
não pode ser sujeito passivo de infração penal, sendo que, no caso dos crimes contra o respeito aos 
mortos, tutela-se a família do morto ou a coletividade. 
 
Caso não se exija qualidade específica do sujeito passivo material, a doutrina o classifica como comum. É o 
caso do furto, sendo que qualquer pessoa pode figurar como sujeito passivo do crime. 
Se for exigida qualidade específica do sujeito passivo material, diz-se que ele é próprio. É o caso do crime 
de maus-tratos, que só pode ser praticado contra “pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim 
de educação, ensino, tratamento ou custódia”. 
 
Por fim, resta a seguinte dúvida: é possível que alguém figure como sujeito ativo e passivo do delito ao 
mesmo tempo? 
a) 1ª posição: é possível que o indivíduo seja, concomitantemente, sujeito ativo e passivo do delito. O 
exemplo seria o crime de rixa, em que o rixento é, ao mesmo tempo, sujeito ativo e passivo do delito, 
quando efetua agressão e é agredido na mesma ocasião. É posição de Rogério Greco. 
 
b) 2ª posição: não é possível que o indivíduo seja sujeito passivo e ativo o crime. Devemos, aqui, 
relembrar o estudo do princípio da alteridade, que preconiza que só se pode punir a conduta que 
ultrapassa a esfera jurídica de disponibilidade da pessoa. Assim, não se pune a autolesão, salvo no 
caso de fraude para recebimento de indenização ou valor do seguro, previsto no artigo 171, § 2º, do 
Código Penal, caso em que há uma lesão ao patrimônio de outrem. Entretanto, não se criminaliza, 
por si só, a lesão praticada contra si próprio. No caso da rixa, o sujeito, que ao mesmo tempo é 
agredido e agressor, pode ser sujeito ativo e passivo. Entretanto, é sujeito ativo das agressões que 
praticar e sujeito passivo das lesões que sofrer de terceiros, não de forma concomitante e em relação 
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a uma mesma ação ou omissão. Essa posição prevalece na doutrina, sendo defendida, dentre outros, 
dentre outros, por Julio Fabbrini Mirabete, Renato N. Fabbrini2 e Rogério Sanches Cunha3. 
 
4. OBJETO DO CRIME 
Objeto do crime é aquilo contra o que se volta a conduta do sujeito ativo da infração penal. É qualquer coisa, 
pessoa ou bem jurídico sobre o qual recai a atividade criminosa e que sofre seus efeitos. Pode ser material 
ou jurídico: 
 
a) Objeto material: é a pessoa ou coisa contra a qual é praticadaa infração penal. 
Por exemplo, no caso do homicídio, o objeto material é a vítima, a pessoa que é assassinada. 
 
b) Objeto jurídico: é o bem jurídico tutelado pela norma penal. 
Utilizando o exemplo do homicídio, o objeto jurídico é a vida, que é o bem jurídico que se tutela e se visa 
a preservar pela criminalização da conduta. 
 
Em virtude do objeto jurídico, os crimes classificam-se em mono-ofensivos e pluriofensivos. 
Crime mono-ofensivo é aquele que só possui um objeto jurídico. É o caso do homicídio, já citado, cujo objeto 
é a vida. Também é o caso do furto, que busca tutelar o bem jurídico patrimônio. 
Crime pluriofensivo é o delito cuja previsão busca tutelar mais de um bem jurídico. Exemplo é o crime de 
roubo, que tutela a liberdade individual (ou a integridade física) e o patrimônio. Outro exemplo é o crime 
de latrocínio, cujos objetos jurídicos são a vida e o patrimônio. 
Não há crime sem objeto jurídico. 
É impossível que haja crime sem objeto jurídico. Conforme já estudamos, na aula sobre princípios, o 
princípio da ofensividade ou da lesividade preconiza que não pode haver crime sem que haja conteúdo 
ofensivo a bens jurídicos. A repressão penal, portanto, só se justifica se houver lesão ou ameaça de lesão a 
um bem jurídico. Por isso, toda infração penal necessariamente possui um objeto jurídico (mono-ofensivo) 
ou até mesmo mais de um (pluriofensivo). Entretanto, sempre deve haver objeto jurídico para que haja uma 
infração penal. 
Com relação ao objeto material, é possível que haja crime sem ele: 
Existem crimes sem objeto material. 
 
