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Princípios de Contabilidade: 
conceitos e aplicações
Os princípios contábeis são regras adotadas pelos profissionais de conta-
bilidade que devem ser observadas na elaboração das Demonstrações Con-
tábeis. São de aplicação obrigatória por força da Lei 6.404/76, que em seu 
artigo 177, determina que:
A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos 
preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios de contabilidade geralmente 
aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar 
as mutações patrimoniais segundo o regime de competência.
Para um enunciado com força de aplicação geral pelos contadores ser 
classificado como princípio contábil, é necessário que contenha duas carac-
terísticas essenciais: deve ser praticável e útil. A utilidade diz respeito ao valor 
agregado à informação contábil pela aplicação daquele princípio. A pratica-
bilidade está vinculada à premissa de que se de alguma forma não puder ser 
exigida de todos os contadores a observância daquele procedimento, então 
faltará a esse enunciado a generalidade, tornando-se impraticável para 
algum segmento, região ou atividade econômica especificamente.
O CFC – Conselho Federal de Contabilidade, por meio da Resolução 
1.282/2010, atualizou e consolidou dispositivos da Resolução CFC 750/93, 
que dispõe sobre os Princípios de Contabilidade. Os fundamentos que jus-
tificaram essa atualização, conforme o teor da Resolução 1.282/2010, estão 
vinculados ao processo de convergência às normas internacionais de con-
tabilidade, o que anteriormente já havia sido justificativa da emissão, pelo 
Conselho Federal de Contabilidade, da NBC – TG Estrutura Conceitual – Es-
trutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações 
Contábeis, através da Resolução CFC 1.121/2008 (revogada/substituída pela 
Resolução CFC 1.374/2011). Segundo a Resolução CFC 1.282/2010, a decisão 
por manter a Resolução 750/93 baseou-se:
CONSIDERANDO a necessidade de manutenção da Resolução CFC 750/93, que foi e 
continua sendo referência para outros organismos normativos e reguladores brasileiros;
CONSIDERANDO a importância do conteúdo doutrinário apresentado na Resolução CFC 
750/93, que continua sendo, nesse novo cenário convergido, o alicerce para o julgamento 
profissional na aplicação das Normas Brasileiras de Contabilidade;
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Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações
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Consta também como justificativa para a citada Resolução 1.282/2010 
a necessidade de harmonização dos dois documentos vigentes até aquele 
momento (Resolução CFC 750/93 e NBC T11), o que implicou a alteração na 
denominação de Princípios Fundamentais de Contabilidade para somente 
Princípios de Contabilidade, pois o entendimento do CFC é de que a nova 
denominação é “suficiente para o perfeito entendimento dos usuários das 
demonstrações contábeis e dos profissionais da Contabilidade”.
A Resolução CFC 750/93, atualizada, elenca os seguintes princípios de 
contabilidade:
entidade;a) 
continuidade;b) 
oportunidade;c) 
registro pelo Valor Original;d) 
competência;e) 
prudência.f ) 
Princípio da Entidade
Conforme o artigo 4.º da Resolução 750/93, o patrimônio, a teor do prin-
cípio da entidade, é reconhecido como objeto da Contabilidade. Afirma-se, 
assim, a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um Pa-
trimônio particular de um universo de patrimônios existentes a ele vincu-
lados juridicamente, independentemente de pertencer a uma pessoa, um 
conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou 
finalidade, com ou sem fins lucrativos. O princípio tem como axioma que o 
Patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, 
no caso de sociedade ou instituição, determinando-se pelo seu enunciado 
a clara distinção entre o que pertence à entidade do que é das pessoas, físi-
cas ou jurídicas, que são seus sócios e acionistas. Quando não se distingue 
claramente o que pertence à entidade daquilo que é do sócio, podem surgir 
contingências fiscais, como no exemplo de se considerar como despesa um 
recurso consumido exclusivamente pelo sócio. Ressalte-se que o parágrafo 
único do artigo em comento destaca que: 
1 A NBC T1 teve sua nomenclatura e conteúdo alterados pelas resoluções CFC 1.329/2011 e 1.374/2011, passando a ser denominada NBC TG Estrutura 
Conceitual. 
