Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DA ESCRITURAÇÃO Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. § 1º Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a critério dos interessados. § 2º É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o art. 970. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: Os arts. 1.179 e 1.180 estabelecem os chamados requisitos extrínsecos da escrituração contábil que deve ser mantida pelo empresário, pela EIRELI e pela sociedade empresária e que pode ser realizada por meio manual, mecanizado ou por processamento eletrônico de dados. A inserção desses dispositivos no bojo da codificação civil tem sido objeto de críticas contundentes da doutrina especializada, pois não caberia a um código regular a matéria contábil de forma tão minudente, descendo a minúcias sobre procedimentos detalhados de contabilidade empresarial, em regras próprias de legislação especial, o que constituiria grave atecnia. A contabilidade é o sistema de informação que controla o patrimônio da empresa, registrando todos os fatos patrimoniais, incorridos no exercício da atividade empresarial. A escrituração, por sua vez, constitui um método de lançamento desses registros nos livros próprios. A Resolução n. 1.374 de 16.12.2011, do Conselho Federal de Contabilidade, que deu nova redação à NBC (Norma Brasileira de Contabilidade), estabelecendo os conceitos que fundamentam a elaboração das demonstrações contábeis, menciona, entre os objetivos da contabilidade, “fornecer informações contábil-financeiras acerca da entidade que reporta essa informação (reporting entity) que sejam úteis a investidores existentes e em potencial, a credores por empréstimos e a outros credores, quando da tomada [de] decisão ligada ao fornecimento de recursos para a entidade”. A norma administrativa ainda esclarece acerca do conteúdo ou elementos das demonstrações contábeis: “Os elementos diretamente relacionados à mensuração da posição patrimonial e financeira no balanço patrimonial são os ativos, os passivos e o patrimônio líquido. Os elementos diretamente relacionados com a mensuração do desempenho na demonstração do resultado são as receitas e as despesas”. A Lei n. 11.638, de dezembro 2007, que alterou e revogou dispositivos da Lei n. 6.404/1976 e da Lei n. 6.385/1976, ao mesmo tempo em que estendeu às sociedades de grande porte de qualquer tipo societário disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras das sociedades anônimas, promoveu relevantes transformações no regramento da contabilidade empresarial, importando para o direito interno o sistema internacional de contabilidade elaborado pelo International Accounting Standards Board (IASB), e as normas padronizadas da International Financial Reporting Standard (IFRS), tornando tais procedimentos obrigatórios para as sociedades anônimas de capital aberto. O microempresário e o empresário de pequeno porte (Lei n. 9.841/1999) poderão adotar contabilidade simplificada, estando dispensados das exigências deste artigo, cabendo lembrar que “o pequeno empresário, dispensado da escrituração, é aquele previsto na Lei n. 9.841/99”, nos termos do Enunciado n. 235, aprovado durante a III Jornada de Direito Civil. O § 2º, do art. 12, da IN n. 12 DREI de 2013, acrescenta que o pequeno empresário “não está obrigado a seguir um sistema de contabilidade com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, nem alevantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico”. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: Dos Tribunais administrativos colhe-se a orientação de que “as microempresas e as empresas de pequeno porte, optantes pelo SIMPLES, ficam dispensadas de escrituração comercial para fins fiscais, desde que mantenham em boa ordem e guarda, enquanto não decorrido o prazo decadencial e não prescritas eventuais ações que lhes sejam pertinentes (parágrafo 16 do artigo 225 do Regulamento da Previdência Social e artigo 32 da IN SRF n. 608 de 09 de janeiro de 2006): Livro Caixa, no qual deverá estar escriturada toda a sua movimentação financeira, inclusive bancária; Livro de Registro de Inventário, no qual deverão constar registrados os estoques existentes no término de cada ano-calendário; e, todos os documentos e demais papéis que serviram de base para a escrituração dos livros referidos” (CARF, Recurso 12045.000485/2007-89, Acódão 2301-003.868, Rel. Cons. Manoel Coelho Arruda Junior, DOU 05.02.2015). Também já se decidiu que a ausência da escrituração contábil importa em ato ilícito, devendo ser atribuída responsabilidade plena aos sócios pelos prejuízos causados à sociedade e aos credores desta, não se limitando à sua participação no capital social (TJDF, APC 2014.01.1.051670-8, Rel. Des. João Egmont Leoncio Lopes, DJDFTE 21.07.2016). Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica. Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O dispositivo dispõe sobre os livros obrigatórios da contabilidade, entre os quais menciona o Livro Diário, trazendo o permissivo de sua substituição por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica. Ou seja, o legislador de 2002 já previu a hipótese de escrituração eletrônica, por meio de computador, exigindo-se, apenas e quando exigido pela autoridade fiscal, a impressão dos relatórios, que devem ser encadernados, para facilitar a fiscalização. A empresa tem a obrigação de registrar em seus livros contábeis todas as operações realizadas no giro de suas atividades e o ônus de exibi- los em juízo quando instada a comprová-las. A negativa pode dar ensejo à determinação de exibição, com fulcro nos arts. 420 e 421, do Código de Processo Civil de 2015. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: Na jurisprudência, a apresentação dos livros exigidos por Lei, que podem ser substituídos por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica, tem sido considerada requisito indispensável para apuração de lucros cessantes nas demandas de reparação civil. Não se considera justificativa hábil a alegação de que as sociedades “que teriam sofrido lucros cessantes não contam com contabilização, restando inviabilizada a pretensão de presunção do lucro cessante” (TJSP, AI 2121619-33.2018.8.26.0000, Rel. Des. Maria Lúcia Pizzotti, DJESP 15.08.2018). Art. 1.181. Salvo disposição especial de lei, os livros obrigatórios e, se for o caso, as fichas, antes de postos em uso, devem ser autenticados no Registro Público de Empresas Mercantis. Parágrafo único. A autenticação não se fará sem que esteja inscrito o empresário, ou a sociedade empresária, que poderá fazer autenticar livros não obrigatórios. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O art. 1.181 versa sobre a necessidade de autenticação pela Junta Comercial (e não por Cartório de Notas) de todos os instrumentos obrigatórios da escrituração, e ainda dos facultativos se a empresa assim o desejar. Os instrumentos de escrituração dos empresários e das sociedades empresárias consistem nos livros, em papel; no conjunto de fichas avulsas; conjunto de fichas ou folhas contínuas; livros em microfichas geradas através de microfilmagem de saída direta do computador e livros digitais. A autenticação dos livros digitais será efetuada pelas Juntas Comerciais com utilização de software específico. É evidente o descompasso desse dispositivo com a tecnologia atual, ao exigir, especialmente no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica, a autenticação prévia dos Livros e das fichas, antes de colocados em uso. No entanto, isso já foi superado por normas administrativas do antigo DNRC. A matéria da autenticaçãoencontra-se atualmente regulada pela Instrução Normativa n. 11, de 05 de dezembro de 2013, do Departamento de Registro Empresarial e Integração – DREI – e que dispõe sobre procedimentos para a validade e eficácia dos instrumentos de escrituração dos empresários individuais, da EIRELI, das sociedades empresárias, das cooperativas, dos consórcios, dos grupos de sociedades, dos leiloeiros, dos tradutores públicos e intérpretes comerciais. A IN 11 permite que a autenticação seja feita antes ou depois de efetuada a escrituração. O Código de Processo Civil disciplina a força probante dos livros empresariais que atendam às formalidades legais. O art. 418 é taxativo: “Os livros empresariais que preencham os requisitos exigidos por lei provam a favor de seu autor no litígio entre empresários”. O art. 417 aduz que os livros empresariais provam contra seu autor, permitindo, no entanto, ao empresário, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos. Finalmente o art. 419 dispõe que “a escrituração contábil é indivisível, e, se dos fatos que resultam dos lançamentos, uns são favoráveis ao interesse de seu autor e outros lhe são contrários, ambos serão considerados em conjunto, como unidade”. Art. 1.182. Sem prejuízo do disposto no art. 1.174, a escrituração ficará sob a responsabilidade de contabilista legalmente habilitado, salvo se nenhum houver na localidade. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: Em regra, somente os inscritos no Conselho Regional de Contabilidade podem ser responsáveis pela escrituração do empresário, da EIRELI ou da sociedade empresária. O art. 15 do Decreto-lei n. 9.295/1946 já estabelecia que “os indivíduos, firmas, sociedades, associações, companhias e empresas em geral, e suas filiais que exerçam ou explorem, sob qualquer forma, serviços técnicos contábeis, ou a seu cargo tiverem alguma seção que a tal se destine, somente poderão executar os respectivos serviços, depois de provarem, perante os Conselhos de Contabilidade que os encarregados da parte técnica são exclusivamente profissionais habilitados e registrados na forma da lei”. O art. 27 da Resolução CFC 960/2003, por sua vez, estatui que “qualquer que seja a forma de sua organização, a pessoa jurídica somente poderá explorar serviços contábeis, próprios ou de terceiros, depois que provar perante o CRC de sua jurisdição que os responsáveis pela parte técnica e os que executam trabalhos técnicos no respectivo setor ou serviço são profissionais em situação regular perante o CRC de seu registro”. A IN DREI n. 11 de 2013 acrescenta que “em se tratando de livro digital, esse deve ser assinado por contabilista legalmente habilitado e pelo empresário individual, empresa individual de responsabilidade Ltda – Eireli, sociedade empresária, cooperativa, consórcio ou grupo de sociedade, conforme LECD, com certificado digital, de segurança mínima tipo