2 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N.Cezar Roberto. Manual de direito penal, Volume I. 32ª ed. São Paulo: Atlas, 2016, 
p. 111. 
3 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal, volume único. 8ª ed. Salvador: JusPODIVM, 2020, p. 217. 
 
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Há crimes cuja conduta não recai diretamente sobre uma vítima nem sobre uma coisa. Podemos pensar, 
como exemplos, nos crimes de ato obsceno e de falso testemunho, que, portanto, não possuem objeto 
material. 
E se o crime apresentar objeto material, mas, no caso concreto, houver sua impropriedade absoluta? 
Neste caso, teremos a hipótese de crime impossível ou quase-crime, como estudaremos adiante. Exemplo 
é o caso do sujeito que, buscando matar seu desafeto, vai até sua casa e o encontra deitado. Desfere vários 
tiros contra ele e parte em seguida. Ocorre que seu inimigo havia sofrido um ataque cardíaco e não dormia, 
mas já estava morto. Crime de homicídio não haverá, pois o objeto material (“alguém” – pessoa viva) não 
havia, por impropriedade absoluta. 
Bem jurídico: constitui-se, na linha do que preleciona Roxin, circunstância da realidade ou uma 
finalidade necessária para uma vida segura e livre, garantindo-se os direitos fundamentais de 
cada um ou o funcionamento do sistema estatal que se volta a estes objetivos4. 
O jurista Nilo Batista5 chama a atenção de que surgiu a importância do conceito de bem 
jurídico na primeira metade do século XX, a partir da contestação do crime como ofensa de 
um direito subjetivo. Surge a concepção, então mais acolhida, de Birnbaum, de crime como 
ofensa a bens, o que fomentou a discussão de várias teorias sobre o bem jurídico atingido pela conduta 
delitiva. 
Aponta a doutrina, ainda, um chamado substrato subjetivo do bem jurídico, que consiste no interesse que 
determinado bem da vida (bem existencial) possui para o ser humano. É este vínculo, esta relação social, 
que deve ser valorada pelo legislador para que ele seja selecionado como bem jurídico. Com base no 
princípio da intervenção mínima, uma norma criminal só deve ser utilizada quando os outros ramos do 
Direito não forem suficientes para tutela daquele interesse social. O Direito Penal, fragmentário, só deve 
tutelar os bens jurídicos mais relevantes para a sociedade. Quando, feita tal valoração, conclui-se que o bem 
jurídico deve ser tutelado por uma norma de Direito Penal e passa-se a denominá-lo bem jurídico penal. 
Com a força normativa da Constituição e a supremacia das normas constitucionais sobre as demais normas 
do ordenamento jurídico, passou-se a entender que o Direito Penal deve ser compatível com as normas 
constitucionais para que sejam válidas. 
Dentre deste âmbito, uma teoria mais rígida passou a preconizar que só os bens jurídicos tutelados 
diretamente no texto constitucional poderiam ser objeto de tutela penal. De outro turno, uma teoria 
genérica ou flexível, que acabou prevalecendo sobre a outra, passou a defender que a Constituição possui 
uma função orientadora, permitindo a tutela dos bens jurídicos que não sejam incompatíveis com seus 
princípios e regras. 
A função da teoria do bem jurídico, portanto, se liga ao princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos 
(que, para alguns, é outra denominação do princípio da fragmentariedade). A teoria do bem jurídico 
apresenta, desde modo, um limite ou uma baliza ao Direito Penal, vedando a criminalização de 
determinadas condutas, como aquelas que violem a moral ou os costumes de alguém. Serve como limite 
ao legislador, que deve se atentar à proteção dos bens jurídicos como fundamento necessário para a 
incriminação das condutas. 
 
