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Montes Claros/MG - Outubro/2015
Ana Ivânia Alves Fonseca
Antônio Maurílio Alencar Feitosa
Priscilla Caires Santana Afonso
2ª edição atualizada por
Antônio Maurílio Alencar Feitosa 
Priscilla Caires Santana Afonso
Geografia Rural
2ª EDIÇÃO
2015
Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes
Ficha Catalográfica:
ISBN - 978-85-7739-680-1
Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
REITOR
João dos Reis Canela
VICE-REITORA
Antônio Alvimar Souza 
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
Jânio Marques Dias
EDITORA UNIMONTES
Conselho Consultivo
Adelica Aparecida Xavier
Alfredo Maurício Batista de Paula
Antônio Dimas Cardoso
Carlos Renato Theóphilo,
Casimiro Marques Balsa
Elton Dias Xavier
José Geraldo de Freitas Drumond
Laurindo Mékie Pereira
Otávio Soares Dulci
Marcos Esdras Leite
Marcos Flávio Silveira Vasconcelos Dângelo
Regina de Cássia Ferreira Ribeiro
CONSELHO EDITORIAL
Ângela Cristina Borges
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Betânia Maria Araújo Passos
Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo
César Henrique de Queiroz Porto
Cláudia Regina Santos de Almeida
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Luciana Mendes Oliveira
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Maria Aparecida Pereira Queiroz
Maria Nadurce da Silva
Mariléia de Souza
Priscila Caires Santana Afonso
Zilmar Santos Cardoso
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Carla Roselma Athayde Moraes
Waneuza Soares Eulálio
REVISÃO TÉCNICA
Gisléia de Cássia Oliveira
Káthia Silva Gomes
Viviane Margareth Chaves Pereira Reis
DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS
Andréia Santos Dias
Camilla Maria Silva Rodrigues
Sanzio Mendonça Henriques
Wendell Brito Mineiro
CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
Camila Pereira Guimarães
Joeli Teixeira Antunes
Magda Lima de Oliveira
Zilmar Santos Cardoso
diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Unimontes
Maria das Mercês Borem Correa Machado
diretora do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
Mariléia de Souza
diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Chefe do departamento de Comunicação e letras/Unimontes
Maria Generosa Ferreira Souto
Chefe do departamento de educação/Unimontes
Maria Cristina Freire Barbosa
Chefe do departamento de educação Física/Unimontes
Rogério Othon Teixeira Alves
Chefe do departamento de Filosofi a/Unimontes
Alex Fabiano Correia Jardim
Chefe do departamento de Geociências/Unimontes
Anete Marília Pereira
Chefe do departamento de História/Unimontes
Claudia de Jesus Maia
Chefe do departamento de estágios e Práticas escolares
Cléa Márcia Pereira Câmara
Chefe do departamento de Métodos e Técnicas educacionais
Káthia Silva Gomes
Chefe do departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes
Carlos Caixeta de Queiroz
Ministro da educação
Renato Janine Ribeiro
Presidente Geral da CAPeS
Jorge Almeida Guimarães
diretor de educação a distância da CAPeS
Jean Marc Georges Mutzig
Governador do estado de Minas Gerais
Fernando Damata Pimentel 
Secretário de estado de Ciência, Tecnologia e ensino Superior
Vicente Gamarano
Reitor da Universidade estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
vice-Reitor da Universidade estadual de Montes Claros - 
Unimontes
Antônio Alvimar Souza 
Pró-Reitor de ensino/Unimontes
João Felício Rodrigues Neto
diretor do Centro de educação a distância/Unimontes
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Autores
Ana Ivânia Alves Fonseca
Doutoranda em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP/Rio Claro/SP). 
Mestre pela Universidade Federal de Uberlândia (2003). Possui especialização em 
Geografia Regional do Brasil e Minas Gerais pela Universidade Estadual de Montes 
Claros (2000). Graduada em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros 
(1995). Professora da Universidade Estadual de Montes Claros- MG (Unimontes). Tem 
experiência em Geografia, atuando principalmente nas áreas de Geografia Agrária, 
História do Pensamento Geográfico, Geografia do Brasil e Minas Gerais. Membro do 
Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos Agrários do Instituto de Geociências e Ciências 
Exatas de Rio Claro/ Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP 
(2009).
Antônio Maurílio Alencar Feitosa 
Mestre em Geografia Agrária pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU (2008). 
Possui especialização em Geografia Regional do Brasil e de Minas Gerais pela 
Universidade Estadual de 
Montes Claros – Unimontes (2001). Especialização em Didática - Fundamentos 
Teóricos da Prática Pedagógica pela Faculdade de Educação de São Luís - SP (1999). 
Especialização em Geografia Econômica pela Faculdade de Filosofia, Ciências e 
Letras de Ouro Fino - MG (1995). Graduado em Geografia pela Universidade Estadual 
de Montes Claros - Unimontes (1988). Professor do Departamento de Geociências 
da Universidade Estadual de Montes Claros - MG (UNIMONTES). Professor da Pós 
Graduação do Instituto Superior de Educação Ibituruna - ISEIB. Tem experiência na 
área de Geografia e Gestão Ambiental e Geografia Agrária.
Priscilla Caires Santana Afonso
Doutora em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU (2013). Mestre 
em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU (2008). Graduada 
em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes (2001). 
Professora da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes (2004 até o 
período atual). Atua na área de Geografia Humana, com ênfase em Geografia Rural, 
atuando, principalmente, nas temáticas Agricultura e Meio Ambiente, Gestão de 
Recursos Hídricos, Produção Camponesa e Agronegócio. É membro do Núcleo 
de Estudos Agrários e Territoriais - NEAT (Diretório de Grupos de Pesquisa CNPq). 
Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Geografia Rural - NEPGeR/Unimontes.
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
A Dinâmica Econômica e Social da Agricultura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 Contextualização Histórica da Agricultura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.3 As Abordagens Teóricas do Capitalismo sobre a Agricultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
1.4 O Agrário e o Agrícola: qual a Diferença? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
Agricultura sob a Perspectiva da Modernização do Rural Brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
2.2 A Modernização da Agricultura e a Revolução Verde no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
2.3 A Revolução Verde e o Cerrado no Contexto do Desenvolvimento Agrário Brasileiro . 23
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28
Unidade3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
Os Problemas Sociais do Rural Brasileiro: a Luta pelo Território e as Políticas de Estado . .31
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
3.2 O Estado e as Políticas Agrárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
3.3 Os Movimentos Sociais no Campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
3.4 MST, da União às Conquistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
3.5 A “Práxis” da Cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.6 A Estrutura Organizacional Atual do MST . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39
3.7 Características Fundamentais do MST. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.8 O MST como Organização Socialista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
3.9 MST – Inclusão Social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42
3.10 As Lutas de Base e as Ocupações de Terras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42
3.11 Ocupações de Terras pelos Movimentos Sociais do Campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
Atividades Agrícolas e o Meio Ambiente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
4.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
4.2 A Biotecnologia Aplicada à Agricultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
4.3 Os Transgênicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52
4.4 A Pesquisa em GM’s no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
4.5 Aqueles que são “Contra” a Biotecnologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.6 A Agricultura Orgânica (Alternativa) Contra os GM’s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57
Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59
Referências Básicas, Complementares e Suplementares. . . . .61
Atividades de Aprendizagem – AA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65
9
Geografia - Geografia Rural
Apresentação 
Caro(a) acadêmico(a),
Seja bem-vindo (a) à disciplina GEOGRAFIA RURAL, que será ministrada no 5º período da sua 
graduação em Geografia. A disciplina tem carga/horária de 70 horas, dividida em momentos pre-
senciais e intermodulares, com teorias e prática de formação, seguindo a estrutura conteudista 
de quatro unidades com seus respectivos temas teóricos e atividades de ensino-aprendizagem. 
A ementa da disciplina consiste em: Fundamentos teórico-metodológicos sobre o espaço rural; 
a dinâmica econômico-social e a agricultura; renda da terra e produção/organização do espaço 
rural; movimentos sociais no campo; atividades agrícolas e meio ambiente; estado e políticas 
agrárias. O objetivo da disciplina é proporcionar a você subsídios conceituais e metodológicos 
para que possa analisar o espaço rural, juntamente com as questões inerentes a esse tema, além 
de poder interpretar questões sociais, ambientais e econômicas e os conflitos referentes a tal 
temática. Nós, docentes, esperamos que o conteúdo programático seja a base científica para a 
compreensão e execução de todas as tarefas, servindo também para futuras pesquisas e análises. 
Temos a certeza de que, através da disciplina Geografia Rural, você poderá ter novos olhares so-
bre o “rural”.
Bons estudos!
Os autores.
 
11
Geografia - Geografia Rural
UnIdAde 1
A Dinâmica Econômica e Social 
da Agricultura
Priscilla Caires Santana Afonso
1.1 Introdução
Nesta unidade, convidamos você a entender um pouco da história da agricultura no mundo, 
como ela surge e se desenvolve até os dias atuais. 
Discutiremos, ainda, as principais bases teóricas que buscam o entendimento sobre a agri-
cultura no Brasil e no Mundo e analisamos as abordagens teóricas referentes à reprodução do 
camponês e do latifúndio e sua relação com o capitalismo.
Conheceremos os principais conceitos relacionados a esse tema, tais como: renda da terra, 
renda diferencial, renda absoluta, questão agrária e questão agrícola.
1.2 Contextualização Histórica da 
Agricultura
Nos primórdios, no espaço visto como natural, o desenvolvimento da sociedade humana 
baseava-se no tempo da natureza, nos dias e nas noites, nos períodos de chuvas e secas. Esses 
sujeitos não nasceram agricultores, mas passam por um processo evolutivo que permitiu que 
deixassem de ser nômade-coletores para se tornarem agricultores. Entretanto, somente no pe-
ríodo Neolítico (Revolução Agrícola Neolítica), há cerca de 10.000 anos, surgem as primeiras téc-
nicas direcionadas à produção agrícola, à protocultura e protocriação (Mazoyer e Roldart, 2010).