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Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações
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Patrimônio pertence à Entidade, mas a recíproca não é verdadeira. A soma ou agregação 
contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova entidade, mas numa unidade de 
natureza econômico-contábil,
Como no caso de diversos patrimônios objetos de uma consolidação 
contábil.
Princípio da Continuidade
O artigo 5.º da Resolução 750/93, com redação dada pelo Resolução 
1.282/2010, dispõe que o
Princípio da Continuidade pressupõe que a Entidade continuará em operação no futuro 
e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em 
conta essa circunstância.
As empresas são criadas com a intenção de operarem indefinidamente. 
Essa premissa deve ser observada quando do registro e avaliação das muta-
ções patrimoniais, só se alterando esse princípio se surgirem fortes evidên-
cias de descontinuidade. A regra, portanto, é a perenidade dos negócios e é 
essa premissa que determina os critérios para reconhecimento e avaliação 
de ativos e passivos pela entidade.
Princípio da Oportunidade
Conforme o disposto no artigo 6.º da Resolução CFC 750/93 (redação 
dada pelo Resolução CFC 1.282/2010):
O Princípio da Oportunidade refere-se ao processo de mensuração e apresentação dos 
componentes patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas.
Define ainda, em seu parágrafo único, que
a falta de integridade e tempestividade na produção e na divulgação da informação 
contábil pode ocasionar a perda de sua relevância, por isso é necessário ponderar a 
relação entre a oportunidade e a confiabilidade da informação.
O registro das operações deve ser efetuado no tempo certo e com a ex-
tensão correta, sendo que existindo apenas razoável possibilidade de ocor-
rer um evento, este deve ser considerado, como no exemplo das provisões 
constituídas, quando um evento econômico está se potencializando.
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Princípio do Registro pelo Valor Original
O enunciado deste princípio trazido pelo artigo 7.º e seus parágrafos da 
Resolução 750/93 (com redação dada pela Resolução CFC 1.282/2010), diz 
expressamente que:
O Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os componentes do patrimônio 
devam ser inicialmente registrados pelos valores originais das transações, expressos em 
moeda nacional.
Inicialmente, os ativos e passivos devem ser contabilizados pelos valo-
res originais que representam as quantidades de moedas representativas 
dos eventos. Porém, na permanência desses elementos como componentes 
de um determinado patrimônio, outros critérios de mensuração devem ser 
cuidadosamente estudados para se estabelecer os melhores parâmetros de 
atribuição de valores a esses objetos ou eventos.
Os componentes do Patrimônio devem ser registrados pelos valores 
originais das transações, expressos a valor presente na moeda do país. Por 
exemplo, a regra como base para avaliação dos ativos é o seu valor de custo 
ou de mercado, o que for menor. Entretanto, poderão ser utilizados outros 
critérios quando da mensuração desses ativos na permanência destes no 
patrimônio, como custo corrente, valor de realização líquida, valor justo e 
outros conforme o caso.
De acordo com a redação dada pela Resolução 1.282/2010,no critério do 
custo histórico (Res. 750/93, artigo 7.º, §1.º, I)
I - Os ativos são registrados pelos valores pagos ou a serem pagos em caixa ou equivalentes 
de caixa ou pelo valor justo dos recursos que são entregues para adquiri-los na data da 
aquisição. Os passivos são registrados pelos valores dos recursos que foram recebidos 
em troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias, pelos valores em caixa ou 
equivalentes de caixa, os quais serão necessários para liquidar o passivo no curso normal 
das operações.
