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Alyson Barros Aula 05 18 de outubro Este curso é protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Grupos de rateio e pirataria são clandestinos, violam a lei e prejudicam os professores que elaboram o curso. Não adianta sair para protestar contra a corrupção dos outros quando não damos o exemplo. Faça o bom uso desse material de acordo com as instruções aqui oferecidas. outubro 2015 08 Fall 2 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R Psicologia do desenvolvimento. A criança e o adolescente em seu desenvolvimento normal e psicopatológico. Clínica infantil e do adolescente: teoria e técnica. A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe. Jean Piaget Essa é a área da psicologia que estuda... O desenvolvimento. Temos sempre um roteiro básico para estudarmos essa disciplina: a definição de desenvolvimento e as teorias de desenvolvimento de acordo com as grandes correntes do pensamento psicológico. De posse desse conhecimento você conseguirá aprofundar mais no conteúdo. A grande questão é que estudamos quase todas as teorias relevantes do desenvolvimento necessárias para o nosso concurso. Falamos da psicanálise, de Winnicott, de Vygotsky e até de Klein. Que autores faltam? Para a SECRIA só Piaget mesmo. Lembre-se que esse é um edital copiado e colado e tem assunto que nem questão tem. Mesmo assim, vamos estudar, por uma questão de precaução, a teoria de Erikson. Alyson, e a tal da clínica infantil? Uma questão apenas na história da FUNIVERSA versa sobre isso, e dentro do campo escolar (veremos na lista de questões) e que deve ser respondida por aluno de terceiro ano de faculdade de psicologia! 3 Sendo assim, vamos ao que interessa. Conceito de Desenvolvimento Qual o primeiro problema que encontramos no estudo do desenvolvimento humano? Sem dúvida é a sua definição e seu campo de atuação. Para encurtar um século de história, podemos dizer que atualmente a psicologia do desenvolvimento se dedica ao estudo do desenvolvimento humano em todos os seus aspectos: físico-motor, intelectual, afetivo-emocional e social - desde o nascimento até a idade adulta, isto é, a idade em que todos estes aspectos atingem o seu mais completo grau de maturidade e estabilidade. Apenas a título de curiosidade, identifico na história da psicologia três grandes fases sobre como o desenvolvimento era estudado. São fases que se distinguem tanto pelo seu método de estudo quanto pelo escopo estudado. A primeira fase ocorreu entre as décadas de 1920 e 1930 e foi caracterizada pelo seu método descritivo. Era uma fase preocupada com a observação e o registro das ocorrências em situação natural ou provocada, utilizando conteúdos concretos. A segunda fase ocorreu entre as décadas de 1940 e 1950 e foi marcada pela metodologia correlacional. Ou seja, além da descrição dos fenômenos, buscava-se entender estatisticamente a relação entre as variáveis associadas ao desenvolvimento. Um exemplo eram os estudos de crianças autistas e mães-geladeira. Confesso que eles não levaram esse método estatístico ao pé da letra (rs). A terceira fase começou a se estabelecer a partir de 1960 e perdura até hoje. Ela é caracterizada pelo método experimental, onde os sujeitos são estudados em condições provocadas, sendo necessária à percepção de variáveis envolvidas na questão. Essa evolução entre as abordagens não mostra uma superação entre os métodos, mas a agregação de novas tendências metodológicas. Desse modo, usamos atualmente tanto a descrição quanto os estudos correlacionais e o experimentalismo na positivação de hipóteses acerca do desenvolvimento. O conceito de desenvolvimento tem dois aspectos mais gerais: o aspecto das estruturas mentais e o crescimento orgânico. As estruturas psíquicas possuem uma construção contínua e se caracterizam pelo aparecimento gradativo na relação com o ambiente. Como exemplo de estruturas mentais, temos o surgimento do Eu, o aspecto moral, a consciência do outro, o pensamento, o afeto, a vinculação, a motivação, a linguagem etc. Apesar das enormes diferenças entre os autores sobre o exato surgimento e as condições mínimas para esse desenvolvimento, todos concordam que a natureza humana possui condições biológicas para o desenvolvimento mental. O crescimento orgânico, por outro lado, é orientado para as estruturas biológicas que se desenvolvem naturalmente 4 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R sem a dependência do ambiente social para o seu surgimento. Isso não quer dizer que o desenvolvimento orgânico não necessite do ambiente para sua modulação. Destaco, no entanto, que entre o desenvolvimento das estruturas mentais e o desenvolvimento orgânico existem centenas de processos interligados que demonstram a dependência da relação ambiente e genética. Mas, quais os fatores que influenciam no desenvolvimento humano? Felizmente ainda são aqueles que você estudou na faculdade: hereditariedade, crescimento orgânico (é o crescimento físico), maturação e a relação com o ambiente social. Mas Alyson, esses conceitos não estão repetidos ou se cruzam? É verdade, em muitos casos esses verbetes são usados indistintamente, mas precisamos definir precisamente para o correto domínio dessa matéria. Para não ficarmos com o meio de campo enrolado, vou colocar aqui algumas distinções conceituais que se cruzam com frequência: Hereditariedade: é a parte genética, inscrita em nosso DNA, que trás características de nossos pais para o nosso genótipo e fenótipo, assim como traços de personalidade, condições de saúde, etc. Maturação: é o desenvolvimento puro da programação genética e a ver com mudanças naturais e espontâneas. Crescimento orgânico: é o desenvolvimento físico ligado à maturação. Como Exemplo, temos o ganho de altura, peso, pelos, etc. Mas, em geral, como ocorre o desenvolvimento? O desenvolvimento ocorre de duas formas, uma na expressão natural da hereditariedade e outra nos aprendizados humanos provenientes da relação entre o ambiente interno e externo do organismo. O ambiente interno é entendido como o espaço físico, fisiológico, psicológico e afetivo enquanto que o ambiente externo é toda a realidade objetiva na qual a pessoa está inserida. Nessa relação entre o interno e o externo estão o corpo do sujeito e o seu papel social. As mudanças proporcionadas por essa relação entre interno e externo podem tanto qualitativas quanto quantitativas. As mudanças qualitativas ocorrem quando surgem novos fenômenos na vida do indivíduo e são marcados por mudanças biológicas e/ou psicológicas. Como exemplos dessas mudanças qualitativas, temos a aquisição da linguagem, a entrada na puberdade, a entrada na escola, etc. As mudanças quantitativas, por sua vez, são aquelas que refletem apenas 5 mudanças em um número ou quantidade de atributo estudado, como, por exemplo, aumento de peso, de estatura, de n.º de palavras no vocabulário etc. Antes de adentrarmos nas teorias que nos cabem é preciso considerar alguns axiomas majoritários atuais: as pessoas se desenvolvem em ritmos diferentes, o desenvolvimento é relativamente ordenado e o desenvolvimento acontece de forma gradual. É assim que o desenvolvimento humano é visto atualmente. Como o domínio desse conhecimento não é suficiente para entendermos o desenvolvimento humanos, devemos aprofundar nas melhores teorias que buscamexplicar tal fenômeno. Uma teoria é um conjunto de afirmações inter-relacionadas, destinadas a explicar o desenvolvimento. As teorias dão significado aos dados, às informações obtidas, geralmente, através de pesquisa. Separei alguns autores que têm relevância para o nosso concurso. Piaget Nasceu em 1896 na Suíça e, reza a lenda, publicou seu primeiro artigo sobre um pardal albino aos 11 anos de idade! Felizmente esse artigo não cairá em seu concurso. Entre suas principais obras destacam-se os livros "Biologia e Conhecimento" e "A Formação do Símbolo na Criança". Alguns pontos de sua biografia são “curiosos” e merecem destaque: - Estudou Biologia e Filosofia. Recebeu seu doutorado em Biologia em 1918, aos 22 anos de idade. - Trabalhou como psicólogo experimental, em Zurich. Assistiu às aulas de Jung e trabalhou como psiquiatra em uma clínica. - Na França foi convidado a trabalhar no laboratório de Alfred Binet (o dos testes de inteligência infantis). Jean Piaget notou que crianças francesas da mesma faixa etária cometiam erros semelhantes nesses testes e concluiu que o pensamento lógico se desenvolve gradualmente. Seu conhecimento de Biologia levou-o a enxergar o desenvolvimento cognitivo de uma criança como sendo uma evolução gradativa. - As teorias de Jean Piaget foram, em grande parte, baseadas em estudos e observações de seus filhos que ele realizou ao lado de sua esposa. - Ao longo de sua vida, escreveu mais de 75 livros e centenas de trabalhos científicos. 