O homem começou a cultivar plantas e a criar animais que ele mesmo domesticou, introdu-
zindo-os e os multiplicou em diversos tipos de ambiente, transformando os ecossistemas natu-
rais. Desde então, a agricultura transforma a ecosfera.
Devemos entender que o surgimento da agricultura não se deve à rarefação da caça, a pro-
blemas climáticos ou à sociedade numerosa que encontra problemas de sobrevivência, como é 
discurso de muitos. A transformação da sociedade que vivia da predação simples para uma so-
ciedade que vivia dos produtos oriundos dos cultivos e criações foi resultado do encadeamento 
de complexas mudanças materiais, econômicas, sociais e culturais que condicionaram uns aos 
outros e se organizaram por várias centenas de anos. 
À medida que o ser humano modificava e transformava a natureza, também transformava 
uma série de comportamentos que visavam à continuidade da vida. Assim, concordamos com 
Santos que nos diz que a evolução da racionalidade humana propiciou o nascimento de um con-
junto de meios instrumentais e sociais com os quais o ser humano realiza sua vida e, ao mesmo 
tempo, produz e cria espaço geográfico. A esta evolução, convencionou-se chamar de técnica.
No entanto, não é uma exclusividade das técnicas o aprimoramento, tanto intelectual quan-
to moral e material da espécie humana, pois “não há sistema técnico sem um sistema de ações, 
um sistema de normas, um sistema de valores, sem que alguém o impulsione” (SANTOS, 2001).
Ainda nessa perspectiva, cabe a análise de que reconhecemos que é através do trabalho 
que a espécie humana engendra o processo de produção espacial, em específico, de transforma-
ção do meio natural e da própria natureza humana. O trabalho, a nosso ver, é a maneira como o 
ser humano materializa, ou melhor, implementa a técnica no meio. 
12
UAB/Unimontes - 5º Período
Nessa perspectiva, destacamos que um dos primeiros sistemas agrários (Neolítico), o de der-
rubada-queimada, que também é um dos sistemas do cultivo mais utilizados do mundo (é utili-
zado nas regiões tropicais e subtropicais,dentre essas destacamos seu uso no Brasil).
Historicamente tal sistema era praticado em meios arbóreos variados: floresta densa, flores-
ta secundária, capoeira, savana arborizada, etc. As parcelas a serem cultivadas eram previamente 
desmatadas por um abate seletivo da vegetação, seguido da queimada, mas sem destocamento. 
As parcelas desmatadas eram cultivadas apenas por um ano (raramente por dois ou três anos). 
Após esse curto período de cultivo, as parcelas eram abandonadas ao pousio por um ou vários 
decênios, até serem novamente desmatadas e cultivadas.
Em contrapar-
tida, uma gama de 
outros sistemas sur-
ge em diferentes am-
bientes (civilizações), 
como os sistemas hi-
dráulicos nas regiões 
áridas, os sistemas 
com alqueive nas re-
giões temperadas, os 
sistemas baseados na 
rizicultura aquática 
nas regiões de mon-
ção. Esses surgem 
graças aos novos ins-
trumentos (pá, en-
xadão, tração animal 
leve como o arado 
escarificador) e novas 
técnicas de desmata-
mentos e de renova-
ção da fertilidade do 
solo baseado na fer-
tilização com dejetos 
dos animais, desen-
volvidos ao longo de 
muitos anos.
No período das 
grandes civilizações 
(egípcia, mesopo-
tâmia, persa, hindu, 
romana, chinesa, gre-
ga, asteca, inca, maia, 
etc.), como mostra a Figura 1, houve uma modificação decisiva de como os grupos humanos se 
organizavam no espaço geográfico, dinamizando a divisão do trabalho no interior das civiliza-
ções. Com a evolução das relações sociais dentro das civilizações, ocorreu o aparecimento de 
grupos sociais diferenciados, o que ampliou a divisão social do trabalho, fazendo surgir os tra-
balhadores especializados (ferreiros, carpinteiros, mercadores, guerreiros, sacerdotes, pastores, 
etc.). Além disso, ocorreu também o desenvolvimento técnico.
Já no Século X, a tração animal pesada junto ao sistema de alqueive, leva a construção da 
Revolução Agrícola da Idade Média. O arado charua, carretas de transporte, a grade, são algumas 
ferramentas que são utilizadas nesse momento histórico. Esse substitui a lavração manual reali-
zada com o enxadão e com a pá, de baixa produtividade. 
A evolução dos arreios também foi de grande importância, pois os animais puderam carre-
gar os equipamentos sem serem estrangulados pelos mesmos. Assim se inaugurou o período da 
tração animal pesada e do sistema de alqueive de curta duração.
Cabe ressaltar que, com a expansão das cidades, houve a necessidade de uma maior produ-
ção de alimentos, uma vez que era preciso abastecê-las, gerando a necessidade de ampliação do 
território cultivado e uma crise do ecossistema. A Europa vive, então, momentos de fome crônica 
e vários problemas de ordem sanitária, demográfica e econômica. 
Figura 2: Arado Charua.
Fonte: Disponível em 
<http://fr.topic-topos.com/
charrue-brabant-chartres-
de-bretagne>. Acesso em 
17 jul. 2015.
►
Figura 1: As Primeiras 
Civilizações da 
Antiguidade
Fonte: Disponível em 
<http://www.vocesabia.
net/verdade-ou-mentira/
verdade-ou-mentira-histo-
ria-geral/>. Acesso em 17 
jul. 2015.
►
13
Geografia - Geografia Rural
Assim, surge o sistema feudalista com a implosão causada pelas invasões bárbaras e uma 
explosão a partir dos movimentos instaurados dentro do próprio império Romano. Tal sistema 
contribuiu para a organização de uma agricultura para o autoconsumo. 
Para Kautsky (1988), o mundo medieval constituía uma grande cooperativa quase autossu-
ficiente, que não produzia apenas seus próprios produtos de consumo pessoal, como também 
construía sua própria casa, seus próprios móveis, utensílios domésticos e ferramentas, curtia cou-
ro, preparava o linho e a lã, além de fabricar suas próprias roupas, sapatos, etc. 
A crise da cooperativa medieval, que não tinha a capacidade de suprir as demandas, princi-
palmente dos núcleos urbanos, causou a dissolução da indústria rural doméstica, o que, em con-
trapartida, gerou migração para os núcleos urbanos europeus. 
A crise do feudalismo leva à formação dos Estados Nacionais e adoção de novas práticas 
econômicas que ocasionam o aumento do consumo e produção europeia. Novas relações de 
produção emergem com o florescimento do capitalismo. Com a expansão marítima comercial, 
metrópoles como Inglaterra, Portugal e Espanha transformam as colônias de exploração em 
plantations de produtos agrícolas, como cana de açúcar, algodão e fumo. Essa forma de explora-
ção definiu a divisão internacional do trabalho entre os continentes africano, americano e asiáti-
co e foi importante para acumulação primitiva do capital nos países da Europa Ocidental, sobre-
tudo a Inglaterra, principal potência econômica até a Primeira Guerra.
Desde então, o capitalismo tem se expandido e as mudanças nas relações de trabalho e no 
modo de vida da sociedade, tanto na cidade quanto no campo, são evidentes e geram grandes 
discussões em especial, destacaremos as repercussões do capitalismo na agricultura. 
1.3 As Abordagens Teóricas do 
Capitalismo sobre a Agricultura
A agricultura, sob a perspectiva capitalista, tem sido tema gerador de diversos debates e 
discussões. De maneira geral, tais discussões deram origem a correntes que discutem as mudan-
ças ocasionadas por esse sistema na agricultura. Em comum, os autores concordam que há uma 
generalização progressiva em todos os ramos de produção (no campo e na cidade) e consideram 
o assalariamento um traço fundante do modo de produção capitalista.
Quanto a essa última característica, destacam-se duas correntes: a primeira expõe que ocor-
re o processo de homogeneização do operariado único num polo e a classe burguesa no outro. A 
segunda corrente afirma que o processo é contraditório e heterogêneo, nele se expande o assa-
lariamento e o trabalho familiar.
Existem, ainda, os seguidores da chamada corrente neoclássica, que explicam o processo de 
generalização das relações produtivas capitalistas por duas vias em que se dá a destruição dos 
camponeses e a modernização dos latifúndios. O primeiro se dá pela contradição da inserção do 
campesinato no mercado capitalista. O segundo decorre da introdução de máquinas e insumos 
modernos, tornando os latifundiários capitalistas do campo.
BOX 1
Relações Feudais?
Dentro da discussão teórica, cabe destacar os estudos que apontam que campesinato e 
latifundiários são evidências das relações feudais de produção. Para essa corrente de pensa-
mento, houve a penetração das relações capitalistas no campo. Apenas uma reforma profun-
da por meio da distribuição de terras provocaria transformações no momento em que a luta 
camponesa poderia destruir o latifúndio e os vestígios feudais, e assim ocorreria a substitui-
ção pela propriedade camponesa ou capitalista. 
Fonte: DANTAS, et al, 2011, p.99.
14
UAB/Unimontes - 5º Período
1.3.1 As Correntes Teóricas que Estudam a Agricultura no Brasil
É importante que você, acadêmico(a), compreenda que, com o desenvolvimento da agri-
cultura, o debate sobre seus rumos e perspectivas tem tomado diferentes orientações. Para 
Ariovaldo Umbelino, tanto para os autores defensores de que no Brasil existiram relações feu-
dais, como os que partem do princípio de que o país já nasceu capitalista, acreditam que o 
capitalismo está “modernizando o campo” e fazendo com que a produção familiar de origem 
camponesa desapareça. Tais autores foram (são) influenciados pela obra de Schanin, Chaya-
nov, Lenin, Kaustysk (Marx), que escreveram suas obras (clássicos da Geografia Agrária) no con-
texto europeu (russo) no século XIX. Pode-se dizer que a questão sobre permanência ou fim do 
campesinato tem sido alvo de muitos estudos e discussões, e as questões teóricas que ema-
nam desse entendimento têm influenciado políticas públicas, movimentos sociais e a própria 
comunidade acadêmica. 