Entretanto, os ativos e passivos, uma vez incorporados ao patrimônio, 
podem sofrer variações em seu custo histórico, influenciadas por outros cri-
térios, indicados no inciso II desse mesmo artigo:
a) Custo corrente. Os ativos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de 
caixa, os quais teriam de ser pagos se esses ativos ou ativos equivalentes fossem adquiridos 
na data ou no período das demonstrações contábeis. Os passivos são reconhecidos pelos 
valores em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que seriam necessários para 
liquidar a obrigação na data ou no período das demonstrações contábeis;
b) Valor realizável. Os ativos são mantidos pelos valores em caixa ou equivalentes de 
caixa, os quais poderiam ser obtidos pela venda em uma forma ordenada. Os passivos 
são mantidos pelos valores em caixa e equivalentes de caixa, não descontados, que se 
espera seriam pagos para liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das 
operações da Entidade;
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Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações
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c) Valor presente. Os ativos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro 
de entrada líquida de caixa que se espera seja gerado pelo item no curso normal das 
operações da Entidade. Os passivos são mantidos pelo valor presente, descontado do 
fluxo futuro de saída líquida de caixa que se espera seja necessário para liquidar o passivo 
no curso normal das operações da Entidade;
d) Valor justo. É o valor pelo qual um ativo pode ser trocado, ou um passivo liquidado, 
entre partes conhecedoras, dispostas a isso, em uma transação sem favorecimentos; e
e) Atualização monetária. Os efeitos da alteração do poder aquisitivo da moeda nacional 
devem ser reconhecidos nos registros contábeis mediante o ajustamento da expressão 
formal dos valores dos componentes patrimoniais.
Princípio da Competência
As receitas e despesas devem ser incluídas no resultado no período em 
que ocorreram, e não quando efetivamente recebidas ou pagas. O resultado 
(lucro ou prejuízo) de um exercício deve corresponder ao confronto das re-
ceitas e despesas geradas naquele exercício. O artigo 9.º da Resolução CFC 
1.282/2010, determina que, na competência,
os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se 
referem, independentemente do recebimento ou pagamento.
O Princípio da Competência, que se contrapõe ao regime de caixa, pressu-
põe a simultaneidade da confrontação de receitas e de despesas que sejam 
correlatas. Szuster (2011) afirma que os fatos contábeis devem ser reconhe-
cidos quando ocorridos os eventos econômicos, independentemente dos 
seus efeitos financeiros.
O princípio da competência exige que se estabeleça claramente quando 
a receita é considerada realizada. Nesse sentido considera-se que houve a 
realização efetiva da receita quando, tornando-se passível de registro pela 
Contabilidade quando produtos ou serviços produzidos ou prestados pela 
Entidade são transferidos para outra Entidade ou pessoa física, com a anuên-
cia destas, e mediante pagamento ou compromisso de pagamento. Ou seja, 
é a transferência de propriedade ou a execução do serviço que, regra geral, 
determina a obrigatoriedade do reconhecimento contábil da receita.
Já em relação às despesas e aos custos, estes devem ser adequadamente 
confrontados com as receitas para que o lucro possa ser mensurado e reco-
nhecido no momento econômico de sua geração. Nesse caso, toda despesa 
diretamente delineável com as receitas reconhecidas em determinado perío- 
do com estas deverá ser confrontada; os consumos ou sacrifícios de ativos 
(atuais ou futuros), realizados em determinado período e que não puderam 
ser associados à receita do período nem às dos períodos futuros, deverão ser 
descarregados como despesa do período em que ocorreram.
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Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações
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Princípio da Prudência ou Conservadorismo
Este princípio determina a adoção do menor valor para o Ativo e o maior 
valor para o Passivo, sempre que as alternativas para a quantificação das mu-
tações patrimoniais se apresentem de forma igualmente válidas.
