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7 Sujeito da práxis pedagógica

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Capitulo65 a a
Sujeitos da praxis pedagégica:
o educador e 0 educando
LUCKESI, Cipriano Carlos.
Sujeitos da praxis pedagogica.
In: LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educagao.
Sao Paulo: Editora Cortez, 1994. p. 109-120.
Nocapitulo anterior, formulamos a compreensao de que por habito
cultural, o entendimento que se tem do que é€ ser educador e do que é
ser educando nao ultrapassa a compreensao espontanea e estereotipada
do dia-a-dia. O “educador é educador” e 0 “educando é educando”... nada
mais que isso, diz oO senso comum. Sao sujeitos que parecem estar definidos
desde sempre. Se de fato assim fosse, nao haveria razao para tentar res-
significd-los. Seus respectivos conceitos ¢ significados j4 estariam dados,
social e historicamente. Neste caso, seria uma perda de tempo tentarrefletir
e€ compreender 0 que sao Os sujeitos da pratica educativa escolar.
Contudo, sabemos que 0 conceito de quem é o educador e de quem
é€ o educando nao é tao simples nem tao pacifico quanto pode parecer.
Ao nivel do senso comum,até pode parecer que esse conceito seja linear
e simples, porém ao nivel de uma compreensaocritica, ha que se discutir
quem sao esses sujeitos.
Neste capitulo, propriamente nos ocuparemos da tentativa de superar
o entendimento do senso comum sobre os sujeitos da praxis pedagégica
— educador e educando.
Vamos iniciar nossa reflexdo por uma discussio do ser humano —
quem é ele, como se constitui, quais s4o suas caracteristicas — e, poste-
riormente, abordaremos o educador e o educando como seres humanos
que interagem sistematicamente no processo educativo. A razao dessa se-
quéncia de tratamento deve-se ao fato de que, enquanto seres humanos,
eles participam da mesma natureza social e histérica, distinguindo-se pelo
lugar que Ocupam natrama das rclagdes sociais: como educador ou como
educando.
109
|. O ser humano
O ser humanoseconstitui numa trama de relagGes sociais, na medidaemque cle adquire 0 seu modo de ser, agindo no contexto das rclagdessocials nas quais vive, produz consomee sobrevive. Com isso estamos que-rendo dizer que o ser humano emerge no seu modo deser dentro iecaconjunto de relagGes sociais. Sao as agdes, as reagdes, os modos de agir(habituais ounao), as condutas normatizadas ou nao, as censuras as aevivéncias sadias Ou neurdticas, as relaces de trabalho. de consumo eteque constituem prdtica, social e historicamente o ser humano Numa di-mensao geral, o ser humano é 0 “conjunto das relacdes sociais” di alparticipa de formaativa.
oe
O ser humano € pratico, ativo, uma vez que € pela ac4o que modifica© melo ambiente que o cerca, tornando-o satisfat6rio as suas necessidades:e enquanto transformaa realidade, constréi a Si mesmo noseio derela Bessociais determinadas. Na sociedade moderna, o ser humano é um ser tacquei no contexto da trama das relacdes sociais desta socicdade, que,ndoes: instancia, Caracteriza-se pela posse ou nao de meios sociais de
Conseqiientemente, 0 ser humano
é
social, na medida em que vive esobrevive socialmente. Vive articulado com o conjunto dos seres humanosdegeragdes passadas, presentes e futuras. Nao se dé isoladamente. A suapratica € dimensionada por suas relagGes com os outros. ;, Por ultimo, é um ser hist6rico, uma vez que suas cCaracteristicas nasao fixas €elernas, mas determinadas pelo tempo, que passa a ser co titutivo de si mesmo. O ser humanoda Idade Moderna nao é o eee :existiu no periodo medieval; o ser humano que conhecemos na Bahiadopresente certamente € diverso do ser humano da Bahia do século XIX Oser humano sofre as determinacdes do tempo hist6rico; seu corpo, sesentidos, sua personalidade caracterizam-se pela historicidade. gigEm sintese, O ser humano€ ativo,vive determinadas relacgdes sociaisde producao, num determinado momento do tempo. Como conseqiiéncidisso, cada ser humanoé propriamente o conjunto das relacé 6s bacvive, de formapratica, social e histérica. aciile ©eriePara compreender como o ser humanose constitui na dinamica dasrelagdes socials Como ser ativo, social € histérico, poderiamos seguir aobservages que Marx faz sobre o trabalho como o elemento ose i iconstitutivo do ser humano.O agir humanose faz de formasocial e hist6rica >produzindo nao sé o mundo dos be laiens materiais mas també Sprimodo de ser do ser humano.
5 teeale
110
Aesséncia do ser humanoé 0 trabalho,diria Marx; 0 trabalhorealizado
em condigées histéricas especificas e determinadas.
Porém,ao analisarmos 0 trabalho, no contexto das relagGes sociais,
verificamos que 0 trabalho que constitui o ser humano € que 0 constréi
€ 0 trabalho contextualizado dentro de sociedades determinadas.Isso sig-
nifica que o trabalho deve ser entendido concretamente. Ao constatarmos
que hoje temos um ser humanoalienado,vale dizer que o trabalho constr6i
e aliena o ser humano ao mesmo tempo. Esse € 0 ser humano concreto
que conhecemos. E, para compreendé-lo, necessitamos entendé-lo na sua
concreticidadehist6rica, onde o trabalho tanto © constréi como0 aliena.
Didaticamente — ¢ s6 didaticamente podemos fazer isso ~, vamos
abordar em separado 0 trabalho como construtor e comoalienadordo ser
humano. Veremos como trabalho, em primeiro lugar, é a fonte de cons-
truco e, em segundo,fonte de alienacao.
trabalho entendido como fator de construgao do ser humano,
porque é através dele que se faz e se constréi, O ser humanose torna
propriamente humano na medida em que,conjuntamente com outros seres
humanos,pela ado, modifica o mundoexterno conformesuas necessidades,
ao mesmotempo, constréi-se a si mesmo.
Através de sua atividade sobre os outros elementos da natureza, no
contexto de um conjuntode relagoes sociais, constr6i bens para satisfazer
suas necessidades. Ele é um feixe de necessidades e, para satisfazé-las, age
sobre o mundoexterior, transformando-o criativamente, fazendo-o pro-
priamente seu. E enquanto humaniza a natureza pelo seu trabalho, hu-
maniza-se a si mesmo.
Comoisso se da? A aco humana exercida, colctivamente, sobre a
natureza possibilita ao ser humano compreender ¢ descobrir 0 seu préprio
modode agir. A acio pritica sobre a realidade desperta e desenvolve 0
entendimento, a capacidade de compreensao ¢ a emergéncia de niveis de
abstracao cada vez mais complexos. O ser humano age sobre 0 meio am-
biente, natural social e, ao mesmo tempo ¢ subseqiientemente, reflete
sobre a sua agao, para entender o seu modo de agir; a seguir, volta & ago
instrumentalizado por um entendimento mais avangado ¢ assim sucessiva-
mente. Age, reflete, adquire um novo entendimento; com 0 novo enten-
dimento, volta A aco: agio esta que 0 obriga a nova reflexio € assim
sucessivamente. Por esse proceso, 0 ser humano avanga € se humaniza.
O seu entendimentoe sua acdotornam-se elementos cada vez mais com-
plexos e perfeitos, assim como o préprio ser humano torna-se mais comple-
xo ¢ perfeito. Deste modo trabalho & a fonte da humanizacao do ser
humano.
 