6 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R - Faleceu em Genebra, em setembro de 1980 (com 84 anos). O conceito fundamental de Piaget é o de epigênese (ou epistemologia genética). Ou seja: o processo evolutivo da filogenia humana tem uma origem biológica que é ativada pela ação e interação do organismo com o meio ambiente - físico e social - que o rodeia. Essa visão é uma síntese do empirismo e do racionalismo. Dica de Concurso: Piaget põe de lado as ideias de que o conhecimento nasce com o indivíduo ou é dado pelo meio social. Ele afirma que o sujeito constrói o conhecimento na interação com o meio físico e social, e essa construção vai depender tanto das condições do indivíduo como das condições do meio. E quais as suas principais contribuições para a psicologia e para a pedagogia? Ele desenvolveu um modelo que se baseia na ideia de que a criança, no seu desenvolvimento, constrói estruturas cognitivas sofisticadas - que vão dos poucos e primitivos reflexos do recém-nascido até às mais complexas atividades mentais do jovem adulto. Para ele, a estrutura cognitiva é um "mapa" mental interno, um "esquema" ou uma "rede" de conceitos construídos pelo indivíduo para compreender e responder às experiências que decorrem dentro do seu meio envolvente. Piaget usou o termo construtivismo como uma capacidade que o sujeito tem de apreender e interpretar o mundo, através das suas estruturas cognitivas. Observe que, para o construtivismo piagetiano, o sujeito não nasce com essas estruturas cognitivas (ele não é inatista), mas as forma graças a sua experiência com o meio. Assim, o processo de conhecimento é o processo de construção de estruturas. Para o construtivismo, a presença ativa do sujeito diante do conteúdo é essencial. Esse termo foi cunhado por Piaget que pressupôs que era necessário agir sobre o objeto para transformá-lo. Portanto, não basta somente ter contato com o conhecimento para adquiri-lo. Para Piaget, conhecer é agir e transformar os objetos. Aprender não é a adição simples de conteúdos na mente humana e nem o registro de dados do exterior. “O comportamento humano não é inato, nem resultado de condicionamento. Sujeito e objeto interagem em um processo que resulta na construção e reconstrução de estruturas cognitivas.” O primeiro livro que li de Piaget foi “Epistemologia Genética” anos antes de entrar na faculdade. Achei interessante como um homem que dedicou parte de sua vida ao estudo de moluscos, conseguiu produzir tantos experimentos e teorias acerca da aprendizagem e do desenvolvimento humano. É certo que não entendi metade dos conteúdos 7 que li, mas restou a admiração. Ainda tenho o livro comigo e é dele que trago a maior parte das transcrições. Piaget estudou o modo como o pensamento se desenvolve e criou a teoria conhecida como Epistemologia Genética (ou teoria psicogenética), que pode ser considerado uma oposição ao apriorismo e ao empirismo. O apriorismo é uma escola de pensamento que parte do pressuposto que os conhecimentos existem por si e são inerentes ao indivíduo. Para o empirismo o conhecimento ocorre na relação do organismo com o ambiente. Um dos métodos mais conhecidos de Piaget figurava a observação naturalista que consistia em observar naturalmente as pessoas no seu meio para tentar reproduzir os fenômenos de aquisição do conhecimento em seu laboratório. Ele desenhou uma teoria maturacionista, ou seja, o homem amadurece na relação definida de suas predisposições genéticas com o ambiente. Desse modo, existem estruturas existentes no sujeito, como as estruturas cognitivas, que irão determinar a sua capacidade de produzir conhecimentos sobre a realidade. Ele, a despeito de todos os teóricos que veremos, foi o mais profícuo experimentalista do campo relacional da aprendizagem/desenvolvimento. No entanto, mesmo com a notável produtividade, seus estudos não foram feitos para aplicação em sala de aula. Mesmo assim, suas teorias inspiraram as obras importantes na área da aprendizagem e educação (Paulo Freire, Yves de la Taille, Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, etc.). Durante algumas aulas percebi que alguns alunos defendiam com afinco a ideia errônea de que Vygotsky era o pai do construtivismo. Isso é um erro, o termo foi criado, no contexto da aquisição do conhecimento, por Piaget. Sua abordagem é construtivista principalmente porque nos ajuda a pensar o processo de aprendizagem a partir da perspectiva da criança ou daquele que aprende. Não podemos confundir com o “método construtivista” malgrado em moda das escolas atuais (tecnicamente todo método é construtivista). Outro ponto que gera bastante confusão para leigos é que atribuem a Piaget uma teoria inatista. Piaget não é inatista, é maturacionista, construtivista, pesquisador de moluscos, etc. Tudo, menos inatista. Não confunda. O seu estudo é principalmente centrado em compreender como o aprendiz passa de um estado de menor conhecimento a outro de maior conhecimento, o que está intimamente relacionado com o desenvolvimento pessoal do indivíduo. Para explicar o processo de desenvolvimento intelectual Piaget dividiu-o em uma sequência fixa de estágios/períodos. Com relação à idade cronológica descrita nos estágios de Piaget, podemos esperar desvios (algumas crianças atingem determinados estágios antes ou depois do que outra). Modos de 8 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R pensamento característicos de estágios anteriores estão presentes nos estágios seguintes e a criança pode ainda voltar a ter formas anteriores de pensamentos. Não existe uma divisão rígida e algumas crianças podem não atingir determinado estágio de desenvolvimento, característica de crianças portadoras de deficiência. Existem, antes de entrarmos nas fases de desenvolvimento, alguns pressupostos da teoria piagetiana que necessitam de destaque. O primeiro é que a inteligência pode ser entendida como o pensamento racional. Além disso, o desenvolvimento da linguagem depende do desenvolvimento da inteligência. Porém, após o surgimento da linguagem, o pensamento racional sofre alterações (começa a trabalhar com representações, por exemplo). Vale aqui uma advertência - o Estágio das Operações Formais é dividido em duas fases: a fase das Operações Concretas e a fase das Operações Abstratas. Pronto para estudas as fases de desenvolvimento epigenético de Piaget? Vamos a eles: EstágioIdade Estágio sensório-motor de 0 a aproximadamente 2 anos Estágio objetivo-simbólico (pré- operatório) aproximadamente de 2 a 6 ou 7 anos Estágio operacional-concreto aproximadamente de 7 a 11 ou 12 anos Estágio operacional-abstrato de 11 ou 12 anos a 14 ou 15 anos Atenção: Segundo Piaget, cada período é caracterizado por aquilo que, de melhor o indivíduo consegue fazer nessas faixas etárias. Todos os indivíduos passam por todas essas fases ou períodos, nessa sequência, porém o início e o término de cada uma delas dependem das características biológicas do indivíduo e de fatores educacionais, sociais. Portanto, a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida. a) Estágio sensório-motor (o recém-nascido e o lactente - 0 a 2 anos) O conceito principal dessa fase é o de sistema sensório-motor. O bebê vive uma fase onde não consegue diferenciar o ambiente de si mesmo. A 9 criança desenvolve um conjunto de "esquemas de ação" sobre o objeto, que lhe permitem construir um conhecimento físico da realidade. É uma fase de coordenação sensório-motora da ação, baseada na evolução da percepção e da motricidade (a motricidade é a base para o desenvolvimento da manipulação de objetos). Aqui existe o pensamento egocêntrico (egocentrismo inconsciente e integral). O bebê recebe sensações do interior do próprio organismo e do ambiente externo imediato e possui padrões inatos, como sugar e agarrar. No tocante ao desenvolvimento dessa fase, vão ocorrendo mudanças nas funções sensório-motoras, como por exemplo: a visão passa de uma reação reflexa à luz para focalizar objetos específicos e depois segui-los quando em movimento. Distinguem-se três estágios entre o nascimento e o fim deste período: • O dos reflexos • O da organização das percepções e hábitos (sugar o polegar, seguir ruídos com a cabeça, etc.) • E o da inteligência sensório-motora Piaget situa nesta fase a origem do pensamento inteligente, uma inteligência prática que busca resultados favoráveis. Nesta etapa desenvolve o conceito de permanência do objeto e de constância do objeto. Ocorre a construção de esquemas sensório-motores orientados por uma inteligência prática e a criança é capaz de fazer imitações, construindo representações mentais cada vez mais complexas. Essa fase estende-se até o aparecimento da linguagem (não existe linguagem nessa fase). Destaca-se que para Piaget, os quatro processos que caracterizam a revolução intelectual do período sensório-motor são: o esquema prático do objeto, a evolução do espaço prático, a causalidade e a objetivação das séries temporais. Em outras palavras: a) Construção de categorias de objetos b) Construção do espaço prático c) Construção da causalidade d) Construção do tempo É importante destacar, ainda, que a criança não nasce, segundo Piaget, dotada de linguagem e noção de tempo/espaço. Esses conceitos só vão aparecer, e ainda assim de maneira incipiente, ao final do estágio sensório motor. Dica para Concurso: Segundo Piaget, a ausência da permanência do objeto é uma das características de que a criança ainda se encontra no estágio sensório-motor (primeiro estágio de desenvolvimento cognitivo). 