O Parágrafo único, do artigo 10 da Resolução CFC 750/93 impõe que na 
observância do princípio da Prudência deve prevalecer o emprego de
certo grau de precaução no exercício dos julgamentos necessários às estimativas em certas 
condições de incerteza, no sentido de que ativos e receitas não sejam superestimados 
e que passivos e despesas não sejam subestimados, atribuindo maior confiabilidade ao 
processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais.
A contabilidade deve pautar-se pela escolha de critérios de mensuração 
de ativos e passivos que resultem no menor valor para os ativos e receitas e 
o maior valor para os passivos e despesas, sempre que se apresentem alter-
nativas igualmente válidas de atribuição de valores diferentes a um elemen-
to do ativo (ou do passivo). O conservadorismo ou cautela nesses casos é 
recomendado para se evitar que as informações evidenciadas nos relatórios 
contábeis criem falsas expectativas no mercado, induzindo pessoas a efetu-
arem transações com a empresa baseadas em eventos que tenham riscos 
potenciais de não se realizarem da forma como foram divulgados. Todas as 
expectativas de perdas de ativos devem ser reconhecidas e os seus riscos 
mensurados. A empresa pode experimentar perdas nos estoques, nos clien-
tes, nos ativos financeiros, entre outros, e essas perdas potenciais devem ser 
contabilizadas.
A prudência também deve ser utilizada no julgamento de passivos que 
estejam surgindo, embora não exista naquele momento uma obrigação lí-
quida e certa com terceiros. As provisões para contingências fiscais, traba-
lhistas e ambientais são exemplos de passivos que estão se potencializando 
e devem ser reconhecidos contabilmente. A contabilização de uma provável 
perda no ativo é efetuada tendo como contrapartida uma conta de despe-
sa ou ajuste na receita, como no exemplo das perdas prováveis com o não 
recebimento de créditos junto a clientes. A contabilização de uma provável 
obrigação no passivo deve ser reconhecida tendo como contrapartida uma 
conta de despesa, como no exemplo da provisão para indenizações traba-
lhistas, nos casos de ações trabalhistas movidas contra a empresa.
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Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações
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Convenções
As convenções contábeis caracterizam-se como restrições ou limitações 
aos princípios, visto que estes permitem aos contadores uma certa liberdade 
na escolha dos critérios de registro e mensuração dos eventos.
Embora não constem na Resolução 750/93 do Conselho Federal de Con-
tabilidade, temos as seguintes convenções:
convenção da Consistência; �
convenção da Materialidade; �
convenção da Objetividade. �
Convenção da Consistência
O contador deve ser consistente na escolha dos critérios para registrar e 
mensurar os eventos econômicos relevantes para a contabilidade. Uma vez 
adotado determinado critério, este deve, se possível, ser utilizado ao longo 
de diversos períodos contábeis, facilitando a comparabilidade e a análise de 
tendências a partir dos relatórios contábeis.
Se, por exemplo,for adotado determinado critério para avaliação dos es-
toques quando das baixas por vendas, este deve ser mantido o mais con-
sistentemente durante os períodos contábeis. Porém, essa convenção não 
deverá prejudicar a qualidade da informação contábil, pois em diversas si-
tuações é recomendável que se utilizem critérios diferentes de um período 
para outro, mas nesses casos deve constar em nota explicativa a natureza da 
alteração e quais foram as implicáveis no valor do patrimônio e no resultado 
empresarial, decorrentes especificamente da mudança de critério.
Convenção da Materialidade
Esta convenção orienta que o contador deve observar sempre a compa-
tibilidade da necessidade e utilidade da informação com o custo incorrido 
para sua geração e formalização na contabilidade, ou seja, o contador deve 
registrar as operações à luz da relação custo versus benefício da informação. 
Por exemplo, os valores despendidos com aquisição de materiais de expe-
diente. Embora não haja o consumo imediato desses ativos (consumo do 
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Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações
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recurso é o fato gerador da despesa), dado seus valores imateriais (nenhuma 
influência no resultado, pela antecipação do seu reconhecimento contábil) 
devem ser contabilizados como despesas no momento da compra desses 
elementos e não quando consumidos fisicamente.
