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Princípios básicos de redação científica

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© Fernando A. Silveira 
Versão 19/03/2019 
 
 
 
 
 
 
PRINCÍPIOS DE 
REDAÇÃO CIENTÍFICA 
(com ênfase na área de biodiversidade) 
 
 
Fernando Amaral da Silveira 
Departamento de Zoologia e Pós-graduação em Zoologia 
Instituto de Ciências Biológicas 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS 
 
 
 
 
 
 
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© Fernando A. Silveira 
Versão 19/03/2019 
PREFÁCIO 
 
Esta apostila foi construída em apoio à disciplina ‘Redação Científica’ oferecida aos alunos 
da Pós-graduação em Zoologia da UFMG. Por esta razão, os exemplos são, em sua grande 
maioria, voltados para os projetos e trabalhos nas áreas de sistemática, biogeografia e suas 
interfaces com outras áreas de conhecimento. As sugestões apresentadas para a redação, em 
grande parte, serão úteis, também, para outras áreas de conhecimento. 
Os princípios adotados na redação científica têm como objetivo básico facilitar a 
compreensão do texto pelo leitor e isto é alcançado por intermédio de uma escrita objetiva e 
concisa. Embora exista um estilo e uma organização tradicionais para elaboração dos textos 
científicos, muito desse formato tem sido ‘relaxado’ atualmente, com as revistas científicas, 
por exemplo, adotando organizações distintas para as seções dos seus artigos. Aqui, 
entretanto, ênfase é dada num roteiro para construção dos textos científicos que parte da 
definição clara, pelo e para o próprio autor, das perguntas que motivaram o seu trabalho. O 
texto, então, é construído a partir e em torno dessas perguntas. Se o autor tem suas perguntas 
objetivamente colocadas e organiza seu texto com elas em mente, fica mais fácil construir um 
texto claro, conciso e objetivo, que permita a transmissão de informação de maneira eficiente 
e convincente. Depois, adaptar este texto ao formato específico do veículo em que ele vai ser 
publicado é uma tarefa mais simples. 
 
 
AGRADECIMENTO 
 
Agradeço aos alunos da Pós-graduação em Zoologia da UFMG que participaram do curso de 
redação cientifica que ministrei em caráter experimental, no primeiro semestre de 2018, pelas 
sugestões e incentivo. A minha colega, Lica Haseyama, pela leitura atenta e sugestões. 
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Sumário 
TIPOS DE TEXTOS CIENTÍFICOS ...................................................................................................... 4 
A REDAÇÃO DOS TEXTOS CIENTÍFICOS.......................................................................................... 8 
ESTRUTURA DO TEXTO CIENTÍFICO ............................................................................................. 17 
I – Objetivos............................................................................................................................. 18 
II – Material e Método ............................................................................................................ 21 
III – Orçamento ........................................................................................................................ 24 
IV – Cronograma ...................................................................................................................... 26 
V – Resultados ......................................................................................................................... 27 
VI – Discussão e Conclusões .................................................................................................... 30 
VII – Introdução, Resumo, Título e Palavras-chave ................................................................. 36 
VIII – Agradecimentos ............................................................................................................. 43 
IX – Citações bibliográficas e referência ................................................................................. 45 
PREPARAÇÃO DE MANUSCRITOS PARA PUBLICAÇÃO ................................................................ 54 
 
 
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TIPOS DE TEXTOS CIENTÍFICOS 
No exercício de suas atividades, o cientista está constantemente produzindo textos e a 
forma como esses textos são organizados depende de sua finalidade. Uma parte deles é 
elaborada com o objetivo de se obterem recursos ou licenças para a execução de projetos de 
pesquisa; outra parte é produzida para prestar contas desses recursos e licenças obtidos; outra 
parte, ainda, é escrita para atender exigências para obtenção de graus ou posições 
acadêmicas; e outra parte destina-se à divulgação de conhecimento para a comunidade 
acadêmica. 
Os trabalhos publicados com finalidade de divulgar o conhecimento científico podem ser 
divididos em: a) fontes primárias – são aqueles trabalhos em que se apresenta o resultado 
original das pesquisas científicas e onde o conhecimento gerado é divulgado pela primeira vez. 
É nas fontes primárias recém publicadas que se se encontra o conhecimento de ponta 
produzido nas várias áreas do conhecimento; b) fontes secundárias – são trabalhos de revisão 
bibliográfica, em que o conhecimento produzido num determinado período de tempo (por 
exemplo, nos últimos cinco anos) e disponibilizado nas fontes primárias é reunido e 
apresentado de forma sintética. Tendem a se defasar rapidamente, em relação ao 
conhecimento atual; c) fontes terciárias – representadas principalmente pelos livros texto, 
onde o conhecimento disponível nas fontes secundárias e primárias são organizados de forma 
didática para uso em cursos e disciplinas. Frequentemente, já apresentam algum grau de 
defasagem, em relação ao conhecimento atual, desde sua publicação; d) fontes de divulgação 
científica – são textos produzidos em linguagem coloquial para apresentação de conteúdo 
científico ao publico leigo. Podem ser ou não voltadas para públicos especiais (infantil, escolar 
fundamental ou médio, agricultores etc). Os textos de divulgação científica podem ser 
elaborados para revistas, blogs, sites ou livros de divulgação. Embora extremamente 
relevantes para a função a que se destinam, não são fontes de informação adequadas para o 
pesquisador. 
Na Tabela I esses vários tipos de textos são distinguidos e caracterizados e, abaixo, 
discutidos com algum pormenor. 
1) Projeto de pesquisa. Os projetos de pesquisa podem ser elaborados para: a) busca de 
recursos financeiros junto a órgãos financiadores; b) obtenção de licenças de coleta em 
órgãos de defesa do ambiente ou unidades de conservação; c) exames e concursos de 
seleção de alunos, pesquisadores e professores universitários. Em todos esses casos, o 
pesquisador precisa que os seus leitores entendam: a) o que ele pretende fazer; b) como 
ele pretende fazer; c) que ele tem capacidade para executar o que ele se propõe a fazer; e 
d) a relevância do que ele pretende fazer. 
A redação de um projeto exige que o pesquisador defina claramente suas perguntas e 
hipóteses. Por isto, ele precisa fazer uma pesquisa prévia da literatura (revisão 
bibliográfica) para obter um entendimento melhor do tema que ele pretende estudar. A 
elaboração de um projeto obriga o pesquisador, também, a planejar cuidadosamente o 
seu estudo – o que é uma etapa fundamental para o sucesso do seu trabalho. 
A elaboração de projetos tende a ser subestimada pelos pesquisadores, que costumam 
fazê-los de forma ligeira e descuidada ou até mesmo não os fazer, quando não necessitam 
solicitar suporte financeiro ou licenças. Contudo, a redação cuidadosa de um projeto é 
importante para o próprio pesquisador, ajudando-o a sistematizar melhor suas ideias e a 
definir seus procedimentos de forma a alcançar os resultados almejados. Por isto, ele deve 
ser o ponto inicial de todo trabalho científico. 
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Tabela I – Caracterização de alguns tipos de textos científicos. A atualização e a confiabilidade da informação são dadas sob a perspectiva do pesquisador 
que busca informações para embasamento préviodo assunto e/ou discussão de seus resultados. 
Documento Objetivo Público alvo 
Conhecimento 
original 
Revisão 
de pares 
Divulgação 
Atualização 
da 
informação 
Confiabilidade 
Projetos de pesquisa Obtenção de recursos ou 
licenças para execução de 
trabalhos de pesquisa; disputa 
de vagas em cursos de pós-
graduação, ou postos de 
trabalho 
Agências financiadoras, 
órgãos ambientais, comitês 
de ética, cursos de pós-
graduação, instituições de 
pesquisa e/ou ensino 
superior 
Em geral, não Não Restrita - Não são fontes de 
informação 
Relatórios Prestar contas de trabalho 
realizado 
Agências financiadoras, 
órgãos ambientais, cursos de 
pós-graduação, instituições 
de pesquisa e/ou ensino 
superior 
Em geral, sim Não Restrita Atual Fontes não 
confiáveis de 
informação 
Resumos e resumos 
estendidos de 
congressos 
Divulgação prévia de resultados, 
frequentemente parciais, de 
pesquisa. 
Comunidade acadêmica Sim Não Restrita Atual Fontes não 
confiáveis de 
informação 
Trabalhos de 
conclusão de curso 
(monografias de 
graduação, 
dissertações e teses) 
Demonstração da capacidade de 
realização de pesquisa científica 
Instituições de ensino 
superior 
Em geral, sim (nos 
trabalhos de 
graduação, 
frequentemente não) 
Não Restrita Atual Fontes não 
confiáveis de 
informação 
Artigos científicos e 
notas 
Divulgação de conhecimento 
original 
Comunidade acadêmica Sim Sim Ampla Atual Fontes primárias 
de informação 
Artigos de revisão Compilação do conhecimento 
atual de um determinado 
assunto 
Comunidade acadêmica Não Sim Ampla Um pouco 
defasada 
Fontes 
secundárias de 
informação 
Livros acadêmicos Divulgação de conhecimentos 
abrangentes e profundos sobre 
um determinado assunto 
Comunidade acadêmica Normalmente não; às 
vezes, pelo menos em 
parte, sim. 
Sim ou 
não 
Ampla Atual a um 
pouco 
defasada 
Fontes 
secundárias de 
informação 
Livros texto Divulgação de conhecimentos 
abrangentes, de forma resumida 
Comunidade estudantil Não Não Ampla Defasada Fontes terciárias, 
não confiáveis, de 
informação 
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2) Resumo para anais de reuniões científicas. São textos curtos, cuja principal função seria a 
de despertar o interesse dos participantes da reunião na apresentação (oral ou em painel) 
do trabalho executado pelo pesquisador. Sua importância, como fonte de informação 
científica é praticamente nula, já que: a) não estão sujeitos a avaliação rigorosa por pares, 
antes da publicação; b) frequentemente são relatos de pesquisa não concluída; e c) em 
geral, anais são publicações difíceis de se acessar. 
Estruturalmente, os resumos em anais são semelhantes aos resumos publicados no início 
dos artigos científicos e devem despertar a curiosidade dos leitores, realçando os pontos 
mais interessantes da pesquisa, de forma a levar mais pessoas a procurar a apresentação 
do trabalho na reunião e, posteriormente, os artigos científicos dele derivados. 
3) Resumos estendidos para anais de reuniões científicas. Além de cumprir com a função do 
resumo (veja acima), os resumos estendidos pretendem apresentar metodologia, 
resultados e discussão mais detalhados, para que o participante da reunião científica (e 
aqueles que tiverem acesso posterior aos seus anais) tenham uma ideia mais clara do 
trabalho realizado. Estruturalmente, eles são artigos científicos, cujas sessões são 
resumidas. Como fonte de informação científica, sofrem das mesmas limitações que os 
resumos convencionais. 
4) Relatórios. Têm como função prestar contas do andamento (relatório parcial) ou 
resultado final do trabalho do pesquisador às instituições financiadoras, empregadoras ou 
colaboradoras. Quando apresentado aos órgãos financiadores, contém, além das seções 
técnico-científicas presentes em um artigo científico, também a prestação de contas 
financeira, em que o pesquisador demonstra como os recursos obtidos em suporte ao seu 
trabalho foram utilizados. 
5) Notas científicas. São artigos curtos, publicados em periódicos científicos. Em geral, visam 
trazer a público resultados que o cientista não tem como replicar e/ou observações 
interessantes, sobre as quais ele não pode obter mais dados. 
6) Artigos científicos. São o principal veículo de comunicação na ciência (não tanto nas 
ciências humanas), onde as descobertas científicas originais são divulgadas. Por isto, são 
as fontes primárias de informação científica. Os artigos científicos são descrições 
minuciosas de estudos que visam responder a questões relevantes bem definidas, 
segundo um protocolo metodológico explícito, e que conduzem a conclusões objetivas. 
Estes artigos são publicados em revistas especializadas (periódicos científicos), com 
estrutura própria (em geral, título, resumo, introdução, material e método, resultado, 
discussão e referência) e são avaliados por revisores que são também pesquisadores da 
área, antes de serem aceitos para publicação. 
7) Artigos de revisão. Estes artigos constituem fontes secundárias de informação. Eles 
procuram trazer ao leitor uma visão do estado de conhecimento sobre um assunto, 
baseados nas informações disponíveis nos artigos científicos (fontes primárias). Sua 
organização é livre e construída de acordo com as conveniências do autor e/ou 
recomendações do editor. São uma excelente fonte inicial de estudo sobre um assunto 
com o qual se pretende começar a trabalhar. 
8) Trabalhos (ou monografias) de conclusão de curso (TCC). Esses trabalhos geralmente 
possuem um de dois formatos: a) revisões bibliográficas; ou b) trabalho de pesquisa. No 
primeiro caso, como nos artigos de revisão, seu formato é livre e atende às conveniências 
do autor; no segundo, seu formato se assemelha ao de um artigo científico ou ao de uma 
dissertação ou tese. Os trabalhos de conclusão de curso se diferenciam de dissertações e 
teses por abordarem questões mais simples e em menor profundidade. 
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9) Dissertações (ou teses) de mestrado e teses (ou dissertações) de doutorado. São relatos 
de trabalhos de pesquisa original e, de forma geral, têm estrutura semelhante ao dos 
artigos científicos (embora frequentemente possam ser compostas, principalmente as 
teses de doutorado, de vários capítulos, cada qual equivalente a um artigo científico). 
Nelas se admitem introduções maiores do que as de um artigo científico, com uma 
contextualização mais ampla dos fatos que ela aborda. É tradição, nelas, também, que os 
objetivos estejam destacados em uma seção à parte da introdução. 
Dissertações de mestrado são consideradas, ainda, trabalhos de ‘iniciação’ científica do 
autor e são, geralmente, trabalhos relativamente simples (em muitas áreas, admite-se 
que sejam, inclusive, trabalhos de revisão bibliográfica). As teses, contudo, devem 
demonstrar que o seu autor já está maduro para assumir uma ‘carreira solo’ como 
pesquisador e orientador. Delas, esperam-se relatos de trabalhos de pesquisa sobre 
temas altamente relevantes e que sejam, ao mesmo tempo, profundos e abrangentes. 
Trabalhos de tese não devem ser meros estudos de caso, mas devem trazer contribuições 
relevantes à sua área de conhecimento. 
10) Livros. Livros, como os artigos de revisão, buscam apresentar o estado de conhecimento 
sobre um tópico. Como aqueles artigos, eles também se baseiam fortemente na 
literatura, compilando não apenas os resultados de pesquisa do próprio autor, mas, 
também, de outros. Alguns fatores distinguem um bom artigo de revisão, de um bom 
livro: a) a extensão (os livros, em geral, sendo mais extensos); b) a importância assumida 
pelas ideias do autor (nos livros, os autores, em geral, discutem mais demoradamente o 
conhecimento disponível na literatura, explicitando e defendendo suas conclusões) e c) 
em consequência dos fatores a e c, livros frequentemente são importantes veículos para 
as novas ideias e teorias científicas. Com relação à sua organização,são totalmente livres, 
sendo construídos de acordo com as conveniências do autor. 
 