De maneira geral, destacam-se três correntes, a saber: 
1. aqueles que defendem que a agricultura camponesa tende à destruição do campesinato 
por meio da diferenciação interna produzida pelas contradições do processo de “penetração 
das relações capitalistasde produção no campo”. Esses processos determinariam a proletari-
zação do campesinato. 
2. Em outra vertente, alguns autores negam essa possibilidade, entendendo que o campesi-
nato é criado, destruído e recriado pelo desenvolvimento contraditório do capitalismo, pela 
produção capitalista e relações não capitalistas de produção. Para esses últimos, o desenvol-
vimento do capitalismo se dá no sentido da sujeição da renda da terra ao capital. Dessa 
forma, o capital subordina o campesinato, especula a terra, comprando-a e vendendo-a e 
sujeitando o trabalho nela realizado.
BOX 2
A Renda da Terra
A expansão do capitalismo no campo se dá primeiro e fundamentalmente pela sujeição 
da renda territorial ao capital. Comprando a terra, para explorar ou vender, ou subordinando 
a produção de tipo camponês, o capital mostra-se fundamentalmente interessado na sujeição 
da renda da terra que é a condição para que ele possa sujeitar também o trabalho que se dá 
na terra. Por isso, a concentração ou divisão da propriedade está fundamentalmente deter-
minada pela renda e a renda subjugada pelo capital. No Brasil o movimento do capitalismo 
não opera de modo geral no sentido da separação entre a propriedade e a exploração dessa 
propriedade, nem a separação entre o burguês e os proprietários grandes e pequenos. Pode-
mos citar, por exemplo, os agricultores familiares do Sul do Brasil que continuam proprietários 
de terra e dos instrumentos que utilizam no seu trabalho. Ele não é assalariado de ninguém. 
Como podemos dizer que o capital instituiu a sujeição do seu trabalho, dominando-o? Nem 
há sujeição formal (não existe vínculo trabalhista) nem há sujeição real (o capital não precisa 
apropriar-se da terra para retirar sua renda) do trabalho ao capital neste caso, deixando clara 
a sujeição da renda da terra ao capital. Esse é o processo que se observa claramente em nosso 
país, tanto em relação a grande propriedade quanto em relação à propriedade familiar de tipo 
camponês. 
Fonte: MARTINS, 1983, p. 174-176.
Essas duas concepções discutidas estão dentro de um paradigma, ou melhor, do Paradigma 
da Questão Agrária. 
Por fim, destaca-se que, na década de 1990, surge outro paradigma denominado Para-
digma do Capitalismo Agrário - PCA, que tem como referência a obra de Ricardo Abramovay 
(1992). 
1. Essa obra propõe uma ruptura com o paradigma marxista ou lenista/kautskyano e apresen-
ta uma leitura em que o desenvolvimento da agricultura nos países capitalistas ricos atingiu 
estágios determinados, sendo que a agricultura de base familiar teve participação expres-
siva e se consolidou. Ao contrário do que foi defendido na outra vertente citada (PQA), em 
que o trabalho assalariado seria predominante.
GloSSáRIo
Paradigma: É um con-
ceito das ciências e da 
epistemologia (a teoria 
do conhecimento) que 
define um exemplo 
típico ou modelo de 
algo. É a representação 
de um padrão a ser 
seguido. É um pressu-
posto filosófico, matriz, 
ou seja, uma teoria, 
um conhecimento que 
origina o estudo de um 
campo científico; uma 
realização científica com 
métodos e valores que 
são concebidos como 
modelo; uma referência 
inicial como base de 
modelo para estudos e 
pesquisas. Fonte: KUHN, 
1991.
ATIvIdAde
Como o capital con-
segue se apropriar da 
renda da terra sem 
apropriar-se diretamen-
te dela, ou seja, sem 
comprá-la? Deixe suas 
observações no fórum 
de discussão.
15
Geografia - Geografia Rural
BOX 3
Aspectos da Trajetória Teórico-Metodológica da Geografia Agrária no Brasil
Sílvio Carlos Bray
[...] 
A geografia nacional, através dos geógrafos agrários, teve uma dinâmica própria em re-
lação ao movimento da sociedade e dos estudiosos da agricultura brasileira. Nesse contexto, 
tivemos períodos de vinculações com os demais cientistas sociais, preocupados em estudar 
e interpretar a agricultura brasileira. Em outros momentos, tivemos também desvinculações 
das questões nacionais, apoiando-se em teorias, métodos e técnicas dos geógrafos agrários 
europeus. Tudo isso, no firme propósito de construir um conhecimento científico neutro da 
realidade agrária - local, regional e nacional.
Quando se instalaram no Brasil, (São Paulo e Rio de Janeiro) em meados da década de 
30, os primeiros, cursos acadêmicos de Geografia, através dos geógrafos franceses Monbeig 
e Deffontaines, foi estabelecida uma orientação positivista-funcionalista-culturalista, que en-
controu no seio da ideologia da cultura brasileira na época, concepções semelhantes.
Com Gilberto Freire - Casa Grande e Senzala (1933) e Sérgio Buarque de Holanda - Raízes 
do Brasil (1936), o momento se apresentava como a descoberta das oligarquias em sua vida 
social, política, psicológica e íntima da vida nacional. Nesse contexto, também encontramos 
as questões sobre a “ideologia da democracia racial” (a mestiçagem como forma positiva), “a 
ideologia da democracia social” (a importância das diferentes classes sociais), “a ideologia do 
brasileiro bom”, “pacato”, “cordato” e “não violento” (a índole pacata do brasileiro). Essas con-
cepções da ideologia da cultura nacional vinham ao encontro da nascente geografia acadê-
mica no país, influenciada pelo culturalismo francês, que incorporou o positivismo como mé-
todo, o liberalismo político como doutrina e a abordagem sistêmica organicista como prática, 
predominando a teoria do equilíbrio entre a sociedade e natureza e dos homens entre si, atra-
vés da geografia da solidariedade.
Outra característica a salientar nessa fase de estruturação da geografia nacional de tra-
dição positivista e dentro do espírito do liberalismo político burguês é o da neutralidade da 
ciência e da sua desvinculação com as questões políticas nacionais. Isto é, o importante seria 
construir uma ciência geográfica a partir dos dados e fatos-ciência pela ciência - onde a con-
tribuição do geógrafo como cientista é demonstrativa e informativa. A tradição da geografia 
tradicional em transformar a geografia numa ciência neutra faz parte da tradição positivista 
que absorveu o Estado Burguês e a nova ordem social, como fundamentos não questionáveis. 
Na essência do pensamento positivista e liberal político burguês, as ciências existem para jus-
tificar o novo Estado e para exercerem o papel de prestadoras de serviços à nova ordem social 
estabelecida pela burguesia no poder.
Por outro lado, o liberalismo político burguês sempre defendeu a importância da liberda-
de do pesquisador e o seu não atrelamento aos interesses do Estado e do poder (liberdade de 
cátedra, do livre pensar e pesquisar).
[...]
É através da análise do complexo geográfico que o geógrafo deverá buscar a compreen-
são da realidade, através das relações, ações e interações que unem os elementos do siste-
ma. E, como resultante, teremos os diferentes gêneros de vida. Através dos gêneros de vida e 
do complexo geográfico, os geógrafos agrários desenvolveram várias preocupações e linhas 
de análises e investigações, principalmente a dos tipos de agricultura. Por meio da classifica-
ção tipológica, buscavam compreender como as diferentes sociedades agrárias, em contato 
com a natureza, resolviam através dos gêneros de vida, os problemas e soluções técnicas e 
de sobrevivência daquelas culturas. Com os vários tipos de agricultura, os geógrafos agrários 
desenvolviam estudos sobre a paisagem rural, as formas variadas de agricultura, os regimes 
agrários, o sistema de divisão dos campos, os tipos de produção vegetais, enfim, os gêneros 
de vida ligados aos criadores e agricultores. Por outro lado, através das monografias, as condi-
ções geográficas e os fatos sociais seriam examinados detalhadamente num campo bem es-
colhido e restrito. Enfim, o geógrafo agrário deveria penetrar intimamente na vida agrícola e 
procurar definir e comparar as modalidades dos múltiplos gêneros de vida rurais.
16
UAB/Unimontes - 5º Período
Mas, para conseguir esses estudos, o geógrafo agrário deveria substituir a “retórica vazia” 
pela “observação minuciosa” e pela“análise”, pois, segundo os geógrafos com essa visão, “fora 
dos fatos essenciais”, não existe absolutamente qualquer estudo sólido de geografia humana. 
Essa postura positivista-empirista, sensível ao nível do método, estabeleceu uma rigidez nas 
análises dos geógrafos agrários brasileiros, onde só no método empirista sensível se construía 
e se retirava o conhecimento da geografia agrária.
Por outro lado, o caráter doutrinário do liberalismo político burguês separava o cientis-
ta observador dos “fatos essenciais” do geógrafo cidadão que existia concretamente naquele 
universo empírico-indutivo. Desenvolve-se uma contradição em virtude da rigidez metodo-
lógica e da reprodução do discurso de neutralidade. A geografia estudava concretamente os 
fenômenos agrários do país, mas estava pouco vinculada aos movimentos agrários da socie-
dade e dos demais pesquisadores não geógrafos. Ocorria, por outro lado, um período em que 
se estudava a agricultura brasileira utilizando-se dos paradigmas estabelecidos pelos geógra-
fos agrários europeus. Buscava-se assim estabelecer no campo brasileiro, situações concretas 
europeias. Temos, então, grandes contradições ao nível do discurso e do método no contexto 
da geografia agrária nacional.