i
Engels chegou mesmo a escrever um texto que se intitula Sobre o
papel do trabalhona transformagao do macaco em homem.'
Segundo esse autor, o trabalho
“& a condi¢ao basica ¢ fundamental de toda a vida humana; em
tal grau que, até certo ponto, podemosafirmar que o trabalho criou 0
proprio homem”.
Foi trabalho (comoatividade criadora) que possibilitou ao ser hu-
mano o dominio sobre a natureza, conduzindo-o a independéncia € a0 uso
das mos, vivéncia gregaria e social, ao desenvolvimento ¢ uso da lin-
guagem, ao desenvolvimento dos sentidos ¢ do cércbro, assim como do
entendimento sobre a realidade. E Engels concluisua andlise sobre o papel
dotrabalho na constituicao do ser humano,diferenciando-o do animal. E
ele di
 
“Resumindo: s6 0 que podem fazer os animais € utilizar a natureza
€ modificé-la pelo mero fato de sua presenga nela. © homem, a0 con-
twirio, modifica a natureza ¢ a obriga a servir-lhe, domina-a.E. ai esté,
em Gltima andlise, a diferenca essencial entre 0 homem ¢ os demais
animais, diferenca que, mais uma vez, resulta do trabalho.”?
Ouseja, o ser humano se diferencia do animal na sua formade viver
de se utilizarda natureza, mas essa diferenca emergiu de sua propria
agio.
Porém,0 trabalho nao se di em abstrato; é da sua esséncia a sua
efetivacao na hist6ria € na sociedade. Esse elemento — 0 trabalho — que
constr6i 0 set humano nao é uma abstracio metafisica que existe etérea
¢ abstratamente. Nao! O trabalho também & constituido pela dinimica das.
relagdes sociais. Ele € um tipo de trabalho especifico, determinado social-
mente.
Porisso, historicamente, o ser humano& dimensionado tanto pela
complexidade, sagacidade, inteligéncia, entendimento, quanto pela aliena-
do, pelo afastamento desi proprio, pois queele é construido pelo trabalho
que ao mesmo tempo consir6ie aliena.
Nao podemos, a nao ser para um entendimento didatico, separar esses
dois elementos do trabalho, ao analisé-lo concretamente: 0 criativo ¢ 0
alienado. O trabalho, na nossa sociedade, possui, dentro desi, a contradigéo
de constituir 0 ser humano, 20 mesmotempo, criando-o alienando-o.
 
1 _ingets,F. “Sobre o pape! do trabalho na transformacio 60 macaco em homem”. In Mance Eng
Tedios Seecionados, Sto Paulo, Alfa-Omega. =2 Idem.
12
Essas so faces dimensionadoras dotrabalho, dentro da sociedade ca-
pitalista. Hoje, o trabalho produtivo nao existe a nao ser dessa forma. O
trabalho s6 poderdeixar de ser alienante numa sociedadeque,historica-
mente, nio esteja baseada na exploracdo de um ser humano por outro ser
humano,através da apropriagio do produto excedente do seu trabalho.
Isso s6 poderd dar-se na sociedade comunista...
‘Oser humano, que conhecemos, é dimensionado pelas relagées sociais.
capitalistas. Nao € um ser humano abstrato, nem seu trabalho é uma
entidade metafisica.
© ser humano se construiu dentro desta sociedade concreta €, por
isso, sofre as suas interferéncias. A personalidade humanaé contraditéria
como contraditéria é a sociedade. Possui a dimensfo ativa, criadora, re-
novadora, assim como a dimensio estatica ¢ reprodutora. O ser humano
nao é 0 queele diz de si mesmo, mas. aquilo que as condigdes objetivas
da histéria possiblitam que cle seja. Nossas priticas, nossos atos, nossos
entendimentos, nossas emogdes, nossas relagdes possuem as caracteristicas
desta sociedade, com tudo o que cla tem de mais desenvolvido. Ou seja,
a personalidade humana hist6rica, possui lugar e tempo.
A alienacdo surge,inicialmente, pela alienago do produto do proprio
trabalho, da propria ago. Na sociedade capitalista, a produgio que nio
é consumida denomina-se “excedente”. Esse excedente (produzido social-
mente pelo conjunto dos trabalhadores) € apropriado apenas por uma par-
cela da sociedade; por aqueles que detém os meios de produgao.Portanto,
parte da forga de trabalho dos trabalhadores, que se transforma em produto,
nao Ihes pertence. Esse excedente € posto a venda, como mercadoria,
pelos donos do capital, fugindo assim ao controle do produtor. Os produ-
tores perdem o poder de decisao sobre o fruto do seutrabalho, sao alienados
do controle sobre “o que”, “o como”, o “para qué”, 0 “para quem” pro-
duzem. Véem, portanto, alienada uma parte de si mesmos. Essa € a situagao
material efetiva.
Porém, a sociedadecapitalista torna essa alienacao mais perversa ain-
da, através da compra do trabalho assalariado. O trabalhador produz 0
necessirio para a sua sobrevivéncia € 0 excedente para que 0 capitalista
acumule mais riqueza. O trabalhador € obrigado a alienar 0 produto ma-
terial do seu trabalho e junto com ele sua consciéncia. Deste modo a
sociedade capitalista, através do trabalho, consegue a alienacio nio s6
material mas também espiritual do trabalhador.
Mas é nesta situagio quese dé a contradigao que abre a possibilidade
para a mudanga. Ou seja, o trabalho que aliena contém dentro desi a
 
