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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI EM SÃO JOSÉ CURSO DE SEGURANÇA PÚBLICA LUCIANA HELENA DOS SANTOS ESTUDO SOBRE O PERFIL PROFISSIOGRÁFICO DOS OFICIAIS DA PMSC Florianópolis 2006 LUCIANA HELENA DOS SANTOS ESTUDO SOBRE O PERFIL PROFISSIOGRÁFICO DOS OFICIAIS DA PMSC Trabalho de Conclusão de Curso - pesquisa bibliográfica – documental - apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Segurança Pública da Universidade do Vale do Itajaí. Professor Orientador: José Aroldo Schlichting. Florianópolis 2006 LUCIANA HELENA DOS SANTOS ESTUDO SOBRE O PERFIL PROFISSIOGRÁFICO DOS OFICIAIS DA PMSC Este Trabalho de Conclusão de Estágio foi julgado adequado e aprovado em sua forma final pela Coordenação do Curso de Segurança Pública da Universidade do Vale do Itajaí, em 02 de outubro de 2006. Professor MSC Moacir José Serpa Uni vali – CE Florianópolis Coordenador (a) do Curso Banca Examinadora: Prof (a) Especialista José Aroldo Schlichting. Univali – CE Florianópolis Professor Orientador Prof. MSC Hamilton Pacheco da Rosa Univali – CE Florianópolis Membro Cel. PM RR Paulo Roberto Fagundes de Freitas Univali – CE Florianópolis Membro Aos meus pais, ao meu filho, aos meus amigos e a todos aqueles que acreditaram que seria possível, e, acreditando, me ajudaram a chegar até aqui. Essa vitória também é de vocês! Agradeço a Deus, pela vida e pelas oportunidades que me proporcionou até aqui. A minha família, por ter colaborado nos momentos mais difíceis, e suportado comigo os espinhos da caminhada. Aos meus amigos, por serem suporte para as dificuldades e também incentivo e alegria. A todos aqueles, que de uma forma ou de outra contribuíram para a realização deste. Aprendi que para chegar a qualquer lugar, é preciso, antes de tudo, querer. Amyr Klink RESUMO O presente trabalho busca apresentar um estudo sobre o Perfil Profissiográfico para os Oficiais da Policia Militar de Santa Catarina, e sua utilização na seleção de candidatos ao oficialato. O Perfil Profissiográfico, soma da descrição de cargos com a análise criteriosa das competências, habilidades e atitudes necessárias ao desempenho de determinado cargo ou função, é um instrumento útil a Gestão de Recursos Humanos, e mais efetivamente nos processos de recrutamento, seleção, formação e avaliação de profissionais. Normalmente elaborado por uma comissão multidisciplinar, na Polícia Militar de Santa Catarina a responsabilidade pela elaboração do Perfil Profissiográfico recai sobre o CESIEP, órgão integrante da Diretoria de Pessoal. Neste trabalho, procurou-se enfatizar a utilização do Perfil Profissiográfico no Recrutamento e Seleção de cadetes para o Curso de Oficiais, através do levantamento das atividades desenvolvidas pelos oficiais, bem como das características subjetivas relativas ao caráter e valores necessários ao bom exercício do oficialato. Para tanto, utilizou-se o método de pesquisa bibliográfica e documental, determinando os conceitos de Gestão de Recursos humanos, como estes processos acontecem dentro da PMSC, à necessidade de elaboração de um novo perfil profissiográfico e as diretrizes determinadas no planejamento Estratégico da Corporação para os próximos 15 anos, bem como as diretrizes da Secretaria Nacional de Segurança Pública e legislação concernente. Palavras-chave: Gestão de Recursos Humanos, Profissiologia, Seleção e Recrutamento, Psicologia Organizacional. ABSTRACT The present work searchs to present a study on the Profissiographic Profile for the Officers of Military Police of Santa Catarina, and its use in the election of candidates to the official carrer. The Profissiographic Profile, adds of the description of positions with the criterious analysis of the abilities, necessary abilities and attitudes to the performance of determined position or function, the Management of Human resources is a useful instrument, and more effectively in the processes of conscription, election, formation and evaluation of professionals. Normally elaborated for a commission to multidiscipline, into the Military Policy of Santa Catarina the responsibility for the elaboration of the Profissiográfico Profile falls again on the CESIEP, integrant agency of the Direction of Staff. In this work, it was looked to emphasize the use of the Profissiográfico Profile in the Conscription and Election of cadets for the Course of Officers, through the survey of the activities developed for the officers, as well as of relative the subjective characteristics to the character and necessary values to the good exercise of the police office work. For in such a way, the documentary method of bibliographical research was used and, determining the concepts of Management of Human resources, as these processes happen inside of the PMSC, the necessity of elaboration of a new profissiographic profile and the lines of direction determined in the Strategical planning of the Corporation for next the 15 years, as well as the lines of direction of the National Secretariat of Public Security and concernent legislation. Key-words: Management of Human resources, Profissiology, Election and Conscription, Organizational Psychology. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 11 1.1 Apresentação Geral do Trabalho e Justificativa ..................................................11 1.2. Problema de pesquisa........................................................................................ 15 1.3 OBJETIVOS.............................................................................................................15 1.3.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................................15 1.3.2Objetivos específicos ..................................................................................................15 1.4. Metodologia Utilizada....................................................................................................15 1.5 Apresentação Geral do Trabalho.........................................................................17 2. GESTAO DE RECURSOS HUMANOS..................................................................19 2.1 O que é gestão de Recursos Humanos?.............................................................20 2.2 A Policia Militar de Santa Catarina como Instituição.......................................... 28 2.3. A gestão de Recursos Humanos na PMSC....................................................... 33 2.4. Como é feita a Seleção para o quadro de oficiais na Policia Militar de Santa Catarina..................................................................................................................... 37 3.PERFIL PROFISSIOGRÁFICO...............................................................................42 3.1 O que é o Perfil Profissiográfico? Para que serve? .............................................43 3.2. Aplicabilidade a Polícia Militar de Santa Catarina...............................................50 3.3.O perfil profissiográfico de 1990 e o Perfil Profissiográfico Atual....................... 53 4. ELEMENTOS PARA UM NOVO PERFIL PROFISSIOGRAFICO..........................64 4.1 Conceito de Competências, Habilidades e Atitudes.............................................68 4.2. Competências e Habilidades necessárias ao Oficial da PMSC........................ 70 5 CONSIDERAÇOES FINAIS................................................................................... 80 REFERENCIAS..........................................................................................................86ANEXOS..................................................................................................................................91 ANEXO 1 - Perfil Profissiográfico utilizado na seleção de oficiais PM, de acordo com DIAS (2002)................................................................................................................92 ANEXO 2 - Perfis Profissiográficos em uso pelo CESIEP........................................ 93 ANEXO 3 – Perfil Profissiográfico de 1990............................................................. 103 1 INTRODUÇÃO 1.1 Apresentação Geral do Trabalho e Justificativa O presente trabalho de pesquisa surgiu da necessidade de entender melhor quais as competências, habilidades e atitudes envolvidas no bom desempenho das funções de oficial da Policia Militar de Santa Catarina. Os processos de seleção e formação de Recursos Humanos são estrategicamente um dos pontos fundamentais para a vida de uma determinada empresa ou organização. É através da seleção de recursos humanos que a empresa garantirá a sua continuidade e principalmente, a sobrevivência no tempo. Segundo Pontes (2001), um dos maiores desafios da administração de pessoas hoje é atrair e manter talentos na empresa, e o desafio inicial diz respeito a identificar a pessoa certa para a colocação certa, de forma que as pessoas possam contribuir com todo seu potencial, criatividade e motivação para o alcance dos objetivos organizacionais. Diz Chiavenatto (1999) que as organizações não existiriam sem as pessoas que lhe fornecem vida, dinâmica, criatividade e racionalidade. É através das pessoas que as organizações funcionam, e através delas que se mantém. Ainda segundo Chiavenatto (2002), a sobrevivência e o sucesso de uma organização dependem do desempenho e da competência das pessoas que dela fazem parte. O desempenho organizacional estaria assim ligado diretamente ao desempenho individual e coletivo. Assim sendo, torna-se fundamental que a empresa tenha claros seus objetivos, principalmente no que tange a seleção, recrutamento e formação de pessoal, já que é do desempenho