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Código Civil - Arts 1179 a 1195 - Da Escrituração.

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DA ESCRITURAÇÃO
Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de
contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em
correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial
e o de resultado econômico.
§ 1º Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a critério dos
interessados.
§ 2º É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o art. 970.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: Os arts. 1.179 e 1.180 estabelecem os
chamados requisitos extrínsecos da escrituração contábil que deve ser mantida pelo
empresário, pela EIRELI e pela sociedade empresária e que pode ser realizada por
meio manual, mecanizado ou por processamento eletrônico de dados. A inserção
desses dispositivos no bojo da codificação civil tem sido objeto de críticas
contundentes da doutrina especializada, pois não caberia a um código regular a
matéria contábil de forma tão minudente, descendo a minúcias sobre procedimentos
detalhados de contabilidade empresarial, em regras próprias de legislação especial, o
que constituiria grave atecnia. A contabilidade é o sistema de informação que controla
o patrimônio da empresa, registrando todos os fatos patrimoniais, incorridos no
exercício da atividade empresarial. A escrituração, por sua vez, constitui um método
de lançamento desses registros nos livros próprios. A Resolução n. 1.374 de
16.12.2011, do Conselho Federal de Contabilidade, que deu nova redação à NBC
(Norma Brasileira de Contabilidade), estabelecendo os conceitos que fundamentam a
elaboração das demonstrações contábeis, menciona, entre os objetivos da
contabilidade, “fornecer informações contábil-financeiras acerca da entidade que
reporta essa informação (reporting entity) que sejam úteis a investidores existentes e
em potencial, a credores por empréstimos e a outros credores, quando da tomada [de]
decisão ligada ao fornecimento de recursos para a entidade”. A norma administrativa
ainda esclarece acerca do conteúdo ou elementos das demonstrações contábeis: “Os
elementos diretamente relacionados à mensuração da posição patrimonial e financeira
no balanço patrimonial são os ativos, os passivos e o patrimônio líquido. Os
elementos diretamente relacionados com a mensuração do desempenho na
demonstração do resultado são as receitas e as despesas”. A Lei n. 11.638, de
dezembro 2007, que alterou e revogou dispositivos da Lei n. 6.404/1976 e da Lei n.
6.385/1976, ao mesmo tempo em que estendeu às sociedades de grande porte de
qualquer tipo societário disposições relativas à elaboração e divulgação de
demonstrações financeiras das sociedades anônimas, promoveu relevantes
transformações no regramento da contabilidade empresarial, importando para o
direito interno o sistema internacional de contabilidade elaborado pelo International
Accounting Standards Board (IASB), e as normas padronizadas da International
Financial Reporting Standard (IFRS), tornando tais procedimentos obrigatórios para
as sociedades anônimas de capital aberto. O microempresário e o empresário de
pequeno porte (Lei n. 9.841/1999) poderão adotar contabilidade simplificada,
estando dispensados das exigências deste artigo, cabendo lembrar que “o pequeno
empresário, dispensado da escrituração, é aquele previsto na Lei n. 9.841/99”, nos
termos do Enunciado n. 235, aprovado durante a III Jornada de Direito Civil. O § 2º,
do art. 12, da IN n. 12 DREI de 2013, acrescenta que o pequeno empresário “não está
obrigado a seguir um sistema de contabilidade com base na escrituração uniforme de
seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, nem alevantar
anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico”.
 JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: Dos Tribunais administrativos colhe-se a
orientação de que “as microempresas e as empresas de pequeno porte, optantes pelo
SIMPLES, ficam dispensadas de escrituração comercial para fins fiscais, desde que
mantenham em boa ordem e guarda, enquanto não decorrido o prazo decadencial e não
prescritas eventuais ações que lhes sejam pertinentes (parágrafo 16 do artigo 225 do
Regulamento da Previdência Social e artigo 32 da IN SRF n. 608 de 09 de janeiro de
2006): Livro Caixa, no qual deverá estar escriturada toda a sua movimentação
financeira, inclusive bancária; Livro de Registro de Inventário, no qual deverão
constar registrados os estoques existentes no término de cada ano-calendário; e, todos
os documentos e demais papéis que serviram de base para a escrituração dos livros
referidos” (CARF, Recurso 12045.000485/2007-89, Acódão 2301-003.868, Rel.
Cons. Manoel Coelho Arruda Junior, DOU 05.02.2015). Também já se decidiu que a
ausência da escrituração contábil importa em ato ilícito, devendo ser atribuída
responsabilidade plena aos sócios pelos prejuízos causados à sociedade e aos
credores desta, não se limitando à sua participação no capital social (TJDF, APC
2014.01.1.051670-8, Rel. Des. João Egmont Leoncio Lopes, DJDFTE 21.07.2016).
Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser
substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.
Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento
do balanço patrimonial e do de resultado econômico.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O dispositivo dispõe sobre os livros
obrigatórios da contabilidade, entre os quais menciona o Livro Diário, trazendo o
permissivo de sua substituição por fichas no caso de escrituração mecanizada ou
eletrônica. Ou seja, o legislador de 2002 já previu a hipótese de escrituração
eletrônica, por meio de computador, exigindo-se, apenas e quando exigido pela
autoridade fiscal, a impressão dos relatórios, que devem ser encadernados, para
facilitar a fiscalização. A empresa tem a obrigação de registrar em seus livros
contábeis todas as operações realizadas no giro de suas atividades e o ônus de exibi-
los em juízo quando instada a comprová-las. A negativa pode dar ensejo à
determinação de exibição, com fulcro nos arts. 420 e 421, do Código de Processo
Civil de 2015.
 JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: Na jurisprudência, a apresentação dos
livros exigidos por Lei, que podem ser substituídos por fichas no caso de escrituração
mecanizada ou eletrônica, tem sido considerada requisito indispensável para
apuração de lucros cessantes nas demandas de reparação civil. Não se considera
justificativa hábil a alegação de que as sociedades “que teriam sofrido lucros
cessantes não contam com contabilização, restando inviabilizada a pretensão de
presunção do lucro cessante” (TJSP, AI 2121619-33.2018.8.26.0000, Rel. Des.
Maria Lúcia Pizzotti, DJESP 15.08.2018).
Art. 1.181. Salvo disposição especial de lei, os livros obrigatórios e, se for o caso, as fichas,
antes de postos em uso, devem ser autenticados no Registro Público de Empresas Mercantis.
Parágrafo único. A autenticação não se fará sem que esteja inscrito o empresário, ou a
sociedade empresária, que poderá fazer autenticar livros não obrigatórios.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O art. 1.181 versa sobre a necessidade de
autenticação pela Junta Comercial (e não por Cartório de Notas) de todos os
instrumentos obrigatórios da escrituração, e ainda dos facultativos se a empresa assim
o desejar. Os instrumentos de escrituração dos empresários e das sociedades
empresárias consistem nos livros, em papel; no conjunto de fichas avulsas; conjunto
de fichas ou folhas contínuas; livros em microfichas geradas através de
microfilmagem de saída direta do computador e livros digitais. A autenticação dos
livros digitais será efetuada pelas Juntas Comerciais com utilização de software
específico. É evidente o descompasso desse dispositivo com a tecnologia atual, ao
exigir, especialmente no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica, a
autenticação prévia dos Livros e das fichas, antes de colocados em uso. No entanto,
isso já foi superado por normas administrativas do antigo DNRC. A matéria da
autenticaçãoencontra-se atualmente regulada pela Instrução Normativa n. 11, de 05 de
dezembro de 2013, do Departamento de Registro Empresarial e Integração – DREI –
e que dispõe sobre procedimentos para a validade e eficácia dos instrumentos de
escrituração dos empresários individuais, da EIRELI, das sociedades empresárias,
das cooperativas, dos consórcios, dos grupos de sociedades, dos leiloeiros, dos
tradutores públicos e intérpretes comerciais. A IN 11 permite que a autenticação seja
feita antes ou depois de efetuada a escrituração. O Código de Processo Civil
disciplina a força probante dos livros empresariais que atendam às formalidades
legais. O art. 418 é taxativo: “Os livros empresariais que preencham os requisitos
exigidos por lei provam a favor de seu autor no litígio entre empresários”. O art. 417
aduz que os livros empresariais provam contra seu autor, permitindo, no entanto, ao
empresário, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os
lançamentos não correspondem à verdade dos fatos. Finalmente o art. 419 dispõe que
“a escrituração contábil é indivisível, e, se dos fatos que resultam dos lançamentos,
uns são favoráveis ao interesse de seu autor e outros lhe são contrários, ambos serão
considerados em conjunto, como unidade”.
Art. 1.182. Sem prejuízo do disposto no art. 1.174, a escrituração ficará sob a responsabilidade de
contabilista legalmente habilitado, salvo se nenhum houver na localidade.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: Em regra, somente os inscritos no
Conselho Regional de Contabilidade podem ser responsáveis pela escrituração do
empresário, da EIRELI ou da sociedade empresária. O art. 15 do Decreto-lei n.
9.295/1946 já estabelecia que “os indivíduos, firmas, sociedades, associações,
companhias e empresas em geral, e suas filiais que exerçam ou explorem, sob
qualquer forma, serviços técnicos contábeis, ou a seu cargo tiverem alguma seção que
a tal se destine, somente poderão executar os respectivos serviços, depois de
provarem, perante os Conselhos de Contabilidade que os encarregados da parte
técnica são exclusivamente profissionais habilitados e registrados na forma da lei”. O
art. 27 da Resolução CFC 960/2003, por sua vez, estatui que “qualquer que seja a
forma de sua organização, a pessoa jurídica somente poderá explorar serviços
contábeis, próprios ou de terceiros, depois que provar perante o CRC de sua
jurisdição que os responsáveis pela parte técnica e os que executam trabalhos
técnicos no respectivo setor ou serviço são profissionais em situação regular perante
o CRC de seu registro”. A IN DREI n. 11 de 2013 acrescenta que “em se tratando de
livro digital, esse deve ser assinado por contabilista legalmente habilitado e pelo
empresário individual, empresa individual de responsabilidade Ltda – Eireli,
sociedade empresária, cooperativa, consórcio ou grupo de sociedade, conforme
LECD, com certificado digital, de segurança mínima tipo A3, emitido por entidade
credenciada pela Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras (ICP-Brasil), antes de
ser submetido à autenticação pelas Juntas Comerciais, sendo dispensada a
apresentação de procuração arquivada na Junta Comercial”. Excepcionalmente um
contador (ou técnico em contabilidade), não inscrito no CRC, poderá se
responsabilizar pela escrituração, quando não houver outro profissional habilitado na
sede da empresa. Nesse caso, caberá aos Conselhos Regionais de Contabilidade
informar às Juntas Comerciais as localidades onde não haja profissional habilitado (§
2º do art. 3º do Decreto n. 64.567, de 1969).
 JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: Ainda que a sociedade não explore
serviço técnico contábil, se “possui pelo menos um setor que desenvolve essa
atividade para controle próprio”, faz surgir “a necessidade de possuir profissional
regularmente inscrito no Conselho Profissional, mormente em virtude da exigência
contida nos artigos 1.179 e 1.182 do Código Civil”. Assim, “verificada a ilegalidade,
agiu corretamente a Fiscalização ao proceder à autuação da empresa, aplicando
corretamente a multa, conforme os parâmetros legais” (TRF 3.ª Região, AC 0016852-
59.2013.4.03.6100, Rel. Des. Fed. Nery Junior, DEJF 27.03.2017).
Art. 1.183. A escrituração será feita em idioma e moeda corrente nacionais e em forma contábil,
por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões,
rasuras, emendas ou transportes para as margens.
Parágrafo único. É permitido o uso de código de números ou de abreviaturas, que constem de
livro próprio, regularmente autenticado.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O presente dispositivo versa sobre os
requisitos intrínsecos da escrituração, cujos lançamentos devem ser efetuados em
português, em moeda corrente nacional e sob a forma contábil, em ordem cronológica
de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras,
emendas ou transportes para as margens. O objetivo dessas restrições, como se
antevê, é o de evitar a inclusão de lançamentos a destempo, com o fito de fraudar a
escrituração. A exigência do uso do vernáculo, por outro lado, não é absoluta,
admitindo-se o uso de termos em língua estrangeira, quando incorporados aos usos e
costumes do tráfego empresarial (por exemplo, offshore, holding, trust, startup, joint
venture, venture capital etc.).
Art. 1.184. No Diário serão lançadas, com individuação, clareza e caracterização do documento
respectivo, dia a dia, por escrita direta ou reprodução, todas as operações relativas ao exercício
da empresa.
§ 1º Admite-se a escrituração resumida do Diário, com totais que não excedam o período de 30
(trinta) dias, relativamente a contas cujas operações sejam numerosas ou realizadas fora da
sede do estabelecimento, desde que utilizados livros auxiliares regularmente autenticados, para
registro individualizado, e conservados os documentos que permitam a sua perfeita verificação.
§ 2º Serão lançados no Diário o balanço patrimonial e o de resultado econômico, devendo ambos
ser assinados por técnico em Ciências Contábeis legalmente habilitado e pelo empresário ou
sociedade empresária.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: No Livro Diário serão lançadas todas as
operações de conteúdo patrimonial realizadas pela pessoa jurídica ou pelo
empresário individual. Se o número de operações for elevado, a escrituração pode
ser resumida, mediante o uso de Livro Diário auxiliar, escriturando-se no Livro
Diário principal um resumo, por totais, das operações realizadas no período máximo
de trinta dias. A IN DREI n. 11/2013 acrescenta que “quando adotada a escrituração
resumida do Diário, com totais que não excedam o período de trinta dias,
relativamente a contas cujas operações sejam numerosas ou realizadas fora da sede,
deverão ser utilizados livros auxiliares do Diário, regularmente autenticados, para
registro individualizado, e conservados os documentos que permitam a sua perfeita
verificação” (art. 7º). O § 2º do art. 1.184, por seu turno, obriga a que, tanto o balanço
patrimonial, como as demais demonstrações financeiras, quando do encerramento do
exercício anual do Livro Diário, sejam assinados pelo contabilista responsável e
devidamente inscrito no Conselho Regional de Contabilidade, bem como pelo
empresário individual ou pelo administrador da sociedade empresária. A exigência
de registro no CRC pode ser superada quando não houver outro profissional
habilitado na sede da empresa. Nesse caso, caberá aos Conselhos Regionais de
Contabilidade informar às Juntas Comerciais as localidades onde não haja
profissional habilitado (§ 2º do art. 3º do Decreto n. 64.567, de 1969).
 JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: Já se decidiu que a inobservância dos
requisitos previstos no art. 1.184, ou seja, a não apresentação de documentos
contábeis na forma da lei, não constitui “rigorismo formal” por parte da autoridade
administrativa e justifica a inabilitação da sociedade empresária em processo de
licitação. A análise da regularidade do balanço apresentado nos termos do edital
pressupõe que tenha sido feito na forma dos arts. 1.181 e 1.184 do Código Civil. No
casoconcreto decidido pelo TJPE, “após sagrar-se vencedora na fase de
classificação das propostas, a apelante restou inabilitada pelos seguintes motivos: i)
não apresentação do balanço patrimonial na forma da Lei (subitem 8.2.3.1 do edital);
ii) ausência de prova de que os profissionais que realizaram a visitação técnica eram,
de fato, representantes da empresa (subitem 8.2.4.8 do edital); iii) não apresentação
do atestado de capacidade técnica previsto no subitem 8.2.4”. O Tribunal, analisando
as provas constantes nos autos, concluiu “que os documentos apresentados pela
apelante carecem das formalidades exigidas pelo ordenamento jurídico, notadamente
as estabelecidas nos arts. 1.181 e 1.184, ambos do Código Civil” e que “a
jurisprudência pátria é firme no sentido de que tais documentos devem ser
apresentados devidamente autenticados pela Junta Comercial, vez que é através deles
que a autoridade administrativa terá dados objetivos para avaliar se a empresa possui
saúde financeira para assumir o objeto do contrato a ser futuramente firmado. Assim,
os defeitos apontados geraram dúvidas pertinentes sobre a regularidade da
documentação contábil apresentada, não configurando formalismo exacerbado por
parte da autoridade administrativa a inabilitação da apelante, que não agiu em estrito
cumprimento ao que dispôs o edital do certame” (TJPE, APL 0004094-
12.2014.8.17.0370, Rel. Des. Francisco José dos Anjos Bandeira de Mello, DJEPE
04.10.2016).
Art. 1.185. O empresário ou sociedade empresária que adotar o sistema de fichas de
lançamentos poderá substituir o livro Diário pelo livro Balancetes Diários e Balanços,
observadas as mesmas formalidades extrínsecas exigidas para aquele.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O dispositivo reconhece ao empresário ou
sociedade empresária, que adotar o sistema de fichas de lançamentos, a possibilidade
de substituir o Livro Diário pelo livro Balancetes Diários e Balanços. Como a
escrituração hoje em dia é, na quase totalidade dos casos, completamente digital,
sendo frequente o uso de softwares próprios que organizam as contas e realizam
balanços parciais, com qualquer periodicidade que se queira, não faz muita diferença
a organização da escrituração no Diário ou em outro livro auxiliar. Até mesmo porque
o livro Balancetes Diários e Balanços observará as mesmas formalidades extrínsecas
exigidas para o Diário, havendo necessidade de ser levado à autenticação da Junta
Comercial.
Art. 1.186. O livro Balancetes Diários e Balanços será escriturado de modo que registre:
I – a posição diária de cada uma das contas ou títulos contábeis, pelo respectivo saldo, em forma
de balancetes diários;
II – o balanço patrimonial e o de resultado econômico, no encerramento do exercício.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: No encerramento de cada exercício
financeiro, a sociedade produzirá, por meio de sistema informatizado, o balanço
patrimonial e as demais demonstrações financeiras, com base nos dados acumulados e
consolidados nos balanços diários. O balanço de resultado econômico referido no
inciso II corresponde às demonstrações financeiras da sociedade elencadas no art.
176 da Lei das S/A, que compreendem o balanço patrimonial, a demonstração dos
lucros ou prejuízos acumulados, a demonstração do resultado do exercício e a
demonstração dos fluxos de caixa.
 JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: O balanço patrimonial e as demais
demonstrações financeiras da sociedade constituem elementos materiais
imprescindíveis em qualquer processo judicial de dissolução e liquidação de
sociedade. Daí que “o balanço patrimonial da sociedade em fase de dissolução e
apuração de haveres deve ser apresentado, a fim de possibilitar a correta liquidação,
pois os dados contábeis pleiteados fazem prova pré-constituída a favor e contra os
sócios em litígio, nos termos do art. 226 do Código Civil. Ademais, a documentação
em questão é a única capaz de demonstrar a situação econômico-financeira da
sociedade em liquidação no curso do tempo”. Igualmente, o balanço contábil deve ser
apresentado, ainda que por meio eletrônico, anualmente, “consoante estabelece o art.
1.065, combinado com o art. 1.186, ambos do atual Código Civil. Obrigação esta que
também era disposta no art. 18 da Lei n. 3.708/19 da Lei das Sociedades Limitadas
combinado com o art. 132 da Lei das Sociedades Anônimas, aplicada
subsidiariamente ao caso conforme a anterior legislação dispunha e a atual Lei Civil
também estabelece” (TJRS, AI 0339668-02.2017.8.21.7000, Rel. Des. Jorge Luiz
Lopes do Canto, DJERS 09.04.2018).
Art. 1.187. Na coleta dos elementos para o inventário serão observados os critérios de avaliação
a seguir determinados:
I – os bens destinados à exploração da atividade serão avaliados pelo custo de aquisição,
devendo, na avaliação dos que se desgastam ou depreciam com o uso, pela ação do tempo ou
outros fatores, atender-se à desvalorização respectiva, criando-se fundos de amortização para
assegurar-lhes a substituição ou a conservação do valor;
II – os valores mobiliários, matéria-prima, bens destinados à alienação, ou que constituem
produtos ou artigos da indústria ou comércio da empresa, podem ser estimados pelo custo de
aquisição ou de fabricação, ou pelo preço corrente, sempre que este for inferior ao preço de
custo, e quando o preço corrente ou venal estiver acima do valor do custo de aquisição, ou
fabricação, e os bens forem avaliados pelo preço corrente, a diferença entre este e o preço de
custo não será levada em conta para a distribuição de lucros, nem para as percentagens
referentes a fundos de reserva;
III – o valor das ações e dos títulos de renda fixa pode ser determinado com base na respectiva
cotação da Bolsa de Valores; os não cotados e as participações não acionárias serão
considerados pelo seu valor de aquisição;
IV – os créditos serão considerados de conformidade com o presumível valor de realização, não
se levando em conta os prescritos ou de difícil liquidação, salvo se houver, quanto aos últimos,
previsão equivalente.