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A REDAÇÃO DOS TEXTOS CIENTÍFICOS 
Em qualquer dos tipos de texto discutidos acima, espera-se que a redação observe certos 
princípios gerais, que têm como finalidade garantir que a informação seja passada da forma 
mais simples e precisa possível do autor para o leitor. São esses princípios que vamos discutir 
nesta seção. 
Um texto impresso é uma conversa entre um autor e seus leitores. Ao contrário do que 
acontece numa conversa presencial, entretanto, no texto, apenas o autor transmite, 
enquanto o leitor apenas recebe informações. Além disto, numa conversa presencial, a 
eventual falta de precisão da linguagem pode ser compensada por gestos e explicações 
adicionais. Já quando o leitor lê um texto, o autor não está presente e não pode esclarecer 
suas dúvidas. Portanto, a transmissão de informações por escrito exige um esforço adicional 
para que o leitor seja capaz de compreender precisamente aquilo que o autor quer lhe 
comunicar. 
A linguagem escrita é a ferramenta básica empregada pela ciência para transmitir os 
conhecimentos que ela produz. Porém, assim como as chaves de fenda utilizadas por 
relojoeiros, marceneiros e mecânicos são diferentes, a linguagem dos cientistas também não 
é a mesma dos vendedores, autores de ficção e blogueiros. Enquanto na ficção e poesia, por 
exemplo, a linguagem visa despertar a sensibilidade do leitor, na ciência, ela busca apresentar 
ideias de forma que os leitores as entendam precisamente. Assim, na literatura de ficção e na 
poesia, os fatos, as ideias e sentimentos podem ser apresentados de forma vaga, instigando o 
leitor a uma interpretação pessoal. Já nos trabalhos científicos, fatos e ideias devem ser 
apresentados de forma a que o leitor entenda exatamente o que o autor quer que ele 
entenda: se os dados indicam uma explicação para um dado fenômeno, o que o cientista 
pretende é que seu leitor entenda precisamente aquela explicação; ele não pode permitir que 
diferentes leitores cheguem a conclusões pessoais divergentes ou, pior, que eles não sejam 
capazes de tirar conclusão alguma do seu texto. Existem duas causas para o mau 
entendimento de um texto científico: i- o autor está tentando levar o leitor a uma conclusão 
equivocada; ou ii- o autor não foi capaz de explicar claramente, ao leitor, o que ele pretendia 
demonstrar. 
Para complicar a situação, frequentemente, os pesquisadores lidam com assuntos 
complexos, falam de fenômenos desconhecidos e tratam de conceitos não intuitivos para 
quem está pouco familiarizado com o tema abordado. Assim, no dia a dia da ciência, muitas 
vezes artigos não são lidos até o fim e explicações novas são rejeitadas, simplesmente porque 
seus autores não conseguiram redigi-los claramente. Por isto, o objetivo maior da redação 
científica é facilitar a compreensão pelo leitor. Para alcançar este objetivo, o desenvolvimento 
da habilidade de escrever envolve a busca de três qualidades interligadas: clareza, 
objetividade e concisão. Juntas, essas qualidades tornam os textos mais fáceis de se ler e 
entender1. 
Clareza: as ideias apresentadas devem estar óbvias; não podemos deixar o leitor se 
perguntar: ‘Mas o que é que o autor está tentando dizer?’ 
Objetividade: o texto deve se limitar à ideia central. Devemos evitar divagações e a 
mistura de assuntos diversos, que vão tornar a leitura confusa e de difícil compreensão. 
 
1 Num mundo em que a produção científica se dá em uma velocidade avassaladora e crescente e com a 
integração da internet aos meios impressos de publicação, outros recursos tornam-se importantes na 
competição pela atenção do leitor. Exemplos de recursos que podem tornar os textos mais atrativos 
seriam o uso de quadros e gráficos enriquecidos esteticamente (com fotografias, por exemplo) e a 
adição de vídeos. 
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Concisão: o texto deve ser tão curto quanto possível. Às vezes, acreditamos que uma 
explicação mais longa é mais esclarecedora. Não necessariamente: textos longos são mais 
cansativos e favorecem a desconcentração do leitor, tornando-se mais difíceis de 
compreender. 
Abaixo, são listadas algumas regrinhas básicas para uma boa redação científica. 
 
I – As frases no texto científico: 
1) Construa frases curtas. Quanto mais palavras a frase contiver, mais esforço nosso cérebro 
terá que fazer para processar e entender a informação. Uma regra empírica é: não 
construa frases com mais de 30 palavras. Se sua frase ultrapassar este limite, tente 
reduzi-la usando as seguintes estratégias: 
a) Certifique-se de que a frase está transmitindo apenas uma ideia básica; caso 
contrário, divida-a em frases menores, uma para cada ideia diferente. 
 
