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Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 1 MÓDULO: DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM AUTORIA: ANA MARIA RIBEIRO FURTADO Pedagogy, English Teacher Second Language Personal Support work – Master of Divinity (Canadá) MARIZINHA COQUEIRO BORGES Mestre em Educação Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 2 Módulo de: Dificuldades de Aprendizagem Autoria: Ana Maria Ribeiro Furtado Marizinha Coqueiro Borges Todos os direitos desta edição reservados à ESAB – ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL LTDA http://www.esab.edu.br Av. Santa Leopoldina, nº 840/07 Bairro Itaparica – Vila Velha, ES CEP: 29102-040 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 3 Apresentação A Dificuldade de Aprendizagem é uma síndrome biopsicossocial a ser compreendida em pelo menos três constituintes básicas: a criança, a família e a escola (Marturano et al., 1993) O presente módulo levará aos estudantes, de maneira clara e objetiva, as dificuldades de aprendizagem no campo cognitivo as causas dessas dificuldades e os possíveis tratamentos para aqueles que são excluídos da habilidade de aprender a ler, escrever, construir textos e interpretá-los. Proporcionará, também, a análise das causas sociais e afetivas que distorcem a habilidade de construção do processo de aprendizagem. Causas essas, que muitas vezes não são de ordem fisiológica, mas se inserem muito mais na motivação que o indivíduo tem em aprender algo novo e o que aquele conhecimento lhe trará, como fonte de transformação pessoal e social. Muitas vezes o que chamamos de dificuldades de aprendizagem, poderiam ser chamadas de “dificuldades de ensino”. Sabemos que cada pessoa aprende por um canal perceptivo preferencial e de forma diferenciada. Quando não existe motivação para que o que se apresenta como ensino desperte o canal perceptivo e preferencial, a compreensão ou aprendizagem não se completa. A massificação do ensino tem contribuído muito ao aparecimento e aumento das “dificuldades de aprendizagem”. Quando a aprendizagem não se desenvolve conforme o esperado para a criança, para os pais e para a escola ocorre a "dificuldade de aprendizagem". E antes que a "bola de neve" se desenvolva é necessário a identificação do problema, esforço, compreensão, colaboração e flexibilização de todas as partes envolvidas no processo: criança, pais, professores e orientadores. O que vemos são crianças desmotivadas e pais frustrados, pressionando a criança e a escola. A necessidade de reconhecimento do problema e o devido encaminhamento e tratamento, só pode ser realizada por um profissional adequado, com treino específico da dificuldade que possa auxiliar a criança a superar suas dificuldades com esforço e colaboração da família e Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 4 da escola. Certamente conhecendo as especificidades das dificuldades de aprendizagem, o profissional conseguirá auxiliar tanto o aprendiz, quanto a sociedade no qual ele está inserido. Assim sendo, esperamos que no decorrer deste módulo um novo horizonte seja visualizado por todos aqueles que se encantam com o poder e a transformação das pessoas, proporcionados pela educação. Ana Maria Ribeiro Furtado Pedagogy, English Teacher Second Language Personal Support work – Master of Divinity (Canadá) Marizinha Coqueiro Borges Especialista Holística em Educação Psicopedagoga Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 5 Sumário UNIDADE 1 ............................................................................................................................ 10 Dificuldades afetivo e social ................................................................................................ 10 As Interações Humanas como base para Aprendizagem da Criança ................................. 10 A Afetividade: aspectos Evolutivos e Educacionais ............................................................ 11 Desenvolvimento da Afetividade ......................................................................................... 14 UNIDADE 2 ............................................................................................................................ 17 Agentes sociais ................................................................................................................... 17 Família ................................................................................................................................ 17 Escola ................................................................................................................................. 19 Sociedade ........................................................................................................................... 22 UNIDADE 3 ............................................................................................................................ 25 Construção e desenvolvimento da figura de apego ............................................................ 25 UNIDADE 4 ............................................................................................................................ 29 Principais transtornos afetivos ............................................................................................ 29 Causas e consequências .................................................................................................... 31 Ruptura do núcleo familiar .................................................................................................. 31 Carência afetiva .................................................................................................................. 32 Transtornos afetivos causados pelas dificuldades de aprendizagem ................................. 34 UNIDADE 5 ............................................................................................................................ 36 Deteriorização dos agentes sociais ..................................................................................... 36 Maus-tratos: conceito .......................................................................................................... 36 Origem ................................................................................................................................ 38 UNIDADE 6 ............................................................................................................................ 41 Tipologia dos maus-tratos ................................................................................................... 41 UNIDADE 7 ............................................................................................................................ 45 O autoconceito: conceito, evolução e estratégias ............................................................... 45 Definição e Elementos Integrantes do Autoconceito ........................................................... 45 Componente Cognitivo ........................................................................................................ 46 Como o indivíduo gostaria de se ver ................................................................................... 47 Como indivíduo se mostra aos outros. ................................................................................ 48 A internalização dos papeis sociais.....................................................................................49 UNIDADE 8 ............................................................................................................................ 51 Integrante comportamental ................................................................................................. 51 Formação do autoconceito .................................................................................................. 51 O feedback dos outros significativos ................................................................................... 52 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 6 UNIDADE 9 ............................................................................................................................ 55 Os êxitos e fracassos .......................................................................................................... 55 Evolução do autoconceito ................................................................................................... 56 Enfoque cognitivo ................................................................................................................ 56 Enfoque ontogenético ou evolutivo ..................................................................................... 57 O desenvolvimento do sentido de si mesmo ....................................................................... 57 UNIDADE 10 .......................................................................................................................... 59 Formação do sentimento de identidade .............................................................................. 59 A evolução longitudinal do Eu e suas fases sucessivas...................................................... 59 Base desse crescimento ..................................................................................................... 61 Variáveis que podem influir nessa formação ....................................................................... 62 UNIDADE 11 .......................................................................................................................... 