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PRODUÇÃO CULTURAL ESSA P UBLICA ÇÃO NÃO P ODE S ER COME RCIALI ZADA GRATU ITA 3 M Ó D U LO 1 CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS ESTRATÉGIAS DE CULTURA E ARTE PARA O FUTURO 1 APRESENTAÇÃO Q uem nunca teve uma ideia de um projeto incrível, imperdível, sensacional? Um projeto desses que nin- guém, em sã consciência, perderia? Pois é. Todo mundo já teve e todo mundo tem, o tempo todo. Isso é ótimo. Como saber, en- tão, se essa ideia pode mesmo se transfor- mar em um projeto potente? E, mais: por onde começar a concretização dessa ideia? A elaboração de um projeto e sua formata- ção para adequá-lo a editais, leis de incentivo, festivais, programas e outras plataformas de inscrição e financiamento de projetos cultu- rais é apenas um dos passos na construção da estratégia de execução do seu projeto. E quais são os outros passos? Neste fascículo, nós tentaremos falar sobre a produção no contexto cultural brasileiro, identificando essa figura do(a) PRODUTOR(a), atribuindo-lhe sua face- ta estrategista, caminhando com ele pe- las etapas de desenvolvimento e execu- ção de seus projetos culturais. Você está convidado(a) a passar pelas definições de projeto, produção, produtor, pelas etapas de organização e planejamento, pelo or- çamento, cronograma e tudo mais que pudermos oferecer. Ao final, esperamos que você possa tirar o seu projeto da cabeça e/ou da gaveta e es- teja pronto para ganhar o mundo... 2 O QUE É PRODUÇÃO? D e acordo com o dicionário, produção é o resultado do es-forço do artista ou o conjunto de todas as fases de reali- zação de uma obra. Pode também ser a reunião de todos os recursos financeiros, técnicos, materiais necessários para a rea- lização de uma obra, entendendo por obra qualquer produto, seja ele um festival, um documentário ou um livro infantil. Assim, podemos dizer que produção, no âmbito cultural brasileiro, é isso mesmo: a reunião de todas as fases de execução, de todos os recursos necessários para a execução de uma obra. Esta obra pode ser sua ou de outrem. Pode ser individual ou coletiva. Qualquer que seja a obra a ser pro- duzida, sua produção envolve os mesmos fazeres e, portanto, os mesmos saberes. Há, contudo, um detalhe a observar: produção é reunião de recursos e con- junto de etapas de realização. Mas quem define quais são os recursos ou as eta- pas necessárias para a execução da dita obra? Como conhecê-los e sabê-los? Produção é uma atividade técnica que ganha muito com profissionais qualificados para sua completude. Não é, em nenhum grau ou escala, a resolução de problemas pura e sim- plesmente, como muito se vê por aí. A produção cultural é, sim, o resultado do esforço, mas não necessariamen- te do(a) artista, ou não apenas do(a) artista, mas também daquele(s) que trabalha(m) e se empenha(m) para tor- nar visível(eis) a(s) mesma(s) obra(s): você, o produtor cultural. PRODUÇÃO CULTURAL Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 35 34 3 QUEM É O PRODUTOR? N o Brasil, cultura é direito garantido em lei. Na lei, o mesmo artigo que garante o pleno exercício dos direitos culturais prevê, também, o estabelecimento de um Pla-no Nacional de Cultura, a partir do qual promoverá o desenvolvimento cultural do país ao servir de guia para a criação de políticas públicas. Estados e municípios podem (e devem) aderir ao Plano Nacional de Cultura e estabelecer políticas com o objetivo de cumprir as metas ali propostas. O produtor no contexto brasileiro O Plano é muitíssimo generoso na cobertura da atividade cul- tural. Contudo, apesar das 36 estratégias, 274 ações e 53 metas propostas por ele, que incluem, em grande escala, responsabili- dades diretas do Estado, a política pública nacional está pautada no estabelecimento de programas de fomento e formação que, por sua vez, priorizam o financiamento de projetos selecionados a partir de diferentes tipos de processos seletivos. Neste contexto, o produtor tem papel central no desenvolvi- mento cultural do país, porque é quem, afinal, executa os projetos e, portanto, é o elo principal nessa cadeia de promoção e garan- tias. Você, produtor cultural, sabia que garante acesso? Sim, pois a sua