destes profissionais que dependem a sobrevivência e o sucesso de qualquer corporação, até mesmo a policial militar. E não apenas a nível técnico, mas também emocional e psicológico. E como definir esses objetivos? Nas empresas modernas, isso se dá principalmente através do Planejamento de Recursos Humanos. Segundo Stoner (1985), o planejamento de Recursos Humanos seria responsável por assegurar o atendimento constante e apropriado das necessidades de pessoal da organização. Para fazer este planejamento, seria essencial analisar fatores internos, como as 12 necessidades atuais e futuras de pessoal, vagas oriundas de ampliações, aposentadorias, e contratações necessárias, bem como fatores externos, como o mercado de trabalho. Na Policia Militar de Santa Catarina, as modificações vivenciadas na sociedade catarinense levaram a necessidade de elaboração de um novo Planejamento Estratégico, que pudesse delinear as necessidades atuais e vindouras da corporação, identificando a missão, visão e diretrizes estratégicas que nortearão o rumo da instituição pelos próximos 20 anos. É este planejamento Estratégico, nas palavras do Comandante Geral e dos oficiais que o redigiram, resposta as mudanças políticas, econômico-sociais e tecnológicas que condicionam significativamente a sobrevivência das instituições, inclusive a policial militar, que precisa constantemente justificar sua existência perante a sociedade. É uma pressão constante, originada principalmente na escassez de recursos estatais e na competição movida por outras instituições com atividades correlatas. Determinar quais são essas competências, habilidades e atitudes, além de fornecer subsídios à atuação profissional dos egressos da Academia de Polícia Militar da Trindade, possibilita que a seleção de cadetes, ou mesmo a formação destes esteja voltada aos objetivos institucionais, garantindo maior qualidade no desempenho da missão constitucional da qual a Polícia Militar está constitucionalmente incumbida, bem como sua continuidade como instituição. Alguns podem argumentar que essa é uma visão extremamente tecnicista da formação de oficiais, que enfatiza um mecanicismo que não corresponde à realidade dinâmica das relações humanas, mas neste projeto utilizamos como enfoque a idéia de que todo processo educacional e administrativo de recursos humanos procura atingir objetivos específicos, e que estes venham a refletir em ganhos corporativos. Se a organização investe na seleção e formação de seus profissionais, espera um lucro específico, que é o melhor desempenho possível deste profissional para atender as demandas de operacionalidade e continuidade da instituição como um todo. Neste trabalho, buscamos ainda enfocar o levantamento dessas características objetivas e subjetivas do exercício da função de oficial como objeto 13 do perfil profissiográfico, e a utilização deste ultimo como instrumento auxiliar a seleção para o Curso de Formação de Oficiais da PMSC. Como selecionar e formar um oficial para atender as necessidades da atuação da Polícia Militar de Santa Catarina, de forma eficaz e eficiente? Atualmente, a seleção se dá através de concurso Público realizado pela ACAFE e Polícia Militar conjuntamente, e a formação se dá através do Curso de Formação de Oficiais (ministrado pela Policia Militar, englobando as matérias técnicas, considerado curso de formação superior pela portaria... do MEC) e Bacharelado em Segurança Pública pela UNIVALI (com duração de 4 anos, englobando as matérias de conhecimento geral, administrativas e jurídicas da gestão em segurança pública). O currículo passa por modificações constantes, procurando adaptar-se as demandas operacionais, fazendo com que praticamente cada turma de oficiais formados tenha carga horária e currículos diferenciados, de acordo com as demandas daquele momento. Mas quais são os conhecimentos que possibilitariam ao oficial um exercício eficiente da profissão policial militar, em qualquer das diversas áreas de atuação da corporação? Existe um currículo mínimo previsto para o curso que possa abranger todos os conhecimentos necessários? Quais competências, habilidades e atitudes que deveriam ser desenvolvidas durante a formação, e quais deveriam estar presentes já durante o processo de seleção? Também se deve sopesar que existem diversos aspectos envolvidos na elaboração de um perfil profissiográfico: aspectos técnicos, psicológicos, e organizacionais, entre outros. Assim, seria impossível pensar a elaboração de um novo perfil profissiográfico sem levar em conta os diversos aspectos envolvidos nesse processo. Buscando respostas a todas estas perguntas, que envolvem questões de planejamento institucional, planejamento de ensino e administração de recursos humanos, buscamos encontrar instrumentos que possibilitassem tanto à seleção, quanto a formação do melhor oficial possível, aquele que melhor atendesse as demandas tanto internas, de continuidade da instituição, quanto externas, relativas à atuação policial militar. Pesquisamos então os métodos de seleção, e chegamos ao perfil profissiográfico. 14 O perfil profissiográfico foi escolhido como uma das metodologias possíveis na determinação técnica dessas competências. Serve de instrumento auxiliar tanto na seleção de pessoal como na escolha dos conteúdos relevantes ao currículo de formação de oficiais, em busca daquele oficial que se aproxime ao máximo dos ideais determinados pelas necessidades da Corporação, em suas mais diversas manifestações. Pode ser utilizado ainda como auxiliar a avaliação, já que a partir da determinação das competências e habilidades necessárias, pode-se estabelecer parâmetros claros para avaliação da atuaçãodo oficial, se está de acordo com os parâmetros pré definidos. O Perfil Profissiográfico também foi o instrumento escolhido por que representa mais do que a simples descrição de cargos e funções dentro da organização; é também o levantamento de competências, habilidades e atitudes, mensuradas objetivamente, com o fim de determinar qual o melhor indivíduo para exercer determinada atividade, buscando a otimização do serviço prestado. Atende assim aos requisitos de servir de instrumento tanto á seleção (já que determina claramente quais as atividades serão desenvolvidas pelo candidato que for aprovado e quais competências mínimas serão requisitos para seleção) como subsídio à formação, na medida em que determina quais os aspectos mínimos a serem abordados nas disciplinas dos cursos elencados. Além disso, é um dos instrumentos utilizados para seleção e formação de diversas outras polícias do Brasil, e uma das metas a serem alcançadas no atual planejamento Estratégico da Policia Militar de Santa Catarina. Voltando a Pontes (2001), temos os possíveis problemas da falta de Planejamento de Recursos Humanos: a promoção de pessoas sem habilitação necessária ao desempenho das novas funções acabará gerando um provável mau desempenho; por outro lado, quando a única alternativa que se apresenta a empresa é o recrutamento externo, pode haver uma desmotivação dos funcionários que se vêem impossibilitados de ocupar vagas para as quais supostamente teriam capacidade e maior conhecimento organizacional. Os processos de seleção são falhos, e nem sempre bons currículos correspondem a desempenhos igualmente espetaculares. A falta de conhecimento ou cultura organizacional também pode ser um problema, se não houver uma inclusão planejada de Recursos Humanos. 15 1.2 Problema de pesquisa Quais as competências, habilidades e atitudes necessárias a um oficial para atender as expectativas da Polícia Militar e do Estado de Santa Catarina com excelência? Quais características devem estar presentes na seleção, e quais devem ser desenvolvidas durante a formação para que o produto final seja um bom oficial? 1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivo Geral Estudar a necessidade de elaboração de um novo Perfil Profissiográfico para os oficiais da Policia Militar de Santa Catarina, através do levantamento bibliográfico e documental, bem como das características objetivas e subjetivas que norteariam a construção desse perfil. 1.3.2 Objetivos Específicos • Fazer um levantamento bibliográfico nas áreas de administração de Recursos Humanos e Psicologia Organizacional sobre o que é o perfil profissiográfico, quais os requisitos de sua elaboração e qual seu objetivo. • Analisar brevemente os meios utilizados na Gestão de Recursos Humanos e seleção de oficiais da PMSC • Definir quais competências, habilidades e atitudes seriam de fundamental importância na elaboração de um novo perfil profissiográfico para os oficiais da Policia Militar de Santa Catarina. Essa definição será fundamentada 16 através de pesquisa bibliográfica e documental nas áreas de administração de recursos humanos, psicologia organizacional, no atual Planejamento Estratégico, na legislação, nas diretrizes da Secretaria Nacional de Segurança Pública, e nos perfis profissiográficos hoje existentes na Corporação. 