64 Aplicações educacionais ..................................................................................................... 64 UNIDADE 12 .......................................................................................................................... 67 Metodologia para suscitar e fortalecer a autoestima ........................................................... 67 UNIDADE 13 .......................................................................................................................... 71 Intervenção com pais .......................................................................................................... 71 UNIDADE 14 .......................................................................................................................... 74 A organização perceptivo-sensório-motora durante o período da escolaridade infantil ...... 74 Dificuldades para a conquista da lateralidade ..................................................................... 74 A psicomotricidade esfincteriana e seus problemas............................................................ 76 Leitura complementar .......................................................................................................... 78 O processo de aprendizagem ............................................................................................. 78 Conceitos básicos de aprendizagem................................................................................... 79 Considerações sobre aprendizagem ................................................................................... 79 Condições adequadas à ocorrência da aprendizagem ....................................................... 80 Tipos e formas de aprendizagem ........................................................................................ 80 Prontidão para aprender ..................................................................................................... 81 UNIDADE 15 .......................................................................................................................... 82 Transtornos do pensamento e da linguagem ...................................................................... 82 Tratamento Educacional ..................................................................................................... 82 Transtornos do Pensamento ............................................................................................... 83 As dificuldades epistemológicas ......................................................................................... 83 UNIDADE 16 .......................................................................................................................... 85 Transtornos na vivência do pensamento ............................................................................. 85 UNIDADE 17 .......................................................................................................................... 89 Transtornos do pensamento com correlatos verbais........................................................... 89 Transtornos no curso ou ritmo do pensamento: .................................................................. 90 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 7 Transtornos manifestados por meio da linguagem incompreensível e/ou desnecessária: .. 90 Outros transtornos:.............................................................................................................. 91 UNIDADE 18 .......................................................................................................................... 93 Diagnóstico e educação compensatória .............................................................................. 93 Exigências Prévias: ............................................................................................................. 93 Finalidades do Diagnóstico: ................................................................................................ 94 Momentos do Diagnóstico – Instrumentos e Recursos: ...................................................... 94 Estratégias de Intervenção: ................................................................................................. 95 Prevenção: .......................................................................................................................... 95 Programas de Intervenção: ................................................................................................. 95 Educação Compensatória ................................................................................................... 96 Estratégias Cognitivas ......................................................................................................... 96 Modificação de Conduta ...................................................................................................... 97 UNIDADE 19 .......................................................................................................................... 99 Transtornos da linguagem ................................................................................................... 99 Transtornos da fala ........................................................................................................... 100 Linguagem Tatibitate ......................................................................................................... 101 UNIDADE 20 ........................................................................................................................ 103 Dislalia ............................................................................................................................... 103 As alterações mais frequentes são: ..................................................................................104 Causas: ............................................................................................................................. 104 Tratamento: ....................................................................................................................... 105 Sugestão de atividades: .................................................................................................... 105 UNIDADE 21 ........................................................................................................................ 107 Transtorno na elocução linguística e da linguagem oral ................................................... 107 Rinolália ............................................................................................................................ 108 Transtornos da Linguagem oral ........................................................................................ 108 Tipos de Afasia ................................................................................................................. 109 UNIDADE 22 ........................................................................................................................ 112 A gagueira ......................................................................................................................... 112 Classificação da gagueira ................................................................................................. 113 Origem da gagueira........................................................................................................... 114 Fases da gagueira............................................................................................................. 115 Como tratar uma criança com gagueira ............................................................................ 117 UNIDADE 23 ........................................................................................................................ 119 Diagnóstico dos transtornos da fala .................................................................................. 119 Dos transtornos da linguagem oral.................................................................................... 120 Dos transtornos da linguagem lectoescritora .................................................................... 121 UNIDADE 24 ........................................................................................................................ 122 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 8 Estratégias de intervenção ................................................................................................ 122 Nos Transtornos da Fala ................................................................................................... 122 A - Estratégias indiretas: ................................................................................................... 122 B - Estratégias diretas: ...................................................................................................... 122 C - As atitudes adequadas no ambiente da criança, principalmente dos pais, é uma exigência inevitável na implantação de estratégias. Resumimos as principais: ................ 123 Nos transtornos da linguagem oral.................................................................................... 123 Nos transtornos da linguagem lectoescritora. ................................................................... 124 UNIDADE 25 ........................................................................................................................ 