4 ROXIN, Claus. A proteção de bens jurídicos como função do Direito Penal. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2018, p. 18-19. 
5 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. 12 ed. Rio de janeiro: Revan, 2011. p. 92. 
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Podemos apontar, segundo Luiz Flávio Gomes, dois limites importantes: 
 De natureza indicativa: só os bens jurídicos que sejam indispensáveis para o desenvolvimento do 
ser humano devem ser tutelados pelo Direito Penal; 
 De caráter negativo: enseja a possibilidade de afirmar, com uma boa margem de segurança, os bens 
jurídicos que não devem ser objeto de tutela penal, como a moralidade, a ética, a ideologia, as 
crenças religiosas etc. 
É a teoria do bem jurídico que orienta a fragmentariedade do Direito Penal, possibilitando a seleção dos 
bens jurídicos mais relevantes, aqueles que serão objeto de tutela penal por serem imprescindíveis para a 
vida em sociedade. 
Claus Roxin aponta que alguns autores não entendem que o Direito Penal deva se limitar a atuar no caso 
de lesões a bens jurídicos6. É o caso de Hirsch, que entende não existir um conceito de bem jurídico 
predeterminado, que vincule o legislador. Por sua vez, Günther Jakobs defende que a função do Direito 
Penal, como sistema autopoiético, é de garantir a validade da norma, ou seja, confirmar a sua vigência. Ele 
entende que o crime é a negação da norma e que a pena é a resposta a esta negação. Isto é, a pena consiste 
na demonstração de que a negativa do autor (sobre a vigência da norma) não tem importância e a norma 
segue vigendo independentemente da sua conduta. 
O ilustre autor alemão, Roxin, entende que “as fronteiras da autorização de intervenção jurídico-penal 
devem resultar de uma função social do Direito Penal”, que consiste em garantir uma existência pacífica, 
livre e socialmente segura. Roxin menciona que os bens jurídicos podem sim ser criados pelo legislador, 
como é o caso da tutela da ordem tributária. Não restringe a sua concepção de bem jurídico a um conceito 
“pessoal”, individual. Entretanto, no caso de tutela de bens jurídicos da generalidade, ou seja, da sociedade 
como um todo, sua legitimidade depende de que referida tutela sirva definitivamente ao cidadão, de um 
modo particular. 
 
4.1 Teorias do Bem Jurídico 
 
Sobre as teorias do bem jurídico, utilizarei como base estudos da Profª Sheila Jorge Selim de Sales7. 
Teoria do direito subjetivo (metapositiva, transcendentalista ou jusnaturalista): a primeira teoria sobreo 
bem jurídico no âmbito do Direito Penal seria de Birnbaum. Considera que o bem jurídico deve ser 
considerado como um direito subjetivo e, além disso, que seja natural. Ou seja, é um bem material, tutelado 
pelo Direito Penal, seja coletivo ou individual. As críticas feitas ao jusnaturalismo se estendem a essa 
concepção, com a visão de que o bem jurídico é uma criação legislativa, não um fato existente por si mesmo. 
Teoria juspositiva ou imanentista: o bem jurídico deve ser analisado, no Direito Penal, do ponto de vista do 
direito positivo. É a posição de Binding. Deste modo, é interesse considerado relevante para a sociedade 
pelo legislador. Critica-se a concepção de que ao Direito Penal só caberia sancionar, sendo os bens jurídicos 
 
