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bio.índice 3 1 Pu bl ic aç ão d es tin ad a ex cl us iv am en te a os P ro fi s si on ai s de S aú de • a no 1 • n º 1 nutrição e saúde ne st lé Imunonutrição os resultados da terapia nutricional no Hospital Nove de Julho, em São Paulo Amigo do coração estudos revelam que, usado com moderação, o café tem efeitos positivos Zilda Arns coordenadora da Pastoral da Criança fala sobre benefícios e política da amamentação Os novos alimentos desenvolvidos para atender a sociedade contemporânea CIÊNCIA E QUALIDADE DE VIDA 2 bio.índice Em 85 anos de vida no Brasil, a Nestlé jamais mediu esforços para incorporar os principais avanços em tecnologia de alimentos, gerados por seus pesquisadores e pela comunidade científica mundial. Isso não quer dizer que acreditamos na existência de um “consumidor globalizado”. Para que estas pesquisas se traduzam em benefício da sociedade brasileira é preciso conhecer a fundo sua diversidade sóciocultural e, sobretudo, a singularidade das demandas nutricionais em cada uma das regiões do País. Neste sentido, o relacionamento de mais de meio século que a Nestlé mantém com a Universidade e com associações representativas de médicos, nutricionistas e nutrólogos brasileiros ocupa papel de destaque. Ao patrocinar seus encon- tros e congressos, ao estimular a produção e a divulgação de pesquisas nacionais, a Nestlé aprende a realidade da saúde pública do País e vai ao encontro de uma de suas principais metas: criar valor compartilhado, patrocinando desenvolvi- mento científico com responsabilidade social. Mais do que isso, a estreita convivência com médicos, nutrólogos e nutricionistas, cujo trabalho é pautado pelo compro- misso ético, nos convida a refletir sobre nossas responsabilidades e nos ajuda a desenvolver produtos que contribuam para a saúde e o bem-estar da população brasileira. A revista Nestlé.Bio nasce com a vocação de proporcionar um espaço para troca de experiências sobre o papel da nutrição na promoção da saúde e de inovar no intercâmbio de informações, através de uma publicação que alia o rigor da ciência ao prazer da leitura. O progresso do conhecimento científico se dá com a troca e o sentido de que a prática, gera evolução. Imbuídos deste espírito, fica expresso nosso desejo de contar com a colaboração de nossas leitoras e leitores e conhecer suas visões, sugestões e críticas, para que nossa revista preste, de fato, o tributo que desejamos às realizações de profissionais de saúde de todo o Brasil. editorial ne st lé Rio de Janeiro Rua da Quitanda, 106/3º andar, 20091-005, Centro Telfax: (21) 2104-7400 São Paulo Rua Samuel Morse, 74/10º andar 04576-060, Brooklin Telfax: (11) 5501-1252 www.selulloid.com.br Um tributo à promoção da saúde Ivan F. Zurita Presidente da Nestlé Brasil Direção Editorial: Ivan F. Zurita, Mario Castelar, Márcia Abreu e Vanessa Moreira Consultor Editorial: Claudio Galperin Membros convidados e Conselho Consultivo: Carlos Faccina, Pedro Simão, Adérson Damião e Marcelo Freire Colaboradores: Juliana Lofrese, Thais Manzione, Irene Ribeiro, Kathia Schmider, Márcia Santanna e Daniel Bruin Realização: Selulloid AG Comunicação por Conteúdo Publisher e Diretor Geral: Flavio Rozemblatt Diretor de Conteúdo: Cláudio Henrique Diretor Financeiro: Marcos Lima Diretor de Criação: Rodrigo Rodrigues Gerente-executivo de Canais e Interatividade: Roberto Cassano Gerente-executivo de Entretenimento de Marca: Renato Fagundes Gerente-executivo de Operações: Rodrigo Guimarães Gerente-executivo de Negócios e Atendimento: Cristiano Mansur Editor-executivo: João Marcello Erthal Redação Bio.: Márcia Régis (Editora), Betina Cupello (Diretora de Arte), Renata Leite (Gerente de Projeto), Leandro Misseroni (Diagramador), Sérgio Adeodato, Paulo Henrique Souza, Adriana Pavlova e Marcos Bohe (Repórteres), Alessandra Levtchenko, Eric Brochu, Marcelo Rudini (Fotógrafos), Fábio Corazza (Ilustrador) Produção Gráfica: Marcelo Sá Revisor: Luis Francisco Alves Senne Impressão: Ricargraf Tiragem: 50 mil exemplares A Revista Nestlé.Bio é um produto informativo da Nestlé Brasil destinado a promover pesquisas e práticas no campo da ciência da nutrição, realizadas no País e no exterior, sob os cuidados de um criterioso processo editorial. Alinhada ao histórico papel da Nestlé no apoio à difusão da informação científica, a revista abre espaço para a diversidade de opiniões, que consideramos ser essencial para o intercâmbio de idéias e conceitos inovadores. As declarações expressas na revista não refletem necessariamente o posicionamento institucional da companhia com relação aos temas tratados. intercâmbio ÍNDICE ne st lé 04 palavra O aleitamento materno poderá ganhar, em breve, reforço de lei. Nesta entre- vista, a fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, defende a extensão da licença-maternidade e expõe sua trajetória no campo da saúde materno-infantil. 08 conhecer Por trás de cada alimento desenvolvido pela Nestlé atuam mais de três mil colaboradores científicos, dedicados a pesquisas que criam a interface entre alta tecnologia e as necessidades nutri- cionais impostas por diferentes estilos de vida, cultura e comportamento. 11 dossiê.bio Saúde da Mulher As mulheres requerem uma abordagem nutricional diferenciada em cada etapa da vida. 18 dossiê.bio Prebióticos, Probióticos e Simbióticos Por suas funções imunomoduladoras, nutricionais e protetoras da microbiota intestinal, probióticos, prebióticos e simbióticos ganham, a cada dia, novas aplicações clínicas. 25 calendário O semestre ganha nada menos que dez grandes congressos científicos na área de nutrição e de especiali- dades médicas que desfrutam os benefícios de terapias nutricionais. 26 nutrição e arte Um passeio pelo universo do genial dramaturgo inglês William Shakespeare nos mostra os hábitos alimentares de sua época. 29 ponto de vista A soma de esforços de vários setores da área de saúde é fundamental para enfrentar os desafios que ainda levam as crianças brasileiras ao risco alimentar e nutricional. 30 sabor e saúde A Gastronomia Hospitalar vem se incorporando cada vez mais aos servi- ços de nutrição, com impacto positivo na recuperação do paciente. Cardápios mais sofisticados melhoram o sabor das refeições dos centros médicos e racionalizam o uso de ingredientes sem, no entanto, aumentar os custos. 33 qualidade O exclusivo composto ActiFibras, desenvolvido pela Nestlé, entra na formulação de dois novos produtos: Molico com ActiFibras (nas versões leite em pó e iogurte) e Nesvita. 36 resultado No Hospital Nove de Julho, a imunonutrição ajuda a reduzir o tempo de internação de pacientes críticos. 38 foco O café pode não ser prejudicial aos pacientes que sofrem de hiperten- são ou aos portadores de doença coronariana. Mas as diferentes formas de preparar a bebida influenciam os níveis de colesterol. 40 mesa brasil Nesta edição, viajamos até Recife e Olinda, em Pernambuco, para degustar e conhecer a riqueza nutricional dos pratos típicos que fizeram história até na Holanda. E aproveitamos para apre- ciar o belo pôr-do-sol do Alto da Sé. Prezado profissional de saúde, Este espaço é seu. A cada nova edição da Revista Nestlé.Bio, gostaríamos de contar com seu comentário sobre as reportagens e artigos publicados. Esperamos também conhecer suas experiências de trabalho – práticas em terapias nutricionais e pesquisas de base ou aplicada, que impulsionam os avanços das diversas frentes que compõem, hoje, o campo de trabalho em Nutrição.Queremos que esta seção de cartas abra um canal de diálogo entre os profissionais que atuam no setor, uma troca de experiências da qual também esperamos participar. Afinal, grande parte do trabalho da Nestlé se pauta pelo constante intercâmbio de informações que buscamos manter com a área de saúde por meio de congressos e apoioàs entidades científicas. A Nestlé também faz questão de ouvir os consumidores, com os quais nutricionistas e médicos lidam estreitamente – o que os torna capazes de, melhor do que ninguém, comunicar as necessidades de alimentação, saúde, qualidade de vida e bem-estar daqueles a quem nossos produtos se destinam. Aguardamos suas impressões nas próximas edições. Envie comentários e sugestões pelo e-mail nestlebio@nestle.com.br ou para a Caixa Postal 11.177, CEP 05422-970, São Paulo (SP), com seu nome completo, registro profissional, local de trabalho e cidade de origem. Boa leitura. Equipe Nestlé 42 por dentro Saiba mais sobre os resultados do trabalho da Nestlé em pesquisa de alimentos. 4 bio.