1.4 Metodologia Utilizada Andrade (1989) define a pesquisa como o conjunto de procedimentos sistemáticos, baseados no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar soluções para problemas propostos, mediante a utilização de métodos científicos. Para Fachin (2001), o método em pesquisas consiste na escolha dos procedimentos sistemáticos mais adequados para a descrição e explicação do estudo. O método então não pode ser fruto de escolha aleatória, mas baseado principalmente na natureza do objeto e nos objetivos da pesquisa pretendida, para que seja o mais adequado possível aos fins almejados. Lakatos e Marconi (1991) definem método como o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que visam alcançar o objetivo de conhecimentos válidos e verdadeiros com economia e segurança, através da determinação do caminho a ser seguido, e da detecção dos erros, auxiliando assim as decisões do pesquisador. Ainda segundo Lakatos e Marconi (1991), a pesquisa documental caracteriza- se pela fonte da coleta de dados, que está restrita a documentos escritos ou não, que são fontes primárias de informação. Por outro lado, a pesquisa bibliográfica, chamada de fontes secundárias, abrange a bibliografia já tornada pública sobre o assunto em tela, não restrita apenas a livros, revistas ou monografias e teses, mas também material filmado ou dito sobre determinado assunto, abrangendo assim entrevistas, programas de rádio ou qualquer outro material de qualquer meio de comunicação, inclusive fitas de vídeo, DVDS, entrevistas gravadas (transcritas ou não). A presente pesquisa apresenta características exploratórias e descritivas, buscando através da realização de pesquisa bibliográfica e documental alcançar como resultado uma pesquisa aplicativa, que possa servir de suporte a novos 17 estudos sobre o tema e reformulações das diretrizes hoje utilizadas na seleção e formação de Oficiais da PMSC. Pretende-se apresentar o perfil profissiográfico como instrumento auxiliar na seleção de oficiais na Policia Militar de Santa Catarina, bem como discutir como e quais habilidades deveriam estar presentes na elaboração de um novo perfil profissiográfico para o Oficial da PM, de acordo com a legislação existente e as diretrizes apontadas no Planejamento Estratégico e definições da SENASP. Essa definição será fundamentada através de pesquisa bibliográfica e documental nas áreas de administração de recursos humanos, psicologia organizacional, no atual Planejamento Estratégico, na legislação, nas diretrizes da Secretaria Nacional de Segurança Pública, e nos perfis profissiográficos hoje existentes na Corporação. Para atingir estes objetivos, pretende-se utilizar fontes bibliográficas e documentais. As fontes bibliográficas serão consultas a livros, dicionários, jornais, entre outros, nas áreas de Administração, Psicologia, Gestão de Recursos Humanos e Formação Profissional. Através das fontes bibliográficas elaborou-se todo o arcabouço teórico do trabalho, bem como obteve - se argumentos para a análise textual. Os documentos utilizados serão diretrizes e portarias, entre elas o Planejamento Estratégico atual da Policia Militar de Santa Catarina, elaborado no ano de 2005 e as diretrizes para formação de Policiais da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP). Serão utilizados ainda Monografias produzidas por oficiais da Corporação e os perfis profissiográficos de 1990 e o atualmente utilizado pela corporação. 1.5 Apresentação Geral do Trabalho O trabalho desenvolvido a seguir foi dividido em capítulos para melhor entendimento do tema proposto. No primeiro capítulo, encontra-se a introdução e a apresentação geral da metodologia, objetivos e forma do trabalho desenvolvido. No capítulo dois, se apresentará uma visão geral sobre a Gestão de Recursos Humanos: o que é, para que serve, como funciona. Também procurar-se-á 18 estabelecer, em linhas gerais, um histórico da Policia Militar de Santa Catarina e como funciona a Gestão de Recursos Humanos nesta instituição. No capítulo seguinte, falaremos a respeito do Perfil profissiográfico: O que é o perfil profissiográfico, de que forma pode ser utilizado na Seleção, avaliação e recrutamento de Recursos Humanos, na seleção de currículos formativos, e no planejamento organizacional de forma geral. Como se faz um perfil profissiográfico, quais critérios devem ser levados em consideração. Abordaremos ainda os últimos perfis profissiográficos elaborados para o oficialda PMSC, com especial ênfase no perfil de 1990 e nos perfis atualmente utilizados pelo CESIEP. No quarto capítulo, apresentaremos um resumo geral do que foi abordado neste trabalho, bem como as características, habilidades e atitudes que, presentes nos documentos e legislação pesquisados, seriam fundamentais na elaboração de um perfil profissiográfico para os oficiais da PMSC. No quinto e ultimo capítulo, apresentaremos de forma resumida as idéias apresentadas neste trabalho, bem como as conclusões e apontamentos de possibilidades de aplicação e ampliação dos estudos na área. 19 2 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS Como já citado anteriormente, Chiavenatto (1999) afirma que as organizações não existiriam sem as pessoas que lhe fornecem vida, dinâmica, criatividade e racionalidade. É através das pessoas que as organizações funcionam, e através delas que se mantém. Os processos de seleção e formação de Recursos Humanos são estrategicamente um dos pontos fundamentais para a vida de uma determinada empresa ou organização. É através da seleção de recursos humanos que a empresa garantirá a sua continuidade e principalmente, a sobrevivência no tempo. Os conceitos de Recursos Humanos, recrutamento, seleção e formação de pessoal nas empresas evoluíram junto com as concepções econômicas e administrativas. A partir daí, pode-se afirmar que é fundamental que a empresa tenha claros seus objetivos, principalmente no tocante a seleção, recrutamento e formação de pessoal, haja vista que é do desempenho destes profissionais que dependem a sobrevivência e o sucesso de qualquer corporação, até mesmo a policial militar. E não apenas a nível técnico, mas também emocional e psicológico. Assim sendo, é necessário, para dar inicio a este trabalho, a definição do conceito de Gestão de Recursos Humanos, bem como Planejamento de Recursos Humanos e quais as estratégias envolvidas neste setor. Ainda é preciso atentar que, Segundo Pontes (2001), um dos maiores desafios da administração de pessoas hoje é atrair e manter talentos na empresa, e o desafio inicial diz respeito a identificar a pessoa certa para a colocação certa, de forma que as pessoas possam contribuir com todo seu potencial, criatividade e motivação para o alcance dos objetivos organizacionais. Neste capítulo, serão abordados os processos de Gestão de Recursos Humanos na PMSC e, mais especificamente, a seleção de Oficiais para a Corporação. 20 2.1 O que é gestão de Recursos Humanos? A partir do momento em que os seres humanos passaram a se reunir em grupos sociais, surgiu a necessidade de dividir as atividades necessárias à sobrevivência desses grupos, surgindo a divisão social do trabalho. Diz Medeiros (1999, p.11) que: Nos últimos tempos, a área de recursos humanos tem evoluído bastante nas organizações, voltando os seus objetivos à busca incessante da produtividade. Para tanto, cabe aos profissionais que nela atuam a missão de interpretar os objetivos propostos pela organização e transformá-los em ação, não medindo esforços para que sejam alcançados de maneira adequada, trazendo assim, benefícios a própria organização. Segundo Marras (2000), com o passar do tempo, o trabalho com finalidade econômica levou ao surgimento da indústria, e com ela, a necessidade de contabilizar a produtividade dos trabalhadores, as horas trabalhadas, etc., com fim de regular pagamentos ou descontos. Surge a figura do supervisor, que seria o primeiro administrador de Recursos Humanos, o responsável por ser um inflexível seguidor das leis da empresa e normalmente, pelas demissões. De acordo com Chiavenatto (1999), é a partir da Revolução industrial que surge o atual conceito de trabalho, e foi no decorrer do século XX que o trabalho recebeu a configuração que hoje está assumindo. No decorrer do século XX, podemos visualizar três períodos distintos na forma organizacional do trabalho: era industrial clássica, a era industrial neoclássica e a era da informação. Na era industrial clássica, período compreendido da Revolução industrial até meados da década de 1950, houve a intensificação do fenômeno da industrialização em escala mundial e o surgimento de países desenvolvidos ou industrializados. As empresas passaram a adotar o modelo de estrutura organizacional burocrática e hierárquica. Neste período, os cargos eram determinados de forma fixa com o objetivo de obter o máximo de eficiência do trabalho. O trabalhador deveria ajustar-se ao máximo as determinantes do cargo, para que o trabalho fosse o mais perfeito possível. A ideologia das organizações 21 era predominantemente conservadora, e os valores e tradições deveriam ser mantidos. Neste período, os órgãos de administração de pessoas dentro das empresas eram responsáveis por supervisionar, controlar os trabalhadores e servir de órgão de intermediação entre os órgãos superiores de chefia e a empresa. No eficientismo proposto por Taylor, no inicio do século XX, o administrador deveria exercer as funções de planejar, organizar, coordenar, comandar e controlar as atividades produtivas. (Marras, 2000) Neste sentido, a função de chefe de pessoal refletia a idéia de que o trabalhador era somente um instrumento através do qual a empresa alcançaria seus resultados. O chefe de pessoal deveria contabilizar as entradas, saídas, regular as atividades, advertir, punir os faltosos. Já na década de 20 esse perfil começou a sofrer modificações em função do movimento das relações humanas, que preconizava que a eficiência poderia ser mais bem alcançada pela eliminação dos conflitos e seus custos. O chefe de pessoal deste período deveria acima de tudo preocupar-se com o individuo e com suas necessidades. De acordo com Marras (2000), na década de 40, o movimento das relações humanas vai sendo substituído gradativamente pelo Behaviorismo, que buscava dar fundamentação psicológica ao empirismo da escola anterior. Surgem assim os primeiros estudos