Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital Autor: Michael Procopio Aula 20 14 de Dezembro de 2020 AULA 20 DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA SUMÁRIO DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA ............................................................................. 1 SUMÁRIO ............................................................................................................................................... 1 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................................. 3 2. DOS CRIMES DE PERIGO COMUM ................................................................................................. 3 2.1 INCÊNDIO ................................................................................................................................. 4 2.2 EXPLOSÃO................................................................................................................................ 6 2.3 USO DE GÁS TÓXICO OU ASFIXIANTE ...................................................................................... 8 2.4 FABRICO, FORNECIMENTO, AQUISIÇÃO POSSE OU TRANSPORTE DE EXPLOSIVOS OU GÁS TÓXICO, OU ASFIXIANTE ........................................................................................................................................ 9 2.5 INUNDAÇÃO ........................................................................................................................... 11 2.6 PERIGO DE INUNDAÇÃO ......................................................................................................... 11 2.7 DESABAMENTO OU DESMORONAMENTO ................................................................................ 12 2.8 SUBTRAÇÃO, OCULTAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE MATERIAL DE SALVAMENTO ..................... 13 2.9 FORMAS “QUALIFICADAS” DE CRIME DE PERIGO COMUM ..................................................... 13 2.10 DIFUSÃO DE DOENÇA OU PRAGA ........................................................................................ 14 3. DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E TRANSPORTE E OUTROS SERVIÇOS PÚBLICOS ........................................................................................................................... 15 3.1 PERIGO DE DESASTRE FERROVIÁRIO ...................................................................................... 15 3.2 ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE TRANSPORTE MARÍTIMO, FLUVIAL OU AÉREO ......... 17 3.3 ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE OUTRO MEIO DE TRANSPORTE ................................. 18 Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 2 127 3.4 FORMA QUALIFICADA ............................................................................................................ 19 3.5 ARREMESSO DE PROJÉTIL ...................................................................................................... 19 3.6 ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBICA............................... 20 3.7 INTERRUPÇÃO OU PERTURBAÇÃO DE SERVIÇO TELEGRÁFICO, TELEFÔNICO, INFORMÁTICO, TELEMÁTICO OU DE INFORMAÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA ............................................................. 21 4. DOS CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA ................................................................................... 22 4.1 EPIDEMIA ............................................................................................................................... 22 4.2 INFRAÇÃO DE MEDIDA SANITÁRIA PREVENTIVA ................................................................... 23 4.3 OMISSÃO DE NOTIFICAÇÃO DE DOENÇA ................................................................................ 24 4.4 ENVENENAMENTO DE ÁGUA POTÁVEL OU DE SUBSTÂNCIA ALIMENTÍCIA OU MEDICINAL .... 25 4.5 CORRUPÇÃO OU POLUIÇÃO DE ÁGUA POTÁVEL ..................................................................... 27 4.6 FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE SUBSTÂNCIA OU PRODUTOS ALIMENTÍCIOS .................................................................................................................................. 27 4.7 FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE PRODUTO DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS ........................................................................................................ 29 4.8 EMPREGO DE PROCESSO PROIBIDO OU DE SUBSTÂNCIA NÃO PERMITIDA ............................... 33 4.9 INVÓLUCRO OU RECIPIENTE COM FALSA INDICAÇÃO ............................................................. 33 4.10 PRODUTO OU SUBSTÂNCIA NAS CONDIÇÕES DOS DOIS ARTIGOS ANTERIORES .................. 34 4.11 SUBSTÂNCIA DESTINADA À FALSIFICAÇÃO ........................................................................ 34 4.12 OUTRAS SUBSTÂNCIA NOCIVAS À SAÚDE PÚBLICA ........................................................... 35 4.13 MEDICAMENTO EM DESACORDO COM RECEITA MÉDICA ................................................... 35 4.14 EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA, ARTE DENTÁRIA OU FARMACÊUTICA .......................... 36 4.15 CHARLATANISMO ............................................................................................................... 37 4.16 CURANDEIRISMO ................................................................................................................ 38 4.17 FORMA “QUALIFICADA” ..................................................................................................... 39 5. QUESTÕES .................................................................................................................................... 40 5.1 LISTA DE QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS ............................................................................... 40 5.2 GABARITO .............................................................................................................................. 49 5.3 LISTA DE QUESTÕES COM COMENTÁRIOS .............................................................................. 49 6. DESTAQUES DA LEGISLAÇÃO E DA JURISPRUDÊNCIA ................................................................. 87 7. RESUMO ..................................................................................................................................... 103 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 127 Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 3 127 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Avançando no nosso estudo da Parte Especial do Código Penal, estudaremos os crimes contra a incolumidade pública, previstos no Título VIII, que se divide em três capítulos, os quais tratam dos crimes de perigo comum, dos crimes contra a segurança dos meios de comunicação e transporte e outros serviços públicos e dos crimes contra a saúde pública. Dividiremos a aula, então, em três capítulos, correspondendo aos capítulos que integram o Título VIII da Parte Especial do Código: São crimes que tutelam a incolumidade, ou seja, a ausência de perigo ou de dano. Busca-se garantir a segurança nas relações sociais, situação que, ainda que apenas de passagem, faz registrar que alguns pensadores, a reboque de Ulrich Beck, entendem que vivemos atualmente em uma sociedade de risco. Segundo Nelson Hungria, crimes contra a incolumidade pública são aqueles que se tipificam por meio de condutas que "acarretam situação de perigo a indeterminado ou não individuado grupo de pessoas". Voltando ao tema, espero que a exposição dos crimes contra a incolumidade pública seja didática e suficiente para a compreensão da matéria. Seguindo a estratégia já exposta, alguns crimes terão uma análise mais detida, enquanto outros serão analisadossucintamente. Busca-se que o material tenha uma extensão adequada, sem deixar de abordar o conteúdo programático de Direito Penal, com ênfase nos assuntos mais relevantes. Então, aos estudos! 