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1 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 PRINCÍPIOS DE REDAÇÃO CIENTÍFICA (com ênfase na área de biodiversidade) Fernando Amaral da Silveira Departamento de Zoologia e Pós-graduação em Zoologia Instituto de Ciências Biológicas UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS 2 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 PREFÁCIO Esta apostila foi construída em apoio à disciplina ‘Redação Científica’ oferecida aos alunos da Pós-graduação em Zoologia da UFMG. Por esta razão, os exemplos são, em sua grande maioria, voltados para os projetos e trabalhos nas áreas de sistemática, biogeografia e suas interfaces com outras áreas de conhecimento. As sugestões apresentadas para a redação, em grande parte, serão úteis, também, para outras áreas de conhecimento. Os princípios adotados na redação científica têm como objetivo básico facilitar a compreensão do texto pelo leitor e isto é alcançado por intermédio de uma escrita objetiva e concisa. Embora exista um estilo e uma organização tradicionais para elaboração dos textos científicos, muito desse formato tem sido ‘relaxado’ atualmente, com as revistas científicas, por exemplo, adotando organizações distintas para as seções dos seus artigos. Aqui, entretanto, ênfase é dada num roteiro para construção dos textos científicos que parte da definição clara, pelo e para o próprio autor, das perguntas que motivaram o seu trabalho. O texto, então, é construído a partir e em torno dessas perguntas. Se o autor tem suas perguntas objetivamente colocadas e organiza seu texto com elas em mente, fica mais fácil construir um texto claro, conciso e objetivo, que permita a transmissão de informação de maneira eficiente e convincente. Depois, adaptar este texto ao formato específico do veículo em que ele vai ser publicado é uma tarefa mais simples. AGRADECIMENTO Agradeço aos alunos da Pós-graduação em Zoologia da UFMG que participaram do curso de redação cientifica que ministrei em caráter experimental, no primeiro semestre de 2018, pelas sugestões e incentivo. A minha colega, Lica Haseyama, pela leitura atenta e sugestões. 3 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 Sumário TIPOS DE TEXTOS CIENTÍFICOS ...................................................................................................... 4 A REDAÇÃO DOS TEXTOS CIENTÍFICOS.......................................................................................... 8 ESTRUTURA DO TEXTO CIENTÍFICO ............................................................................................. 17 I – Objetivos............................................................................................................................. 18 II – Material e Método ............................................................................................................ 21 III – Orçamento ........................................................................................................................ 24 IV – Cronograma ...................................................................................................................... 26 V – Resultados ......................................................................................................................... 27 VI – Discussão e Conclusões .................................................................................................... 30 VII – Introdução, Resumo, Título e Palavras-chave ................................................................. 36 VIII – Agradecimentos ............................................................................................................. 43 IX – Citações bibliográficas e referência ................................................................................. 45 PREPARAÇÃO DE MANUSCRITOS PARA PUBLICAÇÃO ................................................................ 54 4 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 TIPOS DE TEXTOS CIENTÍFICOS No exercício de suas atividades, o cientista está constantemente produzindo textos e a forma como esses textos são organizados depende de sua finalidade. Uma parte deles é elaborada com o objetivo de se obterem recursos ou licenças para a execução de projetos de pesquisa; outra parte é produzida para prestar contas desses recursos e licenças obtidos; outra parte, ainda, é escrita para atender exigências para obtenção de graus ou posições acadêmicas; e outra parte destina-se à divulgação de conhecimento para a comunidade acadêmica. Os trabalhos publicados com finalidade de divulgar o conhecimento científico podem ser divididos em: a) fontes primárias – são aqueles trabalhos em que se apresenta o resultado original das pesquisas científicas e onde o conhecimento gerado é divulgado pela primeira vez. É nas fontes primárias recém publicadas que se se encontra o conhecimento de ponta produzido nas várias áreas do conhecimento; b) fontes secundárias – são trabalhos de revisão bibliográfica, em que o conhecimento produzido num determinado período de tempo (por exemplo, nos últimos cinco anos) e disponibilizado nas fontes primárias é reunido e apresentado de forma sintética. Tendem a se defasar rapidamente, em relação ao conhecimento atual; c) fontes terciárias – representadas principalmente pelos livros texto, onde o conhecimento disponível nas fontes secundárias e primárias são organizados de forma didática para uso em cursos e disciplinas. Frequentemente, já apresentam algum grau de defasagem, em relação ao conhecimento atual, desde sua publicação; d) fontes de divulgação científica – são textos produzidos em linguagem coloquial para apresentação de conteúdo científico ao publico leigo. Podem ser ou não voltadas para públicos especiais (infantil, escolar fundamental ou médio, agricultores etc). Os textos de divulgação científica podem ser elaborados para revistas, blogs, sites ou livros de divulgação. Embora extremamente relevantes para a função a que se destinam, não são fontes de informação adequadas para o pesquisador. Na Tabela I esses vários tipos de textos são distinguidos e caracterizados e, abaixo, discutidos com algum pormenor. 1) Projeto de pesquisa. Os projetos de pesquisa podem ser elaborados para: a) busca de recursos financeiros junto a órgãos financiadores; b) obtenção de licenças de coleta em órgãos de defesa do ambiente ou unidades de conservação; c) exames e concursos de seleção de alunos, pesquisadores e professores universitários. Em todos esses casos, o pesquisador precisa que os seus leitores entendam: a) o que ele pretende fazer; b) como ele pretende fazer; c) que ele tem capacidade para executar o que ele se propõe a fazer; e d) a relevância do que ele pretende fazer. A redação de um projeto exige que o pesquisador defina claramente suas perguntas e hipóteses. Por isto, ele precisa fazer uma pesquisa prévia da literatura (revisão bibliográfica) para obter um entendimento melhor do tema que ele pretende estudar. A elaboração de um projeto obriga o pesquisador, também, a planejar cuidadosamente o seu estudo – o que é uma etapa fundamental para o sucesso do seu trabalho. A elaboração de projetos tende a ser subestimada pelos pesquisadores, que costumam fazê-los de forma ligeira e descuidada ou até mesmo não os fazer, quando não necessitam solicitar suporte financeiro ou licenças. Contudo, a redação cuidadosa de um projeto é importante para o próprio pesquisador, ajudando-o a sistematizar melhor suas ideias e a definir seus procedimentos de forma a alcançar os resultados almejados. Por isto, ele deve ser o ponto inicial de todo trabalho científico. 5 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 Tabela I – Caracterização de alguns tipos de textos científicos. A atualização e a confiabilidade da informação são dadas sob a perspectiva do pesquisador que busca informações para embasamento préviodo assunto e/ou discussão de seus resultados. Documento Objetivo Público alvo Conhecimento original Revisão de pares Divulgação Atualização da informação Confiabilidade Projetos de pesquisa Obtenção de recursos ou licenças para execução de trabalhos de pesquisa; disputa de vagas em cursos de pós- graduação, ou postos de trabalho Agências financiadoras, órgãos ambientais, comitês de ética, cursos de pós- graduação, instituições de pesquisa e/ou ensino superior Em geral, não Não Restrita - Não são fontes de informação Relatórios Prestar contas de trabalho realizado Agências financiadoras, órgãos ambientais, cursos de pós-graduação, instituições de pesquisa e/ou ensino superior Em geral, sim Não Restrita Atual Fontes não confiáveis de informação Resumos e resumos estendidos de congressos Divulgação prévia de resultados, frequentemente parciais, de pesquisa. Comunidade acadêmica Sim Não Restrita Atual Fontes não confiáveis de informação Trabalhos de conclusão de curso (monografias de graduação, dissertações e teses) Demonstração da capacidade de realização de pesquisa científica Instituições de ensino superior Em geral, sim (nos trabalhos de graduação, frequentemente não) Não Restrita Atual Fontes não confiáveis de informação Artigos científicos e notas Divulgação de conhecimento original Comunidade acadêmica Sim Sim Ampla Atual Fontes primárias de informação Artigos de revisão Compilação do conhecimento atual de um determinado assunto Comunidade acadêmica Não Sim Ampla Um pouco defasada Fontes secundárias de informação Livros acadêmicos Divulgação de conhecimentos abrangentes e profundos sobre um determinado assunto Comunidade acadêmica Normalmente não; às vezes, pelo menos em parte, sim. Sim ou não Ampla Atual a um pouco defasada Fontes secundárias de informação Livros texto Divulgação de conhecimentos abrangentes, de forma resumida Comunidade estudantil Não Não Ampla Defasada Fontes terciárias, não confiáveis, de informação 6 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 2) Resumo para anais de reuniões científicas. São textos curtos, cuja principal função seria a de despertar o interesse dos participantes da reunião na apresentação (oral ou em painel) do trabalho executado pelo pesquisador. Sua importância, como fonte de informação científica é praticamente nula, já que: a) não estão sujeitos a avaliação rigorosa por pares, antes da publicação; b) frequentemente são relatos de pesquisa não concluída; e c) em geral, anais são publicações difíceis de se acessar. Estruturalmente, os resumos em anais são semelhantes aos resumos publicados no início dos artigos científicos e devem despertar a curiosidade dos leitores, realçando os pontos mais interessantes da pesquisa, de forma a levar mais pessoas a procurar a apresentação do trabalho na reunião e, posteriormente, os artigos científicos dele derivados. 