6 ROXIN, Claus. A proteção de bens jurídicos como função do Direito Penal. 2 ed. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2018, p. 
29-36. 
7 SALES, Sheila Jorge Selim de. Princípio da efetividade no direito penal e a importância de um conceito garantista do bem 
jurídico-penal. V. 95, nº848, p.416-437. 
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já protegidos por outros ramos. Além disso, há a observação de que haveria bens jurídicos cuja tutela é feita 
de forma exclusiva pela norma penal. 
Teoria substancial de Von Liszt: o bem jurídico não ser um bem do direito ou de ordem jurídica, mas, nos 
termos do jurista, “um bem do homem que o direito reconhece e protege”. Bem jurídico, assim, seria o 
interesse juridicamente protegido. Critica-se, aqui, a falta de indicação de critérios precisos para a seleção 
dos interesses a serem considerados bem jurídicos e, portanto, tutelados pela norma penal. 
Teoria materialista de Arturo Rocco: o objeto de estudo do Direito Penal é o direito posto, sem qualquer 
referência a elementos pré-jurídicos. Busca-se uma acepção para individualização do bem jurídico já 
protegido pelas normas penais vigentes, e não para seleção ou individuação dos bens a serem por elas 
tutelados. 
Teoria metodológica: representa certa ruptura com a função de garantia do bem jurídico, advinda das ideias 
iluministas. O bem jurídico é concebido como uma valoração das normas penais, relacionada ao seu escopo, 
ou seja, à finalidade da própria legislação. Antolisei, neste âmbito, defende ser uma forma segura de 
interpretação da lei a substituição da noção de objeto da tutela penal pela de escopo da norma. A crítica 
feita a esta concepção se volta ao positivismo puro, que faz depender da vontade do legislador a escolha do 
escopo da norma penal, sem qualquer discussão sobre a necessidade do instrumento penal. 
Teoria nacional-socialista da Escola de Kiel: houve praticamente uma aniquilação do conceito de bem 
jurídico, passando o fato punível a ser baseado na violação de dever, em atitude interna ou mesmo de 
infidelidade ao Estado. O conteúdo do crime seria absorvido pela ética. 
Teoria marxista: o objeto da tutela penal passa a ser a capacidade lesiva da conduta para a formação do 
Estado socialista. Assim como no nacional-socialismo, da extrema-direita, no marxismo há uma 
instrumentalização do Direito (superestrutura) para fins políticos. É crime a conduta infiel ao interesse do 
proletariado. 
Teorias constitucionalistas: buscam retomar a concepção do bem jurídico como garantia no âmbito do 
Direito Penal. Podemos destacar suas correntes principais: 
_concepção das fontes metajurídicas ou pré-positivas: posição de Hassemer, que defende que o Direito 
Penal deveria se voltar aos interesses e necessidades da sociedade, com atenção à realidade. Sales 
denomina tal concepção de “personalista” do bem jurídico, com uma orientação de política criminal volta 
ao ser humano. A danosidade social deve ser levada em conta, para além do conflito concreto entre sujeito 
ativo e sujeito passivo. A crítica feita a tal concepção baseia-se na falta de critérios para definição do bem 
jurídico, não apresentando limitação à escolha legislativa. 
_concepção da fonte constitucional: o bem jurídico a ser tutelado pela norma penal deve encontrar guarida 
na própria Constituição, já que esta garante a liberdade. Deste modo, em uma vertente mais rígida, só um 
valor tutelado e reconhecido pela norma constitucional pode acarretar a limitação a outro bem jurídico de 
igual relevância, dada a restrição da liberdade pelas sanções penais. Surgiram críticas por relegar ao Direito 
Penal o papel meramente sancionar, não protegendo bens jurídicos por si mesmo, bem como em razão do 
engessamento de referido ramo jurídico, já que não se poderia tutelar bens jurídicos reconhecidos 
posteriormente ou com necessidade de tutela decorrentes de novas tecnologias criminais. 
Surgiu, ainda, uma vertente temperada, alargada, defendida por Roxin, de que o Direito Penal pode ter 
como bens jurídicos não só os protegidos diretamente pelas normas constitucionais, mas também os que 
estão implicitamente tutelados por elas e aqueles que não sejam com elas incompatíveis. Pode-se 
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obtemperar que não há critérios bem estabelecidos para extração, das normas constitucionais, de quais os 
bens jurídicos podem e quais não devem ser tutelados pelo legislador na seara criminal. 
 
4.2 Funções do bem jurídico 
Assim como nas teorias do bem jurídico, a produção científica da professora Sheila Jorge Selim de Sales será 
usada como base de sistematização. 
Função político-criminal (crítica): o bem jurídico deve servir de critério a nortear o legislador, com 
determinação das condutas penalmente típicas e daquelas que devem ser indiferentes para a tutela penal. 
Função dogmático-interpretativa: o bem jurídico deve ser um elemento para interpretação dos tipos 
penais, possibilitando que, na aplicação das normas, o sujeito passivo seja identificado; deve ser levado em 
conta para a aplicação da descriminante supralegal do consentimento do ofendido e para valoração dos 
bens para reconhecimento do estado de necessidade. 
Função sistemática: o bem jurídico é o critério para classificação dos tipos penais, como crimes contra a vida 
e contra o patrimônio, possibilitando uma sistematização. 
Função individualizadora: a gravidade da lesão ao bem jurídico deve ser considerada na dosimetria da pena, 
atendendo-se ao princípio da individualização. 
 