2. DOS CRIMES DE PERIGO COMUM Os crimes de perigo comum são tratados no Capítulo I do Título VIII, os quais buscam a tutelar a incolumidade pública ao criminalizar condutas que causa perigo comum, ou seja, risco a um número indeterminado de pessoas. O referido capítulo prevê os crimes de incêndio; explosão; uso de gás tóxico ou asfixiante; fabrico, fornecimento, aquisição, posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante; inundação; perigo de inundação; desabamento ou desmoronamento; subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento e difusão de doença ou de praga. Dos Crimes de Perigo Comum Dos Crimes Contra Contra a Segurança dos Meios de Comunicação e Transporte e Outros Serviços Públicos Dos Crimes Contra a Saúde Pública Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 4 127 2.1 INCÊNDIO O crime de incêndio está previsto no artigo 250 do Código Penal: Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. Aumento de pena § 1º - As penas aumentam-se de um terço: I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio; II - se o incêndio é: a) em casa habitada ou destinada a habitação; b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura; c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo; d) em estação ferroviária ou aeródromo; e) em estaleiro, fábrica ou oficina; f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável; g) em poço petrolífico ou galeria de mineração; h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta. Culposo § 2º - Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de seis meses a dois anos. A conduta típica é causar (provocar) incêndio. Para a configuração do delito é imprescindível, ainda, que haja a exposição da vida, da integridade física ou do patrimônio de outrem a perigo. Vale lembrar que incêndio é definido como fogo perigoso1 ou aquele com labaredas de grandes proporções2 e, nos termos de Hungria, um “perigo dirigido a uma círculo, previamente incalculável na sua extensão, de pessoas ou coisas não individualmente determinadas”3 A ideia, portanto, é de não basta causar uma chama ou um fogo em local controlado, é necessário um incêndio, aquele que tem proporção maior ou que não seja suscetível de fácil controle. O crime se classifica em comum, por não exigir nenhuma qualidade específica do sujeito ativo. É de perigo concreto, por exigir que efetivamente se exponha a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. É doloso, sem exigência de elemento subjetivo do tipo, sendo que o parágrafo segundo prevê a modalidade culposa. É plurissubsistente, admitindo a tentativa. 1 PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro: parte geral e parte especial. 18 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 902. 2 MASSON, Cleber. Direito Penal: parte especial (arts. 213 a 359-H – vol. 3. 9 ed. São Paulo: MÉTODO, 2019, p. 219. 3 HUNGRIA, Nelson apud CUNHA, Rogério Sanches.Manual de Direito Penal: parte especial (arts. 121 ao 361). 12 ed. rev. atual. e ampl. Salvador: JusPODIVM, 2020, p. 652. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 5 127 Houve revogação parcial do artigo 250 com a superveniência da Lei 9.605/98, em razão do que prevê o seu artigo 41: Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta: Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um ano, e multa. Deste modo, se o incêndio for praticado em mata ou floresta, seja ele doloso ou culposo, o crime será o da Lei 9.605/98. Cumpre destacar, ainda, que o crime da lei extravagante não exige a comprovação do perigo, sendo crime de perigo abstrato. Se o intuito do agente não for expor a vida de um número indeterminado de pessoas a perigo, pode-se configurar o crime de perigo para a vida ou a saúde de outrem, do artigo 132 do Código Penal. O STJ já entendeu possível a absorção do crime de incêndio pelo delito de denunciação caluniosa, desde que o primeiro crime tenha sido instrumento para a prática do último, na ausência de desígnios autônomos: “(...) 1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça possui entendimento firmado no sentido de inexistir qualquer obstáculo para a aplicação do princípio da consunção quando restar confirmado, mediante a análise dos elementos fático-probatórios existentes nos autos, que um crime foi utilizado como instrumento para a prática de outro, mesmo que os delitos tutelem bens jurídicos diversos. Precedentes. 2. In casu, constatada a ausência de desígnios autônomos entre os crimes tipificados nos arts. 250, § 1º, inciso II, alínea "a", e 339 do CP, inexiste qualquer vedação para a aplicação da consunção entre os delitos.(...)” (STJ, AgRg no REsp 1687688/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 29/08/2018). Referida Corte Superior também já decidiu que, havendo a exposição a perigo da vida de mais de uma pessoa e o prejuízo patrimonial de ambas, há concurso formal de crimes de incêndio: “(...) 3. O art. 250 do CP - crime de incêndio - tutela a incolumidade pública, sendo o Estado, ou melhor, a coletividade a vítima primária da infração penal ali descrita. Não obstante, o mesmo tipo penal também protege a integridade física e o patrimônio de indivíduos eventualmente atingidos pela prática incendiária - vítimas secundárias. 4. No caso concreto, duas pessoas foram expostas a perigo de vida, bem como tiveram prejuízos patrimoniais, pois habitavam o imóvel contra o qual o recorrente ateou fogo. Cabível, assim, a incidência da norma do art. 70 do CP - concurso formal de crimes -, já que, mediante uma só ação, o recorrente atingiu diversos bens jurídicos tutelados pela lei penal. Neste ponto, mais uma vez, a revisão do acórdão recorrido ensejaria o revolvimento de matéria fático- probatória, providência incompatível com a via recursal eleita - incidência da Súmula 7/STJ. (...)” (STJ, AgRg no AResp 1068614/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 25/05/2017). Modalidades majoradas O parágrafo primeiro do artigo 250 traz causas de aumento de pena aplicáveis ao crime de incêndio, com a fixação da fração de aumento em um terço da pena. São suas hipóteses: Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 6 127 I. se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio. A primeira modalidade majorada do crime de incêndio se configura pelo maior desvalor da conduta do agente, ao buscar uma recompensa financeira com a sua conduta. Cuida-se do chamado crime mercenário, em que há o elemento subjetivo especial do tipo, consistente no intuito de se obter vantagem pecuniária, seja em proveito próprio ou alheio. II. se o incêndio é: a) em casa habitada ou destinada a habitação; b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura; c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo; d) em estação ferroviária ou aeródromo; e) em estaleiro, fábrica ou oficina; f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável; g) em poço petrolífico ou galeria de mineração; h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta. São hipóteses em que as circunstâncias do crime de incêndio o tornam mais grave, devido ao local em que ocorre o incêndio. Vale destacar que o incêndio de mata ou floresta não maisconfigura a forma majorada do artigo 250 do CP, mas o crime previsto no artigo 41 da Lei 9.605/98. Incêndio Culposo O parágrafo segundo do artigo 250 prevê a modalidade culposa do crime de incêndio, envolvendo negligência, imprudência ou imperícia. Caso o elemento subjetivo seja a culpa em sentido estrito, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos. 2.2 EXPLOSÃO O crime de explosão está tipificado no artigo 251 do Código Penal: Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. § 1º - Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Aumento de pena Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 7 127 § 2º - As penas aumentam-se de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses previstas no § 1º, I, do artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no nº II do mesmo parágrafo. Modalidade culposa § 3º - No caso de culpa, se a explosão é de dinamite ou substância de efeitos análogos, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos; nos demais casos, é de detenção, de três meses a um ano. O núcleo do tipo penal é “expor” (deixar ou ficar sem proteção) a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. A execução pode se dar por algum dos seguintes modos: Explosão; Arremesso ou Simples colocação Em todos os casos, o objeto material é o engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos. Explosão é a arrebentação violenta, súbita e provocadora de grande ruído, além de deslocamento de ar, que pode decorrer da expansão abruta de um corpo sólido ou pela liberada de substância gasosa. O arremesso é o lançamento de engenho ou substância que tenha a potencialidade de explosão. Por fim, a simples colocação é o ato de deixar, colocar ou arrumar o mesmo engenho, artefato ou substância, ou seja, aquele que tenha eficácia explosiva. O tipo penal não exige a efetiva explosão para a configuração do crime, mas exige que haja o efetivo risco à vida, à integridade física ou ao patrimônio de outrem. Por isso, é classificado como crime de perigo concreto. É crime comum, não se exigir nenhuma qualidade especial do sujeito ativo. É doloso, na figura do caput, sendo que o parágrafo terceiro prevê a punição a título de culpa em sentido estrito. É plurissubsistente, admitindo a tentativa. Modalidades privilegiada O artigo 251, parágrafo primeiro, do Código Penal, traz uma pena menor, de reclusão, de um a quatro anos, e multa, para uma forma mais leve do crime. Incide se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos, ou seja, se é uma explosão de menor potência, como no caso de uso de pólvora, exemplo dado pela doutrina. Modalidades majoradas O artigo 251, parágrafo segundo, do Código Penal, determina a aplicação das causas de aumento de pena aplicáveis ao crime de incêndio, com a fixação da mesma fração de aumento da pena: um terço. Incidem as majorantes: I. se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio. Cuida-se do chamado crime mercenário, em que há o intuito de se obter vantagem pecuniária, seja em proveito próprio ou alheio. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 8 127 II. se o incêndio é: a) em casa habitada ou destinada a habitação; b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura; c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo; d) em estação ferroviária ou aeródromo; e) em estaleiro, fábrica ou oficina; f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável; g) em poço petrolífico ou galeria de mineração; h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta. Modalidade culposa A punição a título de culpa encontra previsão no parágrafo terceiro do artigo 251. A pena se diferencia, sendo de detenção, de seis meses a dois anos, se a explosão for de dinamite ou substância de efeitos análogos. Nos demais casos, a pena será de detenção, de três meses a um ano. Cumpre relembrar que, em caso de crime culposo, não se admite a tentativa. Antes do advento da Lei 13.654/2018, o STJ já entendeu incidir o concurso formal entre os crimes de furto e de explosão se, para a realização da subtração, o sujeito ativo utilizasse explosivos, colocando em risco a incolumidade pública: “(...) 3. Demonstrado que a conduta delituosa expôs, de forma concreta, o patrimônio de outrem decorrente do grande potencial destruidor da explosão, notadamente porque o banco encontra-se situado em edifício destinado ao uso público, ensejando a adequação típica ao crime previsto no art. 251 do CP, incabível a incidência do princípio da consunção. 4. Infrações que atingem bens jurídicos distintos, enquanto o delito de furto viola o patrimônio da instituição financeira, o crime de explosão ofende a incolumidade pública. (...)”. (STJ, REsp 1647539/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 01/12/2017). Atualmente, o emprego de explosivo configura uma modalidade qualificada de furto, nos termos do artigo 155, § 4º-A, do Código Penal. Deste modo, alguns doutrinadores já se manifestaram sobre não haver mais o concurso entre os crimes de furto e de explosão, de modo que será necessário aguardar a jurisprudência após a Lei 13.654/2018. 2.3 USO DE GÁS TÓXICO OU ASFIXIANTE O crime de uso de gás tóxico ou asfixiante está previsto no artigo 252 do Código Penal: Art. 252 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante: Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 9 127 Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Modalidade Culposa Parágrafo único - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de três meses a um ano. O tipo penal do crime de uso de gás tóxico ou asfixiante é “expor” (deixar ou ficar sem proteção) a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. A execução pode se dar por algum dos seguintes modos: Uso de gás tóxico ou Uso de gás asfixiante. Não é necessário que o gás seja letal, bastando que seja tóxico, isto é, que tenha potencial de produzir efeitos nocivos ao organismo, que é venenoso, ou que seja asfixiante, tenha o efeito de asfixiar, de privar de oxigênio. O tipo penal se refere apenas ao uso do gás tóxico ou asfixiante para a configuração do crime, o que pode se dar de diversas maneiras. Exige, entretanto, que haja o efetivo risco à vida, à integridade física ou ao patrimônio de outrem. Por isso, o crime deve ser classificado como de perigo concreto. O crime do artigo 252 do Código Penal é considerado comum, por se configurar independentemente de qualquer qualidade específica do agente. É doloso, sendo que, se houver o elemento subjetivo específico de lesionar ou de matar, o crime será outro. Admite a tentativa, por ser plurissubsistente. Modalidade Culposa O parágrafo único prevê a punição a título de culpa em sentido estrito (negligência, imprudência ou imperícia). Em tal caso, a pena é de detenção, de três meses a um ano. 2.4 FABRICO, FORNECIMENTO, AQUISIÇÃO POSSE OU TRANSPORTE DE EXPLOSIVOS OU GÁS TÓXICO, OU ASFIXIANTE O crime de fabrico, fornecimento, aquisição, posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico ou asfixiante está tipificado no artigo 253 do CP: Art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação: Pena - detenção, de seis meses a dois anos,e multa. Fabricar significa produzir, manufaturar, transformar a partir da matéria-prima, construir. Fornecer é abastecer, prover. Adquirir é tornar-se proprietário, apossar-se, tomar para si. Transportar é levar de um local a outro, levar, carregar, conduzir. As ações nucleares típicas, que compõem o tipo penal misto alternativo, devem recair sobre substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante ou material destinado à sua fabricação. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 10 127 O tipo penal exige, ainda, o elemento normativo do tipo consistente na conduta ser praticada “sem licença da autoridade”. A licença da autoridade, que poderia excluir a ilicitude em razão da excludente de exercício regular do direito, aqui significa a própria atipicidade da conduta, dada a sua previsão como elementar. Razão assiste ao professor Rogério Sanches Cunha4, ao destacar que o crime do artigo 253 do Código Penal restou parcialmente revogado pela Lei 10.826/2003, que assim prevê em seu artigo 16, notadamente no seu parágrafo único, inciso III: Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: (...) III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; Comparemos os dispositivos: Artigo 253 do CP Art. 16, p. ú., III, Lei 10826/2003 Art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas [reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa] incorre quem: (...) III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; Referido autor defende que todos os núcleos do tipo do artigo 253 do CP estão abarcados pelo crime da legislação extravagante, já que, para que o agente forneça ou transporte, ele antes precisa possuir. Ademais, deter o artefato abrange a conduta de adquirir, já que quem adquire passa a ter a posse, ainda que indireta, ou, ainda, passa a deter a coisa. Entretanto, há condutas que ainda são tipificadas apelas pelo Código Penal, por não estarem abrangidas pelo dispositivo da Lei 10.826/2003 acima transcrito. É que esta última apenas se refere a artefato explosivo ou incendiário, enquanto o Código Penal tem previsão mais abrangente, ao mencionar substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação. 4 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts.121 ao 361). 12ª Ed. Salvador: JusPODIVM, 2020, p. 665. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 11 127 Deste modo, a ação típica nuclear que não envolver artefato explosivo ou incendiário, mas gás tóxico ou asfixiante, ou mesmo material destinado à fabricação de explosivo ou de mencionado gás, será enquadrada na previsão do Código Penal, que continua vigente, tendo sofrido apenas derrogação (revogação parcial). O crime é comum, sendo que qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. É doloso, não se prevendo modalidade culposa. A tentativa é de difícil configuração, segundo Cezar Bitencourt, sendo que, por outro lado, Heleno Fragoso não a admite. A doutrina majoritária entende ser o crime de perigo abstrato, não se exigindo a efetiva demonstração de que a incolumidade pública foi colocada em risco. 2.5 INUNDAÇÃO O artigo 254 do Código Penal traz o crime de inundação, com a seguinte disposição: Art. 254 - Causar inundação, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa, no caso de dolo, ou detenção, de seis meses a dois anos, no caso de culpa. A ação nuclear típica é causar, que significa provocar, motivar, dar causa a. A conduta incriminada é dar causa a inundação, que é um grande alagamento ou um grande fluxo de água. Exige-se que haja a exposição a perigo da vida, da integridade física ou do patrimônio de outrem, o que leva o crime a ser classificado como de perigo concreto, ou seja, cuja demonstração de risco ao bem jurídico é necessária para a sua configuração. Na forma dolosa, a pena é de reclusão, de 3 a 6 anos, e multa, sem exigência de elemento subjetivo especial. É crime comum, por não exigir qualidade específica do sujeito ativo. É plurissubsistente, admitindo o conatus. É crime comissivo (ressalvada a possibilidade de ser omissivo impróprio, se houver a figura do garante). Modalidade culposa O preceito secundário do artigo 254 prevê a modalidade culposa, ao mencionar que a pena será de detenção, de seis meses a dois anos, no caso de culpa. 