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UNIDADE I Concepções e Finalidades da Avaliação Educacional Mª. Janaina Mourão de Ciganda Conceito de Avaliação e suas Caracteristicas Introdução Nesta aula, iremos retomar alguns dos assuntos abordados na disciplina Didática. Aqui iremos aprofundar o entendimento e conhecer melhor as bases teóricas para a prática da avaliação em contextos educacionais. Já sabemos que a avaliar é uma ação humana cotidiana. Todos os dias nós avaliamos coisas, situações, pessoas etc.. Assim, para podermos tomar decisões acerca dos mais variados aspectos da nossa vida, avaliamos, por exemplo, qual o melhor caminho a pegar para ir ao trabalho, dependendo das condições do trânsito. Ou seja, para avaliar uma situação são necessárias informações. No caso do trânsito, buscamos essas informações em noticiários, sites ou aplicativos. A partir das informações coletadas, tomamos a decisão a respeito do melhor caminho a seguir. Dessa forma, podemos inferir que a prática de avaliar está diretamente ligada à prática de coletar informações. O termo avaliar vem do latim a + valere, que significa dar valor. Dessa maneira, a avaliação é construída a partir da necessidade de mensurar valor a algo. Em um olhar mais ampliado, é uma atividade que faz parte da vida humana e está presente no cotidiano dos indivíduos. Ou seja, é o processo de emitir um juízo de valor. Aula 01 1 Todos esses aspectos relacionados à avaliação no cotidiano de nossas vidas estão na esfera do que chamamos de avaliação informal, que é aquela ação que fazemos quase que automaticamente. Porém, existe outro tipo de avaliação, a formal ou sistemática. Esse tipo de avaliação exige objetivos definidos, critérios selecionados e está ligada a um processo, ou também a resultados de uma situação ou atividade, estando diretamente relacionada ao contexto onde é realizada. É nesse contexto que se insere a avaliação educacional e da aprendizagem. A avaliação educacional é uma temática que sempre exige o exercício de olhar para trás para entender o que se passou e o que vem pela frente. Segundo Luckesi (1995, p. 43), “[...] terá de ser o instrumento do reconhecimento dos caminhos percorridos e da identificação dos caminhos a serem perseguidos” Perspectiva Histórica da Avaliação Educacional no mundo Ao compreender a avaliação como um processo, é possível identificar, ao longo da história da humanidade, acontecimentos e mudanças bastante expressivos relacionados ao ato de avaliar dentro dos espaços educacionais instituídos. Assim, o atual sistema de avaliação é resultado desse processo histórico-educacional. Com o passar do tempo, é possível identificar tendências e o desenvolvimento da avaliação formal nos seguintes períodos: Idade Antiga, Idade Média, Renascimento, Tempos Modernos e Idade Contemporânea. Explicaremos cada um desses períodos a seguir. Idade Antiga VÍDEO Assista uma pequena fala do professor Luckesi sobre a avaliação educacional e de aprendizagem. É um vídeo promocional da Cortez Editora, em que ele, de forma bastante resumida, faz um apanhado referente ao processo avaliativo como um todo. 2 Diversas formas de avaliação podem ser identificadas na Idade Antiga. Em tribos primitivas, adolescentes eram submetidos a desafios relacionados aos hábitos e costumes, e só depois de passarem por esses testes eram considerados adultos. Em Esparta, na Grécia, os jovens tinham que passar por duras provas, jogos e competições atléticas, nos quais precisavam superar a fadiga, a fome, a sede, o calor, o frio e a dor. Em Atenas, Sócrates submetia seus discípulos a um cansativo inquérito oral. Tal método socrático, até hoje, é utilizado por educadores ao realizarem arguições ou questionários orais. O aforismo grego “conhece-te a ti mesmo” inaugura a ideia de autoavaliação como um bom caminho para a verdade. Idade Média Este é um período de grande efervescência religiosa em que a produção de conhecimentos estava diretamente ligada a uma questão de fé. A opinião de mestres e autoridades é considerada verdade inquestionável. Repetir o que se lia ou ouvia era a prova mais eficaz de demonstrar conhecimento. Atenção e memória eram dois critérios considerados fundamentais para que a aprendizagem acontecesse. Figura 1 - Grécia antiga. 3 Renascimento Neste período, o humanismo cristão, muito influenciado pelo período anterior, apresenta importantes contribuições para a avaliação, ao inserir uma análise psicológica no sentido de compreender diferenças individuais e preparar os estudantes para a vida, levando em consideração suas necessidades, interesses e aptidões. É também nesse período que a ciência moderna constrói suas bases teóricas. O homem passa a fazer interrogações sobre a natureza, desvendando segredos e descobrindo causas. Tempos Modernos Neste período, houve o surgimento da imprensa, que contribuiu de forma significativa para o desenvolvimento das atividades intelectuais. A publicação de livros cresce e estes passam a ser bens mais acessíveis, obviamente, não alcançando a todas as pessoas. Criam-se escolas e bibliotecas. A pedagogia se desenvolve e a avaliação passa a se ocupar do aproveitamento do aluno. Figura 2 - Idade média. 4 Idade Contemporânea É na Idade Contemporânea que eclode a necessidade de consolidar um sistema educativo novo, no qual a educação da criança passa a ser responsabilidade do Estado. O destaque do período é para planos educativos voltados para as ciências naturais, as línguas modernas e os trabalhos manuais. No começo do século XX temos a predominância de tendências pedagógicas que discutem o problema técnico da educação, tendo a tecnologia como uma nova forma de fazer educação e de solucionar os problemas advindos dela. Também surge um movimento pelo resgate de valores espirituais e formação intelectual e científica. Percurso Histórico da Avaliação Educacional no Brasil No Brasil, a história da avaliação está diretamente ligada à colonização. As escolas jesuítas tinham como metodologia de trabalho a memorização e davam grande importância à retórica e à redação, e também aos clássicos da literatura e da ciência. Neste período, segundo Luckesi (1995), “a avaliação era sinônimo de provas e exames”. A relação professor-estudante era baseada em castigos físicos ou premiação de acordo com a disciplina e o rendimento escolar do Figura 3 - Tempos modernos. 5 aluno. O professor era o detentor de todo o conhecimento e transmissor absoluto de todo o saber, cabendo aos estudantes apenas obedecer às ordens. Um processo educacional construído sobre essas bases é um processo no qual a memória tem mais valor que o raciocínio. Dessa forma, a avaliação acaba por ter como foco a cobrança de competências unicamente memorísticas. Nesse contexto, a avaliação jesuítica era genuinamente tradicional. O conhecimento é entendido como um conjunto de valores de verdades universais, absolutas e imutáveis, divididas e passíveis de serem transmitidas. A aprendizagem é o somatório de informações. As disciplinas são isoladas e a avaliação procura medir a exatidão do conteúdo trabalhado. Assim, a avaliação do estudante era feita com provas escritas, orais, exercícios e trabalhos de casa, todos com uma grande cobrança e valorizando a memorização em detrimento dos aspectos cognitivos. Era uma aprendizagem artificial, pois o estudante memorizava os conteúdos para ganhar nota e não para abstrair o conhecimento. Isso estimulava a competição e classificava os estudantes de acordo com o resultado obtido nas avaliações. Com o passar do tempo, novas propostas avaliativas foram sendo desenvolvidas e a proposta de uma reestruturação interna na escola ganha força e forma. Na escola, emerge a necessidade de uma avaliação contínua, formativa, tendo como horizonte o desenvolvimento integral do estudante. Então, passa-se a perceber que estabelecer um bom diagnóstico para cada estudante ajuda na identificação das causas dos fracassos e dificuldades, se aproximando, assim, de uma avaliação não apenas quantificável, mas também qualificável. Neste sentido,avaliação não pode ser utilizada como ferramenta de punição, castigo, mecanização de conteúdos, mas, sim, como promotora de aprendizagens. Ela é mais um dos tantos momentos de aprendizagem que acontecem dentro da escola. É um momento de troca de conhecimentos. VÍDEO O vídeo a seguir apresenta uma reflexão ampliada sobre a avaliação educacional e da aprendizagem. Assista-o e perceba o quão complexa é a avaliação, e como o papel do pedagogo na sua concretização é de fundamental importância. 