O juízo de valor do profissional de contabilidade acerca da quantidade 
e qualidade de informação a ser disponibilizada aos usuários é de vital im-
portância para não se incorrer em informações desnecessárias (pela sua ir-
relevância), porém não é recomendável prejudicar o nível adequado de in-
formação pela omissão de valores pretensamente imateriais. Vale ressaltar 
que a definição de o quão material ou não é uma informação deve ser efe-
tuada levando-se em consideração o porte da empresa. Para um pequeno 
negócio demonstrar de forma analítica a despesa com pessoal no momento 
de R$5.000,00 pode ser extremamente útil ao gestor, porém esse valor para 
uma multinacional seria agregado com outros valores sem necessidade de 
sua divulgação de forma isolada, dada sua imaterialidade no contexto da-
quele resultado.
Convenção da Objetividade
O contador deve ser objetivo no momento do registro de uma transação, 
valendo-se prioritariamente de documentos de consubstanciem tal opera-
ção. Na falta de uma nota fiscal, recibo, contrato ou outro documento idôneo 
deverá valer-se de um laudo de especialista. A razão para a estrita obser-
vância dessa convenção é impedir que os contadores utilizem-se de critérios 
não formalizados em documentos para definição dos critérios de registro e 
avaliação dos elementos patrimoniais. A opinião do contador, como técnico, 
deverá ser sempre fundamentada em documentos, planilhas e outros tipos 
de controles internos. Qualquer ativo ou passivo reconhecido na contabi-
lidade e que não tenha um documento atestando sua existência, valor de 
entrada e outras informações essenciais, será de responsabilidade pessoal 
do contador. Portanto, essa convenção limita o livre-arbítrio do contador ao 
formalizar as operações na contabilidade.
Não havendo nenhuma indicação de um critério ou parâmetro que possa 
ser utilizado para avaliar o item, o contador deverá abster-se de registrá-lo 
contabilmente, como no caso de ativos contingentes. No máximo poderia 
evidenciar em notas explicativas.
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Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações
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Ampliando seus conhecimentos
A essência sobre a forma – 
aplicada na ciência da contabilidade 
(HOOG, 2010)
Resumo
Este tema tem um forte apelo no momento de implantação das IFRS para 
as sociedades anônimas e as sociedades de grande porte. Motivo pelo qual 
apresento uma breve análise sobre o teorema da essência sobre a forma, em 
decorrência da importância desta na ciência da contabilidade. Enfatizando 
que não se trata de um princípio ou método, e sim, de um teorema explica-
do pela teoria pura da contabilidade, que sempre foi essencial para afastar a 
figura dos indesejáveis balanços putativos.
Neste sucinto artigo, busca-se contribuir com uma força doutrinária con-
temporânea, que além de prestigiar a epiqueia contabilística, é deveras im-
portante para a criação de uma contabilidade fidedigna, afastando-se com 
isso a figura das interpretações polissêmicas e as ambíguas em relação às in-
formações e relatórios contábeis.
Palavras-chaves
Teorema da essência sobre a forma; teoria da essência sobre a forma, prin-
cípios da essência sobre a forma.