2.6 PERIGO DE INUNDAÇÃO O crime de perigo de inundação tem lugar no artigo 255 do Código: Art. 255 - Remover, destruir ou inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 12 127 O tipo penal é misto alternativo, ou seja, prevê mais de uma conduta típica, sendo que basta uma delas para a configuração do crime, ao tempo em que a prática de mais de uma delas enseja a punição por um único crime. Os núcleos do tipo são “remover” (transferir, retirar, afastar, deslocar), “destruir” (demolir, devastar, extinguir, por no chão) e “inutilizar” (tornar inútil, estragar, deixar imprestável). As condutas se volvam a obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação. Portanto, configura-se o crime no caso de remoção, destruição ou inutilização de diques, barragens, comportas, ou mesmo obstáculos naturais, como pode ser uma formação rochosa que impede que a água de um rio atinja um vale, onde haja uma comunidade de moradores tradicionais. O tipo penal exige que haja a exposição a perigo da vida, da integridade física ou do patrimônio de outra pessoa ou de outras pessoas. Com essa exigência de efetivo risco a um dos bens jurídicos tutelados pela norma, o crime é de perigo concreto. O crime é comum, sendo que até o proprietário da barragem, por exemplo, pode cometer o crime, se da sua conduta sobrevier a exposição da vida de alguém a perigo. É doloso, não havendo previsão de forma culposa nem de finalidade específica do sujeito ativo. Apesar de haver controvérsia, parte da doutrina entende admissível a tentativa. 2.7 DESABAMENTO OU DESMORONAMENTO O artigo 256 do Código Penal trata do crime de desabamento ou desmoronamento: Art. 256 - Causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Modalidade culposa Parágrafo único - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano. Causar, o núcleo do tipo, é provocar, motivar, dar causa a. O tipo penal é causar desabamento ou desmoronamento. Exige-se que haja a efetiva exposição a perigo da vida, da integridade física ou do patrimônio de outrem, o que leva o crime a ser classificado como de perigo concreto, ou seja, cuja demonstração de risco ao bem jurídico é necessária para a sua configuração.Desmoronamento, conforme ensina a doutrina, refere-se à queda, a fazer vir abaixo uma quantidade considerável de rocha ou solo. Já o desabamento se refere a uma queda ou de fazer vir ao chão uma parte de uma edificação ou toda ela. É um crime comum, que pode ter como sujeito ativo qualquer pessoa. O caput prevê a forma dolosa, em que não se exige finalidade específica do agente. É plurissubsistente, sendo possível o conatus, ou seja, a modalidade tentada. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 13 127 Modalidade Culposa O parágrafo único do artigo 256 prevê a modalidade culposa do crime de desabamento ou desmoronamento. A pena, se o elemento subjetivo for a imprudência, negligência ou imperícia, será de detenção, de seis meses a um ano. 2.8 SUBTRAÇÃO, OCULTAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE MATERIAL DE SALVAMENTO O artigo 257 trata de um crime com nomen iuris de subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento: Art. 257 - Subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião de incêndio, inundação, naufrágio, ou outro desastre ou calamidade, aparelho, material ou qualquer meio destinado a serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento; ou impedir ou dificultar serviço de tal natureza: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Subtrair é assenhorear-se, apropriar-se, surrupiar. Ocultar é esconder, encobrir, sonegar. Inutilizar é tornar inútil, danificar. O tipo penal, que é misto alternativo, conta com os três núcleos. A conduta de subtração, ocultação ou inutilização recai sobre material ou qualquer meio destinado a serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento. Há, ainda, a figura de impedir (obstruir, tornar impraticável) ou dificultar (estorvar, tornar difícil) serviço de combate ao perigo, socorro ou salvamento. Em todos os casos, deve haver a seguinte circunstância: ocasião de incêndio, inundação, naufrágio ou outro desastre (como um desmoronamento, por exemplo) ou calamidade (como um tufão). Este tipo penal não exige a demonstração do perigo concreto a um bem jurídico, presumindo-o em virtude das circunstâncias, de modo que o crime é de perigo abstrato. O crime é comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa. É doloso, sem previsão de modalidade culposa nem de exigência de elemento subjetivo especial do injusto. Por ser fracionável a conduta típica, é considerado plurissubsistente e admite a modalidade tentada. 2.9 FORMAS “QUALIFICADAS” DE CRIME DE PERIGO COMUM O artigo 258 do Código Penal trata de formas majoradas dos crimes de perigo comum: Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 14 127 Apesar de a lei trazer o título de “formas qualificadas”, a Ciência do Direito Penal reserva referido termo para os casos em que há novos limites mínimo e máximo de penas abstratamente cominadas. Deste modo, as hipóteses trazidas no artigo 258 se referem a majorantes. Causa estranheza que o artigo sobre as formas majoradas de todos os crimes de perigo comum não esteja ao final do capítulo, mas antes do delito de difusão de doença e praga, que também se classifica entre referidos crimes. De todo modo, este último crime foi revogado, não havendo mais sequer a discussão sobre a aplicação da majorante a ele. Majorante nos crimes dolosos Se houver resultado de lesão corporal de natureza grave em crime doloso de perigo comum, a pena deve ser aumenta de metade. Se o resultado for morte, a pena deve ser aplicada em dobro. Ambas as figuras são preterdolosas, em razão de a conduta antecedente possuir o dolo como elemento subjetivo e o resultado, conduta subsequente, ser produzido a título de culpa em sentido estrito. Majorantes nos crimes culposos Se o crime de perigo comum for culposo e dele resultar lesão corporal (aqui não se exige que seja grave, como no caso dos crimes dolosos), a pena deve ser aumentada de metade. Caso o resultado seja a morte, deve-se aplicar a pena do homicídio culposo, aumentada de um terço. 2.10 DIFUSÃO DE DOENÇA OU PRAGA O crime de difusão de doença ou praga está previsto, formalmente, no artigo 259 do CP: Art. 259 - Difundir doença ou praga que possa causar dano a floresta, plantação ou animais de utilidade econômica: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Modalidade culposa Parágrafo único - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a seis meses, ou multa. Entretanto, houve sua revogação tácita pela superveniência da Lei 9.605/98, em razão do disposto no seu artigo 61: Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Assim preleciona a doutrina, como o jurista Luiz Regis Prado5. Com a revogação tácita, não há mais a modalidade culposa do crime. Portanto, o delito passou a ser da disciplina de Direito Penal Especial, a ser lá analisada. 5 PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte geral e parte especial. 18ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 926- 927. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 15 127 3. DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E TRANSPORTE E OUTROS SERVIÇOS PÚBLICOS O Capítulo II do Título VIII da Parte Especial do Código se intitula “Dos Crimes Contra a Segurança dos Meios de Comunicação e Transporte e Outros Serviços Públicos”, o que já demonstra que se tutela a segurança de tais serviços de interesse público. Nele, estão previstos os crimes de perigo de desastre ferroviário; de atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo; de atentado contra a segurança de outro meio de transporte; de arremesso de projétil; de atentado contra serviço de utilidade pública e de Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico, informático, telemático ou de informação de utilidade pública. 