127 Transtornos da linguagem lectoescritora .......................................................................... 127 Dislexia específica de evolução ........................................................................................ 129 A dislexia também pode ser dividida em visual e auditiva: ................................................ 129 Sugestões de atividades: .................................................................................................. 131 UNIDADE 25 ........................................................................................................................ 133 Dificuldade de percepção visual ........................................................................................ 133 A visão: ............................................................................................................................. 133 Identificação dos problemas visuais .................................................................................. 134 Miopia ................................................................................................................................ 135 Hipermetropia .................................................................................................................... 135 Astigmatismo ..................................................................................................................... 136 Estrabismo ........................................................................................................................ 136 Daltonismo ........................................................................................................................ 137 UNIDADE 27 ........................................................................................................................ 138 Dificuldades na percepção auditiva ................................................................................... 138 A audição .......................................................................................................................... 138 Problemas auditivos .......................................................................................................... 139 O papel do professor frente aos problemas auditivos ....................................................... 141 UNIDADE 28 ........................................................................................................................ 143 Disritmia cerebral e epilepsia ............................................................................................ 143 Como identificar a criança disrítmica................................................................................. 144 Epilepsia ............................................................................................................................ 145 UNIDADE 29 ........................................................................................................................ 148 Distúrbios da escrita .......................................................................................................... 148 Disgrafia ............................................................................................................................ 148 Disortografia ...................................................................................................................... 149 Erros de formulação e sintaxe ........................................................................................... 150 Distúrbios de aritmética ..................................................................................................... 151 Discalculia ......................................................................................................................... 151 UNIDADE 30 ........................................................................................................................ 154 Desenvolvimento psicomotor ............................................................................................ 154 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 9 Tipos de distúrbios ............................................................................................................ 156 InstabilidadePsicomotora ................................................................................................. 157 Debilidade psicomotora ..................................................................................................... 158 Inibição psicomotora ......................................................................................................... 159 Leitura Complementar ....................................................................................................... 160 Latealidade cruzada .......................................................................................................... 160 A definição da lateralidade ................................................................................................ 162 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 163 GLOSSÁRIO ........................................................................................................................ 165 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 10 UNIDADE 1 Objetivo: Conhecer amplamente o campo das interações humanas e o processo nos quais se dá o desenvolvimento da aprendizagem. Dificuldades As Interações Humanas como Base para Aprendizagem da Criança O desenvolvimento e a aprendizagem começam no momento em que a pessoa nasce e se relaciona com suas necessidades, sentimentos e potencialidades. O desenvolvimento afetivo depende das atitudes da família e do interesse em fazer com que o sujeito aumente suas possibilidades como ser humano e seja independente. Desde os poucos dias da criança, os contatos têm um significado especial para ela, assim a missão dos pais é criar um ambiente de confiança e tranquilidade. A mãe é quem mais acaricia e manuseia a criança, e isso serve para que esta organize as suas sensações e as transforme em um mapa cognitivo em si mesma. Quando a criança se encontra isolada e ninguém fala com ela, ocorrem movimentos estereotipados. Pesquisas realizadas com crianças africanas nos mostram que isso não ocorre, talvez porque as mães estejam com seus filhos durante horas, falem com eles e os incorpore a vida familiar. Nos primeiros dezoito meses de vida podem ocorrer as primeiras perturbações pessoais se faltar à criança estímulos. Para tanto é necessário que a criança seja rodeada por um ambiente afetivo e acolhedor. Os pais e os irmãos constituem o ambiente social e emocional para desenvolver uma conduta afetiva positiva por meio da interação. Uma relação positiva com os demais permite Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 11 que a criança satisfaça suas necessidades e consiga um controle para encarar seus sentimentos e aceitar os demais. A Afetividade: aspectos evolutivos e educacionais Desde o momento de seu nascimento a criança se encontra em um estado de dependência absoluta. Para poder crescer, desenvolver-se, integrar-se socialmente e até mesmo sobreviver, ela precisa dos outros. Para conseguir sua independência e alcançar sua autonomia, também precisa considerar-se como indivíduo singular diferente dos demais, fortalecer sua identidade, superando e se dissociando de tudo o que a rodeia. Para chegar a isso, é essencial que haja um processo de desenvolvimento evolutivo que começa no momento do nascimento e dá lugar a uma personalidade madura e harmoniosa graças à combinação de diversos fatores, entre os quais podemos citar: constitucionais (sistema nervoso central, sistema nervoso autônomo, sistema glandular, constituição física, capacidade intelectual, etc.) desenvolvimento psicomotor, que ajuda a criança a ampliar seu meio físico iniciando, assim, uma etapa de exploração e independência que a permite a ela mover-se relacionar-se livremente com os objetos; desenvolvimento intelectual, mediante o qual interioriza, compreende e interpreta a estimulação externa, iniciando a formação de suas estruturas cognitivas; desenvolvimento afetivo-social, que permite estabelecer relações com os demais, ampliando e enriquecendo seu processo de socialização. Por último, as experiências transmitidas pelos agentes sociais (família, escola, sociedade) contribuição para que esse sujeito alcance maturação. Com a integração de todos esses elementos, o sujeito vai traçando o perfil de sua identidade, que será completada com a busca de um modelo de conduta com o qual se quer parecer. Se o modelo escolhido satisfaz suas expectativas, a criança começa a formar uma personalidade ajustada, mas, se o modelo é inadequado e não há integração dos outros Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 12 fatores, começam os desajustes e as frustrações, que terão uma influência negativa em seu rendimento escolar. Educar as crianças tem sido uma das constantes preocupações ao longo da história da humanidade. A formação integral do indivíduo era e é o objetivo principal de qualquer processo de aprendizagem. Para a conquista dessa formação, a afetividade contribui de modo especial, pois é por meio dela que o sujeito estabelece relações com o meio, primeiro com seus pais, depois com os outros membros da sociedade. Seu desenvolvimento intelectual e seu processo de socialização dependem, em grande parte, da maneira como a criança desenvolve seus primeiros contatos afetivos (Piaget, Manco, Erickson). Os vínculos estabelecidos entre o afetivo e o intelectual são tão estreitos que não é possível dissociá-los. A afetividade foi um tema retomado pela Psicologia Cognitiva e é de tal importância que deu lugar a uma nova disciplina, a Psiconeuroimunologia, baseada no lema de demonstrar o papel determinante da afetividade no desenvolvimento e na cura das doenças. “Com o auxílio de atenções, ternuras e carícias, até doentes desenganados viram seus males desaparece”. Os psiquiatras afirmam que os braços entrelaçados de mães, pais e filhos é um remédio que pode ser ministrado para garantir a saúde dos pequenos. E, os psicanalistas afirmam que as crianças com falta de amor estão condenadas ao sofrimento. Tudo o que acontece com a criança, desde o seu nascimento, tem importância. O modo como a criança adquire suas experiências marca sua estabilidade ou instabilidade emocional ao longo de sua vida, isto é, o ambiente afetivo que a rodeia influi de forma definitiva em seu desenvolvimento, marcando seu caráter e sua personalidade. Winnicott não se cansa de ressaltar a importância do papel da mãe nessa primeira etapa da vida e descreve as vantagens do que ele chama de “um bom holding”: pegar a criança nos braços acariciá-la, niná-la, etc., dando lugar ao início da figura de apego que, posteriormente, facilitará suas relações interpessoais assim como sua harmonia comportamental. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 13 Pesquisas realizadas verificam que o estado emocional materno se reflete no da criança; por isso uma mãe ansiosa tende a criar crianças ansiosas, enquanto mães calmas e felizes transmitem a seus filhos esses estados emotivos. Por isso é preciso que a criança cresça em um ambiente de afeto e carinho, mas sempre equilibrado, pois afeto em excesso e superproteção podem prejudicar seu desenvolvimento psicológico, assim como a carência pode provocar desajustes em seu comportamento. O conceito de afetividade, em seu sentido estrito, é a resposta emocional e sentimental de uma pessoa a um estímulo, a uma situação. Blendes a define como o conjunto do acontecer emocional no qual, os sentimentos, as emoções e a paixões seriam seus componentes. Os psicólogos da introspecção fazem distinção entre emoções, sentimentose paixões. As primeiras seriam estados afetivos que chegam súbita e bruscamente em forma de crises mais ou menos violentas e mais ou menos passageiras. Os sentimentos corresponderiam a estados afetivos complexos, estáveis, mais duradouros que as emoções, mas menos intensos. As paixões seriam estados afetivos que participam das características das emoções e dos sentimentos, pois possuem a intensidade da emoção e a estabilidade do sentimento. A emoção é um capítulo complexo da Psicologia. Por meio das emoções o sujeito expressa grande parte de sua vida afetiva (alegria, tristeza, ira, ciúme, medo...); sem a emoção seríamos máquinas e, portanto, insensíveis. Embora, durante muito tempo as emoções precisassem ser dissimuladas, hoje fazem parte da motivação, e em certos momentos podem ser definidoras de nossa conduta, transmitindo sem palavras nosso estado de ânimo. Seu controle é regulado pelas normas sociais e culturais, que marcam a diversidade no comportamento humano. Na emoção influem tanto os elementos genéticos de amadurecimento do indivíduo como os elementos situacionais de aprendizagem. As diferentes emoções aparecem progressivamente ao longo do desenvolvimento psicológico da criança e são vínculos entre os sentimentos, o caráter e os impulsos morais. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 14 Desenvolvimento da afetividade Ao longo de seus primeiros anos, a criança tem de desenvolver condutas que transmitam segurança em si mesma e em seu meio, e os pais são os encarregados de proporcioná-las mediante a satisfação de suas necessidades (alimentação, sede, calor, limpeza, etc.). A criança tem de saber que os pais estão presentes para assim poder estabelecer associações entre o bem-estar e o comportamento materno. A partir desse momento começa a estender a confiança ao restante do meio; se os pais não oferecem tanta segurança, é o início de um sentimento de carência afetiva que a marca ao longo de sua vida. No primeiro ano o âmbito psicológico e social continua sendo a família. A mãe permanece sendo o ponto de referência essencial, e a criança começa efetivamente a compreender que uma promessa pode demorar a ser cumprida ou não se realizar, mas não compreende nunca as falsas promessas. Nessa idade a ansiedade é um estado afetivo muito frequente. A origem está na importância dada pela criança ao mundo exterior: ela tem consciência de que precisa dos demais para poder subsistir, por isso sente as separações, as ausências ou os atrasos dos adultos como um fato traumático que a leva a um agarramento desesperado por medo de perder o afeto das pessoas queridas. A partir dos 2 anos a criança alcança um nível de autonomia e de amadurecimento fisiológico, linguístico e motor que permite ampliar seu espaço e reafirmar essa autonomia por meio da brincadeira. Entre os 4 e 5 anos é capaz de tomar iniciativas em seu comportamento. Dessa forma, começa a desenvolver uma consciência moral que indica o que é certo e o que é errado, e um senso de aplicação que a permite dirigir e avaliar suas conquistas educacionais. Conforme vai crescendo, tem a certeza de que o adulto é aquele que impõe as normas e as diretrizes, é ele que a elogia ou critica. Isso faz com que tome consciência de que sua desaprovação ou rejeição é perda de valor, enquanto o elogio e a aceitação são demonstrações de carinho. No primeiro caso, a imagem que tem de si mesma é de Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 15 insegurança e inadaptação; no segundo, a criança se sente apoiada e querida; portanto, seu nível de autoestima, de adaptação e de amadurecimento é adequado, desenvolvendo suas áreas de comunicação, socialização e autoconceito, e sem nenhum tipo de dificuldade ela se manifesta de forma positiva em todas as suas tarefas. A partir dos 6 anos as relações com outras crianças aumentam e se consolidam; assim, vão sendo formadas as “sociedades” infantis; que são elementos-chave no desenvolvimento na autonomia infantil. Os pais e educadores devem estimular essas relações, nunca inibi-las para não interferir em sua consecução. Entre os 8 e 11 anos começam a manifestar os transtornos da vida afetiva, e fazem isso por meio de dificuldades de aprendizagem. Crianças que até então mantiveram um ritmo acadêmico satisfatório começam a mudar, suas notas diminuem sem aparentes justificativa. Nesse momento a criança se encontra entre dois estágios: final da infância e começo da adolescência. É um momento importante na formação de sua personalidade, em que o fato de crescer e viver em uma família equilibrada tem uma influência notável. A vida afetiva do pré-adolescente se caracteriza pelo afã de emancipação, independência e liberdade, já não é uma criança e não quer ser tratado como tal, quer fazer aquilo que o agrade sem que ninguém diga o que tem de fazer. Esse afã de independência e autodeterminação é a raiz de uma série de formas de comportamento que levaram a designar esse estágio como a “segunda idade de obstinação”. Por causa disso, a união com a família é menor, se opõem a tudo o que representa sujeição e tutela, em casa se comportam de forma estranha, não querem sai com seus pais e se envergonham deles, os criticam e se inicia um distanciamento comunicativo. Todavia, ao mesmo tempo têm sentimentos contraditórios; sabem que dependem e que precisam deles, mas seu desejo de liberdade e independência é mais forte, e isso os leva a vê-los como “controladores de sua vida”. Se a essas mudanças evolutivas vividas pelo adolescente acrescentarmos problemas de carência afetiva motivada pela falta de atenção dos pais nas primeiras etapas infantis, relações familiares insatisfatórias, inadaptação, baixo rendimento escolar, sua personalidade Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 16 e suas relações sociais serão afetadas negativamente. Para que isso não aconteça, é fundamental que, desde os primeiros meses de sua vida, uma figura de apego seja desenvolvida de forma harmoniosa, a fim de que ele possa desenvolver sua afetividade e socialização mediante a interiorização de valores, normas e condutas que marquem seu comportamento e sua personalidade. ABRAMOWICZ, Anete. Para além do fracasso escolar. 3 ed.Campinas: Papirus, 2000. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 17 UNIDADE 2 Objetivo: Compreender o processo de assimilação social que influencia a construção de comportamentos e, a sua influência na aprendizagem e assimilação do caráter. Agentes Sociais As influências que a criança recebe desde o momento de seu nascimento constroem sua personalidade. A relação que a criança estabelece com seu meio depende das características pessoais e da atuação dos agentes sociais. Quando estes não trazem experiências positivas, o processo de socialização do sujeito se ressente; portanto, a integração dos processos mentais afetivos e comportamentais não se realiza de forma ajustada, o que faz surgir transtornos e dificuldades. As influências transmitidas pela família, pela escola e pela sociedade são básicas para que o sujeito alcance uma estabilidade comportamental e um nível de maturidade adequado que o torne um ser autônomo e responsável. Família A família é o meio natural no qual a criança começa sua vida e inicia sua aprendizagem básica, por meio de uma série de estímulos e de vivências que a condicionam profundamente ao longo de toda sua existência. A estabilidade e equilíbrio em sua relação paterna e com os outros membros da família definem o clima afetivo no qual a criança vê transcorrer a primeira etapa de suavida. Esse clima determina a socialização infantil, facilitando a receptividade e adaptação da criança em seu processo de escolarização. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 18 A existência de vínculos sólidos, estáveis e de qualidade não determina apenas a consolidação de bases importantes de segurança para a criança, mas também é uma fonte constante de estimulação que encoraja conquistas e geralmente impede a falta de motivação. Se o modelo de casal transmitido pelos pais é atraente, a criança interioriza uma experiência intelectual em virtude da qual aprende que, sendo como seus pais, algum dia poderá reconstruir em si mesma não só a personalidade admirada de seus progenitores, mas a possibilidade de ter uma família como a que ela desfrutou. Caso contrário, se esses vínculos entre o casal falham, a criança se transforma, no melhor dos casos, em juiz e/ou vítima do comportamento dos pais, dando lugar a transtornos e desajustes tanto em seu desenvolvimento evolutivo como em sua personalidade, e isso posteriormente influencia em seu rendimento escolar. Baixa autoestima, inibição, incapacidade de expressão, transtornos de socialização e desconfiança nas ralações interpessoais são algumas das condutas que formam o perfil psicológico dessas crianças (Cryan, 1985). Quanto maior o número de componentes na família, maior é o sistema de interações entre eles; cada sistema de interação tem sua própria qualidade emocional que afeta a personalidade e a conduta de todos os membros. Cada grupo familiar está composto por indivíduos de diferentes idades e de ambos os sexos. O sexo masculino pode predominar, ambos os sexos podem estar representados, ou a família pode ser predominantemente feminina. Essas variações influem na conduta de cada membro, assim como a posição que ocupa em relação aos outros irmãos. Relação entre os irmãos A atitude de rejeição ou de aceitação por parte dele mesmo ou por parte dos irmãos influi na estabilidade ou instabilidade emocional do sujeito. Essa atitude se estabelece desde o momento em que se sabe a “boa nova” e como ela é anunciada pelos pais. Se o filho é pequeno, e até então foi “o príncipe da casa”, pode ficar magoado ao ter de compartilhar o tempo e a atenção dos pais com esse novo irmão; se, ao contrário, o filho é mais velho, seus interesses e amigos estão fora do ambiente familiar e, portanto, esse nascimento não interfere na sua vida, sua atitude é favorável. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 19 Se os filhos estão na etapa da adolescência, desenvolvem sentimentos de vergonha em relação à gravidez da mãe, principalmente se esta é mais velha. Temem que sua vida social se veja limitada, e por isso sentem ciúme e mágoa do novo irmão. O filho mais velho, às vezes, é vítima das comparações de seus pais: estes esperam que ele assuma responsabilidades em relação aos irmãos, comportando-se de forma mais conservadora e menos dominadora e agressiva que seus irmãos mais novos. O filho nascido em segundo lugar sente-se livre da ansiedade, da tensão emocional e da superproteção que “sofreu” o irmão mais velho. Portanto, as relações entre pais e filhos tendem a ser mais relaxadas e calorosas. É bem provável que o filho mais novo seja o mais mimado. Os outros membros da família continuam fazendo coisas por ele e para ele, embora já não seja preciso. A indulgência e a desconsideração têm influência em sua visão da realidade e, portanto, em sua conduta. A diferença de idade entre os irmãos também têm influência em suas relações. Um espaço de 2 ou 4 anos é importante para essa relação, principalmente quando os irmãos têm sexo diferente. Os atritos ou desgastes entre eles podem causar a deterioração da harmonia familiar. Resumindo, a criança precisa de modelos de conduta em um lar no qual existia um ambiente feliz para que possa se desenvolver como pessoa. A ordem externa, a estabilidade emocional, a serenidade psicológica, assim como a felicidade humana, é o resultado de vivências saudáveis e não de simples reflexões. Tudo isso é o melhor âmbito para uma educação infantil e uma aprendizagem adequada. Escola No desenvolvimento social da criança, a escola e os colegas ocupam um lugar muito importante. Quando a escola está organizada como uma “grande família”, isto é, quando há Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 20 um só professor para todas as matérias, a relação com seus alunos é mais estreita; quando há diversos professores, o contato é mais impessoal. Isso influi no comportamento da criança, do mesmo modo que o lugar que ocupa em sala e as notas que obtém são indicadores de sua posição em relação a seus colegas. Quando a aceitação ocorre, o sujeito reafirma a autoestima e o autoconceito; do contrário, quando há rejeição, aparece a subvalorização de sua própria autoestima. Os alunos atrasados podem desenvolver sentimentos de inadaptação em alguns casos, assim como o aluno brilhante, que consegue todas as metas sem muitos esforços, pode desenvolver atitudes negativas para com a autoridade e de intolerância para com seus colegas, o que o torna impopular e, em alguns casos, rejeitado. Geralmente os alunos com boas notas e que são aceitos por seus colegas como líderes do grupo são felizes na escola e têm um autoconceito favorável (Hurlock, 1982; Genovard, 1987). A escola não interfere apenas na transmissão do saber científico, culturalmente organizado, mas influi na socialização e individualização da criança desenvolvendo as relações afetivas, a habilidade para participar nas situações sociais (brincadeiras, trabalho em grupo, etc.), as destrezas de comunicação, o papel sexual, as condutas pré-sociais e a própria identidade pessoal (autoconceito, autoestima, autonomia). Quanto à identidade pessoal, a criança, quando entra na escola, traz um grupo de experiências prévias que permitem ter um conceito de si mesma a ser reafirmado ou não pelo conceito que os demais terão dela, e isso significa uma ampliação de seu mundo de relações. Nesse enriquecimento da identidade pessoal, podemos dizer que estão presentes certos fatores, como: a imagem positiva de si mesmo; os sentimentos de autoestima, autoeficácia e autoconfiança; as experiências pessoais de êxito ou de fracasso; os resultados das aprendizagens, as avaliações, os comentários, as informações e a qualificações que a criança obtém, no contexto escolar; as percepções que tem dos demais; diante de sua conduta; a avaliação que faz de si mesma, expressando em que medida se considera capaz, valiosa e significativa. Tudo isso contribui para a formação de uma identidade pessoal que vai regulando e determinando a conduta infantil. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 21 Além de construir o autoconceito e a autoestima, a escola contribui para desenvolver a capacidade intelectual da criança. Nessa etapa ela começa a receber avaliações de seus professores, de seus colegas e de seus pais, de acordo com suas disposições naturais e com seu rendimento. Essa avaliação influi em seu autoconceito e na forma de perceber seu próprio processo de aprendizagem, podendo contribuir para melhorar ou dificultar esse rendimento. Pesquisas realizadas verificam que as crianças que apresentam opiniões positivas sobre suas capacidades pessoais relacionadas com as tarefas escolares obtêm melhores resultados do que aquelas cuja opinião sobre si mesmas é negativa. Com o tempo, isso pode influir no autoconceito acadêmico e em seus êxitos e fracassos posteriores. A incorporação ao mundo da escola é feita por meio da educação infantil, naqual a criança enriquece seu mundo social ampliando o círculo de figura de apego e evitando, assim, ficar na família nuclear, tendo sempre como objetivo favorecer o desenvolvimento físico, motor, linguístico e social que, posteriormente, permite uma formação ajustada da personalidade. A passagem da educação infantil para o ensino fundamental apresenta novos desafios; supõe a passagem de um processo de ensino não estruturado, para um de conhecimentos sistematizados, com horários menos flexíveis, diminuição da liberdade e avaliação do rendimento do aluno. Nessa etapa são desenvolvidos o pensamento e as capacidades intelectuais básicas dentro dos objetivos estabelecidos no currículo do ensino fundamental e de acordo com o princípio metodológico de que o processo de ensino deve garantir a funcionalidade das aprendizagens. Tal funcionalidade não é apenas uma construção de conhecimentos úteis e pertinentes, mas também o desenvolvimento de habilidades e estratégias de planejamento e regulação da própria atividade de aprendizagem, isto é, o aprender a aprender, para o qual são desenvolvidos programas que melhoram a solução de problemas, a criatividade, o raciocínio indutivo e dedutivo, em suma, melhoram o cognitivo e o metacognitivo. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 22 Do mesmo modo, o professor procura ensinar os alunos a conviver. Educar é socializar, e um dos principais objetivos no ensino fundamental consiste em fazer os alunos interiorizarem regras básicas que regulam uma convivência social pacífica e satisfatória. Nos casos em que as situações ambientais são conflituosas, a relação com os professores deve ser estreita. As crianças buscam um pai ou uma mãe ideais, mas a realidade é outra, e vem a decepção; então o professor pode se transformar nesse ideal que não conseguiram encontrar. O professor deve compreender a situação e não rejeitar essa relação; deve saber agir e saber dizer, para que não haja confusão, por parte da criança, em relação aos papéis que cada um representa. A fim de evitar trabalhos opostos e contraproducentes, o professor deve ser conselheiro, orientador, sempre contando com os pais e fazendo com que participem no processo educacional de seus filhos. Desse modo, ambos contribuem para melhorar o desenvolvimento intelectual, afetivo e social da criança. As influências e a avaliação pessoal que os pais fazem do processo educacional têm um papel importantíssimo na atitude que a criança desenvolve em relação à escola. Fatores como a classe social, a religião, a raça, as expectativas, o sexo, etc., marcam de forma favorável ou desfavorável a adaptação da criança ao ambiente escolar. Sociedade A criança é um ser social desde o momento de seu nascimento. Diferentemente dos animais, encontra-se desprotegida, precisa dos demais para resolver todas as suas necessidades básicas e, entre essas necessidades, está o desenvolvimento da afetividade. Conforme satisfaz suas necessidades, a criança se motiva biológica e socialmente, incorporando-se de forma efetiva ao grupo, estabelecendo as relações interpessoais tão necessárias para ela como para o grupo. A relação que a criança estabelece com seu meio não é algo passivo; baseia-se na transmissão de seu modo de agir e pensar, isto é, sua própria individualidade diante do Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 23 grupo em que se envolve, mas esse grupo também influencia na aquisição de uma série de atitudes (responsabilidade, solidariedade, tomada de decisões, etc.) que determinam sua conduta e suas relações. Essa interação chega ao ponto mais alto no momento em que esse grupo transmite a ela sua bagagem cultural acumulada ao longo de todo o desenvolvimento histórico da espécie humana. Essa transmissão envolve valores, normas, atribuições de papéis, ensino da linguagem, destrezas, conteúdos, etc., e se realiza com a ajuda dos agentes sociais, como mãe, pai, irmão, outros familiares, colegas, amigos, professores, outros adultos, algumas instituições, meios de comunicação (televisão, cinema, jornal...), livros, brinquedos, folclore, etc. A forma como esses agentes atuam depende de fatores contextuais, como a classe social, o país, a região geográfica onde a criança nasce e vive, e de fatores pessoais, como o sexo, as aptidões físicas, psicológicas, etc. Dessa forma, os vínculos afetivos, que a criança estabelece com os pais, os irmãos, os amigos e os demais, são à base de seu desenvolvimento social, por isso o apego e a amizade têm influência nesse desenvolvimento. O processo de socialização traz implícito aprender a evitar condutas consideradas prejudiciais e, por outro lado, adquirir determinadas habilidades sociais. Para isso é necessário que o sujeito esteja motivado a se comportar de forma adequada e desenvolva uma conduta de autocontrole, atendendo de forma positiva as expectativas do grupo. Considerando que os vínculos afetivos estabelecidos pela criança com os pais, irmãos, amigos, professores, colegas, etc., são a base de seu desenvolvimento social. Então a empatia, o apego e a amizade têm influência no desenvolvimento social de um indivíduo. Não podemos esquecer que o ambiente percebido individualmente não tem uma correspondência absoluta com o ambiente real. Aquele nos mostra que os estímulos do ambiente se transformam em cognições por meio de processos complexos em que os modelos mentais preestabelecidos, os fenômenos de consciência e as expectativas do sujeito atuam como mediadores e adquirem um valor diferencial, e é desse modo que se consegue estabelecer uma relação entre o homem e o meio. Esse meio pode ser modificado Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 24 e adaptado pelo homem de acordo com suas necessidades, podendo até mesmo ser criado um meio cultural e tecnológico próprio por meio do qual se torne possível eliminar ou amenizar as pressões ambientais (fatores atmosféricos, barulhos, aglomerações, fome, pobreza, etc.). Essas pressões têm efeitos diferentes nos indivíduos, que tanto podem desenvolver condutas adaptativas a fim de dominar esse meio aparentemente inóspito quanto desenvolver condutas de inadaptação e rejeição. ANDRÉ, M. Pedagogia das diferenças na sala de aula. 4. ed. Campinas: Papirus, 2002. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 25 UNIDADE 3 Objetivo: Conhecer a importância dos primeiros passos do desenvolvimento afetivo e sua ampla ligação com as primeiras dificuldades de aprendizagem. Construção e Desenvolvimento da Figura de Apego Um dos aspectos importantes do desenvolvimento social e da personalidade em geral é o desenvolvimento afetivo, iniciado no momento do nascimento e construído por meio da figura de apego, que representa os laços de união ente a criança e os demais. Os pais devem lembrar que os filhos realizam a aprendizagem com eles e depois a ampliam em suas relações com as outras pessoas. É da educação familiar que depende seu comportamento posterior. A criança que cresceu em um ambiente conflituoso e sem carinho, posteriormente, tende a rejeitar a sociedade e tudo o que ela representa. O apego pode ser definido como o conjunto de sentimentos ligados às pessoas com as quais se convive que irá influenciar ao sujeito, transmitindo sentimentos de segurança, bem-estar e prazer, gerados pela proximidade e pelo contato com eles. Para que isso aconteça, é preciso que a experiência de interações privilegiadas seja prolongada e que a criança aprenda a diferenciar uma pessoa da outra e a se vincular de maneira estável desenvolvendo assim condutas, expectativase sentimentos de apego. Esse vínculo afetivo se forma ao longo do primeiro ano de vida como resultado da necessidade que a criança possui de criar vínculos afetivos e da conduta que coloca em jogo para satisfazer essa necessidade, assim como do oferecimento de cuidados e atendimento específicos que a mãe ou quem cumpre o papel materno oferece. É, portanto, o resultado da interação privilegiada entre a criança e seu grupo reduzido de adultos. O apego supõe também a construção de um modelo mental, resultado dessa relação, e os conteúdos mais importantes são as lembranças deixadas, o conceito que se tem da figura de apego, de si mesmo e, por último, as expectativas sobre a própria relação. De todos eles, os Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 26 que se referem à disponibilidade da figura de apego e à tomada de consciência de que essa figura não pode falhar são os que fazem a criança desenvolver um modelo mental positivo e uma conduta social adaptada e segura, que influencia primeiro, em um desenvolvimento intelectual e, posteriormente, representacional. Quando a criança entra na escola, amplia os contextos de socialização externos ao lar, mas sem que desapareça a influência dos pais sobre a autoestima, motivação, etc., e sobre o comportamento geral da criança. Até esse momento as normas foram aceitas, mas, a partir daí, esse padrão de conduta só é aceito se vier acompanhado de afeto. Quando isso não acontece, a criança começa a desenvolver condutas agressivas, comportamentos antissociais que se manifestam em ambientes fora do lar e podem chegar até ao bloqueio mental da criança. Nessa nova etapa e ao longo de todos os anos de sua permanência na escola, a criança se relaciona e conhece novos colegas os quais são adicionados ao número de figuras de apego já consolidadas. As relações com estes supõe uma influência negativa ou positiva que se manifesta na adaptação ou inadaptação durante o período de escolarização, e até mesmo posteriormente. A rejeição dos colegas causa transtornos emocionais, sentimentos de ansiedade, baixa autoestima, condutas desordenadas e sentimentos de hostilidade para com eles e a escola; em contrapartida, quando essas relações apresentam mútua aceitação, os objetivos propostos são alcançados. Na adolescência os intercâmbios e as interações sociais se ampliam de forma extraordinária, enfraquecendo a referência ao familiar, assim como as figuras de apego da etapa infantil. Conforme adquire autonomia pessoal o sujeito se emancipa da família; essa emancipação ocorre de forma diferente em cada sujeito. Paralelamente à emancipação familiar, o adolescente estabelece laços mais estreitos com o grupo de colegas: primeiro a turma de um só sexo, mais tarde a turma de sexos diferentes. A fase final se caracteriza pela separação dessa turma, dando lugar à consolidação de relações entre casais que, pouco a pouco, se desligam do grupo. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 27 Os meninos desenvolvem a intimidade interpessoal mais devagar, e as meninas são mais precoces nesse aspecto, mas ambos continuam precisando de afeto e carinho dos pais tanto ou mais do que na infância, mesmo que se mostrem ariscos e esquivos e rejeitem a atitude paternalista ou maternal. A opinião destes sobre seu futuro continue sendo importante em relação a dos colegas e amigos que influenciam nas decisões cotidianas. A relação de casal é a que representa a reafirmação como pessoa independente e madura. Por meio dessa relação, o sujeito rompe com a dependência paternal, permitindo mudar seu papel de filho para iniciar uma nova etapa em que ele, ao mesmo tempo, adquire novos papéis, como marido e pai, esposa e mãe, para modelar e ser modelo de sua própria família. Se seu desenvolvimento afetivo foi bem estruturado, sua relação de casal é rica e profunda. Se, ao contrário, a afetividade não está presente, a relação se torna algo vazio e supérfluo que o leva ao tédio e à ruptura, com substituições contínuas, sem a presença do amor; mantém apenas meras satisfações sexuais, sem adquirir compromissos nem responsabilidades, o que aos poucos o deixará com a amargura da solidão e da insatisfação. Também podemos dizer que a figura de apego ajuda o sujeito a encontrar sua autonomia pessoal, e é por meio das diferentes figuras que cria ao longo da vida, que ele adquire novas experiências, desenvolve diversas condutas, assume novos papéis e pode construir uma personalidade em harmonia. Para finalizar, em alguns casos, por influências socioculturais, a figura de apego não é vista como algo direto e individual, mas é captada pelo sujeito como algo coletivo. Quem vai ajudá-lo e protegê-lo não é a mãe nem o pai, mas a tribo, o clã, o bando, a seita, etc., que na chegada à adolescência, é substituído e personalizado pelo chamado elemento protetor, membro desse grupo que irá proporcionar a segurança e atenção das quais sente falta. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 28 COLL, César. Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar, 3. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. v.3, 381p., (370.15 C697d). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 29 UNIDADE 4 Objetivo: Conhecer as consequências dos vários transtornos afetivos e criar abordagens para auxiliar o educando na busca de habilidades e competências sociais, afetivas e intelectuais. Principais Transtornos Afetivos Os transtornos afetivos podem ser causados por diversas situações conflituosas que se originam em casa, na escola, com amigos, etc. Suas consequências se manifestam em baixo rendimento acadêmico, desenvolvimento evolutivo inadequado, desajustes na personalidade, baixa motivação, conduta instável e, às vezes, até mesmo antissocial e agressiva, hiperatividade, retraimento e imaturidade que dificultam o estabelecimento de relações interpessoais. A ruptura do núcleo familiar (separação, divórcio, etc.), a carência afetiva, o abandono, a falta de atenção, as características culturais da família assim como a situação econômica, entre outros fatores, são algumas das possíveis causas que provocam esses transtornos. Os transtornos podem ser agrupados em dois grandes blocos denominados externalização e internalização. O primeiro faz referência a condutas cujas consequências se refletem no ambiente, condutas agressivas hiperativas, delituosas, e problemas sexuais. No segundo estão as condutas neuróticas, esquizóides e obsessivas, cuja primeira vítima é o próprio sujeito. Os sujeitos que passam por essa situação desenvolvem um perfil de imaturidade que provoca alterações comportamentais e dificuldades de aprendizagem, cujas características seriam, entre outras: Defasagem entre a idade cronológica e a idade mental; Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 30 Desconhecimento de si mesmo, que o induz a empreender tarefas impossíveis e a não se arriscar quando tem possibilidade de êxito, pois desconhece sua capacidade para agir e sua limitações; Instabilidade emocional manifestada em mudanças bruscas de estado de ânimo. O imaturo é desigual, variável, irregular; seus sentimentos mudam com tanta facilidade que não sabemos nunca como agir com eles; Pouca responsabilidade, portanto, não há esforço para cumprir os compromissos assumidos; Má percepção da realidade, que o leva a desenvolver condutas de inadaptação tanto pessoal como social; Ausência de projetos de vida, sobre o amor, o trabalho; a cultura, etc., que o leva a agir de forma superficial,sem metas, sem modelos, sem valores; Falta de maturidade intelectual; o sujeito imaturo é incapaz de processar a informação e desenvolver uma aprendizagem significativa para que possa enriquecer suas estruturas cognitivas e dar respostas válidas, coerentes e eficazes; Pouca ou nenhuma educação da vontade, que o transforma em uma pessoa fraca, facilmente influenciável, com baixa tolerância às frustrações; é mal perdedor, se entusiasma facilmente com projetos que abandona quando surge qualquer dificuldade; tende a se refugiar em um mundo fantástico, distanciando-se da realidade; Critérios morais e éticos instáveis; a moral é a arte de viver como ser humano, educando a liberdade para utilizá-la de forma adequada; o sujeito imaturo é permissivo, segue a moda sem ter opinião nem espírito crítico. Essas características pessoais desenvolvem transtornos comportamentais que, no âmbito escolar, geram dificuldades de aprendizagem, inadaptação e, em alguns casos, abandono e fracasso escolar. Para melhorar essas situações, é preciso aplicar programas psicoeducacionais de intervenção. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 31 Causas E Consequências É extremamente difícil fazer uma classificação das causas que dão origem aos transtornos afetivos. Sabemos que um sistema de classificação é fundamental porque permite coletar informações, prever e desenvolver conceitos dentro de uma disciplina científica. A fonte da qual se parte, para iniciar uma possível classificação desses transtornos na infância, pode ser o ambiente familiar em que a criança viveu os primeiros anos de vida, pela influência que ele tem na construção de sua personalidade. As brigas entre o casal fazem com que a criança viva em um lar tenso e até mesmo agressivo, o que é extremamente prejudicial para seu desenvolvimento psíquico, mais ainda do que a ruptura do núcleo familiar. Se esse ambiente é desfeito por uma separação ou um divórcio, a criança passa a vivê-lo de forma tão traumática que dificulta suas atividades escolares, e é por isso que surgem as dificuldades de aprendizagem, que, por sua vez distorcem o desenvolvimento normal da personalidade. Ruptura do núcleo familiar A família é a primeira unidade socializada. Tudo o que a criança possui depende dela, nela aprende as normas que guiarão suas relações afetivas. Se o núcleo familiar se quebra, quebra também a estabilidade emocional necessária para um desenvolvimento normal, e começam os desajustes da personalidade. As desavenças conjugais, as irritações, as censuras mútuas, a autoridade desequilibrada e os repetidos transtornos deixam uma marca negativa na criança, que se sente assustada e impotente sem saber o que pensar. Pouco a pouco reage diante de estímulos negativos e se torna irritadiça e violenta. A decepção diante de uma vida familiar desse jeito a transforma em uma pessoa apática e sem interesse; suas relações afetivas se tornam tensas, e sua capacidade de relacionamento é pouco desenvolvida. Segundo o Ministério de Assuntos sociais na Espanha, há 35 mil casamentos desfeitos, 73% com filhos menores de idade. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 32 A criança vive a separação dos pais com angústia, tem a sensação de ameaça, o que influencia sua afetividade, e até se sente culpada por ter provocado a situação. É por isso que em uma de cada três crianças com pais separados foi possível detectar síndromes depressivas. Já que o ambiente mudou, o dinheiro se transforma em um problema, e os filhos são o pretexto para as brigas entre o casal; a isso temos de acrescentar os problemas pela custódia e a síndrome do fim de semana, em que se espera a visita do progenitor, e em muitos casos a espera é vã. Assim a criança se sente decepcionada e até com ciúme, e os vínculos afetivos se deterioram paulatinamente. Para evitar isso, quando os pais se separam ou se divorciam, precisam explicar a situação para os filhos, informando sobre o que vai acontecer e de que forma isso influenciará suas vidas, fazendo-os compreender que não perderam o carinho, o que realmente perderam é o padrão de conduta ideal que até então haviam desfrutado. Carência afetiva A criança precisa experimentar o afeto de seus pais. A forma de adquirir a autoestima e a segurança necessária para que alcance sua autonomia pessoal. A privação afetiva sofrida durante a infância pode dar lugar a inúmeros transtornos psicológicos e psicopatológicos que se manifestam ao longo da própria infância ou, às vezes, com a chegada da adolescência e podem persistir no adulto. Algumas vezes a falta de afeto vem de um ambiente familiar deteriorado, com frequentes disputas dos pais diante dos filhos. Se um dos progenitores possui algum transtorno psicopatológico como o alcoolismo ou a dependência de drogas, a criança pode sofrer agressões ou maus-tratos passíveis de agravar mais ainda o problema. A privação afetiva pode ser vivida em função da relação com os outros irmãos, quando a criança se vê relegada a um segundo plano, com a sensação de que os outros são os preferidos de seus pais. A origem da carência afetiva também pode surgir em virtude das ausências prolongadas do pai ou por diversos motivos: pais severos ou moralistas que provocam constantes crises ou estados contínuos de ansiedade, ou pais muito tolerantes Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 33 cujos filhos não estão sujeitos a normas ou pontos de referência para um comportamento correto. O desenvolvimento neurótico da personalidade é um transtorno bastante relacionado com a insegurança em si, muitas vezes originada das