atuação está ligada à fruição, à circulação, à visibilidade de manifestações artísticas ou bens culturais (aqui entendidos como concretização de manifestações artístico-culturais). O produtor estrategista O Plano Nacional de Cultura está baseado na percepção da cultura a partir de três dimensões: A dimensão simbólica aborda o aspecto da cultura que con- sidera que todos os seres humanos têm a capacidade de criar símbolos que se expressam em práticas culturais diversas como idiomas, costumes, culinária, modos de vestir, crenças, criações tecnológicas e arquitetônicas, e também nas linguagens artísti- cas: teatro, música, artes visuais, dança, literatura, circo, entre outros. A dimensão cidadã considera o aspecto em que a cultu- ra é entendida como um direito básico do cidadão. Assim, é pre- ciso garantir que os brasileiros participem mais da vida cultural, criando e tendo mais acesso a livros, espetáculos de dança, teatro e circo, exposições de artes visuais, filmes nacionais, apresentações musicais, expressões da cultura popular, acervo de museus, entre outros. A dimensão econômica envolve o aspecto da cultura como vetor econômico. A cultura como um lugar de inovação e expressão da criatividade brasileira faz parte do novo cenário de desenvolvimento econômi- co, socialmente justo e sustentável. (Extraído do texto de apresentação da Secreta- ria Especial da Cultura. cultura.gov.br/secre- taria/ - consulta em 28/09/2020. Grifo nosso) O produtor cultural é vetor de reali- zação de qualquer das três dimensões. Sem produtores: a) não há circulação ou consolidação de símbolos em escala nacional; b) não há garantia de participação na vida cultural; c) não há identificação de uma ativi- dade econômica. O produtor cultural é parte funda- mental na formação deste “cenário de desenvolvimento econômico socialmen- te justo e sustentável”. Isto posto, o produtor cultural é agente de transformação, pois “cultura gera renda, gera emprego, gera inclu- são, gera desenvolvimento. Acima de tudo, gera futuro.” (Extraído do texto de apresentação da Se- cretaria de Economia Criativa da Secreta- ria Especial da Cultura. cultura.gov.br/eco- nomia-criativa/ - consulta em 28/09/2020) Tamanha é a tarefa do produtor(a), que ele(a) precisa, antes de mais nada, perce- ber-se dentro desse contexto, definir seus limites operacionais, ou seja, se você é ou quer ser um(a) produtor(a) cultural, precisa buscar compreender esse cenário cultural do país e definir a partir de onde você quer trabalhar. Defina sua linha de atuação, seu limite operacional. Isso permitirá que você conheça seu campo de atuação, seus pares, sua cadeia produtiva. Você deve buscar saber o que quer, mas também o que não quer. A atuação do produtor no mercado cul- tural pode se dar em diversas áreas e de diversas maneiras, sabia? Existem os que atuam diretamente com artistas, os que são artistas, os que atuam em galerias, em equipamentos culturais públicos ou priva- dos, em centros culturais, instituições, em espaços alternativos, em coletivos, de for- ma autônoma, como proponentes etc. São tantas as possibilidades de atuação que é tarefa impossível identificar todas. Existe, contudo, uma linha condutora dessa atu- ação que é a mesma para todos: a neces- sidade de se construir estratégias lógicas para que se alcancem objetivos. O trabalho do produtor demanda or- ganização e controle de uma série de coisas: ideias, informação, tempo, pes- soas, dinheiro, materiais etc. A forma de organizar e controlar tudo isso passa, necessariamente, por um raciocínio ló- gico a respeito daquilo que se pretende organizar e controlar. O que está sendo organizado? Com que propósito? Para ser usado por quem e em que momen- to? Todas estas variáveis são considera-das de modo a se construir a estratégia de ação daquele projeto. Todas as eta- pas de desenvolvimento de um projeto são, de um modo ou de outro, constru- ções estratégicas a respeito de algo que se precisa alcançar. Um projeto bem construído e, consequentemente, bem executado, é um projeto estruturado a partir de uma sucessão de raciocínios lógicos. A capacidade de construção estratégica da ação é o que faz de um(a) produtor(a), um(a) produtor(a), ou