3) Resumos estendidos para anais de reuniões científicas. Além de cumprir com a função do resumo (veja acima), os resumos estendidos pretendem apresentar metodologia, resultados e discussão mais detalhados, para que o participante da reunião científica (e aqueles que tiverem acesso posterior aos seus anais) tenham uma ideia mais clara do trabalho realizado. Estruturalmente, eles são artigos científicos, cujas sessões são resumidas. Como fonte de informação científica, sofrem das mesmas limitações que os resumos convencionais. 4) Relatórios. Têm como função prestar contas do andamento (relatório parcial) ou resultado final do trabalho do pesquisador às instituições financiadoras, empregadoras ou colaboradoras. Quando apresentado aos órgãos financiadores, contém, além das seções técnico-científicas presentes em um artigo científico, também a prestação de contas financeira, em que o pesquisador demonstra como os recursos obtidos em suporte ao seu trabalho foram utilizados. 5) Notas científicas. São artigos curtos, publicados em periódicos científicos. Em geral, visam trazer a público resultados que o cientista não tem como replicar e/ou observações interessantes, sobre as quais ele não pode obter mais dados. 6) Artigos científicos. São o principal veículo de comunicação na ciência (não tanto nas ciências humanas), onde as descobertas científicas originais são divulgadas. Por isto, são as fontes primárias de informação científica. Os artigos científicos são descrições minuciosas de estudos que visam responder a questões relevantes bem definidas, segundo um protocolo metodológico explícito, e que conduzem a conclusões objetivas. Estes artigos são publicados em revistas especializadas (periódicos científicos), com estrutura própria (em geral, título, resumo, introdução, material e método, resultado, discussão e referência) e são avaliados por revisores que são também pesquisadores da área, antes de serem aceitos para publicação. 7) Artigos de revisão. Estes artigos constituem fontes secundárias de informação. Eles procuram trazer ao leitor uma visão do estado de conhecimento sobre um assunto, baseados nas informações disponíveis nos artigos científicos (fontes primárias). Sua organização é livre e construída de acordo com as conveniências do autor e/ou recomendações do editor. São uma excelente fonte inicial de estudo sobre um assunto com o qual se pretende começar a trabalhar. 8) Trabalhos (ou monografias) de conclusão de curso (TCC). Esses trabalhos geralmente possuem um de dois formatos: a) revisões bibliográficas; ou b) trabalho de pesquisa. No primeiro caso, como nos artigos de revisão, seu formato é livre e atende às conveniências do autor; no segundo, seu formato se assemelha ao de um artigo científico ou ao de uma dissertação ou tese. Os trabalhos de conclusão de curso se diferenciam de dissertações e teses por abordarem questões mais simples e em menor profundidade. 7 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 9) Dissertações (ou teses) de mestrado e teses (ou dissertações) de doutorado. São relatos de trabalhos de pesquisa original e, de forma geral, têm estrutura semelhante ao dos artigos científicos (embora frequentemente possam ser compostas, principalmente as teses de doutorado, de vários capítulos, cada qual equivalente a um artigo científico). Nelas se admitem introduções maiores do que as de um artigo científico, com uma contextualização mais ampla dos fatos que ela aborda. É tradição, nelas, também, que os objetivos estejam destacados em uma seção à parte da introdução. Dissertações de mestrado são consideradas, ainda, trabalhos de ‘iniciação’ científica do autor e são, geralmente, trabalhos relativamente simples (em muitas áreas, admite-se que sejam, inclusive, trabalhos de revisão bibliográfica). As teses, contudo, devem demonstrar que o seu autor já está maduro para assumir uma ‘carreira solo’ como pesquisador e orientador. Delas, esperam-se relatos de trabalhos de pesquisa sobre temas altamente relevantes e que sejam, ao mesmo tempo, profundos e abrangentes. Trabalhos de tese não devem ser meros estudos de caso, mas devem trazer contribuições relevantes à sua área de conhecimento. 10) Livros. Livros, como os artigos de revisão, buscam apresentar o estado de conhecimento sobre um tópico. Como aqueles artigos, eles também se baseiam fortemente na literatura, compilando não apenas os resultados de pesquisa do próprio autor, mas, também, de outros. Alguns fatores distinguem um bom artigo de revisão, de um bom livro: a) a extensão (os livros, em geral, sendo mais extensos); b) a importância assumida pelas ideias do autor (nos livros, os autores, em geral, discutem mais demoradamente o conhecimento disponível na literatura, explicitando e defendendo suas conclusões) e c) em consequência dos fatores a e c, livros frequentemente são importantes veículos para as novas ideias e teorias científicas. Com relação à sua organização,são totalmente livres, sendo construídos de acordo com as conveniências do autor. 8 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 A REDAÇÃO DOS TEXTOS CIENTÍFICOS Em qualquer dos tipos de texto discutidos acima, espera-se que a redação observe certos princípios gerais, que têm como finalidade garantir que a informação seja passada da forma mais simples e precisa possível do autor para o leitor. São esses princípios que vamos discutir nesta seção. Um texto impresso é uma conversa entre um autor e seus leitores. Ao contrário do que acontece numa conversa presencial, entretanto, no texto, apenas o autor transmite, enquanto o leitor apenas recebe informações. Além disto, numa conversa presencial, a eventual falta de precisão da linguagem pode ser compensada por gestos e explicações adicionais. Já quando o leitor lê um texto, o autor não está presente e não pode esclarecer suas dúvidas. Portanto, a transmissão de informações por escrito exige um esforço adicional para que o leitor seja capaz de compreender precisamente aquilo que o autor quer lhe comunicar. A linguagem escrita é a ferramenta básica empregada pela ciência para transmitir os conhecimentos que ela produz. Porém, assim como as chaves de fenda utilizadas por relojoeiros, marceneiros e mecânicos são diferentes, a linguagem dos cientistas também não é a mesma dos vendedores, autores de ficção e blogueiros. Enquanto na ficção e poesia, por exemplo, a linguagem visa despertar a sensibilidade do leitor, na ciência, ela busca apresentar ideias de forma que os leitores as entendam precisamente. Assim, na literatura de ficção e na poesia, os fatos, as ideias e sentimentos podem ser apresentados de forma vaga, instigando o leitor a uma interpretação pessoal. Já nos trabalhos científicos, fatos e ideias devem ser apresentados de forma a que o leitor entenda exatamente o que o autor quer que ele entenda: se os dados indicam uma explicação para um dado fenômeno, o que o cientista pretende é que seu leitor entenda precisamente aquela explicação; ele não pode permitir que diferentes leitores cheguem a conclusões pessoais divergentes ou, pior, que eles não sejam capazes de tirar conclusão alguma do seu texto. Existem duas causas para o mau entendimento de um texto científico: i- o autor está tentando levar o leitor a uma conclusão equivocada; ou ii- o autor não foi capaz de explicar claramente, ao leitor, o que ele pretendia demonstrar. Para complicar a situação, frequentemente, os pesquisadores lidam com assuntos complexos, falam de fenômenos desconhecidos e tratam de conceitos não intuitivos para quem está pouco familiarizado com o tema abordado. Assim, no dia a dia da ciência, muitas vezes artigos não são lidos até o fim e explicações novas são rejeitadas, simplesmente porque seus autores não conseguiram redigi-los claramente. Por isto, o objetivo maior da redação científica é facilitar a compreensão pelo leitor. Para alcançar este objetivo, o desenvolvimento da habilidade de escrever envolve a busca de três qualidades interligadas: clareza, objetividade e concisão. Juntas, essas qualidades tornam os textos mais fáceis de se ler e entender1. Clareza: as ideias apresentadas devem estar óbvias; não podemos deixar o leitor se perguntar: ‘Mas o que é que o autor está tentando dizer?’ Objetividade: o texto deve se limitar à ideia central. Devemos evitar divagações e a mistura de assuntos diversos, que vão tornar a leitura confusa e de difícil compreensão. 1 Num mundo em que a produção científica se dá em uma velocidade avassaladora e crescente e com a integração da internet aos meios impressos de publicação, outros recursos tornam-se importantes na competição pela atenção do leitor. Exemplos de recursos que podem tornar os textos mais atrativos seriam o uso de quadros e gráficos enriquecidos esteticamente (com fotografias, por exemplo) e a adição de vídeos. 