1 0 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R Dica para Concurso: o que marca a passagem da fase sensório motora para a fase pré-operatória é o aparecimento da função simbólica (linguagem). Assim, para Piaget, a inteligência é anterior ao surgimento da linguagem (a inteligência já existe no período sensório motor). b) Estágio objetivo-simbólico ou período pré-operatório ou período pré-operacional (primeira infância - 2 a 7 anos) A criança inicia a construção da relação causa e efeito, bem como das simbolizações. É a chamada idade dos porquês e do faz-de-conta. Nessa fase, a linguagem desenvolve-se minimamente e não adquire, ainda, um conceito de conservação, mas irá acarretar modificações nos aspectos intelectual, afetivo e social da criança. O pensamento ainda é ilógico e egocêntrico, além de existir o pensamento mágico e o jogo simbólico. Fundamentalmente é uma fase de preparação e organização das operações concretas. Aqui surge a função simbólica e ocorre o início da interiorização dos esquemas de ação na representação (na linguagem, no jogo simbólico, na imitação). A interpretação simbólica é usada como referencial para explicar o mundo real, a sua própria atividade, seu eu e suas leis morais. No final do período passa a procurar a razão causal e finalista de tudo (fase dos “porquês"). A criança já antecipa o que vai fazer. Segundo Piaget, a partir dos quatro anos o raciocínio dominante é a intuição, nesse momento o estágio passa a ser chamado de estágio do pensamento intuitivo (a criança pensa e dá explicações na base de intuições e da percepção e não da lógica). A linguagem começa a operar como veículo de pensamento. c) Estágio operacional-concreto ou período das operações concretas (infância propriamente dita - 7 a 11 ou 12 anos) É o primeiro dos estágios formais, a criança começa a construir conceitos, através de estruturas lógicas, consolida os princípios da conservação da quantidade e da reversibilidade. Realiza as primeiras operações lógicas e constrói o conceito de número. Seu pensamento apesar de lógico, ainda está preso aos conceitos concretos, não fazendo ainda abstrações. Além disso, começa a considerar pontos de vista diferentes. O nível de pensamento da criança já permite que ela estabeleça corretamente as relações de causa e efeito e de meio e fim, sequencie ideias ou eventos, trabalhe com ideias sob dois pontos de vista simultaneamente e forme o conceito de número (no início do período, sua noção de número está vinculada a uma correspondência com o objeto concreto). 11 d) Estágio operacional-abstrato ou período das operações abstratas (de 11 ou 12 anos a 14 ou 15 anos): É o segundo estágio formal, essa fase já representa um amadurecimento do pensamento do indivíduo, ele parte da simples intuição e do pensamento concreto para uma capacidade mais apurada de prospectar o futuro, planejar o presente e analisar combinações de variáveis em cenários possíveis (cria hipóteses e organiza pensamentos abstratos). Ele distingue o real e o possível. A estratégia cognitiva utilizada tem caráter hipotético-dedutivo, não depende mais de dados concretos, mas de enunciados ou proposições que contenham esses dados. A criança adquire a capacidade de criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta (padrão moral). Esquematicamente temos: Dica para Concurso: Se no período pré-operatório a criança ainda não adquiriu a capacidade mental da reversibilidade, irá adquirir nos períodos das operações concretas ou formais. Como você já sabe, para Piaget, o desenvolvimento humano obedece a certos estágios hierárquicos, que decorrem do nascimento até se consolidarem por volta dos 16 anos. A ordem destes estádios é invariável e inevitável a todos os indivíduos. A passagem de um estágio para outro é de maneira contínua, os estágios não se caracterizam por momentos estanques. Cada estágio apresenta uma estrutura mental dotada de esquemas, que poderiam ser descritos como subestruturas, Sensório Motor • Aprendizagem acerca dos Objetos Físicos • do nascimento aos 2 anos Pré-‐operatório • Desenvolvimento das habilidades verbais e compreensão dos fenômenos externos • 2 -‐ 6 anos Operações Formais • Desenvolvimento das Habilidades sistemáticas e lógicas do pensamento • Operações Concretas (7 -‐ 11 anos) ; Operações Abstratas (11-‐ 15 anos) 1 2 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R dinamicamente organizadas. Esses esquemas são responsáveispela assimilação do ambiente em forma de conhecimento. A aprendizagem, nesse contexto, pode tanto ser um rearranjo de esquemas como a aquisição de novos. É importante destacar que, para a concepção piagetiana, a aprendizagem só ocorre mediante a consolidação das estruturas de pensamento (após a consolidação do esquema), da mesma forma a passagem de um estágio a outro estaria dependente da consolidação e superação do anterior. Piaget é essencialmente epistemológico e utiliza a psicologia experimental como instrumento para compreender o processo de transição dos estados de conhecimento. Sua teoria é universalista e individualista. O enfoque construtivista explica o sujeito construindo seu mundo de significados transformando sua relação com o real. Sujeito e objeto interagem numa busca de equilibração entre a assimilação e a acomodação. Essa equilibração está presente em todos os estágios do desenvolvimento intelectual. A assimilação é a “aplicação” da experiência passada ao presente e a acomodação é o “ajustamento” dessa experiência para o presente. Além disso, Piaget acredita, ainda, que o desenvolvimento intelectual ocorre por meio de dois atributos inatos aos quais chama de Organização e Adaptação. A adaptação é o processo pelo qual a inteligência se relaciona externamente com o ambiente, enquanto que a organização é o processo pelo qual a inteligência como um todo se relaciona internamente com suas partes. A adaptação é o equilíbrio entre assimilação e acomodação, que equivale ao equilíbrio da interação entre sujeito e objeto. Conceitos-chave de Piaget Organização À medida que aumenta a maturação da criança, elas organizam padrões físicos ou esquemas mentais em sistemas mais complexos. Adaptação Capacidade de adaptar as suas estruturas mentais ou comportamento para se adaptar às exigências do meio. Assimilação Capacidade de moldar novas informações para encaixar (integrar) nos esquemas existentes. Acomodação Mudança nos esquemas existentes pela alteração de antigas formas de pensar ou agir. Equilibração Tendência para manter as estruturas cognitivas em 13 equilíbrio. Um conceito importante, e factível de comparação com os outros autores, é o de afetividade. Para Piaget, a afetividade é o agente motivador da atividade cognitiva. A afetividade e a razão constituem dimensões complementares: “a afetividade seria a energia, o que move a ação, enquanto a razão seria o que possibilitaria ao sujeito identificar desejos, sentimentos variados, e obter êxito nas ações”. Outro conceito muito importante e muito criticado na teoria de Piaget é o de egocentrismo. Sua compreensão foi tomada pelo sua conotação social (egoísta), mas, segundo o próprio autor, “o egocentrismo não é, pois, em sua origem, nem um fenômeno de consciência, nem um fenômeno de comportamento social, mas uma espécie de ilusão sistemática, inconsciente e de perspectiva”. “O egocentrismo constitui uma espécie de centralização do pensamento, uma inocência do espírito no sentido de uma ausência de toda relatividade intelectual e de todo sistema racional de referência”. Por fim, para Piaget, o desenvolvimento cognitivo não é a mera soma de itens, mas exige uma reformulação de pontos de vista prévios, num processo contínuo de correção. Portanto, sair do egocentrismo quer dizer descentralizar e o termo egocentrismo designa a inabilidade inicial para descentralizar. Piaget também enfatiza em seu estudo, o entendimento da moral à luz da inteligência. A própria moral humana pressupõe o desenvolvimento anterior da inteligência, pois as relações entre moral e inteligência têm a mesma lógica atribuída às relações entre inteligência e linguagem. Quer dizer, a inteligência é uma condição necessária, porém não suficiente ao desenvolvimento da moral. Nesse sentido, a moralidade implica pensar o racional, em 3 dimensões: a) regras: que são formulações verbais concretas, explícitas (como os 10 Mandamentos, por exemplo); b) princípios: que representam o espírito das regras (amai-vos uns aos outros, por exemplo); c) valores: que dão respostas aos deveres e aos sentidos da vida, permitindo entender de onde são derivados os princípios das regras a serem seguidas. Piaget argumenta que o desenvolvimento da moral abrange 3 fases: (a) anomia (crianças até 5 anos), em que a moral não se coloca, ou seja, as regras são seguidas, porém o indivíduo ainda não está mobilizado pelas relações bem x mal e sim pelo sentido de hábito, de dever; 1 4 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R (b) heteronomia (crianças até 9, 10 anos de idade), em que a moral é ditada pela autoridade (pais, professores, etc.). Ou seja, as regras não correspondem a um acordo mútuo firmado entre os jogadores, mas sim como algo imposto pela tradição e, portanto, imutável. A criança segue esse modelo pelo receio da punição; (c) autonomia, corresponde ao último estágio do desenvolvimento da moral, em que há a legitimação das regras e a criança pensa a moral pela reciprocidade, quer seja o respeito a regras é entendido como decorrente de acordos mútuos entre os jogadores, sendo que cada um deles consegue conceber a si próprio como possível 'legislador' em regime de cooperação entre todos os membros do grupo. Obviamente que existem críticas à teoria de Piaget, especialmente metodológicas, como: a ênfase de preocupação metodológica nas pesquisas; a complexidade das tarefas empregadas em suas pesquisas; a natureza subjetiva das entrevistas clínicas; a dificuldade em explicar mudanças qualitativas e as influências culturais (prevalecendo a cultura de Piaget, claro); a dificuldade em considerar o nível social e educacional no desempenho de suas tarefas; e, por fim a afirmação de que o pensamento formal é universal (sabemos hoje em dia que não é). Uma crítica que é feita (de modo ingênuo, em minha opinião) à teoria de Piaget é a sua ausência de caráter social no desenvolvimento humano. Porém, destaco que Piaget concebe o homem como um ser essencialmente social e não poderia ser pensado fora do contexto da sociedade, o homem jamais existiria fora da sociedade. Sua