índice palavra com amor do seio A fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança defende a extensão da licença-maternidade e expõe a importância de estreitar os laços entre mães e filhos por meio da amamentação texto Paulo Henrique de Souza foto Marcelo Rudini A história de sua vida se confunde com a defesa da saúde e da amamentação. Como foi a evolução desse trabalho nas últimas décadas? Quando comecei a exercer a medicina, formada pela Universidade Federal do Paraná em 1959, falava-se muito pouco do aleitamento materno. O que era ensinado na faculdade sobre alimentação infantil incluía oferta de chá aos recém-nascidos, suco de laranja ou de cenoura com um mês de idade, mingau aos dois meses, sopa aos três e assim por diante. As mamadas deveriam ser dadas de três em três horas. Minha mãe, que amamentou 13 filhos com sucesso, sem se preocupar em dar outros alimentos, ficava horrorizada com minha preocupação sobre horários e complementação alimentar. Segui o exemplo que tive em casa e amamentei meus cinco filhos. Qual é a importância da prática da amamentação? Amamentar é o que existe de melhor para o bebê ser saudável e feliz. Se essa verdade for compreendida pela gestante, sua família e sua comunidade, acredito que há 80% de chances de que o ato vire realidade no dia-a- dia de mães e filhos. É preciso referendar a importância da amamentação exclusiva até os seis meses de idade e de sua continuação até os dois anos ou mais, como suplemento alimentar. Os serviços de pré-natal e parto, o ambiente hospitalar e todo o sistema de saúde devem promover essa atitude, com a participação efetiva dos médicos de família, obstetras, pediatras, nutricionistas, enfermeiros, funcionários e voluntários. Incentivar a amamentação é estimular a qualidade de vida e o desenvolvimento integral dos bebês. E o que impede a incorporação do hábito de amamentar? Primeiramente, a decisão de dar mamadeira por achar que a criança chora de fome. Depois, a crença de algumas mães e avós na mamadeira como a melhor solução. Finalmente, palavra 5 com amor A voz suave revela a mulher, mãe de cinco filhos. Mas o olhar firme e os gestos rápidos, quase inquietos, não escondem a médica pediatra e ativista da área da saúde que, há 25 anos, começou e coordena a Pastoral da Criança. A história de Zilda Arns Neumann, 72 anos, se mistura com a da Organização, hoje presente na África, Ásia e nas Américas. Nesta entrevista à revista Nestlé.Bio, Dona Zilda, como gosta de ser tratada, fala sobre aleitamento materno, uma de suas principais bandeiras de luta. na minha opinião, aparece a falta de envolvimento do sistema de saúde e da família neste processo de cons- cientização. Hoje, no Brasil, já existe a preocupação de qualificar a gestante para o tema. A Pastoral da Criança trabalha nisto continuamente. Uma das estratégias ado- tadas é capacitar nossas voluntárias para formar redes de solidariedade humana. Durante as visitas domiciliares que faz e no Dia Mensal da Celebração da Vida, esse grupo incentiva gestantes e mães a amamentarem seus filhos. Qual é o impacto da amamentação na saúde das crianças? Crianças amamentadas no seio materno têm mais defesas contra doenças porque recebem os anticorpos da mãe. Por isso, têm menos chances de ter diarréia, otites, resfriados e gripes, infecções respiratórias, alergias, cáries e má oclusão dentária, entre outros problemas. O leite funciona como uma vacina para a criança, e é o jeito mais saudável, fácil e barato de alimentar o bebê. O aleitamento materno é um estímulo natural na promoção do desenvolvimento integral da criança, com influência para o resto da vida. A vaidade feminina ainda é um fator que pesa contra a decisão das mães pela amamentação? Ainda persiste o mito de que a amamentação traga “A troca de olhares e carinhos durante a amamentação reforça a ligação da mãe com seu bebê. A cada mamada, o bebê e a mãe vão se conhecendo e gostando mais um do outro. Crianças amamentadas crescem com auto-estima, pois o momento de amamentar é de troca de afeto” > O valor da amamentação Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, bebês de seis a oito meses obtêm, em média, 70% de suas necessidades energéticas no leite materno; bebês de nove a 11 meses, 55%; e entre os que têm entre 12 e 23 meses, 40%. problemas estéticos ou interfira na libido femi- nina. O que acontece é o inverso. A mulher que amamenta se recupera rapidamente do parto, pois aleitar queima mais de 500 calorias por dia. Outra vantagem é que a mãe que amamenta tem menos riscos de desenvolver depressão pós-parto, câncer de mama e de ovário e os- teoporose. O papel do companheiro é muito importante para o sucesso da amamentação. Quando o pai apóia a amamentação, a mãe aleita por mais tempo. Ele pode participar tra- zendo o bebê para mamar, pegando-o no colo para arrotar, para fazer carinho e conversando e cantando com a criança. Muitas mulheres afirmam que gostariam de amamentar, mas alegam que não podem por causa do trabalho. Há como superar este obstáculo? A extensão da licença-maternidade permitiria, à mulher que trabalha, um período mais longo para cuidar da criança. Outros fatores que auxiliam na manutenção do aleitamento materno pelas trabalhadoras são a implantação de creches nos locais de trabalho, que permitem maior proximidade entre mãe e filho, a flexibilização das jornadas de emprego e a criação de locais para retirada do leite materno. Já há alguma proposta legal nesse sentido? Existe uma proposta de projeto de lei (nº 281/ 2005) em trâmite no Congresso, de autoria do Dr. Dioclécio Campos Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, endossado pela Ordem dos Advogados do Brasil e pela Frente Parlamentar de Defesa da Criança e do Adolescente, que beneficia trabalhadoras das empresas privadas com a prorrogação da licença-maternidade até os seis meses. Essa ação já é cada vez mais incorporada por alguns municípios brasileiros, nos quais as funcionárias públicas já desfrutam da licença-maternidade ampliada. O País teria um ganho muito grande se as mães pudessem ficar com as crianças até que completassem seis meses. A criança teria melhor saúde e desenvolvimento integral, pela presença carinhosa da mãe e pela amamentação exclusiva. Depois do período de seis meses, será necessário continuar com a amamentação e complementar com outros alimentos. > Uma vida pelas crianças Zilda Arns nasceu em Forquilha (SC), em 1934. Aos 24 anos, formou-se médica pela Univer- sidade Federal do Paraná. De 1955 a 1964, foi pediatra do Hospital de Crianças Cezar Pernetta, em Curitiba, onde trabalhava com bebês menores de 1 ano. Em 1977, com cinco filhos ainda pequenos, ficou viúva. Em 1979, coordenou o Ano Internacional da Criança no Paraná. Após treinamento em Principles of the Management of Family Planning Programs, na Johns Hopkins University, nos EUA, foi convidada em 1983 pela CNBB e pelo Unicef para iniciar um programa de redução da Mortalidade Infantil por meio da Igreja Católica. Assim começou a Pastoral da Criança, de forma supra-religiosa, suprapartidáriae incluindo todas as raças e etnias. 6 palavra > Legislação A Constituição Federal garante à mulher trabalhadora a licença-maternidade (quatro semanas antes e 12 após o parto) e a garantia de permanência no emprego no período da lactação. As presidiárias também têm assegurado pela lei o direito de permanecer com seus filhos durante o período de amamentação. De forma complementar, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) assegura o direito à creche para que a mulher possa amamentar seu filho, bem como o direito, durante a jornada de trabalho, a dois descansos especiais, de meia hora cada um, para amamentar a criança. De que forma o Governo pode contribuir para que a amamentação se torne uma prática incorporada pela sociedade? Já houve grandes conquistas. A criação do Código do Aleitamento Materno e da licença- gestante, assim como a proibição de distribuir alimentos às crianças menores de seis meses nos programas assistenciais, salvo em situações especiais, são alguns exemplos. Os cidadãos devem exigir que os sistemas de saúde, de educação e de promoção social estimulem e protejam o aleitamento materno. A amamenta- ção deve, inclusive, entrar nos diversos currí- culos de formação de profissionais. Como a Pastoral da Criança começou a tratar o tema da amamentação junto às comunidades? Desde a sua fundação, em 1983, a Pastoral da Criança sempre tratou a amamentação como uma prioridade absoluta. Na experiência- piloto em Florestópolis, no Paraná, incluí o aleitamento materno exclusivo como um dos indicadores de resultados. Os outros são o pré- natal, a vigilância nutricional, o soro caseiro, que revolucionou o País e teve apoio irrestrito da Sociedade Brasileira de Pediatria e dos meios de comunicação, a vacinação completa, de acordo com a tabela do Ministério da Saúde, e a educação infantil. Lembro-me que o indica- dor era de aleitamento materno exclusivo só até os quatro meses completos, porque não queríamos estabelecer uma meta impossível de ser atingida, na época. No entanto, os materiais educativos distribuídos ensinavam e ensinam sobre a importância da amamentação exclusiva até seis meses completos. E como foi a evolução deste trabalho? Com a grande expansão da Pastoral a partir de 1985 e com o apoio do Ministério da Saúde e do Unicef, o número de indicadores de resultados foi ampliado. Hoje, são 27. Os resultados em relação ao aleitamento materno exclusivo são muito bons: em torno de 80% das mães amamentam seus filhos exclusivamente no peito até os quatro me- ses completos. Atualmente, a Pastoral da Criança tem frentes de ação em mais de 48 mil comunida- des em 4.242 municípios. Além disso, mais de 308 mil voluntários trabalham nessas redes de promoção e proteção às crianças. São quase 2 milhões de crianças menores de seis anos e 117 mil gestantes que recebem acompanhamen- to e estímulos para a amamentação. Qual sua opinião sobre os estudos que apontam a inadequação do leite de vaca para menores de um ano? Ao ser dado à criança puro, o leite de vaca po- de provocar pequenas hemorragias gástricas. Crianças menores de um ano alimentadas com leite de vaca, sem adição de ferro, têm muito mais chance de desenvolver anemia ferropriva. A anemia é um problema grave. Mães e médicos devem se esforçar para que as crianças “Quando o pai apóia a amamentação, a mãe aleita por mais tempo. Ele pode participar trazendo o bebê para mamar, pegando-o no colo para arrotar, para fazer carinho e conversando e cantando com a criança” palavra 7 > Bancos de Leite A Rede Nacional de Bancos de Leite Humano do Brasil é a maior do mundo, com 187 unidades. Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), oferece apoio para amamentação e atua na coleta, processamento e distribuição gratuita de leite humano. O Disque Saúde (0800-611997) oferece mais informações às mães interessadas. possam ser amamentadas só no peito até os seis meses; mas em casos raros, quando haja impossibilidade de amamentar, é necessária a orientação do pediatra. Como avalia os bancos de leite materno? Trata-se de uma experiência espetacular tanto para o bebê que recebe o leite quanto para a nutriz que o doa. Os Bancos de Leite Humano são centros de apoio à amamentação. Nesses locais o leite materno é doado, processado e ofertado, também de graça, a determinados recém- nascidos prematuros e lactentes em situações especiais. O Brasil possui a maior rede de Ban- cos de Leite do mundo, com funcionamento regulamentado pelo Ministério da Saúde. E os bancos são, ainda, uma solução para as mães portadoras do HIV, que não devem amamentar e podem recorrer ao leite de nutrizes. 8 bio.índice conhecer A ciência da nutrição se alinha ao estilo de vida contemporâneo texto Adriana Pavlova foto Nestlé Research Center INOVAÇÃO Nas prateleiras de todos os continentes, os produtos Nestlé expressam a porção mais conhecida pelo público da maior empresa mundial de alimentos. Mas é por trás do que informam os rótulos aos consumidores que repousa o universo mais explorado pelos profissionais da saúde: a pesquisa em tecnologia de alimentos que, realizada em colaboração com as instituições científicas de maior renome em diversos países, faz da Nestlé uma referência em descobertas e divulgação científica em nutrição, saúde e bem-estar. E não é de hoje que a empresa assume este papel. Quando a Europa, no período que seguiu a Revolução Industrial, buscava meios de conter a mortalidade infantil, na Suíça o farmacêutico Henri Nestlé administrava pela primeira vez a fórmula da Farinha Láctea, para combater a desnutrição. Hoje, o aumento da expectativa de vida da população impulsiona o conhecimento sobre alimentação funcional. E chegamos aos probióticos, para citar apenas um dos vários caminhos explorados pela Nestlé nesse campo. Produzir alimentos sempre exigiu do homem moderno compreender as necessidades impostas por diferentes estilos de vida, cultura, comportamento e acesso aos produtos. Por isso, a Nestlé fomenta e divulga permanen- temente o resultado do trabalho de 3,5 mil colaboradores científicos de mais de 70 nacionalidades, trabalhando em 17 centros de pesquisa próprios, localizados na América do Norte, Europa, África e Ásia. Do plantio até a mesa do consumidor, todas as etapas percorridas pelo alimento são planejadas pela Nestlé por meio de extensa pesquisa que considera a segurança ali- mentar, as embalagens adequadas para a geração mínima de resíduos e o não-desperdício. Para a companhia, signi- fica oferecer ao consumidor um alimento de qualidade também do ponto de vista social, sensorial e de saúde. No Brasil, a Nestlé instalou a primeira fábrica em 1921, na cidade paulista de Araras, para a produção do Milkmaid – que, mais tarde, seria batizado por Leite Moça. Atualmente, são 26 fábricas e 14 filiais de vendas no País. A disposição da empresa em patrocinar pesquisas e divulgação científica no campo nutricional tem valor incontestável no exercício da ciência local. “Há temas sofisticados que dependem do apoio das empresas, como os estudos sobre alimentos funcionais, compostos bioativos e suplementos nutricionais”, exemplifica Silvia Maria Franciscato Cozzolino, professora do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Universidade de São Paulo (USP). Para a empresa, o apoio vai mais além. A Nestlé é conhecida por incentivar colaborações entre os que pesquisam e aqueles que colocam as descobertas em prática. Mantém estreito relacionamento com o setor acadêmico e com entidades científicas, como a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Associação Brasileira de Nutrologia, a Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e Parenteral e a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição. São parcerias como estas que colaboram para o desenvolvimento de produtosde alta qualidade, fabricados em sintonia com as necessidades nutricionais e o paladar da população brasileira. “A Nestlé desenvolve um trabalho ético e de vanguarda no lançamento de produtos que atendem às necessidades do especialista que prescreve e do paciente que consome”, define José Ernesto dos Santos, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP). Iniciativas de hoje e sempre Um dos marcos do incentivo à divulgação científica pela Nestlé, no Brasil, completa mais de meio século este ano: a 63a edição do Curso de Atualização em Pediatria reuniu, durante uma semana, mais de 2.500 médicos de todo o País. “É uma oportunidade para os profissionais se reciclarem, participando de palestras e discussões sobre diversos temas, entre eles nutrição e gastroenterologia”, avalia o pediatra Marcelo Freire, gerente médico da Nutrição Infantil da Nestlé no Brasil. Ainda este ano, o País entrará na rota do Nestlé Nutrition Institute, criado para fomentar a troca de infor- mações científicas entre profissionais da área de saúde. Um dos eventos científicos organizados pelo instituto é o Nestlé Nutrition Workshop, que acontece duas vezes ao ano. A pediatra Cristina Jacob, chefe da unidade de alergia e imunologia do Instituto da Criança, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, participou do workshop realizado em abril, na Alemanha. “Enquanto para nós, brasileiros, interessa mais discutir a alergia decorrente Vitaminas e micronutrientes: estudo sobre a suplementação de micronutrientes em matérias-primas nacionais Amidos e cereais: estudo sobre o benefício da adição de cereais integrais Frutas: aproveitamento industrial de matérias-primas oriundas da biodiversidade brasileira e aspectos sensoriais e nutricionais Óleos e gorduras: pesquisa de lipídios para Nutrição Infantil e novas gorduras com baixo teor de ácidos graxos trans e saturados Ingredientes funcionais: estudo dos benefícios nutricio- nais da adição de probióticos, fibras alimentares, polifenóis e fitosteróis > Conheça alguns temas novos de interesse para pesquisa da Nestlé Brasil: INOVAÇÃO conhecer 9 do uso de leite, nos Estados Unidos, por exemplo, fala-se mais sobre as alergias ligadas ao amendoim”, ressaltou, particularizando as diferenças entre países. Em pesquisa de campo, destaca-se o apoio da Nestlé aos estudos recentes sobre o efeito dos probióticos na pre- venção da diarréia causada por antibióticos. “Das crianças que se alimentaram com a fórmula contendo probióticos, 35% apresentaram diarréia. Já no grupo que ingeriu o formulado sem probióticos, a incidência do problema foi de 64%”, conta a gastropediatra Naflésia Bezerra Oliveira Corrêa. Durante oito meses, em 2003, ela acompanhou as reações de 157 crianças de Goiânia, com idades de três meses a seis anos. O Departamento de Nutrição Infantil da Nestlé forneceu as fór- mulas utilizadas na pesquisa (metade delas enriquecida com as bactérias Bifidobacterium lactis e Streptococcus thermophilus). O estudo justifica o emprego de lácteos enriquecidos nos pro- gramas de saúde pública. O Nestlé Research Center (NRC), em Lausanne, na Suíça, é o ponto focal das investigações cientí- ficas empreendidas pela companhia para o mundo todo. Inaugurado em 1987, publica, por ano, cerca de 200 estudos, que são aplicados em todos os centros do conglomerado. Apenas em 2004, os estudos do NRC geraram 20 patentes confirmadas e nada me- nos que 268 publicações. O staff soma 656 pessoas, dentre as quais cerca de 300 pesquisadores. Pioneiro em pesquisas com probióticos, o centro foi o responsável pelo seqüenciamento do genoma do La1, contido na linha de produtos LC1 da Nestlé. Esta bactéria láctea, presente em uma série de produtos, principalmente iogurtes, adere às mucosas do aparelho digestivo e promove uma série de benefícios, como o de inibir competitivamente a proliferação de microorganismos patogênicos. É comprovado seu efeito no tratamento da Giardia intestinalis. O NRC é reconhecido pela inovação. Em 2004, lançou o ActiCaf, um ingrediente à base de cafeína que hoje compõe a ActiCaf PowerBar e passou a integrar a dieta de atletas e esportistas amadores interessados em ganhos de performance. O produto promove a absorção mais lenta da cafeína, o que proporciona um prolongamento de seus efeitos estimulantes. Na área de nutricosméticos, a patente do Lacto-lycopene serviu para elaborar o Fermeté, um suplemento dietético que pode ser consumido todos os dias e que possui propriedades antioxidantes, influencia na melhoria dos níveis de colágeno e da elasticidade do tecido epitelial. O Lycopene foi isolado no tomate e, ao ser associado a proteínas do leite, tem a absorção potencializada. Pesquisas recentes confirmam seu valor na redução do impacto negativo da exposição ao sol1. Estudos em andamento incluem ainda a relação dos nutrientes com as taxas de colesterol, os benefícios do consumo equilibrado do chocolate e novas variáveis ligadas à obesidade. > > A toda prova 1 Andreassi M, Stanghellini E, Ettorre A, Di Stefano A, Andreassi L.; Antioxidant activity of topically applied lycopene. Dipartimento Farmaco Chimico Tecnologico, Istituto di Scienze Dermatologiche, Università degli Studi di Siena, Siena, Italy. Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology 2004 January; 18 (1): 52-55 10 conhecer Criado em 1987, o Nestlé Research Center (NRC) está localizado em Lausanne, na Suíça, em um prédio mantido pela Nestlé há 66 anos para pesquisas em alimentos. Atualmente, o NRC é o ponto de partida de estudos que transformam ciência em inovação, fazendo da alimentação uma forma prazerosa de nutrir e proporcionar saúde e qualidade de vida. dossiê.bio 11 A atenção às necessidades nutricionais específicas da mulher e o reconhecimento de fatores de risco particulares para a sua saúde são avanços recentes. Por muito tempo se pensou que a principal diferença fisiológica entre mulheres e homens era simplesmente a habilidade de dar à luz. Mas isto também torna as mulheres mais sensíveis a alguns fatores de risco e patologias ao longo da vida. Por exemplo, a deficiência nutricional de ferro é uma das mais prevalentes no mundo, afetando a saúde de cerca de dois bilhões de pessoas [1]. A necessidade de ferro na dieta para repor as perdas durante a menstruação é bem conhecida por cientistas, médicos e mulheres. Mas o que a maioria das mulheres – e médicos – sabe me- nos é que vários outros nutrientes e ingredientes dos alimentos têm um papel importante na sua saúde - como a vitamina C, que facilita a absorção de ferro. Este artigo oferece uma revisão dos principais tópicos de saúde e nutrição que são exclusivos das mulheres, como saúde reprodutiva, ou que tenham um perfil específico para elas. Este panorama será ofe- recido pela Nestlé.Bio em duas partes. Nesta edição, iremos abordar a saúde reprodutiva e os fatores endógenos e exógenos que afetam as mulheres em suas várias fases de vida. No próximo número serão contempladas a saúde óssea e cardiovascular e doenças neoplásicas, em que o aspecto cronológico é freqüentemente determinante. Estilo de vida e saúde EQUILÍBRIO ENTRE TRABALHO E FAMÍLIA No começo do século XX, as mulheres no mundo ocidental passavam a maior parte do dia no trabalho doméstico. Nos EUA, 44 horas por semana eram empregadas para preparar refeições e lavar a louça. Somando limpeza da casa, lavagem de roupas e cuida- do com as crianças, sobrava pouco tempo para o lazer. As mulheres da classe alta podiam ter filhos criados e cuidar principalmente do planejamento e administração da casa. As mulheres de origens Saúde da mulher mais pobres faziam todo o trabalho da casa, cuidavam das crianças e, às vezes, trabalhavam em fábricas. Nos anos 30, eletrodomésticose alimentos de conveniência se tornaram de uso geral, junto com um aumento na educação superior para mulheres, um melhor padrão de higiene que levou à redução da mortalidade infantil e uma diminuição no tamanho das famílias. Nos anos 70, mais mulheres estavam iniciando carreiras profis- sionais. Novos padrões de alimentação surgiram e o consumo fora de casa aumentou. Nos EUA hoje, com aproximadamente 70% das mulheres trabalhando, o tempo gasto cozinhando segue diminuindo. Mas, em uma recente tendência contrária, a cozinha caseira está res- surgindo, devido ao fato de a nutrição afetar a saúde e poder ajudar a combater a obesidade. Lanches com alto teor de gordura e baixo con- teúdo nutricional reavivaram o desejo por refeições nutritivas mais simples, feitas com alimentos frescos e menos processados. IMPORTÂNCIA DA AUTO-IMAGEM CORPORAL Nossa auto-imagem corporal ou “como nos sentimos sobre nossa aparência” é determinada por fatores psicológicos, sociais, culturais e de saúde. Eles se relacionam principalmente à nossa si- lhueta, nossa pele e ao desejo de permanecermos ativos e em forma à medida que envelhecemos. O aumento da expectativa de vida eleva o risco de doenças crôni- cas. Uma doença como diabetes pode mudar o modo como nos per- cebemos. Para uma mulher, ter sempre que controlar o que come e checar o açúcar do sangue pode ser uma lembrança constante de que algo está errado. Ter que começar uma dieta e um programa de exercí- cios para controlar o diabetes pode ser estressante por si só. Na sociedade de “imagem juvenil” de hoje, o envelhecimento pode afetar a auto-imagem corporal de uma mulher de várias for- mas. Ganho de peso e rugas podem diminuir a auto-estima. O enve- lhecimento está associado a perda de memória, problemas dentais, dossiê.bio ASPECTOS NUTRICIONAIS CLAUDE CAVADINI (BS), RODOLPHE FRITSCHÉ (PHD), BRUCE GERMAN (PHD), ELIZABETH OFFORD-CAVIN (PHD), PATRICIA POLLET (PHD), SYLVIE PRIDMORE (PHD), NESTLÉ RESEARCH CENTER (NRC) visão e audição prejudicadas, mudanças no desejo sexual, começo de osteoporose, perda de mobilidade e maior dependência. A menopausa pode ser estressante devido a problemas de sono, ansiedade e depressão, como também fogachos (ondas de calor), que podem trazer desconforto e constrangimento. Controle de peso: A maioria das mulheres adultas precisa de 1.200- 2.800 calorias/dia para suprir a energia que o corpo necessita, dependendo do seu tamanho e atividade física. Um peso saudável depende do equilíbrio entre ingestão de alimentos e gasto de ener- gia por meio da atividade física. Perda ou ganho de peso resulta de comer menos ou mais calorias do que o nosso corpo precisa para suas funções básicas, mais exercícios. Na equação de controle de peso, temos que queimar 3.500 calorias através do exercício ou comer 3.500 calorias a menos para perder 453 gramas de peso. Pes- quisas sugerem que o local onde a gordura se acumula no corpo tem conseqüências de saúde importantes para adultos. O corpo em “for- mato de maçã” acumula gordura no abdômen e tórax, e em torno de órgãos internos como o coração. O corpo em “formato de pêra” acumula gordura nos quadris e coxas, abaixo da superfície de pele. O tipo maçã representa um risco de saúde maior que a gordura tipo pêra. A relação cintura/quadril (RCQ) fornece uma medida simples da distribuição de gordura no corpo. Estudos epidemiológicos su- gerem que uma RCQ acima de 0,8 em mulheres aumenta os riscos de infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, diabete melli- tus não insulino-dependente, hipertensão, carcinoma endometrial e síndrome do ovário policístico. A RCQ também prediz mortalidade em mulheres brancas e co-varia com outros fatores de risco para doenças, como pressão arterial, colesterol HDL e resistência à in- sulina. Fumo e álcool aumentam a gordura abdominal. Mulheres geralmente têm um percentual mais alto de gordura corporal que os homens, sendo 25% para mulheres de “tamanho normal” versus 15% para homens. Um estudo australiano [2] mostrou que metade das mulheres com mais de 45 anos têm excesso de peso (IMC >25) ou são obesas (IMC >30). A menopausa pode afetar o peso, mas o ganho de peso é principalmente resultado do envelhecimento e diminuição da atividade física. As mulheres preparam a maioria das refeições em casa e podem ganhar peso porque são expostas a mais tentações alimentares. Lanches entre as refeições podem prover um percen- tual alto das calorias diárias, resultando freqüentemente em ganho de peso. Períodos alternados de dieta e excesso de alimentação, um comportamento freqüentemente observado em mulheres, também podem levar a problemas de peso. Somos o que comemos: tipos e quantidades de alimento podem afetar nossa habilidade para man- ter o peso. Alimentos de alto teor de gordura contêm mais calorias por porção que outros alimentos e podem aumentar a probabilidade de ganho de peso, bem como alimentos ou bebidas ricos em açúcar. Recomenda-se comer mais frutas e legumes, e moderar o consumo de alimentos ricos em carboidrato. Exercício vigoroso ajuda a redu- zir a gordura abdominal e diminui o risco de doenças associadas (veja abaixo). Emagrecimento: A maioria das mulheres faz dieta em algum momen- to da vida, às vezes quando ainda são crianças. A maior parte acaba recuperando e ganhando mais peso em 1 a 5 anos. O efeito “sanfona” (ciclos repetitivos de ganhar, perder e recuperar peso) é prejudicial à saúde. Muitas estratégias de dietas estão disponíveis para a perda de peso. Dietas de baixo teor de gordura e alto teor de fibras podem resultar em baixa ingestão de vitaminas A e E, ácido fólico, cálcio, ferro e zinco e ingestão aumentada de carboidratos. A adição de gor- duras essenciais de óleos vegetais e peixe é recomendada. Dietas com alto teor de proteína e baixo teor de carboidratos como a dieta de Atkins recuperaram popularidade. Elas podem levar efetivamente à perda de peso a curto prazo, mas seus efeitos a longo prazo na saúde normalmente são questionáveis por causa das altas quantidades de gorduras não-saudáveis consumidas. Programas de perda de peso (como os Vigilantes do Peso) podem resultar em mudanças de estilo de vida e maior conscientização sobre alimentos. Substitutos de re- feição contêm os principais nutrientes requeridos diariamente; cada porção contém tipicamente entre 200 e 250 calorias e substitui uma refeição. Acompanhamento psicológico pode evitar recaída depois da perda de peso inicial e ajudar a manter o peso. Distúrbios alimentares: Distúrbios alimentares são o resultado de uma combinação de fatores físicos, psicológicos, emocionais, sociais e familiares. Mudança de comportamento requer psicote- rapia ou aconselhamento psicológico junto com atenção médica cuidadosa e apoio nutricional. A anorexia nervosa começa princi- palmente em mulheres adolescentes, mas também afeta os homens. A causa ainda é desconhecida, mas está associada a distúrbios psi- cológicos e auto-imagem ruim. As pacientes se preocupam com sua aparência e podem estar obcecadas pelo seu peso mesmo se ele esti- ver normal. Isto pode induzir comportamentos prejudiciais à saúde, como exercício excessivo e vômito auto-induzido. A bulimia nervosa é um distúrbio alimentar sério, com ciclos de comer em excesso e vômito auto-induzido que pode resultar em morte. 