Desenvolvimento
A teoria contábil é um conhecimento meramente racional. Pode ser uma 
opinião sistematizada com a possibilidade de um viés de utopia. Contudo, 
a teoria contábil consagrou-se como sendo um conjunto de conhecimen-
tos não pueril, que apresenta uma sistematização e credibilidade, e que se 
propõe a explicar, elucidar ou interpretar um fenômeno ou acontecimen-
to que se oferecem à atividade da práxis da ciência. Cria um ponto de vista 
estritamente formal, em que não se encontram proposições contraditórias, 
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Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações
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nem nos axiomas, nem nos teoremas que deles se deduzem. A teoria deve 
alcançar o domínio filosófico e consiste em considerar esses fenômenos ou 
acontecimentos não como a soma de elementos isolados para uma análise, 
mas como parte de um conjunto que constitui unidades autônomas de uma 
célula social. Manifesta um vínculo da práxis contabilística, além de possuir 
leis próprias, donde resulta que o modo de ser de cada elemento depende 
da estrutura do conjunto e das leis que o regem. Pode ser simplesmente um 
conjunto de princípios da ciência da contabilidade, positivados pela doutrina, 
ou seja, opiniões sistematizadas por conjuntos de informações que têm por 
objeto o conhecimento científico, visando explicar os seus condicionamentos, 
sejam eles tecnológicos, históricos, linguísticos ou sociais.
E o teorema da substância sobre a forma é uma proposição dialética da 
moderna teoria pura da contabilidade que, para ser admitida ou se tornar evi-
dente, teve uma aprovação científica, que compreendeu três elementos:
o sujeito, que é o fato estudado (patrimônio);1. 
a hipótese, que é o que se conhece como verdadeiro (supremacia da 2. 
equidade);
e a tese, que é o que se pretende concluir ou demonstrar (a verdade 3. 
real se sobrepõe à verdade formal, uma vez que, se existir um Ativo ou 
um Passivo oculto em decorrência da forma de norma jurídica, tem-se 
a distorção do valor do Patrimônio Líquido).
Pois, se existir um Ativo ou um Passivo oculto em decorrência da forma 
ditada pela política contábil, tem-se a distorção do valor do Patrimônio Lí-
quido com a consequente perda da finalidade da contabilidade, cumulada 
com o erro de valoração, uma vez que a equidade prega a informação precisa 
e correta. Como exemplos de Ativos ocultos têm-se o não registro do fundo 
de comércio internamente desenvolvido e ausência de reavaliações de bens 
e direitos. Como exemplo de Passivos ocultos têm-se a não escrituração de 
provisões trabalhistas, ambientais e sociais. A essência sobre a forma hospeda 
a verdade real como uma supremacia de interesses científicos sobre a verdade 
formal. Esse teorema tem como valores: o princípio da fidelidade; o princípio 
da dialeticidade; o princípio da eticidade; o princípio da socialidade; o prin-
cípio da operabilidade; o princípio da veracidade e o princípio da epiqueia 
contabilística.
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Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações
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Princípios científicos do teorema 
da substância sobre a forma
Princípio da fidelidadePara a contabilidade, no abrigo da teoria da substância sobre a forma, a 
fidelidade é um princípio que tem por finalidade demonstrar a situação real 
das atividades peculiares de uma célula social. E representa um predicado na 
escrituração contábil. É uma característica essencial do balanço patrimonial, 
por força de norma positivada pela política contábil (artigo 1.188 do CC/2002). 
Representa uma das regras fundamentais do Balanço Patrimonial, que deve 
assumir sempre a mesma posição de constância, ou seja: firmeza nas afeições 
e aferições, nas informações de ordem social, ambiental, econômica e finan-
ceira; observância rigorosa da verdade; exatidão na valorimetria. Opõe-se aos 
ilícitos e delitos, que geram o balanço putativo. A ausência da fidelidade na 
prestação de contas implica a quebra da personalidade jurídica e, consequen-
temente, a quebra da autonomia patrimonial, impondo aos administradores 
a responsabilidade ilimitada pelas dívidas e atividades da sociedade. E ao con-
tador ou técnico em contabilidade, a não observação da fidelidade implica a 
caracterização de crime contra a ordem econômica, tributária e as relações de 
consumo. Em um balanço auditado sem a observância da fidelidade, o auditor 
comete conluio junto com o responsável técnico pela escrita, o que poderá 
caracterizar duplo delito qualificado. Esse princípio prestigia a individuação, a 
clareza, e caracterização da escrita e das informações contabilísticas.