6 Fechamento Vimos, nesta aula, o percurso histórico da avaliação nos espaços educacionais que a humanidade foi desenvolvendo e organizando. É importante conhecer a história para compreender o momento atual, visto que a atualidade é resultado do acúmulo da produção de conhecimentos ao longo da história da humanidade. 7 Bases Conceituais da Avaliação Educacional Introdução Na segunda aula desta Unidade, vamos começar a aprofundar a nossa reflexão sobre a avaliação educacional e da aprendizagem. Iremos conhecer e estudar as duas grandes bases conceituais que estruturam as formas de avaliar mais utilizadas no campo educativo. Na área da educação, a avaliação faz parte do processo educativo. Podemos afirmar que não só faz parte, como é elemento fundamental para saber o nível de aprendizagem dos estudantes, a qualidade do trabalho docente, a eficiência da gestão da escola, a eficácia do Projeto Político Pedagógico, o cumprimento de leis e a execução das políticas públicas educacionais. Ao se pensar a prática docente, é preciso conhecer os métodos e técnicas de avaliação no sentido de encontrar eficácia e esclarecimento na verificação do desenvolvimento cognitivo, emocional e social dos estudantes. O objetivo é sempre buscar caminhos para melhorar o planejamento da ação educativa, seja na seleção e organização dos conteúdos curriculares, na escolha da metodologia de ensino, nos materiais didáticos ou nas formas de apresenta-los. A questão “Quais as melhores formas de avaliar a aprendizagem dos estudantes?” funciona como pano de fundo para uma ação avaliativa construtiva. Para respondê-la, é preciso, primeiro, responder a outras questões: o que é aprender? Como se aprende algo? O que Aula 02 8 devemos aprender? O que é avaliar? O que se pode avaliar? Para responder essas questões, é preciso recorrer a uma base conceitual e teórica. Ou seja, um paradigma. Paradigma é um conjunto de conceitos, hipóteses, métodos e teorias que orientam a construção do conhecimento científico. Na prática educativa é preciso assumir um posicionamento sobre o que é aprendizagem. e é nesse sentido que falamos de paradigmas avaliativos. Toda forma de avaliação tem como pano de fundo um paradigma ou base conceitual. Por exemplo, se um professor decide avaliar seus estudantes com uma prova com o valor total de 10 pontos para todos, ele está sugerindo que todos aprendem da mesma forma, e que é possível avaliar significativamente a aprendizagem utilizando tal escala. Assim, talvez, mesmo sem saber, esse professor está fazendo uma escolha paradigmática. Esse exemplo demonstra muito bem o quanto é importante analisar e assumir um paradigma avaliativo. Isso porque, muitas vezes, o professor traz em si concepções que poderão contribuir ou não para a melhora do processo educativo. Portanto, a escolha paradigmática é que vai moldar a ação do professor no sentido de garantir aprendizagens significativas, evitando, assim, a falta de motivação por parte dos estudantes. Os paradigmas são oriundos de contextos sociais e políticos e, por isso, podem trazer consigo ideologias e valores dos grupos privilegiados e interessados em manter suas relações de poder. Em razão disso, a escolha da base conceitual a ser seguida pode levar à manutenção da alienação, da exclusão social e do silenciamento de pontos de vista, linguagens e vivências Figura 4 - Avaliação dos estudantes. 9 diferentes do estabelecido. Se a ideia é promover uma educação libertadora com foco na autonomia, na diversidade e no avanço da democracia, é primordial que os pressupostos avaliativos também sejam iluminados por tal perspectiva. Ao longo da história da humanidade, duas bases conceituais foram mais debatidas: a base conceitual objetivista e a base conceitual subjetivista. A primeira, objetivista, surge com o Positivismo comtiano no século XIX e se estabelece no início do século XX, com o grande desenvolvimento das ciências naturais, da lógica e da matemática. Seu ápice acontece com o Empirismo lógico da década de 1930. Já a segunda base conceitual, a subjetivista, surge a partir das novas filosofias da ciência da década de 1960, principalmente nas críticas à suposta neutralidade dos métodos positivistas, do desenvolvimento da Fenomenologia e do surgimento do novo Marxismo da Escola de Frankfurt. Os dois paradigmas, objetivista e subjetivista, são compostos por diversas variantes, umas mais moderadas e outras mais radicais. Contudo, é possível identificar características comuns entre as variantes e defini-los de forma mais ou menos genérica. O paradigma objetivista é aquele que busca a objetividade do sistema avaliativo, almejando o rigor científico das ciências naturais. A ideia é reduzir ao máximo as influências daquilo que é individual, pessoal e identitário. Isso vale para o professor que avalia e para o estudante que é avaliado, e também para a elaboração e aplicação dos instrumentos. Sendo assim, a base conceitual objetivista considera como fundamental a imparcialidade do método avaliativo. Um bom exemplo de avaliação pautada nesse paradigma são provas e concursos tradicionais. O paradigma subjetivista é aquele que aceita a subjetividade humana no processo avaliativo. Ou seja, é a base conceitual que entende que a atividade humana está sempre imersa em percepções, valores e crenças individuais, e que, dessa forma, a atividade avaliativa não é diferente. Esse paradigma não só dá lugar de valor às individualidades, como também recusa os pressupostos do paradigma objetivista e acolhe a diversidade de experiências e pontos de vista. Exemplos de avaliação dessa base conceitual são os portfólios, os trabalhos em grupo e as autoavaliações. VÍDEO Assista uma divertida animação que exemplifica bem como os paradigmas são construídos e perpetuados, e também como eles podem ser modificados. 10 Entender a avaliação como uma operação de medida é uma das características do paradigma objetivista. Isto é, a avaliação é algo como uma medição de laboratório, que deve servir para verificar alguma variável quantificável, fazendo uso de instrumentos precisos e objetivos, como testes e relatórios. Uma segunda característica que pode ser destacada ao se tratar do paradigma objetivista é a sua tendência a classificar e hierarquizar os resultados de uma avaliação. Nesse sentido, a possibilidade apresentada é a de aprovar ou reprovar os comportamentos de acordo com a escala de valores. Por fim, uma terceira característica da base conceitual objetivista é que para ser imparcial e ter rigor científico, os instrumentos devem ser elaborados de forma que não seja possível haver distorções subjetivas e, assim, garantir a fidedignidade da avaliação. Isto é, os resultados poderão ser reproduzidos nas mesmas condições de aplicação do instrumento. São muitas as críticas ao paradigma objetivista. Umas focam na questão dos movimentos filosóficos históricos como o Positivismo e o Empirismo lógico; outras criticam a ideia da neutralidade ou imparcialidade científica. O importante é aprofundar a reflexão sobre o porquê desse paradigma receber tantas críticas e perceber as entrelinhas da prática avaliativa pautada nessa base conceitual. Quando os interesses particulares dos estudantes não são levados em consideração, corre-se o risco de se diminuir a motivação para aprender. E, mais do que isso, corre-se o risco de se estabelecer um processo de discriminação e exclusão, levando a reconhecer como bons alunos apenas aqueles interessados ou predispostos a desenvolver determinadas