9 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 Concisão: o texto deve ser tão curto quanto possível. Às vezes, acreditamos que uma explicação mais longa é mais esclarecedora. Não necessariamente: textos longos são mais cansativos e favorecem a desconcentração do leitor, tornando-se mais difíceis de compreender. Abaixo, são listadas algumas regrinhas básicas para uma boa redação científica. I – As frases no texto científico: 1) Construa frases curtas. Quanto mais palavras a frase contiver, mais esforço nosso cérebro terá que fazer para processar e entender a informação. Uma regra empírica é: não construa frases com mais de 30 palavras. Se sua frase ultrapassar este limite, tente reduzi-la usando as seguintes estratégias: a) Certifique-se de que a frase está transmitindo apenas uma ideia básica; caso contrário, divida-a em frases menores, uma para cada ideia diferente. Ex: O ambiente naquela sala era caracterizado por temperaturas e umidades altas, o que favorece a proliferação de fungos, bactérias e insetos daninhos e explica a grande quantidade de espécimes deteriorados encontrados durante nossa visita em busca dos exemplares tipo. → O ambiente naquela sala era caracterizado por temperaturas e umidades altas, o que favorece a proliferação de fungos, bactérias e insetos daninhos. Isto explica a grande quantidade de espécimes deteriorados encontrados durante nossa visita em busca dos exemplares tipo; b) Substitua expressões compostas por palavras únicas equivalentes. Ex: Ele estava coletando quinzenalmente. → Ele coletava quinzenalmente; c) Elimine palavras e expressões que denotem avaliações pessoais subjetivas, desnecessárias ao entendimento da informação central. Ex: O holótipo era um belo exemplar macho → O holótipo era um exemplar macho. O valor estético de um objeto é definido de forma subjetiva e diferentes pessoas têm julgamentos diferentes sobre o que é ser ‘belo’. Por isto, do ponto de vista científico, a opinião do autor sobre o valor estético de um exemplar, por ser subjetiva, não é relevante. O leitor nada pode deduzir sobre o aspecto do exemplar, baseado na informação de que ele é ‘belo’. Na realidade, ele pode imaginar uma criatura completamente diferente da real, simplesmente por que seus critérios de beleza são distintos dos do autor. Então, no exemplo acima, a única informação relevante, que pode ser objetivamente entendida pelo leitor é que o exemplar era macho. d) Evite redundância na indicação do nível ocupado por um táxon na hierarquia lineana. 10 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 Ex: As espécies do gênero Azteca Forel, 1878 vivem em associação íntima com as plantas da família Cecropiaceae. → As espécies de Azteca Forel, 1878 vivem em associação íntima com Cecropiaceae. Palavras em destaque nos textos científicos, iniciadas com letras maiúsculas e seguidas de autor e data são gêneros. Esta é uma recomendação dos códigos de nomenclatura biológica amplamente aceita pelos periódicos científicos. Da mesma forma, palavras iniciadas com maiúsculas e terminadas com o sufixo ‘aceae’ denominam famílias de plantas, fungos ou bactérias. Em publicações científicas da área biológica, espera-se que o leitor conheça essas convenções básicas. 2) Os elementos da frase devem ser colocados em sua ordem direta. No português, a ordem usual dos elementos da frase é: sujeito, verbo, complementos. Lembre-se: o sujeito é quem pratica a ação; o verbo define a ação praticada; e os complementos qualificam a ação. Quando lemos frases em que esses elementos estão fora desta ordem normal, precisamos nos esforçar mais para entendê-las. Ex: O elemento essencial é, para a vida, a água; ou Para a vida, a água, o elemento essencial é → a água é o elemento essencial para a vida. 3) Prefira frases afirmativas às negativas. É sempre mais fácil entender uma afirmação doque uma negação. Ex: Estas serpentes não têm menos que dois metros de comprimento → Estas serpentes têm no mínimo dois metros de comprimento. 4) Use uma linguagem formal. Cada ocasião comporta um linguajar diferente e fugir dele pode dificultar o entendimento, além de causar desconfiança e rejeição. Ex: Imagine um estudante de graduação entrando na sede do Diretório Acadêmico e dizendo – “Boa tarde senhoras e senhores meus colegas! Como têm passado? Vejo que estão desfrutando de um momento de lazer. Algum de vocês poderia, por obséquio, fazer-me um relato sobre as partidas de ludopédio realizadas neste fim de semana? Eu participei de um convescote no domingo e não pude assistir às transmissões pela televisão.” O efeito causado pela linguagem acima, naquele ambiente, seria equivalente ao efeito que a frase abaixo causaria em um pesquisador, se ele a encontrasse em um artigo científico – “As borboleta foi coletada por dois mano, com uns tipo de coadorzão de pano. Esses mano dava uns rolé pelas quebrada do parque, sacando as parada que esses bicho dão mole, enquanto tão rangando nas flor. O trampo rolou o ano inteiro, com os mano pintando na quebrada toda semana, quando o tempo tava de boas”. 11 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 As frases acima são exemplos radicais, mas o uso da linguagem formal, além de influenciar a credibilidade com que um trabalho é recebido, amplia o público capaz de entendê-lo. Frequentemente, ouvem-se críticas ao formalismo da linguagem técnica. Para uns, ele seria uma demonstração do conservadorismo e pedantismo da academia, para outros uma forma de exclusão das camadas sociais menos favorecidas do processo de construção/aquisição do conhecimento científico. Contudo, a linguagem formal é empregada como uma língua neutra que facilite a comunicação entre todos os grupos sociais e profissionais (por isto a importância de um bom aprendizado da língua nas escolas fundamentais e médias) — mais ou menos como o latim na nomenclatura biológica: é preciso considerar que, fora da linguagem formal, nós temos uma grande quantidade de linguajares regionais e de ‘dialetos’ de diferentes ‘tribos urbanas’: sulinos e nordestinos constroem frases e usam termos distintos e o mesmo acontece com surfistas, funkeiros e a juventude de classe média-alta das grandes cidades, só para citar alguns exemplos. Ninguém domina todas essas formas de linguagem ao mesmo tempo e uma liberdade completa de expressão na ciência tornaria o entendimento dos seus textos ainda mais difícil. Note, entretanto, que não é necessário usar uma linguagem excessivamente formal — é possível redigir de forma simples, sem cair no linguajar coloquial. Com estas regras iniciais em mente, vamos fazer um exercício para ressaltar as diferenças entre textos científicos e textos literários. Veja o trecho abaixo: “Ao pé dos vulcões, junto aos ventisqueiros, entre os grandes lagos, o fragrante, o silencioso, o emaranhado bosque chileno ... Um tronco podre, que tesouro!... Fungos negros e azuis, deram-lhe orelhas, plantas parasitas vermelhas cobriram-no de rubis, ... e brota, veloz, uma cobra de suas entranhas, como uma emanação, como se do tronco morto lhe escapasse a alma ... Voa uma mariposa pura como um limão, dançando entre a água e a luz ... Ao meu lado, as calceolárias infinitas me saúdam com suas cabecinhas amarelas ... O universo vegetal apenas sussurra até que uma tempestade ponha em ação toda a música terrestre.” – Pablo Neruda: Confesso que vivi. Esta é parte de uma descrição feita pelo escritor chileno Pablo Neruda, das florestas de sua terra natal. Esta descrição é um texto inspirado, belo, e carregado de sentimentos. Contudo, por maior que seja seu valor artístico, ela não serviria ao propósito de descrição técnica daquelas florestas. Vejamos como poderíamos ‘traduzir’ este texto para uma linguagem técnica: A. Comecemos pela frase inicial, “Ao pé dos vulcões, junto aos ventisqueiros, entre os grandes lagos, o fragrante, o silencioso, o emaranhado bosque chileno.” a) Há duas informações distintas aí: i- onde situa-se a floresta chilena; e ii- como é a floresta chilena. A frase pode, então, ser dividida em duas: i- ‘O bosque chileno situa-se ao pé dos vulcões, junto aos bancos de neve, entre os lagos’; e ii- ‘Essas florestas são perfumadas, silenciosas e emaranhadas’. Note que a palavra 12 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 ‘ventisqueiro’, pouco usual em português, foi substituída por uma expressão mais usual ‘bancos de neve’2. b) Os elementos da frase não estão na ordem direta (e um dos elementos, o verbo, está apenas implícito). Então, isto foi mudado, iniciando-se as frases pelo sujeito (‘O bosque chileno’, na primeira frase; ‘essas florestas’, na segunda). Em seguida foram colocados os verbos (‘situar’, na primeira; ‘são’, na segunda) e, depois, os complementos. B. Impressões subjetivas devem ser extirpadas ou substituídas por caracterizações objetivas. a) “Um tronco podre, que tesouro!” A caracterização do tronco podre (‘que tesouro!’) é inteiramente subjetiva; outras pessoas poderiam, por exemplo, considerá-lo nojento. Do ponto de vista científico, não importa qual o sentimento do autor pelo objeto, o que importa é que ele é substrato para fungos, plantas epífitas (parasitas não se desenvolvem em plantas mortas!) e que serve de abrigo para cobras. Por isto, o “que tesouro!” deve ser, simplesmente, omitido. b) “... como uma emanação, como se do tronco morto lhe escapasse a alma ...” Como transformar esta frase numa informação objetiva? Como a alma de um tronco morto se desprende dele? Objetivamente, a ciência sequer reconhece a existência de almas, muito menos têm observações concretas de almas escapando dos corpos mortos. O autor está