Ex: 
O ambiente naquela sala era caracterizado por temperaturas e umidades altas, o que 
favorece a proliferação de fungos, bactérias e insetos daninhos e explica a grande 
quantidade de espécimes deteriorados encontrados durante nossa visita em busca dos 
exemplares tipo. 
 
→ O ambiente naquela sala era caracterizado por temperaturas e umidades altas, o que 
favorece a proliferação de fungos, bactérias e insetos daninhos. Isto explica a grande 
quantidade de espécimes deteriorados encontrados durante nossa visita em busca dos 
exemplares tipo; 
 
b) Substitua expressões compostas por palavras únicas equivalentes. 
 
Ex: 
Ele estava coletando quinzenalmente. 
 
→ Ele coletava quinzenalmente; 
 
c) Elimine palavras e expressões que denotem avaliações pessoais subjetivas, 
desnecessárias ao entendimento da informação central. 
 
Ex: O holótipo era um belo exemplar macho 
 
→ O holótipo era um exemplar macho. 
 
O valor estético de um objeto é definido de forma subjetiva e diferentes pessoas têm 
julgamentos diferentes sobre o que é ser ‘belo’. Por isto, do ponto de vista científico, 
a opinião do autor sobre o valor estético de um exemplar, por ser subjetiva, não é 
relevante. O leitor nada pode deduzir sobre o aspecto do exemplar, baseado na 
informação de que ele é ‘belo’. Na realidade, ele pode imaginar uma criatura 
completamente diferente da real, simplesmente por que seus critérios de beleza são 
distintos dos do autor. Então, no exemplo acima, a única informação relevante, que 
pode ser objetivamente entendida pelo leitor é que o exemplar era macho. 
 
d) Evite redundância na indicação do nível ocupado por um táxon na hierarquia lineana. 
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Ex: As espécies do gênero Azteca Forel, 1878 vivem em associação íntima com as 
plantas da família Cecropiaceae. 
 
→ As espécies de Azteca Forel, 1878 vivem em associação íntima com Cecropiaceae. 
 
Palavras em destaque nos textos científicos, iniciadas com letras maiúsculas e 
seguidas de autor e data são gêneros. Esta é uma recomendação dos códigos de 
nomenclatura biológica amplamente aceita pelos periódicos científicos. Da mesma 
forma, palavras iniciadas com maiúsculas e terminadas com o sufixo ‘aceae’ 
denominam famílias de plantas, fungos ou bactérias. Em publicações científicas da 
área biológica, espera-se que o leitor conheça essas convenções básicas. 
 
2) Os elementos da frase devem ser colocados em sua ordem direta. No português, a ordem 
usual dos elementos da frase é: sujeito, verbo, complementos. Lembre-se: o sujeito é 
quem pratica a ação; o verbo define a ação praticada; e os complementos qualificam a 
ação. Quando lemos frases em que esses elementos estão fora desta ordem normal, 
precisamos nos esforçar mais para entendê-las. 
 
Ex: 
O elemento essencial é, para a vida, a água; ou 
Para a vida, a água, o elemento essencial é 
 
→ a água é o elemento essencial para a vida. 
 
3) Prefira frases afirmativas às negativas. É sempre mais fácil entender uma afirmação doque uma negação. 
 
Ex: 
Estas serpentes não têm menos que dois metros de comprimento 
 
→ Estas serpentes têm no mínimo dois metros de comprimento. 
 
4) Use uma linguagem formal. Cada ocasião comporta um linguajar diferente e fugir dele 
pode dificultar o entendimento, além de causar desconfiança e rejeição. 
 
Ex: 
Imagine um estudante de graduação entrando na sede do Diretório Acadêmico e dizendo – 
“Boa tarde senhoras e senhores meus colegas! Como têm passado? Vejo que estão 
desfrutando de um momento de lazer. Algum de vocês poderia, por obséquio, fazer-me um 
relato sobre as partidas de ludopédio realizadas neste fim de semana? Eu participei de um 
convescote no domingo e não pude assistir às transmissões pela televisão.” 
 
O efeito causado pela linguagem acima, naquele ambiente, seria equivalente ao efeito que a 
frase abaixo causaria em um pesquisador, se ele a encontrasse em um artigo científico – 
“As borboleta foi coletada por dois mano, com uns tipo de coadorzão de pano. Esses mano 
dava uns rolé pelas quebrada do parque, sacando as parada que esses bicho dão mole, 
enquanto tão rangando nas flor. O trampo rolou o ano inteiro, com os mano pintando na 
quebrada toda semana, quando o tempo tava de boas”. 
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As frases acima são exemplos radicais, mas o uso da linguagem formal, além de 
influenciar a credibilidade com que um trabalho é recebido, amplia o público capaz de 
entendê-lo. 
Frequentemente, ouvem-se críticas ao formalismo da linguagem técnica. Para uns, ele 
seria uma demonstração do conservadorismo e pedantismo da academia, para outros 
uma forma de exclusão das camadas sociais menos favorecidas do processo de 
construção/aquisição do conhecimento científico. Contudo, a linguagem formal é 
empregada como uma língua neutra que facilite a comunicação entre todos os grupos 
sociais e profissionais (por isto a importância de um bom aprendizado da língua nas 
escolas fundamentais e médias) — mais ou menos como o latim na nomenclatura 
biológica: é preciso considerar que, fora da linguagem formal, nós temos uma grande 
quantidade de linguajares regionais e de ‘dialetos’ de diferentes ‘tribos urbanas’: sulinos 
e nordestinos constroem frases e usam termos distintos e o mesmo acontece com 
surfistas, funkeiros e a juventude de classe média-alta das grandes cidades, só para citar 
alguns exemplos. Ninguém domina todas essas formas de linguagem ao mesmo tempo e 
uma liberdade completa de expressão na ciência tornaria o entendimento dos seus textos 
ainda mais difícil. Note, entretanto, que não é necessário usar uma linguagem 
excessivamente formal — é possível redigir de forma simples, sem cair no linguajar 
coloquial. 
 
Com estas regras iniciais em mente, vamos fazer um exercício para ressaltar as diferenças 
entre textos científicos e textos literários. Veja o trecho abaixo: 
 
“Ao pé dos vulcões, junto aos ventisqueiros, entre os grandes lagos, o 
fragrante, o silencioso, o emaranhado bosque chileno ... Um tronco podre, 
que tesouro!... Fungos negros e azuis, deram-lhe orelhas, plantas parasitas 
vermelhas cobriram-no de rubis, ... e brota, veloz, uma cobra de suas 
entranhas, como uma emanação, como se do tronco morto lhe escapasse a 
alma ... Voa uma mariposa pura como um limão, dançando entre a água e 
a luz ... Ao meu lado, as calceolárias infinitas me saúdam com suas 
cabecinhas amarelas ... O universo vegetal apenas sussurra até que uma 
tempestade ponha em ação toda a música terrestre.” – Pablo Neruda: 
Confesso que vivi. 
 
Esta é parte de uma descrição feita pelo escritor chileno Pablo Neruda, das florestas de sua 
terra natal. Esta descrição é um texto inspirado, belo, e carregado de sentimentos. Contudo, 
por maior que seja seu valor artístico, ela não serviria ao propósito de descrição técnica 
daquelas florestas. Vejamos como poderíamos ‘traduzir’ este texto para uma linguagem 
técnica: 
 
A. Comecemos pela frase inicial, “Ao pé dos vulcões, junto aos ventisqueiros, entre os 
grandes lagos, o fragrante, o silencioso, o emaranhado bosque chileno.” 
a) Há duas informações distintas aí: i- onde situa-se a floresta chilena; e ii- como é a 
floresta chilena. A frase pode, então, ser dividida em duas: i- ‘O bosque chileno 
situa-se ao pé dos vulcões, junto aos bancos de neve, entre os lagos’; e ii- ‘Essas 
florestas são perfumadas, silenciosas e emaranhadas’. Note que a palavra 
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‘ventisqueiro’, pouco usual em português, foi substituída por uma expressão mais 
usual ‘bancos de neve’2. 
b) Os elementos da frase não estão na ordem direta (e um dos elementos, o verbo, 
está apenas implícito). Então, isto foi mudado, iniciando-se as frases pelo sujeito 
(‘O bosque chileno’, na primeira frase; ‘essas florestas’, na segunda). Em seguida 
foram colocados os verbos (‘situar’, na primeira; ‘são’, na segunda) e, depois, os 
complementos. 
 
B. Impressões subjetivas devem ser extirpadas ou substituídas por caracterizações 
objetivas. 
a) “Um tronco podre, que tesouro!” A caracterização do tronco podre (‘que 
tesouro!’) é inteiramente subjetiva; outras pessoas poderiam, por exemplo, 
considerá-lo nojento. Do ponto de vista científico, não importa qual o sentimento 
do autor pelo objeto, o que importa é que ele é substrato para fungos, plantas 
epífitas (parasitas não se desenvolvem em plantas mortas!) e que serve de abrigo 
para cobras. Por isto, o “que tesouro!” deve ser, simplesmente, omitido. 
b) “... como uma emanação, como se do tronco morto lhe escapasse a alma ...” 
Como transformar esta frase numa informação objetiva? Como a alma de um 
tronco morto se desprende dele? Objetivamente, a ciência sequer reconhece a 
existência de almas, muito menos têm observações concretas de almas 
escapando dos corpos mortos. O autor está descrevendo uma impressão 
subjetiva, que cada leitor é livre para imaginar da maneira que lhe for possível. 
Portanto, uma frase como esta não tem lugar num texto científico. 
c) “Voa uma mariposa pura como um limão.” O que seria uma mariposa pura como 
um limão? Veja que esta metáfora é uma informação imprecisa, que dá margem a 
interpretações diversas. Poderemos, por exemplo, considerar que Neruda referia-
se à cor amarelo-clara dos limões. Outros ‘tradutores’ (leitores) talvez 
interpretassem de forma diferente... 
d) “... calceolárias infinitas me saúdam com suas cabecinhas amarelas.” Calceolárias 
são plantas silvestres. Do ponto de vista estritamente técnico, plantas não 
saúdam ninguém e, portanto, esta possível descrição poética do balançar das 
plantas pela brisa foi retirada do texto (mais uma vez, talvez outros leitores 
interpretassem de outra maneira). “cabecinhas amarelas” muito provavelmente 
são as flores das calceolárias (esta foi a interpretação adotada aqui). De novo, do 
ponto de vista técnico, interessa dizer que as calceolárias de flores amarelas são 
muito abundantes na floresta (“calceolárias infinitas”). 
 