13
criatividade e a possibilidade da autoconstrugao do ser humano.Assim, 0
trabalho, nesta sociedade, tanto constréi quanto aliena o ser humano?.
Ao considerar 6 ser humano, nesta perspectiva, importa ter presente
que ele é um serde relagbes ¢, portanto, a comunicacaoé uma necessidade
€ um fator constitutive. Pela comunicagio, através dos seus variados me-
diadores, os seres humanos comunicam-se ¢ transmitem a sua experiéncia.
Porisso, nem todas as aprendizagens, que ao longo do tempo configuram
cada ser humanoindividual, necessariamente ocorrerao exclusivamente
através do trabalho produtivo(= trabalho que produz lucro); elas ocorrerdo
sempre de uma forma ativa, que podeser mediada pela comunicacéo —
pela transmissaoe pela assimilacio ativa da experiéncia.
 
Esses elementos atingem todos os seres humanos, incluindo, é claro,
© educador e 0 educando,sujeitos do proceso de ensino ¢ aprendizagem.
Podemos concluir, sinteticamente, que 0 ser humano manifesta-se
(1) ativo (ele trabalha © modifica o meio ambiente para atender a suas
necessidades); (2) construido porsua atividade (enquantoage, se autocons-
tuoi); (3) dentro de relagdes sociais determinadas (condicionantes que
atuam sobre ele); ¢ (4) como construtorda propria sociedade(utilizando-se
das contradicgGes desta).
Educador ¢ educando, como seres individuais ¢ sociais ao mesmo tem-
po,constituidos na tramacontraditéria de consciéncia critica e alienaco,
interagem no processo educativo. Eles so sujeitos da histéria na medida
€m quea constroem ao lado de outros seres humanos, num contexto so-
cialmente definido ¢ sio objetos da Histéria na medida em que sofrem a
sua influénci
 
 
 
Em termos de ago educativa, 0 educador, com os seus determinantes,
serd aquele que tem a responsabilidade de dar a diregao ao ensino © 0
educando aquele que, participandodoproceso, aprende ¢ se desenvolve,
formando-setanto como sujeito ativo de sua hist6ria pessoal quanto como
¢a hist6ria humana. O educador, por encontrar-sc num nivel mais elevado
de desenvolvimento das suas capacidades ¢ por deter um patamar cultural
mais elevado, deverd ocuparo lugar de estimulador do avanco do educando.
E nocontexto de relagGes sociais definidas que educador e educando se
relacionam, realizando 0 processo educativo. 
 