me- lhor, um(a) excelente produtor(a). E o(a) produtor(a) executivo(a) nisso tudo? É ele(a) o(a) estrategista. PARA OS CURIOSOS Quer conhecer o Plano Nacional de Cultura? ACESSE: pnc. cultura.gov.br/ SAIBA MAIS Capitulo III da Constituição Federal, seção II, artigo 215: O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. PARA OS CURIOSOS Bens culturais podem significar uma quantidade de coisas e o termo tem aplicabilidade em diversas esferas. Se você quer saber um pouco mais sobre o termo, recomenda-se a leitura do verbete BEM CULTURAL, elaborado por Maria Tarcila Ferreira Guedes e Luciana Mourão Maio para o Dicionário do Patrimônio Cultural. ACESSE: portal.iphan.gov.br/ dicionarioPatrimonio Cultural/detalhes/79/ bem-cultural (consulta realizada em 29/09/2020) PARA REFLETIR Produtor Cultural como protagonista Vocês se lembram da definição de bens culturais? É na circulação de bens culturais que se baseia o Plano Nacional de Cultura. E se o plano é a base para a construção de políticas públicas, o produtor cultural é o elo mais importante dessa cadeia! Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste PRODUÇÃO CULTURAL 3736 PRODUÇÃO CULTURAL: O COMEÇO DE TUDO Planejamento como organizador T endo entendido o que é produ-ção e quem é o produtor no con-texto cultural brasileiro, cabe agora falar sobre onde tudo isso começa: o planejamento. Nosso objetivo aqui não é falar de pla- nejamento, mas, pensando alto, todo es- trategista tem que ter um plano, certo? Caso contrário não há sobre o quê esta- belecer uma estratégia. Portanto, como falar de execução de projetos e eventos culturais sem falar de planejamento? Se fosse assim, você, produtor(a), seria aquele(a) com soluções mirabolantes para problemas corriqueiros, em vez de ser o(a) estrategista com limites estabelecidos. O planejamento é anterior à formatação de projetos para leis e editais, e deve fun- cionar como um organizador, um norte- ador. O envolvimento com a etapa de pla- nejamento de um projeto carrega para as etapas de execução o raciocínio estratégico sobre o encadeamento das ações. E aí a coi- sa toda começa a ficar muito legal. Viabilidade: o quê, para quem e por quê? Você teve uma ideia, ou trabalha com alguém que teve uma ideia, ou gosta mui- to de alguém que teve uma ideia. Ou sim- plesmente lhe jogaram uma ideia e você tem que executá-la. Uma série de per- guntas precisam ser feitas para que um primeiro passo, no sentido de criar uma 4 estratégia, possa acontecer. Todas essas perguntas tem um único objetivo: iden- tificar, com clareza, o que se quer. Suas respostas vão esclarecer a base: o quê? Para quem? Por quê? Em uma linha lógi- ca, a próxima pergunta aqui seria: como? Mas não é possível pensar em “como” se as três primeiras perguntas não forem objetivamente respondidas. São elas: O quê: O que É a ideia incrível? O que É a ideia exatamente? Partindo de um exemplo mais prático para ilustrar: você acha que sua ideia é pu- blicar um livro de poesia. Alguém mais sabe da sua vontade de publicar este livro de poesia e acredita ser essa uma “ideia incrível”? Mas é essa mesmo a ideia? O que está por trás disso? O que você pretende conseguir com a publicação do livro? Qual seu objetivo? O que move você? Onde você quer chegar? O que você acha que seu pro- jeto vai gerar de bom? O que vai gerar de bom para as pessoas que tiverem acesso a ele? Qual é o benefício gerado por ele? Para quem: Para quem é o projeto? Quem é seu público-alvo? Você sabe para quem você vai publicar esse livro? Você quer publicar esse livro para você mesmo? Tem certeza? Seu públi- co-alvo (leitores) está interessado no que você está propondo? Você perguntou para ele? E o que ele respondeu? Mais alguém, além do seu público-alvo, vai se beneficiar com a publicação do seu livro? Por quê: Por que seu projeto é importan- te? Em que contexto seu projeto se justifica? Encontrar respostas para essas per- guntas vai ajudá-lo(a) a entender se o que você tem nas mãos para trabalhar é ou não um projeto cultural. Também aju- darão a definir o que seu projeto real- mente é e o que você quer de fato fazer. Avaliando os riscos Depois de responder às três pergun- tas-base e definir que você tem, sim, um projeto cultural