Princípio da dialeticidade
No abrigo da teoria da substância sobre a forma, a dialeticidade é um prin-
cípio que tem por finalidade a arte da discussão tecnológica e científica, com 
o sentido de força de argumentação, no desenvolvimento de processos ge-
rados por oposições, tese e antítese, que se colocam diante da equidade, iso-
nomia e substância sobre a forma; em que se gera uma síntese, que procura 
evidenciar a natureza verdadeira e única de uma investigação contabilística 
que é identificada e se define segundo o processo racional que procede pela 
união incessante de contrários como a peça inicial e a de contestação em uma 
ação judicial. É esta síntese, o processo de descrição exata e real dos atos e 
fatos contábeis analisados.
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Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações
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Princípio da eticidade
No abrigo da teoria da substância sobre a forma, a eticidade é um princípio 
que tem por finalidade valorizar os profissionais da contabilidade na sociedade, 
o que se dá mediante a concretização da dignidade dos contadores. O labor 
contabilístico tem como pilares de sustentação os princípios da eticidade, da 
socialidade e da operabilidade. Isso prestigia e valoriza a importância da ética 
nas relações entre os profissionais, o que simboliza a superioridade da dignida-
de humana sobre todas as demais coisas. A valorização do contador se dá na 
medida em que a confiança e a lealdade passam a ser imperativos das relações 
profissionais, pelo fato de que um operador da contabilidade tem mais força 
ética na busca da solução mais equitativa para os casos concretos que lhe são 
submetidos, mediante uma análise de valor científico de uma questão.
Princípio da socialidade
O princípio da socialidade para a contabilidade, no abrigo da teoria da 
substância sobre a forma, é um princípio que tem por finalidade valorizar uma 
tendência para a vida em uma sociedade democrática, e guarda uma fami-
liar relação com a eticidade, pois, assim como as regras dotadas de conteúdo 
social são fundamentalmente éticas, estas têm afinidade com a vida dos pro-
fissionais de contabilidade em uma sociedade neoética pautada na verdade 
real sobre a verdade formal. A socialidade busca, pela via do equilíbrio entre 
os interesses, o registro e a certificação fundamental da verdade real, o que 
representa um avanço significativo e necessário na integração entre profissio-
nais, em harmonia com a ética e com o direito contábil.
Princípio da operabilidade
O princípio da operabilidade para a contabilidade, no abrigo do teorema 
da substância sobre a forma, é um princípio que tem por objetivo a facilitação 
da aplicação de tecnologias, ao disciplinar a possibilidade de se recorrer a ele-
mentos exteriores doutrinários, ligados ao direito contábil, para as respostas 
plenas das dúvidas com juízo de independência científica. Para se atingir uma 
melhor prestação de serviços, o fato se dá, precipuamente, por meio de um 
espancamento científico entre os profissionais da contabilidade. Esse princí-
pio visa imprimir eficácia e efetividade ao labor contabilístico.
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Princípio da veracidade
No abrigo da teoria da substância sobre a forma, a veracidade é um princí-
pio onde nada fictício pode haver em um relato contabilístico, devendo este 
refletir elementos verdadeiros. Afastam-se todas as ilusões.
Epiqueia contabilística
Representa toda forma de interpretação razoável ou moderada de uma lei, 
ou de um direito postulado em juízo ou de um preceito da política contábil. 
Logo, temos a equanimidade ou disposição de reconhecer o direito de todas 
as pessoas envolvidas em uma relação com imparcialidade. Logo, afastada 
toda e qualquer influência ou interesse, evitando-se excesso por uma inter-
pretação extensiva, viciada ou polissêmica, para prevalecer a equidade.