Chegamos, então, à ‘tradução’ do texto poético para o técnico: 
O bosque chileno situa-se ao pé dos vulcões, junto aos bancos de neve, entre os lagos. 
Essas florestas são perfumadas, silenciosas e emaranhadas. Nelas, os troncos podres são 
substratos para fungos ‘orelhas-de-pau’ (Polyporaceae) negros e azuis, são recobertos de 
plantas epífitas vermelhas, e servem de abrigo para serpentes. No interior dessas florestas, há 
mariposas amarelo-limão e grande abundância de calceolárias de flores amarelas. O silêncio 
dessas florestas só é interrompido pelas tempestades. 
 
2 Há vários significados para a palavra ‘ventisqueiro’. O significado mais comum, no espanhol, são 
depressões nas montanhas onde se acumula neve. O autor podia, ainda, estar se referindo 
alternativamente a geleiras. 
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Versão 19/03/2019 
O resultado desta ‘tradução’é um texto mais enxuto (reduzido de 103 para 71 palavras) e 
mais fácil de entender, por não conter informações dúbias, sujeitas à livre interpretação dos 
leitores. Obviamente, Neruda não estava interessado em uma descrição técnica da floresta 
chilena, mas em tocar a sensibilidade de seus leitores com as sensações que a floresta lhe 
despertava (e, para esta finalidade, a nossa ‘tradução’ técnica é que seria imprestável...). 
 
Exercício 1. 
Examine a tabela abaixo e descreva a informação que ela apresenta em um único 
parágrafo, observando as dicas acima. 
 
Tabela I - Quantidade encontrada de indivíduos de duas espécies de 
formigas em diferentes ambientes na Floresta X. 
ESPÉCIE 
AMBIENTE 
TOTAL 
Dossel Sub-bosque Serapilheira 
Formiga 1 301 209 100 610 
Formiga 2 55 79 150 284 
TOTAL 356 288 250 894 
 
II – Estruturação de parágrafos e tópicos nos textos científicos 
Até aqui tratamos da construção de frases. Vamos comentar, agora, sobre aspectos a 
serem observados na estruturação de textos mais longos: 
 
1) Separe assuntos diferentes em parágrafos distintos. Os parágrafos são elementos 
organizadores do texto, ajudando o leitor a perceber as mudanças de assunto. Cada 
parágrafo deverá esgotar uma ideia, com um princípio, meio e fim. 
 
Ex: 
Nos séculos que seguiram à morte de Aristóteles, até a renascença, pouco ou nada se 
estudou sobre a biologia dos animais e o conhecimento que se teve deles, ao longo de todo 
o restante do período clássico e de toda a idade média, foi o que o filósofo grego descobriu 
e compilou durante sua vida. A inclusão de dragões e unicórnios nos bestiários medievais é 
apenas um dos aspectos que demonstram a falta de rigor dos que trataram dos animais 
naquele período: os autores medievais não tinham escrúpulos em misturar animais 
fantásticos e animais reais em obras pretensamente técnicas. Já na Renascença, com o 
advento das grandes navegações, os europeus entraram em contato com as faunas ricas e 
diversificadas dos continentes que eles vieram a descobrir. Os navios mercantes chegavam 
das novas terras repletos de amostras, vivas e mortas, de seres desconhecidos que 
encantavam nobres e plebeus e isto os levou a se dedicarem novamente ao estudo dos 
animais. Armários de curiosidades, montados para encantar os visitantes das grandes 
mansões com peles e esqueletos de seres exóticos, se transformaram em salas de 
curiosidades e, finalmente, nos grandes museus de história natural, onde naturalistas se 
dedicaram ao árduo trabalho de estudar, comparar e classificar os animais. Entre os séculos 
XVII e XIX, história natural foi a ‘rainha das ciências’ e os naturalistas eram profissionais 
respeitados e influentes. Ao longo deste período, contudo, um novo paradigma de ciência 
se desenvolveu, um modelo que buscava o rigor, a repetibilidade e a objetividade. Ciências 
experimentais, como a química e a física, desenvolveram-se rapidamente, com base nessas 
premissas, enquanto os naturalistas continuavam a construir suas classificações com base 
nos mesmos procedimentos subjetivos. Por isto, no início do século XX, a taxonomia 
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© Fernando A. Silveira 
Versão 19/03/2019 
entrou em declínio e os naturalistas deram lugar a um novo rol de cientistas: geneticistas, 
fisiologistas, bioquímicos, ecólogos etc. 
 
Muitos assuntos em um único parágrafo, certo? Não há pausa para o leitor sedimentar as 
informações, que vão se sucedendo ininterruptamente. O melhor, num caso como este, é 
separar assuntos diferentes em parágrafos distintos, para que o leitor posso processar 
cada um individualmente, antes de seguir para o próximo: 
→ Nos séculos que seguiram à morte de Aristóteles, até a renascença, pouco ou nada se 
estudou sobre a biologia dos animais. O conhecimento que se teve deles, ao longo de todo 
o restante do período clássico e de toda a idade média, foi o que o filósofo grego havia 
descoberto e compilado durante sua vida. A inclusão de dragões e unicórnios nos bestiários 
medievais é apenas um dos aspectos que demonstram a falta de rigor dos que trataram dos 
animais naquele período: os autores medievais não tinham escrúpulos em misturar animais 
fantásticos e animais reais em obras pretensamente técnicas. 
Já na Renascença, com o advento das grandes navegações, os europeus entraram em 
contato com as faunas ricas e diversificadas dos continentes que eles vieram a descobrir. 
Os navios mercantes chegavam das novas terras repletos de amostras vivas e mortas de 
seres desconhecidos que encantavam nobres e plebeus. Isto levou os europeus a se 
dedicarem novamente ao estudo dos animais. Armários de curiosidades, montados para 
encantar os visitantes das grandes mansões com peles e esqueletos de seres exóticos, se 
transformaram em salas de curiosidades e, finalmente, nos grandes museus de história 
natural, onde naturalistas se dedicaram ao trabalho de estudar, comparar e classificar os 
animais. 
Entre os séculos XVII e XIX, a história natural foi a ‘rainha das ciências’ e os naturalistas 
se tornaram profissionais respeitados e influentes. Ao longo deste período, contudo, um 
novo paradigma de ciência se desenvolveu lentamente, um modelo que buscava o rigor, a 
repetibilidade e a objetividade. Ciências experimentais, como a química e a física, 
desenvolveram-se rapidamente com base nessas premissas, enquanto os naturalistas 
continuavam a construir suas classificações com base nos mesmos procedimentos 
subjetivos. Por isto, no início do século XX, a taxonomia entrou em declínio e os 
naturalistas deram lugar a um novo rol de cientistas: geneticistas, fisiologistas, 
bioquímicos, ecólogos etc. 
 
2) Evite parágrafos muito curtos. Um parágrafo deve explorar uma ideia e não apenas jogá-
la para o leitor. Um texto construído com base em uma série de parágrafos muito curtos é 
apenas um amontoado de frases isoladas, cuja leitura torna-se monótona e cansativa. 
 
Ex: 
A Floresta Atlântica estende-se ao longo das costas leste e sul do Brasil. 
Ela é um dos principais domínios fitogeográficos do Brasil, ao lado da Floresta 
Amazônica, do Cerrado, da Caatinga, dos Pampas e do Pantanal. 
A biota da Floresta Atlântica é muito rica. 
Muitas espécies endêmicas são encontradas na Floresta Atlântica. 
 
→ A Floresta Atlântica, que se estende ao longo das costas leste e sul do Brasil, é um dos 
principais domínios fitogeográficos do país, ao lado da Floresta Amazônica, do Cerrado, da 
Caatinga, dos Pampas e do Pantanal. Ela abriga uma biota muito rica, que inclui muitas 
espécies endêmicas. 
 
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3) Ao explicar alguma coisa, evite ‘dar voltas entorno do assunto’. Vá direto ao ponto. Às 
vezes, construímos um parágrafo inteiro, explicando a mesma coisa várias vezes. Em 
geral, isto é um sinal de que nós reconhecemos que nossa explicação não está clara. 
Algumas expressões são especialmente reveladoras disto: ‘em outras palavras’, ‘ou seja’, 
‘isto significa’. Fique atento quando elas aparecerem: pode ser preferível reconstruir toda 
a explicação em uma única frase mais clara. 
 
Ex: 
Nesses ambientes, os recursos nem sempre estão disponíveis, mas, quando aparecem, são 
muito abundantes, isto é, o ambiente é imprevisível, mas é capaz de sustentar espécies que 
forem capazes de se reproduzirem rapidamente, produzindo uma grande progênie, sem 
grande investimento energético por parte dos pais. Por isto, as estrategistas r, que são 
espécies que apresentam essas características, são as mais bem adaptadas a esses 
ambientes. 
 
→ Nesses ambientes imprevisíveis, nos quais os recursos podem ser ocasionalmente 
abundantes, as espécies mais bem adaptadas são as estrategistas r, capazes de 
produzirem progênie abundante, rapidamente, com pouco investimento parental. 
 
4) Forneça todos os elementos necessários para que o leitor entenda sua argumentação. 
Frequentemente, construímos argumentações que se baseiam eminformações não 
apresentadas anteriormente em nosso texto, mas que dependem de conhecimentos 
prévios sobre o assunto. É preciso lembrar, então, que o leitor não necessariamente 
domina o nosso mesmo conjunto de conhecimentos e que pode não ter condições de 
fazer as associações necessárias para entender nosso raciocínio. 
 