vivências de privação afetiva e, quando não se acumula de forma contínua, pode perdurar na vida adulta, sob a forma de síndromes neuróticas. Quando essa situação vem acompanhada de maus-tratos causados pelos pais ou pelas pessoas que têm a custódia, o mais provável é que a criança desenvolva uma personalidade psicopata, com a qual quer reivindicar o afeto mediante condutas inadequadas, estabelecendo também um padrão de condutas contraditórias. Dar afeto para a criança, não precisa ser excessivamente tolerante, com ela nem superprotegê-la. A criança pode se sentir querida mesmo se for repreendida quando preciso; desde que ela perceba que isso é feito com carinho e rigor ao mesmo tempo. É importante premiar as conquistas, os esforços e as condutas corretas que a criança realiza, reforçando desse modo condutas mantidas por muito tempo, e punir aquelas que podem ser nocivas para seu desenvolvimento psicológico. A falta de atenção ocorre quando há carência do tipo educativa. Por vários motivos sociais e profissionais, os pais não têm tempo para levar a criança à escola, participar das reuniões com os professores, preocupar-se com suas tarefas, sua conquistas, suas inquietações, etc., deixando-a ao cuidado de pessoas estranhas. Isso é comum no executivo exemplar, pois trabalha muito, está sempre ocupado e preocupado com seus negócios, com seu trabalho; em casa não quer que ninguém o incomode e perturbe sua tranquilidade; passa longos períodos sem falar nem ver seus filhos; é um vencedor nato, e para seus filhos dá coisas que permitam essa tranquilidade, como os divertimentos fora de casa, amigos, caprichos, mas, a partir da adolescência, o sujeito precisa de mais e busca falsas satisfações que compensem suas carências e vazios como as drogas, o álcool, o perigo, e tudo isso é fruto da época em que vivemos; e de uma sociedade que está mais preocupada com o trabalho, com as coisas Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 34 materiais,com o consumismo, etc., e os valores familiares, passaram para um segundo plano. Transtornos afetivos causados pelas dificuldades de aprendizagem Em psicologia da educação se diz que os transtornos afetivos causam dificuldades de aprendizagem, apresentam sintomatologias bem diversas, desde a tristeza, a timidez e a perda de iniciativa até a agressividade e os enfrentamentos, que, sem dúvida, são o resultado dos mecanismos de defesa desenvolvidos pelo indivíduo para mascarar sua inferioridade. Entre os transtornos afetivos mais comuns devemos destacar a instabilidade emocional e a ansiedade. A instabilidade emocional influi muito no processo de aprendizagem. Diversas pesquisas assinalam diferentes transtornos no processo de aprendizagem ligados a essa instabilidade: tensão nervosa, falta de concentração, irritabilidade frequente, mudanças de humor sem causa aparente. A ansiedade é outra variável importante que interfere no processo de aprendizagem. São muitos os estudos realizados para comprovar a influência da ansiedade no rendimento acadêmico. Os resultados indicam correlações negativas entre ansiedade e rendimento, mas a interação entre ambos é extremamente complexa. Em geral, é possível afirmar que um grau elevado de ansiedade facilita a aprendizagem mecânica e a aprendizagem significativa em um nível elementar, mas naquelas aprendizagens mais complexas a ansiedade acentua a aprendizagem de tarefas complexas quando não interfere na autoestima pessoal, quando as tarefas não trazem muita novidade ou não são muito significativas, quando é moderada e quando o estudante possui mecanismos afetivos que lhe permitam controlá-la . Qualquer transtorno do tipo afetivo pode interferir na linguagem da criança impedindo um desenvolvimento evolutivo normal. A falta de carinho a inadaptação familiar, a existência de situações traumatizantes, etc., podem provocar um transtorno no desenvolvimento linguístico Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 35 que se reflete sob a forma de gagueira com o desejo claro de chamar a atenção dos pais. O ambiente sociocultural familiar também influi no desenvolvimento e amadurecimento infantil. FONSECA, Vítor da. Taxonomia das dificuldades de aprendizagem (DA). In: ______. Introdução às dificuldades de aprendizagem. 2. ed. rev. aum. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. Assista ao filme: O quarto do meu filho Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 36 UNIDADE 5 Objetivo: Compreender as causas dos desajustes de comportamento, face os problemas sociais que podem causar dificuldades na aprendizagem escolar, bem como problemas de transtornos de personalidade. Deteriorização dos Agentes Sociais Os desajustes e as dificuldades aparecem quando o ambiente familiar, escolar e social não é propício. Existem fatores de risco que provocam essa deterioração (a carência econômica se manifesta em saúde ruim e desnutrição), mas em alguns casos também favorecem o desenvolvimento de condutas reprováveis, que têm como consequência lares destruídos, transtornos de personalidade, condutas antissociais etc., cuja maior manifestação são os maus-tratos. Maus-tratos: conceito Os maus-tratos infantis constituem um problema social muito generalizado, mas também muito desconhecido. Na maioria dos casos não sai do âmbito familiar onde ocorrem, sendo conhecidos apenas no caso de intervenção dos serviços sociais. A conceituação de maus-tratos tem sua origem nos anos 1960. Embora sempre tenha existido. São muitas as perguntas que surgem na hora de definir os maus-tratos. Usa-se esse termo normalmente apenas para aqueles casos de agressão física e abuso sexual, os mais detectados e os com mais visibilidade, e que podem pôr em perigo a saúde física e psíquica da criança. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 37 Entende-se por maus-tratos na infância as diferentes formas de disfunções e carências nas relações entre as crianças e os adultos, que interferem no desenvolvimento físico, psicológico, afetivo e social dos menores. A Lei de Serviços de proteção Infantil dos Estados Unidos define os maus-tratos infantis como “Dano ou tratamento prejudicial para o bem-estar de uma criança ou para sua saúde física ou psíquica pelo comportamento ou omissão dos pais ou pessoa responsável pelo cuidado e bem-estar da criança”. O castigo físico é uma das maneiras de disciplinar mais comumente empregadas em casa. Geralmente, quando o adulto o usa se sente irritado e é por meio dele que descarrega sua irritabilidade, e a criança associa o castigo ao estado de ira do adulto, e não à falta cometida; portanto, a finalidade a que o adulto muitas vezes se propõe perde o sentido. Uma variável que devemos considerar na hora de estabelecer a existência de maus-tratos é a intencionalidade quando se impõe o castigo, pois para muitos pais consiste na única maneira de reafirmar sua própria personalidade. O efeito que esse “método educativo” provoca na criança é uma dificuldade na hora de estabelecer relações interpessoais, pois o processo de socialização se estabelece de forma inadequada ao tomar como base algumas premissas falsas e é na etapa da adolescência que esses transtornos mais se manifestam. Nessa fase evolutiva, quando está mais necessitado de carinho – ao ter essa carência ele se ressente – que isso transparece em estados permanentes de infelicidade, de baixa autoestima, de ansiedade, de depressão, de dificuldades de aprendizagem, etc. Na Espanha são apresentadas por ano cerca de 40 mil denúncias relacionadas com os maus-tratos. Nos Estados Unidos, segundo a pesquisa Gallup, é possível identificar como fator de risco a pobreza. Existe o triplo de casos de maus-tratos em famílias pobres do que em famílias ricas. Outros fatores são as drogas (crack, cocaína) e o álcool. Os abusos sexuais são sete vezes superiores, segundo esse mesmo relatório, em famílias de nível socioeconômico baixo do que nos outros níveis (médio e alto). Também em famílias Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 38 monoparentais os maus-tratos ocorrem com maior frequência por causa de fatores psicológicos e econômicos. Em um trabalho realizado sobre medos infantis, 60% da população infantil americana tem medo de que a matem na escola, na rua ou em casa. Origem A origem dos maus-tratos é social, econômica e cultural. Existem variáveis que permitem a origem d problema: a relação entre maus-tratos, abandono e o fato de pertencer a uma classe social baixa ou muito baixa é um dado que aparece em inúmeros trabalhos mas esse problema, principalmente o abandono, não ocorre só nas classes baixas. O desemprego é outra variável que incide na origem dos maus-tratos e influi na deterioração das relações paterno-filiais. A origem dessa deterioração está nos transtornos psicológicos (depressões, autoconceito baixo, estresse, insônia, insegurança, etc.) que o pai sofre por estar desempregado. Também pode aparecer a insatisfação e a insegurança pelo trabalho, como fator de deterioração do ambiente familiar. O estado civil da pai/mãe (solteiro(a), divorciado(a) ou separado(a) ) representa o desencadeador de maus-tratos físicos e emocionais com os filhos: muitas vezes convivem com um companheiro(a) que não é o pai/mãe; portanto, os laços afetivos não são os ideais. Essa situação, às vezes, é acompanhada de desemprego, insatisfação com o trabalho, alcoolismo, muitas pessoas vivendo sob o mesmo teto, baixo nível cultural, etc., provocando situações de extrema tensão cuja única saída é o castigo físico.