habilidades.11 Quando se pensa na esfera social da educação, ao se ignorar as subjetividades do avaliador, esse paradigma induz ao risco da produção de avaliações afastadas das necessidades políticas e sociais da atualidade. É mais importante um estudante do Ensino Fundamental saber a sequência dos imperadores romanos ou refletir criticamente sobre as relações econômicas e políticas que construíram a sociedade ocidental? Já em relação à base conceitual subjetivista, os aspectos relevantes dizem respeito ao alinhamento com princípios filosóficos relativistas e construtivistas do conhecimento e da aprendizagem. O foco está em características qualitativas da aprendizagem e a ideia de avaliação está diretamente ligada à ideia de processo contínuo e gradual, dando maior relevância às experiências dos indivíduos e grupos e à sua bagagem cultural. Também existem críticas ao paradigma subjetivista e elas dizem respeito, principalmente, ao elevado grau de abstração dos conceitos e dos valores da aprendizagem, distanciando, assim, os estudantes da realidade concreta e da reprodução de valores hegemônicos. Outro aspecto criticado é o fato de a própria avaliação ficar prejudicada quando tem como referência uma grande quantidade de fatores complexos, o que acaba dando muita importância ao individualismo e deixando de lado a necessidade de construir valores compartilhados e importantes para a vida em sociedade. Veja, no quadro abaixo, uma boa comparação entre os dois paradigmas: Figura 5 - Motivação dos estudantes. 12 Paradigma Objetivista Paradigma Subjetivista Professor Objetividade científica e processo de alienação na prática de ensino-aprendizagem. Considera as individualidades dos estudantes no processo de ensino, aprendizagem e avaliação. Aluno Aprende determinados conteúdos tidos como importantes, mas que se distanciam de sua realidade social e de seus interesses. Centro dinâmico do processo de ensino e aprendizagem. Processo Avaliativo • Objetividade. • Mensuração. • Rigor científico na construção dos instrumentos de avaliação. • Testes e instrumentos objetivos. • Redução dos critérios e valores subjetivos. • Escala de valores. • Permanente. • Associado ao processo de ensino e aprendizagem. • Leva em consideração as subjetividades dos envolvidos. • Não necessariamente utiliza objetos concretos e mensuráveis. Fechamento Vimos, nessa aula, a importância de conhecer as bases teóricas e conceituais para justificar as escolhas metodológicas do docente. A existência de duas correntes quase que contrárias não impede que o professor possa transitar entre elas, dependendo da necessidade de seus estudantes. Uma não exclui a outra. Portanto, a grande sacada é conhecer as possibilidades de atuação e contribuir para que a aprendizagem significativa, de fato, aconteça no processo educativo. VÍDEO Você pode assistir a um vídeo bastante ilustrativo a respeito da diferença entre os dois paradigmas que estudamos nessa aula. O vídeo é em Espanhol. Portanto, lembre-se de ativar a legenda em português para bem compreender as ideias apresentadas. 13 As Diferentes Avaliações e suas Funções na Educação Introdução Nesta aula, vamos estudar e pensar a respeito das diferentes avaliações que envolvem o processo educacional como um todo. Para fins didáticos, vamos ver as avaliações de forma separada, mas não podemos deixar de compreender que, na ação educativa, muitas vezes, o pedagógico se mistura com que é da alçada da gestão. Dessa forma, nossa aula versará sobre a relação entre essas duas instâncias de ação dentro da escola. O estudante é o principal objeto da avaliação educacional, já que é ele que é avaliado pelos professores ao longo do ano escolar. Entretanto, a avaliação, enquanto área de estudo da educação, tem sido cada vez mais utilizada no cotidiano da sociedade. Isso porque a avaliação está presente em cursos, instituições, escolas, professores, sistemas de ensino, materiais didáticos, currículos etc. Assim sendo, podemos inferir que a avaliação está relacionada a quase todos os aspectos da educação. O fato de existirem tantas possibilidades de atuação da área da avaliação demonstra que essa é uma área de estudo imprescindível para a execução de um projeto educacional. Dessa maneira, o primordial é definir de forma precisa o objeto a ser avaliado. Além disso, é fundamental que estejam bem definidos também os indicadores, a serem considerados, os dados que serão coletados e todas as informações que serão analisadas. Aula 03 14 Com isso, a avaliação pode ser utilizada de forma ampla, ou de forma específica. Pode-se avaliar desde o sistema educacional de um país até mesmo um único estudante. Sabemos que o processo educacional é complexo e a avaliação desse processo não poderia ser diferente. Em razão disso, para cada aspecto a ser avaliado, teremos um tipo de instrumento para coletar dados. Por exemplo: a aprendizagem dos estudantes, os condicionantes socioeconômicos e culturais, o perfil dos professores, a prática docente, as condições de funcionamento da escola, as características da gestão escolar, o clima organizacional, entre outros. Por esse motivo, atualmente, a tendência da avaliação educacional é desenvolver projetos para articular, compatibilizar e utilizar diferentes modelos, ferramentas e instrumentos com o intuito de mais bem apreender as diferentes facetas do processo educacional que é objeto da avaliação. A avaliação realizada no contexto da escola e da sala de aula não deve ter finalidade classificatória. Ao contrário, ela deve acontecer de forma contínua e possibilitar reflexões qualitativas da evolução dos estudantes. Assim será possível coletar dados concretos sobre o que o estudante está aprendendo e acerca da eficácia do ensino ofertado pela escola. Esse tipo de pensamento leva à reflexão a respeito dos papéis dos principais atores do processo educativo, pois estes devem promover condições de aprendizado aos estudantes: professores e gestores escolares (diretores e coordenadores pedagógicos). Diante disso, questiona-se: qual é a responsabilidades de cada um deles no processo avaliativo? O papel do professor é planejar e executar avaliações que objetivem coletar dados acerca da aprendizagem dos estudantes em um determinado período letivo. Assim sendo, é preciso que ele tenha clareza a respeito dos objetivos de aprendizagem, bem como conheça os instrumentos que ele irá construir e utilizar para verificar se os objetivos foram alcançados. Já os gestores assumem o papel de garantir condições para que os professores possam desenvolver o processo de ensino de qualidade cada vez melhor. Dentre as condições, podemos citar a formação continuada do professor, organização curricular, materiais pedagógicos necessários para as aulas, infraestrutura física etc. 15 Avaliação educacional: perspectivas pedagógicas e institucionais Já sabemos que a avaliação educacional é um campo incerto e complexo. Por isso, a escola deve ser analisada como um campo estruturado com diferentes ideologias, posicionamentos políticos e culturais e que tem por função a transformação dos sujeitos em construção. Apesar da avaliação ser uma responsabilidade institucional, é importante compreendê-la sob a perspectiva do estudante, já que ele é o mais influenciado pela ação avaliativa. Segundo Gadotti (1978), a avaliação qualifica tanto os serviços prestados pela instituição quanto a aprendizagem nos espaços escolares. Mesmo assim, quando falamos em avaliação, o primeiro pensamento remete ao estudante. E, por isso, também se pensa logo em prova e nota. O fato é que existe uma relação muito direta entre avaliação, nota e medida. “Medir é régua e testar é ver se funciona […] A palavra medida, principalmente, recebe várias definições e assume uma ampla e difusa conotação” (HOFFMAN, 1991, p. 56). Assim, o que se pode compreender é que muitos professores pensam que tudo pode ser medido, sem perceber que as notas são atribuídas de forma arbitrária aos estudantes, de acordo com critérios, muitasvezes, vagos e