Ex: 
O fato de insetos associados a plantas herbáceas terem sido mais abundantes foi 
consequência da amostragem ter sido realizada em ‘cerrado sensu stricto’ 
 
→ O fato de insetos associados a plantas herbáceas terem sido mais abundantes foi 
consequência da amostragem ter sido realizada em ‘cerrado sensu stricto’, um ambiente 
com dominância do extrato herbáceo. 
 
Note que a explicação original sobre a abundância de insetos associados a plantas 
herbáceas é baseada no conhecimento prévio de que o ambiente amostrado é dominado 
por essas plantas. Contudo, nem todos os leitores possuem, necessariamente, este 
conhecimento. Adicionar esta informação ao texto facilita, portanto, o entendimento de 
nossa explicação. 
 
5) Evite especulações. Especulações são afirmações feitas sem o suporte de observações ou 
dados objetivos. Especulações podem indicar duas coisas: 1) estamos fugindo das 
perguntas iniciais para as quais nossos procedimentos foram planejados a responder; ou 
2) nossos procedimentos não foram bem delineados e não resultaram em respostas 
claras às nossas perguntas. Especulações podem ser boas hipóteses a serem testadas 
posteriormente e, neste caso, podem ser apresentadas como tais, mas temos que tomar 
muito cuidado para: 1) não deixar de lado os nossos resultados, usando explicações 
especulativas como respostas às nossas perguntas originais; e 2) não abandonarmos 
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Versão 19/03/2019 
nossas perguntas originais, avançando sobre questões não avaliadas objetivamente e 
para as quais nossos dados não se prestam a explicar. 
 
Ex: 
O número de insetos encontrado nas flores foi maior de manhã do que à tarde. É possível 
que tal resultado se deva à flutuação da umidade relativa do ar ao longo do dia, o que 
poderia levar a uma grande perda de água por parte dos insetos, nos períodos de maior 
temperatura. 
 
Algum experimento foi feito para testar se os insetos são menos ativos em períodos de 
baixa umidade relativa do ar? 
Algum experimento foi feito para testar se, sob baixa umidade relativa do ar, os insetos 
perdem muita água? 
Se não, então a explicação dada foge ao escopo do trabalho e tudo o que há, 
objetivamente, a ser dito, da frase acima é: 
 
→ O número de insetos encontrado nas flores foi maior de manhã do que à tarde. 
 
_______________________ 
Resposta para o exercício 1: A abundância de duas espécies de formigas foi avaliada em três ambientes na Floresta X. No total, 
894 indivíduos de formigas foram registrados, 610 da Formiga 1 e 284 da Formiga 2. Um total de 356 indivíduos foi registrado no 
dossel, 288 no sub-bosque e 250 na serapilheira. Trezentos e um indivíduos da Formiga 1 foram registradas no dossel, 209 no 
sub-bosque e 100 na serapilheira. Duzentos e cinquenta indivíduos da Formiga 2 foram registrados na serapilheira, 79 no dossel e 
55 no sub-bosque. 
 
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ESTRUTURA DO TEXTO CIENTÍFICO 
O processo de geração de conhecimento, em geral, se desenrola na seguinte sequência: 
1) O pesquisador observa um fenômeno que lhe chama a atenção; 
2) O pesquisador formula uma pergunta sobre o fenômeno observado; 
3) O pesquisador consulta a bibliografia, em busca de respostas para sua pergunta ou, caso 
não as encontre, de informações que possam lhe facilitar a obtenção dessa resposta; 
4) O pesquisador define procedimentos (delineamento experimental) que lhe permita 
responder à pergunta formulada por ele; 
5) O pesquisador desenvolve os procedimentos experimentais e obtém os dados 
resultantes; 
6) O pesquisador analisa os seus resultados e os confronta com o conhecimento teórico pré-
existente, chegando a uma conclusão – a resposta à sua pergunta original. 
7) O pesquisador escreve seu trabalho e publica em um artigo científico, dando a conhecer o 
novo conhecimento adquirido. 
 
Os artigos científicos, contudo, não são estruturados nesta mesma sequência, mas em uma 
sequência que visa facilitar a sua compreensão pelo leitor: 
1) Título. 
2) Resumo. 
3) Introdução. 
4) Objetivos (exceto em dissertações e teses, normalmente o(s) último(s) parágrafo(s) da 
introdução. 
5) Material e método. 
6) Resultado. 
7) Discussão. 
 
Contudo, a ordem em que esses tópicos são apresentados, não é, necessariamente, a 
ordem mais adequada para a redação do texto científico: em geral, é mais fácil ordenar as 
ideias e organizar o manuscrito da seguinte forma: 
1) Objetivos: explicite claramente as perguntas a que se quer responder (e/ou as hipóteses 
que se pretende testar); 
2) Material e método: o que foi feito para responder cada pergunta ou testar cada hipótese 
colocada nos objetivos? 
No caso dos artigos científicos, os próximos passos seriam a redação dos ‘Resultados’ e 
‘Discussão’, que obviamente, não fazem parte dos projetos de pesquisa (mas, estes, às 
vezes, contêm uma seção de resultados esperados). 
3) Resultados: para cada procedimento ou teste, qual foi o resultado obtido? 
4) Discussão: o que os resultados trazem de novo ao nosso conhecimento prévio? Como ele 
se conforma à teoria? A discussão deve conter, ainda, como seu parágrafo final, as 
conclusões do estudo que serão as respostas às perguntas colocadas nos objetivos (Em 
alguns periódicos científicos as conclusões são apresentadas em um tópico à parte). 
5) Introdução: aqui vai se dar ao leitor a informação necessária para que ele entenda a 
motivação e justificativa do estudo, a escolha dos métodos e, também, o conhecimento 
básico necessário para que ele entenda o ‘Resultado’ e sua ‘Discussão’. 
6) Finalmente, define-se o título e escreve-se o resumo. 
 
A seguir, vamos discutir cada uma dessas seções, nesta ordem. 
 
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I – Objetivos 
Como vimos acima, o processo de geração de conhecimento começa (ou deveria começar) 
com a formulação de uma ou mais perguntas. Responder esta(s) pergunta(s) é o objetivo do 
projeto de pesquisa. Portanto, na elaboração de propostas de trabalho, relatórios e trabalhos 
científicos, são estas perguntas que devem ficar claras para o leitor (e para o autor!). 
Sendo redundante: ao escrever os objetivos, o autor deve deixar claro qual a pergunta ou 
perguntas ele pretende responder com aquele projeto ou trabalho. 
Faz parte do atual paradigma do método científico, que a ciência deve trabalhar testando 
hipóteses. Não são todos os programas de pesquisa, contudo, que se encaixam neste 
paradigma. Questões estudadas pelas ciências históricas (história da civilização, cosmologia, 
filogenia etc), nem sempre podem ser avaliadas em procedimentos experimentais adequados 
para o teste de hipóteses. De qualquer forma, sempre que possível, é recomendável que se 
definam, a partir das perguntas que se pretende responder, as hipóteses que serão testadas. 
Isto ajudará a definir os procedimentos de coleta e análise dos dados (veja mais sobre isto 
aqui: http://sistematicabiologi.wixsite.com/sistematica/copia-cladograma-2). 
Infelizmente, nem sempre os pesquisadores definem claramente, mesmo para si próprios, 
as perguntas que pretendem responder, iniciando a coleta de dados apenas com ideias vagas 
sobre o que estão buscando entender. Contudo, a falta de uma definição clara dos objetivos é 
a principal causa de problemas no delineamento dos métodos e, consequentemente, da baixa 
qualidade final do trabalho científico. 
Alguns dos problemas mais comuns na definição e redação dos objetivos são os seguintes: 
 
1) Delimitação do escopo do trabalho. Limitações de tempo, recursos e dos métodos de 
análise impedem a abordagemde questões excessivamente amplas e/ou complexas de 
forma eficiente. Precisamos, por isto, delimitar claramente o tema e o contexto em que 
este tema será abordado no trabalho. 
 
Ex: 
Neste trabalho será estudado o comportamento de carnívoros. 
 
Esta é uma proposta interessante para um programa de uma vida profissional inteira. 
Contudo, como ponto de partida para um projeto específico de trabalho, ela é uma 
proposição muito vaga. Carnívoros exibem um rol quase infinito de comportamentos, 
relacionados aos mais diversos contextos ecológicos, sociais, ontogenéticos e fisiológicos 
de suas existências. Não há como se estudar todo este conjunto de comportamentos em 
um único projeto de trabalho. 
 
→ Neste trabalho, são estudados os comportamentos de corte de Panthera onca. 
 
Agora, temos uma questão tratável em um único projeto de pesquisa, mas este é apenas 
o escopo do trabalho, não o seu objetivo, afinal tudo o que está proposto nesta frase é 
estudar, e estudar, por si só, não é objetivo, mas apenas um meio de se atingir o objetivo 
(veja item 2, abaixo). O que precisamos definir é: a que perguntas se pretende responder 
ao se estudar o comportamento de corte dos machos de Panthera onca? Essas perguntas 
é que serão os objetivos do trabalho: 
a) Ao se iniciar a corte, o macho precisa se precaver contra agressões da fêmea? 
b) O macho repete alguma sequência ritualizada de comportamentos durante a corte? 
Que comportamentos compõem esta sequência? 
http://sistematicabiologi.wixsite.com/sistematica/copia-cladograma-2
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c) O macho precisa conter a fêmea para alcançar a cópula? 
Note que, para formular essas perguntas, o pesquisador precisaria ter algum 
conhecimento prévio sobre comportamentos de corte, por exemplo, em outros felinos. 
Só assim ele saberia que há possibilidade de a fêmea agredir o macho, que há espécies 
cujos machos repetem uma sequência de comportamentos para serem aceitos pela 
fêmea, e que há casos em que o macho precisa conter a fêmea à força para conseguir 
completar a cópula. Este conhecimento é obtido, antes da elaboração do projeto de 
pesquisa, em uma revisão da literatura e vai dar suporte à construção da introdução do 
projeto e do trabalho final. 
 