Parágrafo único. Entre os valores do ativo podem figurar, desde que se preceda, anualmente, à
sua amortização:
I – as despesas de instalação da sociedade, até o limite correspondente a 10% (dez por cento)
do capital social;
II – os juros pagos aos acionistas da sociedade anônima, no período antecedente ao início das
operações sociais, à taxa não superior a 12% (doze por cento) ao ano, fixada no estatuto;
III – a quantia efetivamente paga a título de aviamento de estabelecimento adquirido pelo
empresário ou sociedade.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O balanço patrimonial deve retratar, de
forma fidedigna, a situação econômico-financeira do empresário e da sociedade
empresária (ver art. 1.188). Por isso, ambos são obrigados a inventariar, a cada ano,
o montante total de bens que compõem o seu patrimônio, incluindo ativos e passivos.
O art. 1.187 do Código Civil estabelece os critérios pelos quais tais bens devem ser
avaliados para que, então, passem a constar do balanço patrimonial. Aqueles bens
destinados à exploração da atividade econômica, como é o caso das máquinas da
indústria, em regra, serão avaliados pelo custo de aquisição, abatida eventual
depreciação pelo uso ou pela ação do tempo. Matéria-prima e estoque podem ser
avaliados pelo custo de aquisição ou de fabricação, ou pelo preço corrente, sempre
que este for inferior ao preço de custo. Os valores mobiliários podem ser estimados
com base na sua cotação em Bolsa ou, se não cotados, com base no valor de
aquisição. Os créditos serão inventariados de acordo com o presumível valor de
realização, desprezando-se os atingidos pela prescrição e os de difícil liquidação. O
parágrafo único do art. 1.187 permite que sejam incluídos no ativo, desde que
amortizados anualmente, as despesas de instalação da sociedade, até o limite de 10%
do capital social; os juros pagos aos acionistas da sociedade anônima, no período
antecedente ao início das operações sociais, desde que a taxa não seja superior a 12%
ao ano; bem como os valores efetivamente pagos a título de aviamento de
estabelecimentoadquirido pelo empresário ou sociedade.
Art. 1.188. O balanço patrimonial deverá exprimir, com fidelidade e clareza, a situação real da
empresa e, atendidas as peculiaridades desta, bem como as disposições das leis especiais,
indicará, distintamente, o ativo e o passivo.
Parágrafo único. Lei especial disporá sobre as informações que acompanharão o balanço
patrimonial, em caso de sociedades coligadas.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O balanço patrimonial é o mais
importante documento contábil de qualquer pessoa individual ou coletiva que exerça a
empresa, pois retrata, em tempo real, com a máxima fidelidade, a situação
econômico-financeira do empresário ou da sociedade empresária, demonstrando de
forma clara o ativo e o passivo. A lei especial referida no parágrafo único deste
artigo, no tocante às sociedades coligadas, é a Lei das Sociedades Anônimas (Lei n.
6.404/1976, arts. 247 a 253).
 JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: Nos casos de encerramento irregular das
atividades da sociedade empresária, a inexistência de balanço patrimonial que
demonstre a composição do ativo foi considerada pelo Tribunal de Justiça de São
Paulo como “desvio de finalidade social com o intuito de prejudicar credores”,
justificando a desconsideração da personalidade jurídica com base no art. 50 do
Código Civil (teoria maior) (TJSP, APL 0013359-93.2010.8.26.0510, Rel. Des.
Antonio Luiz Tavares de Almeida, DJESP 1º.07.2016).
Art. 1.189. O balanço de resultado econômico, ou demonstração da conta de lucros e perdas,
acompanhará o balanço patrimonial e dele constarão crédito e débito, na forma da lei especial.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: Já foi dito em comentários anteriores que
o balanço de resultado econômico referido no dispositivo corresponde às
demonstrações financeiras da sociedade elencadas no art. 176 da Lei das S/A e que
compreendem o balanço patrimonial, a demonstração dos lucros ou prejuízos
acumulados, a demonstração do resultado do exercício e a demonstração dos fluxos
de caixa. No balanço patrimonial constarão as contas do ativo, distribuídas entre
ativo circulante e ativo não circulante, este composto por ativo realizável a longo
prazo, investimentos, imobilizado e intangível; as contas do passivo, incluindo
passivo circulante, passivo não circulante; e patrimônio líquido, dividido em capital
social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros,
ações ou quotas em tesouraria e prejuízos acumulados. A demonstração de lucros ou
prejuízos acumulados mencionará o saldo do início do período, os ajustes de
exercícios anteriores e a correção monetária do saldo inicial; as reversões de
reservas e o lucro líquido do exercício; e as transferências para reservas, os
dividendos, a parcela dos lucros incorporada ao capital e o saldo ao fim do período.