teoria é importante por considerar que sujeitos dependem de suas fases de desenvolvimento (prontidão para a aprendizagem) e necessitam de contato direto com os objetos (aprendizagem por objetos) para aprenderem algo. Sem sociedade não existe sujeito. Por fim, temos o conceito de realismo moral. O realismo moral é um nome dado por Piaget à atitude observada nas crianças pequenas de que o bem e o mal são inerentes em certas condutas e são objetivamente perceptíveis ou evidentes em si mesmos. A criança acredita que se pode perceber a maldade (não julgá-la ou deduzi-la) quando alguém tira uma coisa que não lhe pertence, e Piaget afirma que a maior ou menor percepção objetiva da maldade está também relacionada com a maior ou menor rapidez com que o ato é praticado. Esse conceito pode ser estudado à luz da heteronomia e autonomia. Na heteronomia, o realismo moral é exercido apenas pelo respeito à autoridade. Não há consciência, nem reflexão, apenas obediência. O certo é o cumprimento da regra e qualquer interpretação diferente desta não corresponde a uma atitude correta. Um homem pobre que roubou um 15 remédio da farmácia para salvar a vida de sua esposa está tão errado quanto um outro que assassinou a esposa, seguindo o raciocínio heteronômico. A responsabilidade pelos atos é avaliada de acordo com as consequências objetivas das ações e não pelas intenções. O indivíduo obedece às normas por medo da punição. Na ausência da autoridade ocorre a desordem, a indisciplina. Na autonomia, o realismo moral ocorre pela legitimação das regras. Aqui o indivíduo adquire a consciência moral, possui princípios éticos e morais. Na moralidade autónoma, o indivíduo adquire a consciência moral. Os deveres são cumpridos com consciência de sua necessidadee significação. Possui princípios éticos e morais. Na ausência da autoridade continua o mesmo. É responsável, auto-disciplinado e justo. A responsabilidade pelos atos é proporcional à intenção e não apenas pelas conseqüências do ato. O respeito a regras é gerado por meio de acordos mútuos. Essa é a última fase do desenvolvimento da moral Wallon Se colocássemos Piaget em uma mesa de Bar para conversar com Vigotsky, seria Wallon que faria o papel do “deixa disso” para os dois. Apesar de apresentar conceitos próprios, sua teoria é, em muitos sentidos, um meio termo entre os dois primeiros autores. Wallon, reconhece que o fator orgânico é a primeira condição para o desenvolvimento do pensamento; ressalta, porém, a importância das influências do meio. O homem, para Wallon, seria o resultado de influências sociais e fisiológicas, de modo que o estudo do psiquismo não pode desconsiderar nem um nem outro aspecto do desenvolvimento humano. As potencialidades psicológicas dependem especialmente do contexto sociocultural. O desenvolvimento do sistema nervoso, então, não seria suficiente para o pleno desenvolvimento das habilidades cognitivas. O autor estudou a criança contextualizada, como uma realidade viva e total no conjunto de seus comportamentos, suas condições de existência. A construção do eu na teoria de Wallon depende essencialmente do outro. Seja para ser referência, seja para ser negado. Curiosamente, para Wallon, o desenvolvimento pressupõe “opor-se ao mundo”. Ele chega a essa conclusão ao postular que o desenvolvimento é um processo pelo qual o indivíduo emerge de um estado de completa 1 6 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R imersão social em que não distingue-se do meio para um estado em que pode distinguir seus próprios motivos dos motivos oriundos do ambiente. Mas, qual a ideia central desse autor? Fácil: a afetividade. A criança é essencialmente emocional e gradualmente vai constituindo-se em um ser sócio-cognitivo. Para Wallon, a afetividade, dentro deste contexto, tem papel imprescindível no processo de desenvolvimento da personalidade e este, por sua vez, se constitui sob a alternância dos domínios funcionais. A afetividade é o termo utilizado para referir-se a um domínio funcional abrangente que pode ser identificada através de diferentes manifestações, como as manifestações orgânicas (são as primeiras a surgirem no desenvolvimento humano) e as emoções, os sentimentos e as paixões. O desenvolvimento adequado da afetividade depende da interação de dois fatores: o orgânico e o social. Para Wallon, entre esses dois fatores existe uma relação estreita onde a condição precária em um pode ser compensada pela outra área. Sobre esse posicionamento de interpelação, por exemplo, podemos confirmar que a perspectiva de que a constituição biológica da criança ao nascer não selará seu destino. Dica de Concurso: Segundo Wallon: Emoções: fenômenos psico-fisiológicos oriundos do sistema nervoso central caracterizados pela reação postural de exteriorização da afetividade. Afetividade: conjunto de processos psíquicos exteriorizados através das emoções. Em outras palavras, enquanto emoções seriam processos internos, a afetividade seria o estado psicológico que viabiliza a comunicação das emoções. Wallon nos ensina que a afetividade intervém nas estruturas cognitivas, sendo fonte de conhecimento e de operações cognitivas originais. A sua teoria das emoções mostra como elas são fonte e causa de progresso no desenvolvimento da pessoa. Toda a educação determina, de uma maneira ou de outra, o desenvolvimento da personalidade do aluno. Todavia, nem todo aprendizado dirige ativamente o desenvolvimento para fins específicos. O aprendizado que separa as palavras dos seus significados é um fracasso. O desenvolvimento ocorreria, por uma sucessão de estágios, à maneira da teoria de Piaget, mas através de um processo assistemático e contínuo, em que a criança oscila entre a afetividade e a inteligência. O desenvolvimento é movido por conflitos, dialeticamente, de maneira análoga à combinação de acomodação, assimilação e equilibração na 17 teoria piagetiana. Ao contrário de Piaget, Wallon acreditava que o processo não é tão bem delimitado, mas constante, podendo haver, inclusive, regressão (observe que as aquisições de um estágio são irreversíveis, mas o indivíduo pode retornar a atividades anteriores ao estágio). Ele deixa claro que é natural que, no desenvolvimento, ocorram rupturas, retrocessos e reviravoltas. Os conflitos, mesmo os que resultem em retorno a estágios anteriores, são fenômenos internos, dinâmicos e geradores de evolução. Wallon considera as emoções como a primeira ferramenta de interação com o meio que uma criança possuirá. Por exemplo, um bebê não tem condições de satisfazer suas necessidades sozinho, tampouco possui competência sobre a linguagem para comunicar do que precisa. Por isto, bebês choram: é a única maneira que a criança tem de comunicar que está necessitando de algo. Por outro lado, quando o bebê chora, espera-se que alguém vá ajudá-lo e satisfazer, talvez, sua necessidade. Wallon considera este o primeiro passo do estabelecimento gradual, pela criança, de relações entre seus atos e seu meio. Ainda sobre a afetividade, e adentrando na pedagogia em si, é interessante a seguinte referência: A afetividade que inicialmente é determinada basicamente pelo fator orgânico passa a ser fortemente influenciada pela ação do meio social. Tanto que Wallon defende uma evolução progressiva da afetividade, cujas manifestações vão se distanciando da base orgânica, tornando-se cada vez mais relacionadas ao social. Enquanto as primitivas manifestações de tonalidade afetiva são reações generalizadas, mal diferenciadas, as emoções, por sua vez, constituem-se em reações instantâneas e efêmeras que se diferenciam em alegria, tristeza, cólera e medo. Já o sentimento e a paixão são manifestações afetivas em que a representação torna-se reguladora ou estimuladora da atividade psíquica. Ambos são estados subjetivos mais duradouros e têm sua origem nas relações com o outro, mas ambos não se confundem entre si. A afetividade, com esse sentido abrangente, está sempre relacionada aos estados de bem-estar e mal-estar do indivíduo. Assim, podemos afirmar a existência de manifestações afetivas anteriores ao aparecimento das emoções. As primeiras expressões de sofrimento e de prazer que a criança experimenta com a fome ou a saciedade são, do nosso ponto de vista, manifestações com tonalidades afetivas primitivas. Estas manifestações, ainda em estágio primitivo, têm por fundamento o tônus, o qual mantém uma relação estreita com a afetividade durante o 1 8 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R processo de desenvolvimento humano, pois o tônus é a base de onde sucedem as reações afetivas. Quando os motivos que provocam os estados de bem-estar e mal- estar estão primordialmente ligados às sensibilidades interoceptivas, proprioceptivas e exteroceptivas, temos uma etapa em que a afetividade é de base orgânica – a chamada afetividade orgânica. Quando os motivos que provocam os estados de bem-estar e mal-estar já não são limitados às sensibilidades íntero, próprio e extero, mas já envolvem a chamada sensibilidade ao outro, a afetividade passa para um outro patamar, já que de base fortemente social – a chamada afetividade moral, na terminologia usada por Wallon em 1941. Assim, a afetividade evolui para uma ordem moral e seus motivos são originados das relações indivíduo-outrem, sejam relações pessoais ou sociais. ... A pedagogia walloniana defende uma educação que não exclui em nenhuma hipótese as crianças com dificuldades escolares ou com comportamentos inadequados. Para Wallon, as crianças com comportamentos inadequados (desatenção, agitação, indisciplina) não podem convivernum ambiente repressivo e coercitivo; elas