2) Distinção entre objetivos e processos metodológicos. Curiosamente, os pesquisadores 
frequentemente definem o que eles vão fazer, antes de definirem exatamente por que 
vão fazer. Isto decorre de uma ênfase nos métodos (que, por sua vez, pode indicar uma 
deficiência na formação do pesquisador: ele foi formado para levantar e responder 
perguntas cientificamente relevantes ou para executar determinados procedimentos 
metodológicos?). Analisar, estimar, calcular, avaliar, comparar são ações pelas quais o 
pesquisador busca responder perguntas, são meios para se atingir os objetivos e não os 
objetivos em si. Então, calcular índices de diversidade, reconstruir filogenias e sequenciar 
fragmentos de DNA, por exemplo, são apenas procedimentos metodológicos, mas o que é 
preciso definir nos ‘Objetivos’ de um projeto, são as perguntas que se pretende 
responder com esses procedimentos. 
 
Ex: 
Comparar os tempos de desenvolvimento embrionário da galinha e do pombo. 
 
Note que ‘comparar’ é um processo metodológico e não um objetivo em si mesmo. O 
pesquisador precisa definir a finalidade desta comparação: é preciso definir uma 
pergunta a ser respondida para que a comparação seja feita de forma a alcançar a sua 
resposta. 
 
→ As diferentes fases do desenvolvimento embrionário da galinha e do pombo se 
completam em tempos relativos similares? 
 
Veja que a definição da pergunta já ressalta a necessidade de procedimentos 
metodológicos que poderiam passar despercebidos pelo pesquisador, até que ele inicie a 
análise dos dados. Por exemplo, a pergunta acima chama atenção para a necessidade de 
se medir a duração de cada fase do desenvolvimento embrionário das aves estudadas. 
 
Vejamos um exemplo: 
Objetivos 
Este trabalho trata da filogenia e taxonomia de Parasitengona terrestres, com foco em 
Erythraeoidea, e tem os seguintes objetivos: 
1) Elucidar as relações filogenéticas entre as espécies de Smarididae; 
2) Delimitar as espécies de Callidosomatinae; 
3) Associar as fases larval, juvenil e adulta das espécies de Callidosomatinae; 
4) Descrever as espécies de Erythraeiodea depositadas na Coleção Acarológica do 
Centro de Coleções Taxonômicas da UFMG (CCT-UFMG). 
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Os objetivos propriamente ditos foram precedidos pela descrição do escopo do trabalho, 
que contextualizou os objetivos propostos. Este escopo é o que frequentemente se chama de 
‘objetivo geral’. Note, contudo, que não há um objetivo proposto aí, nenhuma pergunta 
específica a responder. Por outro lado, por trás de cada um dos objetivos propostos (e que 
equivaleriam aos ‘objetivos específicos’), há uma pergunta a ser respondida: 1) Quais são as 
relações filogenéticas entre as espécies de Smarididae?; 2) Qual é o limite entre as espécies 
de Callidosomatinae?; 3) Qual são as fases larvais e juvenis das espécies de Callidosomatinae 
já descritas com base no estádio adulto?; e 4) Existem espécies novas na Coleção Acarológica 
das CCT-UFMG e, em caso afirmativo, qual a sua posição na classificação? 
 
Abaixo, apresentamos alguns exemplos de problemas comumente encontrados na 
formulação de objetivos: 
 
Ex. 01: 
“O presente trabalho tem por objetivo geral o estudo anatômico e sistemático de 10 novos 
espécimes de mamíferos fósseis (Edentata e Carnivora) provenientes da Formação Crato. Estes 
espécimes estão tombados na coleção Paleoentomológica da Faculdade de Filosofia, Ciências e 
Letras da Universidade de São Paulo2”. 
 
Do ponto de vista semântico, chamar fósseis de ‘espécimes novos’ não faz muito sentido; 
talvez eles possam ser espécimes recém-descobertos... Com relação à construção do 
objetivo, a instituição depositária de exemplares examinados em um estudo não faz parte 
dos objetivos do trabalho. Esta informação deve ser dada no ‘Material e Método’. No mais, 
esta proposição não expressa um objetivo de fato, porque não há uma pergunta clara a ser 
respondida. Ela é apresenta, apenas, o escopo do trabalho, contextuando os objetivos, que 
devem ser apresentados, então. 
 
Ex. 02: 
“Utilizar sequências dos fragmentos nucleares de marcadores EPIC, além das sequências 
da região Citocromo oxidase do DNA mitocondrial (COI) e da região espaçadora 
transcrita interna (ITS2) do DNA ribossomal como marcadores moleculares para 
análises filogenéticas.” 
 
Aqui não se apresenta nenhum objetivo, nenhuma pergunta a ser respondida, apenas se 
aponta o método que será empregado (para responder qual pergunta?). 
 
Ex. 03: 
Comparar a anatomia do sistema reprodutor dos espécimes de Anonimus coletados e 
agrupar as amostras em morfotipos distintos, relacionando-os com as características 
previamente descritas na literatura. 
 
→ Comparar (= relacionar) é um procedimento metodológico. Qual a finalidade da 
comparação? A que pergunta se pretende responder com ela? 
__________ 
 
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II – Material e Método 
O ‘Material e Método’ (M&M) é a seção que descreve, detalhadamente, os procedimentos a 
serem (nos projetos) ou que foram (nos trabalhos científicos) executados, em busca das 
respostas às perguntas propostas nos objetivos dos projetos de pesquisa. Esta seção tem 
duas funções básicas: 
1) Permitir a avaliação do projeto ou trabalho. Um projeto ou relato científico deve trazer a 
informação necessária para que os leitores avaliem se os métodos empregados são 
adequados para atender os objetivos do autor: a coleta e a análise de dados foram 
delineadas de forma a produzir resultados robustos e confiáveis que respondam, de fato, 
as perguntas propostas? 
2) Conferir repetibilidade ao trabalho.A repetibilidade é um dos pressupostos básicos dos 
trabalhos científicos modernos: espera-se que outras pessoas possam repetir os 
procedimentos realizados por um autor para verificar se eles, de fato, produzem os 
resultados relatados. Estas verificações é que conferem confiabilidade à ciência e, para 
que possam ser realizadas, é preciso que os cientistas deem todas as informações 
necessárias para que seu trabalho seja repetido fielmente. 
A seção de M&M é o resultado direto do planejamento do projeto científico, que, por sua 
vez, é crucial na determinação do sucesso e qualidade do trabalho final. Durante este 
planejamento, o pesquisador deve definir cuidadosamente os procedimentos necessários 
para responder suas perguntas, incluindo duas etapas: a) coleta de dados; e b) análise de 
dados. Embora o delineamento experimental não faça parte do escopo da redação 
científica, não custa chamar atenção para o fato de que o planejamento da coleta de 
dados tem que considerar os métodos de análise que serão usados, bem como seus 
pressupostos. Um dos problemas mais comumente enfrentados por pesquisadores 
iniciantes é descobrir, depois de um esforço considerável de campo e/ou laboratório, que 
os seus dados não se prestam a uma análise objetiva e robusta, porque sua coleta não 
observou os pressupostos dos métodos de análise (como número adequado de repetições, 
independência de variáveis etc). Portanto, o pesquisador deve conter sua ansiedade em 
começar a executar o trabalho, buscando cuidadosamente as informações necessárias 
para um bom delineamento dos procedimentos. Como já foi dito na seção anterior, isto 
começa com a definição de perguntas objetivas a serem respondidas e deve ser seguido 
pelo estudo dos métodos empregados usualmente para colher e analisar os dados em 
projetos semelhantes. Os pesquisadores devem ser especialmente cuidadosos com os 
projetos que usam métodos originais – eles devem ser criticamente avaliados e 
cuidadosamente justificados. 
Aqui, contudo, não vamos discutir o planejamento da metodologia, mas apenas aspectos 
relacionados à descrição dos procedimentos metodológicos em projetos, relatórios e 
artigos. Como em todos os textos científicos, o que se busca, principalmente, também 
nesta seção, é a clareza e a objetividade como meios de se facilitar o entendimento pelo 
leitor. 
 
Organização do ‘Material e Método’ 
A organização da seção de M&M deve considerar duas coisas: a) os objetivos propostos e 
b) as etapas de obtenção e análise de dados. Então, para cada objetivo, devem-se descrever 
os procedimentos de coleta e de análise de dados. A forma como isto vai ser feito depende, 
em parte, da extensão do texto e da complexidade dos procedimentos: para textos grandes e 
procedimentos complexos, é preferível dividir o M&M em subseções; se o texto é 
22 
© Fernando A. Silveira 
Versão 19/03/2019 
relativamente pequeno e os procedimentos simples, então, basta que se faça uma boa divisão 
dos tópicos em parágrafos. 
Quando se decide pela divisão em tópicos, ela pode ser feita de formas diferentes, 
dependendo do caso: 
a) se os dados a serem empregados para alcançar os diferentes objetivos forem distintos, 
então, pode se organizar o M&M por objetivo e, para cada objetivo, descrever os 
procedimentos de obtenção e de análise de dados. 
 
Ex: 
Consideremos um projeto em que o pesquisador definisse os seguintes objetivos: 
i- Delimitar as espécies de um gênero de marsupiais; e ii- Elucidar as relações filogenéticas 
entre as espécies desse gênero. 
 