sobre liderança, autocratismo, democracia no trabalho e motivação humana. Também surgem os primeiros estudos sobre o poder das relações informais dentro da organização. Segundo Chiavenatto (1999) entre as décadas de 50 e 90 do século XX a velocidade das mudanças aumentou progressivamente, exigindo das organizações uma adaptabilidade cada vez maior. A teoria clássica foi substituída pela teoria neoclássica da administração, o modelo dito burocrático foi substituído pela concepção estruturalista, a teoria das relações humanas cedeu lugar a teoria comportamental. Ao longo deste processo, surgem ainda as teorias de sistemas e da contingência. A visão linear e especializadora é substituída pela 22 multidisciplinaridade e uma visão mais sistêmica. O modelo burocrático é seriamente questionado, pela morosidade que impossibilita o acompanhamento adequado das mudanças sociais e econômicas que o rodeia. É na década de 50 que o chefe de recursos humanos é alçado a categoria de gerente e passa a ser visto de forma interligada a área de ciências humanas, sendo que os departamentos de recursos humanos passam a visualizar as pessoas como recursos inteligentes e não apenas como fatores de produção. O RH ganha importância, já que a concepção vigente passa a focar mais as pessoas do que o controle destas, como fator determinante no sucesso de uma organização. Assim, se inicialmente os chefes de pessoal (antes de 1950) preocupavam- se exclusivamente com o controle da freqüência, os pagamentos, admissões e demissões e o cumprimento das leis trabalhistas, o Gerente de Recursos Humanos que atingiu o fim do milênio era responsável também pela medicina e higiene, pelos processos de segurança no trabalho, pelo recrutamento e seleção de pessoal, pela avaliação de desempenhos, pela qualidade de vida dos empregados, pelo desenvolvimento organizacional e outros aspectosligados à estrutura organizacional. (Marras, 2000) A partir do final da década de 90 do século XX até os dias atuais, estamos vivendo um período que Chiavenatto (1999) define como Era da Informação. Esse período seria caracterizado pelas mudanças rápidas e imprevisíveis, pelo uso da tecnologia da informação, pela globalização da informação, da economia e da competitividade. A informação passa a ser o fator mais importante nas relações, já que, mais do que dinheiro, o que determina o sucesso ou fracasso de uma organização é a capacidade de ter o conhecimento e usa-lo de forma adequada. Neste contexto, tornar o conhecimento utilizável de forma produtiva é o maior desafio gerencial. Os cargos e funções, rígidos na organização burocrática, tornam-se cada vez mais flexíveis e constantemente redefinidos em função das mudanças no ambiente e na tecnologia. As pessoas e suas competências e habilidades passam a ser a base da nova forma organizacional, e a administração de Recursos Humanos também 23 passa por uma reformulação, sendo agora denominada Gestão de Pessoas. Nesta abordagem, segundo Chiavenatto (1999, p. 31) “(...) as pessoas deixam de ser simples recursos (humanos) organizacionais para serem abordadas como seres dotados de inteligência, personalidade, conhecimentos, habilidades, destrezas, aspirações e percepções singulares. São os novos parceiros da organização.”. A gestão de pessoas deve preocupar-se em educar, treinar, motivar e liderar as pessoas que trabalham na organização, de forma a oferecer-lhes possibilidades de inserção na cultura corporativa, de auto-realizaçao e de assumirem atitudes empreendedoras. Segundo Marras (2000), podemos identificar 5 fases na evolução do perfil do profissional de RH: contábil (até 1930), Legal (de 1930 a 1950), Tecnicista (de 1950 a 1965) Administrativa (de 1965 a 1985) e por fim, Estratégica (de 1985 ate o momento atual). A partir do acima exposto, podemos concluir que, do mesmo modo como a concepção do que seria a função das pessoas dentro da organização, e o papel do gerente de recursos humanos vem mudando no decorrer da história, a concepção atual da função de recursos humanos dentro da PMSC não se restringe mais à idéia de supervisionar e controlar a produção, ou seja, os números estatísticos relativos ao atendimento de ocorrências, mas também motivar, valorizar o efetivo, bem como atuar na seleção recrutamento e políticas de atendimento ao policial, para que ele sinta-se mais do que um funcionário público, mas realmente engajado na cultura organizacional e atuante como parceiro da corporação. Mas como definir a gestão de pessoas, para os objetivos pretendidos neste trabalho? Segundo Medeiros (1999): Administrar recursos humanos é diferente de administrar qualquer outro recurso empresarial, porque envolve algumas dificuldades específicas que se constituem em verdadeiros desafios. O grande desafio da Administração de Recursos Humanos (ARH) é abordar as pessoas como seres humanos e não simplesmente como recursos organizacionais. 24 Como já comentado anteriormente, Chiavenatto (2002) define que a sobrevivência e o sucesso de uma organização dependem do desempenho e da competência das pessoas que dela fazem parte. O desempenho organizacional estaria assim ligado diretamente ao desempenho individual e coletivo. Neste sentido, para que uma empresa alcance efetivamente seus objetivos, o foco inicial deve estar voltado às pessoas que dela fazem parte. O termo Gestão de pessoas simboliza o modo como se relacionam a organização e as pessoas que dela fazem parte. A Gestão ou administração de Recursos Humanos é, dentro daquilo que pretendemos enfocar neste trabalho, o conjunto de decisões administrativas sobre provisão, treinamento, desenvolvimento, motivação e manutenção de pessoal em determinada empresa ou organização. Ainda segundo Chiavenatto (1999, P.11): A moderna gestão de pessoas consiste em várias atividades, como descrição e análise de cargos, planejamento de RH, recrutamento, seleção, orientação, e motivação das pessoas, avaliação do desempenho, remuneração, treinamento, e desenvolvimento, relações sindicais, segurança, saúde e bem estar, etc. Assim, podemos dizer que numa primeira abordagem, a gestão de Recursos Humanos é a parte da administração que trata do planejamento e da metodologia para seleção, recrutamento e administração de pessoal na empresa. Hoje se fala muito em Gestão estratégica de recursos humanos, que seria o estudo de recursos humanos com a intenção de alcançar os melhores resultados possíveis para a corporação, através das pessoas que trabalham nesse sistema. Neste contexto, torna-se fundamental que a empresa tenha claros seus objetivos, principalmente no que tange a seleção, recrutamento e formação de pessoal, já que é do desempenho destes profissionais que dependem a sobrevivência e o sucesso de qualquer corporação, até mesmo a policial militar. E não apenas a nível técnico, mas também emocional e psicológico. E como definir esses objetivos? Nas empresas modernas, isso se dá principalmente através do Planejamento de Recursos Humanos. Segundo Stoner 25 (1985), o planejamento de Recursos Humanos seria responsável por assegurar o atendimento constante e apropriado das necessidades de pessoal da organização. Para fazer este planejamento, seria essencial analisar fatores internos, como as necessidades atuais e futuras de pessoal, vagas oriundas de ampliações, aposentadorias, e contratações necessárias, bem como fatores externos, como o mercado de trabalho. Dentro deste conceito, o planejamento de Recursos humanos pode ser entendido como o subsistema da Gestão de Recursos Humanos responsável pelo planejamento, recrutamento, seleção, treinamento e integração de Recursos Humanos em determinada empresa. É através do planejamento de Recursos Humanos que a gestão de recursos humanos operacionaliza suas estratégias. Assim sendo, o planejamento de RH, é definido por Stoner (1985) como: O planejamento de Recursos Humanos visa a assegurar o atendimento constante e apropriado das necessidades de pessoal da organização. Este planejamento é feito com a análise de: 1) fatores internos, como as necessidades atuais e previstas de pessoal qualificado, vagas e ampliações e contratações departamentais e 2) fatores do ambiente externo, como o mercado de trabalho. Como resultado desta análise, elaboram-se planos para se dar os outros passo do processo de colocação de pessoal. Assim, é na Gestão de Recursos Humanos, e mais especificamente no Planejamento de Recursos Humanos que iremos procurar respostas para a pergunta inicial deste trabalho: Quais são as habilidades, competências e atitudes necessárias a um bom oficial da PMSC. Voltando a Pontes (2001), temos que os possíveis problemas da falta de Planejamento de Recursos Humanos: a promoção de pessoas sem habilitação necessária ao desempenho das novas funções acabará gerando um provável mau desempenho; por outro lado, quando a única alternativa que se apresenta a empresa é o recrutamento externo, pode haver uma desmotivação dos funcionários que se vêem impossibilitados de ocupar vagas para as quais supostamente teriam capacidade e maior conhecimento organizacional. Os processos de seleção são falhos, e nem sempre bons currículos correspondem a 26 desempenhos igualmente espetaculares. A falta de conhecimento ou cultura organizacional também pode ser um problema, se não houver uma inclusão planejada de Recursos Humanos. Desta forma, para que qualquer organização consiga atingir seus objetivos, é necessário que os esforços das pessoas estejam voltados para alcançar não apenas seus objetivos individuais, mas também os objetivos corporativos. E que estes objetivos estejam claros, tanto para quem seleciona os Recursos Humanos, comopara as pessoas que fazem parte da Organização, para