 
5. FATO TÍPICO 
Conforme analisamos, sob o viés do conceito analítico de crime, podemos conceituá-lo, com a maioria da 
doutrina, como fato típico, ilícito e culpável. O primeiro substrato do crime, portanto, é o fato típico. 
Iniciemos o estudo deste substrato com seu conceito. Fato típico é a ação ou omissão humana que se amolda 
à conduta prevista na norma como infração penal. 
Portanto, será típica a conduta que realize a hipótese de incidência da norma penal, ou seja, a hipótese 
normativa, apresentando significativa lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado. Basta pensar no 
furto, cujo tipo é “subtrair coisa alheia móvel”. Para que tenhamos fato típico, é preciso que alguém atue 
de forma a praticar o que prevê a norma penal, extraída do dispositivo previsto no artigo 155 do Código 
Penal. Ou seja, pratica o fato típico do furto quem subtrai coisa alheia móvel, desde que a conduta 
represente uma significativa lesão ao patrimônio do sujeito passivo. Nota-se que o princípio da 
insignificância, já estudado, influencia diretamente o estudo do fato típico. 
São elementos do fato típico a conduta, o nexo causal, o resultado e a tipicidade. 
5.1 ELEMENTOS DO FATO TÍPICO 
Conduta: é a ação ou omissão humana, voluntária e consciente, dotada de finalidade, cujo elemento 
subjetivo é o dolo ou a culpa. 
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Nexo Causal: é o vínculo etiológico, ou seja, de causa e efeito, entrea conduta e o resultado praticado. 
Resultado: subdivide-se em normativo e naturalístico. O resultado normativo é a lesão ou ameaça de lesão 
ao bem jurídico tutelado. Resultado naturalístico, por sua vez, é a modificação realizada na realidade, no 
mundo exterior, sendo que não está presente em todos os delitos. 
Tipicidade: é a correspondência entre a conduta praticada pelo sujeito ativo e a hipótese normativa da lei 
penal incriminadora, ou seja, o encaixe entre os fatos e a previsão da infração penal pela lei. 
Estudaremos, a seguir, cada um dos elementos de forma individualizada. 
 
5.2 Funções do tipo penal 
Podem-se atribuir ao tipo as seguintes funções: a sistemática, a dogmática e a de política criminal. Claus 
Roxin, adotando uma concepção sistemática para descrever o tipo penal, adverte que a reunião de todas 
as funções pode provocar mal entendidos, já que os institutos devem ser interpretados a partir dos seus 
fins. 
 
Função sistemática 
O tipo penal tem uma função de delimitar a ação que se sujeita a uma sanção penal. Deste modo, 
constitui um conjunto de elementos que possibilitam saber qual o delito que se configura mediante a 
prática de determinada conduta. Beling, ao introduzir tal conceito, trouxe um novo substrato à teoria 
do delito, que passa a ser caracterizado como ação típica, ilícita e culpável. 
 
Função político-criminal 
O princípio da legalidade exige que haja a completa descrição de qual conduta configura o crime, dada 
a característica da taxatividade, exigida no Estado de Direito como limitação ao poder de punir. O tipo 
exerce, assim, uma função de política criminal, ao delimitar a conduta punível, deixando claro o que é 
penalmente punível e o que é um irrelevante no âmbito criminal. Neste âmbito, exige-se a 
transcendentalidade da conduta, já que ao Direito Penal não importam as condutas meramente 
internas. Além disso, recusa-se um Direito Penal do autor, fundado na reprovação de quem se é, para se 
apoiar no fato, reprovando-se aquilo que o agente fez, a conduta praticada. 
 
Função dogmática 
Por fim, o tipo tem a função de descrever em quais situações o dolo não está presente. Cuida-se, em 
outros termos, do tipo para o efeito do erro. Decorre tal função da previsão legal sobre o erro de tipo, 
que no ordenamento jurídico brasileiro é denominado de erro sobre elementos do tipo e se localiza no 
artigo 20, caput, do Código Penal. O desconhecimento de qualquer dos elementos que pertencem ao 
tipo penal, isto é, das elementares exclui o dolo. 
 
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6. CONDUTA 
Para iniciarmos o tema com a conceituação, podemos apontar que conduta (ou ação) é o comportamento 
humano voluntário, exteriorizado por uma ação ou omissão, dirigido a um fim. 
Entretanto, o tema é um dos que mais foram discutidos no âmbito do Direito Penal, sendo espinhoso e 
controverso. A discussão sobre o que é a conduta deu origem às chamadas teorias da conduta, também 
denominadas, por alguns, de teorias da ação. 
Vejamos, então, quais são as teorias da conduta. Destaco que serão estudadas como um panorama, já que 
cada teoria possui autores que pensam de modo diferente e, até mesmo, autores que modificam seu 
pensamento ao longo do tempo, como foi o caso de Hans Welzel. Ademais, a relação das diversas teorias 
com os conceitos de culpabilidade se baseia em lições doutrinárias com aspecto didático, para compreensão 
das características principais de cada teoria. A concepção de Frank sobre culpabilidade, por exemplo, trazida 
como contribuição que surge de forma compatível com a teoria neoclássica, foi adotada posteriormente por 
autores que defendem as mais diversas teorias. 
 