Neste caso, ele poderia organizar o M&M em duas subseções, cada uma para descrever os 
procedimentos relacionados a um objetivo: 1) Delimitação de espécies – em diferentes 
parágrafos ele poderia, por exemplo, descrever os procedimentos de a) coleta de tecido; b) 
extração, amplificação, sequenciamento e alinhamento das sequências de um ou mais 
genes; c) estimativa de verossimilhanças e agrupamento das amostras; d) delimitação das 
espécies com base nos dados moleculares; e e) definição de caracteres morfológicos 
diagnósticos das espécies reconhecidas (este é apenas um exemplo de um conjunto de 
procedimentos possíveis e não uma recomendação metodológica para a abordagem do 
problema) e 2) Elucidação das relações filogenéticas das espécies – em diferentes 
parágrafos ele poderia descrever a) a amostragem de espécies do gênero; b) o 
levantamento e codificação de caracteres; c) construção da matriz de dados; d) 
procedimentos de análise filogenética (incluindo os tipos de análises, os programas 
empregados, os parâmetros e critérios definidos em cada programa para cada análise etc). 
 
b) se os dados que serão empregados para alcançar os vários objetivos forem obtidos com 
o mesmo conjunto de procedimentos, então, pode-se dividir o M&M em uma subseção 
para a coleta de dados e outra para a análise de dados. Neste caso, normalmente, os 
diferentes objetivos são abordados por diferentes análises do mesmo conjunto ou de 
subconjuntos diferentes de dados e deve-se fazer uma associação explícita entre a análise 
e a pergunta que se pretende responder com ela 
 
Ex: 
Imaginemos que, em um projeto, o autor pretenda responder duas perguntas: 
i- Como são estruturadas as comunidades de formigas em duas áreas contíguas, uma de 
cerrado e outra de floresta ripária? e ii- A proporção de espécies encontradas nos estratos 
herbáceo, arbustivo e arbóreo é similar nas duas áreas? 
 
Neste caso ele poderia dividir o M&M em 1) Áreas amostrais e coleta de dados 
(descrevendo a localização da área, suas características gerais e os dois hábitats a serem 
amostrados e descrevendo os procedimentos de coleta empregados; e 2) Análise de dados 
(por exemplo, descrevendo os procedimentos de estimativa de riqueza e diversidade de 
espécies e para avaliação da similaridade das assembleias de formigas nos extratos 
vegetacionais amostrados). 
 
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Versão 19/03/2019 
No caso de artigos científicos, a definição da organização do M&M deve levar em 
consideração, antes de mais nada, as normas da revista em que se pretende publicar o 
manuscrito, já que algumas delas podem não permitir que se separe a seção em subseções. 
De qualquer forma, a organização geral pode ser mantida, apenas omitindo-se os subtítulos 
dentro da seção. 
Independente da organização dada, durante a redação do M&M, o autor deve se 
perguntar a cada parágrafo escrito: 
a) Eu seria capaz de repetir este procedimento com base apenas nesta descrição? 
b) Todo o equipamento e material empregado neste procedimento foi mencionado? 
c) A forma como esses equipamentos e materiais foram usados foi claramente descrita? 
d) Todos os métodos de análise foram mencionados? 
e) Ao descrever esses métodos, todas as opções feitas na análise foram destacadas? 
 
Lembre-se, se a resposta a uma ou mais dessas perguntas for negativa, então o M&M não 
estará cumprindo as suas funções de permitir: i- a avaliação do trabalho; e ii- que ele seja 
repetido. Ao escrever o M&M, lembre-se de que, para você que planejou (e talvez já tenha 
executado) os procedimentos descritos, será muito mais fácil entender sua descrição do que 
para o leitor. Então, ajude-o: seja claro, sucinto e objetivo, mas não deixe detalhes para o seu 
leitor imaginar ou adivinhar. 
No caso da descrição de procedimentos complexos, que podem exigir o conhecimento 
prévio de detalhes teóricos e/ou metodológicos, faça referência a algum trabalho científico 
em que sejam explicados os detalhes que possam ser causa de dúvida para os seus leitores. 
Se você estiver usando um procedimento pouco usual ou inovador entre os seus métodos e 
sentir necessidade de justificar ou explicar o seu uso, pode ser conveniente criar um 
parágrafo ou item na introdução para isto. 
 
Ex: 
Na introdução: Uma dificuldade encontrada nos estudos dessas questões é a falta de métodos 
estatísticos robustospara a análise de dados obtidos nas condições em que esses estudos são 
feitos. Felizmente, um método que supre esta deficiência foi proposto, recentemente (Pereira et 
al., 2019), com base em princípios desenvolvidos dentro da teoria de fractais. 
 
Por outro lado, não é necessário explicar detalhadamente procedimentos usuais e 
consagrados na literatura. Por exemplo, não é necessário explicar como se faz uma análise de 
variância ou como funciona uma análise de parcimônia por busca exaustiva. Em caso de 
dúvidas, cite uma referência. 
 
Ex: 
Os dados foram submetidos à análise de parcimônia por ‘métodos modernos’, fazendo-se uma 
sequência de buscas pelos procedimentos de ‘ratchet’, ‘tree fusing’ e ‘sectorial search’ 
(Goloboff, 1999; Nixon, 1999). Para esta análise foram empregados os parâmetros definidos no 
programa TNT (Goloboff et al, 2008). 
__________ 
 
Na sequência à seção ‘Material e Método’, nós teríamos, nos trabalhos científicos (artigos, 
dissertações etc), as seções de ‘Resultados’ e de ‘Discussão’. Mas, nos projetos, (onde nós 
ainda não teríamos resultados a apresentar e discutir) ela seria seguida de outras seções, que 
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variam, de acordo com as exigências de quem vai receber o projeto para avaliação. Exemplos 
dessas seções seriam: 
1) Resultados preliminares. Às vezes, o pesquisador, quando submete um projeto à avaliação 
de uma agência financiadora ou de uma banca examinadora, já iniciou sua execução ou já 
fez alguns procedimentos iniciais para testar e definir metodologias. Os resultados obtidos 
até então, podem ser apresentados como indicadores da viabilidade da metodologia 
definida e de resultados prováveis. Neste caso, convém fazer-se uma breve discussão dos 
dados já obtidos; 
2) Resultados esperados. Esta seção, às vezes, é solicitada pelo avaliador do projeto. Aqui, o 
pesquisador pode apresentar as suas hipóteses explicativas (veja um pouco mais sobre 
elas, acima, no item ‘Objetivos’). Neste caso, convém fazer um pouco mais do que listar os 
possíveis resultados; deve-se fornecer as razões que levam a que eles sejam esperados. 
Essas razões podem derivar de alguma teoria ou de resultados anteriores, obtidos em 
situações semelhantes, por ele ou outros autores: o autor deve dar, a quem vai avaliar seu 
trabalho, condições de entender suas expectativas; 
 
Os próximos itens, orçamento, cronograma e referências são seções obrigatórias dos 
projetos de pesquisa e serão discutidos com mais detalhes, abaixo. 
__________ 
 
III – Orçamento 
A principal limitação à execução de nossos projetos de pesquisa será, sempre, a limitação de 
recursos financeiros. Com o dinheiro que não temos, poderíamos comprar mais reagentes e 
mais passagens de avião; poderíamos pagar mais diárias, mais bolsas, mais serviços de 
terceiros e mais equipamentos e insumos. Poderíamos até comprar mais tempo! 
Infelizmente, esta não é a realidade e, para que sejamos bem-sucedidos na execução de 
nossos projetos, é preciso que nos adequemos a um orçamento. Às vezes, isto exige que 
façamos mudanças metodológicas e, até mesmo, ajustes nos objetivos iniciais. 
Normalmente, os orçamentos têm que ser apresentados por rubricas. Rubricas são 
diferentes tipos de gastos. Frequentemente, não é possível usar recursos originalmente 
destinados a uma rubrica (insumos, por exemplo) em outra rubrica (diárias, por exemplo). 
Então, é preciso que o pesquisador faça uma previsão realista do que ele vai precisar e em 
que quantidades, buscando, então, preços atuais de mercado para montar seu orçamento. 
Um exemplo de orçamento é dado a seguir: 
 
Despesas de viagem 
Descrição Quant. Preço unitário Preço total 
Passagens aéreas Belo Horizonte-Rio de Janeiro-Belo Horizonte 1 290,00 290,00 
Passagens aéreas Belo Horizonte-São Paulo-Belo Horizonte 1 302,00 302,00 
Diárias (visita a museus) 10 110,00 1.110,00 
Diárias (expedições de coleta) 30 80,00 2.400,00 
Subtotal de despesa de viagens 4.102,00 
 
 
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Insumos 
Descrição Unid. Quanti. Preço unitário Preço total 
Armadilhas unidade 30 50,00 1.500,00 
Iscas kg 10 10,00 100,00 
Álcool absoluto L 10 3,00 30,00 
Algodão Pacote 500 g 1 15,00 15,00 
Reagentes - - - 7.450,00 
Subtotal de insumos 9.095,00 
 
 
Equipamentos 
Descrição Quanti. Preço unitário Preço total 
Lupa binocular 1 9.500,00 9.500,00 
Laptop 1 2.500,00 2.500,00 
Freezer vertical (- 20ºC) 1 1.500,00 1.500,00 
Subtotal de equipamentos 13.500,00 
 
Totais 
Descrição Preço total 
Subtotal de despesa de viagens 9.095,00 
Subtotal de insumos 1.645,00 
Subtotal de equipamentos 13.500,00 
TOTAL GERAL 24.240,00 
 
E, então? O valor está dentro dos limites do edital a que você está concorrendo? Seu 
orientador tem estes recursos disponível para seu projeto? É possível executá-lo ou serão 
necessários ajustes? 
É comum, quando se submete uma proposta a uma agência financiadora, ter que se 
apresentar justificativas para os itens apresentados no orçamento. A ausência ou 
inadequação dessas justificativas pode ser fator de desqualificação da proposta. Exemplo de 
justificativa, baseada no orçamento acima, seria: 
 
Justificativa para itens do orçamento 
Passagens aéreas Belo Horizonte-Rio de Janeiro-Belo Horizonte: visita à coleção do Museu 
Nacional da UFRJ, para exame de exemplares e obtenção de material por empréstimo. 
Passagens aéreas Belo Horizonte-São Paulo-Belo Horizonte: visita à coleção do Museu de 
Zoologia da USP, para exame de exemplares e obtenção de material por empréstimo. 
Diárias (visita a museus): custear a estadia do pesquisador no Rio de Janeiro e São Paulo, 
durante as visitas aos museus da UFRJ e USP, respectivamente. 
Diárias (expedições de coleta): custear os gastos com estadia, alimentação e deslocação do 
pesquisador e auxiliar, durante as expedições de coleta às serras do Cabral e da Canastra, 
conforme definido no Material e Método. 
Armadilhas: captura de exemplares para emprego nos estudos morfológicos e moleculares. 
Iscas: usadas nas armadilhas para atração dos exemplares a serem capturados. 
Álcool absoluto: conservação de amostras de tecido para extração de DNA. 
Algodão: para exposição da isca, no interior das armadilhas (ver Material e método). 
Reagentes: enzimas e soluções tampão necessárias para a extração, amplificação e 
sequenciamento de DNA. 
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Lupa binocular: para exame dos exemplares durante o levantamento e codificação de 
caracteres moleculares. 
Laptop: preenchimento de planilha de dados no campo, análise de dados e elaboração de 
relatórios e manuscritos. 
Freezer vertical (- 20ºC): conservação de amostras de tecido para extração de DNA e dos 
exemplares, até preparação definitiva para inclusão no acervo do CCT-UFMG. 
 