3. Sobre a questio do trabalho como fatorconstrutivo e comofatoralucinante do ser humano,vale aenaconsular de Mare Manuseros econdmicosefiosfcoseOCapa (espesaimente Live
de Marve Engels, A Ideologia alemd. or Sa R
4
2. Ossujeitos da praxis pedagégica
2.1 O educador
Quem é 0 educadore qual o seu papel?
Em primeiro lugar, é um humano ¢, comotal, é construtor de si mesmo
eda histria através da acao; € determinadopelas condig6es e circunstdncias
que cnvolvem. criador ¢ criatura ao mesmo tempo.Sofre as influéncias
do meio em que vive € com elas se autoconstr
Emsegundolugar, além deser condicionado ¢ condicionadorda his-
t6ria, ele tem um papel especifico na relacdo pedagégica, que é a relagao
de docéncia.
© queisso signif
Na praxis pedagégica, o educador € aquele que, tendo adquirido o
nivel de cultura necessirio para o desempenhode sua atividade, da diregao
ao ensino ¢ a aprendizagem. Ele assume 0 papel de mediador entre a
cultura elaborada, acumulada ¢ em processo de acumulagio pela humani-
dade, ¢ 0 educando.O professor faré a mediagioentre 0 coletivo da so-
ciedade (os resultados da cultura) e o individual do aluno. Ele exerce o
papel de um dos mediadores sociais entre 0 universal da sociedade © 0
particular do educando.
Para que possa exercer esse papel, 0 educador deve possuir conheci-
mentos ¢ habilidades suficientes para poderauxiliar 0 educando no processo
de elevagao cultural. Deveser suficientemente capacitado ¢ habilitado para
compreender © patamar do educando. E, a partir dele, com todos os con-
dicionamentos presentes, trabalhar para elev4-lo a um novo € mais com-
plexo patamar de conduta, tanto no quese refere ao conhecimento ¢ as
habilidades, quanto noquese refere aos elementos ¢ processos de convi-
véncia social.
 
Para tanto, o cducador deve possuir algumas qualidades, tais como:
compreensaoda realidade com a qual trabalha, comprometimentopolitico,
competéncia no campote6rico de conhecimento em que atua ¢ compe-
téncia técnico-profissional.
Emprimeirolugar, o educadordificilmentepoder4 desempenharseu
papel na praxis pedag6gica sc nao tiver uma certa compreensaoda realidade
 