na mão e que irá se dedicar a executá-lo, você está pronto para pensar em como equacionar essa execução. Entretanto, deve dedicar mais um tempinho para pensar nos riscos que você assumirá nesta execução. E quais são eles? O primeiro e principal é o risco de dar tudo errado. E o que fazer, então? Tenha sempre um Plano B. Ter um plano B é algo a se pensar durante o planeja- mento da execução, ou seja, naquele mo- mento em que se pensa no “como”. Uma dica: quando pensar em estratégia de execução, pense no plural: estratégias! Vamos entender isso: à medida que o produtor sabe o que quer fazer, para quem e por que, não é tarefa difícil pensar no mí- nimo necessário para que se alcancem os objetivos do projeto. Esse mínimo neces- sário pode ser o seu plano B. Pensando no exemplo de nosso livro de poesia, na sua realização, qual o mínimo necessário para que o seu objetivo seja alcançado? Existem outras formas que não seja neces- sariamente a publicação impressa (física) de seu livro? Ele pode chegar ao seu públi- co de outra maneira, como em formato de e-book, por exemplo, ou mesmo impres- so, mas em gráfica rápida e em pequena ti- ragem? Pronto, esse pode ser seu Plano B. No livro Guia Brasileiro de produção cultural, edição 2013-2014, os organizado- res falam da necessidade de um plano de contingência: “O planejamento depende da visão e da leitura de mundo que a equi- pe ou o indivíduo que o executa possui. Deve incluir um plano de contingência, que significa considerar as prováveis ati- tudes tomadas se alguma coisa aconte- cer fora do previsto.” (OLIVIERI, NATALE. 2013, p.34). Mais adiante, em um sub- capítulo intitulado “Driblando Murphy” (Idem. 2013, pp.38-39), os organizadores discorrem sobre a necessidade de respei- tar a máxima da “Lei de Murphy”, aquela que afirma que sempre que alguma coisa tiver que dar errado, vai dar. Nesses ca- sos, é preciso jogo de cintura, criatividade e, acima de tudo, organização. Reflitam sobre as possíveis adversidades e deixem organizadas algumas medidas de ação quando da ocorrência delas. Lidar com esses riscos implica tempo e, muito provavelmente, dinheiro. Tempo e dinheiro são elementos fundamentais na execução de projetos e, quase sempre, ra- ros. Realizar uma boa avaliação dos riscos é parte da construção da estratégia de exe- cução e também parte da configuração do seu plano de contingência. Outros riscos devem ser considera- dos e avaliados. São eles: (a) financei- ros, (b) fiscais, (c) legais, (d) patrimo- niais e (e) de segurança Financeiramente, o(a) produtor(a) as- sume riscos quando inicia a execução do projeto sem que tenha captação do va- lor total para realizá-lo. A Lei Federal de Incentivo à Cultura diz, por exemplo, que você pode iniciar a exe- cução do seu projeto apenas quando tiver captado 20% do valor total. Se, por um lado, com esse percentual você finalmente já pode começar a concretizar aquele pro- jeto que demorou tanto para conceber; por outro, implica um risco imenso: e se o res- tante do recurso não chegar? A melhor forma de contornaresse ris- co é, justamente, ter certeza do mínimo necessário para a sua execução. Você SAIBA MAIS Sobre ferramentas de pesquisa: pluga.co/blog/api/ferramentas-de-pesquisa/ Por que publicar esse livro? E por que não publicar, em vez dele, outro? Qual a relevância dele para a sociedade? O que o faz pensar que seu público precisa e deve ter acesso a esse objeto? Por que o aces- so a esse texto precisa ser feito a partir de um livro? Por que e como a execução desse projeto vai impactar o seu público? Esse impacto é permanente? Tem poten- cial para gerar desenvolvimento? Enfim, são muitas as perguntas que podem ser feitas para identificar, tipificar e contextualizar uma ideia e/ou um bem cultural. Para cada ideia, um leque novo de perguntas se forma. Como respondê-las? A elaboração dessas perguntas, a pesquisa e a reflexão necessárias para respondê-las exige tempo e dedicação. Esquematize um ques- tionário, reflita e o responda. Saia a campo, converse com pessoas, localize seu público- -alvo e fale com ele. Hoje em dia a tecnologia está a favor do(a) produtor(a) e existe uma série de ferramentas de pesquisa gratuitas que podem ajudar você. Mas, o mais