confusos, tanto que aspectos atitudinais e dissertativos são arbitrariamente pontuados. Em contrapartida, Gadotti (1978) ainda afirma que a avaliação é uma prática mental que promove análise, conhecimento, diagnóstico e julgamento de um objeto. Dentro da escola, o SAIBA MAIS Neste vídeo, Cipriano Luckesi fala sobre a avaliação da aprendizagem, utilizando como exemplo situações do cotidiano. Para o pesquisador, observar e compreender a realidade nos permite investigar e intervir de forma adequada. A prática da avaliação tem que ser uma prática de investigação. https://tinyurl.com/y5ufepee 16 https://tinyurl.com/y5ufepee objeto é a realidade e aqueles que dela fazem parte. Nesse sentido, avaliar é um processo de autoconhecimento, conhecimento da realidade e da relação dos indivíduos com essa realidade. A ideia é analisar, julgar, recriar ou ressignificar as instituições que compõem essa realidade e as pessoas que fazem parte dela. Dentro dessa perspectiva, as instituições escolares devem promover uma comunicação que envolva os problemas comuns e a solução deles em colaboração. Luck (2009) diz que a maneira como a gestão escolar é conduzida determina o rumo dos aspectos educacionais da escola. A intercomunicação, a subjetividade, as estratégias e as visões paradigmáticas da gestão geram contextos escolares que promovem ou não o aperfeiçoamento das escolas. A compreensão da escola como lugar de socialização e produção de conhecimentos nos faz perceber que só dentro dela é que se pode concretizar as tão almejadas mudanças na educação. Nesse sentido, a concepção de avaliação, tanto pedagógica quanto a institucional deve dialogar com a escola como um todo: relações internas, trabalho docente, organização do ensino, processo de aprendizagem e também a relação com a sociedade. Sendo assim, é de fundamental importância a constituição de um conceito de avaliação escolar que esteja em concordância com as necessidades dos segmentos sociais, principalmente aqueles que mais são injustiçados com o modelo tradicional. Se a preocupação é renovar a educação e a escola, os processos de avaliação também precisam de novos referenciais. Articulações entre Gestão e a Avaliação Escolar no Ensino Fundamental Tanto a educação como a sua gestão sofrem modificações conceituais e estruturais de acordo com o momento histórico que está sendo vivenciado. Essas mudanças devem ser discutidas e refletidas no processo educacional, levando em consideração aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais. Nessa perspectiva, a gestão democrática é declarada pela Constituição Federal de 1988 como sendo a forma de gerir os processos educativos do país. Essa ideia é reforçada pela LDB 9.394, de 1996. Em razão disso, a escola pública, por meio da Gestão Democrática Escolar, oportuniza abertura da gestão e promove autonomia e descentralização. A gestão democrática está profundamente relacionada à formulação e utilização de mecanismos legais e institucionais que promovam a participação social na formulação de políticas públicas de educação, planejamento, tomada de decisões, definição do uso de recursos e necessidades de 17 investimento, deliberações coletivas e momentos de avaliação da escola e da política educacional, com autonomia financeira, administrativa e pedagógica. (BRASIL, 1996) A LDB ainda destaca o Projeto Político Pedagógico (PPP) como ferramenta da Gestão Escolar e estabelece que ele deve ser construído coletivamente. Diante dos avanços e da complexidade da prática educativa, existe a necessidade da criação de novas ferramentas para gerir o cotidiano escolar. Em virtude disso, o PPP se coloca como uma necessidade aos educadores e às instituições (VASCONCELLOS, 2002). Ainda segundo o autor, quando o assunto é a avaliação o problema é complexo, pois não se refere a uma disciplina específica, mas, sim, a todo sistema educacional. E este sistema educacional está inserido em uma sociedade que impõe valores desumanos. Dentre eles, podemos citar a competitividade e o individualismo, que estão incorporados a práticas sociais que influenciam diretamente na sala de aula, uma vez que a sala de aula é o espaço de reinterpretação do sentido da educação, da gestão e da avaliação. O PPP na gestão democrática da escola é um passo fundamental para a efetivação de mudanças práticas no cotidiano. Isso porque ele define as funções e caracteriza as ações. Na construção democrática do PPP é que são feitas as escolhas e definições que serão implementadas e executadas no sentido de desenvolver uma educação de qualidade. A avaliação e a gestão estão profundamente ancoradas ao PPP. Veiga (2004, p. 40) afirma que, Construir um projeto pedagógico significa enfrentar o desafio da mudança e da transformação, tanto na forma como a escola organiza seu processo de trabalho pedagógico como na gestão que é exercida pelos interessados, o que implica o repensar da estrutura de poder da escola. (VEIGA, 2004, p. 40) . Na gestão democrática escolar, segundo Veiga (2004), é possível identificar quatro tipos de autonomia: a administrativa, que se refere à gerência das ações pedagógicas, a organização, a escolha de dirigentes e a forma de gestão; a jurídica, que diz respeito à oportunidade de criar regras e formas de organização; a financeira, na qual a função é gerir com eficiência recursos e, finalmente, a autonomia pedagógica que, também conforme o autor, Consiste na liberdade de ensino e pesquisa. Está diretamente ligada à identidade, à função social, à clientela, à organização curricular, à avaliação, bem como aos resultados e, portanto, à essência do projeto pedagógico da escola. (VEIGA, 2004, p. 44) 18 A autonomia na educação pública é sempre algo relativo, uma vez que em nome da organização e do controle, os sistemas educacionais estabelecem diretrizes ou políticas que, de alguma forma, acabam limitando o sentido dessa autonomia. Avaliação e gestão escolar: um processo permanente Atualmente, a educação brasileira tem vivido um período em que os processos sociais estão no centro da ação. A qualidade da educação ganha espaço e, com isso, grandes desafios se colocam no horizonte. A gestão democrática tem por objetivo garantir a participação de todos e promover condições de levar a educação brasileira a encontrar índices melhores de qualidade. Falar em qualidade da educação pública é compreender que tanto a avaliação como a gestão precisam passar por profundas transformações. De acordo com Freitas (1998), junto com as renovações, permanecem concepções, princípios, valores e interesses que não foram trocados por essas modificações. Ou seja, se moderniza, sem se resolver contradições fundamentais. Por isso, é importante projetar a qualidade da educação na perspectiva da qualidade social, levando em consideração a complexidade da educação, da avaliação e da gestão. Qualidade da educação significa qualidade de vida para todos. SAIBA MAIS Nesta primeira parte da entrevista, o pesquisador enfatiza a necessidade de utilizar a avaliação como intervenção pedagógica na prática educativa, considerando fundamental que a escola utilize diferentes intervenções frente às especificidades de cada aluno. https://tinyurl.com/y2esa7db 19 https://tinyurl.com/y2esa7db Fechamento Vimos, nesta aula, a intrínseca relação entre a gestão escolar e a avaliação da aprendizagem. Com essa aula, podemos perceber que uma depende da outra, e que as bases conceituais de uma estão na demarcação da ação da outra. Ou seja, avaliação e gestão são ferramentas de democratização do conhecimento e de participação cidadã dos sujeitos envolvidos no processo educativo. 