 
4 Sobreo papel doeducador ver de Georges Snyders, osseguinteslivros: Pedagogiaprogressita (Lisboa,
Ed. Almedina)ePara onde vio aspedagogiasndo-diretivas (Lisboa, Ed. Moraes). Emambas as obrasdaratengSocsperialaotimo capitulo,em que oautorapresenta siniclicamente oseu pontode vista
us
na qual atua. Precisa compreendera sociedade na qual vive, através de
sua hist6ria, sua cultura, suas relagdes de classe, suas relagdes de producio,
suas perspectivas de transformagio ou de reprodugao. Enfim, 0 educador
no poderd ser ingénuo no quese refere ao entendimento da realidade
na qualvive e trabalha. Caso contririo, sua atividade profissional nada
mais sera que reprodutora da sociedade via o senso comum hegeménico.
Em segundolugar, 0 educadorprecisa ter comprometimento politico
com 0 que faz. Compreendendo a sociedade em que vive, teré clareza
daquilo com que esté comprometida a sua aco. Nao podera agir sem esse
comprometimento explicito (explicito ao menos para si mesmo, se nao
quer torné-lo pblico). Em outro momento dessa discussio dissemos que
© educador que afirma nao possuir posicionamentopolitico assume © po-
sicionamento dominante dentro da sociedade — no caso da nossa sociedade,
um posicionamento burgués.
A acéo do educador nao poderser executada de qualquer forma,
comose toda ¢ qualquerforma fosse suficiente para que ela possa ser bem
ealizada. Ela s6 poderser bem realizada se tiver um compromisso politico
que a direcione. Ou seja, 0 educadorsé tem duas opges: ou quera per-
manéncia desta sociedade, com todas as suas desigualdades, ou trabalha
para que a sociedade se modifique.
Em terceiro lugar, o educador necessita conhecer bem o campo cien-
tifico com o qualtrabalha. Se ensina Matemitica, deve conhecer tem este
campo; se ensina Histéria, deve conhecé-la bem — enfim, seja Id qual for
© campo teérico com o qualtrabalhe, o educador tem necessidade de possuir
competéncia teérica suficiente para desempenharcom adequacio sua ati-
vidade. Nao pode, de forma alguma, mediar a cultura de sua area se nio
detiver os conhecimentos e as habilidades que a dimensionam. Nao é apenas
com os rudimentos de conhecimentos adquiridos nos livros didéticos que
um educador exerce com adequagioo seu papel. O livro didatico € itil
no processo de ensino, mas ele nada mais significa do que umacultura
cientifica estilizada. E muito pouco para o educador que deseja e necessita
deter os conhecimentos de sua area.
Emquarto lugzr, o educadordeve deterhabilidades e recursos técnicos
de ensino suficientes para possibilitar aos alunos a sua elevacio cultural
através da apropriacio da cultura elaborada. Ensinar nao significa, simples-
mente, ir para uma sala de aula onde se [az presente uma turma de alunos
€
“despejar” sobre ela uma quantidade de contetidos. Ensinar é uma forma
técnica de possibilitar aos alunos a apropriagdoda cultura claborada da
melhor mais eficaz forma possivel. Para tanto, seré necessério deter re-
cursos técnicos ¢ habilidades de comunicacao quefacilitem a apropriacao
116
do que se comunica. O educadornecessita possuir habilidades na utilizacao
aplicagio de procedimentos de ensino.
Poriiltimo, esses elementos todos se completam com umahabilidade
que denominamos “arte de ensinar”. E preciso desejar ensinar, é preciso
querer ensinar. De certa forma, € preciso ter paixio nessa atividade.
Gramsci lembra que os intelectuais, na maior parte das vezes, esquecem-se
do sentimento em suas atividades. E preciso estar em sintonia afetiva com
aquilo que se faz. Um professor que faz de sua atividade apenas uma