6.1 TEORIA CAUSALISTA, CAUSAL-NATURALISTA, NATURALÍSTICA OU CLÁSSICA 
A teoria causalista, também denominada causal-naturalista, naturalística ou clássica, surgiu na época do 
positivismo e do mecanicismo das ciências naturais. Possui, portanto, base na lei da causa e efeito das 
Ciências Exatas. 
Welzel denominava o sistema clássico de Liszt-Beling-Radbruch, em razão dos seus idealizadores: Franz Von 
Liszt, Ersnt von Beling e Gustav Radbruch. 
Para o causalismo, a ação humana não possui conteúdo de vontade ou finalidade. A conduta é analisada 
por si só, sem elemento subjetivo. Deste modo, se alguém atropela um pedestre e lhe causa lesões que o 
leva à morte, praticou a conduta prevista no artigo 121 do Código Penal, ou seja, praticou o fato típico do 
homicídio. A questão da intenção ou não de matar, por exemplo, só seria analisada na culpabilidade. O fato 
típico possui uma análise estritamente objetiva. 
Nas palavras críticas de Hans Welzel, a ação, para a concepção clássica, “deve ser o mero processo causal 
que desencadeia a vontade (‘o impulso voluntário’ ou a ‘enervação’) no mundo exterior (=efeito da 
vontade), independentemente de que o autor o tenha querido ou possa sequer prevê-lo (= conteúdo da 
vontade)”8. 
Deste modo, a conduta não possui conteúdo de vontade, é desprovida de finalidade e não abarca o dolo ou 
a culpa. O elemento subjetivo, a culpa em sentido amplo, é parte da culpabilidade, devendo ser analisado 
neste substrato do conceito de crime. 
Como o elemento subjetivo é considerado parte da culpabilidade, o dolo é considerado normativo. Isto 
porque, na conduta, há uma análise naturalística, do que se causa com determinada ação ou omissão. Ao 
considerar que o elemento subjetivo é parte da culpabilidade, tem-se o dolo normativo. Isto porque ele 
 
8 Welzel, Hans. O Novo Sistema Jurídico-Penal. Tradução de Luiz Régis Prado. 4 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, 
p. 40. 
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possui como seu componente a atual consciência da ilicitude. O dolo possui conteúdo normativo (da ordem 
do “dever ser”). Não possui conteúdo meramente naturalístico (ser), como o que se faz na análise de causa 
da conduta. 
A culpabilidade pode ser dolosa ou culposa, ou seja, é composta apenas do elemento subjetivo, o que a 
torna psicológica. 
Franz Von Liszt9, um dos seus defensores, defende a ação como “o fato que repousa sobre a vontade 
humana, a mudança do mundo exterior referível à vontade de homem”. 
Percebam que, por essa teoria, é considerado um ato típico de homicídio culposo no trânsito qualquer 
atropelamento, ainda que o atropelado seja um suicida que tenha se lançado na direção do pneu dianteiro 
para dar cabo da própria vida. O elemento subjetivo só é analisado na culpabilidade. No nosso ordenamento 
jurídico, a culpabilidade é matéria de instrução processual, ou seja, deveria haver inquérito, processo e, só 
então, a análise da culpabilidade pelo juiz. 
Franz Von Liszt, por exemplo, diz que sem ato de vontade não há ação, mas ressalva que voluntariedade, 
para ele, não é livre-arbítrio (em um sentido metafísico), mas simplesmente que o homem agiu sem coação 
física (mecânica ou psicofísica)10. 
Como deficiência da teoria, apontada pelos seus críticos, há dificuldades teóricas envolvendo 
os crimes omissivos e culposos. Decorreriam do esvaziamento da conduta, pois o causalismo 
não considera o elemento subjetivo como parte da conduta, deixando sua análise para a 
culpabilidade. Deste modo, não haveria como se diferenciar a conduta culposa da conduta 
dolosa, já que o elemento subjetivo é estudado apenas na culpabilidade. Também não haveria 
uma explicação aceitável para os crimes omissivos próprios, já que há uma falta de 
comportamento do agente (um não fazer, uma omissão), que, sem análise de dolo nem de 
culpa, apresentaria difícil configuração. Seria tarefa bastante ingrata tentar separar uma omissão criminosa 
e uma simples abstenção não criminosa, sem qualquer análise do elemento subjetivo. De igual modo, seria 
complexo diferenciar uma conduta culposa de outra dolosa, já quea distinção seria possível apenas quando 
da análise da culpabilidade, e não da tipicidade. 
Franz Von Liszt, posteriormente, conceitua a ação como “conduta voluntária no mundo exterior; causa 
voluntária ou não impediente de uma modificação no mundo exterior”. Deste modo, buscou englobar a 
conduta omissiva e a conduta comissiva, ao não se referir mais apenas a ação, que tem concepção positiva 
(agir, e não se omitir). 
Foi defendida, dentre outros, pelos juristas Franz Von Liszt, Gustav Radbruch e Ernst Von Beling 
 