20 Reflexos das Diferentes Avaliações na Escola Introdução Nesta aula iremos conhecer uma pouco mais a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN ou LDB. Você já deve ter lido algum artigo dessa lei, um pedagogo em formação tem a obrigação de conhecer esse texto! Iremos estudar os artigos que versam sobre avaliação e a partir deles elaborar uma reflexão crítica sobreo assunto. Vamos também conhecer algumas experiências brasileiras que se saíram exitosas na reformulação de ações a partir dos resultados das avaliações externas. Nessas experiências, a relação entre gestão e avaliação se tornou a base para uma melhora significativa dos resultados alcançados. Artigos sobre Avaliação Educacional Para começo de conversa vamos ver como a legislação educacional brasileira avançou sobre a Avaliação Educacional. Seguem abaixo destaques sobre a avaliação das três LDBs que existiram. Aula 04 21 Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961 Art. 39. A apuração do rendimento escolar ficará a cargo dos estabelecimentos de ensino, aos quais caberá expedir certificados de conclusão de séries e ciclos e diplomas de conclusão de cursos. §1º Na avaliação do aproveitamento do aluno preponderarão os resultados alcançados, durante o ano letivo, nas atividades escolares, asseguradas ao professor, nos exames e provas, liberdade de formulação de questões e autoridade de julgamento. §2º Os exames serão prestados perante comissão examinadora, formada de professores do próprio estabelecimento, e, se este for particular, sob fiscalização da autoridade competente. (BRASIL, 1961) Dessa primeira legislação é possível notar que a avaliação era exclusivamente pautada na utilização de provas e testes e o professor não tinha muita liberdade para decidir como e quais instrumentos utilizar para avaliar seus estudantes. Outra observação importante é a de que pouco espaço foi dispendido para regular o processo avaliativo, apenas um artigo com dois parágrafos. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971 Art. 14. A verificação do rendimento escolar ficará, na forma regimental, a cargo dos estabelecimentos, compreendendo a avaliação do aproveitamento e a apuração da assiduidade. §1º Na avaliação do aproveitamento, a ser expressa em notas ou menções, preponderarão os aspectos qualitativos sobre os quantitativos e os resultados obtidos durante o período letivo sobre os da prova final, caso esta seja exigida. §2º O aluno de aproveitamento insuficiente poderá obter aprovação mediante estudos de recuperação proporcionados obrigatoriamente pelo estabelecimento. (BRASIL, 1971) Nessa segunda LDB é possível perceber algumas mudanças, ela deixa de orientar sobre os instrumentos a serem utilizados, delega à escola o controle da assiduidade (que também passa a ser critério avaliativo) e define como o resultado deve ser apresentado, em forma de nota ou menção. Pode-se inferir que isso fortalece a ideia de que avaliar é mensurar uma medida ou nota. 22 Essa LDB também dedicou pouco espaço para a regulamentação do processo de avaliação educacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 Art. 24. Parágrafo V. A verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado; d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos; [...] Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VII - informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica. [...] Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: III - zelar pela aprendizagem dos alunos; IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; SAIBA MAIS Antes de irmos ao encontro dos destaques da última LDB, leia a matéria abaixo do jornal “O Estadão”, que apresenta um histórico das tramitações que passaram por essa lei. Acesse no link a seguir. Os 50 anos da maior lei brasileira para a educação. 23 https://assets.website-files.com/5db72a9fcf5cf1103007dce4/5dbae451318e0879e06f1916_texto01.pdf [...] Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. §1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando se tratar de transferências entre estabelecimentos situados no País e no exterior, tendo como base as normas curriculares gerais. [...] Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: II - a classificação em qualquer série ou etapas exceto a primeira do ensino fundamental, pode ser feita: a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; b) por transferência, para candidatos procedentes de outras escolas; c) independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino; III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a sequência do currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino; VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação; [...] Art. 32. O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório e gratuito na escola pública, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: §2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino. Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos. (BRASIL, 1996) A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), que está em vigor atualmente, aborda a questão da avaliação do rendimento escolar de uma forma bem mais complexa que as legislações anteriores. 24 Dos avanços alcançados podemos destacar os seguintes aspectos: Critérios para verificação do rendimento escolar: Avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno. Prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos. Prevalência dos resultados obtidos ao longo do período letivo. Zelo pela aprendizagem dos alunos. Possibilidades de aceleração de estudos e avanço em cursos e séries, mediante verificação do aprendizado. Aproveitamento de estudos concluídos com êxito. Obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo: Obrigação da escola: prover meios para recuperação dos alunos de menor rendimento; Obrigação dos docentes: estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento. Direito dos pais e dever da escola: informação sobre a frequência e sobre o rendimento escolar dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. Possibilidade de classificação e de reclassificação de alunos mediante avaliação feita pela escola, definindo o grau de desenvolvimento e experiência dos mesmos. Possibilidade deadoção de formas de progressão parcial, desde que preservada a sequência dos currículos. Exigência de frequência mínima para efeitos de promoção. Possibilidade de utilização do regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo ensino-aprendizagem. Todo o conhecimento adquirido pode ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação, para fins de prosseguimento ou conclusão de estudos. O zelo pela aprendizagem dos alunos conduz a um regime de progressão continuada, que implica em contínua avaliação e em contínua recuperação dos alunos de menor 25 rendimento, bem como contínuo enriquecimento curricular dos alunos de maior rendimento. As normas e orientações sobre avaliação apresentandas pela LDB requerem atenção dos sistemas de ensino e dos educadores envolvidos no processo educativo formal, no sentido de garantir a boa compreensão e aplicabilidade da Lei. As orientações da LDB são importantes porque norteiam um novo paradigma de avaliação. Assim, ao pensarmos na construção dos parâmetros de avaliação na escola, é preciso levar em conta práticas concretas que efetivem ritos e rituais promotores de aprendizagens significativas. Avaliações Externas e Políticas Públicas As avaliações externas, ou de larga escala, ou ainda sistêmicas, são uma iniciativa do poder público em termos de política educacional. Por um lado, temos aqueles que defendem as avaliações, destacando a sua importância na garantia da eficiência do sistema no que diz respeito à aquisição de competências básicas pelos estudantes; por outro lado, temos aqueles que criticam este tipo de avaliação devido à possibilidade de homogeneizar e controlar o conteúdo curricular das escolas. A realidade é que esse tipo de avaliação está presente em vários estados e também é realizada em nível federal. Os resultados obtidos servem para nortear a gestão educacional, apontando, assim, aspectos que devem receber mais investimentos para alcançar melhores resultados de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, é preciso conhecer essas políticas públicas para compreender a gestão dos sistemas educacionais na atualidade. Não podemos pensar a avaliação externa apenas sobre o enfoque da