Por outro lado, encontramos uma maior abertura nos estudos de geografia agrária bra-
sileira, em Manoel Correia de Andrade, que rompia com a neutralidade, discutia os movi-
mentos agrários no Nordeste (através das Ligas Camponesas) e acompanhava os demais es-
tudiosos da agricultura brasileira - principalmente Caio Prado Júnior, que também prefaciou 
sua obra “A Terra e o Homem no Nordeste”. [...] É nesse momento de comunhão do geógrafo 
com o movimento da sociedade brasileira, que consideramos Manuel Correia como o pri-
meiro - geógrafo agrário não geográfico - isto é, o geógrafo nacional que rompe com os 
formalismos da rigidez positivista de neutralidade e de se construir uma geografia agrária 
pela geografia agrária, e passa a produzir ciência como cientista e como cidadão. A ligação 
da obra “A Terra e o Homem no Nordeste”, com Caio Prado Júnior, colocava a necessidade do 
trabalho empírico sensível que o geógrafo nacional desenvolveu, no estudo das relações de 
produção e de trabalho. 
A ligação Manuel Correia e Caio Prado é muito importante nesse período, uma vez que, 
apesar do bom relacionamento de Caio Prado Júnior com os geógrafos nacionais nas décadas 
de 30, 40 e 50, suas contribuições teórico-metodológicas não foram utilizadas pelos mesmos, 
principalmente os geógrafos agrários. A visão liberal política burguesa da geografia agrária 
brasileira via como “radicalismo” as interpretações marxistas de Caio Prado Júnior. Nas déca-
das de 50 e 60, Caio Prado criticava a visão de feudalismo no campo brasileiro. No seu livro a 
“Questão Agrária no Brasil”, que faz parte de uma coletânea.
A preocupação de Caio Prado, na obra Questão Agrária no Brasil, estava centrada no mé-
todo de análise das questões sociais em geral e da questão agrária em particular, devido às 
formulações gerais e imprecisas como restos feudais, relações pré-capitalistas de produção, 
camponês rico, médio e pobre. Procurou criticar o comportamento metodológico genera-
lizante e pouco afeito às análises concretas da realidade agrária nacional, e Caio Prado diz: 
“Cumpre substituir por métodos verdadeiramente científicos, que consistem na pesquisa ob-
jetiva e rigorosa dos fatos concretos (não as generalidades e categorias abstratas) e expressão 
desses fatos em formulações precisas e isentas de dubiedade.
Esse momento histórico é extremamente importante para ser retomado pelos geógra-
fos agrários nacionais, uma vez que Caio Prado e Manoel Correia trabalham a necessidade do 
rigor aos fatos da realidade concreta, que é inerente à ciência na busca do conhecimento, e 
mostram que a análise do social, consciente ou inconscientemente, é sempre afetada pelo 
analista. Nesse contexto, desmistificam a neutralidade do cientista (dogma do liberalismo 
político), levando-os a posicionarem-se como cidadãos, rompendo com os esquemas e parâ-
metros da geografia agrária europeia e de estudiosos da agricultura brasileira que buscavam 
paradigmas europeus para interpretar a realidade agrária nacional.
Entretanto, após os primeiros anos da década de 60, os modos de produção capitalista 
ainda eram desconhecidos pela grande maioria dos geógrafos agrários nacionais. Mas, por 
outro lado, difundiam-se nos meios acadêmicos, as concepções de Caio Prado Júnior, contrá-
rio à tese de feudalismo no campo. E, ainda, geógrafos nacionais reproduziam essa análise, 
enfocando que não existia e nunca existiu a figura do camponês no Brasil, e que camponês 
era um produto histórico da Europa.
17
Geografia - Geografia Rural
Consequentemente, o livro “Quatro Séculos de Latifúndio” de Alberto Passos Guimarães 
era difundido nos meios geográficos da década de 60 e defendia a questão das relações feu-
dais no campo brasileiro. Contudo, continuavam a permanecer os referenciais teórico-meto-
dológicos e técnicos da geografia agrária europeia e a desvinculação com os demais estudio-
sos da agricultura brasileira e das questões nacionais. A ideologia liberal político-burguesa 
mantinha no geógrafo agrário do país a separação entre ciência e política. Isto é, separava o 
pesquisador do cidadão. O geógrafo agrário continuava a manter-se como “cientista neutro”.
Essa questão da “neutralidade” é tão importante que, com as influências das concepções 
neopositivistas, com um discurso mais objetivo e mais rigoroso no tratamento dos dados, en-
controu na “neutralidade” do geógrafo agrário nacional um campo propício para se fazer ciên-
cia pela ciência, mais desvinculada da realidade agrária nacional do que a própria geografia 
tradicional, de base positivista-culturalista.
Entretanto, o mais interessante que podemos observar é que, na década de 70, com a 
modernização acelerada da agricultura nacional e quando o país atinge a era do capitalis-
mo monopolista com a urbanização e industrialização do campo; os geógrafos agrários do 
IBGE e UNESP Rio Claro, influenciados pelo neopositivismo, e adotando paradigmas da agri-
cultura de países norte-americanos e europeus (através da ótica do avanço da agricultura 
moderna), encontraram para as análises da nova realidade agrária nacional os trabalhos de 
Ruy Muller Paiva.
Ruy Muller Paiva está incluído entre os economistas no campo político-administrativo 
cujo grupo faz parte da linha denominada “crítica conservadora” aos modelos amplamente 
aceitos das décadas de 50 e 60. Os estudiosos da agricultura nacional, com essa visão denomi-
nada “crítica conservadora”, refutavam, no plano técnico e teórico, as teses que se baseavam 
na definição dos setores agrícola como um empecilho ao desenvolvimento. Quer dizer que 
esses pesquisadores não viam a agricultura como um obstáculo ao desenvolvimento do país.
[...]
Tentando, a seguir, um reexame dos ‘elementos tradicionalmente apontados como res-
ponsáveis pelo desenvolvimento da agricultura’, introduz um novo elemento que ‘não tem 
sido considerado por estudiosos no assunto. Essa influência das concepções de Ruy Muller 
Paiva é encentrada primeiramente nos trabalhos “Proposição Metodológica para o Estudo de 
Desenvolvimento Rural no Brasil” e “Modernização da Agricultura Brasileira” de Olindina Mes-
quita, Rivaldo Gusmão e Solange Silva, publicados em 1976 e 1977 na Revista Brasileira de 
Geografia. Além da influência de Paiva, outros economistas nacionais são citados pelos
autores acima. Nota-se que os geógrafos agrários nacionais começam a romper com os 
academicismos formais da geografia pela geografia, e se voltam para os estudiosos da agricul-
tura brasileira.
Os primeiros encontros nacionais de geografia agrária, a partir de 1978, mostram essa 
abertura no encaminhamento das pesquisas, revelando a importância da questão agrária ao 
nível das ciências humanas. O trabalho ‘’Geografia Agrária e Metodologia de Pesquisa” de Ce-
ron e Lúcia Gerardi,apresentando como um dos Textos Básicos para discussão no 1º Encontro 
Nacional de Geografia Agrária em Salgado (Sergipe), levantava a necessidade dos geógrafos 
agrários manterem um maior contato com as disciplinas de ciências sociais.
Os sucessivos encontros nacionais de geografia agrária pós 1978, além de contarem com 
a participação expressiva dos geógrafos nacionais de vários centros do país, passaram tam-
bém a contar com a valiosa colaboração de outros cientistas sociais estudiosos da agricultu-
ra brasileira como José de Souza Martins, José Graziano da Silva, Alberto Passos Guimarães, 
Sérgio Silva, Oriowaldo Queda e outros. A década de 80 será marcada pela descolonização da 
geografia agrária nacional, uma vinculação ampla com os demais estudiosos da agricultura. 
Desenvolve-se um discurso mais voltado para as questões da agricultura nacional, alicerçadas 
na ótica marxista, através das transformações dos modos de produção capitalista no país.
Novas perspectivas de pesquisa passaram a ser desenvolvidas pelos geógrafos agrários, 
principalmente nos estudos das relações sociais de produção e na análise dos modos de pro-
dução capitalista na agricultura, no processo de organização do espaço nacional.
O geógrafo agrário deixa de realizar uma geografia pela geografia, rompe com o liberalis-
mo político burguês e, cada vez mais, vem se conscientizando de que é um cientista social. E 
como cientista social vem avançando nos estudos da realidade agrária nacional.
Fonte: Disponível em <http://www.seer.ufu.br/index.php/campoterritorio/article/viewFile/11856/6939>. Acesso em 
21 out.2010.
18
UAB/Unimontes - 5º Período
1.4 O Agrário e o Agrícola: qual a 
Diferença?
Agora que você já conhece as principais correntes que discutem o rural brasileiro, precisa 
entender o que é questão agrária e a sua relação com a questão agrícola. A questão agrária está 
relacionada ao conteúdo político e social. Já a questão agrícola tem relação com os gêneros ali-
mentícios. Em outras palavras, Graziano da Silva (1980, p. 11) explica:
[...] a questão agrícola diz respeito aos aspectos ligados às mudanças na pro-
dução em si mesma: o que se produz, onde se produz e quando se produz. Já a 
questão agrária, está ligada às transformações nas relações de produção: como 
se produz, de que forma se produz. No equacionamento da questão agrícola, 
as variáveis importantes são a quantidade e os preços dos bens produzidos. Os 
principais indicadores da questão agrária são outros: a maneira como se organi-
za o trabalho e a produção; o nível de renda e o emprego dos trabalhadores ru-
rais; a produtividade das pessoas empregadas no campo, etc (SILVA, 1980, p.11).