precisam de um ambiente favorável às suas características, de modo a poder conviver com a coletividade. Lidar com esses comportamentos inadequados tem como grande saída o domínio da afetividade, pois eles, geralmente, são decorrentes de uma vida afetiva desequilibrada. Para reverter o sentido das reações inadequadas, por exemplo, a fanfarrice na escola, é preciso provocar atos louváveis, mostrando ao indivíduo do que ele é capaz. Essa possibilidade de reverter um sentimento negativo, despertando um positivo, está baseada no princípio walloniano de que todo sentimento contém o seu contrário, ou seja, é ambivalente. Fonte: Ana Rita Silva Almeida. A afetividade no desenvolvimento da criança - contribuições de Henri Wallon. Inter-Ação: Rev. Fac. Educ. UFG, 33 (2): 343-357, jul./dez. 2008 Apesar da ênfase na afetividade no desenvolvimento infantil, Wallon também trabalha o a importância do papel da escola. Ele defende que a escola seja oficialmente responsável pela personalidade infantil, devendo se interessar por tudo o que concerne à criança, seja do ponto de vista biopsicológico, seja das condições materiais e sociais de sua existência, para então poder promover um ambiente apropriado ao desabrochar de suas habilidades. Desse modo, este autor considera que o professor precisa ter conhecimento dos problemas sociais de sua época, assumindo uma postura ativa e consciente diante deles. Somente 19 conhecendo os valores morais de seu tempo e as relações sociais vigentes, poderá orientar seus alunos diante da realidade de seu país. Wallon afirma que os estágios se sucedem de maneira que momentos predominantemente afetivos sejam sucedidos por momentos predominantemente cognitivos. Usualmente, períodos predominantemente afetivos ocorrem em períodos focados na construção do eu, enquanto estágios com predominância cognitiva estão mais direcionados à construção do real e compreensão do mundo físico. Este ciclo não é encerrado, mas perdura pela vida toda, uma vez que a emoção sobrepõe-se à razão quando o indivíduo se depara com o desconhecido. Deste modo, afetividade e cognição não são estanques e se revezam na dominância dos estágios. As crianças nascem imersas em um mundo cultural e simbólico, no qual ficarão envolvidas em um "sincretismo subjetivo", por pelo menos três anos. Durante esse período, de completa indiferenciação entre a criança e o ambiente humano, sua compreensão das coisas dependerá dos outros, que darão às suas ações e movimentos formato e expressão. Antes do surgimento da linguagem falada, as crianças comunicam-se e constituem-se como sujeitos com significado, através da ação e interpretação do meio entre humanos, construindo suas próprias emoções, que é seu primeiro sistema de comunicação expressiva. Estes processos comunicativos-expressivos acontecem em trocas sociais como a imitação. Imitando, a criança desdobra, lentamente, a nova capacidade que está a construir (pela participação do outro ela se diferenciará dos outros) formando sua subjetividade. Pela imitação, a criança expressa seus desejos de participar e se diferenciar dos outros constituindo-se em sujeito próprio. Wallon propõe estágios de desenvolvimento, assim como Piaget, porém, ele não é adepto da ideia de que a criança cresce de maneira linear. O desenvolvimento humano tem momentos de crise, isto é, uma criança ou um adulto não são capazes de se desenvolver sem conflitos. A criança se desenvolve com seus conflitos internos e, para ele, cada estágio estabelece uma forma específica de interação com o outro, é um desenvolvimento conflituoso. No início do desenvolvimento existe uma preponderância do biológico e após o social adquire maior força. Assim como Vigotsky, Wallon acredita que o social é imprescindível. A cultura e a linguagem fornecem ao pensamento os elementos para evoluir, sofisticar. A parte cognitiva social é muito flexível, não existindo linearidade no desenvolvimento, sendo este descontínuo e, por isso, sofre crises, rupturas, conflitos, retrocessos, como um movimento que tende ao crescimento. 2 0 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R No primeiro ano de vida, a criança interage com o meio regida pela afetividade, isto é, o estágio impulsivo-emocional, definido pela simbiose afetiva da criança em seu meio social. A criança começa a negociar, com seu mundo sócio-afetivo, os significados próprios, via expressões tônicas. As emoções intermediam sua relação com o mundo. Do estágio sensório-motor ao projetivo (1 a 3 anos), predominam as atividades de investigação, exploração e conhecimento do mundo social e físico. No estágio sensório-motor, permanece a subordinação a um sincretismo subjetivo (a lógica da criança ainda não está presente). Neste estágio predominam as relações cognitivas da criança com o meio. Wallon identifica o sincretismo como sendo a principal característica do pensamento infantil. Os fenômenos típicos do pensamento sincrético são: fabulação, contradição, tautologia e elisão. Na gênese da representação, que emerge da imitação motora- gestual ou motricidade emocional, as ações da criança não mais precisarão ter origem na ação do outro, ela vai “desprender-se” do outro, podendo voltar-se para a imitação de cenas e acontecimentos, tornando- se habilitada à representação da realidade. Este salto qualitativo da passagem do ato imitativo concreto e a representação é chamado de simulacro. No simulacro, que é a imitação em ato, forma-se uma ponte entre formas concretas de significar e representar e níveis semióticos de representação. Essa é a forma pela qual a criança se desloca da inteligência prática ou das situações para a inteligência verbal ou representativa. Dos 3 aos 6 anos, no estágio personalístico, aparece a imitação inteligente, a qual constrói os significados diferenciados que a criança dá para a própria ação. Nessa fase, a criança está voltada novamente para si própria. Para isso, a criança coloca-se em oposição ao outro num mecanismo de diferenciar-se. A criança, mediada pela fala e pelo domínio do “meu/minha”, faz com que as ideias atinjam o sentimento de propriedade das coisas. A tarefa central é o processo de formação da personalidade. Aos 6 anos a criança passa ao estágio categorial trazendo avanços na inteligência. No estágio da adolescência, a criança volta-se a questões pessoais, morais, predominando a afetividade. É nesse estágio que se intensifica a realização das diferenciações necessárias à redução do sincretismo do pensamento. Esta redução do sincretismo e o estabelecimento da função categorial dependem do meio cultural no qual está inserida a criança. Erikson 21 Erikson foi um renomado psiquiatra responsável pelo desenvolvimento da Teoria do Desenvolvimento Psicossocial. Suas contribuições para o estudo da personalidade humana estão intimamente relacionadas com sua teoria de desenvolvimento em estágios. O desenvolvimento humano é determinado por interações sociais, mas sob uma rotina de estágios definida por questões inatas. Para este autor, existem influencias sociais, culturais e históricas sobre a personalidade. Existe o que chamamos de Princípio Epigenético (desenvolvimento depende de forças genéticas, mas o social e o ambiental influenciam). Assim, a personalidade é um conceito de índole dinâmica entre fatores considerados biológicos (como o temperamento e o caráter) e contextos sociais. Um ponto importante, e curioso, é que sua teoria é considerada psicodinâmica. O Ego é entendido como um ente independente da personalidade e, esta última, se desenvolve pela busca da identidade do ego positiva. Esse autor apresenta como princípio epigenético a perspectiva de que cada estágio contribui para a formação total da personalidade. Esses estágios não possuem um tempo exato, porém possuem uma sequencia linear constante em todos os humanos.O núcleo de cada estágio é uma crise básica, que existe não só durante aquele estágio específico, nesse será mais proeminente, mas também nos posteriores. Para Erikson, existem duas maneiras de lidar com as crises: a) Modo adaptativo - desfecho positivo da crise onde o sujeito está preparado para seguir para a próxima fase. b) Modo inadaptativo - inadequado. Essas crises anteriores mal resolvidas são as raízes dos problemas neuróticos. Todos os aspectos da personalidade podem ser explicados em termos de dessas crises (ou momentos críticos). É importante entender que as crises se constituem por confrontos com o ambiente, envolvendo uma mudança de perspectiva, ou seja, exigindo a reconcentração da energia instintiva de acordo com as necessidades de cada estágio do ciclo vital, quando o nosso ambiente requer determinadas adaptações. É com a resolução dos conflitos próprios de cada fase que se torna possível a progressão normal do desenvolvimento. Apesar de Erikson ser considerado um psicanalista, não é difícil encontrar diferenças entre as suas concepções e as concepções freudianas. Freud e Anna Freud, por exemplo, conceberam um conceito de ego defensivo (escravo do ID) enquanto Erikson concebeu um ego que se desenvolve em direção ao mundo social e que busca ativamente por adaptação. Esse ego possui quatro aspectos da realidade ao qual a 2 2 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R identidade deveria de estar ligada: a factualidade, um senso de realidade ou universalidade, a realidade e a sorte ou acaso. Erikson atribuiu ao ego valores tais como confiança, esperança, autonomia, vontade, habilidade, competência, identidade, fidelidade, intimidade, amor, produtividade, consideração e integridade. Esses conceitos são incoerentes com a teoria psicanalítica de Freud, que identificava