gestão dos sistemas. É preciso perceber a influência que essas avaliações exercem na outra ponta do processo educacional: a escola. Um dos objetivos é que a escola como um todo se perceba como responsável pelos resultados alcançados. Com isso, podemos elaborar alguns questionamentos: como os atores da comunidade escolar (professores, gestores) percebem os resultados dessas avaliações? Até que ponto esses atores percebem que sua conduta pedagógica interfere nos resultados? O quanto os resultados influenciam em transformações nos projetos pedagógicos? Aceitar ou rejeitar, apoiar ou criticar são posicionamentos dos sujeitos envolvidos nas políticas públicas, e isso vai influenciar diretamente na trajetória das escolas, determinando avanços ou 26 recuos. Assim, é fundamental perceber que as políticas públicas irão se moldar de acordo com os grupos que ocupam posições estratégicas, tanto na sociedade civil como dentro dos grupos que são responsáveis pela sua formulação e implementação. O papel dos grupos responsáveis pela execução também poderá influenciar nos resultados finais. Compreender a relação de forças presentes entre os grupos que participam da elaboração e execução de políticas públicas é entender os caminhos da sociedade política. Segundo Gramsci (1978), os grupos hegemônicos presentes na sociedade civil possuem condições de exercer grande influência na tomada de decisão pela sociedade política. No contexto da avaliação em larga escala, o governo federal criou, em 1990, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Essa ação do governo federal promoveu a implantação de iniciativas estaduais de estruturação de sistemas avaliativos como instrumentos de gestão de políticas educacionais e melhoria da educação. Desde 2014 podemos identificar a existência de Sistemas Estaduais de Avaliação em 19 estados brasileiros. (LOPES, 2007; SOUSA; OLIVEIRA, 2010; GAME, 2011) Nesse movimento, a avaliação assume papel central e torna-se uma atividade cada vez mais complexa, passando de um estágio de microavaliações para as macroavaliações. Vianna (1997, p. 17) afirma que a avaliação “modificou a sua orientação e passou do estudo dos indivíduos para o e grupos, e destes para o de programas e materiais instrucionais; na etapa atual, preocupa-se com a avaliação do próprio sistema educacional”. Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública – SIMAVE A partir de parcerias entre representantes de instituições governamentais, atores políticos e professores universitários foi criado o SIMAVE. Essa é uma iniciativa que permite que outros tipos de avaliação sejam incorporados. Isso por causa da diversidade dos municípios do estado de Minas Gerais. O início se deu com um projeto piloto na região de Juiz de Fora que ficou conhecido como Programa Piloto de Avaliação da Rede Pública de Ensino Fundamental. No início, nos anos 90, as avaliações do SIMAVE aconteciam de forma censitária e logo foram incorporadas ao programa de reforma da educação no estado. No ano 2000, o Simave foi regulamentado pela Secretaria de Estado de Educação, que continua até os dias de hoje 27 coordenando esse processo avaliativo. O sistema avalia o desempenho dos estudantes atendidos pela rede pública de ensino e, a partir dos resultados, fomenta mudanças em direção a uma educação de qualidade no estado de Minas Gerais. Os instrumentos utilizados pelo sistema integram o Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb), com o objetivo de medir o desempenho de estudantes em Língua Portuguesa e Matemática. É um programa de avaliação que intenta avaliar as escolas da rede estadual de ensino mediante a aplicação de testes no final do mês de novembro, com ciclos de verificação a cada dois anos. Em 2005, foram instituídos mais dois instrumentos: o Programa de Avaliação da Alfabetização (Proalfa) e o Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Paae). Tanto o Proeb como o Proalfa são instrumentos de avaliação externa do sistema de ensino; já o Paae atua como avaliação interna da escola. Proeb Avalia estudantes dos quintos e nonos anos do Ensino Fundamental e do terceiro ano do Ensino Médio das escolas da rede pública de ensino do estado de Minas Gerais. A proposta é que a cada ciclo sejam testados conteúdos de áreas diferentes. Ou seja, em um ano são avaliados conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática e no próximo ciclo conteúdos de Ciências Humanas e Ciências da Natureza. Desde 2006 o exame vem sendo realizado de forma regular, todos os anos, avaliando Língua Portuguesa e Matemática. Além dos testes de conteúdo, estudantes, professores e diretores preenchem questionários contextuais. Os estudantes respondem questões sobre padrão de vida, características culturais, hábitos de estudo, características familiares, apoio familiar e ambiente escolar. Para os professores são apresentadas questões referentes a características sociodemográficas, VÍDEO Assista uma breve explicação da utilização dos resultados do Simave na promoção da melhoria da educação mineira. 28 formação profissional e prática pedagógica. Já para o diretor, apura-se dados referentes a características sociodemográficas, titulação, características do exercício profissional e avaliação geral das condições da escola e do trabalho dos professores. Os resultados são divulgados em padrões de desempenho estudantil que classificam as escolas de acordo com o que os estudantes são capazes de executar. Cada escola recebe um boletim de avaliação, um boletim pedagógico e a Revista do Professor, que é uma publicação produzida pela SEE/MG. Proalfa Este instrumento tem o objetivo de medir os níveis de alfabetização dos estudantes da rede pública de ensino no sentido de acompanhar o processo de alfabetização nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. São avaliados conteúdos de Língua Portuguesa e Matemáticade estudantes do quarto ano do Ensino Fundamental no intuito de avaliar a alfabetização do ano anterior. Os testes são aplicados de forma amostral e censitária. Amostral para estudantes do segundo e quarto ano do Ensino Fundamental e censitária para estudantes do terceiro ano do Ensino Fundamental e para estudantes com baixo desempenho. A partir dos resultados, o governo do estado desenvolveu estratégias de ação para superar os problemas diagnosticados pelo exame. Ou seja, a partir dos resultados, o governo pode propor políticas públicas educacionais que promovam a adequação e a melhoria no sistema educacional do estado. Paae Este é um programa com concepção online, objetivando identificar necessidades imediatas de intervenção pedagógica. As escolas geram provas em um banco de itens composto por questões objetivas e diferenciadas por três níveis de dificuldade. É um exame voltado para os estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. É composto por três testes aplicados de forma online ou impressa. A primeira prova é uma avaliacão diagnóstica aplicada no início do período letivo. A segunda prova é uma avaliacão da 29 aprendizagem aplicada ao final do período letivo. E a terceira prova é a avaliacão contínua, que acontece entre as duas anteriores, com a intenção de acompanhar o desenvolvimento da aprendizagem, verificar fragilidades e orientar o planejamento das atividades didáticas. A diagnóstica e da aprendizagem são obrigatórias e acontecem anualmente, já a avaliacão contínua é opcional para as escolas. Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará – SPAECE O Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará foi institucionalizado em 1992 pela Secretaria de Estado de Educação, o foco desse processo avaliativo é promover ensino de qualidade e equânime para todos os estudantes da rede pública do estado. Compreendendo a importância da avaliação na ação da gestão, o Spaece avalia desde a alfabetização (Spaece alfa) até as três séries do Ensino Médio, de forma censitária. Dessa forma, a avaliação estadual afere a leitura dos estudantes do segundo ano do Ensino Fundamental e as competências e habilidades em Língua Portuguesa e Matemática dos estudantes do quinto e nono anos no Ensino Fundamental e dos três anos do Ensino Médio. Juntamente com a prova, os estudantes também respondem a um questionário contextual a partir do quinto ano do Ensino Fundamental. São utilizados três tipos de questionários. O primeiro é destinado aos estudantes e contribui para a estruturação de indicadores relacionados ao perfil socioeconômico e hábitos de estudo, considerando também alguns aspectos do ambiente de aprendizagem. O segundo tipo de questionário é dirigido aos professores de Língua Portuguesa e Matemática, e o terceiro para os diretores. Esses instrumentos fornecem informações para traçar o perfil educacional, a experiência e a formação profissional, a prática docente e gestão escolar de todos os envolvidos no processo educacional. Os dados coletados pela avaliação estadual possibilitam a elaboração do diagnóstico da qualidade da educação do Ceará. Os resultados são produzidos por aluno, por turma, por escola, município, por redes e também do estado como um todo. Esses resultados servem de base para a construção de políticas públicas educacionais e para o aperfeiçoamento de práticas pedagógicas nas escolas estaduais e municipais. O Spaece é um instrumento essencial para a promoção do debate público e a execução de ações orientadas para a melhoria e democratização do ensino. 30 O sistema de avaliação do estado do Ceará apresenta dados importantes para o acompanhamento da aprendizagem dos estudantes, levantando potencialidades e fraquezas, além de características de professores e gestores das escolas estaduais. É uma avaliação longitudinal, pois permite acompanhar a aprendizagem dos estudantes durante os anos de escolarização. Um olhar para cada etapa de escolaridade e modalidade de ensino A Spaece alfa é uma avaliação específica para verificar o processo de alfabetização e acontece nos primeiros anos de escolaridade. Realizada anualmente e de forma censitária, tem o objetivo de diagnosticar o nível de proficiência em leitura dos estudantes do segundo ano do Ensino Fundamental. Essa avaliação permite elaborar um indicador de qualidade referente à competência em leitura de cada um dos estudantes. Os estudantes do quinto e nono anos do Ensino Fundamental e EJA anos finais fazem a avaliação estadual de forma censitária anualmente. O objetivo é identificar o nível de conhecimento e a evolução do desempenho, produzindo, assim, informações que orientem as ações prioritárias de intervenção na rede pública de ensino. Na etapa do Ensino Médio, a avaliação é anual e de forma censitária para o primeiro ano. Para os segundos e terceiros anos, a avaliação é feita de maneira amostral, embora todos os estudantes costumem participar. Dessa forma, a partir das informações coletadas na prova do quinto e nono anos, é possível traçar o perfil dos estudantes e, no Ensino Médio, fazer levantamento de aspectos contextuais que podem estar associados a desempenhos dos estudantes. VÍDEO Assista um pequeno vídeo que apresenta uma experiência de uma escola de um município do Ceará. 31 No contexto da EJA, as avaliações estaduais acontecem nos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio; uma para o segundo segmento da EJA Ensino Fundamental e outra para os primeiros e segundos períodos do Ensino Médio. Sistema de Avaliação da Educação Básica do Paraná – SAEP A ideia de oferecer um sistema de ensino mais justo e inclusivo foi a grande motivação da Secretaria de Estado de Educação do Paraná para a implantação do Sistema de Avaliação da Educação Básica do Paraná. O sistema é uma política pública de educação com capacidade de monitorar a qualidade do ensino e da aprendizagem. Os dados coletados com a prova proporcionam a construção de um diagnóstico preciso e rico da educação ofertada pelo estado. O principal objetivo é utilizar as informações coletadas com as provas para definir intervenções que possam garantir o direito do estudante a uma educação de qualidade. O Saep é, portanto, um sistema de avaliação próprio do Estado do Paraná que tem por função coletar, organizar e divulgar informações relevantes sobre o desenvolvimento cognitivo dos estudantes em Língua Portuguesa e Matemática. A avaliação também fornece informações para gestores e professores no sentido de estruturar um diagnóstico das áreas que atuam, possibilitando, assim, melhor planejamento de ações educativas mais eficientes. Em Língua Portuguesa, o foco é na leitura, prática presente em todos os outros componentes curriculares; já em Matemática, o foco é na resolução de problemas, contribuindo para desenvolver no estudante o pensamento matemático que pode ser aplicado em outras situações do cotidiano do estudante. A prova é realizada por estudantes do sexto e nono anos do Ensino Fundamental e primeiro e terceiro anos do Ensino Médio. Além das provas, estudantes, professores e gestores respondem a questionários sociocontextuais. VÍDEO Veja a experiência de Sobral, município do Ceará que se tornou destaque mundial de oferta de educação de qualidade. 32 Dessa forma, vemos que a avaliação é a ferramenta mais adequada para coletar informações importantes para a gestão da educação, buscando estabelecer melhorias para educação como um todo e para a aprendizagem, especificamente. Assim, o Saep procura definir subsídios para a formulação de políticas públicas educacionais, acompanhando ao longo do tempo a qualidade da educação e produzindo informações que possibilitem desenvolver relações significativas entre as unidades escolares e órgãos centrais ou distritais de secretarias e iniciativas dentro das escolas. Fechamento Encerramos aqui a Aula 5, nela entramos em contato com maior profundidade nos aspectos sobre avaliação da legislação educacional brasileira, conhecemos também um pouco mais sobre a própriahistória da lei que regulamenta a educação em nosso país. Também conhecemos um pouco mais sobre as avaliações externas realizadas no âmbito dos Estados. Compreendemos a importância desse tipo de avaliação para o planejamento, execução e acompanhamento de uma educação de qualidade. SAIBA MAIS No link abaixo, você poderá assistir ao programa "Em Ação", que traz a Coordenadora de Planejamento e Avaliação do DPPE, professora Katya Prust, para falar sobre o Sistema de Avaliação da Educação Básica do Paraná (SAEP). https://tinyurl.com/y2eluc33 33 https://tinyurl.com/y2eluc33 As Diferentes Modalidades de Ensino e a Avaliação Introdução Estamos chegando ao final da primeira Unidade de nossa disciplina. Ao longo desta unidade foi possível entrar em contato com ideias, pensamentos e conceitos que permearam a construção do pensamento sobre a avaliação educacional. Mais especificamente, conhecemos como se organiza a avaliação em nosso país por meio da Lei de Diretrizes e Bases. Nesta última aula, iremos um pouco mais adiante no estudo dessa lei, veremos agora como ela prevê a avaliação nas diferentes etapas e modalidades de ensino, bem como as respectivas avaliações. Boa aula! Organização, Composição e Modalidades da Educação Brasileira Segundo a LDB a educação escolar brasileira se organiza em Educação Básica e Ensino Superior. A Educação Básica é composta pelas seguintes etapas: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Além disso, tanto a Educação Básica, em todas as suas etapas, Aula 05 34 como o Ensino Superior possuem modalidades específicas de ensino: Educação Indígena, Educação Especial, Educação para o Trabalho, Educação e Jovens e Adultos etc. Educação Infantil De acordo com a redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013 (BRASIL, 2013), Seção II - Da Educação Infantil: Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; (BRASIL, 2013) Sobre a Educação Infantil é possível perceber que a avaliação deve ser feita a partir de registro sistemático do processo de desenvolvimento do estudante, embora a lei não defina como esse registro deve feito. Decorre disso, que cada escola decide as ferramentas que irá utilizar para efetuar tal registro. Figura 6 - Organização, composição e modalidades da Educação Brasileira. 