Ainda, segundo o autor, questão agrária e questão agrícola estão relacionadas e suas crises 
ocorrem concomitantemente. Por vezes, a questão agrícola pode ser um condicionante para se 
agravar a crise da questão agrária.
Para compreender melhor a questão agrária, é preciso entender bem o que é a renda da 
terra. Dantas (et al, 2011) discute de maneira muito didática tal categoria. Para os autores, essa 
representa o lucro extraordinário, suplementar, permanente, que ocorre tanto no campo quanto 
dICA
Compreenda mais sobre 
a questão agrária e 
agrícola com a leitu-
ra do livro “O que é 
questão agrária” de José 
Graziano da Silva na 
obra SILVA, J.G. o que é 
questão agrária. 14. ed. 
São Paulo: Brasiliense, 
1980.
Figura 4: Produção de 
alimentos – inerente à 
questão agrícola.
Fonte: Disponível em 
<http://www.escolakids.
com/questao-agraria-no
-brasil.html>. Acesso em 17 
jul.2015.
►
Figura 3: Trabalhadores 
no campo – inerente 
ao estudo da questão 
agrária
Fonte: Disponível em 
<http://aldeiacomum.
com/2012/03/15/10-a-
1204-o-agrario-e-o
-ambiental-no-seculo
-xxi-estudos-e-reflexoes-
sobre-a-reforma-agraria-
no-nordeste-paulista/>. 
Acesso em 17 jul. 2015.
►
19
Geografia - Geografia Rural
na cidade (também é denominada renda territorial e renda fundiária). Sendo a renda da terra um 
lucro extraordinário, fruto do trabalho excedente, constitui-se na fração da mais-valia. A renda da 
terra, em sua forma mais desenvolvida no modo de produção capitalista, é sempre sobra acima 
do lucro, ou seja, constitui-se num lucro excedente.
Dentro da perspectiva capitalista, é analisada como renda diferencial e renda absoluta. Para 
Oliveira (1984, p. 93-94), esta pode ser assim explicada:
Quadro 1 - Renda da Terra - Renda Diferencial e Absoluta
Renda da Terra Renda diferencial Renda Absoluta
[...] é a fração 
suplementar 
permanente do 
lucro capitalista 
que explora a 
terra sob rela-
ções capitalistas 
de produção, 
ou seja, sob 
relações basea-
das no trabalho 
assalariado.
[...] é o produto do caráter 
capitalista da produção. Numa 
palavra, resulta da concorrência 
entre os produtores capitalis-
tas. Isso significa dizer que ela 
só existe a partir do momento 
em que a terra é colocada para 
produzir. 
Apresenta-se sob duas formas: 
- Renda Diferencial I: é aquela 
que independe do capital apli-
cado na produção específica;
- Renda Diferencial II: decorre 
diretamente do investimento 
em capitais para melhorar a 
fertilidade natural da terra. 
[...] é aquela que resulta do monopólio 
da terra por uma classe ou fração da 
classe, e desapareceria caso as terras 
fossem nacionalizadas. Assim, a renda 
absoluta é resultante da elevação dos 
preços de produção desses gêneros, 
principalmente por ação dos monopó-
lios. Isso porque os proprietários fundi-
ários só permitem a utilização de suas 
terras quando os preços de mercado 
ultrapassam seus preços de produção.
No caso da renda absoluta, podemos 
citar como exemplo os grandes especu-
ladores latifundiários que colocam suas 
terras para produzir quando os preços 
estão acima da média.
Fonte: OLIVEIRA, 1984, p.54.
Referências
ABRAMOVAY, R. Paradigmas do Capitalismo Agrário em Questão. São Paulo: UNICAMP, 1992.
BRAY, S. C. Aspectos da trajetória teórico-metodológica da Geografia Agrária no Brasil. Revista 
Campo-Território.
DANTAS, A.; FRANÇA, R. S.; MEDEIROS, S. R. F. Q. Geografia Agrária. 2. ed. Natal: EDUFRAN, 2011.
KAUTSKY, Karl. A Questão Agrária. Porto: Portucalense, 1972 (1988).
KUHN, Thomas. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1991.
MARTINS, J. S. os camponeses e a política no Brasil: as lutas sociais no campo e seu lugar no 
processo político. Petrópolis: Vozes, 1983.
MAZOYER, M., ROUDART, L. História das agriculturas no mundo: do neolítico à crise contemporâ-
nea. Tradução de Cláudia F. Falluh Balduino Ferreira. São Paulo: UNESP; Brasília-DF: NEAD, 2010.
NEVES, M. F.; ZILBERSZTAJN, D.; NEVES, E. M. Agronegócio no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2005.
OLIVEIRA, A.U. Monopólio Capitalista de Produção e Agricultura. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995. 
(Série Princípios).
___________. Renda da Terra. In: Revista orientação. São Paulo, v.5, n.1, p. 94-95, 1984.
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo: Universi-
dade de São Paulo, 2001. (Coleção Milton Santos).
SILVA, J. G. da. o que é questão agrária. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1980.
ATIvIdAde
1) Faça uma pesquisa na 
feira de seu município e 
identifique os produtos 
agrícolas produzidos. 
a) Liste os produtos 
agrícolas encon-
trados.
b) De acordo com 
nossa discussão, 
identifique se 
os produtos são 
produzidos por 
relações tipica-
mente capitalistas 
ou relações não 
capitalistas de 
produção. Insira no 
fórum de discussão 
o resultado da pes-
quisa realizada.
dICA
Leia o livro “os campo-
neses e a política no 
Brasil: as lutas sociais 
no campo e seu lugar 
no processo político” 
de José de Souza Mar-
tins. Merece destaque 
o capítulo V que trata 
sobre a sujeição da 
renda da terra ao capital 
e ao novo sentido da 
luta pela reforma agrá-
ria. Nesse capítulo, o 
autor analisa as relações 
capitalistas de produ-
ção, as contradições 
entre renda da terra e 
o capital, como se dá a 
apropriação da renda da 
terra pelo capital e as di-
ferençasentre concen-
tração da propriedade e 
a do capital.
MARTINS, J. S. os cam-
poneses e a política no 
Brasil: as lutas sociais 
no campo e seu lugar 
no processo político. 
Petropólis: Vozes, 1993.
21
Geografia - Geografia Rural
UnIdAde 2
Agricultura sob a Perspectiva da 
Modernização do Rural Brasileiro 
Ana Ivânia Alves Fonseca
Priscilla Caires Santana Afonso
2.1 Introdução
Agora iniciaremos a Unidade II, onde se quer compreender a agricultura sob do desenvolvi-
mento do capitalismo brasileiro e a territorialização da Revolução Verde (trabalhada por muitos 
autores como sinônimo de modernização da agricultura no Brasil). 
Discutiremos o processo de modernização da agricultura no Brasil e os impactos desse pro-
cesso na região dos cerrados, que tem colocado em risco esse importante bioma. Alguns estu-
diosos apontam que a crise da água vivida na atualidade já é um impacto vivido em todo o país, 
em função dos diversos problemas sócio-ambientais causados pelo modelo de agricultura vigen-
te na atualidade.
2.2 A Modernização da Agricultura 
e a Revolução Verde no Brasil
Como estudamos na unidade 1, a agricultura vem evoluindo desde a Primeira Revolução 
Agrícola do Neolítico, há cerca de 10.000 anos. Entretanto, é no pós-guerra que se estrutura a 
complexa relação dos elementos presentes no meio rural e se acirram discussões no âmbito 
político (e acadêmico) que se desencadeiam através dessas relações, como a manutenção das 
políticas de reforma agrária, os subsídios concedidos ao agronegócio e a viabilidade da agri-
cultura familiar.
Tudo isso acontece a partir das políticas adotadas pelo Brasil, que privilegiavam um modelo 
de modernização do campo guiado pela Revolução Verde. 
Portanto, você deve entender que a modernização da agricultura foi “comandada” ideologi-
camente pela Revolução Verde. Alguns autores usam os dois termos (Revolução Verde e moder-
nização da agricultura) como sinônimos. Fato é que ambas foram responsáveis pela agricultura 
moderna tal qual a conhecemos nos dias atuais, que segue um modelo baseado no uso intensivo 
de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, uso de maquinário agrícola pesado, sementes híbridas, 
irrigação, entre outros.
Para se compreender o atual estágio da agricultura moderna e sua territorialização no Bra-
sil, é preciso levar em consideração toda uma gama de fatores históricos, econômicos e técnicos 
que se desenvolvem no âmbito mundial. Assim, como salientado anteriormente, nos remetere-
mos ao fim da Segunda Guerra Mundial, quando se inicia a construção do contexto que permite 
a territorialização e desenvolvimento da Revolução Verde nessa escala.
Nesse período, grandes empresários perceberam que a tecnologia da indústria química, 
mecânica e da biotecnologia poderiam ser direcionadas para a agricultura. Assim, as funda-
ções Ford e Rockfeller, o banco Mundial, entre outros, foram encarregados de sistematizar o 
processo. Montaram a rede mundial GCPAI – Grupo Consultivo de Pesquisa Internacional – 
que é, na realidade, o somatório de centros de pesquisa e treinamento localizados em todo 
o mundo.
GloSSáRIo
Revolução verde: 
Consistiu na revolução 
das técnicas agrícolas 
modernas que fazem 
parte do processo de 
modernização da agri-
cultura.
Modernização da agri-
cultura: Processo de 
transformação da base 
técnica da produção 
agropecuária no pós-
guerra, as modificações 
intensas da produção 
no campo e das rela-
ções capital x trabalho.