3.1 PERIGO DE DESASTRE FERROVIÁRIO O crime de perigo de desastre ferroviário tem seu tipo penal insculpido no artigo 260 do Código Penal: Art. 260 - Impedir ou perturbar serviço de estrada de ferro: I - destruindo, danificando ou desarranjando, total ou parcialmente, linha férrea, material rodante ou de tração, obra-de-arte ou instalação; II - colocando obstáculo na linha; III - transmitindo falso aviso acerca do movimento dos veículos ou interrompendo ou embaraçando o funcionamento de telégrafo, telefone ou radiotelegrafia; IV - praticando outro ato de que possa resultar desastre: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Desastre ferroviário § 1º - Se do fato resulta desastre: Pena - reclusão, de quatro a doze anos e multa. § 2º - No caso de culpa, ocorrendo desastre: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. § 3º - Para os efeitos deste artigo, entende-se por estrada de ferro qualquer via de comunicação em que circulem veículos de tração mecânica, em trilhos ou por meio de cabo aéreo. Os núcleos do tipo são duas condutas alternativas: “impedir” (obstruir, interromper, tornar impraticável) ou “perturbar” (estorvar, atrapalhar, abalar), recaindo ambos sobre serviço de estrada de ferro. O crime, que é de forma vinculada, pode ser praticado de um dos seguintes modos: Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 16 127 destruindo (demolindo, devastando, extinguindo, pondo no chão), danificando(estragando, avariando, arruinando, corrompendo) ou desarranjando (tirando da ordem), total ou parcialmente, linha férrea (trilhos por onde passam as locomotivas e vagões), material rodante (é o que circula, a exemplo dos vagões) ou de tração (é o veículo, o que possui força motriz, como a locomotiva), obra- de-arte (edificações que possibilitam o transporte ferroviário, como pontes e túneis) ou instalação (qualquer equipamento ligado ao transporte ferroviário, como a chave de desvio); colocando obstáculo na linha (qualquer obstáculo, como pedras ou madeira); transmitindo (propagando, emitindo) falso aviso acerca do movimento dos veículos ou interrompendo (fazendo cessar, quebrando a continuidade) ou embaraçando (atrapalhando, estorvando) o funcionamento de telégrafo, telefone ou radiotelegrafia; praticando outro ato de que possa resultar desastre: O crime é comum, não havendo exigência de nenhuma qualidade específica do sujeito ativo. É plurissubsistente, sendo possível a tentativa. A doutrina classifica o delito como de perigo concreto, entendendo necessária a efetiva situação de perigo para sua configuração. O parágrafo quarto do artigo 260 traz uma norma interpretativa, segundo a qual se entende por estrada de ferro qualquer via de comunicação em que circulem veículos de tração mecânica, em trilhos ou por meio de cabo aéreo. Estão incluídos os bondes, os metrôs e os teleféricos. O Superior Tribunal de Justiça já consignou que, com referido delito, tutelam-se tanto a segurança dos meios de transporte, de forma direta, como a vida e a integridade física dos passageiros, indiretamente. Ademais, ressaltou que a competência para seu julgamento, em regra, é da Justiça Estadual: “PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME DE PERIGO DE DESASTRE FERROVIÁRIO. AUSÊNCIA DE OFENSA DIRETA A BENS, SERVIÇOS E INTERESSES DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. TRANCAMENTO DO INQUÉRITO INSTAURADO PELA POLÍCIA FEDERAL. 1. O bem jurídico tutelado pelo crime de perigo de desastre ferroviário é a incolumidade pública, consubstanciada na segurança dos meios de comunicação e transporte. Indiretamente, também se tutelam a vida e a integridade física das pessoas vítimas do desastre. 2. Ausente especificada ofensa direta a bens, serviços e interesses da União, não se dá hipótese de competência da Justiça Federal para persecução do crime previsto no art. 260, IV, §2º, c/c art. 263, ambos do Código Penal, a teor do art. 109, IV, da Constituição Federale. (...)” (STJ, RHC 50054/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª Turma, DJe 14/11/2014). A doutrina aponta não ser o caso de conduta típica o chamado “surf ferroviário”, que seria a conduta de o sujeito se deslocar em cima do vagão do trem, colocando em risco a própria vida. Apesar de se tratar de julgado cível, nota-se que o STJ considerou que o sujeito coloca a própria vida em risco: “Responsabilidade civil. Acidente ferroviário. Queda de trem. "Surfista ferroviário". Culpa exclusiva da vítima. I - A pessoa que se arrisca em cima de uma composição ferroviária, praticando o denominado "surf ferroviário", assume as consequências de seus atos, não se podendo exigir da companhia ferroviária efetiva fiscalização, o que seria até impraticável. II – Concluindo o acórdão tratar o caso de "surfista ferroviário", não há como rever tal situação na via especial, pois demandaria o revolvimento de matéria fático-probatória, vedado nesta instância superior (Súmula 7/STJ). III – Recurso especial não conhecido.” (STJ, REsp 160051/RJ, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, Terceira Turma, DJ 17/02/2003). Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 17 127 Desastre ferroviário: formas qualificadas O Código Penal, nos parágrafos primeiro e segundo do artigo 260, traz formas qualificadas do crime de perigo de desastre ferroviário, trazendo uma denominação diversa: desastre ferroviário. O parágrafo primeiro traz uma figura preterdolosa, no caso de ocorrer o resultado consistente em desastre, que deve ter sido praticado por negligência, imprudência ou imperícia. A pena será a de reclusão, de quatro a doze anos e multa. Há também a previsão de outro crime qualificado pelo resultado. Também se pune a efetiva ocorrência do desastre, como fato subsequente, mas no caso de o agente agir com culpa também quanto ao fato antecedente (culpa no antecedente e culpa no consequente). Nesta modalidade, a pena prevista é a de detenção, de seis meses a dois anos. 3.2 ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE TRANSPORTE MARÍTIMO, FLUVIAL OU AÉREO O crime de atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo está previsto no artigo 261 do Código Penal: Art. 261 - Expor a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificultar navegação marítima, fluvial ou aérea: Pena - reclusão, de dois a cinco anos. Sinistro em transporte marítimo, fluvial ou aéreo § 1º - Se do fato resulta naufrágio, submersão ou encalhe de embarcação ou a queda ou destruição de aeronave: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Prática do crime com o fim de lucro § 2º - Aplica-se, também, a pena de multa, se o agente pratica o crime com intuito de obter vantagem econômica, para si ou para outrem. Modalidade culposa § 3º - No caso de culpa, se ocorre o sinistro: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. A conduta típica é “expor” (deixar ou ficar sem proteção) a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou “praticar” (fazer, produzir) qualquer ato tendente a impedir (obstruir, interromper, tornar impraticável) ou dificultar (tornar difícil ou mais difícil, estorvar, atrapalhar) navegação marítima, fluvial ou aérea. É crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É de perigo concreto, consumando-se com a criação do perigo, que deve ser efetivo e concreto. É plurissubsistente, admitindo a tentativa. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 18 127 Crime mercenário O parágrafo segundo do artigo 261 prevê a forma mercenário do delito, ou seja, quando haja a finalidade específica de obtenção de vantagem econômica, seja para o próprio agente, seja para outrem. Neste caso, aplica-se, cumulativamente, a pena de multa. Modalidade culposa O artigo 261, em seu parágrafo terceiro, prevê a punição do delito a título de negligência, imprudência ou imperícia. Em tal caso, a pena será de detenção, de seis meses a dois anos. 3.3 ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE OUTRO MEIO DE TRANSPORTE O delito de atentado contra a segurança de outro meio de transporte está situado no artigo 262 do Código Penal: Art. 262 - Expor a perigo outro meio de transporte público, impedir-lhe ou dificultar-lhe o funcionamento: Pena - detenção, de um a dois anos. § 1º - Se do fato resulta desastre, a pena é de reclusão, de dois a cinco anos. § 2º - No caso de culpa, se ocorre desastre: Pena - detenção, de três meses a um ano. O dispositivo acima prevê como conduta típica a de “expor” (deixar ou ficar sem proteção) a perigo outro meio de transporte público. Há, ainda, as formas alternativas de impedir (obstruir, interromper, tornar impraticável) ou dificultar (tornar difícil ou mais difícil, estorvar, atrapalhar) o funcionamento de outro meio de transporte público. O tipo penal faz referência a outro meio de transporte, em razão de já estarem abrangidos, pelo artigo 261, o marítimo, fluvial e o aéreo. Restariam, assim, o lacustre e o rodoviário. Podemos pensar, ainda, no aeroespacial, que, mesmo que não implementado como serviço de transporte de passageiros, já vem sendo utilizado inclusive para fins privados e pode se tornar público no futuro. O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É plurissubsistente, sendo cabível a punição pela tentativa. A doutrina oclassifica como crime de perigo concreto, de modo que é necessária a demonstração de perigo real e efetivo para a sua configuração. Modalidade qualificada (preterdolosa) O parágrafo primeiro do artigo 262 prevê a forma qualificada pelo resultado desastre. Cuida-se de figura preterdolosa, cuja pena é de reclusão, de dois a cinco anos. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 19 127 Modalidade culposa Já o parágrafo segundo do artigo 262 trata também de forma qualificada pelo resultado consistente em desastre. Entretanto, a previsão é de culpa tanto no fato antecedente quanto no subsequente. A pena passa a ser de detenção, de três meses a um ano. 3.4 FORMA QUALIFICADA O artigo 263 prevê forma qualificada, cabível a vários dos delitos estudados: Art. 263 - Se de qualquer dos crimes previstos nos arts. 260 a 262, no caso de desastre ou sinistro, resulta lesão corporal ou morte, aplica-se o disposto no art. 258. O dispositivo é aplicável aos crimes de perigo de desastre ferroviário; atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo; sinistro em transporte marítimo, fluvial ou aéreo e atentado contra a segurança de outro meio de transporte. Determina-se que, no caso de lesão corporal ou morte, deve-se aplicar o disposto no artigo 258 do CP, já estudado: Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço. 3.5 ARREMESSO DE PROJÉTIL O delito de arremesso de projétil está previsto no artigo 264 do Código Penal: Art. 264 - Arremessar projétil contra veículo, em movimento, destinado ao transporte público por terra, por água ou pelo ar: Pena - detenção, de um a seis meses. Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos; se resulta morte, a pena é a do art. 121, § 3º, aumentada de um terço. A ação nuclear típica é arremessar, que significa atirar, lançar longe, jogar. A conduta incriminada é arremessar projétil (objeto sólido lançado por impulsão, que a doutrina destaca dever ser pesado) contra veículo, em movimento, destinado ao transporte público por terra, por água ou pelo ar. Há quem defenda não se tipificar o crime se o veículo for particular. Entretanto, o que a lei exige é que seja veículo de transporte público, seja por terra (ferroviário ou rodoviário), por água (marítimo, fluvial ou lacustre) ou pelo ar (aéreo). Ademais, o veículo deve estar em movimento. O crime é doloso, sem exigência de elemento subjetivo especial do tipo, sendo que, se este estiver presente, pode-se configurar crime diverso. É comum, não se exigindo qualidade especial do sujeito ativo. É de forma Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 20 127 livre. É de perigo abstrato. A maioridade da doutrina entende ser unissubsistente, não sendo admissível a tentativa, sendo que Mirabete tem entendimento contrário. Por razão de especialidade, o disparo de projétil com emprego de arma de fogo tipifica o crime do Estatuto do Desarmamento, Lei 10.826/2003. O artigo 15 de referida lei prevê o crime de disparo de arma de fogo. Forma qualificada O parágrafo único prevê modalidade qualificada do delito, consistente em figura preterdolosa. Sobrevindo resultado consistente em lesão corporal, por culpa do agente, a pena passa a ser de detenção, de seis meses a dois anos. Se o resultado, decorrente de imprudência, negligência ou imperícia, for a morte, aplica-se a pena do homicídio culposa (detenção, de um a três anos), com a causa de aumento de um terço. 3.6 ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBICA O artigo 265 do Código Penal trata sobre o crime de atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública: Art. 265 - Atentar contra a segurança ou o funcionamento de serviço de água, luz, força ou calor, ou qualquer outro de utilidade pública: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. Parágrafo único - Aumentar-se-á a pena de 1/3 (um terço) até a metade, se o dano ocorrer em virtude de subtração de material essencial ao funcionamento dos serviços. A ação nuclear típica é atentar, que significa cometer ofensa, importunar. Volta-se a conduta contra a segurança ou o funcionamento de serviço de água, luz, força ou calor, podendo ainda se voltar contra qualquer outro que seja de utilidade pública (interpretação analógica). Qualquer indivíduo pode ser o sujeito ativo, tratando-se, pois, de crime comum. É doloso, sem previsão de qualquer finalidade específica. O entendimento majoritário é que o crime é de perigo abstrato, sendo que o perigo, assim, é presumido por lei. É possível a tentativa, por ser o delito plurissubsistente. Apesar de não ser recente, vale citar o precedente do STJ, em que se fixa a competência da Justiça Estadual: “CONSTITUCIONAL E PENAL. COMPETENCIA. CRIME CONTRA BENS E SERVIÇOS DE SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. COMPETE A JUSTIÇA COMUM ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR AÇÃO PENAL RELACIONADA COM ATENTADO CONTRA O FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA OU DANOS CAUSADOS A UMA SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA PRESTADORA OU CONCESSIONARIA DESSES SERVIÇOS. INCIDENCIA DA SUMULA 42-STJ.” (CC 13182/TO, Rel. Min. Jesus Costa Lima, Terceira Seção, DJ 05/06/1995). Entretanto, se o crime de voltar contra a segurança ou funcionamento de serviço de utilidade pública que seja de interesse da União, a competência será da Justiça Comum Federal. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 21 127 Especialidade Há crimes especiais em relação ao art. 265, do CP. Se houver intenção política, pode-se configurar o crime do artigo 15, § 1º, b, da Lei de Segurança Nacional, a Lei 7.170/83. No caso de prédios militares ou sujeitos à administração militar, há o crime do art. 287 do Código Penal Militar. Por fim, se a conduta se referir ao funcionamento de instalação nuclear ou o transporte de material nuclear, incide o crime do artigo 27 da Lei 6.453/77. Forma majorada O parágrafo único do artigo 265 prevê a causa de aumento de pena de um terço até metade se o dano ocorrer em virtude de subtração de material essencial ao fornecimento de serviço de água, luz, força, calor ou outro que seja de utilidade pública. Diferencia-se do furto em razão da finalidade. Aqui, o agente subtrai com a finalidade de prejudicar um serviço de utilidade pública, e não apenas com fins patrimoniais. No furto, a intenção do agente é de cunho patrimonial. 3.7 INTERRUPÇÃO OU PERTURBAÇÃO DE SERVIÇO TELEGRÁFICO, TELEFÔNICO, INFORMÁTICO, TELEMÁTICO OU DE INFORMAÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA O artigo 266 do Código Penal dispõe sobre a infração penal de interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico, informático, telemático ou de informação de utilidade pública: Art. 266 - Interromper ou perturbar serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico, impedir ou dificultar-lhe o restabelecimento: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. § 1o Incorre na mesma pena quem interrompe serviço telemático ou de informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta-lhe o restabelecimento. § 2o Aplicam-se as penas em dobro se o crime é cometido por ocasião de calamidade pública. Os núcleos do tipo são condutas alternativas: “impedir” (fazer cessar, pôr termo a) ou “perturbar” (estorvar, atrapalhar, abalar). A conduta incriminada é impedir ou perturbar serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico. Também se tipifica as condutas de “impedir” (fazer cessar, pôr termo a) ou “dificultar” (estorvar,tornar difícil) o restabelecimento de serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico. Serviço telegráfico é o que permite a transmissão de mensagens a distância, através de fios, mediante o uso de código de sinais. Serviço radiotelegráfico é o de transmissão de mensagens, através de ondas eletromagnéticas, utilizando-se também um código de sinais. Serviço telefônico é o que se realiza pela transmissão do som à distância, seja mediante ondas ou fios. O que se tutela é o próprio serviço, e não uma comunicação isoladamente considerada. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 22 127 Como forma equiparada, o parágrafo primeiro reza que incorre na mesma pena quem interrompe serviço telemático ou de informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta-lhe o restabelecimento. Na forma equiparada, não há previsão da conduta de perturbar. Serviço telemático é o que possibilita a transmissão de comunicação por meio de informação computadorizada, ou seja, mediante o uso de computador ou outro equipamento de processamento de informações. Serviço de informação de utilidade pública é o que interessa para a população, como o de jornais. O crime é doloso, sem previsão de finalidade específica nem de modalidade culposa. É comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa. É plurissubsistente, sendo sua conduta fracionável. Por isso, admite a tentativa, também denominada de conatus. Forma majorada O parágrafo segundo do artigo 266 prevê a forma majorada, com aplicação em dobro, se o delito for cometido por ocasião de calamidade pública. 4. DOS CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA Denomina-se “Dos Crimes Contra a Saúde Pública” o Capítulo III do Título VIII do Código Penal, que, como se pode deduzir, também busca tutelar a incolumidade pública, mais especificamente no que se refere à saúde da população. São crimes contra a saúde pública o de epidemia; de infração de medida sanitária preventiva; de omissão de notificação de doença; de envenenamento de água potável ou se substância alimentícia ou medicinal; de corrupção ou poluição de água potável; de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos alimentícios; de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais; de emprego de processo proibido ou de substância não permitida; de invólucro ou recipiente com falsa indicação; de produto ou substância nas condições dos dois artigos anteriores; de substância destinada à falsificação; de outras substâncias nocivas à saúde pública; de medicamento em desacordo com receita médica; de exercício irregular da medicina, arte dentária ou farmacêutica; de charlatanismo e de curandeirismo. 