A verdade real deve surgir como uma supremacia ancorada nos valores 
da ciência da contabilidade. Aliás, as práticas contábeis idôneas, baseadas na 
clareza e fidedignidade, pregam a prioridade da essência de uma coisa sobre 
a sua forma, a qual determina que os negócios jurídicos e demais ocorrências 
devam ser contabilizados e apresentados de acordo com seu significado real 
e essencial, e não somente registrados pela forma legal.
A essência sobre a forma tem uma de suas âncoras presa na teoria ultra 
vires, pois os gastos em decorrência do abuso de poder não devem ser clas-
sificados como de responsabilidade da pessoa jurídica, e sim como a do seu 
administrador. Outra âncora está posta no valor de utilidade de uma coisa e 
seu uso eficaz, para o correto registro contábil. Outra âncora está no axioma 
da preservação das células sociais, que é uma premissa científica contábil, atri-
buível ao sistema de invulnerabilidade, que evidencia ou admite como uni-
versalmente verdadeiras as ações lícitas de agentes internos e externos das 
células sociais, que visa garantir a integridade e a perenidade dos empreen-
dimentos de manutenção, geração ou distribuição de riquezas tangíveis ou 
intangíveis, por meio da produção e ou de circulação de bens ou de serviços. 
Como exemplo prático: um sábio consultor contábil, provavelmente para fins 
de preservação financeira de uma célula social, recomenda a supremacia da 
“qualidade da liquidez” sobre a tradicional quantidade.
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Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações
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A qualidade da liquidez da empresa, em termos contemporâneos, é deter-
minada pela velocidade do giro, rapidez em número de dias, e não pela quan-
tidade da garantia; R$2,00 de circulante para cada R$1,00 de dívida a curto 
prazo. Pois, com uma liquidez de R$2,00 para cada R$1,00 com giro lento, po-
de-se provocar a insolvência. E com uma liquidez de R$1,00 para cada R$2,00 
com giro rápido na realização financeira, pode ser obtida a prosperidade de 
uma célula social.
Outra âncora está apoiada na hermenêutica e na intenção sobre o ato ou 
fato contábil, ou seja, a intencionalidade medida pelo conjunto dos motivos 
do administrador de uma célula social, ao exercer a empresa, em oposição à 
forma realizada, pois o que deve prevalecer é a relação de economicidade do 
fenômeno na riqueza aziendal.
Naturalmente não se busca a dispensada forma, mas sim, colocá-la hierar-
quicamente em uma menor relevância em relação à supremacia viripotente 
da essência, nas hipóteses em que dúvidas possam se constituir, por lacunas 
ou por deficiências de normas jurídicas contábeis. E em especial, quando da 
existência de um ato ou fato contábil que dependa de uma interpretação, 
para sua correta classificação, em que pode ocorrer interpretação polissêmica 
ou ambígua ou uma simples incerteza de identificação por obscuridade.
Este teorema, que resultou em uma teoria, tem por objetivo revelar a subs-
tância patrimonial como sendo o epicentro de uma célula social, ou seja, a sua 
parte essencial, pois a essência da natureza da riqueza é que lhe define as quali-
dades de gerar lucro pelo exercício do objeto social. A forma simplesmente não 
ultrapassa os limites de uma normativa pautada em características definidas 
externamente. A essência sobre a forma não é princípio e nem método e sim, 
uma teoria que versa sobre os fenômenos patrimoniais. Assim sendo, primeira-
mente, o que se pretende nesta teoria não é que a forma torne-se irrelevante, 
descartável ou desprezível. Porém, quando a forma legal ou documental de de-
terminado ato ou fato indique uma discrepância, ou não esteja demonstran-
da com fidelidade e clareza a situação real ou as atividades peculiaridades de 
uma célula social, a essência econômica financeira social ou ambiental deverá, 
sempre, prevalecer no registro contábil, e não a sua forma.
Entenda-se deveras importante demonstrar que no mundo profissionali-
zante, a essência sobre a forma é vital quando se procura, em uma investi-
gação contabilística, distinguir e certificar se ocorreu o fenômeno do lucro 
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