 
9 Liszt, Franz von. Tratado de Direito Penal Allemão. Tradução de José Hygino Duarte Pereira. Tomo I. Rio de Janeiro: F. Briguiet 
& C. Editores, 1.899, p. 193. 
10 Liszt, Franz von. Ibidem, p. 197. 
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6.2 TEORIA NEOKANTISTA OU CAUSAL-VALORATIVA 
A teoria neokantista ou causal-valorativa possui base causalista. Isto quer dizer que, assim como no 
causalismo, o elemento subjetivo é analisado na culpabilidade, de modo que o dolo, por abranger a 
consciência da ilicitude, é normativo. A conduta é estudada sem conteúdo ou finalidade. 
Entretanto, aqui já se nota a detecção de elementos subjetivos do tipo, o que abre o caminho para se 
analisar algum conteúdo de vontade do agente já no primeiro substrato do crime (fato típico), e não 
somente na culpabilidade. 
Roxin exemplifica com o furto, que exige o animus rem sibi habendi, ou seja, a intenção especial do agente 
de apropriação definitiva (o que torna penalmente irrelevante o chamado furto de uso). Isso demonstra que 
os neokantistas tiveram que admitir que a conduta não pode ser vista de forma exclusivamente objetiva, já 
que há elementos subjetivos que compõem a própria descrição típica. 
Além disso, o tipo também pode possuir elementos normativos, aqueles que dependem de um juízo de 
valor para a sua constatação. Enquanto os elementos objetivos são facilmente compreendidos pela mera 
utilização dos sentidos, como “coisa”, os elementos normativos exigem um juízo de valor, 
O tipo, assim, é tido como norma de cultura, já que traz em si valores estabelecidos previamente, sendo 
que o texto legal não tem um sentido objetivo, mas deve ser descoberto pelo intérprete. É o que destaca 
Cezar Bitencourt, que ensina que, para os neokantistas, as normas jurídicas são um produto cultural e, por 
isso, têm como pressupostos valores prévios, aos quais o seu intérprete não pode ficar imune11. 
Como inovação em relação à teoria causal, a culpabilidade passa a conter como elemento a inexigibilidade 
de conduta diversa. Deste modo, temos, na culpabilidade, o dolo ou a culpa (elemento psicológico). 
Ademais, com a inclusão, pelos neokantistas, da inexigibilidade de conduta diversa, a culpabilidade passa 
a contar com um elemento normativo. Por isso, a culpabilidade, para a teoria neokantista, é psicológico-
normativa. 
O dolo, que é normativo, possui como elemento a consciência atual da ilicitude. Assim, ao se analisar a 
intenção do agente, já se inclui a consciência atual da ilicitude. Ou seja, verifica-se se o agente atuou com 
dolo ou culpa, bem como se possuía, à época da conduta, a consciência atual da sua ilicitude. 
Nas palavras de Mezger, o dolo é uma “forma determinada de culpabilidade”, que a doutrina e 
jurisprudência costumam chamar de “dolo ou dolus (a expressão mais correta seria “dolus malus”). O dolo, 
para o autor, é o cometimento do fato com conhecimento e vontade12. 
Conduta não é ação, mas comportamento, o que abrange tanto a conduta positiva quanto a negativa, ou 
seja, tanto a ação quanto a omissão. 
Além disso, a ilicitude passa a ser analisada sob o ponto de vista material, não puramente formal. Isso 
permitiu a consideração de determinadas condutas como não ilícitas, além das causas excludentes previstas 
expressamente em lei. 
 
