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• A placenta é uma estrutura derivada do trofoblasto que, assim como membranas extra-embrionárias, serve de interface entre a mãe e o embrião. • A placenta é um órgão maternofetal constituído por dois componentes: → Uma parte fetal que se desenvolve do saco coriônico, a membrana fetal mais externa. → Uma parte materna que é derivada do endométrio, a membrana mucosa que compreende a camada interna da parede uterina. • A placenta e o cordão umbilical formam um sistema de transporte para substâncias que passam entre a mãe e o feto. As membranas placentária e fetal realizam as seguintes funções e atividades: → Proteção → Nutrição → Respiração → Excreção → Produção de hormônios • O desenvolvimento inicial é caracterizado pela rápida proliferação do trofoblasto e pelo desenvolvimento do saco coriônico e das vilosidades coriônicas. • Quando o blastocisto se implanta no útero, ele estimula uma resposta endometrial chamada de reação decidual. As células do estroma do endométrio acumulam lipídeos e glicogênio, sendo denominadas de células deciduais. O estroma se espessa e torna-se altamente vascularizado, e o endométrio como um todo é então denominado decídua. • No final do período embrionário, o lado abembrionário do embrião em crescimento se projeta para dentro da cavidade uterina, formando uma região saliente coberta por uma fina cápsula de endométrio, a decídua capsular. O polo embrionário imerso do embrião é sustentado por uma zona de decídua denominada decídua basal, que vai participar da formação da placenta madura. As áreas restantes da decídua são denominadas decídua parietal. • Durante a 1º semana do desenvolvimento, o embrião obtém nutrientes e elimina resíduos por simples difusão. O rápido crescimento do embrião torna necessário um método de troca mais eficiente. Esta necessidade é suprida pela circulação uteroplacentária, sistema pelo qual os sangues materno e fetal fluem através da placenta. • O desenvolvimento do sistema uteroplacentário é iniciado na 2º semana, conforme as lacunas trofoblásticas se formam no sinciciotrofoblasto e se reúnem com os capilares maternos. O citotrofoblasto desenvolve projeções - vilosidades primárias. Pouco tempo depois, a vilosidade em crescimento é preenchida por mesênquima e passa a se chamar vilosidade secundária. No final da 3º semana, os vasos sanguíneos fetais começam a se formar no pedículo de ligação e no mesoderma extraembrionário, que reveste a cavidade coriônica e prolifera para formar as vilosidades-tronco terciárias que se projetam para as lacunas trofoblásticas. • As vilosidades coriônicas cobrem o saco coriônico inteiro até o início da oitava semana. À medida que o embrião começa a crescer no lúmen uterino, as vilosidades do lado abembrionário saliente desaparecem. Esta região do córion é chamada de córion liso, enquanto a porção do córion associada à decídua basal mantém as suas vilosidades e é chamada de córion frondoso. → A parte fetal é formada pelo córion viloso. As vilosidades coriônicas que surgem do córion se projetam para o espaço interviloso que contém sangue materno. → A parte materna é formada pela decídua basal, a parte da decídua relacionada ao componente fetal da placenta. Ao final do 4º mês, a decídua basal está quase totalmente substituída pela parte fetal da placenta. • No 3º mês, conforme o concepto cresce, a decídua capsular contacta e se fusiona à decídua parietal, obliterando a cavidade uterina. O suprimento sanguíneo reduzido para a decídua capsular leva à sua degeneração e desaparecimento. Após o desaparecimento da decídua capsular, a parte lisa do saco coriônico se funde à decídua parietal. Essa fusão é comum quando o sangue escapa do espaço interviloso. A coleção de sangue empurra a membrana coriônica para longe da decídua parietal, restabelecendo, assim, o espaço potencial da cavidade uterina. • As vilosidades-tronco terciárias se alongam pela formação das vilosidades mesenquimais terminais, que se originam como brotos de sinciciotrofoblasto. Essas vilosidades terciárias também formam vilosidades intermediárias maduras, que logo começam a produzir pequenos ramos secundários semelhantes a nódulos, denominados vilosidades terminais. Estas vilosidades terminais completam a estrutura da árvore vilosa placentária. • A parte fetal está ligada à parte materna da placenta pela capa citotrofoblástica, a camada externa de células trofoblásticas na superfície maternal da placenta. As vilosidades coriônicas ligam-se