A3, emitido por entidade credenciada pela Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras (ICP-Brasil), antes de ser submetido à autenticação pelas Juntas Comerciais, sendo dispensada a apresentação de procuração arquivada na Junta Comercial”. Excepcionalmente um contador (ou técnico em contabilidade), não inscrito no CRC, poderá se responsabilizar pela escrituração, quando não houver outro profissional habilitado na sede da empresa. Nesse caso, caberá aos Conselhos Regionais de Contabilidade informar às Juntas Comerciais as localidades onde não haja profissional habilitado (§ 2º do art. 3º do Decreto n. 64.567, de 1969). JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: Ainda que a sociedade não explore serviço técnico contábil, se “possui pelo menos um setor que desenvolve essa atividade para controle próprio”, faz surgir “a necessidade de possuir profissional regularmente inscrito no Conselho Profissional, mormente em virtude da exigência contida nos artigos 1.179 e 1.182 do Código Civil”. Assim, “verificada a ilegalidade, agiu corretamente a Fiscalização ao proceder à autuação da empresa, aplicando corretamente a multa, conforme os parâmetros legais” (TRF 3.ª Região, AC 0016852- 59.2013.4.03.6100, Rel. Des. Fed. Nery Junior, DEJF 27.03.2017). Art. 1.183. A escrituração será feita em idioma e moeda corrente nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as margens. Parágrafo único. É permitido o uso de código de números ou de abreviaturas, que constem de livro próprio, regularmente autenticado. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O presente dispositivo versa sobre os requisitos intrínsecos da escrituração, cujos lançamentos devem ser efetuados em português, em moeda corrente nacional e sob a forma contábil, em ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as margens. O objetivo dessas restrições, como se antevê, é o de evitar a inclusão de lançamentos a destempo, com o fito de fraudar a escrituração. A exigência do uso do vernáculo, por outro lado, não é absoluta, admitindo-se o uso de termos em língua estrangeira, quando incorporados aos usos e costumes do tráfego empresarial (por exemplo, offshore, holding, trust, startup, joint venture, venture capital etc.). Art. 1.184. No Diário serão lançadas, com individuação, clareza e caracterização do documento respectivo, dia a dia, por escrita direta ou reprodução, todas as operações relativas ao exercício da empresa. § 1º Admite-se a escrituração resumida do Diário, com totais que não excedam o período de 30 (trinta) dias, relativamente a contas cujas operações sejam numerosas ou realizadas fora da sede do estabelecimento, desde que utilizados livros auxiliares regularmente autenticados, para registro individualizado, e conservados os documentos que permitam a sua perfeita verificação. § 2º Serão lançados no Diário o balanço patrimonial e o de resultado econômico, devendo ambos ser assinados por técnico em Ciências Contábeis legalmente habilitado e pelo empresário ou sociedade empresária. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: No Livro Diário serão lançadas todas as operações de conteúdo patrimonial realizadas pela pessoa jurídica ou pelo empresário individual. Se o número de operações for elevado, a escrituração pode ser resumida, mediante o uso de Livro Diário auxiliar, escriturando-se no Livro Diário principal um resumo, por totais, das operações realizadas no período máximo de trinta dias. A IN DREI n. 11/2013 acrescenta que “quando adotada a escrituração resumida do Diário, com totais que não excedam o período de trinta dias, relativamente a contas cujas operações sejam numerosas ou realizadas fora da sede, deverão ser utilizados livros auxiliares do Diário, regularmente autenticados, para registro individualizado, e conservados os documentos que permitam a sua perfeita verificação” (art. 7º). O § 2º do art. 1.184, por seu turno, obriga a que, tanto o balanço patrimonial, como as demais demonstrações financeiras, quando do encerramento do exercício anual do Livro Diário, sejam assinados pelo contabilista responsável e devidamente inscrito no Conselho Regional de Contabilidade, bem como pelo empresário individual ou pelo administrador da sociedade empresária. A exigência de registro no CRC pode ser superada quando não houver outro profissional habilitado na sede da empresa. Nesse caso, caberá aos Conselhos Regionais de Contabilidade informar às Juntas Comerciais as localidades onde não haja profissional habilitado (§ 2º do art. 3º do Decreto n. 64.567, de 1969). JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: Já se decidiu que a inobservância dos requisitos previstos no art. 1.184, ou seja, a não apresentação de documentos contábeis na forma da lei, não constitui “rigorismo formal” por parte da autoridade administrativa e justifica a inabilitação da sociedade empresária em processo de licitação. A análise da regularidade do balanço apresentado nos termos do edital pressupõe que tenha sido feito na forma dos arts. 1.181 e 1.184 do Código Civil. No casoconcreto decidido pelo TJPE, “após sagrar-se vencedora na fase de classificação das propostas, a apelante restou inabilitada pelos seguintes motivos: i) não apresentação do balanço