o ego como um servidor submisso de três senhores ao mesmo tempo: ao id, ao superego e ao mundo exterior. Para Erikson, o homem tem a capacidade para atingir forças básicas, solucionar cada conflito de maneira positiva e dirigir conscientemente seu crescimento, apresentando assim uma imagem otimista da natureza humana. O que diferença básica é que Freud descreveu apenas os primeiros anos de vida dos humanos, enquanto Erikson dedicou-se a toda a ontologia do ser. Ele gerou uma concepção mais englobante do desenvolvimento, essencialmente porque, o desenvolvimento engloba todo o ciclo de vida. Além disso, para Erikson, o meio social, os grupos e os aprendizados tem papel preponderante sobre a sexualidade na determinação da personalidade humana. Erikson dividiu o desenvolvimento da personalidade em oito estágios psicossociais, sendo os quatro primeiros semelhantes às fases oral, anal, fálica e de latência propostas por Freud. As outras fases são inovações. Estágios e modos psicossociais Idades aproximadas I – Período de bebê Nascimento - 18 meses II – Infância Inicial 18 meses - 3 anos III – Idade de brincar 3 - 5 anos IV – Idade Escolar (Latência) 6 - 11 anos até puberdade V – Adolescência 12 - 18 anos VI - Idade jovem adulta 18 - 35 anos VII – Adulto 35 - 55 anos VIII - Maturidade e velhice 55 + anos Porém, suas fases são mais conhecidas pelas formas positivas e negativas de agir em cada etapa que pelo nome atribuído por Erikson: 23 Estágios e modos psicossociais Formas Positivas x Formas negativas de reagir (Estágios para Erikson) I – Período de bebê Confiança versus desconfiança II – Infância Inicial Autonomia versus dúvida, vergonha III – Idade de brincar Iniciativa versus culpa IV – Idade Escolar (Latência) Diligência versus inferioridade V – Adolescência Coesão da identidade versus confusão de papéis VI - Idade jovem adulta Intimidade versus isolamento VII – Adulto Generatividade versus estagnação VIII - Maturidade e velhice Integridade versus desespero Veja uma comparação entre as fases freudianas e as de Erikson: IDADE Fases ERIKSON (psicossocial) FREUD (psicossexual) 0 à 18 meses Confiança vs. Desconfiança. Oral 18 meses aos 3 anos Autonomia vs. Vergonha Anal 3 aos 6 anos Iniciativa vs. Culpa Fálica 6 anos até à puberdade Diligência vs. Inferioridade Latência 12 à 18 Identidade vs confusões de papéis Genital 18 à 30 Intimidade vs isolamento Genital 30 à 60 Generatividade vs auto- absorção Genital Para Erikson, a formação da personalidade (identidade) inicia-se nos primeiros quatro estágios, no quinto é negociada e nos outros é expressa 2 4 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R com maior consistência. Vamos nos dedicar ao estudo pormenorizado de cada uma das fases de desenvolvimento descritas por Erikson. 1ª Idade: Confiança Básica Versus Desconfiança Básica Aspecto Positivo: Relação bebê-mãe. Bebê aceita que mãe pode ausentar-se e na certeza que ela voltará. Aspecto Negativo: desconfiança básica Nessa fase a criança adquire ou não uma segurança e confiança em relação a si próprio e em relação ao mundo que a rodeia, através da relação que tem com a mãe. Se a mãe não lhe der amor e não responde às suas necessidades, a criança pode desenvolver medos, receios, sentimentos de desconfiança que poderão vir a refletir-se nas relações futuras. Se a relação é de segurança, a criança recebe amor e as suas necessidades são satisfeitas, a criança vai ter melhor capacidade de adaptação às situações futuras, às pessoas e aos papéis socialmente requeridos, ganhando assim confiança. 2ª Idade: Autonomia Versus Vergonha e Dúvida Aspecto Positivo: Autonomia Aspecto Negativo: Dúvida Essa fase é caracterizada por uma contradição entre a vontade própria (os impulsos) e as normas e regras sociais que a criança tem que começar a integrar. A criança aprende na sua interação com a realidade que existem privilégios, obrigações e limitações. Há, por parte da criança, uma necessidade de autocontrole e de aceitação do controle por parte das outras pessoas, desenvolvendo-se um senso de autonomia. O versus negativo deste estágio é a vergonha e a dúvida quando perde o senso de autocontrole, os pais contribuem neste processo ao usarem a vergonha na repressão da teimosia. A atitude dos pais aqui é importante, eles devem dosear de forma equilibrada a assistência às crianças, o que vai contribuir para elas terem força de vontade de fazer melhor. 3ª Idade: Iniciativa Versus Culpa Aspecto Positivo: Iniciativa Aspecto Negativo: Culpa Esta terceira idade, também apelidada por idade de brincar, é assinalada pela ritualização dramática e marca a possibilidade de tomar iniciativas sem que se adquire o sentimento de culpa: a criança 25 experimenta diferentes papéis nas brincadeiras em grupo, imita os adultos, têm consciência de ser “outro” que não “os outros”, de individualidade. Deve-se estimular a criança no sentido de que pode ser aquilo que imagina ser, sem sentir culpa. Nesta fase a criança encontra-se nitidamente mais avançada e mais organizada tanto a nível físico como mental. É a capacidade de planejar as suas tarefas e metas a atingir que a define como autônoma e por consequência a introduz nesta etapa. No entanto este estágio define-se também como perigoso, pois a criança busca exaustivamente e de uma forma entusiasta atingir as suas metas que implicam fantasias genitais e o uso de meios agressivos a manipulativos para alcançar a essas metas. 4ª Idade: Diligência Versus Inferioridade Aspecto Positivo: Diligência Aspecto Negativo: Inferioridade Nesta fase ela sente-se pronta para conhecer e utilizar os instrumentos e máquinas e métodos para desempenhar o trabalho adulto, trabalho esse que implica responsabilidades como ir à escola, fazer as tarefas de casa, aprender habilidades, de modo a evitar sentimentos de inferioridade. Nesta fase a criança necessita controlar a sua imaginação exuberante e dedicar a sua atenção à educação formal. Ela não só desenvolveum senso de aplicação como aprende as recompensas da perseverança e da diligência. O prazer de brincar, o interesse pelos seus brinquedos são gradualmente desviados para interesses por algo mais produtivo utilizando outro tipo de instrumentos para os seus trabalhos que não são os seus brinquedos. Também neste estágio existe um perigo eminente que se caracteriza pelo sentimento de inferioridade aquando da sua incapacidade de dominância das tarefas que lhe são propostas pelos pais ou professor. Ao longo deste estágio da diligência desponta a virtude de competência, isto porque os estágios anteriores proporcionaram uma visão, embora que não muito nítida, mas futura em relação a algumas tarefas. Para Erikson, um dos principais fatores determinantes da autoestima é a visão das crianças acerca das suas capacidades para o trabalho produtivo. 5ª Idade: Identidade Versus Confusão/Difusão Aspecto Positivo: Identidade Aspecto Negativo: Confusão de Identidade Neste estágio os indivíduos percebem novas potencialidades cognitivas, exploram e ensaiam estatutos e papéis sociais, devido à 2 6 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R sociedade fornecer este espaço de experimentação ao adolescente. Aqui ocorre a moratória psicossocial. Essa moratória, conceito fundamental dessa fase, reflete um período de pausa necessária a muitos jovens, de procura de alternativas e de experimentação de papéis, que vai permitir um trabalho de significação interna. Assim, essa é uma fase onde ocorrem experiências para testar padrões. Sendo assim o adolescente antecipa o seu futuro, explora alternativas, experimenta, dá um tempo. As necessidades pessoais, as exigências socioculturais e institucionais caracterizam a moratória. A chave para a resolução da crise de identidade que pode fazer com que o adolescente se sinta isolado, vazio, ansioso e indeciso, reside assim, na interação com pessoas significativas, que são escolhidas e são parte integrante da construção da sua identidade adulta. Os outros têm um importante papel na definição da identidade: o jovem vê refletido no seu grupo de amigos parte da sua identidade e preocupa-se muito com a opinião dos mesmos. Por vezes, procura amigos com “maneiras de estar” divergentes daquela em que cresceu, de forma a poder pôr em causa os valores dos pais, testando possibilidades para construir a sua própria “maneira”. O grupo permite um jogo de identificações e a partilha de segredos e experiências essenciais para o desenvolvimento da personalidade. Segundo Erikson, o adolescente que adquire a sua identidade é aquele que se torna fiel a uma coerente interação com a sociedade, a uma ideologia ou profissão, que é também uma tarefa deste estágio. A fidelidade permite ao indivíduo a devoção a uma causa – compromisso com certos valores. Também permite confiar em si próprio e nas outras pessoas, como tal, a interação social é fundamental. A formação de identidade envolve a criação de um sentido de unicidade: a unidade da personalidade é sentida por si e reconhecida pelos outros, como tendo uma certa consistência ao longo do tempo. Ressalta-se, ainda, que um grande número de adolescentes tem uma evolução incompleta por terem entrado excessivamente rápido na vida adulta, sem um amadurecimento interior, que só poderia ter sido facultado por uma boa vivência neste estágio e nos seus diferentes aspectos. 