11 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral, volume I. 10ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 90. 
12 Mezger, Edmund. Derecho Penal. Libro de Estudio. Parte General. Santiago: Ediciones Olejnik, 2019, p. 186. 
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Há uma substituição do método científico, das ciências naturais, pelo axiológico, ou seja, de juízo de valor. 
O tipo penal passa a ser concebido de uma forma valorativa, em que as próprias normas são dotadas de 
valores, e não mais de uma forma puramente mecanicista. 
Cuida-se de teoria defendida por Edmund Mezger. 
Vamos analisar as diferenças principais entre causalismo e neokantismo, cumprindo lembrar que a 
concepção neokantista é feita sobre as bases causalistas, em que o dolo é normativo (dolus malus) e 
concebido como forma de culpabilidade: 
 
 
 
Vale destacar que se trata de uma visão global sobre as concepções, que foram defendidas por autores 
diversos, com variações em suas obras. 
 
6.3 TEORIA FINALISTA 
Para a teoria finalista, a “ação humana é o exercício de atividade final”13. Isto significa que toda conduta 
humana possui uma finalidade, é orientada por um objetivo. Sob essa concepção, faz parte da conduta o 
próprio elemento subjetivo do tipo, ou seja, o dolo ou a culpa. Note-se que a vontade e a finalidade se 
fundam na conduta. 
Para a teoria final da conduta (ou da ação), a conduta se funda na sua antecipação mental e na seleção dos 
meios pelo autor, controlando-os para a realização de um objetivo seu, ou seja, com determinação de modo 
final. 
Em relação às teorias anteriores, há a migração do dolo e culpa, que deixam a culpabilidade para integrarem 
o próprio fato típico. Ou seja, o dolo e a culpa deixam de fazer parte da culpabilidade, para serem 
considerados na conduta, dentro da análise do fato típico. 
Recordando, o causalismo e o neokantismo entendem que a culpa em sentido amplo (dolo ou culpa) deve 
ser estudada na culpabilidade, por serem parte dela. Para o finalismo, a culpa em sentido amplo é parte da 
conduta, já que, como visto, ela possui em si mesma uma finalidade. 
 
13 Welzel, Hans. O Novo Sistema Jurídico-Penal. Tradução de Luiz Régis Prado. 4 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 
2015, p. 30. 
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Por isso, o dolo, para o finalismo, é natural, chamado, na expressão latina, de dolus bonus. Isto porque o 
dolo é analisado como elemento da conduta, de forma neutra, sem valoração. Não faz parte dele a 
consciência da ilicitude e ele não integra a culpabilidade. 
Ou seja: sem elemento subjetivo, não há sequer um fato típico. É atípica a conduta de um motorista que, 
dirigindo de forma cautelosa, acaba por colidir o veículo com um suicida, que se lança de forma inesperada 
e abrupta em frente aos pneus do automóvel. Não havendo indícios de dolo ou culpa, o fato é penalmente 
irrelevante, por não ser sequer típico. 
Hans Welzel, ao apresentar seu novo sistema jurídico-penal, consigna que, até então, dolo vinha sendo 
compreendido “como um elemento da culpabilidade, que compreende (...) não apenas a consciência dos 
elementos do tipo, como também a da antijuridicidade”14 (dolo normativo). Então, apresenta sua concepção 
de dolo natural, dizendo que o juízo de reprovabilidade da culpabilidade recai sobre a resolução de vontade 
antijurídica e que esta é reprovável na medida em que ele poderia ter consciência da ilicitude e, assim, ter 
um motivo contrário à conduta ilícita15. 
Abre-se espaço, assim, para a elaboração de uma teoria pura da culpabilidade, na qual se faz um juízo de 
valoração ou reprovação da conduta ilícita do agente. Retira-se o chamado elemento psicológico da 
culpabilidade, com a migração do dolo e da culpa para a conduta. 
Uma crítica realizada à teoria finalista é o conceito de conduta como controle

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