A demonstração do resultado do exercício discriminará a receita bruta das vendas e
serviços, as deduções das vendas, os abatimentos e os impostos; a receita líquida das
vendas e serviços, o custo das mercadorias e serviços vendidos e o lucro bruto; e as
despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas das receitas, as despesas
gerais e administrativas, e outras despesas operacionais; o lucro ou prejuízo
operacional, as outras receitas e as outras despesas; o resultado do exercício antes do
Imposto sobre a Renda e a provisão para o imposto; as participações de debêntures,
empregados, administradores e partes beneficiárias, no caso das sociedades
anônimas; o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ação do
capital social. Finalmente, a demonstração dos fluxos de caixa indicará, no mínimo,
as alterações ocorridas, durante o exercício, no saldo de caixa e equivalentes de
caixa, segregando-se essas alterações em 3 (três) fluxos: a) das operações; b) dos
financiamentos; c) dos investimentos. O objetivo das demonstrações financeiras, além
de aferir os resultados da atividade empresarial, é o de munir os terceiros
interessados, desde credores a possíveis interessados em ingressar na sociedade,
sobre a situação financeira da empresa e suas condições de continuar o exercício de
sua atividade.
Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob
qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a
sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em
lei.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: Os documentos contábeis do empresário e
da sociedade empresária estão protegidos pela confidencialidade, e a sua exibição
depende de ordem judicial, ainda assim restrita aos casos previstos em lei. Por isso, a
confidencialidade não pode ser oposta, por exemplo, às autoridades fiscais (ver art.
1.193 e, ainda, as disposições do Código Tributário Nacional, da Lei n. 8.212/1991 e
da Lei Complementar 105/2001). A exibição se faz necessária, ainda, nas demandas
de prestação de contas movidas contra gestores e ex-gestores da sociedade e nos
litígios entre sócios, conforme previsão expressa do art. 1.191. Também tem-se
admitido a exibição nos litígios de família, quando demonstrado o uso da sociedade
empresária para fraudar a partilha de bens no divórcio ou na dissolução de união
estável. Nos conflitos conjugais, dada a carga emocional que vitima ambas as partes,
é frequente o desejo nutrido por um dos cônjuges ou companheiros, notadamente
aquele que se sentiu “traído” pelo pedido de dissolução do vínculo conjugal, de
prejudicar economicamente o outro. E a maneira mais comum de se tentar impingir ao
outro esse tipo de prejuízo é justamente a fraude na partilha de bens. Nos
relacionamentos em que apenas um dos cônjuges exerce atividade produtiva, a
possibilidade de incidência da fraude patrimonial é ainda maior. Normalmente, o
cônjuge ou companheiro mal-intencionado se prepara para a separação, para
desfechar o golpe no patrimônio do outro, prejudicando-o quando da futura partilha. É
o caso, por exemplo, do empresário que, antes do divórcio, transfere bens para a
pessoa jurídica que administra, muitas vezes titularizada por interpostas pessoas, com
as quais firma contratos simulados de compra e venda e de mútuo. Também há
situações em que o cônjuge transfere a própria empresa para uma terceira pessoa
apenas para não partilhar as quotas da sociedade com a esposa. As ações mais usuais
por parte do fraudador estão relacionadas, portanto, à ocultação de bens, mediante
alienações simuladas. A comprovação da fraude pelo cônjuge hipossuficiente nem
sempre é fácil, mesmo porque a fraude tem início no chamado período de preparação,
às vezes até vários anos antes do pedido de divórcio, e as simulações se amparam em
estruturas jurídicas bem sofisticadas. Por isso, sempre que houver suspeita de fraude,
a confidencialidade não pode ser invocada e a exibição dos livros e demais
documentos contábeis do empresário ou da sociedade deve ser sempre determinada
pela autoridade judiciária.
 JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: O Superior Tribunal de Justiça já decidiu
que os Conselhos Regionais de Contabilidade podem fiscalizar livros e documentos
contábeis de empresário ou sociedade empresária em poder de contadores, com base
no Decreto-lei n. 9.295/1946, sem qualquer violação à privacidade e ao sigilo
profissional previsto no artigo 1.190 do Código Civil. Segundo o Tribunal da
Cidadania, “no exercício de sua atividade fiscalizatória, a teor da combinada exegese
dos arts. 2º, 10, ‘c’, e 25 do Decreto-lei n. 9.295/46, podem os Conselhos Regionais
de Contabilidade examinar livros e fichas contábeis de empresários e de sociedades
empresárias em poder de contadores”, no âmbito de fiscalização corporativa da
atividade de profissionais da Contabilidade. Para o STJ, “a atividade fiscalizatória
dos Conselhos de Contabilidade tem por foco central aferir, não o mérito, mas a
observância, pelos profissionais contadores, das regras de forma concernentes às suas
rotinas contábeis. Sendo esse o propósito primeiro da fiscalização desenvolvida pela
entidade classista, não se antevê afrontaà privacidade e ao sigilo profissional dos
escritórios fiscalizados e da escrituração contábil de seus clientes” (STJ, REsp
1.420.396, Rel. Min. Sérgio Kukina, DJe 29.09.2017).
Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração
quando necessária para resolver questões relativas a sucessão, comunhão ou sociedade,
administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de falência.
§ 1º O juiz ou tribunal que conhecer de medida cautelar ou de ação pode, a requerimento ou de
ofício, ordenar que os livros de qualquer das partes, ou de ambas, sejam examinados na
presença do empresário ou da sociedade empresária a que pertencerem, ou de pessoas por
estes nomeadas, para deles se extrair o que interessar à questão.
§ 2º Achando-se os livros em outra jurisdição, nela se fará o exame, perante o respectivo juiz.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O art. 1.191 incorpora, com maior rigor
técnico e linguagem mais concisa, regras anteriormente previstas nos arts. 18 e 19 do
CCom de 1850. O dispositivo disciplina a exibição judicial dos livros de
escrituração empresarial em harmonia com o que já estabelecia o art. 844 do
CPC/1973, sobre a exibição judicial de “documento próprio ou comum, em poder de
sócio” (inc. II) e “da escrituração comercial por inteiro, balanços e documentos de
arquivo, nos casos expressos em lei” (inc. III). O conteúdo dessa disposição
normativa consta atualmente do art. 420 da codificação adjetiva de 2015, que assim
dispõe: “O juiz pode ordenar, a requerimento da parte, a exibição integral dos livros
empresariais e dos documentos do arquivo: I – na liquidação de sociedade; II – na
sucessão por morte de sócio; III – quando e como determinar a lei”. Acrescente-se,
ainda, a regra geral do art. 421 do CPC/2015, ao prever, no trato da prova
documental, que o juiz poderá, até mesmo de ofício, “ordenar à parte a exibição
parcial dos livros e dos documentos, extraindo-se deles a suma que interessar ao
litígio, bem como reproduções autenticadas”. Portanto, a pretensão de exibição da
escrituração contábil da empresa continua possível, com fundamento no art. 1.191 do
Código Civil combinado com os arts. 420 e 421 do CPC/2015.
 JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: Com fundamento no § 1º do art. 1.191,
algumas decisões judiciais, mesmo quando admitem a exibição de documentos,
exigem que ela seja “procedida na presença do empresário ou da sociedade
empresária a que pertencerem, ou de pessoas por estes nomeadas, para deles se
extrair o que interessar à questão” (TJDF, APC 2015.01.1.092258-0, Rel. Des.
Álvaro Ciarlini, DJDFTE 29.11.2016). Entretanto, essa não é a regra na maioria dos
casos, em que a exibição dos livros empresariais é feita sem maiores critérios. Em
processos de execução ou naqueles em fase de cumprimento de sentença, tem-se
determinado a exibição dos livros contábeis, fiscais e financeiros, para fins de
penhora sobre o faturamento. O argumento utilizado é a necessidade de “demonstrar a
viabilidade econômica da penhora, apontando qual é o real faturamento da empresa”,
sem “colocar em risco a sobrevivência econômica da empresa”. Nesse sentido, o
Tribunal de Justiça do Paraná entendeu que a exibição dos livros permitiria que se
tivesse uma visão sobre a contabilidade, sendo “medida adequada para estabelecer
diretrizes viáveis para o efetivo cumprimento da penhora sobre o faturamento, sem
que prejudique as atividades da empresa devedora” (TJPR, Agravo de Instrumento
1744132-0, 6.ª Câmara Cível, Curitiba, Rel. Juiz Conv. Joscelito Giovani Cé, DJPR
22.02.2018).
Art. 1.192. Recusada a apresentação dos livros, nos casos do artigo antecedente, serão
apreendidos judicialmente e, no do seu § 1º, ter-se-á como verdadeiro o alegado pela parte
contrária para se provar pelos livros.
Parágrafo único. A confissão resultante da recusa pode ser elidida por prova documental em
contrário.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O art. 1.192 assimila regra anteriormente
prevista no art. 20 do CCom de 1850. Recusada a apresentação dos livros, nos casos
em que ordenada a sua exibição, abrem-se duas possibilidades. A primeira é a
confissão ficta pelo empresário ou pela sociedade empresária do fato alegado pelo
autor da ação, em harmonia com o que estabelece o art. 400 do estatuto processual
civil, que possibilita ao juiz admitir como verdadeiros os fatos que, por meio do
documento ou da coisa, a parte pretendia provar quando o empresário requerido não
efetuar a exibição ou a recusa for havida por ilegítima; lembrando que o juiz não
admitirá a recusa se o requerido tiver obrigação legal de exibir, conforme previsão
do art. 399. A segunda possibilidade consiste na busca e apreensão dos documentos
contábeis. Quando em poder de terceiros (contador ou empresa de auditoria), “o juiz
expedirá mandado de apreensão, requisitando, se necessário, força policial, sem
prejuízo da responsabilidade por crime de desobediência, pagamento de multa e
outras medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias
para assegurar a efetivação da decisão”, com fundamento no parágrafo único do art.
403 do CPC.
 JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: Nos casos de decretação da falência
surge o dever legal de depositar os livros obrigatórios para serem entregues ao
administrador judicial, conforme estabelece o art. 104 da Lei n. 11.101/2005. De
modo que “a não apresentação dos livros contábeis pela empresa gera presunção de
veracidade das alegações de fraude, como estabelece o art. 1.192 do Código Civil,
autorizando a extensão dos efeitos da falência, ao patrimônio dos sócios” (TJMG, AI
1.0079.12.070441-0/008, Rel. Des. Sandra Fonseca, DJEMG 06.05.2016).
Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da escrituração, em parte ou por
inteiro, não se aplicam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de
impostos, nos termos estritos das respectivas leis especiais.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: Já afirmei em comentário anterior que a
confidencialidade dos livros empresariais não pode ser oposta às autoridades fiscais.
O art. 195 do Código Tributário Nacional (Lei n. 5.172/1966) tem dicção expressa no
sentido de que, “para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação quaisquer
disposições legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias,
livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes,
industriais ou produtores, ou a obrigação destes de exibi-los”.
Art. 1.194. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a conservar em boa guarda
toda a escrituração, correspondência e mais papéis concernentes à sua atividade, enquanto não
ocorrer prescrição ou decadência no tocante aos atos neles consignados.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O art. 1.194 assimila, com maior rigor
técnico e linguagem mais concisa, regra anteriormente prevista no art. 4º do Decreto-
lei n. 486/1969. O dispositivo alude à obrigação de guarda e armazenamento dos
documentos contábeis do empresário e da sociedade empresária, os quais devem ser
conservados, no mínimo, pelo prazo correspondente à prescrição ou decadência das
obrigações decorrentes dos atos neles consignados. As regras gerais sobre prescrição
e decadência encontram-se dispostas nos arts. 205 a 211, sem prejuízo de regras e
prazos previstos em leis especiais. A Instrução Normativa n. 86/2001, da Secretaria
da Receita Federal, determina que “as pessoas jurídicas que utilizarem sistemas de
processamento eletrônico de dados para registrar negócios e atividades econômicas
ou financeiras, escriturar livros ou elaborar documentos de natureza contábil ou
fiscal, ficam obrigadas a manter, à disposição da Secretaria da Receita Federal
(SRF), os respectivos arquivos digitais e sistemas, pelo prazo decadencial previsto
na legislação tributária”. O dever de guarda tem como sujeito passivo o empresário
individual, pessoa natural, a EIRELI ou a sociedade empresária, não alcançando os
sócios desta, mas apenas a pessoa jurídica. Nos casos de extravio ou deterioração
dos documentos contábeis,deve-se observar o disposto no art. 10 do Decreto-lei n.
486/1969 e no art. 34 da Instrução Normativa DREI n. 11/2013.
 JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: A jurisprudência tem se pautado pela
inexistência de um prazo certo, após o qual seria possível o descarte dos documentos
alusivos à escrituração empresarial. Por isso, a cautela e a diligência exigíveis do
empresário probo e correto aconselham a guarda prolongada da documentação da
vida empresarial. Entretanto, o dever de guarda desses documentos “não pode superar
o prazo prescricional para as ações que têm como objeto os atos neles consignados,
nos termos do previsto no art. 1.194 do Código Civil. Se de antemão é possível
verificar que a tutela do direito material não se efetivará por estar operada a
prescrição, cabível sua declaração na ação cautelar”, indeferindo-se a exibição
(TJRS, AC 0388761-65.2016.8.21.7000, Rel. Des. Clademir José Ceolin Missaggia,
DJERS 23.01.2017). “O prazo para pleitear exibição de documentos de natureza
comercial se vincula à viabilidade de ajuizamento de ações relacionadas à relação
jurídica que nele se retrata” (TJRJ, APL 0008486-39.2014.8.19.0014, Rel. Des.
Marcos Alcino de Azevedo Torres, DORJ 19.03.2018). Assim, “é imperioso
observar que não é possível exigir-se a sua exibição, imputando-se à parte o dever de
guarda desse documento, se já se acha prescrita qualquer pretensão que dele possa
decorrer, nesse caso sendo afastado o dever de sua guarda, consoante o disposto no
art. 1.194 do CC/2002 e no art. 10, n. 3, do Código Comercial (Lei n. 556/1850).
Tratando-se de hipótese de inexigibilidade de exibição do documento, eis que o dever
de sua guarda cessou com a prescrição de todo e qualquer direito a ele relativo, disso
decorre a inexistência de interesse processual do autor para a propositura da
correspondente ação” (TJMG, APCV 1.0525.12.019769-0/001, Rel. Des. José de
Carvalho Barbosa, DJEMG 11.03.2016).
Art. 1.195. As disposições deste Capítulo aplicam-se às sucursais, filiais ou agências, no Brasil,
do empresário ou sociedade com sede em país estrangeiro.
 COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O presente dispositivo estabelece, em
síntese, que as disposições deste capítulo, relativas à escrituração contábil, são
aplicáveis às sucursais, filiais e agências de sociedade estrangeira em funcionamento
no território nacional. Sobre o conceito de sucursal, filial ou agência, remete-se aos
comentários ao art. 969. No tocante às sociedades estrangeiras no Brasil, vide,
também, os comentários aos arts. 1.134 a 1.141.

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