firmemente à decídua basal através da capa citotrofoblástica, que ancora o saco coriônico à decídua basal. As artérias e veias endometriais passam livremente por fendas na capa citotrofoblástica e entram no espaço interviloso. • Durante o 4º e 5º meses, as paredes da decídua, septos placentários, crescem no espaço interviloso do lado materno da placenta, separando as vilosidades em grupos - cotilédones. Uma vez que os septos placentários não se fundem com a placa coriônica, o sangue materno pode circular livremente de um cotilédone para outro. Cada cotilédone consiste em duas ou mais vilosidades-tronco e suas ramificações. Ao final do quarto mês, a decídua basal está quase que totalmente substituída pelos cotilédones. • As numerosas ramificações que se originam das vilosidades-tronco, são banhadas com o sangue materno que circula pelo espaço interviloso. Nesse espaço, o sangue transporta oxigênio e nutrientes necessários ao crescimento e ao desenvolvimento fetal. O sangue materno também contém resíduos fetais, dióxido de carbono, sais e produtos do metabolismo proteico. Muitas células deciduais degeneram próximo ao saco coriônico na região do sinciciotrofoblasto, e, junto com o sangue materno e com as secreções uterinas, proporcionam uma rica fonte de nutrição ao feto. Também tem sido sugerido que essas células protegem o tecido materno da invasão descontrolada do sinciciotrofoblasto e que podem estar envolvidas na produção hormonal. • O sangue pobremente oxigenado passa através das artérias umbilicais para a placenta. No sítio de ligação do cordão umbilical à placenta, as artérias se dividem em várias artérias coriônicas dispostas radialmente que se ramificam livremente na placa coriônica antes de entrarem nas vilosidades coriônicas. Os vasos sanguíneos formam um extenso sistema arteriocapilar-venoso dentro das vilosidades coriônicas, que traz o sangue fetal para extremamente perto do sangue materno. • O sangue fetal bem oxigenado nos capilares fetais passa para veias de paredes delgadas que seguem as artérias coriônicas ao sítio de ligação do cordão umbilical. Elas convergem aqui para formarem a veia umbilical. Esse grande vaso transporta sangue rico em oxigênio para o feto. Esse sistema proporciona uma grande área de superfície para a troca de produtos metabólicos e gasosos entre as correntes sanguíneas materna e fetal. • O sangue materno no espaço interviloso está temporariamente fora do sistema circulatório materno. Ele entra no espaço interviloso através de artérias espiraladas endometriais na decídua basal. Essas artérias descarregam para o espaço interviloso através de fendas na capa citotrofoblástica . O fluxo sanguíneo das artérias espiraladas é pulsátil. • O sangue que entra apresenta uma pressão consideravelmente mais alta que a do espaço interviloso e, consequentemente, o sangue é lançado em direção à placa coriônica, que forma o “teto” do espaço interviloso. Assim que a pressão se dissipa, o sangue flui lentamente pelas ramificações das vilosidades, permitindo uma troca de produtos metabólicos e gasosos com o sangue fetal. • O sangue retorna pelas veias endometriais para a circulação fetal. O bem-estar do embrião/feto depende mais da irrigação adequada das ramificações das vilosidades com sangue materno que de qualquer outro fator. Reduções da circulação uteroplacentária resultam em hipóxia fetal e em restrição do crescimento intrauterino. Reduções severas da circulação podem resultar em morte do embrião/feto. O espaço interviloso da placenta madura contém aproximadamente 150mL de sangue,que é reposto de três a quatro vezes por minuto. • Os nutrientes e o oxigênio passam do sangue materno através das camadas de células das vilosidades para o sangue fetal, e os resíduos metabólicos, como dióxido de carbono, ureia, ácido úrico e bilirrubina, passam reciprocamente do sangue fetal para o sangue materno. • As proteínas maternas sofrem endocitose e são degradadas pelo trofoblasto, a menos que se liguem aos receptores. Os anticorpos atravessam a placenta para entrar na circulação fetal; desta forma, a mãe dá ao feto imunidade passiva limitada contra uma variedade de infecções, como difteria e sarampo. Esses anticorpos persistem no sangue do bebê por vários meses após o nascimento, guardando o bebê contra doenças infecciosas até que seu próprio sistema imunológico amadureça. eritroblastose fetal A transferência de anticorpos da mãe para o feto não é benéfica quando os anticorpos são direcionados contra um fator Rh, causando