patrimonial na forma da Lei (subitem 8.2.3.1 do edital); ii) ausência de prova de que os profissionais que realizaram a visitação técnica eram, de fato, representantes da empresa (subitem 8.2.4.8 do edital); iii) não apresentação do atestado de capacidade técnica previsto no subitem 8.2.4”. O Tribunal, analisando as provas constantes nos autos, concluiu “que os documentos apresentados pela apelante carecem das formalidades exigidas pelo ordenamento jurídico, notadamente as estabelecidas nos arts. 1.181 e 1.184, ambos do Código Civil” e que “a jurisprudência pátria é firme no sentido de que tais documentos devem ser apresentados devidamente autenticados pela Junta Comercial, vez que é através deles que a autoridade administrativa terá dados objetivos para avaliar se a empresa possui saúde financeira para assumir o objeto do contrato a ser futuramente firmado. Assim, os defeitos apontados geraram dúvidas pertinentes sobre a regularidade da documentação contábil apresentada, não configurando formalismo exacerbado por parte da autoridade administrativa a inabilitação da apelante, que não agiu em estrito cumprimento ao que dispôs o edital do certame” (TJPE, APL 0004094- 12.2014.8.17.0370, Rel. Des. Francisco José dos Anjos Bandeira de Mello, DJEPE 04.10.2016). Art. 1.185. O empresário ou sociedade empresária que adotar o sistema de fichas de lançamentos poderá substituir o livro Diário pelo livro Balancetes Diários e Balanços, observadas as mesmas formalidades extrínsecas exigidas para aquele. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O dispositivo reconhece ao empresário ou sociedade empresária, que adotar o sistema de fichas de lançamentos, a possibilidade de substituir o Livro Diário pelo livro Balancetes Diários e Balanços. Como a escrituração hoje em dia é, na quase totalidade dos casos, completamente digital, sendo frequente o uso de softwares próprios que organizam as contas e realizam balanços parciais, com qualquer periodicidade que se queira, não faz muita diferença a organização da escrituração no Diário ou em outro livro auxiliar. Até mesmo porque o livro Balancetes Diários e Balanços observará as mesmas formalidades extrínsecas exigidas para o Diário, havendo necessidade de ser levado à autenticação da Junta Comercial. Art. 1.186. O livro Balancetes Diários e Balanços será escriturado de modo que registre: I – a posição diária de cada uma das contas ou títulos contábeis, pelo respectivo saldo, em forma de balancetes diários; II – o balanço patrimonial e o de resultado econômico, no encerramento do exercício. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: No encerramento de cada exercício financeiro, a sociedade produzirá, por meio de sistema informatizado, o balanço patrimonial e as demais demonstrações financeiras, com base nos dados acumulados e consolidados nos balanços diários. O balanço de resultado econômico referido no inciso II corresponde às demonstrações financeiras da sociedade elencadas no art. 176 da Lei das S/A, que compreendem o balanço patrimonial, a demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados, a demonstração do resultado do exercício e a demonstração dos fluxos de caixa. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: O balanço patrimonial e as demais demonstrações financeiras da sociedade constituem elementos materiais imprescindíveis em qualquer processo judicial de dissolução e liquidação de sociedade. Daí que “o balanço patrimonial da sociedade em fase de dissolução e apuração de haveres deve ser apresentado, a fim de possibilitar a correta liquidação, pois os dados contábeis pleiteados fazem prova pré-constituída a favor e contra os sócios em litígio, nos termos do art. 226 do Código Civil. Ademais, a documentação em questão é a única capaz de demonstrar a situação econômico-financeira da sociedade em liquidação no curso do tempo”. Igualmente, o balanço contábil deve ser apresentado, ainda que por meio eletrônico, anualmente, “consoante estabelece o art. 1.065, combinado com o art. 1.186, ambos do atual Código Civil. Obrigação esta que também era disposta no art. 18 da Lei n. 3.708/19 da Lei das Sociedades Limitadas combinado com o art. 132 da Lei das Sociedades Anônimas, aplicada subsidiariamente ao caso conforme a anterior legislação dispunha e a atual Lei Civil também estabelece” (TJRS, AI 0339668-02.2017.8.21.7000, Rel. Des. Jorge Luiz Lopes do Canto, DJERS 09.04.2018). Art. 1.187. Na coleta dos elementos para o inventário serão observados os critérios de avaliação a seguir determinados: I – os bens destinados à exploração da atividade serão avaliados pelo custo de aquisição, devendo, na avaliação dos que se desgastam ou depreciam com o uso, pela ação do tempo ou outros fatores, atender-se à desvalorização respectiva, criando-se fundos de amortização para assegurar-lhes a substituição ou a conservação do valor; II – os valores mobiliários, matéria-prima, bens destinados à alienação, ou que constituem produtos ou artigos da indústria ou comércio da empresa, podem ser estimados pelo custo de aquisição ou de fabricação, ou pelo preço corrente, sempre que este for inferior ao preço de custo, e quando o preço corrente ou venal estiver acima do valor do custo de aquisição, ou fabricação, e os