4.1 EPIDEMIA O crime de epidemia está previsto no artigo 267 do Código Penal: Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos: Pena - reclusão, de dez a quinze anos. § 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 23 127 § 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos. O núcleo do tipo é causar, que significa provocar, ser a causa de, motivar. Penaliza-se a conduta de causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos. Epidemia é um surto de doença, atacando um grande número de pessoas em uma determinada região, mas de forma transitória. O crime é de forma vinculada, sendo que, para sua configuração, a epidemia deve ser causada mediante a propagação (disseminação) de germes patogênicos, ou seja, de microorganismos que transmitem doenças. Pode ser sujeito ativo qualquer pessoa, sendo o crime comum. O caput prevê a modalidade culposa. Se houver elemento subjetivo do tipo, consistente na intenção de matar (animus necandi), o crime será o de homicídio. Caso a intenção seja transmitir a moléstia a pessoa determinada ou a pessoas determinadas, pode-se configurar o crime de perigo de contágio de moléstia grave. O crime é plurissubsistente, admitindo a tentativa. Forma qualificada O parágrafo primeiro do artigo 267 prevê que a pena passa a ser de reclusão, de dez a quinze anos, se do fato resultar morte. Cuida-se de figura preterdolosa, devendo o resultado ser provocado por culpa em sentido estrito. Caso contrário, o crime será o de homicídio. Caso haja o resultado morte e o elemento subjetivo seja o dolo, o crime é hediondo, como prevê o artigo 1º, inciso VII, da Lei 8.072/90: Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: (...) VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o). Portanto, configura-se a hediondez se configurar o delito previsto no parágrafo primeiro do artigo 267, que é a modalidade preterdolosa. Modalidades culposa e culposa qualificada pelo resultado O parágrafo segundo do artigo 267, por sua vez, trata do crime cometido por imprudência, negligência ou imperícia. Em tal modalidade, sua pena é a de detenção, de um a dois anos. Havendo resultado morte e sendo o delito culposo, a pena passa a ser de detenção, de dois a quatro anos. 4.2 INFRAÇÃO DE MEDIDA SANITÁRIA PREVENTIVA O crime de infração de medida sanitária preventiva está previsto no artigo 268 do Código Penal, nos seguintes termos: Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa: Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 24 127 Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro. “Infringir” é a ação nuclear típica, significando desobedecer, desrespeitar, violar. A conduta incriminada é infringir determinação do poder público, destinada a impedir (obstruir, não permitir) a introdução ou a propagação de doença contagiosa. O crime de infração de medida sanitária está previsto em norma penal em branco, por fazer referência à determinação do poder público. O termo é abrangente, incluindo leis, decretos, portarias e regulamentos, dentre outros. É crime comum, sendo que a qualidade especial do sujeito ativo pode torná-lo majorado, nos termos do parágrafo único do artigo 268. É plurissubsistente, possibilitando a punição da forma tentada. É formal, doloso, de forma livre, comissivo e de perigo abstrato. Forma majorada Há causa de aumento de pena no parágrafo único do artigo 268, com estabelecimento da fração de um terço. Incide se o agente possuir uma das seguintes condições pessoas: se for funcionário da saúde pública ou exercer a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro. 4.3 OMISSÃO DE NOTIFICAÇÃO DE DOENÇA O crime de omissão de notificação de doença está previsto no artigo 269 do Código Penal: Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. A conduta incriminada é deixar de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória. O crime, portanto, é omissivo próprio, pois prevê como ação típica um não fazer. O médico deve denunciar, aqui no sentido de comunicar ou informar, doença cuja notificação seja compulsória. A norma penal é classificada como em branco, por depender de complementação normativa, consistente em diploma legal ou regulamentar que defina as doenças que obrigam o médico a comunicar a autoridade. Caso haja prazo para a notificação, o crime se consumará com a expiração do prazo. Se não houver prazo, dependerá das circunstâncias, como no caso deo médico arquivar o prontuário, mais de um mês após encerrado o atendimento do paciente, sem proceder à notificação. É crime próprio, pois só pode praticá-lo o médico. Seu elemento subjetivo é dolo, sem exigência de intuito específico do agente. Por ser omissivo puro, não admite a tentativa. É formal e instantâneo. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 25 127 4.4 ENVENENAMENTO DE ÁGUA POTÁVEL OU DE SUBSTÂNCIA ALIMENTÍCIA OU MEDICINAL O envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal possui previsão no artigo 270 do Código Penal: Art. 270 - Envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo: Pena - reclusão, de dez a quinze anos. § 1º - Está sujeito à mesma pena quem entrega a consumo ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída, a água ou a substância envenenada. Modalidade culposa § 2º - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. A infração penal apresenta como ação nuclear típica o verbo “envenenar”, que significa administrar ou colocar veneno. Veneno, por sua vez, é a substância nociva ao organismo humano, aquela que pode destruir suas funções vitais. O tipo é envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo. O crime é comum, doloso, formal, instantâneo e plurissubsistente. Neste ponto, cumpre destacar que Luiz Regis Prado e Rogério Sanches Cunha6 defendem ter havido a revogação parcial (derrogação) do artigo 270 no que se refere à água potável, de uso comum ou particular. O tipo penal continuaria vigente no que se refere à substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo. A revogação seria decorrência do que prevê o artigo 54 da Lei 9.605/98: Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º Se o crime: I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana; II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população; 6 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts.121 ao 361). 12ª Ed. Salvador: JusPODIVM, 2020, p. 959. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 26 127 III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; IV - dificultar ou impedir o uso público das praias; V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível. Entretanto, a posição não é compartilhada por toda a doutrina, apesar de possuir argumentos sólidos, já que poluir envolve a conduta de envenenar. É possível sustentar entendimento diverso, já que o envenenamento, colocando em risco a saúde pública de forma direta, seria mais grave que a poluição, que pode afetar a saúde indiretamente, no caso, por exemplo, de águas não utilizadas para consumo humano e em nível que não prejudique a saúde humana. Modalidade equiparada Há, ainda, a forma equiparada de prática do delito, consoante prevê o parágrafo primeiro do artigo 270. Incorre na mesma pena quem entrega a consumo ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída, a água ou a substância envenenada. Na modalidade de ter em depósito, o crime é permanente, já que sua consumação se protrai no tempo, enquanto o agente possuir a água ou a substância envenenada em depósito, desde que a finalidade seja a de sua distribuição. Entretanto, também aqui os autores acima mencionados defendem ter havido a revogação pela Lei 9.605/98, em razão do que dispõe seu artigo 56: Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I - abandona os produtos ou substâncias referidos no caput ou os utiliza em desacordo com as normas ambientais ou de segurança; II - manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, reutiliza, recicla ou dá destinação final a resíduos perigosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento. § 2º Se o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a pena é aumentada de um sexto a um terço. § 3º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 27 127 Modalidade culposa O parágrafo segundo do artigo 270 prevê a modalidade culposa, determinando a aplicação da pena de detenção, de seis meses a dois anos. 4.5 CORRUPÇÃO OU POLUIÇÃO DE ÁGUA POTÁVEL Formalmente, há a previsão do crime de corrupção ou poluição de água potável no artigo 271 