hemólise das células vermelhas do sangue fetal. Os fatores Rh são moléculas de superfície, geneticamente determinadas, presentes na membrana plasmática das células vermelhas do sangue da maioria dos indivíduos. → Rh+: células sanguíneas carregam um fator Rh. → Rh–: células de sangue não têm um fator Rh. Os fatores Rh provocam uma forte resposta imunológica em indivíduos Rh–. Se uma mãe Rh– carrega um feto Rh+ e o sangue fetal vaza na circulação materna, há produção de anticorpos contra os glóbulos vermelhos fetais. Como a passagem significativa de sangue fetal através da placenta para a circulação materna normalmente ocorre no momento do nascimento, não há causa de danos ao feto que os induziu. Entretanto, se a mesma mãe engravidar de outro feto Rh+, seus anticorpos poderão destruir os glóbulos vermelhos fetais, causando anemia no feto e no recém-nascido. Esta condição é denominada doença hemolítica do recém-nascido ou eritroblastose fetal. Outra consequência, por vezes fatal, é a hidropisia fetal: acúmulo de água no feto. Além disso, é possível também que o feto apresente danos cerebrais ou faleça devido à deposição de bilirrubina no cérebro em desenvolvimento. Os efeitos da eritroblastose fetal podem ser evitados realizando transfusões de sangue Rh– para o feto e para o recém-nascido, de modo que os anticorpos maternos encontrem menos células para destruir. Outra abordagem é administrar anticorpos anti-Rh para a mãe Rh– imediatamente após o nascimento de cada bebê Rh+. Assim, esses anticorpos destroem glóbulos vermelhos fetais Rh+ na circulação materna antes que eles estimulem o sistema imunológico da mãe, impedindo a produção de anticorpos anti-Rh. • A membrana placentária é uma estrutura composta por tecidos extrafetais que separam o sangue materno do fetal. Até aproximadamente 20 semanas, a membrana placentária consiste em quatro camadas: sinciciotrofoblasto, citotrofoblasto, tecido conjuntivo das vilosidades e endotélio dos capilares fetais. Após a 20º semana, as trocas celulares ocorrem nas ramificações das vilosidades que formam o citotrofoblasto. • Células citotrofoblásticas finalmente desaparecem ao longo de grandes áreas das vilosidades, deixando somente as de sinciciotrofoblasto. Como resultado, a membrana placentária consiste em três camadas na maioria dos locais, tornando-se mais finas e atenuadas em algumas áreas. Nesses locais, o sinciciotrofoblasto entra em contato direto com o endotélio dos capilares fetais para formar a membrana placentária vasculosincicial. • Poucas substâncias, são incapazes de passar através da membrana em quantidades detectáveis. Alguns metabólitos, toxinas e hormônios, embora presentes na circulação materna, não passam através da membrana placentária em concentrações suficientes para afetar o embrião/feto. Ainda assim, a maioria das drogas e outras substâncias do plasma do sangue materno passa através da membrana placentária e entram no plasma sanguíneo fetal. • A superfície livre do sinciciotrofoblasto tem muitas microvilosidades que aumentam a área de superfície para trocas entre as circulações materna e fetal. Durante o terceiro trimestre, numerosos núcleos no sinciciotrofoblasto formam protrusões multinucleadas, os nós sinciciais. Esses agregados se desprendem regularmente e são transportados do espaço interviloso para a circulação materna. • A placenta é razoavelmente impermeável a microrganismos. Entretanto, vários vírus e bactérias podem atravessá-la e infectar o feto, que não possui um sistema imunológico funcionando e, muitas vezes, baseia sua proteção exclusivamente em anticorpos maternos, que é, em alguns casos, inapto no combate a infecções. Os tipos de microrganismos que podem atravessar a placenta e infectar o feto podem ser lembrados pelo acrônimo TORCH: → Toxoplasma gondii: um protozoário que pode ser transmitido aos seres humanos a partir da caixa de areia dos gatos e do solo → Parvovírus: vírus que causa erupções cutâneas em crianças em idade escolar → Treponema pallidum: a bactéria que causa a sífilis, que pode resultar na morte fetal ou anomalias; → Coxsackievirus: uma causa da meningite asséptica; → Citomegalovírus (a infecção por este vírus em adultos e em crianças pode ser assintomática); causa uma das infecções virais mais comuns no feto. Se o CMV infectar o embrião no início do desenvolvimento, ele poderá induzir o aborto; a infecção que ocorre mais tardiamente pode causar uma grande variedade de anomalias congênitas, incluindo cegueira, microcefalia (cabeça pequena), perda