12 dossiê.bio Atividade física: A vida moderna exige pouca energia física e muito do nosso tempo livre é gasto em frente ao computador ou à tele- visão. Precisamos aumentar nossa atividade física para queimar as calorias extras. Vários estudos mostram que o exercício regular re- duz o risco de câncer da mama, ovário e endométrio, provavelmente porque as pessoas que se exercitam tendem a ser mais magras. Pode aliviar a depressão associada à síndrome pré-menstrual e menopau- sa. Treinamento com peso pode ser especialmente benéfico: aumen-ta a massa muscular e a força, até mesmo em mulheres mais velhas, e melhora a qualidade de vida. Também aumenta a taxa metabólica, e assim as mulheres podem comer mais sem ganhar peso. Saúde reprodutiva A saúde reprodutiva governa a vida adulta de todas as mulhe- res. A nutrição tem um papel essencial em dois períodos espe- cíficos: gravidez e lactação. Além destas duas situações bem caracterizadas, ela pode influenciar também o bem-estar das mulheres todos os meses, aliviando os sintomas da síndrome pré- menstrual (SPM). A nutrição também tem um papel ao final do período reprodutivo de todas as mulheres: a menopausa e suas manifestações indesejáveis. GRAVIDEZ E LACTAÇÃO Como mostra a Tabela 1, as recomendações nutricionais para as mulheres levam em conta as necessidades específicas do feto e do bebê. Para a maioria dos nutrientes, a ingestão recomendada aumenta durante a gravidez e a lactação, especialmente em mães muito jovens. Prevenção da alergia: Durante a gravidez e a lactação podem ser tomadas medidas preventivas contra a incidência de alergia no recém-nascido. Doenças atópicas representam um problema de saúde importante e crescente nos países industrializados. A sua prevalência em crianças aumentou consideravelmente nos últimos 30 anos, e assim medidas de prevenção da alergia são extensamen- te usadas. Diretrizes de alimentação profiláticas para prevenir asma e alergia foram estabelecidas, principalmente para crianças com história familiar positiva. Estas diretrizes recomendam ama- mentação exclusiva durante os primeiros 4-6 meses, antes da in- trodução de alimentos sólidos [3]. Porém, o debatido efeito protetor da amamentação não foi provado claramente, como mostram certas exceções. Todavia, é bem aceito recomendar que as mães que estão amamentando evitem o leite de vaca. Estudos sugerem que evitar leite e ovos durante a lactação pode beneficiar algumas crianças recebendo amamentação com alto risco com eczema [4,5]. Alguns estudos indicam que as dietas maternais de exclusão durante o final da gestação também podem beneficiar lactentes com alto risco, mas não há no geral nenhuma evidência conclusiva de um efeito prote- tor durante a gravidez sobre a incidência de alergia em lactentes. De acordo com a hipótese da higiene, o aumento em doenças atópicas está relacionado à redução na exposição a micróbios no início da vida, e assim a uma falta de estimulação da resposta imune celu- Lactentes Crianças Adolescentes Adultos Nutriente unid. 0-6m 7-12m 1-3a 4-8a 9-13a 14-18a 19-30a 31-50a 51-70a >70a =<18a Ferro mg/d 0,27 11 7 10 8 15 18 18 8 8 27 Cálcio mg/d 210 270 500 800 1.300 1.300 1.000 1.000 1.200 1.200 1.300 Fósforo mg/d 100 275 460 500 1.250 1.250 700 700 700 700 1.250 Magnésio mg/d 30 75 80 130 240 360 310 320 320 320 400 Zn mg/d 2 3 3 5 8 9 8 8 8 8 12 Vit D microg/d 5 5 5 5 5 5 5 5 10 15 5 Vit C mg/d 40 50 15 25 45 65 75 75 75 75 80 Vit K microg/d 2,0 2,5 30 55 60 75 90 90 90 90 75 Vit E mg/d 4 5 6 7 11 15 15 15 15 15 15 Vit B1 mg/d 0,2 0,3 0,5 0,6 0,9 1,0 1,1 1,1 1,1 1,1 1,4 Vit B2 mg/d 0,3 0,4 0,5 0,6 0,9 1,0 1,1 1,1 1,1 1,1 1,4 Vit B6 mg/d 0,1 0,3 0,5 0,6 1,0 1,2 1,3 1,3 1,5 1,5 1,9 Vit B12 microg/d 0,4 0,5 0,9 1,2 1,8 2,4 2,4 2,4 2,4 2,4 2,6 Folato microg/d 65 80 150 200 300 400 400 400 400 400 600 Tabela 1: Necessidades de nutrientes para as mulheres ao longo da vida (US Dietary Recommended Intakes - 2000, National Academy of Sciences) CONTINUA>> dossiê.bio 13 lar do tipo TH1 em um sistema de predomínio TH2, como acontece durante a gravidez e no início da vida. Foi relatada a possibilidade de se incluir probióticos na dieta da mãe durante a gravidez para restabelecer o equilíbrio TH1/TH2, protegendo assim da sensibili- zação alérgica [6]. SÍNDROME PRÉ-MENSTRUAL Definição: “A síndrome pré-menstrual (SPM) é caracterizada pela ocorrência cíclica de sintomas físicos, comportamentais e psi- cológicos durante a fase lútea (entre ovulação e menstruação) do ciclo menstrual, que desaparecem em alguns dias após o início da menstruação” [7]. Em algumas mulheres, os sintomas começam imediatamente após a ovulação e desaparecem assim que a mens- truação começa. Prevalência: Estudos relatam que a prevalência (casos novos e pre- existentes com pelo menos um sintoma em uma certa data) de SPM em países ocidentais é de 70-85% de todas as mulheres em idade reprodutiva; 10-15% buscam ajuda médica e, para 2 a 5%, os sinto- mas são graves o bastante para impedir o trabalho e as atividades sociais [8]. A maioria das mulheres com sintomas graves cumpre os rígidos critérios de desordem disfórica pré-menstrual (DDPM). A American Psychiatric Association estabeleceu que o diagnóstico de DDPM requer pelo menos cinco sintomas especificados, com pelo menos um sintoma de humor presente todos os meses. Os sintomas variam amplamente. Algumas estimativas sugerem até 150 varian- tes. Os mais comuns destes incluem os sintomas físicos: ganho de peso, inchaço, sensibilidade nas mamas, dor de cabeça, dor nas cos- tas, diarréia, fadiga e acne; e sintomas mentais: tristeza, irritabili- dade, diminuição de concentração ou má coordenação motora. Como não há nenhum marcador biológico, o diagnóstico é difícil. Este se baseia em questionários, às vezes auto-administrados, que apresen- tam uma série de possíveis sintomas e estimulam a leitora a escolher pelo menos um deles. Feito isso, SPM e DDPM são diagnosticadas por exclusão, após procurar explicações alternativas. Desde os anos 80, a SPM recebe grande atenção da mídia. Isto influencia a maneira como as mulheres percebem seus sintomas e pode significar que algumas pacientes com distúrbios psicológicos ou psiquiátricos que não SPM acabam não recebendo tratamento apropriado, especialmente para DDPM. Vários estudos recentes relatam uma sobreposição entre SPM, DDPM e distúrbios depressivos ou ansiedade subjacentes (9,10). De 79 mulheres que buscaram tratamento para sintomas graves de SPM, só 20% tiveram SPM confirmada com base em vários testes e 81% des- tas declararam que, depois de dois meses de avaliação, os sintomas já não interferiam com suas atividades normais [11]. Etiologia: A origem e os mecanismos da SPM e da DDPM ainda são incertos. Com base em várias hipóteses, a SPM é provavelmente o resultado de uma interação complexa que envolve alterações nos níveis de hormônios sexuais durante o ciclo menstrual, no metabo- lismo e em moléculas neurotransmissoras que agem no cérebro. De fato, a ocorrência cíclica de sintomas segue o ciclo hormonal de perto, particularmente a fase lútea, quando o corpo lúteo secreta progesterona. Uma relação estrógeno/progesterona excessivamente alta durante esta fase poderia ser em parte responsável pela SPM. A SPM está claramente associada à atividade ovariana, uma vez que os sintomas continuam após a histerectomia, desde que a função ovariana seja preservada. Porém, tratamentos com hormônios ou antagonistas hormonais para equilibrar a relação estrógeno/proges- terona deram resultados contraditórios. Além disso, níveis normais de hormônios foram repetidamente detectados em mulheres com SPM, levando à conclusão de que a SPM poderia ser na realidade o resultado de uma resposta anormal a um nível hormonal normal [7]. Como já foi dito, um estado depressivo ou de ansiedade latente é um forte determinante da DDPM, a forma mais grave de SPM. Estudos em animais mostraram que hormônios sexuais estão envolvidos no eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal (HPA), um sistema fisiológico que controla todos os hormônios esteróides e fica desregulado em distúrbios afetivos, como a depressão. Os estrógenos interagem com a serotonina, um neurotransmissor relacionado com sintomas de Gravidez Lactação 19-30a 31-50a =< 18a 19-30a 31-50a 27 27 10 9 9 1.000 1.000 1.300 1.000 1.000 700 700 1.250 700 700 350 360 360 310 320 11 11 13 12 125 5 5 5 5 85 85 115 120 120 90 90 75 90 90 15 15 19 19 19 1,4 1,4 1,5 1,5 1,5 1,4 1,4 1,6 1,6 1,6 1,9 1,9 2,0 2,0 2,0 2,6 2,6 2,8 2,8 2,8 600 600 500 500 500 Nutriente unid. Ferro mg/d Cálcio mg/d Fósforo mg/d Magnésio mg/d Zn mg/d Vit D microg/d Vit C mg/d Vit K microg/d Vit E mg/d Vit B1 mg/d Vit