do Código Penal: Art. 271 - Corromper ou poluir água potável, de uso comum ou particular, tornando-a imprópria para consumo ou nociva à saúde: Pena - reclusão, de dois a cinco anos. Modalidade culposa Parágrafo único - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de dois meses a um ano. Entretanto, neste caso a doutrina e jurisprudência apontam para a revogação total (ab-rogação) do dispositivo, de forma tácita, em razão de a matéria estar regulada pelo artigo 54 da Lei 9.605/98, que já foi integralmente transcrito acima, razão pela qual se traz à colação apenas seu caput: Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Neste sentido, há o seguinte precedente do Superior Tribunal de Justiça: “CRIMINAL. HABEAS CORPUS. POLUIÇÃO AMBIENTAL. DESTRUIÇÃO OU DANO A FLORESTA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. CORRUPÇÃO DE ÁGUA POTÁVEL. AB-ROGAÇÃO PELA LEI Nº 9.605/98. AUSÊNCIA DE INDÍCIOS MÍNIMOS DE AUTORIA NO DELITO DE DANO E DE COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE NO CRIME DE POLUIÇÃO AMBIENTAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA. I. O tipo penal, posterior, específico e mais brando, do art. 54 da Lei nº 9.605/98 engloba completamente a conduta tipificada no art. 271 do Código Penal, provocando a ab-rogação do delito de corrupção ou poluição de água potável. (...)” (STJ, HC 178423/GO, Rel. Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe 19/12/2011). 4.6 FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE SUBSTÂNCIA OU PRODUTOS ALIMENTÍCIOS O crime de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtor alimentícios está previsto no artigo 272: Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 28 127 Art. 272 - Corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício destinado a consumo, tornando-o nociva à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.§ 1º-A - Incorre nas penas deste artigo quem fabrica, vende, expõe à venda, importa, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrompido ou adulterado. § 1º - Está sujeito às mesmas penas quem pratica as ações previstas neste artigo em relação a bebidas, com ou sem teor alcoólico. Modalidade culposa § 2º - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. O tipo penal é misto alternativo, possuindo os seguintes núcleos: “corromper” (estragar, deteriorar); “adulterar” (introduzir modificação para pior, deturpar, defraudar); “falsificar” (contrafazer, dar como verdadeiro o que não é, fazer passar o falso por verdadeiro) ou alterar (modificar, mudar, transformar). A conduta incriminada é corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício. É necessário, ainda, que haja o seguinte resultado: que a substância ou produto alimentício se torne nocivo à saúde ou que haja redução do seu valor nutritivo. O parágrafo 1º-A prevê a primeira modalidade equiparada, ao dispor que submete-se às mesmas penas quem fabrica (manufatura, produz), vende (aliena, comercializa, negocia por um preço), expõe à venda (mostre ou exibe para a negociação, a venda), importa (traz do exterior), tem em depósito (guarda, armazena) para vender ou, de qualquer forma, distribui (espalha, divide) ou entrega (dá, repassa) a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrompido ou adulterado. O parágrafo primeiro também prevê modalidade equiparada, determinado a sujeição às mesmas penas de quem pratica as ações previstas no tipo penal do caput em relação a bebidas, com ou sem teor alcoólico. Há, portanto, um alargamento do rol dos objetos materiais do crime. É doloso, na forma do caput e dos §§ 1º-A e 1º, sem necessidade de elemento subjetivo especial do injusto. É crime comum, plurissubsistente e de forma livre, além de ser classificado como de perigo abstrato. A doutrina majoritária aponta que o crime se consuma com a prática de qualquer das condutas típicas. Na forma do caput, entretanto, a leitura demonstra a necessidade de que a substância ou o produto alimentício destinado a consumo se torne nocivo à saúde ou tenha seu valor nutritivo reduzido. De todo modo, recomenda-se considerar o crime formal em todas as formas, conforme entendimento que prevalece. Por se tratar de crime de fato não transeunte, ou seja, que deixa vestígios, é necessária a realização de exame pericial, nos termos do seguinte julgado do Superior Tribunal de Justiça: “PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A RELAÇÃO DE CONSUMO. ART. 7º, IX, Lei 8.137/90. FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE SUBSTÂNCIA OU PRODUTOS ALIMENTÍCIOS. ART. 272, §1º-A, CP. INEXISTÊNCIA DE PERÍCIA TÉCNICA. AUSÊNCIA DE PROVA DA MATERIALIDADE DELITIVA. FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A PERSECUÇÃO CRIMINAL. ORDEM DENEGADA. 1. A venda de produtos impróprios ao uso e consumo, nocivos à saúde ou com valor nutricional reduzido, constituem delitos que deixa vestígios, sendo indispensável, nos termos do artigo 158 do Código de Processo Penal, a realização de exame pericial que ateste a materialidade Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 29 127 delitiva, não bastando, para tanto, mero laudo de constatação. Precedentes. (...)” (STJ, RHC 45171, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª Turma, DJe 12/05/2016). Modalidade culposa O parágrafo segundo do artigo 272 prevê a responsabilização criminal em caso de imprudência, negligência ou imperícia. A pena correspondente é a de detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. 4.7 FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE PRODUTO DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS O delito de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais está previsto no artigo 273 do Código Penal, nos seguintes termos: Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa. § 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. § 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico. § 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qualquer das seguintes condições: I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente; II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior; III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização; IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade; V - de procedência ignorada; VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente. Modalidade culposa § 2º - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. O artigo 273 traz um tipo penal misto alternativo, cujos núcleos do tipo são “falsificar” (contrafazer, dar como verdadeiro o que não é, fazer passar o falso por verdadeiro); “corromper” (estragar, deteriorar); “adulterar” (introduzir modificação para pior, deturpar, defraudar) ou “alterar” (modificar, mudar, transformar). Michael Procopio Aula 20 Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 30 127 O parágrafo primeiro prevê a primeira modalidade equiparada, ao dispor que submete-se às mesmas penas quem importa (traz do exterior); vende (aliena, comercializa, negocia por um preço); expõe à venda (mostra ou exibe para a negociação, a venda); tem em depósito (guarda, armazena) para vender ou, de qualquer forma, distribui (espalha, divide) ou entrega (dá, repassa) a consumo o produto falsificado, corrompido ou adulterado. O parágrafo 1º-A aumenta o objeto material do crime, estendendo-o para os medicamentos (remédio, substância utilizada para tratamento medicinal), as matérias-primas (substância usada para a fabricação ou produção de outra), os insumos farmacêuticos (substância devida de matérias-primas, utilizada para produção de medicamentos), os cosméticos (produtos que se destinam à limpeza, melhoria e maquiagem da pele, ou seja, para melhoria da aparência), os saneantes (produtos usados para a limpeza, para a purificação) e os de uso em diagnóstico (aqueles que se destinam à realização de exames da área da saúde). Além disso, há maior ampliação na abrangência do crime em estudo, com a introdução do parágrafo 1º-B, que determina a punição de quem pratica qualquer das condutas previstas no parágrafo primeiro (importar, vender, expor à venda, distribuir ou entregar a consumo) em relação a produtos nas seguintes condições: sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente; em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior; sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização; com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade; de procedência ignorada; adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente. O objeto material mencionado no caput é produto destinado a fins farmacêuticos ou medicinais, ou seja, aqueles que buscam o tratamento ou a cura do seu consumidor, do seu usuário. O crime é comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa. É de perigo abstrato, conforme entendimento majoritário. É instantâneo, formal e unissubjetivo, além de ser plurissubsistente, admitindo a tentativa. Conforme prevê
Compartilhar