que possam realizar a contento suas obrigações. É neste enfoque que se empreendem esforços no Planejamento Estratégico das empresas, onde estão determinados, em linhas gerais, os objetivos, missão, visão da empresa e metas a serem alcançadas em período de tempo definido. Dentro das estratégias de Gestão de Recursos humanos, as mais importantes são aquelas relativas ao recrutamento e seleção de pessoal, já que é através destes processos que se agregam novos talentos a empresa. A diferença básica entre recrutamento e seleção é que, enquanto que “ O recrutamento diz respeito à formação de um grupo de candidatos a emprego, de acordo com o plano de Recursos Humanos” (Stoner, 1985, p. 354), a seleção pode ser definida por Chiavenatto (1999, P.) como: (...) a escolha do homem certo para o cargo certo, ou, mais amplamente, entre os candidatos recrutados, aqueles mais adequados aos cargos existentes na organização, visando manter ou aumentar a eficiência e o desempenho do pessoal, bem como a eficácia da organização. Assim, para exemplificar a idéia relacionada, poderíamos dizer que elaborar um anúncio de jornal para preencher determinada vaga em uma empresa é um processo de recrutamento: responderão ao anuncio aqueles candidatos interessados na vaga. Já os procedimentos que a empresa adotará para escolher entre os candidatos que se apresentarem aquele mais adequado ao exercício profissional na empresa serão processos de seleção. Segundo as doutrinas de administração consultadas, os métodos mais comuns de seleção são os formulários de inscrição, os resumos de currículos, as 27 entrevistas, os testes de emprego e de qualificação e as verificações de referencia. Para determinar quais Competências, Habilidades e atitudes necessárias ao exercício de determinada função ou cargo, a Gestão de Recursos Humanos utiliza determinados métodos para colher informações a respeito do cargo a ser preenchido. Estas informações podem ser colhidas basicamente de cinco formas distintas: descrição e analise do cargo, técnica dos incidentes críticos, requisição de pessoal, análise do cargo no mercado e hipóteses de trabalho. A descrição e análise de cargos, apontado na bibliografia pesquisada como um dos principais objetos de colheita de informações sobre o cargo, e também um dos mais eficientes, é o levantamento de fatores como conteúdos do cargo e requisitos exigidos de seu ocupante, para que possa ocupá-lo adequadamente. Procura descrever não apenas os procedimentos e conhecimentos necessários ao pretendente a vaga, mas também características psicológicas, emocionais e subjetivas para que o exercício da função seja o mais adequado possível. É através da descrição e análise de cargos que se determina o perfil profissiográfico de determinado cargo ou função. A descrição de cargos consiste basicamente na relação sucinta e objetiva do que o ocupante de determinado cargo faz, como faz e por que, de forma escrita. É um retrato simples do conteúdo e principais responsabilidades relacionadas ao cargo. Já a analise de cargos diz respeito ao detalhamento do que pode ser exigido do ocupante de determinado cargo, em termos de conhecimentos, habilidades e capacidades para que possa desempenhar adequadamente a função. Enquanto que a descrição de cargos procura relacionar de forma objetiva quais as atribuições do ocupante do cargo, a análise de cargos busca determinar condições mais subjetivas, ligadas aos requisitos mentais, físicos e emocionais do sujeito que procura preencher o cargo. Segundo Almeida (2004, p.54): O perfil ideal do candidato e da vaga são instrumentos básicos para o planejamento de um processo seletivo. Sua elaboração permite uma definição do tipo de profissional que se deseja, e que se supõe poderá 28 contribuir para a organização. Além do mais, proporciona maior sistematização das atividades de captação e seleção, concorrendo para que se tenham resultados mais objetivos, já que as escolhas são realizadas com base em requisitos e critérios pré definidos, e não de forma aleatória. Buscando encontrar instrumentos que possibilitassem tanto à seleção, quanto a formação do melhor oficial possível, aquele que melhor atendesse as demandas tanto internas, de continuidade da instituição, quanto externas, relativas à atuação policial militar, pesquisamos então os métodos de seleção, como selecionar o perfil mais adequado para preencher as vagas de oficial da PMSC da forma mais eficiente e eficaz, e chegamos ao perfil profissiográfico, como instrumento auxiliar na seleção. No segundo capítulo, trataremos mais especificamente deste instrumento. 2.2 A Policia Militar de Santa Catarina como Insti tuição. Segundo Marcineiro e Pacheco (2005) a história das Policias Militares no Brasil inicia-se com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil em 1808, fugindo da invasão de Napoleão Bonaparte a Portugal. Dom João VI trouxe, na ocasião, a Divisão Militar da Guarda Real de Policia, considerada o embrião da Policia Militar do Rio de Janeiro. Ainda na época da Proclamação da Independência do Brasil, em 1822, a missão confundia-se entre segurança pública e defesa interna do país, e a Constituição do Império de 1824 não fazia menção à segurança pública. A primeira lei brasileira a tratar do assunto data de 1828, delegando as câmaras municipais tudo o que diz respeito a policia. Somente em 1831, durante a Regência do Padre Feijó é que seriam instados os governos provinciais a extinguir os então existentes corpos municipais de voluntários e criar forças públicas Estaduais. Segundo dados encontrados na Home Page institucional, a Polícia Militar de Santa Catarina foi criada quando o Brasil ainda era uma nação recém independente de Portugal, em 1835. Criada por Feliciano Nunes Pires, então 29 presidente da Província, tinha por escopo substituir o Corpo Municipal de Voluntários, considerado ineficiente, e tinha como missão inicial manter a tranqüilidade pública, e tornar efetivas as ordens das autoridades públicas quando assim fosse necessário. De acordo com Pacheco (2001): Com base na Lei Provincial nº. 16 de 12 de Agosto de 1834, que delegava competência às Assembléias Provinciais para legislar sobre a polícia, a Assembléia Legislativa Provincial de Santa Catarina extinguiu os Corpos de Guarda Municipais Voluntários e criou, através da Lei Provincial nº. 12, de 05 de Maio de 1835i, a Força Policial da Província de Santa Catarina, com jurisdição sobre a Vila de Nossa Senhora do Desterro, sendo subordinada ao Presidente da Província (Art. 1º) Ainda segundo Pacheco (2001), no regulamento da Força Policial aprovado pela Assembléia Legislativa em 1836, a missão determinada era ampla e complexa, abrangendo desde o atendimento de incêndios até os infratores de posturas municipais. Segundo Rosa (2001): A Lei nº. 12 de 05 de maio de 1835 estabelecia em seu artigo 1º que a Força Policial era composta de cidadãos brasileiros, e que constaria de um primeiro e um segundo Comandante, de um Cabo e oito Soldados de cavalaria, montados a sua custa, e de quatro Cabos, trinta e seis Soldados e um Corneta de Infantaria. Pequena, atrasada em relação a outras regiões do país (notadamente as regiões Sudeste e Nordeste), Desterro tinha fundamental importância como ponto estratégico Militar, quando o comércio com o Sul era importante para o país. Assim, em 5 de Maio de 1835, Feliciano Nunes Pires, então presidente da Província, criou a Força Policial. No início, a falta de efetivo e de verbas, fez com que a instituição enfrentasse sérias dificuldades. Também houve uma grande variação na missão desenvolvida, desde defender as comunidades próximas de ataques indígenas, até atuar em apoio ao Exército na defesa territorial do Brasil durante a Guerrado Paraguai e na questão do Contestado. Participou ainda da Revolução Farroupilha 30 (do lado Monarquista) e da Revolução Constitucionalista de 1932, quando, para evitar a invasão da Ilha, retirou todas as tábuas da ponte Hercílio Luz. Ainda em 1860 não havia um quartel próprio para a Força Pública. Somente em 1888 é que o quartel foi transferido para a atual sede do Comando Geral. Com a Proclamação da República, uma nova Lei Estadual (Lei Estadual 20, de 18 de novembro) estabelece a Segurança Pública como missão da Força Pública, mantendo a ordem e assegurando a execução das leis em todo território do Estado. A Força Pública não atuava então na Defesa Interna. Essa concepção de missão seria mantida até 1912, quando eclode no Estado a Guerra do Contestado, passando a Força Pública a atuar na Defesa Interna e na Segurança Nacional, como parte integrante do Exército, prestando apoio a este, e passa a denominar-se neste período REGIMENTO DE SEGURANÇA, adaptando a nomenclatura a das unidades do Exército. Em 1916, com o fim da Guerra do Contestado, volta a denominar-se Força Pública. Ainda de acordo com Rosa (2001), através da Lei nº. 1.137 de 30 de Setembro de 1916, o Governador recebe autorização para a criação de uma seção de bombeiros, adida à Força Pública, que viria a ser inaugurada em 1926, com a denominação de 1ª Seção de Bombeiros. Com isso a Força Pública passa a atuar também nas áreas de Defesa Civil e Defesa Pública. Através de acordo firmado entre o Estado e a União, a Força Pública se tornaria oficialmente, em 1917, Força Auxiliar e Reserva do Exercito, sendo que em 1923, são adotados os regulamentos do Exército no que se refere à instrução e ao combate. Segundo Medeiros (1999, p. 31): Em 1926, pela primeira vez, foram realizados os exames de seleção para os futuros integrantes da Corporação e dois anos após, com a reforma da Constituição e com a intervenção de seu Comandante, Pedro Lopes Vieira, foram ampliadas as garantias