mercadoria dificilmente seré um professor comprometido com a clevacio
cultural dos educandos. O salério no paga o trabalho que temos. Porisso,
torna-se importante, além da competéncia te6rica, técnica e politica, uma
paixdo pelo que se faz. Uma paixdo que sc manifeste, ao mesmo tempo,
de forma afetiva ¢ politica. Sem essa forma de paixdo, as demais qualidades
necessérias ao educador tornam-se formais frias. O proceso educativo
exige envolvimento afetivo. Dai vem a “arte de ensinar”, que nada mais é
que um desejo permanente de trabalhar, das mais variadas © adequadas
formas, para a clevagao cultural dos educandos.
Para ser educadornao basta ter contrato de trabalho numaescola
particular ou um emprego de funcionério piiblico. E preciso competéncia,
habilidade ¢ comprometimento. Ninguém se faz professor, do dia para a
noite, sem aprendizagem ¢ preparacio satisfat6rias.
Em sintese, para exercer o papel de educador, é preciso compromisso
politico © competéncia técnica?
2.2 Oeducando
O educando, como o educador, é caracterizado pelas miltiplas deter-
minagées da realidade. Ou seja, € um sujeito ativo que, pela aco, a0
mesmo tempo se constréi e se aliena. Ele € um membro da sociedade
como qualquer outro sujeito, tendo caracteres de atividade, socialidade,
historicidade, praticidade.
Na relaco educativa, dentro da praxis pedagégica, ele € 0 sujeito que
busca uma nova determinacdo em termos de patamarcritico da cultura
elaborada. Ou seja, o educando € 0 sujeito que busca adquirir um novo
patamar de conhecimentos, de habilidades ¢ modos de agir. E para isso
 
5 VerMello, GuiomarNamo de, Magistrio do 1°grau: do compromissopoltico acompeséncia técnica,
Sto Paulo, Cortez, 198.
17
que busca a escola. Ir & escola, forma institucionalizada de educacio
sociedade moderna, nao tem porobjetivo a permanéncia no est4gio cultural
em que se esté, mas, sim, a aquisicao de um patamar novo, partir da
Tuptura que se processa pela assimilacao ativa da cultura elaborada. A
cultura espontanea ¢ insuficiente para a sociedade modernaque exige dos
individuos novos niveis de entendimentos através da educagaoformalizada.
Isso no significa uma condenagio ao autodidatismo. Ocorre que 0 auto-
didatismo, no que se refere ao acessoa cultura elaborada, exigeiniciacdo
escolar ou, a0 menos, iniciagéo preliminar de leitura, escrita, raciocinio
numérico etc. A cultura elaborada, hoje, exige a escolarizagao, comoins-
tancia pedagégica.
Dentro dessa perspectiva, 0 educando nio deve ser considerado, pura
simplesmente, como massa a ser informada, mas sim comosujeito, capaz
de construir-se a si mesmo, através da atividade, desenvolvendo seus sen-
tidos, entendimentos, inteligéncia etc. Sio as experiéncias € desafios ex-
ternos que possibilitam ao ser humano, através da ago, o crescimento, 0
amadurecimento. O mundo externo exige uma ruptura com a condigao
existente, sem suprimir todos os seus elementos. Ha uma continuidade dos
elementos anteriores ¢, ao mesmo tempo, uma ruptura, formando o novo.
O velhonao é suprimido, mas sim incorporado ao novo.Para exemplificar,
ndo suprimimos a cultura espontnea para, em scu lugar, colocar a cultura
elaborada. A cultura elaborada, que cada um detém, ¢ umasintese nova
de sua cultura anterior, revivificada pela apropriagioe assimilacao da cul-
tura elaborada. Quando uma crianga aprende um modonovo de executar
uma brincadeira, ndo suprime 0 modoanterior; ao contrério, incorpora 0
modo anterior ao novo modode execuc’o. E 0 novo que nasce do velho,
incorporando-o, por superacio.
 