Finalmente, pode ser exigido que o pesquisador apresente a contrapartida da instituição 
sede aos recursos que ele solicita à agência financiadora. Aqui podem ser arrolados, por 
exemplo: 
1) Proporção do salário recebido pelo pesquisador e técnicos de laboratório, relativa ao 
tempo dispendido na execução do projeto; 
2) Valor da infraestrutura imobiliária (laboratórios e gabinetes a serem usados); 
3) Equipamentos já disponíveis na sede e que serão usados no trabalho, como mobiliário 
e equipamentos não solicitados ao financiador. 
__________ 
 
IV – Cronograma 
É importante para o pesquisador (e para os que vão avaliar o seu projeto) ter uma ideia clara 
sobre o tempo total demandado para a execução do projeto, bem como sobre o momento 
em que cada etapa do trabalho deverá/poderá ser iniciada e quanto tempo cada uma delas 
durará. Isto permitirá ao pesquisador, à agência financiadora e/ou à banca examinadora 
determinar se o trabalho proposto poderá ser executado nos prazos disponíveis (duração de 
um curso de pós-graduação ou prazo para entrega de relatórios conclusivos à agênciafinanciadora). Elaborar um cronograma realista permite ao pesquisador ajustar a sua 
metodologia, de forma a que o trabalho possa ser concluído seguramente, dentro do prazo 
disponível. 
A tarefa inicial para a composição do cronograma é a definição das etapas/tarefas a serem 
cumpridas ao longo da execução do projeto. Por exemplo: 
1) Levantamento bibliográfico; 
2) Elaboração de relatórios parciais; 
3) Expedições de coleta; 
4) Triagem de material na coleção da instituição sede do pesquisador; 
5) Visita a coleções de outras instituições; 
6) Levantamento e codificação de caracteres morfológicos; 
7) Montagem de matriz de dados morfológicos; 
8) Busca de dados moleculares em bancos de dados de terceiros; 
9) Extração de DNA; 
10) Amplificação de DNA; 
11) Sequenciamento e alinhamento de sequências de DNA; 
12) Montagem de matriz de dados moleculares; 
13) Análises filogenéticas 
14) Redação de artigos e relatório conclusivo 
 
 
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Uma vez estabelecidas as etapas do trabalho, o cronograma pode ser organizado de 
diferentes formas. Esta organização pode ser definida pelos que vão avaliar o projeto ou pelo 
próprio pesquisador. Um exemplo é dado abaixo: 
 
Para que o cronograma seja útil, obviamente, é necessário que os tempos atribuídos a cada 
etapa sejam realistas. Para isto, é preciso que o pesquisador lance mão de sua própria 
experiência ou peça ajuda a pesquisadores mais experientes na área. 
Um problema frequente na elaboração de cronogramas é o excesso de otimismo. É 
especialmente importante considerar os ‘imprevistos previsíveis’: chuvas que impossibilitam 
saídas de campo; atrasos na liberação de licenças e/ou recursos; problemas para o 
ajustamento de protocolos de bancada etc etc. Já os ‘imprevistos imprevisíveis’ (inclusive o 
excesso dos previsíveis), devem nos fazer levar em conta a regra empírica: sempre levamos 
mais tempo do que prevemos, mesmo quando consideramos atrasos... Então, é preciso dar 
grandes margens de segurança para cada etapa e, durante a execução dos projetos, adiantar 
tudo o que for possível. 
__________ 
 
V – Resultados 
Nas seções anteriores, falamos dos ‘Objetivos’, como o ponto do projeto ou trabalho 
científico. Nessa seção, estabelecem-se as perguntas a serem respondidas e com base nas 
quais todo o resto projeto ou trabalho será definido. Em seguida, falamos da descrição, no 
‘Material e Método’, dos procedimentos empregados para responder as perguntas que 
definiram os objetivos do trabalho. Finalmente, avaliamos seções que compõem os projetos 
de pesquisa, mas que estão ausentes dos trabalhos científicos. A partir daqui, falaremos de 
seções que compõem os artigos, relatórios, TCCs, dissertações e teses, mas que não estão 
presentes nos projetos: os resultados e a discussão. 
Esta é a seção que descreve os resultados obtidos nos procedimentos descritos no 
‘Material e método’ e delineados para nos ajudar a responder as perguntas que definem os 
objetivos. Os resultados vão apresentar os dados obtidos nos procedimentos de coleta de 
dados e os resultados dos procedimentos de análise desses dados. Os resultados obtidos 
Ano/bimestre 
Etapas 
I II 
1o 2o 3o 4o 5o 6o 1o 2o 3o 4o 5o 6o 
Levantamento bibliográfico 
Elaboração de relatórios parciais 
Expedições de coleta 
Triagem de material na coleção da instituição sede do 
pesquisador 
 
Visita a coleções de outras instituições 
Levantamento e codificação de caracteres 
morfológicos 
 
Montagem de matriz de dados morfológicos 
Busca de dados moleculares em bancos de dados de 
terceiros 
 
Extração de DNA 
Amplificação de DNA 
Sequenciamento e alinhamento de sequências de 
DNA 
 
Montagem de matriz de dados moleculares 
Análises filogenéticas 
Redação de artigos e relatório conclusivo 
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nesta seção serão, então, submetidos à discussão, que nos conduzirá às conclusões do 
trabalho. Essas conclusões serão as respostas às nossas perguntas iniciais. 
Para melhor organização e maior facilidade de compreensão por parte do leitor, é 
interessante que o resultado seja organizado de acordo com as questões colocadas nos 
‘Objetivos’ e, portanto (se a mesma preocupação houver norteado a construção do M&M), na 
sequência com que os métodos foram apresentados: para descrever os resultados, volte ao 
M&M e siga a mesma sequência. Assim, iniciamos a seção falando dos dados obtidos e, em 
seguida, dos resultados de sua análise: 
Ex: 
Ao longo dos 12 meses de amostragem, foram coletados 2.573 exemplares de 89 
espécies de abelhas (Tabela I). As espécies mais abundantes foram Trigona spinipes, 
Tetragonisca angustula, Augochloropsis smithiana, Exomalopsis auropilosa e Bombus 
morio, todas sociais. Entre as espécies solitárias, destacaram-se Centris fuscata, 
Epicharis flava e Oxaea flavescens. Todas essas espécies foram registradas em pelo 
menos 10 dos 12 meses amostrados. Apis mellifera, espécie exótica, não foi amostrada, 
embora fosse abundante na área. 
Houve diferença significativa entre as abundâncias das espécies sociais e solitárias (H = 
52,3; p = 0,0012), com as espécies sociais sendo, em geral, mais abundantes que as 
solitárias. 
 
Note, no texto acima, que uma longa sequência de resultados foi resumida em uma tabela: 
em vez de listar, no texto, todas as 89 espécies registradas, com suas respectivas abundâncias 
em cada mês, o autor organizou todas essas informações em sua Tabela I, fazendo referência 
a ela no texto. Note, também, que a afirmação ‘Houve diferença significativa entre as 
abundâncias das espécies sociais e solitárias’ foi acompanhada pelo resultado do teste que dá 
sustentação a ela. Observe, contudo que o resultado não é o resultado do teste: o autor, no 
caso, não afirmou, apenas, que ‘o teste de Kruskal-Wallis (H = 52,3; p = 0,0012) foi 
significativo’. 
Tabelas têm a vantagem de apresentar valores exatos, transmitindo a informação de 
forma mais precisa. Às vezes, contudo, não necessitamos destacar os valores precisos, mas, 
sim, tendências ou padrões que são mais facilmente apreendidos em figuras. A preferência 
por tabela ou figura vai, então, depender da situação, mas seu uso deve atender, sempre, a 
certos cuidados: 
1) Figuras e tabelas devem, sempre, receber alguma referência no corpo do texto. Não se 
pode inserir uma figura ou tabela em um trabalho, sem que no corpo do texto ela seja 
contextualizada. Figuras e tabelas são empregadas como complementação de informação 
do texto e não como fontes isoladas de informação. 
2) Figuras e tabelas devem ser autoexplicativas, contendo, no seu corpo e em suas legendas, 
toda a informação necessária para que o leitor as compreenda. É difícil examinar uma 
figura ou tabela e, ao mesmo tempo, procurar pelas informações necessárias para 
compreendê-las no corpo do texto; 
3) Tabelas e figuras não devem ser redundantes. Um determinado conteúdo pode estar 
representado por uma figura ou por uma tabela, mas não pelas duas ao mesmo tempo. A 
duplicação da informação aumenta o espaço ocupado e os custos da publicação científica e 
aumentam o tempo dispendido na leitura do trabalho. 
4) Figuras devem ser limpas, sem informação excessiva que, não contribuindo para o 
entendimento, distraia o leitor daquilo que é realmente importante. Elas devem, também, 
ter uma composição agradável, que atraia a atenção e a curiosidade do leitor. 
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Versão 19/03/2019 
5) Os ‘Resultados’ não podem ser compostos apenas por uma sequência de tabelas e/ou 
figuras. É preciso que o autor resuma os resultados que elas contêm, destacando a 
informação mais importante. 
Abaixo, são dados dois exemplos, de uma figura e de uma tabela. Em ambos os casos, 
figura

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