da instituição que passou a denominar-se Polícia Militar. Uma curiosidade a respeito é que na Constituição Estadual de 1928, conferiam-se poderes ao então Presidente do Estado para dissolver a Força 31 Pública, dando conta deste fato a Assembléia Legislativa, demonstrando que nesse período a Polícia ainda não era considerada função essencial ao Estado Catarinense. Em 1930, a Polícia Militar atuou buscando impedir o avanço das tropas revolucionárias de Vargas vindas do Rio Grande do Sul, tendo inclusive retirado todas as tábuas do assoalho da Ponte Hercílio Luz, para impedir sua entrada na Ilha. Em função disto, o Interventor nomeado impõe medidas repressivas, como a redução do efetivo, reforma de oficiais e rebaixamento de praças. Na Constituição Estadual de 1935, o governador recebia poderes para dispor da Força Pública para atender as necessidades da administração e manutenção da ordem, o que ampliava bastante as possibilidades de Emprego da corporação pelo Governo. Era a primeira vez que a constituição tinha um titulo dedicado exclusivamente à Segurança Pública, e definia claramente o que era a Força Pública, como instituição militar permanente, obediente ao governador do Estado, destinada à manutenção da ordem e segurança publicas. Neste contexto, não atuaria na Defesa Nacional. Na Constituição Estadual de 1947 foram citadas pela primeira vez, a nível constitucional, a hierarquia e disciplina como valores basilares da Corporação. Na Constituição Estadual de 1967, a Policia Militar volta a ser considerada força auxiliar e reserva do Exercito, organizada de forma permanente e regular com base na hierarquia e na disciplina, tendo por missão a manutenção da ordem pública e da segurança interna do Estado. Segundo Rosa (2004): Após o período revolucionário, iniciado em 1964, a Polícia Militar estruturou-se internamente e sua organização voltou-se fundamentalmente para a Segurança Pública. Durante as décadas de 70 até meados da década de 80, a missão das polícias militares, incluindo a Policia Catarinense, pouco mudou, tendo atuado também na repressão política durante o período de ditadura. Agiu assim muito mais no campo da Segurança Nacional do que no cumprimento da Missão de 32 assegurar a Manutenção da Ordem Pública e Segurança Interna do Estado previstas na Constituição. A partir de 1985, outras atividades especializadas foram criadas, como a Policia de Proteção Ambiental, o Radio Patrulhamento Aéreo e o Serviço de Atendimento Pré Hospitalar, procurando atender a demanda da nova missão estabelecida no Artigo 144 §§5 e 6 da Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988: Art. 144. A Segurança Publica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio (...). §5º - Ás Polícias Militares cabem a Polícia Ostensiva e a preservação da Ordem Pública; aos Corpos de Bombeiros Militares, além das atribuições definidas em Lei, incube a execução de atividades de Defesa Civil. § 6º - As Policias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, forças auxiliares e reservas do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias Civis aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (BRASIL: CRFB, 1988) Segundo Rosa (2004), as ações de preservação da ordem pública de competência da Polícia Militar não se restringem apenas ao policiamento ostensivo ordinário, ou seja, aquele realizado no cotidiano pelos policiais, mas também pela Defesa Externa e Interna do País em casos de guerra ou grave perturbação da ordem, na condição de Força Auxiliar e Reserva do Exercito; Atua ainda em ações de Defesa Civil, Defesa Ambiental e Defesa Pública e Policia de Transito. Em resumo, pode-se dizer que cabe à Polícia Militar garantir a integridade das pessoas e de seu patrimônio, com base nos fundamentos legais. A hierarquia da polícia Militar, inspirada nos moldes do Exército Brasileiro, obedece, em sua organização, ao decreto lei 667/69, no qual estão estabelecidas sua competência, estrutura e organização. É também neste regulamento que se estabelece o ingresso para o quadro de oficiais através de cursos de formação da própria policia ou de outro Estado, bem como o controle e fiscalização da instrução militar através do Ministério do Exército. 33 Partindo das Constituições Federal de 1988 e Estadual de 1989, podemos definir que a Polícia Militar é hoje um órgão permanente, público, força auxiliar e reserva do Exercito e organizado com base na hierarquia e disciplina característicos das instituições militares. Em termos administrativos, sua estrutura pode ser definida como burocrática e eminentemente conservadora. Tem por missão a Segurança Pública, como preconizado no seu atual Planejamento Estratégico (PMSC, 2005, p.18): “Proporcionar segurança ao cidadão, preservando a ordem pública através de ações de polícia ostensiva, de forma integrada com a sociedade, visando o exercício pleno da cidadania” e determinado em lei: (BRASIL, CRFB, 1988). Art. 144. A Segurança Publica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio (...). §5º - Ás Polícias Militares cabem a Polícia Ostensiva e a preservação da Ordem Pública; aos Corpos de Bombeiros Militares, além das atribuições definidas em Lei, incube a execução de atividades de Defesa Civil. § 6º - As Policias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, forças auxiliares e reservas do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias Civis aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. É subordinada ao governador do Estado, tendo suas competências definidas em Lei. 2.3 A gestão de Recursos Humanos na PMSC Na Policia Militar de Santa Catarina,a Gestão de Recursos Humanos fica a cargo da Diretoria de Pessoal, que, partindo de diretrizes gerais do Comando, bem como do Planejamento Estratégico da Corporação, determinam os rumos da seleção, recrutamento e administração de pessoal na Polícia Militar de Santa Catarina. 34 A Diretoria de Pessoal é responsável por gerir as promoções, transferências, férias, contagem de tempo de serviço, determinação do número de vagas a ser preenchidas através de concurso, etc. As atividades relativas à Gestão de Recursos Humanos na Policia Militar de Santa Catarina são desenvolvidas através da Diretoria de Pessoal, reconhecida como PM1, fazendo parte do Estado Maior da Corporação. No artigo 18 da LOB encontramos a definição da Diretoria de Pessoal: (Polícia Militar de Santa Catarina, 1983 (1)). Art. 18 - A Diretoria de Pessoal é o órgão de direção setorial do sistema de pessoal incumbido do planejamento, execução, controle e fiscalização das atividades relacionadas com a classificação e movimentação de pessoal, inativos, cadastro e avaliação, direitos, deveres, incentivos, pessoal civil e recrutamento, bem como de assessoramento as Comissões de Promoções. O recrutamento e seleção de oficiais se dá nos níveis interno e externo, sendo possível tanto a um civil quanto a um praça da corporação concorrer as vagas determinadas em edital, em igualdade de condições. Aqueles que já fazem parte da corporação têm a vantagem de poderem concorrer à vaga em qualquer idade, enquanto que os civis têm a idade limitada por edital. De acordo com Medeiros (1999), foi a partir de 1959 que a Diretoria de Instrução, encarregada tanto da formação quanto pelo gabinete psicotécnico e pelos meios auxiliares de Instrução foi transformada em Centro de Recrutamento, Seleção e Treinamento através da lei 2087 de 26 de agosto daquele ano. Já em 1960 aquele órgão promoveu um Estágio Básico de informações sobre o Exame Psicotécnico, sob orientação de um Oficial da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, do qual participaram oficiais subalternos, intermediários e superiores da PMSC. Pode-se aferir daí que a preocupação com a seleção dos candidatos a ingresso na Corporação não é uma preocupação recente. Em 1962 extinguiu-se o CRST, criando-se junto à 4ª Seção do Estado Maior uma Seção de Identificação através da Lei Estadual 2974 de 19/12/1962. Criou-se também no mesmo ano o Regimento do Gabinete Psicotécnico e da 35 Seção de Identificação. Neste período, os oficiais eram formados nesta área fora do Estado, sendo que o primeiro oficial formado como orientador profissional formou-se na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Em 1967, o segundo oficial seria formado no Curso de Especialização Psicotécnica Militar no Centro de Estudos de Pessoal do Exército. A partir desta data, periodicamente oficiais foram enviados para formação neste Centro de Estudos. Em 1964, é criado o Departamento de Inclusão, Seleção Psicotécnica e Identificação (DISPI), subordinado diretamente a Chefia do Estado Maior. Reuniu a Seção de Identificação, a Seção de Inclusão e o Gabinete de Psicotécnico. Em 1979, o DISPI deixou de ser subordinado a Chefia do Estado Maior para subordinar-se a Diretoria de Pessoal, passando a chamar-se DP-5 (Centro de Recrutamento), sendo constituída pela Seção de Psicotécnico, Seção de Identificação e Seção de Expediente, através de regulamentações impostas pela LOB - Lei de Organização Básica de 28 de fevereiro de 1979 e sua regulamentação, no Decreto 7743 de 31 de maio de 1979. Logo em seguida, no ano de 1983, recebe a denominação de Centro de Psicologia, funcionando como apoio a Diretoria de Pessoal, e tendo por missão a avaliação de personalidade, aptidão, interesse e nível mental dos candidatos ao ingresso na PMSC e dos elementos já pertencentes à corporação, através do acompanhamento psicológico institucional. Tal definição está esculpida no artigo 26 da Lei de Organização Básica, (Polícia Militar de Santa Catarina, 1983). Art. 26 - O Centro de Psicologia e o órgão de apoio da Diretoria de Pessoal incumbido da