descrevendo uma impressão subjetiva, que cada leitor é livre para imaginar da maneira que lhe for possível. Portanto, uma frase como esta não tem lugar num texto científico. c) “Voa uma mariposa pura como um limão.” O que seria uma mariposa pura como um limão? Veja que esta metáfora é uma informação imprecisa, que dá margem a interpretações diversas. Poderemos, por exemplo, considerar que Neruda referia- se à cor amarelo-clara dos limões. Outros ‘tradutores’ (leitores) talvez interpretassem de forma diferente... d) “... calceolárias infinitas me saúdam com suas cabecinhas amarelas.” Calceolárias são plantas silvestres. Do ponto de vista estritamente técnico, plantas não saúdam ninguém e, portanto, esta possível descrição poética do balançar das plantas pela brisa foi retirada do texto (mais uma vez, talvez outros leitores interpretassem de outra maneira). “cabecinhas amarelas” muito provavelmente são as flores das calceolárias (esta foi a interpretação adotada aqui). De novo, do ponto de vista técnico, interessa dizer que as calceolárias de flores amarelas são muito abundantes na floresta (“calceolárias infinitas”). Chegamos, então, à ‘tradução’ do texto poético para o técnico: O bosque chileno situa-se ao pé dos vulcões, junto aos bancos de neve, entre os lagos. Essas florestas são perfumadas, silenciosas e emaranhadas. Nelas, os troncos podres são substratos para fungos ‘orelhas-de-pau’ (Polyporaceae) negros e azuis, são recobertos de plantas epífitas vermelhas, e servem de abrigo para serpentes. No interior dessas florestas, há mariposas amarelo-limão e grande abundância de calceolárias de flores amarelas. O silêncio dessas florestas só é interrompido pelas tempestades. 2 Há vários significados para a palavra ‘ventisqueiro’. O significado mais comum, no espanhol, são depressões nas montanhas onde se acumula neve. O autor podia, ainda, estar se referindo alternativamente a geleiras. 13 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 O resultado desta ‘tradução’é um texto mais enxuto (reduzido de 103 para 71 palavras) e mais fácil de entender, por não conter informações dúbias, sujeitas à livre interpretação dos leitores. Obviamente, Neruda não estava interessado em uma descrição técnica da floresta chilena, mas em tocar a sensibilidade de seus leitores com as sensações que a floresta lhe despertava (e, para esta finalidade, a nossa ‘tradução’ técnica é que seria imprestável...). Exercício 1. Examine a tabela abaixo e descreva a informação que ela apresenta em um único parágrafo, observando as dicas acima. Tabela I - Quantidade encontrada de indivíduos de duas espécies de formigas em diferentes ambientes na Floresta X. ESPÉCIE AMBIENTE TOTAL Dossel Sub-bosque Serapilheira Formiga 1 301 209 100 610 Formiga 2 55 79 150 284 TOTAL 356 288 250 894 II – Estruturação de parágrafos e tópicos nos textos científicos Até aqui tratamos da construção de frases. Vamos comentar, agora, sobre aspectos a serem observados na estruturação de textos mais longos: 1) Separe assuntos diferentes em parágrafos distintos. Os parágrafos são elementos organizadores do texto, ajudando o leitor a perceber as mudanças de assunto. Cada parágrafo deverá esgotar uma ideia, com um princípio, meio e fim. Ex: Nos séculos que seguiram à morte de Aristóteles, até a renascença, pouco ou nada se estudou sobre a biologia dos animais e o conhecimento que se teve deles, ao longo de todo o restante do período clássico e de toda a idade média, foi o que o filósofo grego descobriu e compilou durante sua vida. A inclusão de dragões e unicórnios nos bestiários medievais é apenas um dos aspectos que demonstram a falta de rigor dos que trataram dos animais naquele período: os autores medievais não tinham escrúpulos em misturar animais fantásticos e animais reais em obras pretensamente técnicas. Já na Renascença, com o advento das grandes navegações, os europeus entraram em contato com as faunas ricas e diversificadas dos continentes que eles vieram a descobrir. Os navios mercantes chegavam das novas terras repletos de amostras, vivas e mortas, de seres desconhecidos que encantavam nobres e plebeus e isto os levou a se dedicarem novamente ao estudo dos animais. Armários de curiosidades, montados para encantar os visitantes das grandes mansões com peles e esqueletos de seres exóticos, se transformaram em salas de curiosidades e, finalmente, nos grandes museus de história natural, onde naturalistas se dedicaram ao árduo trabalho de estudar, comparar e classificar os animais. Entre os séculos XVII e XIX, história natural foi a ‘rainha das ciências’ e os naturalistas eram profissionais respeitados e influentes. Ao longo deste período, contudo, um novo paradigma de ciência se desenvolveu, um modelo que buscava o rigor, a repetibilidade e a objetividade. Ciências experimentais, como a química e a física, desenvolveram-se rapidamente, com base nessas premissas, enquanto os naturalistas continuavam a construir suas classificações com base nos mesmos procedimentos subjetivos. Por isto, no início do século XX, a taxonomia 14 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 entrou em declínio e os naturalistas deram lugar a um novo rol de cientistas: geneticistas, fisiologistas, bioquímicos, ecólogos etc. Muitos assuntos em um único parágrafo, certo? Não há pausa para o leitor sedimentar as informações, que vão se sucedendo ininterruptamente. O melhor, num caso como este, é separar assuntos diferentes em parágrafos distintos, para que o leitor posso processar cada um individualmente, antes de seguir para o próximo: → Nos séculos que seguiram à morte de Aristóteles, até a renascença, pouco ou nada se estudou sobre a biologia dos animais. O conhecimento que se teve deles, ao longo de todo o restante do período clássico e de toda a idade média, foi o que o filósofo grego havia descoberto e compilado durante sua vida. A inclusão de dragões e unicórnios nos bestiários medievais é apenas um dos aspectos que demonstram a falta de rigor dos que trataram dos animais naquele período: os autores medievais não tinham escrúpulos em misturar animais fantásticos e animais reais em obras pretensamente técnicas. Já na Renascença, com o advento das grandes navegações, os europeus entraram em contato com as faunas ricas e diversificadas dos continentes que eles vieram a descobrir. Os navios mercantes chegavam das novas terras repletos de amostras vivas e mortas de seres desconhecidos que encantavam nobres e plebeus. Isto levou os europeus a se dedicarem novamente ao estudo dos animais. Armários de curiosidades, montados para encantar os visitantes das grandes mansões com peles e esqueletos de seres exóticos, se transformaram em salas de curiosidades e, finalmente, nos grandes museus de história natural, onde naturalistas se dedicaram ao trabalho de estudar, comparar e classificar os animais. Entre os séculos XVII e XIX, a história natural foi a ‘rainha das ciências’ e os naturalistas se tornaram profissionais respeitados e influentes. Ao longo deste período, contudo, um novo paradigma de ciência se desenvolveu lentamente, um modelo que buscava o rigor, a repetibilidade e a objetividade. Ciências experimentais, como a química e a física, desenvolveram-se rapidamente com base nessas premissas, enquanto os naturalistas continuavam a construir suas classificações com base nos mesmos procedimentos subjetivos. Por isto, no início do século XX, a taxonomia entrou em declínio e os naturalistas deram lugar a um novo rol de cientistas: geneticistas, fisiologistas, bioquímicos, ecólogos etc. 2) Evite parágrafos muito curtos. Um parágrafo deve explorar uma ideia e não apenas jogá- la para o leitor. Um texto construído com base em uma série de parágrafos muito curtos é apenas um amontoado de frases isoladas, cuja leitura torna-se monótona e cansativa. Ex: A Floresta Atlântica estende-se ao longo das costas leste e sul do Brasil. Ela é um dos principais domínios fitogeográficos do Brasil, ao lado da Floresta Amazônica, do Cerrado, da Caatinga, dos Pampas e do Pantanal. A biota da Floresta Atlântica é muito rica. Muitas espécies endêmicas são encontradas na Floresta Atlântica. → A Floresta Atlântica, que se estende ao longo das costas leste e sul do Brasil, é um dos principais domínios fitogeográficos do país, ao lado da Floresta Amazônica, do Cerrado, da Caatinga, dos Pampas e do Pantanal. Ela abriga uma biota muito rica, que inclui muitas espécies endêmicas. 15 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 3) Ao explicar alguma coisa, evite ‘dar voltas entorno do assunto’. Vá direto ao ponto. Às vezes, construímos um parágrafo inteiro, explicando a mesma coisa várias vezes. Em geral, isto é um sinal de que nós reconhecemos que nossa explicação não está clara. Algumas expressões são especialmente reveladoras disto: ‘em outras palavras’, ‘ou seja’, ‘isto significa’. Fique atento quando elas aparecerem: pode ser preferível reconstruir toda a explicação em uma única frase mais clara. Ex: Nesses ambientes, os recursos nem sempre estão disponíveis, mas, quando aparecem, são muito abundantes, isto é, o ambiente é imprevisível, mas é capaz de sustentar espécies que forem capazes de se reproduzirem rapidamente, produzindo uma grande progênie, sem grande investimento energético por parte dos pais. Por isto, as estrategistas r, que são espécies que apresentam essas características, são as mais bem adaptadas a esses ambientes. → Nesses ambientes imprevisíveis, nos quais os recursos podem ser ocasionalmente abundantes, as espécies mais bem adaptadas são as estrategistas r, capazes de produzirem progênie abundante, rapidamente, com pouco investimento parental. 