6ª Idade: Intimidade Versus Isolamento Aspecto Positivo: Intimidade Aspecto Negativo: Isolamento Questão Chave: Devo buscar alguém para viver? Essa idade ocorre dos 18/20 aos 30, e na qual o jovem almeja estabelecer relações de intimidade com os outros e adquirir a capacidade necessária para o amor íntimo. Para Erikson, nesse estágio o indivíduo pode desfrutar de uma genitalidade sexual verdadeira, mutuamente com 27 o alvo do seu amor. É então a idade de jovem adulto que, com uma identidade assumida, possibilita o estabelecer de relações de intimidade com os outros, em que o amor é a virtude dominante do universo. A força do ego depende do parceiro com que está preparado para compartilhar situações tão peculiares como a criação de um filho, a título exemplificativo. Os indivíduos encaram a tarefa desenvolvimental de construir relações com os outros numa comunicação profunda expressa no amor e nas relações de amizade. A vertente negativa traduz-se no isolamento de quem não consegue partilhar afetos com intimidade nas relações privilegiadas. O perigo do estágio da intimidade é o isolamento, a evitação dos relacionamentos, quando a pessoa não está disposta a comprometer-se com a intimidade. Ainda na ótica destes autores um senso temporário de isolamento é uma vantagem para a realização de escolhas, todavia, isso pode culminar em graves problemas de personalidade. 7ª Idade: Generatividade Versus Estagnação Aspecto Positivo: Generatividade Aspecto Negativo: Estagnação Questão Chave: Serei bem sucedido na minha vida afetiva e profissional? É uma idade caracterizada pela necessidade em orientar a geração seguinte, em investir na sociedade em que se está inserido. É uma fase de afirmação pessoal no mundo do trabalho e da família. A generatividade denota a possibilidade de se ser criativo e produtivo em diversas áreas da vida. Bem mais do que educar e criar os filhos representa uma preocupação com o contentamento das gerações seguintes, uma descentração e expansão do Ego empenhado em converter o mundo num lugar melhor para viver. A vertente negativa leva o indivíduo à estagnação nos compromissos sociais, à falta de relações exteriores, à preocupação exclusiva com o seu bem estar, posse de bens materiais e egoísmo. Usualmente dá-se desde os 30 aos 60 anos, não havendo porem uma idade comum a todas as pessoas. 8ª Idade: Integridade Versus Desespero Aspecto Positivo: Integridade Aspecto Negativo: Desespero Questão Chave: minha vida teve sentido ou falhei? Nessa fase, que costuma ocorrer após os 60 anos, o individuo atinge o ápice do seu desenvolvimento psicossocial e propicia uma 2 8 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R compreensão e o julgamento do passado vivido. É uma fase de análise retrospectiva do que foi feito, avalia-se sucessos e fracassos. Quando se conclui que a vida possuiu um balanço positivo, (integridade), o indivíduo está pronto para aceitar a sua idade e suas consequências. Quando o indivíduo julga que a sua vida foi mal sucedida (desespero), sentem que é demasiado tarde para se reconciliarem consigo mesmo e corrigir os erros anteriores. Lembro a você que somente quando resolvemos o conflito da fase em que estamos é que temos forças para passar para outro estágio. Mesmo assim, se não resolvermos adequadamente na etapa certa, podemos resolver, segundo Erikson, em uma etapa ulterior (posterior). Há esperança para Erikson, pois pode-se buscar a força básica ou virtude, resolver de forma positiva a crise e fazer tudo de forma consciente - diferentemente do que Freud acreditava. Além disso, os que alcançam um forte sentido de identidade conseguem enfrentar problemas da vida adulta, já os que não conseguem passam a ter crise de identidade. Resumidamente podemos alinhar as fases eriksonianas às forças básicas e patologias centrais desse modo: Formas Positivas x Formas negativas de reagir (Estágios para Erikson) Forças Básicas Patologia central Confiança versus desconfiança Esperança Retraimento Autonomia versus dúvida, vergonha Vontade Compulsão Iniciativa versus culpa Objetivo Inibição Diligência versus inferioridade Competência Inércia Coesão da identidade versus confusão de papéis Fidelidade Repúdio Intimidade versus isolamento Amor Exclusividade Generatividade versus estagnação Cuidado Rejeição Integridade versus desespero Sabedoria Desdém 29 Violência na infância, na adolescência e na família. Êta tema difícilde trabalhar. Mas, vamos com fé. Vou abordar esse tema e fazer o paralelo com a violência sexual, quando possível. Faço isso pelo motivo mais básico, é um assunto bom para a banca! Do ponto de vista técnico, a violência pode estar presente em todo tipo de relação social humana. Interessa-nos adentrar no modo psicológico como essa violência produzida e quais as suas nuances. Não abordaremos, portanto, as perspectivas sociológicas ou até antropológicas que também buscam explicar esse fenômeno. Caso você tenha interesse nas ricas perspectivas sociológicas, sugiro que navegue por esses mares depois que passar nesse concurso. Recomendação: Mapa da Violência em Crianças e Adolescentes (2012) http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2012/MapaViolencia2012_ Criancas_e_Adolescentes.pdf Antes de falarmos em processos psicológicos de vitimização, devemos elucidar a violência em si e os seus tipos. Nesta seara, temos três dimensões: a) Violência Física b) Violência Psicológica c) Violência Sexual. 3 0 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R De acordo com Brasil (2002) A violência física pode ser definida como atos violentos, uso de força física de forma intencional, não acidental, praticada por pais, responsáveis, familiares ou pessoas próximas da criança ou do adolescente, com o objetivo de ferir, lesar ou destruir a vítima, deixando ou não marcas evidentes em seu corpo. Nesse aspecto, a violência contra a criança e o adolescente só pode ser considerada quando esta tiver propósito lesivo para a vítima. São descartados aqueles casos ocasionados por algum tipo de acidente, ou ainda com a intenção e punição educativa. Ainda de acordo com Brasil (2002) A violência sexual se define: Em todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual cujo agressor está em estágio mais adiantado que a criança ou o adolescente. Tem por intenção estimulá-la sexualmente ou utilizá-la para obter satisfação sexual. Apresenta sob a forma de práticas eróticas e sexuais impostas à criança ou ao adolescente pela violência física, ameaças ou indução de sua vontade. [...] Engloba ainda a situação de exploração sexual visando lucros como é o caso da prostituição e da pornografia. Nos casos de violência sexual, nem sempre a vítima apresenta sinais corporais visíveis. No entanto, esse tipo de violência só será notado quando houver penetração ou algo que subentenda o uso de força física, necessitando um maior auxílio do poder judiciário para obter provas concretas da ocorrência do abuso. A violência psicológica constitui toda forma de rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, cobranças exageradas, punições humilhantes e utilização da criança e do adolescente para atender às necessidades psíquicas dos adultos. (Brasil, 2002). 31 É certo que, essas formas de maus-tratos causam danos ao desenvolvimento biopsicossocial da criança e do adolescente, afeta a sua estrutura emocional, cognitiva e pessoal de encarar a vida. Esse tipo de violência é por sua vez, um dos mais difíceis de serem identificados, pela falta de materialidade e evidências que comprovem o fato. Existe uma ilusão de que a sociedade realmente sabe como lidar com situações de violência, devido ao intenso debate na imprensa, em livros, mas a verdade é que se instalou uma perda do estranhamento diante das agressões vividas ou presenciadas no dia a dia, e reside exatamente aí o perigo. Enquanto a violência, seja a psicológica, física ou sexual, neste caso, contra crianças e adolescentes, não chamar atenção das pessoas, não lhes causar indignação suficiente para que denunciem os agressores, dificilmente será um problema que poderá ser avaliado com bases em números reais de ocorrências, dificultando, assim, sua resolução. Ainda existe uma incerteza nas consequências precisas e causas universais da violência contra crianças e adolescentes. Cada caso tem suas peculiaridades e as definições de agressão variam entre pesquisadores da área. Fato certo, é que a mudança de mentalidade com relação a proteção que deveria sempre ser esperada do ambiente familiar, ajudou a criar um alerta não só entre a população mas, também, entre os profissionais e pesquisadores que tratam dessas crianças e adolescentes que passam pelos diversos tipos de violência. Esta postura do familiar como agressor da criança e do adolescente foi bem elucidada por Bock: A família, como lugar de proteção e cuidado, é, em muitos casos, um mito. Muitas crianças e adolescentes sofrem ali suas primeiras experiências de violência: a negligência, os maus-tratos, a violência psicológica, a agressão física, o abuso sexual. Fonte: Bock, 2002. 3 2 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R Considerar que as agressões sofridas podem ter como causadores os próprios pais, por exemplo, foi um fator que ajudou a traçar o perfil destes agressores e da própria vítima, de forma a contribuir com um método mais eficiente para diagnosticar a violência e assim, poder combatê-la e até preveni-la através da investigação mais específica de suas causas. Vale observar o que conclui Gonçalves: Quando a comunidade científica reconheceu que certos ferimentos infligidos aos corpos das crianças tinham como origem a agressão paterna ou materna, rompeu-se o grande ciclo da civilização que fez da família o centro e o núcleo da proteção à criança. Fonte: Gonçalves, 1999. A imprecisão nas conclusões acerca dos efeitos da violência, apesar dessas pesquisas, ainda persiste. Por uma questão, inclusive, cultural, o que pode ser considerado violência contra crianças em determinada comunidade, resultando em sérias consequências psicológicas à criança, em outras comunidades pode não passar de um ritual que não provocará danos graves e passará despercebido como algo comum. Neste ponto, é importante que se faça uma definição do que pode ser violência e o que vem a ser a vítima, de acordo com a realidade vivida e não somente pautando-se no senso comum. A violência pode obter uma definição generalizada, como é possível perceber, segundo Velho (1996): “é o uso agressivo da força física de indivíduos ou grupos contra outros.” Afirmando mais adiante que: “violência não se limita ao uso da força física, mas a possibilidade ou ameaça de usá-la constitui dimensão fundamental de sua natureza.” 