avaliação de personalidade, aptidão, interesse e nível mental dos candidatos ao ingresso na Polícia Militar e dos elementos já pertencentes à Corporação, bem como do acompanhamento e atendimento psicológico aos integrantes da Polícia Militar. Passa a ter então a seguinte estrutura básica: Chefia subchefia, assessoria técnica, seção de avaliação de nível mental, seção de acompanhamento e pesquisa, seção de expediente e estatística e seção de arquivo, através do decreto 19237 de 14 de março daquele ano. 36 Em 1992 houve uma nova reorientação do Centro de Psicologia, sendo este voltado para a pesquisa de Pessoal através de um núcleo de estágios para estudantes da área. Passa a denominar-se então Centro de Seleção, Ingresso e Estudos de Pessoal (CESIEP), sendo esta mudança oficializada a partir do decreto 4374 de 24 de março de 1994. Ainda segundo Medeiros (1999): Atualmente, o CESIEP tem como principal objetivo, administrar o processo de seleção de recursos humanos para a Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, através do recrutamento (interno/externo), da seleção propriamente dita, da identificação e da admissão do pessoal efetivo da corporação, mediante o cadastramento dos candidatos classificados no SIRH – Sistema Integrado de Recursos Humanos. A legislação especifica da Policia Militar enumera uma série de características psicológicas e morais individuais que o militar deve possuir: honra amor à verdade, respeitar a disciplina e a hierarquia, entre outras. A principio, para elaboração de um perfil profissiográfico adequado ao desempenho adequado das funções de oficial, essas características deveriam estar presentes, bem como ser objeto de avaliação durante a formação. Além disso, existem conhecimentos técnicos indispensáveis à formação do oficial, como saber atirar, entender de técnicas policiais, etc. 37 2.4. Como é feita a Seleção para o quadro de oficia is na Policia Militar de Santa Catarina De acordo com Medeiros (1999, p. 31): O processo de seleção de recursos humanos na Polícia Militar do Estado de Santa Catarina (PMSC) é desenvolvido pelo Centro de Seleção, Ingresso e Estudos de Pessoal (CESIEP), órgão de apoio da Diretoria de Pessoal (DP), criado pela Lei nº. 6.217 de 10 de fevereiro de 1983 (LOB), cuja responsabilidade é execução da política de provisão do efetivo, estabelecida pelo Comando Geral, com base nas necessidades de recursos humanos na Corporação. A provisão de recursos humanos na PMSC, envolvendo o aumento e o recompletamento do efetivo, ocorre pela autorização do Chefe do Poder Executivo, mediante proposta do Comandante Geral. De acordo com o disposto no artigo 9º do Decreto Lei 667 de 02 de julho de 1969, o ingresso de oficiais nas Polícias Militares se dará através de cursos de Formação de Oficiais da própria Polícia Militar ou de outro Estado. Já a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 37 II estabelece que o acesso a cargo ou emprego público depende de prévia aprovação em concurso público de prova ou prova e títulos, de acordo com a complexidade do cargo ou emprego, com exceção dos cargos nomeados para livre nomeação e exoneração. No caso dos policiais militares, segundo a doutrina administrativa, depois de adquirida a estabilidade, esses só podem ser excluídos da corporação depois do devido processo legal. Na Polícia Militar de Santa Catarina, para o preenchimento das vagas do Curso de Formação de Oficiais, normalmente são usados um conjunto de métodos, que ao final pretendem classificar aqueles mais aptos a cursar a formação para serem os futuros oficiais da corporação. Os procedimentos de seleção são coordenados por uma equipe de profissionais lotados no Centro de Psicologia da Corporação. SegundoDias (2002): 38 A Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, visando alcançar a heterogeneidade de candidatos para seleção e matrícula no Curso de Formação de Oficiais, procura levar em conta as diversidades regionais apresentadas no Estado, no que tange à colonização, cultura, economia e ao desenvolvimento social. Dessa forma, recruta seus candidatos nas várias cidades, tendo em vista que o Oficial PM deverá servir em qualquer dessas regiões, desde que haja nelas uma Organização Policial Militar (Quartel) e vaga em cargo correspondente ao seu posto, sempre objetivando a segurança pública da comunidade catarinense. Diferentemente do que acontece com os praças da corporação, aonde a inscrição normalmente é condicionada a região do Estado aonde pretende servir, a inscrição para o CFO não determina o local aonde o futuro oficial vai trabalhar. A escolha da cidade aonde os candidatos aprovados vão trabalhar após o Curso de Formação de Oficiais se dá a partir de lista divulgada pela Diretoria de Pessoal, sendo a preferência de escolha definida de acordo com a colocação obtida nos 4 anos de curso. Nos últimos anos, os aspirantes tem sido enviados preferencialmente a cidades do interior do Estado, onde a demanda por comando de policiamento tem sido maior, o que não impede que dentro de poucos anos cada oficial esteja lotado na cidade mais de acordo com suas inclinações pessoais e familiares. Segundo Medeiros (1999), a abertura de vagas visa principalmente o recompletamento, ou seja, o preenchimento de vagas decorrentes da saída de pessoal por exclusões (que podem ser a pedido do oficial ou por motivos disciplinares), pela passagem para reserva remunerada ou não remunerada ou por reforma. Acontece ainda a abertura de vagas por aumento de efetivo, como recentemente determinado pelo atual planejamento estratégico e nova LOB proposta para a Corporação, que pretende dobrar o efetivo atualmente existente nos próximos 15 anos. A partir da definição do numero de vagas existentes, o Comandante Geral, autorizado pelo Governador do Estado, autoriza o CESIEP a elaborar edital e estabelecer as condições mediantes as quais serão realizados os processos de seleção e inclusão de pessoal. Pronto o Edital, este é homologado pelo Comandante Geral e publicado em Diário Oficial do Estado. 39 Nos últimos anos, com a participação da Universidade do Vale do Itajaí na formação dos Cadetes como Bacharéis em Segurança Pública e como participante no processo de seleção intelectual através do seu vestibular, a divulgação do edital no Estado acaba se dando através promoção daquela instituição. A divulgação se dá ainda com o apoio das organizações militares do Estado e da Imprensa falada, Escrita e televisionada. O recrutamento e seleção acontecem nos setores interno (sargentos, cabos e soldados da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina) e externo (civis e militares das Forças Armadas e Policiais Militares de outros Estados) da corporação, sendo possível ao praça ascender à condição de cadete se for apto no mesmo concurso publico a que são submetidos os civis. A única diferença diz respeito ao requisito idade, que é estabelecida em edital para o público externo e não tem limites para o público interno a partir do ano de 2005. Neste processo seletivo, o candidato submete-se a prova de vestibular na área jurídica da Universidade do Vale do Itajaí, teste físico, testes psicológicos, entrevista pessoal e investigação social, além de exames médicos que visam garantir a capacidade do candidato a exercer todas as atividades relativas à Função de oficial da Polícia Militar. Deve ainda cumprir os requisitos estabelecidos em edital, quais sejam: idade, altura, idoneidade comprovada. Observe-se que neste processo seletivo, busca-se abranger a maior gama possível de testes que possam atestar as competências não apenas intelectivas, mas também morais, físicas, médicas e pessoais do candidato, buscando um modelo muito específico de pessoa para o exercício da função de oficial, embora estas características não estejam nomeadas no edital, e nem mesmo em documentos internos. Para a Policia Militar de Santa Catarina, não basta à aprovação no concurso Público para o exercício profissional: o aprovado deverá ainda submeter- se a um Curso de Formação de Oficiais, realizado pela própria Corporação, organizado em dois cursos distintos, mas indissociáveis: Curso de Formação de Oficiais (englobando as matérias técnicas, considerado curso de formação superior pela portaria... do MEC) e Bacharelado em Segurança Pública, realizado 40 em parceria com a Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), com duração de 4 anos (englobando as matérias de conhecimento geral, administrativas e jurídicas da gestão em segurança pública). Da parte da Policia Militar, é competência da Diretoria de Instrução de Ensino (DIE), regular, planejar, coordenar, supervisionar e avaliar os cursos de formação, através de Normas para o Planejamento e Conduta de Ensino (NPCE). Da parte da UNIVALI, as decisões são de responsabilidade da Coordenação do Curso, em conjunto com a pró reitoria de ensino. O currículo passa por modificações constantes, procurando adaptar-se as demandas operacionais, fazendo com que praticamente cada turma de oficiais formados tenha carga horária e currículos diferenciados, de acordo com as demandas daquele momento. Após aprovado em concurso, o candidato a oficial torna-se cadete, ou seja: Cadete matriculado é aquele apto a freqüentar regularmente o Curso de Formação de Oficiais (CFO) e o Curso de Segurança Pública, nível Bacharelado (CSPB) (ROSA, 2004, p. ) O cadete é considerado Praça Especial, ou seja, ainda não possui a estabilidade conferida pelo Estatuto dos Policiais Militares aos Oficiais. Na hierarquia da Corporação, encontra-se como cargo intermediário entre o Aspirante a Oficial ( situação em que se encontrará logo após o término do Curso de Formação) e o Sub Tenente ( maior