4) Forneça todos os elementos necessários para que o leitor entenda sua argumentação. Frequentemente, construímos argumentações que se baseiam eminformações não apresentadas anteriormente em nosso texto, mas que dependem de conhecimentos prévios sobre o assunto. É preciso lembrar, então, que o leitor não necessariamente domina o nosso mesmo conjunto de conhecimentos e que pode não ter condições de fazer as associações necessárias para entender nosso raciocínio. Ex: O fato de insetos associados a plantas herbáceas terem sido mais abundantes foi consequência da amostragem ter sido realizada em ‘cerrado sensu stricto’ → O fato de insetos associados a plantas herbáceas terem sido mais abundantes foi consequência da amostragem ter sido realizada em ‘cerrado sensu stricto’, um ambiente com dominância do extrato herbáceo. Note que a explicação original sobre a abundância de insetos associados a plantas herbáceas é baseada no conhecimento prévio de que o ambiente amostrado é dominado por essas plantas. Contudo, nem todos os leitores possuem, necessariamente, este conhecimento. Adicionar esta informação ao texto facilita, portanto, o entendimento de nossa explicação. 5) Evite especulações. Especulações são afirmações feitas sem o suporte de observações ou dados objetivos. Especulações podem indicar duas coisas: 1) estamos fugindo das perguntas iniciais para as quais nossos procedimentos foram planejados a responder; ou 2) nossos procedimentos não foram bem delineados e não resultaram em respostas claras às nossas perguntas. Especulações podem ser boas hipóteses a serem testadas posteriormente e, neste caso, podem ser apresentadas como tais, mas temos que tomar muito cuidado para: 1) não deixar de lado os nossos resultados, usando explicações especulativas como respostas às nossas perguntas originais; e 2) não abandonarmos 16 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 nossas perguntas originais, avançando sobre questões não avaliadas objetivamente e para as quais nossos dados não se prestam a explicar. Ex: O número de insetos encontrado nas flores foi maior de manhã do que à tarde. É possível que tal resultado se deva à flutuação da umidade relativa do ar ao longo do dia, o que poderia levar a uma grande perda de água por parte dos insetos, nos períodos de maior temperatura. Algum experimento foi feito para testar se os insetos são menos ativos em períodos de baixa umidade relativa do ar? Algum experimento foi feito para testar se, sob baixa umidade relativa do ar, os insetos perdem muita água? Se não, então a explicação dada foge ao escopo do trabalho e tudo o que há, objetivamente, a ser dito, da frase acima é: → O número de insetos encontrado nas flores foi maior de manhã do que à tarde. _______________________ Resposta para o exercício 1: A abundância de duas espécies de formigas foi avaliada em três ambientes na Floresta X. No total, 894 indivíduos de formigas foram registrados, 610 da Formiga 1 e 284 da Formiga 2. Um total de 356 indivíduos foi registrado no dossel, 288 no sub-bosque e 250 na serapilheira. Trezentos e um indivíduos da Formiga 1 foram registradas no dossel, 209 no sub-bosque e 100 na serapilheira. Duzentos e cinquenta indivíduos da Formiga 2 foram registrados na serapilheira, 79 no dossel e 55 no sub-bosque. 17 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 ESTRUTURA DO TEXTO CIENTÍFICO O processo de geração de conhecimento, em geral, se desenrola na seguinte sequência: 1) O pesquisador observa um fenômeno que lhe chama a atenção; 2) O pesquisador formula uma pergunta sobre o fenômeno observado; 3) O pesquisador consulta a bibliografia, em busca de respostas para sua pergunta ou, caso não as encontre, de informações que possam lhe facilitar a obtenção dessa resposta; 4) O pesquisador define procedimentos (delineamento experimental) que lhe permita responder à pergunta formulada por ele; 5) O pesquisador desenvolve os procedimentos experimentais e obtém os dados resultantes; 6) O pesquisador analisa os seus resultados e os confronta com o conhecimento teórico pré- existente, chegando a uma conclusão – a resposta à sua pergunta original. 7) O pesquisador escreve seu trabalho e publica em um artigo científico, dando a conhecer o novo conhecimento adquirido. Os artigos científicos, contudo, não são estruturados nesta mesma sequência, mas em uma sequência que visa facilitar a sua compreensão pelo leitor: 1) Título. 2) Resumo. 3) Introdução. 4) Objetivos (exceto em dissertações e teses, normalmente o(s) último(s) parágrafo(s) da introdução. 5) Material e método. 6) Resultado. 7) Discussão. Contudo, a ordem em que esses tópicos são apresentados, não é, necessariamente, a ordem mais adequada para a redação do texto científico: em geral, é mais fácil ordenar as ideias e organizar o manuscrito da seguinte forma: 1) Objetivos: explicite claramente as perguntas a que se quer responder (e/ou as hipóteses que se pretende testar); 2) Material e método: o que foi feito para responder cada pergunta ou testar cada hipótese colocada nos objetivos? No caso dos artigos científicos, os próximos passos seriam a redação dos ‘Resultados’ e ‘Discussão’, que obviamente, não fazem parte dos projetos de pesquisa (mas, estes, às vezes, contêm uma seção de resultados esperados). 3) Resultados: para cada procedimento ou teste, qual foi o resultado obtido? 4) Discussão: o que os resultados trazem de novo ao nosso conhecimento prévio? Como ele se conforma à teoria? A discussão deve conter, ainda, como seu parágrafo final, as conclusões do estudo que serão as respostas às perguntas colocadas nos objetivos (Em alguns periódicos científicos as conclusões são apresentadas em um tópico à parte). 5) Introdução: aqui vai se dar ao leitor a informação necessária para que ele entenda a motivação e justificativa do estudo, a escolha dos métodos e, também, o conhecimento básico necessário para que ele entenda o ‘Resultado’ e sua ‘Discussão’. 6) Finalmente, define-se o título e escreve-se o resumo. A seguir, vamos discutir cada uma dessas seções, nesta ordem. 18 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 I – Objetivos Como vimos acima, o processo de geração de conhecimento começa (ou deveria começar) com a formulação de uma ou mais perguntas. Responder esta(s) pergunta(s) é o objetivo do projeto de pesquisa. Portanto, na elaboração de propostas de trabalho, relatórios e trabalhos científicos, são estas perguntas que devem ficar claras para o leitor (e para o autor!). Sendo redundante: ao escrever os objetivos, o autor deve deixar claro qual a pergunta ou perguntas ele pretende responder com aquele projeto ou trabalho. Faz parte do atual paradigma do método científico, que a ciência deve trabalhar testando hipóteses. Não são todos os programas de pesquisa, contudo, que se encaixam neste paradigma. Questões estudadas pelas ciências históricas (história da civilização, cosmologia, filogenia etc), nem sempre podem ser avaliadas em procedimentos experimentais adequados para o teste de hipóteses. De qualquer forma, sempre que possível, é recomendável que se definam, a partir das perguntas que se pretende responder, as hipóteses que serão testadas. Isto ajudará a definir os procedimentos de coleta e análise dos dados (veja mais sobre isto aqui: http://sistematicabiologi.wixsite.com/sistematica/copia-cladograma-2). Infelizmente, nem sempre os pesquisadores definem claramente, mesmo para si próprios, as perguntas que pretendem responder, iniciando a coleta de dados apenas com ideias vagas sobre o que estão buscando entender. Contudo, a falta de uma definição clara dos objetivos é a principal causa de problemas no delineamento dos métodos e, consequentemente, da baixa qualidade final do trabalho científico. Alguns dos problemas mais comuns na definição e redação dos objetivos são os seguintes: 1) Delimitação do escopo do trabalho. Limitações de tempo, recursos e dos métodos de análise impedem a abordagemde questões excessivamente amplas e/ou complexas de forma eficiente. Precisamos, por isto, delimitar claramente o tema e o contexto em que este tema será abordado no trabalho. Ex: Neste trabalho será estudado o comportamento de carnívoros. Esta é uma proposta interessante para um programa de uma vida profissional inteira. Contudo, como ponto de partida para um projeto específico de trabalho, ela é uma proposição muito vaga. Carnívoros exibem um rol quase infinito de comportamentos, relacionados aos mais diversos contextos ecológicos, sociais, ontogenéticos e fisiológicos de suas existências. Não há como se estudar todo este conjunto de comportamentos em um único projeto de trabalho. → Neste trabalho, são estudados os comportamentos de corte de Panthera onca. Agora, temos uma questão tratável em um único projeto de pesquisa, mas este é apenas o escopo do trabalho, não o seu objetivo, afinal tudo o que está proposto nesta frase é estudar, e estudar, por si só, não é objetivo, mas apenas um meio de se atingir o objetivo (veja item 2, abaixo). O que precisamos definir é: a que perguntas se pretende responder ao se estudar o comportamento de corte dos machos de Panthera onca? Essas perguntas é que serão os objetivos do trabalho: a) Ao se iniciar a corte, o macho precisa se precaver contra agressões da fêmea? b) O macho repete alguma sequência ritualizada de comportamentos durante a corte? Que comportamentos compõem esta sequência? http://sistematicabiologi.wixsite.com/sistematica/copia-cladograma-2 19 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 c) O macho precisa conter a fêmea para alcançar a cópula? Note que, para formular essas perguntas, o pesquisador precisaria ter algum conhecimento prévio sobre comportamentos de corte, por exemplo, em outros felinos. Só assim ele saberia que há possibilidade de a fêmea agredir o macho, que há espécies cujos machos repetem uma sequência de comportamentos para serem aceitos pela fêmea, e que há casos em que o macho precisa conter a fêmea à força para conseguir completar a cópula. Este conhecimento é obtido, antes da elaboração do projeto de pesquisa, em uma revisão da literatura e vai dar suporte à construção da introdução do projeto e do trabalho final. 