B2 mg/d Vit B6 mg/d Vit B12 microg/d Folato microg/d >> CONTINUAÇÃO DA TABELA 1 14 dossiê.bio depressão. Um nível desproporcional de estrógenos pode aumentar o nível e a atividade da serotonina e pode assim causar um estado depressivo. E, ainda mais interessante, metabólitos de progesterona aumentam a neurotransmissão do GABA (ácido gama-aminobutírico, do inglês “gamma aminobutyric acid”), um sistema inibitório do cérebro que pode aliviar a ansiedade e induzir relaxamento. Toda- via, estudos sobre os efeitos das fases menstruais sobre o estresse e a regulação hormonal HPA concluíram que mulheres com SPM pa- recem ter uma resposta anormal do cérebro à progesterona [12]. Abordagem nutricional da SPM: A nutrição tem um papel no alí- vio da SPM. Ela tem seu lugar ao lado de drogas como inibidores da recaptação de serotonina (SSRI, do inglês “selective serotonin reuptake inhibitors”) e benzodiazepínicos na DDPM ou tratamento com progesterona e diuréticos na SPM. O óleo de prímula (EPO, do inglês “evening primrose oil”) é uma rica fonte de ácido gama-linolê- nico (GLA, do inglês “gamma linolenic acid”), um ácido graxo essen- cial precursor da prostaglandina PGE1, envolvida no processo infla- matório. Foi sugerido que mulheres com SPM seriam deficientes em PGE1 e poderiam responder a tratamento com seu precursor, o GLA. A PGE1 também modula os efeitos de neurotransmissores e do hor- mônio luteinizante, que estimula a ovulação e a produção de pro- gesterona pelo corpo lúteo. Porém, nenhum estudo clínico mostrou convincentemente que o EPO é mais efetivo que placebo no alívio dos sintomas da SPM. Óleo de semente de groselha preta e óleo de semente de borragem (Borrago officinalis) também foram considera- dos pelo seu alto conteúdo de GLA, mas sua eficácia também não foi provada. Sugeriu-se que a deficiência de vitamina B6 seria a causa dos níveis excessivos de estrógeno que causam SPM. Ela também está envolvida na síntese de neurotransmissores. Estudos clínicos bem controlados mostraram pouca evidência de eficácia. Além dis- so, a ingestão regular de suplementos de vitamina B6 pode levar a neuropatia periférica. A ingestão diária recomendada de vitamina B6 para mulheres é 1,5 mg. Este é um valor ótimo, não o máximo. Pessoas que querem tomar doses maiores podem fazê-lo, mas há limites superiores recomendados; neste caso, é seguro ficar abaixo de 50 mg. O magnésio está envolvido em muitos aspectos do meta- bolismo, inclusive o metabolismo de estrógeno no fígado (conjuga- ção enzimática). Se uma mulher tiver deficiência de magnésio, ela pode não metabolizar o estrógeno corretamente. Por outro lado, es- tudos sobre enxaqueca pré-menstrual mostraram que os hormônios sexuais afetam a concentração de magnésio no sangue. Isto levou à hipótese de que mulheres que sofrem de SPM poderiam ter deficiên- cias de magnésio. O magnésio também está envolvido no metabo- lismo de serotonina, em funções nervosas, musculares e vascula- res. Dados clínicos limitados mostraram uma melhoria de sintomas com suplementação de magnésio. Porém, altas doses de magnésio podem causar diarréia e podem afetar adversamente a absorção de cálcio e, portanto, não são recomendadas. O cálcio sanguíneo está inversamente correlacionado com os níveis de estrógeno. Isto signi- fica que, se o nível de estrógeno for muito alto durante a fase lútea, o nível de cálcio é baixo. O cálcio participa de muitos sistemas do cor- po, como ossos, ritmo cardíaco, pressão arterial, coagulação sanguí- nea, função nervosa e muscular, secreção hormonal e função renal. Além disso, há algumas semelhanças entre os sintomas de SPM e de hipocalcemia. Estudos clínicos parecem indicar que a suplemen- tação de cálcio é o melhor candidato até o momento para aliviar a maioria dos sintomas de SPM [13,14]. Algumas águas minerais, como HEPAR ou CONTREX, são boas fontes de magnésio e cálcio. Muitos suplementos herb∑áceos – Dong quai (Angelica sinensis), erva de São João (Hypericum perforatum), yam/inhame mexicano (Dioscorea villosa), actéia ou erva de São Cristóvão (Cimicifuga racemosa), pimenteiro ou árvore da castidade (Vitex agnus-castus) – foram propostos para aliviar a SPM. Porém, nenhum mostrou ser indu- bitavelmente efetivo. Além disso, dados de segurança para muitos suplementos herbáceos ainda não estão disponíveis, especialmente durante a gravidez e a lactação. Nenhum suplemento herbáceo deve ser tomado sem indicação médica [15]. Outras modificações dietéti- cas foram propostas, como reduzir a ingestão de sal e beber líquidos em abundância para prevenir a retenção de fluidos. A redução de café e álcool também pode ser benéfica. Exercício, caminhada, ioga, reflexologia, massagem e todas as estratégias, inclusive relaxamen- to, podem ser úteis para aliviar sintomas, como parte de um estilo de vida saudável. Dadas as dimensões psicológicas e culturais da SPM, alguns nutrientes ou suplementos podem ser efetivos para algumas mulheres e não para outras. Toda mulher deveria tentar várias opções e usar o produto a que melhor se adaptou. MENOPAUSA Definição: A menopausa é o momento em que a mulher tem sua última menstruação. A interrupção permanente da menstruação se deve à perda da função folicular ovariana, quando os ovários deixam de liberar os óvulos. A menopausa espontânea pode acon- tecer em uma ampla faixa de idade, de 40 a 58 anos. No Ociden- te, a menopausa acontece com uma média de idade de 51,4 anos. Apesar do aumento na expectativa de vida, a idade da menopausa dossiê.bio 15 Várias medidas fáceis podem ajudar a lidar com os fogachos: • Vestir em camadas permite remover algumas peças de roupa quando sentir muito calor. • Uma janela aberta, ventilador ou ar-condicionado mantêm o cômodo frio. • Uma bebida fria ao início de um fogacho ajuda a aliviar o calor. • Exercícios regulares, como caminhadas em passos rápidos, podem ajudar a reduzir os fogachos e melhorar o sono. • Relaxamento, ioga, meditação ou respiração rítmica podem ajudar a aliviar os sintomas. • Parar de fumar ajuda, uma vez que o fumo está associado ao aumento de fogachos. Também reduzirá o risco de doenças cardiovasculares, que aumentam após a menopausa. • O consumo de cafeína, álcool e alimentos muito temperados ou picantes deveria ser reduzido, pois eles podem desencadear fogachos. Cada mulher descobrirá quais alimentos particulares ela tem de evitar. > Mudanças de estilo de vida não se alterou. Assim, a maioria das mulheres passa hoje pelo me- nos um terço das suas vidas na pós-menopausa. Durante a transição da menopausa, ou perimenopausa, os ovários começam a produzir menos estrógenos. Também há um aumento de ciclos menstruais ir- regulares e anovulatórios, causando uma queda de progesterona. A transição da menopausa termina com a última menstruação, que só é confirmada após 12 meses de amenorréia. Para a maioria das mu- lheres, a perimenopausa dura aproximadamente quatro anos. Como a SPM, a menopausa também recebe uma abordagem equivocada pela imprensa. Informações inexatas e negativas levaram muitas mulheres a encarar a menopausa como uma experiência negativa ou uma doença, em vez de uma transição para um novo período de vida. Resultados de um grande estudo na atitude de mulheres em relação à menopausa sugerem que a “síndrome pós-menopausa” pode estar relacionada mais a características pessoais que à meno- pausa em si [16]. Sintomas: Durante a perimenopausa, algumas mulheres desen- volvem uma série de sintomas objetivos e subjetivos relacionados a três funções fisiológicas:• Função autonômica e vasomotora: fogachos (ondas de calor), suores noturnos, palpitações. • Função neurológica e psicológica: dores de cabeça, irritabilidade, dificuldade de dormir, perda de memória, depressão. • Função óssea e articular: dor ou rigidez nas articulações, osteo- porose. Fogachos: Fogachos e/ou suores noturnos são as razões mais co- muns para buscar tratamento. Isto se deve em parte à informação negativa sobre menopausa e aos muitos comerciais sobre suplemen- tos contra fogachos. Dores articulares são mais comuns que sinto- mas vasomotores, mas menos mulheres buscam tratamento por causa delas, embora os fogachos sejam temporários e os sintomas ósseos e articulares sejam permanentes e tenham maior importân- cia médica. Após a menopausa, há um aumento no risco de doenças cardiovasculares e osteoporose, para os quais os hormônios sexuais eram protetores. Fogachos duram de alguns segundos a cinco minu- tos e consistem em uma sensação súbita de calor, vermelhidão ou rubor na face e no pescoço, às vezes acompanhada por transpiração. Sua gravidade varia. Para algumas mulheres, eles podem ser muito graves ou freqüentes. Podem ser acompanhados por um aumento na freqüência cardíaca e uma sensação de frio. Quando os fogachos acontecem à noite e são acompanhados por transpiração excessiva, são chamados de suores noturnos. Sua freqüência pode variar de alguns por semana até um ou mais por hora. Em países ociden- tais, fogachos são relatados com uma prevalência de 60-80% [17- 20]. Mulheres asiáticas relatam menos fogachos que as mulheres caucasianas, com uma prevalência em torno de 15%. Dores arti- culares são mencionadas nos primeiros lugares, com 50-56% [21, 22]. A atitude da mulher em relação à menopausa tem uma gran- de influência na freqüência e gravidade dos sintomas. Mulheres que têm uma atitude negativa sofrem mais com os sintomas que as que têm uma atitude positiva. Na maioria dos estudos, como para a SPM, a freqüência e a gravidade dos sintomas são avaliadas usando questionários longos e diretivos, que podem influenciar os resul- tados. A mídia é a principal fonte de informações sobre menopau- sa, acarretando distorção dos fatos e um viés econômico nos paí- ses desenvolvidos. O declínio no nível de estrógeno foi associado aos fogachos. Porém, esta não é uma associação forte: fogachos podem acontecer antes da diminuição de estrógeno, nem todas as mulheres em menopausa têm fogachos e mulheres com IMC mais alto sofrem mais de fogachos. Se a depleção de estrógeno fosse a causa primária, estrógenos liberados do seu tecido adiposo as pro- tegeriam. A concentração absoluta de estrógeno no plasma nem prediz nem está correlacionada com fogachos. Abordagem nutricional da menopausa: Como na SPM, a nutrição de- sempenha um papel aliviando os sintomas da menopausa junto com o tratamento prescrito, como terapia de reposição hormonal (TRH) ou moduladores seletivos dos receptores de estrógenos (MSREs). 