graduação alcançada pelas Praças). É o Oficial Estudante, aquele que, durante os quatro anos de Curso de Formação de Oficiais, além de adquirir os conhecimentos técnicos necessários ao exercício da atividade de gerenciamento da corporação, será constantemente avaliado em sua adaptação ao currículo formal e informal. Cabe aqui talvez fazer a diferenciação entre currículo formal e informal: Enquanto que o primeiro diz respeito aos conteúdos curriculares, tal qual estão elencados em programas de ensino e ementas, o segundo diz respeito aos conhecimentos que são aprendidos transdisciplinarmente, nas práticas educativas ou na convivência do meio acadêmico, sem que sejam necessariamente objetivo de pautas educativas. Assim, a rotina rígida, típica dos quartéis, serve subjetivamente a formação de pessoas organizadas, pontuais e com capacidade 41 de planejamento prévio de suas ações, embora este fato não seja discutido no currículo das escolas de formação. Segundo a Matriz Curricular Nacional para os Cursos de Formação em Segurança Pública, proposta pela SENASP, (2005): O termo ‘currículo’ não significa simplesmente o conjunto das disciplinas de um curso, ou o conjunto de conteúdos programáticos. Conforme orientação do documento ministerial vigente sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais, currículo significa a expressão de princípios e metas do projeto educativo que deve ser flexível, promover debates e reelaboração em sala de aula, a partir da interação entre os sujeitos do processo educativo” Outra questão a ser observada é que as qualidades buscadas na seleção, são muitas vezes diferentes daquelas esperadas ao fim da formação: basta perceber que os testes físicos para seleção são de nível diferente daqueles aplicados durante o curso, e dos parâmetros aplicados para a promoção de oficiais, por exemplo. Pode-se concluir daíque determinadas características, que devem estar presentes de forma incipiente na seleção, serão desenvolvidas durante o curso, e outras não serão trabalhadas, ao menos no currículo formal. Outro detalhe a ser observado é que, embora a finalidade inicial seja a formação para o exercício profissional, existe uma preocupação institucional de que os cursos oferecidos ao publico interno tenham equiparação aos cursos correspondentes na área civil. A equiparação do Curso de Formação de Oficiais ao nível de graduação foi resultado de um longo processo, que culminou com a aprovação do parecer 215 do Conselho Federal de Educação em 4 de maio de 1983, que reconhece como cursos superiores os Cursos de Formação de Oficial. das Policias Militares desde 1975. 3 Perfil profissiográfico Buscando entender melhor quais as competências, habilidades e atitudes envolvidas no bom desempenho das funções de oficial da Policia Militar de Santa Catarina, pesquisamos os processos de Gestão de Recursos Humanos, e mais especificamente aqueles ligados ao recrutamento e seleção de oficiais, e chegamos ao Perfil Profissiográfico. Determinar quais são essas competências, habilidades e atitudes, além de fornecer subsídios à atuação profissional dos egressos da Academia de Polícia Militar da Trindade, possibilita que a seleção de cadetes, ou mesmo a formação destes esteja voltada aos objetivos institucionais, garantindo maior qualidade no desempenho da missão a qual a Polícia Militar está constitucionalmente incumbida, bem como sua continuidade como instituição. O Perfil Profissiográfico foi escolhido como uma das metodologias possíveis na determinação técnica dessas competências. Por que representa mais do que a simples descrição de cargos e funções dentro da organização; é também o levantamento de competências, habilidades e atitudes, mensuradas objetivamente, com o fim de determinar qual o melhor indivíduo para exercer determinada atividade, buscando a otimização do serviço prestado. Atende assim aos requisitos de servir de instrumento auxiliar tanto á seleção (já que determina claramente quais as atividades serão desenvolvidas pelo candidato que for aprovado e quais competências mínimas serão requisitos para seleção) como subsidio a formação, na medida em que determina quais o aspectos mínimos a serem abordados nas disciplinas dos cursos elencados em busca daquele oficial que se aproxime ao máximo dos ideais determinados pelas necessidades da Corporação, em suas mais diversas manifestações. Pode ser ainda utilizado na determinação de critérios avaliativos, já que, determinando claramente quais a atividades devem ser desenvolvidas e quais as características esperadas do oficial que as desempenha, é fácil determinar se está atendendo ou não os objetivos propostos. 43 Além disso, é um dos instrumentos utilizados para seleção e formação de diversas outras polícias do Brasil, e uma das metas a serem alcançadas no atual planejamento Estratégico da Policia Militar de Santa Catarina. A soma dos dados obtidos na descrição e analise de cargos pode originar um Perfil Profissiográfico. Mas o perfil profissiográfico por competências que propomos vai bem além disso, buscando alcançar também características subjetivas necessárias ao bom desempenho do oficialato. E é isso que se pretende descrever neste capitulo. 3.1 O que é o Perfil Profissiográfico? Para que ser ve? Com o desenvolvimento da Gestão de Pessoas, aparecem subáreas específicas de conhecimento, responsáveis por estudar aspectos determinados da Relação das pessoas com as organizações. Dentro dos subsistemas existentes, escolhemos enfocar neste trabalho mais especificamente aquele responsável pelo recrutamento e seleção de pessoal para a organização, por entender que é no recrutamento e seleção de pessoas que a empresa determina quais são os rumos futuros da organização como um todo. Assim, faz-se necessário destacar alguns conceitos, iniciando pelo conceito de Profissiografia, o ramo de específico que se preocupa com as aptidões relacionadas ao trabalho humano. De acordo com VIEIRA (1997): Uma das divisões da ergologia é a profissiografia. A profissiologia estuda, de um lado, a personalidade profissional do homem em sua relação com o trabalho, isto é, investiga as aptidões de qualquer espécie – físicas, psicológicas, morais – que intervém em toda atividade profissional; de outro lado, as formas e classes de profissões. É na profissiologia (ou profissiografia) que vamos encontrar o instrumento que pretendemos seja adotado como referencia para a seleção de oficiais, o perfil profissiográfico. O que é um Perfil Profissiográfico? Para Chiavenatto (1999), as informações recebidas a respeito de um cargo e seus ocupantes é que dão origem a ficha ou perfil profissiográfico, onde estariam elencados os atributos psicológicos e físicos 44 necessários ao desempenho satisfatório do ocupante do cargo em comento. Neste sentido, a análise profissiográfica seria sinônimo da análise do trabalho. O perfil profissiográfico, ou ficha profissiográfica, um dos elementos subsidiários para a seleção e formação profissional, pode ser definido como: A ficha profissiográfica é um resumo da análise pro fissiográfica. Em sentido amplo, análise profissiográfica é um sinôni mo de análise do trabalho. Em sentido mais restrito, é a pesquisa do s elementos componentes de um trabalho e de sua interação, com o objetivo de determinar as condições necessárias a um desempenho adequado (CHIAVENATTO, 1999, 1). Não basta a simples descrição das características objetivas de um determinado cargo para determinar qual o individuo mais adequado para preenchê- lo: há que se levar em conta também aspectos subjetivos, como atitudes e habilidades não técnicas, que podem influenciar definitivamente o individuo na execução de suas atividades. Para Carvalho e Nascimento (2004): A ficha profissiográfica (resumo da análise profissiográfica), também denominada de ‘ficha de especificação’, é o produto das informações que são transmitidas pela análise de cargo, a requisição de empregados e outros instrumentos afins, caracterizando as aptidões, habilidades e os aspectos da personalidade necessários ao pleno exercício de um determinado cargo. No anexo 1 veremos um exemplo de ficha profissiográfica demonstrado por Dias (2002). Se num primeiro momento da história da administração a gestão de recursos humanos analisava apenas a função a ser exercida, e o trabalhador deveria encaixar-se ao máximo nos atributos do cargo para garantir a maior eficiência possível, a partir da metade do século passado estudos psicológicos vieram a provar que, mais do que os requisitos técnicos, habilidades e tendências psicológicas e de personalidade influenciariam muito na produtividade de determinado cargo ou função. O perfil profissiográfico, assim, surge como instrumento estratégico fundamental na seleção de pessoal de uma organização, na medida em que determina quais as características técnicas e subjetivas que deve possuir o candidato para que atenda os objetivos do cargo a que se propõe e aos objetivos corporativos. 45 Segundo Almeida (2004), existem diversas abordagens para a construção de um perfil profissiográfico, e estas abordagens refletem estratégias alternativas para levantar dados e informações complexas, formando uma imagem bastante aproximada da organização e do contexto de trabalho a que se destina. Assim, o perfil pode ter como foco principal o trabalho ou a cultura corporativa, como exemplos. Um perfil voltado a determinado cargo parte da premissa da pessoa certa no lugar certo, e procura avaliar e selecionar o candidato de acordo com as atividades inerentes ao cargo pleiteado. As informações contidas no perfil estarão diretamente relacionadas com as características do cargo
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