2) Distinção entre objetivos e processos metodológicos. Curiosamente, os pesquisadores frequentemente definem o que eles vão fazer, antes de definirem exatamente por que vão fazer. Isto decorre de uma ênfase nos métodos (que, por sua vez, pode indicar uma deficiência na formação do pesquisador: ele foi formado para levantar e responder perguntas cientificamente relevantes ou para executar determinados procedimentos metodológicos?). Analisar, estimar, calcular, avaliar, comparar são ações pelas quais o pesquisador busca responder perguntas, são meios para se atingir os objetivos e não os objetivos em si. Então, calcular índices de diversidade, reconstruir filogenias e sequenciar fragmentos de DNA, por exemplo, são apenas procedimentos metodológicos, mas o que é preciso definir nos ‘Objetivos’ de um projeto, são as perguntas que se pretende responder com esses procedimentos. Ex: Comparar os tempos de desenvolvimento embrionário da galinha e do pombo. Note que ‘comparar’ é um processo metodológico e não um objetivo em si mesmo. O pesquisador precisa definir a finalidade desta comparação: é preciso definir uma pergunta a ser respondida para que a comparação seja feita de forma a alcançar a sua resposta. → As diferentes fases do desenvolvimento embrionário da galinha e do pombo se completam em tempos relativos similares? Veja que a definição da pergunta já ressalta a necessidade de procedimentos metodológicos que poderiam passar despercebidos pelo pesquisador, até que ele inicie a análise dos dados. Por exemplo, a pergunta acima chama atenção para a necessidade de se medir a duração de cada fase do desenvolvimento embrionário das aves estudadas. Vejamos um exemplo: Objetivos Este trabalho trata da filogenia e taxonomia de Parasitengona terrestres, com foco em Erythraeoidea, e tem os seguintes objetivos: 1) Elucidar as relações filogenéticas entre as espécies de Smarididae; 2) Delimitar as espécies de Callidosomatinae; 3) Associar as fases larval, juvenil e adulta das espécies de Callidosomatinae; 4) Descrever as espécies de Erythraeiodea depositadas na Coleção Acarológica do Centro de Coleções Taxonômicas da UFMG (CCT-UFMG). 20 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 Os objetivos propriamente ditos foram precedidos pela descrição do escopo do trabalho, que contextualizou os objetivos propostos. Este escopo é o que frequentemente se chama de ‘objetivo geral’. Note, contudo, que não há um objetivo proposto aí, nenhuma pergunta específica a responder. Por outro lado, por trás de cada um dos objetivos propostos (e que equivaleriam aos ‘objetivos específicos’), há uma pergunta a ser respondida: 1) Quais são as relações filogenéticas entre as espécies de Smarididae?; 2) Qual é o limite entre as espécies de Callidosomatinae?; 3) Qual são as fases larvais e juvenis das espécies de Callidosomatinae já descritas com base no estádio adulto?; e 4) Existem espécies novas na Coleção Acarológica das CCT-UFMG e, em caso afirmativo, qual a sua posição na classificação? Abaixo, apresentamos alguns exemplos de problemas comumente encontrados na formulação de objetivos: Ex. 01: “O presente trabalho tem por objetivo geral o estudo anatômico e sistemático de 10 novos espécimes de mamíferos fósseis (Edentata e Carnivora) provenientes da Formação Crato. Estes espécimes estão tombados na coleção Paleoentomológica da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo2”. Do ponto de vista semântico, chamar fósseis de ‘espécimes novos’ não faz muito sentido; talvez eles possam ser espécimes recém-descobertos... Com relação à construção do objetivo, a instituição depositária de exemplares examinados em um estudo não faz parte dos objetivos do trabalho. Esta informação deve ser dada no ‘Material e Método’. No mais, esta proposição não expressa um objetivo de fato, porque não há uma pergunta clara a ser respondida. Ela é apresenta, apenas, o escopo do trabalho, contextuando os objetivos, que devem ser apresentados, então. Ex. 02: “Utilizar sequências dos fragmentos nucleares de marcadores EPIC, além das sequências da região Citocromo oxidase do DNA mitocondrial (COI) e da região espaçadora transcrita interna (ITS2) do DNA ribossomal como marcadores moleculares para análises filogenéticas.” Aqui não se apresenta nenhum objetivo, nenhuma pergunta a ser respondida, apenas se aponta o método que será empregado (para responder qual pergunta?). Ex. 03: Comparar a anatomia do sistema reprodutor dos espécimes de Anonimus coletados e agrupar as amostras em morfotipos distintos, relacionando-os com as características previamente descritas na literatura. → Comparar (= relacionar) é um procedimento metodológico. Qual a finalidade da comparação? A que pergunta se pretende responder com ela? __________ 21 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 II – Material e Método O ‘Material e Método’ (M&M) é a seção que descreve, detalhadamente, os procedimentos a serem (nos projetos) ou que foram (nos trabalhos científicos) executados, em busca das respostas às perguntas propostas nos objetivos dos projetos de pesquisa. Esta seção tem duas funções básicas: 1) Permitir a avaliação do projeto ou trabalho. Um projeto ou relato científico deve trazer a informação necessária para que os leitores avaliem se os métodos empregados são adequados para atender os objetivos do autor: a coleta e a análise de dados foram delineadas de forma a produzir resultados robustos e confiáveis que respondam, de fato, as perguntas propostas? 2) Conferir repetibilidade ao trabalho.A repetibilidade é um dos pressupostos básicos dos trabalhos científicos modernos: espera-se que outras pessoas possam repetir os procedimentos realizados por um autor para verificar se eles, de fato, produzem os resultados relatados. Estas verificações é que conferem confiabilidade à ciência e, para que possam ser realizadas, é preciso que os cientistas deem todas as informações necessárias para que seu trabalho seja repetido fielmente. A seção de M&M é o resultado direto do planejamento do projeto científico, que, por sua vez, é crucial na determinação do sucesso e qualidade do trabalho final. Durante este planejamento, o pesquisador deve definir cuidadosamente os procedimentos necessários para responder suas perguntas, incluindo duas etapas: a) coleta de dados; e b) análise de dados. Embora o delineamento experimental não faça parte do escopo da redação científica, não custa chamar atenção para o fato de que o planejamento da coleta de dados tem que considerar os métodos de análise que serão usados, bem como seus pressupostos. Um dos problemas mais comumente enfrentados por pesquisadores iniciantes é descobrir, depois de um esforço considerável de campo e/ou laboratório, que os seus dados não se prestam a uma análise objetiva e robusta, porque sua coleta não observou os pressupostos dos métodos de análise (como número adequado de repetições, independência de variáveis etc). Portanto, o pesquisador deve conter sua ansiedade em começar a executar o trabalho, buscando cuidadosamente as informações necessárias para um bom delineamento dos procedimentos. Como já foi dito na seção anterior, isto começa com a definição de perguntas objetivas a serem respondidas e deve ser seguido pelo estudo dos métodos empregados usualmente para colher e analisar os dados em projetos semelhantes. Os pesquisadores devem ser especialmente cuidadosos com os projetos que usam métodos originais – eles devem ser criticamente avaliados e cuidadosamente justificados. Aqui, contudo, não vamos discutir o planejamento da metodologia, mas apenas aspectos relacionados à descrição dos procedimentos metodológicos em projetos, relatórios e artigos. Como em todos os textos científicos, o que se busca, principalmente, também nesta seção, é a clareza e a objetividade como meios de se facilitar o entendimento pelo leitor. Organização do ‘Material e Método’ A organização da seção de M&M deve considerar duas coisas: a) os objetivos propostos e b) as etapas de obtenção e análise de dados. Então, para cada objetivo, devem-se descrever os procedimentos de coleta e de análise de dados. A forma como isto vai ser feito depende, em parte, da extensão do texto e da complexidade dos procedimentos: para textos grandes e procedimentos complexos, é preferível dividir o M&M em subseções; se o texto é 22 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 relativamente pequeno e os procedimentos simples, então, basta que se faça uma boa divisão dos tópicos em parágrafos. Quando se decide pela divisão em tópicos, ela pode ser feita de formas diferentes, dependendo do caso: a) se os dados a serem empregados para alcançar os diferentes objetivos forem distintos, então, pode se organizar o M&M por objetivo e, para cada objetivo, descrever os procedimentos de obtenção e de análise de dados. Ex: Consideremos um projeto em que o pesquisador definisse os seguintes objetivos: i- Delimitar as espécies de um gênero de marsupiais; e ii- Elucidar as relações filogenéticas entre as espécies desse gênero. Neste caso, ele poderia organizar o M&M em duas subseções, cada uma para descrever os procedimentos relacionados a um objetivo: 1) Delimitação de espécies – em diferentes parágrafos ele poderia, por exemplo, descrever os procedimentos de a) coleta de tecido; b) extração, amplificação, sequenciamento e alinhamento