33 Independente do contexto, a violência não é só uma qualidade de relação interpessoal, mas um complexo sistema de agressor/vítima e de objetos que sustentam ou tentam resolver essa violência. Estou falando dos aparatos tecnológicos, jurídicos e sociais para lidar com a violência. Emerge mais recentemente, por exemplo, o cyberbulling, surgem leis de proteção a grupos sociais específicos, a sociedade passa a considerar crimes condutas discriminatórias acerca da orientação sexual, etc. Por outro lado, quando falamos de violência como fenômeno da sociedade, não há como dissocia-la da delinquência. Além disso, todo crime é, em si, um ato de violência contra a humanidade. No linguajar comum, violência é sinônimo de agressão. Porém, para nós psicólogos, a violência é mais que a agressão. Enquanto o comportamento agressivo é um comportamento adaptativo humano e necessário como habilidade no trato social, a violência é um exagero da agressividade, a ponto de transgredir as regras sociais e morais de um grupo de pessoas. É um atentado que pode ser físico e psicológico. Atenção: a violência é exagerada agressão física e ou psicológica que ultrapassa o aceitável socialmente. No caso específico da violência doméstica contra a criança e o adolescente, Minayo (2002) afirma que pode ser considerada como uma das formas de manifestação de violência, caracterizada como aquela que é exercida na esfera privada. A autora associa ainda a violência sofrida por criançase adolescentes com suas condições de vida e com a atuação de jovens transgressores. Apesar do conceito exposto pela autora, outros estudiosos defendem a consideração, também, de determinantes diversos, além dos sociais, visto que a violência doméstica não é exclusividade das classes menos favorecidas. 3 4 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R No Brasil, somente ao final dos anos 80 foi dado devido destaque para os casos de violência contra a criança e o adolescente, e na Constituição Federal de 1988 temos um exemplo disso: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) Um dos critérios para caracterizar um ato como violento, no Brasil, é a intencionalidade, ou seja, o propósito em realmente ocasionar a violência contra alguém. Porém, algumas polêmicas diante destas definições são inevitáveis. A grande questão seria a que ponto um tapa, que em algumas comunidades não é considerado algo muito grave, por exemplo, poderá ser considerado um ato de violência. Existem propostas para se mensurar o nível de cada tipo de agressão, a exemplo do que é exposto por Emery e Laumann-Billings (1998) que afirmam existir a violência em família leve, ou moderada classificada como “maus-tratos em família” e a violência do tipo grave denominada “violência familiar”. Esta última seria a de consequências mais profundas para a criança e o adolescente, com traumas psicológicos, violação sexual e danos físicos. O desafio observado, não só na realidade brasileira, mas em boa parte dos países, é descobrir, de fato, os casos existentes de violência doméstica contra criança ou adolescente. Os pais e familiares muitas vezes deixam a situação de violência “escondida” dos olhos da sociedade, principalmente quando a agressão parte daqueles que deveriam proteger a prole, circunstância que implica constrangimento para a vítima e os demais familiares. Tal situação dificulta o trabalho de médicos, psicólogos, 35 juízes, assistentes sociais e tantos outros profissionais que vêm tentando ajudar as vítimas a superar estes acontecimentos também afastando e punindo seus agressores. Diante desta violência encoberta pela família, o método a ser utilizado para facilitar o diagnóstico dos casos de agressão contra crianças e adolescentes é baseado na busca por indícios, que são revelados através do depoimento dos pais e familiares em geral (observando-se se há grande diferença entre o que é relatado entre eles e a vítima) e do próprio comportamento da criança de forma isolada e na interação com os pais (se é distante ou não), além da investigação de lesões físicas repetitivas na vítima e até sua frequência escolar (se vem caindo e possui relação com alguma violência sofrida). As consequências da violência em família contra crianças e adolescentes podem ser das mais variadas, dependendo, inclusive do ambiente cultural no qual a família está inserida. Entretanto, de uma forma geral, segundo Gonçalves: A violência em família pode acarretar uma enorme gama de consequências para a criança, e esses efeitos variam do físico- ferimentos externos ou internos – ao psíquico- distúrbios mais ou menos graves que podem envolver agressividade, ansiedade ou depressão. Fonte: Gonçalves, 1999. Dentre as várias consequências psicológicas destacam-se o transtorno do estresse pós-traumático, altos índices de depressão, baixa autoestima, dificuldade de relacionamentos interpessoais com crianças e adultos, ansiedade, amadurecimento sexual precoce, fobias. O espaço entre a violência e os seus efeitos também pode variar, em muitos casos, demorando anos para aparecer, e acarretando, desta forma, uma dificuldade para os profissionais, em relacionar a agressão 3 6 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R com a consequência futura. Isto interfere diretamente nos dados estatísticos, pela razão de que nem sempre dados de mortes, por exemplo, são conectados com a intencionalidade de um ato violento praticado muito tempo antes do óbito. Diante desta observação geral sobre a violência familiar e seus efeitos, é importante frisar a possibilidade de minimizar as consequências deste ato danoso através de medidas simples: utilização da escola como um identificador de mudanças no comportamento e como orientadora para a conduta dos agressores (medida principal e estratégica); contar com o auxilio de profissionais especializados, como psicólogos e assistentes sociais no acompanhamento à vítima para seu retorno a uma vida normal; a intervenção dos profissionais do Direito na função de encaminhar um tratamento adequado à vítima e a devida punição ao agressor, garantindo que a violência não se repita. Também faz-se mister citar a importância da família no processo de recuperação da criança ou adolescente, devendo obter consciência diante dos fatos e apoiar a vítima, mesmo que se impossibilite a reintrodução do agressor no núcleo familiar, não transferindo sentimentos de culpa ao indivíduo que sofreu a violência e procurando reestabelecer uma convivência saudável com os demais membros da família. Aqui preciso fazer algumas considerações sobre a violência doméstica e suas consequências psicológicas. De acordo com Minayo (2002) a violência doméstica contra a criança e o adolescente pode ser considerada como uma das formas de manifestação de violência, caracterizada como aquela que é exercida na esfera privada. O fenômeno da violência doméstica contra a criança e o adolescente é universal, atinge todas as camadas na sociedade, desconstruindo para a vítima a representação social da família, que outrora era um lugar de acolhimento, atenção, cuidado e provimento de 37 suas necessidades. A vítima perde o direito de ser criança e sente-se desprotegida no seio do seu lar. O destaque dado à violência na família e, em particular, contra a criança e o adolescente, tem seu fundamento pelo fato de se constituir no embrião da violência social de maneira geral. Enfatizando: na unidade familiar encontra-se o laboratório sórdido das perversidades, (Fiorelli,2011). E quanto as notificações da violência? Sobre esse tema, é digno destacar. Apesar das determinações legais contidas no ECA, a subnotificação da violência é uma realidade no Brasil. Isso não surpreende, se considerarmos que o mesmo ocorre em países onde a legislação é mais antiga e os sistemas de atendimento mais aprimorados. Uma pesquisa realizada em trinta países em 1992 mostrou que apenas a metade das nações desenvolvidas e um terço dos países em desenvolvimento dispunham de registros centralizados; em países como Estados Unidos, França e Alemanha, a coleta de dados é fragmentada e com escassa comparabilidade (Daro, 1992, apud Huertas, 1997). A similaridade parece indicar a presença de dificuldades técnicas específicas do processo de notificar. Aqui também, apesar da obrigatoriedade e do reconhecimento do valor da notificação, os profissionais têm dificuldades em adotá-la como conduta padrão. Tais dificuldades podem ser resumidamente agrupadas da seguinte forma: A identificação da violência nos serviços de saúde é ainda carregada de muitas incertezas. A questão não tem sido tratada na maioria dos currículos de graduação (Almeida, 1998) logo, muitos profissionais não dispõem de informações básicas que permitam diagnosticá-la com um mínimo de acurácia. 3 8 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B
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