22
UAB/Unimontes - 5º Período
Começaram a investir, então, em técnicas para o melhoramento de sementes, denominadas 
Variedade de Alta Produtividade (VAP), no México e nas Filipinas. Dentre as sementes, destacam-
se o trigo, o milho e o arroz, que são a base da alimentação da população mundial. 
Alguns autores consideram que a Revolução Verde é um jeito capitalista de dominar a agri-
cultura. Essas são as reais intenções das grandes empresas, ao adotar essa ideologia para atingir 
o processo de modernização, como o conhecemos na atualidade. A maximização do lucro atra-
vés da monopolização de fatias cada vez maiores do mercado e a aquisição de royalty por inter-
médio dos pacotes tecnológicos criaram um círculo de dependência para o agricultor que adqui-
re os pacotes tecnológicos produzidos pelas transnacionais.
O importante nesse conceito é destacar a abrangência das pesquisas realizadas em vários 
campos do conhecimento e também a ousadia em desenvolver “receitas” que poderiam ser 
adaptáveis a qualquer região. Os que acreditam nessa proposta não levam em consideração as 
diversas particularidades socioambientais e territoriais presentes no mundo. 
Entretanto, pode-se observar que o processo de modernização da agricultura vai muito 
além de uma mudança técnica, e sua territorialização foi possível graças a um conjunto de mu-
danças sociais, políticas e econômicas. 
Aqui cabe evidenciar que, no Brasil, ela foi dividida em fases nos estudos de Graziano da 
Silva (1996). A primeira se restringe à transformação da base técnica, induzida e estimulada pelo 
governo e empresas norte-americanas. A segunda fase caracteriza-se pela industrialização da 
produção rural com a implantação da indústria de bens de produção e alimentos. Na terceira 
fase, ocorre a plena integração entre a agricultura e a indústria. E, por último, ocorre a integração 
de capitais (industriais, bancários, agrários) sob o comando do capital financeiro. 
Podemos afirmar que o país territorializou a modernização da agricultura porque buscava 
o desenvolvimento. A ideologia do desenvolvimento tinha um forte caráter economicista nesse 
período histórico (décadas de 1950 e 1960). Como o campo era visto como o atraso frente ao 
progresso representado pela sociedade urbano- industrial, tal processo foi a forma “encontrada” 
pelo estado de transformar essa realidade. A partir de então, legitimou-se o ideal da corrente crí-
tico-conservadora (baseada nos princípios da economia neoclássica) que pensava o desenvolvi-
mento sob três eixos: terra, trabalho e capital. Como o país já dispunha dos dois primeiros itens, 
foi aplicado capital no campo. 
Assim, a modernização do campo brasileiro foi idealizada sobre os princípios da Revo-
lução Verde, da modernização territorial (construção de vias de circulação de pessoas, mer-
cadorias e informações) e para a transferência setorial da renda, tudo isso sob forte égide do 
Estado, que financiou, via política pública, os latifundiários em detrimento da população do 
campo. 
Para Graziano da Silva, a modernização da agricultura foi conservadora e dolorosa. Con-
servadora porque beneficiou um grupo de produtores (latifundiários) e certas áreas do país, 
e dolorosa devido às contradições sociais geradas pela expansão do capital. O resultado foi o 
aumento da concentração de terras e renda e a desterritorialização da população do campo, 
que passa a ser mão de obra para a indústria e a engrossar a massa dos movimentos socio-
territoriais.
A produção do espaço brasileiro, nesses moldes, vai trazer algumas mudanças para o 
território. Primeiramente, as regiões que se modificaram mais intensamente são as regiões 
Sul e Sudeste e, em seguida, a região Centro Oeste, a qual presencia uma recente reconfigu-
ração em seu território, com o surgimento dos belts modernos, como também o surgimento 
de um novo front.
Nesse sentido, o 
processo de moder-
nização da agricultu-
ra vai reconfigurar a 
produção do espaço 
brasileiro e unir o 
que o capitalismo, 
em seus primórdios, 
separou: a indústria e 
a agricultura. 
Para Oliveira 
(1985), a industriali-
zação da agricultura 
GloSSáRIo
Belts: São grandes 
propriedades agrícolas 
que possuem as carac-
terísticas do processo 
de modernização da 
agricultura.
Fronts: Frente pioneira 
do processo de ocupa-
ção do espaço através 
da agricultura no país. 
A abertura dessa nova 
fronteira agrícola vai ser 
executada pela grande 
empresa como apoio do 
Estado.
Figura 5: Utilização de 
máquina e insumos 
agrícolas
Fonte: Disponível em 
<http://www.brasilescola.com>. Acesso em 26 set. 
2014.
►
23
Geografia - Geografia Rural
(CAIs – Graziano da Silva e Kageyama) acarretou profundas transformações acerca da estrutura 
agrária nacional. Uma delas está no âmbito da “escolha” dos produtos a serem cultivados, com-
modities como a soja (principalmente em áreas de Cerrado), milho, algodão e arroz. Logo depois, 
a cana-de-açúcar, que também terá expansão no seu cultivo devido aos incentivos do Proálcool.
Tendo como premissas dar um “ar” de modernidade às velhas formas de exploração do es-
paço agrário, começou a ser usado no Brasil, nas duas últimas décadas, o termo “agronegócio”. A 
concepção deste termo difundida por vários países veio a ser incorporada ao discurso e às análi-
ses de alguns estudiosos, a partir da década de 1980 e associada ao termo Complexo Agroindus-
trial. Desde então, propagou-se o termo agronegócio no território brasileiro, para caracterizar a 
racionalidade do processo produtivo capitalista no campo. 
Alguns autores argumentam que, após a década de 1990, a dinâmica do espaço agrário 
aponta para a leitura e interpretação dos complexos agrobioindustriais, tamanha a relevância da 
biotecnologia, no tocante ao registro de patentes que têm aprofundado as disparidades regio-
nais e diferenças entre segmentos e produtores. Há, ainda, aqueles que chamam esse novo pe-
ríodo (década de 1990 e 2000) da agricultura científica, onde os avanços técnicos da biogenética 
(biotecnologia) comandam um novo momento do processo modernizante.
Fato é que o agronegócio é uma versão contemporânea do capitalismo no campo, corres-
pondendo a um modelo no qual a produção é organizada a partir de aparatos técnico-científi-
cos, grandes extensões de terras, pouca mão de obra, predomínio da monocultura, dependência 
do mercado no quanto e como produzir, enfim, as empresas rurais. Para o Estado esse é o mo-
delo que fez prosperar e desenvolver o campo brasileiro, porque contribui com o PIB (Produto 
Interno Bruto), responsável pelo crescimento da economia, empregos e produção de alimentos.
O discurso dos “ganhos” com a produtividade da produção agrícola (do agronegócio) des-
viam os “olhares” dos impactos ocasionados pelo sistema moderno nos biomas, para os trabalha-
dores e a sociedade de um modo geral. 
2.3 A Revolução Verde e o Cerrado 
no Contexto do Desenvolvimento 
Agrário Brasileiro
No tocante ao Cerrado, ao longo das últimas cinco décadas, esse foi o bioma mais afetado 
com a modernização agrícola. Em contrapartida, esse bioma é um conjunto de inestimável rique-
za biológica, composto por várias fisionomias. 
É o maior bioma brasileiro após a floresta Amazônica, ocupando uma área de aproximada-
mente 2.000 km², correspondendo a 24% do território nacional.
A área de abrangência deste domínio engloba desde o Amapá e Roraima, em latitudes ao 
norte do Equador, até o Paraná, abaixo do trópico de Capricórnio. No sentido longitudinal, ele 
aparece desde Pernambuco, Alagoas, Sergipe, até o estado do Pará e Amazonas, com enclaves 
dentro da floresta Amazônica (Embrapa, 2003). 
O cerrado ocupa uma posição de destaque não só pela extensa área, mas também por sua 
biodiversidade, em grande parte ainda desconhecida. Sendo caracterizada como uma vegetação 
de solos pobres, com predominância de latossolos e areias quartzozas.
De acordo com Chagas (2003), o Cerrado é reconhecido nacionalmente como sendo o pai 
das águas do Brasil, pois é nele que se encontra o nascedouro das principais bacias hidrográficas 
do continente sul-americano - a amazônica, a platina, a San-Franciscana, e das oito bacias hídri-
cas brasileiras somente as bacias do Uruguai e do Atlântico sudeste não derivam desse bioma.
No Mapa 1, apresentamos a localização do cerrado no cenário nacional, evidenciando sua 
abrangência e interfaces com outros tipos de vegetação encontrados no Brasil.
Pode-se inferir, a partir do mapa, que o Cerrado ocupa grande parte do território brasileiro, 
constituindo um complexo mosaico de ecossistemas, detentor de grande heterogeneidade, bem 
como o Cerrado stricto sensu, o cerradão com os campos de altitude, campo limpo e campo sujo, 
as matas de galeria e veredas.
dICA
entenda mais sobre 
Agronegócio A noção 
de agribusiness foi 
desenvolvida, ini-
cialmente, nos eUA e 
definida como sendo:
“A soma de todas as 
operações envolvidas 
no processamento e 
distribuição de insumos 
agropecuários, as ope-
rações de produção na 
fazenda, e o armazena-
mento, processamento 
e a distribuição dos 
produtos agrícolas 
derivados” (DAVID e 
GONDELBERB, 1957, 
p. 3).
Esta definição gene-
ralizou a utilização do 
termo agribusiness para 
explicar a crescente in-
ter-relação setorial entre 
a agricultura e a indús-
tria. Para esses autores, 
o termo contemplaria 
as funções que eram 
dadas à agricultura há 
150 anos (MARAFON, 
2011, p.49).
dICA
Quando falamos em 
“Cerrado stricto sensu” 
estamos nos referindo 
apenas às formações 
savânicas, já o termo 
“Cerrado lato sensu, tra-
ta-se de todo o bioma 
cerrado.