das sequências de um ou mais genes; c) estimativa de verossimilhanças e agrupamento das amostras; d) delimitação das espécies com base nos dados moleculares; e e) definição de caracteres morfológicos diagnósticos das espécies reconhecidas (este é apenas um exemplo de um conjunto de procedimentos possíveis e não uma recomendação metodológica para a abordagem do problema) e 2) Elucidação das relações filogenéticas das espécies – em diferentes parágrafos ele poderia descrever a) a amostragem de espécies do gênero; b) o levantamento e codificação de caracteres; c) construção da matriz de dados; d) procedimentos de análise filogenética (incluindo os tipos de análises, os programas empregados, os parâmetros e critérios definidos em cada programa para cada análise etc). b) se os dados que serão empregados para alcançar os vários objetivos forem obtidos com o mesmo conjunto de procedimentos, então, pode-se dividir o M&M em uma subseção para a coleta de dados e outra para a análise de dados. Neste caso, normalmente, os diferentes objetivos são abordados por diferentes análises do mesmo conjunto ou de subconjuntos diferentes de dados e deve-se fazer uma associação explícita entre a análise e a pergunta que se pretende responder com ela Ex: Imaginemos que, em um projeto, o autor pretenda responder duas perguntas: i- Como são estruturadas as comunidades de formigas em duas áreas contíguas, uma de cerrado e outra de floresta ripária? e ii- A proporção de espécies encontradas nos estratos herbáceo, arbustivo e arbóreo é similar nas duas áreas? Neste caso ele poderia dividir o M&M em 1) Áreas amostrais e coleta de dados (descrevendo a localização da área, suas características gerais e os dois hábitats a serem amostrados e descrevendo os procedimentos de coleta empregados; e 2) Análise de dados (por exemplo, descrevendo os procedimentos de estimativa de riqueza e diversidade de espécies e para avaliação da similaridade das assembleias de formigas nos extratos vegetacionais amostrados). 23 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 No caso de artigos científicos, a definição da organização do M&M deve levar em consideração, antes de mais nada, as normas da revista em que se pretende publicar o manuscrito, já que algumas delas podem não permitir que se separe a seção em subseções. De qualquer forma, a organização geral pode ser mantida, apenas omitindo-se os subtítulos dentro da seção. Independente da organização dada, durante a redação do M&M, o autor deve se perguntar a cada parágrafo escrito: a) Eu seria capaz de repetir este procedimento com base apenas nesta descrição? b) Todo o equipamento e material empregado neste procedimento foi mencionado? c) A forma como esses equipamentos e materiais foram usados foi claramente descrita? d) Todos os métodos de análise foram mencionados? e) Ao descrever esses métodos, todas as opções feitas na análise foram destacadas? Lembre-se, se a resposta a uma ou mais dessas perguntas for negativa, então o M&M não estará cumprindo as suas funções de permitir: i- a avaliação do trabalho; e ii- que ele seja repetido. Ao escrever o M&M, lembre-se de que, para você que planejou (e talvez já tenha executado) os procedimentos descritos, será muito mais fácil entender sua descrição do que para o leitor. Então, ajude-o: seja claro, sucinto e objetivo, mas não deixe detalhes para o seu leitor imaginar ou adivinhar. No caso da descrição de procedimentos complexos, que podem exigir o conhecimento prévio de detalhes teóricos e/ou metodológicos, faça referência a algum trabalho científico em que sejam explicados os detalhes que possam ser causa de dúvida para os seus leitores. Se você estiver usando um procedimento pouco usual ou inovador entre os seus métodos e sentir necessidade de justificar ou explicar o seu uso, pode ser conveniente criar um parágrafo ou item na introdução para isto. Ex: Na introdução: Uma dificuldade encontrada nos estudos dessas questões é a falta de métodos estatísticos robustospara a análise de dados obtidos nas condições em que esses estudos são feitos. Felizmente, um método que supre esta deficiência foi proposto, recentemente (Pereira et al., 2019), com base em princípios desenvolvidos dentro da teoria de fractais. Por outro lado, não é necessário explicar detalhadamente procedimentos usuais e consagrados na literatura. Por exemplo, não é necessário explicar como se faz uma análise de variância ou como funciona uma análise de parcimônia por busca exaustiva. Em caso de dúvidas, cite uma referência. Ex: Os dados foram submetidos à análise de parcimônia por ‘métodos modernos’, fazendo-se uma sequência de buscas pelos procedimentos de ‘ratchet’, ‘tree fusing’ e ‘sectorial search’ (Goloboff, 1999; Nixon, 1999). Para esta análise foram empregados os parâmetros definidos no programa TNT (Goloboff et al, 2008). __________ Na sequência à seção ‘Material e Método’, nós teríamos, nos trabalhos científicos (artigos, dissertações etc), as seções de ‘Resultados’ e de ‘Discussão’. Mas, nos projetos, (onde nós ainda não teríamos resultados a apresentar e discutir) ela seria seguida de outras seções, que 24 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 variam, de acordo com as exigências de quem vai receber o projeto para avaliação. Exemplos dessas seções seriam: 1) Resultados preliminares. Às vezes, o pesquisador, quando submete um projeto à avaliação de uma agência financiadora ou de uma banca examinadora, já iniciou sua execução ou já fez alguns procedimentos iniciais para testar e definir metodologias. Os resultados obtidos até então, podem ser apresentados como indicadores da viabilidade da metodologia definida e de resultados prováveis. Neste caso, convém fazer-se uma breve discussão dos dados já obtidos; 2) Resultados esperados. Esta seção, às vezes, é solicitada pelo avaliador do projeto. Aqui, o pesquisador pode apresentar as suas hipóteses explicativas (veja um pouco mais sobre elas, acima, no item ‘Objetivos’). Neste caso, convém fazer um pouco mais do que listar os possíveis resultados; deve-se fornecer as razões que levam a que eles sejam esperados. Essas razões podem derivar de alguma teoria ou de resultados anteriores, obtidos em situações semelhantes, por ele ou outros autores: o autor deve dar, a quem vai avaliar seu trabalho, condições de entender suas expectativas; Os próximos itens, orçamento, cronograma e referências são seções obrigatórias dos projetos de pesquisa e serão discutidos com mais detalhes, abaixo. __________ III – Orçamento A principal limitação à execução de nossos projetos de pesquisa será, sempre, a limitação de recursos financeiros. Com o dinheiro que não temos, poderíamos comprar mais reagentes e mais passagens de avião; poderíamos pagar mais diárias, mais bolsas, mais serviços de terceiros e mais equipamentos e insumos. Poderíamos até comprar mais tempo! Infelizmente, esta não é a realidade e, para que sejamos bem-sucedidos na execução de nossos projetos, é preciso que nos adequemos a um orçamento. Às vezes, isto exige que façamos mudanças metodológicas e, até mesmo, ajustes nos objetivos iniciais. Normalmente, os orçamentos têm que ser apresentados por rubricas. Rubricas são diferentes tipos de gastos. Frequentemente, não é possível usar recursos originalmente destinados a uma rubrica (insumos, por exemplo) em outra rubrica (diárias, por exemplo). Então, é preciso que o pesquisador faça uma previsão realista do que ele vai precisar e em que quantidades, buscando, então, preços atuais de mercado para montar seu orçamento. Um exemplo de orçamento é dado a seguir: Despesas de viagem Descrição Quant. Preço unitário Preço total Passagens aéreas Belo Horizonte-Rio de Janeiro-Belo Horizonte 1 290,00 290,00 Passagens aéreas Belo Horizonte-São Paulo-Belo Horizonte 1 302,00 302,00 Diárias (visita a museus) 10 110,00 1.110,00 Diárias (expedições de coleta) 30 80,00 2.400,00 Subtotal de despesa de viagens 4.102,00 25 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 Insumos Descrição Unid. Quanti. Preço unitário Preço total Armadilhas unidade 30 50,00 1.500,00 Iscas kg 10 10,00 100,00 Álcool absoluto L 10 3,00 30,00 Algodão Pacote 500 g 1 15,00 15,00 Reagentes - - - 7.450,00 Subtotal de insumos 9.095,00 Equipamentos Descrição Quanti. Preço unitário Preço total Lupa binocular 1 9.500,00 9.500,00 Laptop 1 2.500,00 2.500,00 Freezer vertical (- 20ºC) 1 1.500,00 1.500,00 Subtotal de equipamentos 13.500,00 Totais Descrição Preço total Subtotal de despesa de viagens 9.095,00 Subtotal de insumos 1.645,00 Subtotal de equipamentos 13.500,00 TOTAL GERAL 24.240,00 E, então? O valor está dentro dos limites do edital a que você está concorrendo? Seu orientador tem estes recursos disponível para seu projeto? É possível executá-lo ou serão necessários ajustes? É comum, quando se submete uma proposta a uma agência financiadora, ter que se apresentar justificativas para os itens apresentados no orçamento. A ausência ou inadequação dessas justificativas pode ser fator de desqualificação da proposta. Exemplo de justificativa, baseada no orçamento acima, seria: Justificativa para itens do orçamento Passagens aéreas Belo Horizonte-Rio de Janeiro-Belo Horizonte: visita à coleção do Museu Nacional da UFRJ, para exame de exemplares e obtenção de material por empréstimo. Passagens aéreas Belo Horizonte-São Paulo-Belo Horizonte: visita à coleção do Museu de Zoologia da USP, para exame de exemplares e obtenção de material por empréstimo. Diárias (visita a museus): custear a estadia do pesquisador no Rio de Janeiro e São Paulo, durante as visitas aos museus da UFRJ e USP, respectivamente. Diárias (expedições de coleta): custear os gastos com estadia, alimentação e deslocação do pesquisador e auxiliar, durante