16 dossiê.bio Isoflavonas de soja (fitoestrógenos) vêm sendo consideradas como uma alternativa por causa de sua atividade estrogênica potencial. Estudos clínicos indicam resultados contraditórios e insuficientes que nem apóiam nem refutam a eficácia. Trevo vermelho, linhaça e outros fitoestrógenos também são anunciados para alívio de foga- chos, mas não deram resultados claros em estudos clínicos. Alguns estudos mostraram um efeito de suplementos de vitamina E nos fogachos, particularmente em sobreviventes de câncer de mama [23, 24]. A dose recomendada é 800 UI (aproximadamente 500 mg), que é bastante alta comparada à ingestão recomendada de 22,5 UI. Porém, a toxicidade da vitamina E é muito baixa. Normalmente só são observados efeitos adversos com doses muito altas, mas foram relatados alguns casos de efeitos adversos com doses de 800 UI/dia. O uso concomitante de vitamina E e anticoagulantes pode aumentar o risco de complicações hemorrágicas. A maioria dos suplementos herbáceos para o alívio de sintomas de SPM também são anuncia- dos para fogachos e outros sintomas da menopausa. Eles não devem ser tomados sem orientação médica. Referências: 1. WHO, Health Report, 2002. 2. Med J Aust 2000; 173 Suppl 6 November: S100-S 101 3. Schweizerische Gesellschaft für Paediatrie; Ernährungskommission. Empfehlungen für die Saeuglingsnaehrung BMS 1998; 79:1 143-56. 4. Arshad SH et al. Effect of allergy avoidance on development of allergic disorders in infancy. Lancet 1 992; 339: 1494-7. 5. Sigurs N et al. 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Na próxima edição de Nestlé.Bio, a segunda parte deste artigo abordará os aspectos relativos à saúde óssea e cardiovascular feminina, como também a influência que exerce a nutrição em doenças neoplásicas específicas das mulheres. dossiê.bio 17 1. Microbiota intestinal O conjunto de bactérias intestinais que harmoniosamente habita o nosso trato gastrointestinal (TGI), tradicionalmente denominado de flora GI, é hoje considerado um órgão funcionalmente ativo, modernamente chamado de microbiotaintestinal. O número de bactérias aumenta progressivamente do estômago para o cólon, alcançando, neste último, a concentração de 10¹² cfu/ml (unidades formadoras de colônias por ml). Ao todo, convivemos com 100 tri- lhões de bactérias que exercem importantes funções no organismo. No intestino grosso, onde a microbiota intestinal é mais numerosa e diversificada, há cerca de 500 espécies diferentes de bactérias, com nítido predomínio de bactérias anaeróbicas (1.000 anaeróbios para 1 aeróbio). A microbiota intestinal colônica divide-se em microbiota dominante (contagem entre 109 e 1012) — caso do Bifidobacterium —, microbiota subdominante (contagem entre 107 e 108) — o caso do Lactobacillus — e microbiota residual (contagem <107) — onde são incluídos Clostridium, Pseudomonas e Klebsiella [1,2]. A microbiota residual é considerada potencialmente patogênica e é mantida em níveis mais baixos graças à ação inibitória exercida pelas bactérias não-patogênicas como bifidobactérias e lactobacilos. Três funções fundamentais necessárias para a sobrevivência dos seres humanos são descritas para a microbiota intestinal [1-3]: A) PROTEÇÃO: a microbiota intestinal dominante impede a coloni- zação e a proliferação de bactérias patogênicas por meio de vários mecanismos, tais como competição por nutrientes e receptores e produção de bacteriocinas; semelhantemente, bactérias que even- tualmente atinjam o TGI são imediatamente inibidas pela micro- biota intestinal equilibrada. PREBIÓTICOS, PROBIÓTICOS E SIMBIÓTICOS aplicações clínicas ADÉRSON O. M. C. DAMIÃO – PROFESSOR ASSISTENTE-DOUTOR DO DEPARTAMENTO DE GASTROENTEROLOGIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO B) IMUNOMODULAÇÃO: o trato gastrointestinal é o maior órgão linfóide do organismo, contendo células imunológicas que intera- gem com as bactérias intestinais; a interação entre a microbiota intestinal e as células imunológicas presentes na lâmina própria da mucosa intestinal gera um verdadeiro “estado de alerta” do orga- nismo, fazendo com que as células imunocompetentes respondam de forma pronta, eficaz e equilibrada frente a elementos antigêni- cos, nocivos ao organismo. Também a microbiota intestinal normal participa do processo de tolerância oral do nosso organismo [4]. Portanto, graças à microbiota intestinal, o organismo defende-se de agentes agressores (ex.: bactérias, antígenos alimentares etc.) que, quando não devidamente bloqueados, causam doenças e malefícios ao indivíduo. C) BENEFÍCIOS NUTRICIONAIS: as bactérias intestinais são fonte de vitaminas (ex.: vitaminas do complexo B) e agem sobre os hi- dratos de carbono não digeridos no TGI superior formando ácidos graxos de cadeia curta que, como veremos, constituem a fonte ener- gética da célula epitelial colônica [5-7]. Fica claro, portanto, que a manutenção de uma microbiota intesti- nal saudável é fundamental para a saúde do indivíduo. É justamente neste contexto da indução e manutenção de uma microbiota intes- tinal equilibrada que os prebióticos, probióticos e simbióticos as- sumem importância, como veremos a seguir. 2. Conceito Prebióticos são definidos como alimentos não hidrolisáveis no trato gastrointestinal (TGI) superior, que promovem o crescimento preferencial de bactérias intestinais, particularmente as bifidobac- pecial o butirato, constituem o combustível da célula epitelial do cólon (colonócito), sendo responsáveis pela geração de energia para o metabolismo celular [10] (Figura 2). Também há redução do pH colônico, o que reduz o crescimento de bactérias potencialmente pa- togênicas como os gêneros Clostridium e Pseudomonas e favorece o desenvolvimento de bactérias não patogênicas como Bifidobacte- rium e Lactobacillus [11]. Pesquisas têm mostrado que os prebióticos são capazes de pro- mover o desenvolvimento de Bifidobacteria e Lactobacilli e reduzir o crescimento de bactérias patogênicas [12–15]. Estudos nacionais são necessários, uma vez que podem existir variações na microbiota intestinal de um país para outro, principalmente entre nações desen- volvidas e em desenvolvimento [16]. No Brasil, Nóbrega et al. [15], em um estudo duplo-cego, avaliaram a repercussão sobre a microbiota intestinal da ingestão de leite com prebióticos (Ninho Prebio), 2 g/dia, por 21 dias, versus leite sem prebióticos em crianças entre 1 e 4 anos de idade. Os resultados confirmaram a experiência mundial, com au- mento estatisticamente significante do Bifidobacterium (Figura 3). É importante ressaltar que o impacto do prebiótico sobre a micro- biota intestinal existe enquanto o prebiótico é ingerido. Cessada a ingestão, o perfil bacteriano retorna ao padrão que havia antes da ingestão do prebiótico (Figura 4) [13]. térias e os lactobacilos [8,9]. São classificados, do ponto de vista nu- tricional, como fibras dietéticas e são constituídos de carboidratos pouquíssimo absorvidos no TGI superior, como a inulina e a oligo- frutose (Figura 1). Prebiótico Modelo Ingestão (g) Recuperação (g) % Inulina Ileostomia 7,1 6,1 86 Inulina Ileostomia 21,2 18,4 87 Inulina Ileostomia 17,0 15,0 88 Oligofrutose Ileostomia 15,5 13,8 89 Recuperação do prebiótico (inulina ou oligofrutose) na bolsa de ileostomia após ingestão oral. Notar como o prebiótico é pouco digerido e absorvido no trato gastrointestinal (recuperação de cerca de 90%) (ref. 36). Estão habitualmente presentes nas frutas e vegetais tais como ba- nana, trigo, cevada, centeio, aspargo, alcachofra, cebola, tomate, alho e chicória. Seu consumo diário, na Europa, atinge até 11 g/dia, porém, nos Estados Unidos, não costuma ultrapassar 4 g/dia. No Brasil, não temos este valor, mas, provavelmente, deve equiparar-se aos valores norte-americanos. Estima-se que uma ingestão saudá- vel oscile entre 5 e 15 g/dia de prebióticos. No intestino grosso, os prebióticos são eficazmente fermentados por bactérias intestinais gerando ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), como o butirato, o acetato e o propionato. Os AGCC, em es- Fermentação dos prebióticos no cólon e geração de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), com redução do pH intraluminal TGI=trato gastrointestinal. 