35 Dessa situação, pode-se inferir que para Educação Infantil a avaliação é feita a partir do desenvolvimento de habilidades e competências que não são passíveis de mensuração por meio de notas, mas sim pela observação do desenvolvimento individual de cada um. Mais adiante, nesta disciplina, iremos conhecer essas ferramentas. Ensino Fundamental Considere os trechos a seguir, retirados do CAPÍTULO II - Da Educação Básica, Seção I - Das Disposições Gerais, da Lei n. 9.394, de 1996 (BRASIL, 1996). Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: [...] V – a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; [...] (BRASIL, 1996) Figura 7 - Educação infantil. 36 Já no Ensino Fundamental pode-se perceber que a avaliação deve ser feita de forma contínua, ou seja, ao longo de todo o processo. Além disso, a lei deixa bem clara a prevalência dos aspectos qualitativos o que nos leva a compreender que as ferramentas a serem utilizadas devem, preferencialmente, contemplar pontos subjetivos do processo de aprendizagem de cada estudante. É importante perceber que, mesmo dando preferência a aspectos qualitativos, a lei não rejeita como um todo a utilização da prova como ferramenta avaliativa. Educação Especial Considere o trecho a seguir, também da lei que define a LBD (BRASIL, 1996), CAPÍTULO V - Da Educação Especial. Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; [...] (BRASIL, 1996) Figura 8 - Ensino fundamental. 37 Na Educação Especial, a lei garante a utilização de métodos e técnicas adequadas à necessidade de cada estudante. Isso quer dizer que a escolar deve definir a forma de avaliação que irá utilizar para cada caso específico. É importante ressaltar que a Educação Especial está presente em todas as Etapas da Educação Nacional. Na disciplina Educação Inclusiva, teremos a oportunidade de aprofundar a reflexão sobre essa modalidade educacional. Educação de Jovens e Adultos Figura 8 - Educação especial. Figura 9 - Educação de jovens e adultos. Fonte: http://tinyurl.com/gtextys 38 Considere o trecho da Seção V - Da Educação de Jovens e Adultos, da LBD (BRASIL, 1996). §1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do aluno, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. §2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames. (BRASIL, 1996, grifo nosso) Na Educação de Jovens e Adultos, a avaliação deve ser feita de acordo com a etapa na qual o estudante está inserido. Porém deve-se levar em consideração as habilidades e conhecimentos desenvolvidos em espaços não formais de educação, essa definição valoriza os conhecimentos prévios do estudante, além de reconhecer esses conhecimentos como válidos. O Compromisso e a Ética no Contexto da Avaliação Educacional A avaliação educacional, ao lidar com a complexidade do ser humano, deve orientar-se por valores morais e paradigmas científicos. Os processos avaliativos não podem estar fundamentados apenas em princípios, critérios e regras. Torna-se necessário recorrer a princípios de interação e relação social levando a uma análise ético-política das práticas de avaliação. SAIBA MAIS Leia na íntegra os artigos da LDB que versam sobre as modalidades e ensino e suas regulamentações. Acesse através do link a seguir. LDB - Dos níveis e das modalidades de educação e ensino. 39 A aprendizagem é expressão política e ética, ela tem como objetivo a formação do sujeito capaz de saber o que fazer da vida, de construir sua própria história. Assim, a finalidade primeira da avaliação é promover a melhoria da realidade educacional e não descrevê-la ou classificá-la. Alguns dos problemas existentes nas escolas exigem programas emergenciais que nem sempre correspondem ao ideal de educação da sociedade. Experimentam-se laboratórios de ensino, professores itinerantes, a interação de estudantes com necessidades educacionais especiais em classes regulares. Todas são tentativas de se lidar com os reflexos de uma prática avaliativa excludente. Figura 10 - Laboratórios de ensino. Em nome de uma escolar eficaz e de qualidade e de uma avaliação exigente, temos como resultado índices cruéis de repetência e evasão na escola que, desde sempre, se propôs de direito e obrigatória. Se as medidas alternativas nem sempre correspondem aos parâmetros de qualidade ideais de ensino, elas correspondem a um sentido de justiça e ética diante da seletividade e da exclusão. Considerar o sentido ético da avaliação significa entendê-la como questionamento constante do professor sobre sua ação, sobre o que observa do estudante, sobre o que seria mais justo e correto no sentido da dignidade humana. 40 https://tinyurl.com/y6bqnpvr Não há regras gerais em avaliação. Toda situação precisa ser analisada em seu contexto. Daí a necessária posturade questionamento e de discussão conjunta entre professores. Precisamos aprender todo tempo a lidar com as diferentes situações que surgem e não há ensinamentos ou metodologias que deem conta de tal complexidade. É necessário ter consciência ético- política sobre nossas ações. Morin (2000, p. 86) diz que “o conhecimento é uma Aventura incerta que comporta em si mesma, permanentemente, o risco de ilusão e de erro. Entretanto, é nas certezas doutrinárias, dogmáticas e intolerantes que se encontram as piores ilusões”. É a consciência dos riscos e das incertezas que leva o homem ao conhecimento pertinente. Por ser uma atividade ética, a avaliação é a prática escolar mais dogmática e conservadora. Ainda há tempo de fazer apostas e criar estratégias para enfrentar o desafio ético de igualdade de oportunidades de aprendizagem. Estratégias que, como aponta Morin (2000), levem em conta a “complexidade inerente a tal finalidade”, principalmente em termos da educação brasileira, e que precisam ser constantemente revistas em função dos imprevistos e alterações do contexto. A plena consciência das finalidades em avaliação contribuirá para escolha consciente de estratégias de ação pelos educadores e não a imposição de metodologias. É comum os professores apontarem a ausência dos pais como uma das grandes dificuldades da escola. Não há dúvidas de que os pais devem participar da escolaridade de seus filhos. É compromisso dos pais acompanhar o processo vivido pelos filhos, dialogar com a escola, assumir o que lhes é de responsabilidade. Porém, é compromisso da escola compreender e assumir os compromissos e limites de cada parte. Da mesma forma, é responsabilidade do governo, que institui a escola obrigatória e de direito a todas as crianças, provê-la de recursos humanos e materiais necessários. 41 Promover o diálogo com as famílias não significa compartilhar o compromisso professional da escola. Não são os pais que devem decidir os procedimentos da escola, por que não têm competência professional para tanto. É compromisso da escola explicar seus princípios, fundamentos, trocar ideias acerca de expectativas e sentimentos das famílias frente às inovações, para ajustar propostas pedagógicas. Mas a resistência dos pais não pode ser argumento decisivo na manutenção de práticas classificatórias. É o benefício aos estudantes, os fundamentos teóricos e o projeto-político-pedagógico da escolar que devem nortear tais escolhas. Os registros de avaliação da aprendizagem não têm a finalidade de controle das famílias. São instrumentos metodológicos essenciais ao acompanhamento efetivo dos estudantes pelos professores e instituições. Precisam ser claros e compartilhados por todos, mas a autoria desses registros é competência dos educadores. Fechamento Vimos nesta aula as definições sobre avaliação em cada etapa e modalidade da educação definidas na LDB. Com isso, podemos perceber como a lei entende e orienta a ação avaliativa. E para encerrar a Unidade 1, note que fizemos uma reflexão sobre o papel da ética no contexto da avaliação educacional. 42 capa_unidade1 Aula 1-1 Aula 1-2 Aula 1-3 Aula 1-4 Aula 1-5
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