 
O educando é um sujeito que necessita da mediagao do educador para
reformularsua cultura, para tomar em suas préprias maos a cultura espon-
tanea que possui, para reorganizé-la com a apropriagio da cultura elabo-
ada.
Assim, 0 educando é um sujeito possuidor de capacidade de avango
€crescimento,s6 necessitandoparatanto da mediagioda cultura claborada,
jue possibilita a ruptura com o scu estado espontaneo.
Disso decorre que © educando nem possui todo o saber, nem € pura
ignorncia. Ele detém umacultura que adquiriu espontaneamente noseu
dia-a-dia, porém limitada ao circunscrito ¢ ao espontineo. A funcgdo da
mediagdo da cultura elaborada é possibilitar a ruptura com esse estado de
coisas. A nao-apropriagao da cultura elaborada faz com que 0s sujeitos
 
us.
humanos permanecam profundamente carentes de entendimento e cons-
ciéncia.Entenderde construgaoe uso de arco ¢ flecha € muito interessante,
porém insuficiente na luta contra quem possui arma de fogo. Foi exata-
mente isso que possibilitou que portugueses ¢ espanhéis dizimassem os
indigenas das Américas do Sul ¢ Central.
Assim, notrabalho escolar, 0 educador deve estar atento ao fato de
que 0 educando um sujeito, como ele, com capacidade de agio ¢ de
crescimento — e, por isso, um sujeito com capacidade de aprendizagem,
condutainteligente, criatividade, avaliagio e julgamento.
E preciso compreender o educando partir de seus condicionantes
econdmicos, culturais, afetivos, politicos ete., se se quer trabalhar adequa-
damente com ele.
 
3. Conclusao:relagao educador-educando
Tomandopor base as caracteristicas fundamentais do educador e do
educando, comoseres humanos e como sujeitos da praxis pedagégica, ve-
rificamos que 0 papel do educador esta em criar condigdes para que 0
educandoaprendae se desenvolva, de forma ativa, inteligivel e sistemética.
Para tanto, o educador, de modo algum, poderd obscurecer 0 fato de
que 0 educando € um sujeito ativo e que, para que aprenda, deverd criar
oportunidades de aprendizagens ativas, de tal modo que o educando de-
senvolva suas capacidades cognoscitivas assim comosuas conviecSes afetivas
morais, sociais, politicas.
 
 educador, comosujeito direcionador da praxis pedagégica escolar,
deverd, no seu trabalho docente, estar atento a todos os elementos neces-
sérios para que 0 educandoefetivamente aprenda ¢ se desenvolva. Para
isso, além das observacdes aqui contidas, deverd ter presente osresultados
das ciéncias pedagégicas, da didética e das metodologias especificas de
cada diseiplina.
O planejamento, a execugao e avaliagao do ensinoseraoinsatisfat6rios
se no forem processados dentro de minimos parametros de criticidade.
© estudo deste capitulo tem por intengao chamar a atengio de ed
cadores ¢ de futuros educadores para o fato de que 0s sujeitos da praxis
pedagégica nio estao dados definitivamente, mas sim que eles devem ser
permanentemente repensados € recompreendidos, se queremos produzir
uma agao docente-discente de forma critica.
 
ug

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