1. Não são digeridas e absorvidas no TGI superior 2. No cólon são FERMENTADAS: Ação bacteriana Lactato + AGCC + Mudança na Flora + CO2 / H2 + Redução do pH Butirato Acetato Propionato Aumento de Bifidobacteria e Lactobacilli Prebióticos – Inulina e Oligofrutose Propriedades (5 – 15 g /dia) Figura 1 Figura 2 dossiê.bio 19 Os probióticos são definidos como preparações ou produtos contendo microorganismos viáveis, bem definidos e em quantidade suficiente para alterar a microbiota intestinal, exercendo assim efeitos saudáveis no organismo [2,8,9]. Os probióticos mais utilizados envolvem os gêne- ros Bifidobacterium e Lactobacillus. Uma levedura, o Saccharomyces boulardii, também tem sido utilizada como probiótico [17]. Estudo nacional com crianças entre 1 e 4 anos de idade com prebióticos (Ninho Prebio) mostrando aumento do Bifidobacterium nas fezes (p=0,003); no caso do Lactobacillus foi verificada tendência a elevação (p=0,06) (ref. 15). �������������� ���������� � � � � � �� �� ��������� ����� ���������������� ���� ��������������������������������������������������������� ��� ������� Prebióticos sob a forma de frutooligassacárides (FOS) foram ingeridos (entre os dias 12 e 24) com conseqüente elevação das bifidobactérias. Notar que após a suspensão do prebiótico no 24º dia houve retorno à contagem inicial de bifidobactérias (ref. 13). ��������������������� �������������������� ��������� � � ������ � ����� ���� ���� � � � � � ��������������� �������������������� �������� � � ������ � ����� ���� ����� � � � � ������������ ��������������������� �������������������� �������� � � ������ � ����� ���� ����� � � � � ��������������� �������������������� �������� � ������� � ����� ���� ���� � � � � � ������������ Para que uma bactéria possa ser empregada como probiótico, vá- rios estudos devem ser conduzidos para avaliação de sua eficácia. Assim, é preciso reconhecer sua resistência ao ácido e à bile, sua capacidade de aderir à mucosa, sua atividade antimicrobiana, seu comportamento sinérgico, suas ações imunomoduladoras e seu po- tencial de fermentar prebióticos [18-21]. O sinergismo entre probió- ticos tem sido muito estudado e valorizado [20,21]. Ouwehand et al. [20] avaliaram a capacidade de adesão à glicoproteína (mucina) de lactobacilos e bifidobactérias e demonstraram que o poder de ade- são do Bifidobacterium lactis pode ser aumentado em presença do Lactobacillus GG e do Lactobacillus bulgaricus, o que justifica o uso de combinações de probióticos [21]. Mais recentemente, os simbióticos — união de prebióticos e pro- bióticos — têm sido utilizados com resultados bastante animadores. Em algumas situações, como na restauração da microbiota intesti- nal em pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e na prevenção de infecção neste grupo de pacientes, os resultados com simbióticos foram mais promissores quando comparados aos prebióticos e probióticos [21-25]. Na Figura 5 resumimos as princi- pais ações dos prebióticos, probióticos e simbióticos. Figura 3 Figura 4 20 dossiê.bio 3. Aplicações clínicas O consumo de prebióticos e probióticos, sob a forma de frutas e ver- duras (prebióticos) e iogurtes (probióticos), deve ser incentivado, uma vez que são promotores de uma microbiota intestinal saudá- vel. A má orientação alimentar e o consumo de antibióticos são os principais responsáveis pelo desequilíbrio da microbiota intestinal. Além disso, com a idade, há redução na contagem de bifidobactérias e lactobacilos [26]. Também, em determinadas fases da vida, o re- querimento de cálcio aumenta: são estas o período de crescimento (adolescentes), fase de menopausa (risco de osteoporose) e no en- velhecimento. Os prebióticos sabidamente aumentam a absorção colônica de cálcio [27-33]. Além do seu consumo regular, os prebióticos, probióticos e simbióti- cos podem ser empregados na profilaxia e tratamento de uma série de condições patológicas, a maior parte na esfera da gastroentero- logia [34-39]. As indicações tradicionais reúnem as situações mais estudadas e com maior respaldo científico. As indicações potenciais são fruto de trabalhos iniciais em certas populações de pacientes e de experimentos em animais e aumentam, a cada dia, em virtude do in- teresse crescente dos pesquisadores pelo tema (Tabela 1) [1-3,34-39]. Principais ações dos prebióticos, probióticos e simbióticos. Céls NK= Células Natural Killer; IL-10=Interleucina 10 • Inibe a aderência de bactérias gram – • Secreta inibidores de bact. patogênicas • Reduz pH colônico Outras: aumento do butirato, ação sobre motilidade GI Efeito nutricional: aumento da absorção de sais minerais (Ca, Mg, Fe, P, Zn) Aumento da Lactase • Indução de fatores de crescimento • Aumento da produção de mucina Reduz a permeabilidade intestinal – fator protéico Aumento da síntese de IgA secretora, modula macrófagos, Céls NK, proliferação de linfócitos • Reduz citocinas inflamatórias • Aumenta IL-10 • Induz apoptose As indicações tradicionais dos prebióticos e probióticos incluem a in- tolerância à lactose (os probióticos produzem lactase), a constipação intestinal, a prevenção e tratamento da diarréia aguda (ex.: rotaví- rus), o que reforça o seu uso profilático em creches [16,40]. Vários trabalhos, inclusive um nacional [41], têm demonstrado redução ao redor de 50% na freqüência da diarréia pós-antibiótico, com o uso de probióticos. Prebióticos também aumentam a absorção intestinal (cólon) de sais minerais, em especial o cálcio (Figura 6) [27–33], sen- do úteis em situações de maior necessidade de cálcio como as acima mencionadas. Em idosos, os prebióticos, probióticos e, particular- mente, os simbióticos recompuseram a microbiota intestinal previa- mente alterada [26,42,43]. Nos últimos anos, uma série de estudos em pacientes com doença inflamatória intestinal — doença de Crohn, retocolite ulcerativa inespecífica (RCUI) e “pouchitis” ou bolsite (in- flamação da bolsa ileal após colectomia para RCUI) — tem mostrado o efeito benéfico de prebióticos, probióticos e simbióticos (39,44,45). De maneira geral, os melhores resultados com os probióticos têm sido obtidos com combinações de bactérias e com concentrações ele- vadas (maiores que 109). Entretanto, concentrações menores foram utilizadas, com resultados positivos, na profilaxia de sintomas res- piratórios e gastrointestinais em creches [16,40]. Tabela 1 – Relação das indicações dos prebióticos, probióticos e simbióticos Indicações tradicionais (apoiadas pela literatura científica) Gastroenterologia 1. Intolerância à lactose 2. Constipação intestinal 3. Prevenção e tratamento da diarréia aguda 4. Prevenção da diarréia pós-antibiótico 5. Prevenção da diarréia do viajante 6. Aumento da absorção intestinal (cólon) de sais minerais (ex.: cálcio) – adolescentes, mulheres na menopausa, prevenção da osteoporose 7. Recomposição da microbiota intestinal em idosos 8. Doença inflamatória intestinal (doença de Crohn, retocolite ulcerativa, “pouchitis”) 9. Prevenção de infecções respiratórias e gastrointestinais em creches (a tabela continua na página seguinte) Figura 5 dossiê.bio 21 ����������� ����������� ����������� As indicações potenciais dos prebióticos, probióticos e simbióticos configuram perspectivas que se descortinam (Tabela 1). Dentre elas, salientamos a diarréia associada ao vírus HIV, o supercrescimen- to bacteriano, a enterocolite necrosante do recém-nascido e a sín- drome do intestino irritável (SII), principalmente a SII pós-infecção [34-39]. Os efeitos anticarcinogênicos dos prebióticos e probióticos descritos em animais apontam para o seu possível uso na prevenção do câncer de cólon [46]. A diarréia pós-radioterapia (ex.: tumor do colo de útero, de próstata) também pode ser minimizada e até pre- venida com o emprego de probióticos [47,48]. Simbióticos têm sido usados em pacientes graves internados em UTI visando reduzir a morbimortalidade. Os resultados iniciais com combinações de pro- bióticos e prebióticos são bastante encorajadores [21-25]. Na área de imunologia e alergia, os probióticos foram eficazes na prevenção e tratamento do eczema atópico [49-51]. Em áreas onde a freqüência de atopia é muito elevada, como na Finlândia, um pro- biótico (Lactobacillus GG) foi oferecido às gestantes com história familiar de atopia. Após o nascimento, os recém-nascidos rece- beram o probiótico por 6 meses. Ao final de 12 meses, o grupo que recebeu probiótico apresentou menor freqüência de eczema atópico [49]. Os mesmos autores publicaram a prevalência do eczema atópi- co no longo prazo (quatro anos) no grupo de crianças que recebeu o probiótico versus o que não recebeu probiótico e a diferença se manteve, favorecendo o grupo probiótico [50]. 4. Conclusões Os prebióticos, probióticos e simbióticos constituem um dos temas mais discutidos na atualidade. Dezenas de centros de excelência no mundo dedicam-se à pesquisa desses elementos, procurando desvendar seus efeitos sobre a microbiota intestinal, suas ações antiinflamatórias e imunorreguladoras. Todo o interesse pelo as- sunto enseja também uma oportuna reflexão sobre o padrão de ali- mentação do homem moderno, muito aquém do ideal do ponto de vista nutricional. Frutas, verduras (ricas em prebióticos) e probióti- cos devem fazer parte de uma alimentação bem balanceada e con- tribuem para a manutenção do nosso ecossistema gastrointestinal. O desequilíbrio da microbiota intestinal, por outro lado, predispõe a infecções e, provavelmente, a fenômenos atópicos [3,52]. Várias são as perspectivas para o uso
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