bens forem avaliados pelo preço corrente, a diferença entre este e o preço de custo não será levada em conta para a distribuição de lucros, nem para as percentagens referentes a fundos de reserva; III – o valor das ações e dos títulos de renda fixa pode ser determinado com base na respectiva cotação da Bolsa de Valores; os não cotados e as participações não acionárias serão considerados pelo seu valor de aquisição; IV – os créditos serão considerados de conformidade com o presumível valor de realização, não se levando em conta os prescritos ou de difícil liquidação, salvo se houver, quanto aos últimos, previsão equivalente. Parágrafo único. Entre os valores do ativo podem figurar, desde que se preceda, anualmente, à sua amortização: I – as despesas de instalação da sociedade, até o limite correspondente a 10% (dez por cento) do capital social; II – os juros pagos aos acionistas da sociedade anônima, no período antecedente ao início das operações sociais, à taxa não superior a 12% (doze por cento) ao ano, fixada no estatuto; III – a quantia efetivamente paga a título de aviamento de estabelecimento adquirido pelo empresário ou sociedade. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O balanço patrimonial deve retratar, de forma fidedigna, a situação econômico-financeira do empresário e da sociedade empresária (ver art. 1.188). Por isso, ambos são obrigados a inventariar, a cada ano, o montante total de bens que compõem o seu patrimônio, incluindo ativos e passivos. O art. 1.187 do Código Civil estabelece os critérios pelos quais tais bens devem ser avaliados para que, então, passem a constar do balanço patrimonial. Aqueles bens destinados à exploração da atividade econômica, como é o caso das máquinas da indústria, em regra, serão avaliados pelo custo de aquisição, abatida eventual depreciação pelo uso ou pela ação do tempo. Matéria-prima e estoque podem ser avaliados pelo custo de aquisição ou de fabricação, ou pelo preço corrente, sempre que este for inferior ao preço de custo. Os valores mobiliários podem ser estimados com base na sua cotação em Bolsa ou, se não cotados, com base no valor de aquisição. Os créditos serão inventariados de acordo com o presumível valor de realização, desprezando-se os atingidos pela prescrição e os de difícil liquidação. O parágrafo único do art. 1.187 permite que sejam incluídos no ativo, desde que amortizados anualmente, as despesas de instalação da sociedade, até o limite de 10% do capital social; os juros pagos aos acionistas da sociedade anônima, no período antecedente ao início das operações sociais, desde que a taxa não seja superior a 12% ao ano; bem como os valores efetivamente pagos a título de aviamento de estabelecimentoadquirido pelo empresário ou sociedade. Art. 1.188. O balanço patrimonial deverá exprimir, com fidelidade e clareza, a situação real da empresa e, atendidas as peculiaridades desta, bem como as disposições das leis especiais, indicará, distintamente, o ativo e o passivo. Parágrafo único. Lei especial disporá sobre as informações que acompanharão o balanço patrimonial, em caso de sociedades coligadas. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O balanço patrimonial é o mais importante documento contábil de qualquer pessoa individual ou coletiva que exerça a empresa, pois retrata, em tempo real, com a máxima fidelidade, a situação econômico-financeira do empresário ou da sociedade empresária, demonstrando de forma clara o ativo e o passivo. A lei especial referida no parágrafo único deste artigo, no tocante às sociedades coligadas, é a Lei das Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404/1976, arts. 247 a 253). JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: Nos casos de encerramento irregular das atividades da sociedade empresária, a inexistência de balanço patrimonial que demonstre a composição do ativo foi considerada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo como “desvio de finalidade social com o intuito de prejudicar credores”, justificando a desconsideração da personalidade jurídica com base no art. 50 do Código Civil (teoria maior) (TJSP, APL 0013359-93.2010.8.26.0510, Rel. Des. Antonio Luiz Tavares de Almeida, DJESP 1º.07.2016). Art. 1.189. O balanço de resultado econômico, ou demonstração da conta de lucros e perdas, acompanhará o balanço patrimonial e dele constarão crédito e débito, na forma da lei especial. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: Já foi dito em comentários anteriores que o balanço de resultado econômico referido no dispositivo corresponde às demonstrações financeiras da sociedade elencadas no art. 176 da Lei das S/A e que compreendem o balanço patrimonial, a demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados, a demonstração do resultado do exercício e a demonstração dos fluxos de caixa. No balanço patrimonial constarão as contas do ativo, distribuídas entre ativo circulante e ativo não circulante, este composto por ativo realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível; as contas do passivo, incluindo passivo circulante, passivo não circulante; e patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações ou quotas em tesouraria e prejuízos acumulados. A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados mencionará o saldo do início do período, os ajustes de exercícios anteriores e a correção monetária do saldo inicial; as reversões de reservas e o lucro líquido do exercício; e as transferências para reservas, os dividendos, a parcela dos lucros incorporada ao capital e o saldo ao fim do período. A demonstração do resultado do exercício discriminará a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abatimentos e os impostos; a receita líquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e serviços vendidos e o lucro bruto; e as despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas das receitas, as despesas gerais e administrativas, e outras despesas operacionais; o lucro ou prejuízo operacional, as outras receitas e as outras despesas; o resultado do exercício antes do Imposto sobre a Renda e a provisão para o imposto; as participações de debêntures, empregados, administradores e partes beneficiárias, no caso das sociedades anônimas; o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ação do capital social. Finalmente, a demonstração dos fluxos de caixa indicará, no mínimo, as alterações ocorridas, durante o exercício, no saldo de caixa e equivalentes de caixa, segregando-se essas alterações em 3 (três) fluxos: a) das operações; b) dos financiamentos; c) dos investimentos. O objetivo das demonstrações financeiras, além de aferir os resultados da atividade empresarial, é o de munir os terceiros interessados, desde credores a possíveis interessados em ingressar na sociedade, sobre a situação financeira da empresa e suas condições de continuar o exercício de sua atividade. Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: Os documentos contábeis do empresário e da sociedade empresária estão protegidos pela confidencialidade, e a sua exibição depende de ordem judicial, ainda assim restrita aos casos previstos em lei. Por isso, a confidencialidade não pode ser oposta, por exemplo, às autoridades fiscais (ver art. 1.193 e, ainda, as disposições do Código Tributário Nacional, da Lei n. 8.212/1991 e da Lei Complementar 105/2001). A exibição se faz necessária, ainda, nas demandas de prestação de contas movidas contra gestores e ex-gestores da sociedade e nos litígios entre sócios, conforme previsão expressa do art. 1.191. Também tem-se admitido a exibição nos litígios de família, quando demonstrado o uso da sociedade empresária para fraudar a partilha de bens no divórcio ou na dissolução de união estável. Nos conflitos conjugais, dada a carga emocional que vitima ambas as partes, é frequente o desejo nutrido por um dos cônjuges ou companheiros, notadamente aquele que se sentiu “traído” pelo pedido de dissolução do vínculo conjugal, de prejudicar economicamente o outro. E a maneira mais comum de se tentar impingir ao outro esse tipo de prejuízo é justamente a fraude na partilha de bens. Nos relacionamentos em que apenas um dos cônjuges exerce atividade produtiva, a possibilidade de incidência da fraude patrimonial é ainda maior. Normalmente, o cônjuge ou companheiro mal-intencionado se prepara para a separação, para desfechar o golpe no patrimônio do outro, prejudicando-o quando da futura partilha. É o caso, por exemplo, do empresário que, antes do divórcio, transfere bens para a pessoa jurídica que administra, muitas vezes titularizada por interpostas pessoas, com as quais firma contratos simulados de compra e venda e de mútuo. Também há situações em que o cônjuge transfere a própria empresa para uma terceira pessoa apenas para não partilhar as quotas da sociedade com a esposa. As ações mais usuais por parte do fraudador estão relacionadas, portanto, à ocultação de bens, mediante alienações simuladas. A comprovação da fraude pelo cônjuge hipossuficiente nem sempre é fácil, mesmo porque a fraude tem início no chamado período de preparação, às vezes até vários anos antes do pedido de divórcio, e as simulações se amparam em estruturas jurídicas bem sofisticadas. Por isso, sempre que houver suspeita de fraude, a confidencialidade não pode ser invocada e a exibição dos livros e demais documentos contábeis do empresário ou da sociedade deve ser sempre determinada pela autoridade judiciária. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que os Conselhos Regionais de Contabilidade podem fiscalizar livros e documentos contábeis de empresário ou sociedade empresária em poder de contadores, com base no Decreto-lei n. 9.295/1946, sem qualquer violação à privacidade e ao sigilo profissional previsto no artigo 1.190 do Código Civil. Segundo o Tribunal da Cidadania, “no exercício de sua atividade fiscalizatória, a teor da combinada exegese dos arts. 2º, 10, ‘c’, e 25 do Decreto-lei n. 9.295/46, podem os Conselhos Regionais de Contabilidade examinar livros e fichas contábeis de empresários e de sociedades empresárias em poder de contadores”, no âmbito de fiscalização corporativa da atividade de profissionais da Contabilidade. Para o STJ, “a atividade fiscalizatória dos Conselhos de Contabilidade tem por foco central aferir, não o mérito, mas a observância, pelos profissionais contadores, das regras de forma concernentes às suas rotinas contábeis. Sendo esse o propósito primeiro da fiscalização desenvolvida pela entidade classista, não se antevê afrontaà privacidade e ao sigilo profissional dos escritórios fiscalizados e da escrituração contábil de seus clientes” (STJ, REsp 1.420.396, Rel. Min. Sérgio Kukina, DJe 29.09.2017). Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração quando necessária para resolver questões relativas a sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de falência. § 1º O juiz ou tribunal que conhecer de medida cautelar ou de ação pode, a requerimento ou de ofício, ordenar que os livros de qualquer das partes, ou de ambas, sejam examinados na presença do empresário ou da sociedade empresária a que pertencerem, ou de pessoas por estes nomeadas, para deles se extrair o que interessar à questão. § 2º Achando-se os livros em outra jurisdição, nela se fará o exame, perante o respectivo juiz. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O art. 1.191 incorpora, com maior rigor técnico e linguagem mais concisa, regras anteriormente previstas nos arts. 18 e 19 do CCom de 1850. O dispositivo disciplina a exibição judicial dos livros de escrituração empresarial em harmonia com o que já estabelecia o art. 844 do CPC/1973, sobre a exibição judicial de “documento próprio ou comum, em poder de sócio” (inc. II) e “da escrituração comercial por inteiro, balanços e documentos de arquivo, nos casos expressos em lei” (inc. III). O conteúdo dessa disposição normativa consta atualmente do art. 420 da codificação adjetiva de 2015, que assim dispõe: “O juiz pode ordenar, a requerimento da parte, a exibição integral dos livros empresariais e dos documentos do arquivo: I – na liquidação de sociedade; II – na sucessão por morte de sócio; III – quando e como determinar a lei”. Acrescente-se, ainda, a regra geral do art. 421 do CPC/2015, ao prever, no trato da prova documental, que o juiz poderá, até mesmo de ofício, “ordenar à parte a exibição parcial dos livros e dos documentos, extraindo-se deles a suma que interessar ao litígio, bem como reproduções autenticadas”. Portanto, a pretensão de exibição da escrituração contábil da empresa continua possível, com fundamento no art. 1.191 do Código Civil combinado com os arts. 420 e 421 do CPC/2015. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: Com fundamento no § 1º do art. 1.191, algumas decisões judiciais, mesmo quando admitem a exibição de documentos, exigem que ela seja “procedida na presença do empresário ou da sociedade empresária a que pertencerem, ou de pessoas por estes nomeadas, para deles se extrair o que interessar à questão” (TJDF, APC 2015.01.1.092258-0, Rel. Des. Álvaro Ciarlini, DJDFTE 29.11.2016). Entretanto, essa não é a regra na maioria dos casos, em que a exibição dos livros empresariais é feita sem maiores critérios. Em processos de execução ou naqueles em fase de cumprimento de sentença, tem-se determinado a exibição dos livros contábeis, fiscais e financeiros, para fins de penhora sobre o faturamento. O argumento utilizado é a necessidade de “demonstrar a viabilidade econômica da penhora, apontando qual é o real faturamento da empresa”, sem “colocar em risco a sobrevivência econômica da empresa”. Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Paraná entendeu que a exibição dos livros permitiria que se tivesse uma visão sobre a contabilidade, sendo “medida adequada para estabelecer diretrizes viáveis para o efetivo cumprimento da penhora sobre o faturamento, sem que prejudique as atividades da empresa devedora” (TJPR, Agravo de Instrumento 1744132-0, 6.ª Câmara Cível, Curitiba, Rel. Juiz Conv. Joscelito Giovani Cé, DJPR 22.02.2018). Art. 1.192. Recusada a apresentação dos livros, nos casos do artigo antecedente, serão apreendidos judicialmente e, no do seu § 1º, ter-se-á como verdadeiro o alegado pela parte contrária para se provar pelos livros. Parágrafo único. A confissão resultante da recusa pode ser elidida por prova documental em contrário. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O art. 1.192 assimila regra anteriormente prevista no art. 20 do CCom de 1850. Recusada a apresentação dos livros, nos casos em que ordenada a sua exibição, abrem-se duas possibilidades. A primeira é a confissão ficta pelo empresário ou pela sociedade empresária do fato alegado pelo autor da ação, em harmonia com o que estabelece o art. 400 do estatuto processual civil, que possibilita ao juiz admitir como verdadeiros os fatos que, por meio do documento ou da coisa, a parte pretendia provar quando o empresário requerido não efetuar a exibição ou a recusa for havida por ilegítima; lembrando que o juiz não admitirá a recusa se o requerido tiver obrigação legal de exibir, conforme previsão do art. 399. A segunda possibilidade consiste na busca e apreensão dos documentos contábeis. Quando em poder de terceiros (contador ou empresa de auditoria), “o juiz expedirá mandado de apreensão, requisitando, se necessário, força policial, sem prejuízo da responsabilidade por crime de desobediência, pagamento de multa e outras medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar a efetivação da decisão”, com fundamento no parágrafo único do art. 403 do CPC. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: Nos casos de decretação da falência surge o dever legal de depositar os livros obrigatórios para serem entregues ao administrador judicial, conforme estabelece o art. 104 da Lei n. 11.101/2005. De modo que “a não apresentação dos livros contábeis pela empresa gera presunção de veracidade das alegações de fraude, como estabelece o art. 1.192 do Código Civil, autorizando a extensão dos efeitos da falência, ao patrimônio dos sócios” (TJMG, AI 1.0079.12.070441-0/008, Rel. Des. Sandra Fonseca, DJEMG 06.05.2016). Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da escrituração, em parte ou por inteiro, não se aplicam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das respectivas leis especiais. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: Já afirmei em comentário anterior que a confidencialidade dos livros empresariais não pode ser oposta às autoridades fiscais. O art. 195 do Código Tributário Nacional (Lei n. 5.172/1966) tem dicção expressa no sentido de que, “para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação quaisquer disposições legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes, industriais ou produtores, ou a obrigação destes de exibi-los”. Art. 1.194. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondência e mais papéis concernentes à sua atividade, enquanto não ocorrer prescrição ou decadência no tocante aos atos neles consignados. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O art. 1.194 assimila, com maior rigor técnico e linguagem mais concisa, regra anteriormente prevista no art. 4º do Decreto- lei n. 486/1969. O dispositivo alude à obrigação de guarda e armazenamento dos documentos contábeis do empresário e da sociedade empresária, os quais devem ser conservados, no mínimo, pelo prazo correspondente à prescrição ou decadência das obrigações decorrentes dos atos neles consignados. As regras gerais sobre prescrição e decadência encontram-se dispostas nos arts. 205 a 211, sem prejuízo de regras e prazos previstos em leis especiais. A Instrução Normativa n. 86/2001, da Secretaria da Receita Federal, determina que “as pessoas jurídicas que utilizarem sistemas de processamento eletrônico de dados para registrar negócios e atividades econômicas ou financeiras, escriturar livros ou elaborar documentos de natureza contábil ou fiscal, ficam obrigadas a manter, à disposição da Secretaria da Receita Federal (SRF), os respectivos arquivos digitais e sistemas, pelo prazo decadencial previsto na legislação tributária”. O dever de guarda tem como sujeito passivo o empresário individual, pessoa natural, a EIRELI ou a sociedade empresária, não alcançando os sócios desta, mas apenas a pessoa jurídica. Nos casos de extravio ou deterioração dos documentos contábeis,deve-se observar o disposto no art. 10 do Decreto-lei n. 486/1969 e no art. 34 da Instrução Normativa DREI n. 11/2013. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA: A jurisprudência tem se pautado pela inexistência de um prazo certo, após o qual seria possível o descarte dos documentos alusivos à escrituração empresarial. Por isso, a cautela e a diligência exigíveis do empresário probo e correto aconselham a guarda prolongada da documentação da vida empresarial. Entretanto, o dever de guarda desses documentos “não pode superar o prazo prescricional para as ações que têm como objeto os atos neles consignados, nos termos do previsto no art. 1.194 do Código Civil. Se de antemão é possível verificar que a tutela do direito material não se efetivará por estar operada a prescrição, cabível sua declaração na ação cautelar”, indeferindo-se a exibição (TJRS, AC 0388761-65.2016.8.21.7000, Rel. Des. Clademir José Ceolin Missaggia, DJERS 23.01.2017). “O prazo para pleitear exibição de documentos de natureza comercial se vincula à viabilidade de ajuizamento de ações relacionadas à relação jurídica que nele se retrata” (TJRJ, APL 0008486-39.2014.8.19.0014, Rel. Des. Marcos Alcino de Azevedo Torres, DORJ 19.03.2018). Assim, “é imperioso observar que não é possível exigir-se a sua exibição, imputando-se à parte o dever de guarda desse documento, se já se acha prescrita qualquer pretensão que dele possa decorrer, nesse caso sendo afastado o dever de sua guarda, consoante o disposto no art. 1.194 do CC/2002 e no art. 10, n. 3, do Código Comercial (Lei n. 556/1850). Tratando-se de hipótese de inexigibilidade de exibição do documento, eis que o dever de sua guarda cessou com a prescrição de todo e qualquer direito a ele relativo, disso decorre a inexistência de interesse processual do autor para a propositura da correspondente ação” (TJMG, APCV 1.0525.12.019769-0/001, Rel. Des. José de Carvalho Barbosa, DJEMG 11.03.2016). Art. 1.195. As disposições deste Capítulo aplicam-se às sucursais, filiais ou agências, no Brasil, do empresário ou sociedade com sede em país estrangeiro. COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS: O presente dispositivo estabelece, em síntese, que as disposições deste capítulo, relativas à escrituração contábil, são aplicáveis às sucursais, filiais e agências de sociedade estrangeira em funcionamento no território nacional. Sobre o conceito de sucursal, filial ou agência, remete-se aos comentários ao art. 969. No tocante às sociedades estrangeiras no Brasil, vide, também, os comentários aos arts. 1.134 a 1.141.
Compartilhar