24
UAB/Unimontes - 5º Período
O Cerrado é realmente um bioma inigualável em todas as dimensões. Estimativas apontam 
que há cerca de seis mil espécies de árvores, muitas utilizadas na produção de artesanato, uso 
medicinal e alimentício, além de outros usos; oitocentas espécies de aves e trezentas espécies de 
peixes. Calcula-se que mais de 405 das espécies lenhosas e metade de abelhas deste bioma são 
endêmicas. De gramíneas, existem cerca de cinco centenas, sendo a grande maioria endêmica da 
região.
No que concerne a invertebrados, estima-se que o Cerrado abranja 14.422 espécies, repre-
sentando 47% da fauna do Brasil, 195 espécies de mamíferos, sendo 18 endêmicas (SILVA, 2000). 
Dadas estas características, estima-se que o Cerrado seja responsável por 5% da biodiversidade 
mundial. Ainda é ressaltado que a espacialização do bioma Cerrado reside no fato de ele ter “pas-
sado por vários climas, solos, adaptando-se a múltiplos ambientes; tal fato se apoia na explicação 
de que o Cerrado, no último período glacial, teria avançado sobre as florestas e, que nesse perío-
do interglacial, ele teria se consolidado no domínio fitogeográfico e morfoclimático numa área 
contínua da região central do território brasileiro”. 
É inegável que os valores econômicos propiciados pela ocupação do Cerrado tenham torna-
do o país mais competitivo interna e externamente, levando o Brasil a produzir safras recordes de 
grãos anualmente. Mas também é necessário que se faça uma análise da conjuntura ambiental a 
que foi submetido esse bioma, ao longo das cinco últimas décadas. 
A ocupação “racional”, paulatina e indiscriminada das áreas de Cerrado, foi viabilizada pelo 
desenvolvimento do capital internacional e financeiro, no qual a estrutura produtiva do país se 
estabeleceu segundo padrões do capital mundializado, a partir da década de 1970, reforçando o 
poder político-econômico das empresas agroindustriais. Através do Sistema Nacional de Crédito 
Rural (SNCR, 1965), efetivou-se a adoção de políticas públicas que viabilizaram a modernização 
agrícola. O SNCR se apresentou como potencial instrumento de política agrícola do país, sendo o 
período de 1970 a 1980, marcado por grandes financiamentos, investimentos e comercialização, 
objetivando operacionalizar a ocupação das áreas cerradeiras. 
Dessa forma, o processo de expropriação e apropriação do Cerrado, inserido no contexto agrá-
rio, evidencia uma estrutura fundiária agroindustrial em expansão. Martin (1985) esclarece que
dICA
Aprofunde os estudos, 
assistindo ao vídeo: 
“Cerrado das mil ma-
ravilhas”, disponível na 
sala de Geografia Rural. 
GloSSáRIo
SnCR: Política rural 
adotada no período 
da ditadura militar 
brasileira. 
Figura 6: Mapa 1 - Tipos 
de vegetação do Brasil
Fonte: Disponível em 
<http://www.guianet.com.
br/brasil/mapavegetacao.
htm>. Acesso em 21 out. 
2010.
►
25
Geografia - Geografia Rural
A chamada modernização da agricultura brasileira modificou a fisionomia, a cul-
tura e a vida danação. Criou o país de miséria no meio da riqueza e da fartura, 
agravou-se a fome. É um país em que as estatísticas retratam, mas não revelam 
(MARTIN, 1985, p.23).
Além de uma velada desi-
gualdade social, o desrespeito 
à natureza foi o fator que mais 
chamou a atenção devido ao 
seu rápido crescimento, não 
respeitando a biodiversidade 
do Cerrado. Como podemos 
observar, o Mapa 2 retrata a 
área original do Cerrado exis-
tente na década de 1960, en-
quanto o Mapa 3, a evolução 
atual do desmatamento, o Cer-
rado resistiu a cinco séculos de 
convivência entre o homem e a 
natureza, mas não resistiu a cin-
co décadas de “desenvolvimen-
to” intenso do capital no campo.
Ao longo das últimas dé-
cadas, pequenos produtores 
rurais, remanescentes de qui-
lombos, índios, populações tra-
dicionais que se conjugam no 
que chamamos aqui de agricul-
tura familiar foram e vêm sendo 
expropriados de suas terras em 
função da necessidade de apro-
priação de novas terras pelo 
capital hegemônico industrial. 
Para Martin (1985), “o mito da 
‘modernização’ e as novas teias 
internacionais que são urdidas 
irracionalmente, evidencia-se 
em tal amplitude na louca aven-
tura de ocupação dos Cerrados 
brasileiros”. 
Esta ocupação foi gestada no período da ditadura militar brasileira, quando, na visão geopo-
lítica dos militares da época, a Amazônia e o Cerrado eram considerados “Vazios” – Vazios econô-
micos e Vazios de gente. 
De acordo com Dayrell (2000), os solos dos Cerrados foram considerados estéreis, mas com 
uma topografia excelente para a mecanização, investindo-se nacionalmente em ciência e tecno-
logia para tornar esses solos produtivos, visando à produção de grãos, café e cana; produtos con-
siderados nobres por fazerem parte da pauta da exportação brasileira. 
A terra é, então, transformada em mercadoria, assumindo um caráter de renda capitalizada, 
modificando a base produtiva de milhares de camponeses, alterando o seu modo de vida e suas 
especificidades socioculturais (como discutido anteriormente).
Segundo Martin (1985), o Cerrado foi considerado propício ao modelo capitalista da agricul-
tura suicida. 
Através do polo centro de projetos, o governo Federal permitiu que fazendas e mais fazen-
das fossem abertas, despertando, desse modo, a atenção de milhares de desempregados de to-
das as regiões agrícolas do país, desempregados esses que eram os próprios expropriados pelo 
processo de industrialização da agricultura. 
A partir de então, o Cerrado se modernizou. Chegaram as usinas siderúrgicas, que têm o car-
vão como base energética, dizimando a vegetação numa extensão e agilidade nunca vistas em 
qualquer bioma brasileiro. Pessoa (2006) acrescenta que 
ATIvIdAde
Faça uma análise crítica 
e descritiva entre os ma-
pas 2 e 3. Depois deixe 
suas análises no fórum 
de discussão.
GloSSáRIo
Populações tradi-
cionais: Agricultores, 
camponeses, coletores 
extrativistas, pesca-
dores e garimpeiros 
artesanais, os quais 
são detentores de um 
conhecimento construí-
do secularmente, que é 
repassado de geração 
em geração.
◄ Figura 8: Mapa 3 - Área 
de Cerrado desmatado
Fonte: Disponível em 
<www.conservation.
org.br>. Acesso em 07 
ago.2014.
◄ Figura 7: Mapa 2 - Área 
de Cerrado original.
Fonte: Disponível em 
<www.conservation.org.
br>. Acesso em 7 mar. 
2014.
26
UAB/Unimontes - 5º Período
(...) no decorrer das décadas de 1970 e 1980, a economia brasileira caracterizava-
se por inflação alta e grandes investimentos, em especial no mercado de terras, 
de tal forma que o Cerrado mineiro tornou-se ’locus’ dessa valorização de terras, 
que beneficiou, sobretudo, os grandes proprietários, que procuravam essa área 
para nela estabelecerem novos investimentos (PESSOA, 2006, p. 136).
Considerando-se o dinamismo econômico do país, há que se somar a política de compra e 
venda de terras. Segundo Brito (2006), a política que originou a monocultura nasceu na ditadura 
militar-empresarial, inserida na esfera da internacionalização da economia brasileira. Em Minas 
Gerais, este processo foi explicitado na década de 1970 com o modelo mineiro descrito por Brito 
apud Dulci (2006).
Com a internacionalização da economia brasileira fomentada desde Kubitcheck 
pela atração de companhias estrangeiras e sua associação com parceiros domés-
ticos, a referência econômica e política dos setores empresariais mineiros que se 
inseriram no processo deixaria de ser basicamente regional: seria nacional com 
interfaces internacionais. Isso não surpreende em vista do modelo de industria-
lização adotado, cujos pilares básicos eram o Estado e o capital externo. A pers-
pectiva regional não desapareceu, sem dúvida, mas se tornou adjetiva para os 
ramos oligopolistas produtores de bens intermediários (aço, cimento, minérios, 
etc.) e provedores de serviço de infra-estrutura (energia, construção pesada) que 
se colocam em posição dominante com o avanço da estratégia de especialização 
industrial de Minas (BRITO apud DULCI, 2006, p.230).
Portanto, além da concentração fundiária já existente, geralmente explicada tanto pela origem 
histórica brasileira, como pelo impedimento do acesso à terra de forma igualitária. Nesta perspectiva, 
a população local é impedida de continuar a usar a terra como estava habituada a fazê-lo; há, assim, 
rupturas entre o seu universo sociocultural em função da racionalidade modernizadora operante. Os 
reflorestamentos, juntamente com a expansão da pecuária extensiva, podem ser considerados gran-
des pivôs da eliminação da pequena propriedade, em vista da utilização das terras antes destinadas à 
agricultura de sustentação e às chamadas terras livres para reflorestamento e pastagem. 
Esse processo de modernização foi responsável pela formação de mercados locais de insu-
mos para sustentar a agricultura moderna e para o desenvolvimento e adaptação tecnológica do 
material genético. Dessa forma, a relação entre a indústria e a agricultura brasileira passou por 
diversas transformações significativas, com impactos na produção agrícola, no seu modo de pro-
duzir, organizar e comercializar, acelerando a passagem da forma predominantemente “atrasada” 
de produção, como foi denominada a agricultura de base camponesa, para outra que, cada vez 
mais, consome insumos industriais - a de matriz agroindustrial, tornando irreversível o processo 
modernizador da industrialização agrícola. 