auditiva e retardo mental. O vírus da imunodeficiência humana (HIV), pode atravessar a placenta da mãe infectada para infectar o feto. 25% a 40% dos bebês são HIV-positivos se suas mães forem HIV-positivas e permanecem sem tratamento com terapias anti-HIV, mas com o tratamento adequado este número pode ser tão baixo quanto 1%. Essa diferença na taxa de transmissão de 25% a 40% em grávidas não tratadas está relacionada à placenta, se ela apresenta correceptores específicos para a família específica do HIV e se expressa o vírus ativo. Lactentes com infecção perinatal pelo HIV podem parecer saudáveis ao nascer, mas eles geralmente desenvolvem a AIDS aos 3 anos de idade.Infecção da glândula parótida, diarreia, bronquite e infecção do ouvido médio crônica são comuns em crianças com AIDS. Os teratógenos são substâncias do ambiente capazes de provocar um defeito de nascimento quando fetos são expostos em momentos críticos do desenvolvimento a doses suficientemente elevadas. Muitas drogas terapêuticas são conhecidas por serem teratogênicas; estas incluem retinoicos (vitamina A e seus análogos), o anticoagulante varfarina, os anticonvulsivantes ácido valproico e fenitoína, e certo número de agentes quimioterápicos utilizados para tratar o câncer. Algumas drogas “recreativas” também são teratogênicas; elas incluem o tabaco, o álcool e a cocaína. Filhos de mães que abusam de cocaína podem nascer prematuros e viciados. Dois mecanismos foram propostos para explicar como a cocaína poderia causar parto prematuro: por ser um potente constritor dos vasos sanguíneos, pode causar o descolamento das membranas da placenta, pelo fechamento parcial do fluxo de sangue para a placenta, ou, como há evidências de que a cocaína afeta diretamente a contratilidade do miométrio uterino, ela pode tornar o miométrio hipersensível aos sinais que iniciam o trabalho de parto. • A placenta é um produtor extremamente prolífico de hormônios. Dois de seus principais produtos são os hormônios esteroides estrogênio e progesterona, que estimula o crescimento do miométrio e o desenvolvimento das glândulas mamárias e dá suporte ao endométrio e inibe contrações uterinas, respectivamente. • O corpo lúteo produz progesterona e estrogênio durante as primeiras semanas de gestação. No entanto, pela 11ª semana, o corpo lúteo degenera e a placenta assume o seu papel. Durante os 2 primeiros meses de gestação, o sinciciotrofoblasto da placenta produz o hormônio glicoproteico gonadotrofina coriônica humana (hCG), que mantém a atividade secretora do corpo lúteo. A placenta produzdiversos hormônios proteicos: → Lactogênio placentário -ou somatomamotrofina estimula a lactogênese pósparto. No feto, atua para modular o desenvolvimento embrionário, estimular a produção fatores de crescimento semelhantes à insulina, insulina, surfactante pulmonar entre outros. → Tireotrofina coriônica → Corticotropina coriônica → Hormônio liberador de corticotropina → Prolactina → Relaxina → Endotelina • Adicionalmente,as membranas da placenta sintetizam as prostaglandinas, que parecem estar intimamente envolvidas na manutenção da gestação e no início do trabalho de parto. O sinal que indica o início do trabalho de parto parece ser uma redução na relação de progesterona diante do estrogênio, mas o efeito deste sinal pode ser mediado por uma elevação dos níveis de prostaglandinas produzidas pela placenta. • Placenta prévia: Projeção anormal da placenta para a abertura interna do canal do colo do útero. O sangramento na gestação tardia pode resultar dessa anormalidade placentária. O feto tem que ser removido por cesariana quando a placenta obstrui completamente o óstio uterino interno. • Descolamento placentário: Hemorragia na decídua basal leva à separação prematura da placenta. Impede oxigenação do feto. → Hipertensão materna. → Trauma. • Placenta acreta: as vilosidades penetram profundamente na parede uterina e parte da placenta fica retida na cavidade uterina após o parto - aderência anormal das vilosidades coriônicas ao miométrio. Quando as vilosidades coriônicas penetram toda a espessura do miométrio (camada muscular do útero) para ou através do perimétrio (cobertura peritoneal), a anormalidade é chamada placenta percreta. A maioria das mulheres com placenta acreta tem gestação e trabalho de parto normais. Após o nascimento, a placenta não se separa da parede uterina e as tentativas de removê-la podem causar uma hemorragia que é difícil de controlar.
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