as expedições de coleta às serras do Cabral e da Canastra, conforme definido no Material e Método. Armadilhas: captura de exemplares para emprego nos estudos morfológicos e moleculares. Iscas: usadas nas armadilhas para atração dos exemplares a serem capturados. Álcool absoluto: conservação de amostras de tecido para extração de DNA. Algodão: para exposição da isca, no interior das armadilhas (ver Material e método). Reagentes: enzimas e soluções tampão necessárias para a extração, amplificação e sequenciamento de DNA. 26 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 Lupa binocular: para exame dos exemplares durante o levantamento e codificação de caracteres moleculares. Laptop: preenchimento de planilha de dados no campo, análise de dados e elaboração de relatórios e manuscritos. Freezer vertical (- 20ºC): conservação de amostras de tecido para extração de DNA e dos exemplares, até preparação definitiva para inclusão no acervo do CCT-UFMG. Finalmente, pode ser exigido que o pesquisador apresente a contrapartida da instituição sede aos recursos que ele solicita à agência financiadora. Aqui podem ser arrolados, por exemplo: 1) Proporção do salário recebido pelo pesquisador e técnicos de laboratório, relativa ao tempo dispendido na execução do projeto; 2) Valor da infraestrutura imobiliária (laboratórios e gabinetes a serem usados); 3) Equipamentos já disponíveis na sede e que serão usados no trabalho, como mobiliário e equipamentos não solicitados ao financiador. __________ IV – Cronograma É importante para o pesquisador (e para os que vão avaliar o seu projeto) ter uma ideia clara sobre o tempo total demandado para a execução do projeto, bem como sobre o momento em que cada etapa do trabalho deverá/poderá ser iniciada e quanto tempo cada uma delas durará. Isto permitirá ao pesquisador, à agência financiadora e/ou à banca examinadora determinar se o trabalho proposto poderá ser executado nos prazos disponíveis (duração de um curso de pós-graduação ou prazo para entrega de relatórios conclusivos à agênciafinanciadora). Elaborar um cronograma realista permite ao pesquisador ajustar a sua metodologia, de forma a que o trabalho possa ser concluído seguramente, dentro do prazo disponível. A tarefa inicial para a composição do cronograma é a definição das etapas/tarefas a serem cumpridas ao longo da execução do projeto. Por exemplo: 1) Levantamento bibliográfico; 2) Elaboração de relatórios parciais; 3) Expedições de coleta; 4) Triagem de material na coleção da instituição sede do pesquisador; 5) Visita a coleções de outras instituições; 6) Levantamento e codificação de caracteres morfológicos; 7) Montagem de matriz de dados morfológicos; 8) Busca de dados moleculares em bancos de dados de terceiros; 9) Extração de DNA; 10) Amplificação de DNA; 11) Sequenciamento e alinhamento de sequências de DNA; 12) Montagem de matriz de dados moleculares; 13) Análises filogenéticas 14) Redação de artigos e relatório conclusivo 27 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 Uma vez estabelecidas as etapas do trabalho, o cronograma pode ser organizado de diferentes formas. Esta organização pode ser definida pelos que vão avaliar o projeto ou pelo próprio pesquisador. Um exemplo é dado abaixo: Para que o cronograma seja útil, obviamente, é necessário que os tempos atribuídos a cada etapa sejam realistas. Para isto, é preciso que o pesquisador lance mão de sua própria experiência ou peça ajuda a pesquisadores mais experientes na área. Um problema frequente na elaboração de cronogramas é o excesso de otimismo. É especialmente importante considerar os ‘imprevistos previsíveis’: chuvas que impossibilitam saídas de campo; atrasos na liberação de licenças e/ou recursos; problemas para o ajustamento de protocolos de bancada etc etc. Já os ‘imprevistos imprevisíveis’ (inclusive o excesso dos previsíveis), devem nos fazer levar em conta a regra empírica: sempre levamos mais tempo do que prevemos, mesmo quando consideramos atrasos... Então, é preciso dar grandes margens de segurança para cada etapa e, durante a execução dos projetos, adiantar tudo o que for possível. __________ V – Resultados Nas seções anteriores, falamos dos ‘Objetivos’, como o ponto do projeto ou trabalho científico. Nessa seção, estabelecem-se as perguntas a serem respondidas e com base nas quais todo o resto projeto ou trabalho será definido. Em seguida, falamos da descrição, no ‘Material e Método’, dos procedimentos empregados para responder as perguntas que definiram os objetivos do trabalho. Finalmente, avaliamos seções que compõem os projetos de pesquisa, mas que estão ausentes dos trabalhos científicos. A partir daqui, falaremos de seções que compõem os artigos, relatórios, TCCs, dissertações e teses, mas que não estão presentes nos projetos: os resultados e a discussão. Esta é a seção que descreve os resultados obtidos nos procedimentos descritos no ‘Material e método’ e delineados para nos ajudar a responder as perguntas que definem os objetivos. Os resultados vão apresentar os dados obtidos nos procedimentos de coleta de dados e os resultados dos procedimentos de análise desses dados. Os resultados obtidos Ano/bimestre Etapas I II 1o 2o 3o 4o 5o 6o 1o 2o 3o 4o 5o 6o Levantamento bibliográfico Elaboração de relatórios parciais Expedições de coleta Triagem de material na coleção da instituição sede do pesquisador Visita a coleções de outras instituições Levantamento e codificação de caracteres morfológicos Montagem de matriz de dados morfológicos Busca de dados moleculares em bancos de dados de terceiros Extração de DNA Amplificação de DNA Sequenciamento e alinhamento de sequências de DNA Montagem de matriz de dados moleculares Análises filogenéticas Redação de artigos e relatório conclusivo 28 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 nesta seção serão, então, submetidos à discussão, que nos conduzirá às conclusões do trabalho. Essas conclusões serão as respostas às nossas perguntas iniciais. Para melhor organização e maior facilidade de compreensão por parte do leitor, é interessante que o resultado seja organizado de acordo com as questões colocadas nos ‘Objetivos’ e, portanto (se a mesma preocupação houver norteado a construção do M&M), na sequência com que os métodos foram apresentados: para descrever os resultados, volte ao M&M e siga a mesma sequência. Assim, iniciamos a seção falando dos dados obtidos e, em seguida, dos resultados de sua análise: Ex: Ao longo dos 12 meses de amostragem, foram coletados 2.573 exemplares de 89 espécies de abelhas (Tabela I). As espécies mais abundantes foram Trigona spinipes, Tetragonisca angustula, Augochloropsis smithiana, Exomalopsis auropilosa e Bombus morio, todas sociais. Entre as espécies solitárias, destacaram-se Centris fuscata, Epicharis flava e Oxaea flavescens. Todas essas espécies foram registradas em pelo menos 10 dos 12 meses amostrados. Apis mellifera, espécie exótica, não foi amostrada, embora fosse abundante na área. Houve diferença significativa entre as abundâncias das espécies sociais e solitárias (H = 52,3; p = 0,0012), com as espécies sociais sendo, em geral, mais abundantes que as solitárias. Note, no texto acima, que uma longa sequência de resultados foi resumida em uma tabela: em vez de listar, no texto, todas as 89 espécies registradas, com suas respectivas abundâncias em cada mês, o autor organizou todas essas informações em sua Tabela I, fazendo referência a ela no texto. Note, também, que a afirmação ‘Houve diferença significativa entre as abundâncias das espécies sociais e solitárias’ foi acompanhada pelo resultado do teste que dá sustentação a ela. Observe, contudo que o resultado não é o resultado do teste: o autor, no caso, não afirmou, apenas, que ‘o teste de Kruskal-Wallis (H = 52,3; p = 0,0012) foi significativo’. Tabelas têm a vantagem de apresentar valores exatos, transmitindo a informação de forma mais precisa. Às vezes, contudo, não necessitamos destacar os valores precisos, mas, sim, tendências ou padrões que são mais facilmente apreendidos em figuras. A preferência por tabela ou figura vai, então, depender da situação, mas seu uso deve atender, sempre, a certos cuidados: 1) Figuras e tabelas devem, sempre, receber alguma referência no corpo do texto. Não se pode inserir uma figura ou tabela em um trabalho, sem que no corpo do texto ela seja contextualizada. Figuras e tabelas são empregadas como complementação de informação do texto e não como fontes isoladas de informação. 2) Figuras e tabelas devem ser autoexplicativas, contendo, no seu corpo e em suas legendas, toda a informação necessária para que o leitor as compreenda. É difícil examinar uma figura ou tabela e, ao mesmo tempo, procurar pelas informações necessárias para compreendê-las no corpo do texto; 3) Tabelas e figuras não devem ser redundantes. Um determinado conteúdo pode estar representado por uma figura ou por uma tabela, mas não pelas duas ao mesmo tempo. A duplicação da informação aumenta o espaço ocupado e os custos da publicação científica e aumentam o tempo dispendido na leitura do trabalho. 4) Figuras devem ser limpas, sem informação excessiva que, não contribuindo para o entendimento, distraia o leitor daquilo que é realmente importante. Elas devem, também, ter uma composição agradável, que atraia a atenção e a curiosidade do leitor. 29 © Fernando A. Silveira Versão 19/03/2019 5) Os ‘Resultados’ não podem ser compostos apenas por uma sequência de tabelas e/ou figuras. É preciso que o autor resuma os resultados que elas contêm, destacando a informação mais importante. Abaixo, são dados dois exemplos, de uma figura e de uma tabela. Em ambos os casos, figura
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