Com isso, as ralações de trabalho/capital no campo tiveram que mudar para se “adaptarem” 
à nova realidade econômica do país. Os camponeses que, de alguma maneira, não se inseriram 
no novo cenário agrícola migraram para as cidades em busca de melhores condições de vida. No 
entanto, o mercado de trabalho na área urbana era bastante exigente, e estes, por sua vez, passa-
ram a ocupar as áreas marginais das cidades, sob péssimas condições de sobrevivência.
O desempenho da modernização agrícola, a saber, está associado ao papel do Estado. Oli-
veira (1996) pontua que:
(...) estimular a expansão das indústrias por meio de vários incentivos como o 
crédito agrícola; fundo de apoio ao desenvolvimento da agroindústria; apoio 
jurídico e financeiro a empresarialização das cooperativas através da legislação 
especial de linhas de crédito cooperativo; seguros agrícolas; preços mínimos; as-
sistência técnica e apoio à pesquisa; assegura-lhes mercados por meio da políti-
ca de financiamento rural (OLIVEIRA, 1996, p. 32).
O tripé indústria-agricultura-terra sofreu profundas modificações, consequência da opera-
cionalização agrícola apoiada no uso intensivo da mecanização (tratores, colheitadeiras e outros 
implementos), adubação química, uso de corretivos dos solos, defensivos agrícolas e pesquisas 
biogenéticas. Além disso, há ainda a introdução de métodos de gerenciamento industrial e cria-
ção de infraestrutura de comercialização (selos, armazéns, frigoríficos, transportes). 
Nesse sentido, a agroindustrialização, apesar de dinamizar o fluxo de relações nacionais 
e internacionais, provocou alterações na distribuição setorialda população ativa, agravando o 
problema do desemprego, aumentando a concentração fundiária, flexibilizando o trabalho e 
intensificando os problemas ambientais e sociais no meio rural.
dICA
O autor afirma que a 
lógica agrícola segue 
estratégias de manu-
tenção do equilíbrio 
de poder e dos lucros 
do sistema capitalista. 
O ponto central dessas 
estratégias previa a 
implantação de mo-
delos monocultores e 
dependentes nos países 
produtores periféricos, 
enquanto o controle da 
tecnologia e comerciali-
zação ficava a cargo dos 
países centrais.
27
Geografia - Geografia Rural
Esse modelo de modernização, implantado na agricultura pelo governo federal por volta da 
década de 1960 e as que se seguiram, configurou uma série de mudanças na base técnica de 
produção agrícola, representando a passagem do chamado complexo rural para a dinâmica do 
complexo agroindustrial. Segundo Dayrell (2000),
A ocupação recente dos Cerrados, provocada pela expansão das relações capita-
listas no campo, visto como a última fronteira agrícola pelas elites brasileiras vem 
colocando em xeque a sustentabilidade deste bioma e provocando um processo 
de miserabilização de suas populações, acentuando os desníveis sócioeconômi-
cos, a concentração de terras, associados com a degradação dos seus recursos 
naturais: solo, água, flora e fauna (DAYRELL, 2000, p.191).
Nesse contexto, o Cerrado representou o cenário propício ao desenvolvimento almejado 
pela política econômica em meados da década de 1970. Grandes empreendimentos agro-indus-
triais foram implantados, a fim de sustentar o novo modelo econômico que passou a direcionar o 
rumo da agricultura brasileira.
A partir dessas inovações na agricultura, segundo Oliveira (1996), não se pode mais consi-
derar a agricultura como “grande setor” na economia, uma vez que grande parte das atividades 
agrícolas está sendo agora integrada à matriz de relações interindustriais, sendo seu funciona-
mento determinado de forma conjunta. Pode-se dizer que hoje não existe apenas uma agricultu-
ra, mas vários complexos agroindustriais.
Inicialmente, houve um aumento da produção, expandindo diversas empresas agroindus-
triais. Não muito depois, as consequências começaram a ser visíveis: as espécies novas de trigo 
e milho tinham menor valor nutritivo e eram mais sujeitas às pragas; os latifundiários, ao con-
trário dos camponeses, foram beneficiados com os investimentos de organismos internacionais 
colocando em concorrência os produtos biotecnológicos com os de base agroecológica, retiran-
do-lhes seus mercados, colocando-os à margem da produção, conferindo-lhes um alto índice de 
miséria e quase nenhuma solução para suas lutas e dificuldades.
Martin (1985) descreve esse quadro que passou a caracterizar os camponeses ‘excluídos’ 
pelo capital:
A Revolução Verde chegou ao estranho paradoxo de produzir simultaneamente 
mais comida e deixou mais gente com fome. Com as novas variedades mágicas 
de sementes selecionadas, a produção subiu vertiginosamente. Subiu na terra 
dos agricultores maiores e mais abastados, dos que tinham acesso a crédito e, 
portanto, melhores sementes pesticidas, sistemas de irrigação e mecanização. 
Na medida em que a produção aumentava, os preços baixavam e o mesmo 
acontecia com a renda dos lavradores pequenos e marginais. Sufocados pela 
carga de dívidas, milhares de pequenos fazendeiros venderam ou simplesmente 
perderam suas propriedades, juntando-se às fileiras cada vez mais numerosas 
dos pobres rurais sem-terras. As estatísticas mostravam crescimento econômico, 
mostravam até aumento da produção agrícola. O que não mostravam era o sub-
desenvolvimento sócio-econômico ativo (MARTIN, 1985, p. 18).
Frente a essa abertura agrícola fundiária e industrial, o Cerrado, de um modo geral e com 
destaque para o norte-mineiro, integra-se à produção agroindustrial, ao passo que as apropria-
ções de suas áreas, intensificadas na década de 1970 e 1980, foram destinadas a grandes proje-
tos de irrigação, como o Projeto de Colonização do Jaíba, plantio de eucalipto e diversas outras 
monoculturas como o algodão, expressivo nos municípios de Porteirinha, Mato Verde, Monte 
Azul e Espinosa, e a pecuária extensiva. Segundo Feitosa e Barbosa (2006), a partir do final dos 
anos 1990 e início do século XXI, observou-se na região norte-mineira a penetração de novas for-
mas de luta pela posse e uso da terra.
Portanto, o universo agrário brasileiro passou e vem passando por profundas transforma-
ções de ordem política e socioeconômica, levando à exclusão da posse de terra milhares de 
camponeses, aumentando o êxodo rural e os conflitos rurais. Dayrell (2000) apresenta de for-
ma clara e objetiva a realidade agrária do camponês, desde o início da agroindustrialização até 
os dias atuais:
(...) o geraizeiro se vê obrigado a enfrentar a expropriação da terra e a degrada-
ção dos recursos naturais, fundamentais nas suas estratégias de reprodução so-
cial. Com a chegada das firmas, a população que passa a trabalhar como assala-
riada diminui as compras nas feiras livres e passa a comprar mais nos armazéns e 
supermercados dos produtos com o novo padrão: empacotados ou processados 
industrialmente. O geraizeiro reorienta suas estratégias produtivas, diminuindo 
dICA
A agroecologia é um 
sistema de produção 
agrícola alternativo 
que busca a sustenta-
bilidade da agricultura 
familiar, resgatando prá-
ticas que permitam ao 
agricultor produzir, sem 
depender de insumos 
industriais como agro-
tóxicos, por exemplo. 
Vai além das técnicas 
orgânicas de cultivo, 
pois inclui elementos 
ambientais e humanos 
e é, praticamente, um 
modo de vida que bus-
ca resgatar e valorizar o 
conhecimento tradicio-
nal da agricultura de 
base familiar.
ATIvIdAde
Faça uma análise crítica 
entre a agroecologia 
e a revolução verde, 
levando em conta as 
questões econômica e 
ambiental. Poste suas 
observações no fórum 
de discussão.
28
UAB/Unimontes - 5º Período
o volume da produção de produtos comerciáveis e aumentando a diversidade 
de produtos. Concilia a diversidade da produção agropecuária com a coleta ex-
trativista, agora mais dirigida ao mercado e, principalmente, passa a buscar ou-
tras fontes de renda trabalhando fora como assalariado ou trabalho temporário. 
A falta de alternativas obrigou a que muitos agricultores abandonassem suas 
terras ou então que passassem a trabalhar como bóias-frias em outras regiões. O 
empobrecimento foi visível (DAYRELL, 2000, p.263).
As racionalidades capitalistas incentivadas pelas políticas governamentais acirraram ainda 
mais a questão agrária brasileira e a exploração do Cerrado, com a implantação de empresas de 
reflorestamentos, nas quais essa forma de apropriação da natureza tem determinado um flores-
cimento das áreas desmatadas ecologicamente insustentável. As chapadas foram os terrenos es-
colhidos para a implantação dos projetos “florestais”. Dayrell (2000) diz ainda que o desmatamen-
to destas áreas para o plantio de monocultura de eucalipto serviu como estímulo, num segundo 
momento, à generalização do desmatamento em todas as áreas cerradeiras. A implantação dos 
projetos de reflorestamentos foi viabilizada pelo Programa dos Distritos Florestais.
A expansão dos reflorestamentos ocorreu também através da compra dos direitos de pos-
se de um e de outro posseiro. Dessa forma, havia e ainda há muitos conflitos uma vez que as 
empresas cercam extensas áreas além de seus limites, nas quais moram inúmeras famílias que 
têm sua racionalidade produtiva confrontada pelos eucaliptais e demais monoculturas, como a 
comunidade Vereda Funda, descrita anteriormente.
Dessa forma, pode-se constatar que a ocupação indiscriminada das áreas de Cerrado tem 
sido responsável não só pela degradação física do bioma, como também pela degradação do 
universo sociocultural, presente secularmente nas populações tradicionais, sobretudo na sua in-
ter-relação com a natureza, provocando, sobretudo, inúmeros conflitos rurais que se manifestam 
pela luta incansável

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