impor- tante: seja honesto com você mesmo. se lembra daquele Plano B que prevê o mínimo necessário para se atingir o ob- jetivo principal do projeto? Pois controle a coceirinha na mão, segure a ansiedade e estabeleça esse limite. Não se expo- nha a riscos desnecessários porque, se a Lei de Murphy vingar, quem vai pagar a conta final é você. Riscos fiscais entram nesse mesmo paco- te de raciocínio: cada contratação, cada pa- gamento implicará impostos. O Brasil tem um regime tributário complexo e o impacto disso no projeto é direto. Busque sempre a ajuda de profissionais contabilistas para a correta avaliação dos encargos e tributos compatíveis à execução de seu projeto. Não hesite também em buscar assesso- ria jurídica se você achar que seu projeto corre o risco de ter implicações legais rela- tivas a direitos, que é um assunto comple- xo e repleto de detalhes. Esse apoio será importante também para a elaboração de contratos da sua equipe técnica. Lembre- -se que os contratos protegem tanto con- tratantes quanto contratados. Faça disso uma rotina. Contratos bem elaborados são, por si só, uma medida que minimiza riscos. Para encerrar esse assunto, afirmamos: existem riscos na execução de eventos culturais. Para evitá-los, existe uma série de regras e procedimentos necessários que serão objeto do último item de nosso fas- cículo.Busque apoio da Polícia Militar, da Guarda Municipal, de companhias de Trân- sito. E, sempre, contrate seguro. Contrate seguro para tudo! A contratação de seguros é um investimento e não um custo. Um projeto bem planejado e analisa- do nos detalhes é um projeto com execu- ção simples, tranquila, sem grandes sus- tos, e o sentimento de realização no final é ainda mais especial. Você quer isso, sentimento de realização, e não um sim- ples dever cumprido. Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste PRODUÇÃO CULTURAL 3938 PRODUÇÃO CULTURAL: A CONSTRUÇÃO DA ESTRATÉGIA Identificação de ações e etapas A final, como equacionar a execu-ção desse projeto que você tem na mão e que você já sabe ser um bom projeto porque respon- deu às perguntas-chave, localizou e con- versou com seu público e previu os inúme- ros riscos que ele pode lhe trazer? A construção da estratégia de execução do projeto deve começar pelo ordenamento das ações e etapas necessárias para sua realiza- ção. Neste sentido, a ação ou atividade deve ser compreendida como unidade básica do projeto. Assim, enumere suas unidades. Faça uma lista com tudo que você precisa fazer: profissionais e serviços a contratar, materiais a comprar, documentos a elaborar, deslo- camentos a realizar. Isso pode se configurar como um checklist e quando você começar a pensar em coisas que precisam ser feitas, ou- tras surgirão imediatamente. Se você precisa que alguém saia de uma cidade e chegue em outra, por exemplo, você então calcula que vai precisar de passagem, hospedagem, ali- mentação para essa pessoa enquanto ela es- tiver longe de casa. É por aí. Esse checklist não é tarefa para um dia. Ele pode, e deve, passar pelas mãos de outras pessoas da sua equipe, deve passar por revisões e precisa ser sempre visitado, evitando esquecimentos. Depois desse primeiro esforço de listar todas as unidades, de montar o checklist, tente colocar essa lista em ordem de exe- 5 PARA REFLETIR Guarde os documentos de desenvolvimento de projeto, como o checklist. Todo material produzido pode e deve ser usado como referência em projetos futuros. Nenhum trabalho é perdido, nenhum esforço é desperdiçado. cução, assim ela vira um encadeamento de ações e não mais uma simples lista. Este é o primeiro grande exercício de organização do tempo do projeto. Você vai ver, na prática, que o exercício de en- cadeamento de ações pode não ser tão simples, afinal a execução de projetos não é uma atividade linear, ou seja, não neces- sariamente acontece uma ação só após o término da outra. Ao contrário, muitas ações precisam acontecer ao mesmo tempo e a grande maioria delas tem mais de uma variável e mais de uma atividade que a antecede. No exercício de identificar o que vem antes e o que vem depois, você vai ter mais clareza das etapas de execu- ção do projeto. Divida as ações em quantas etapas fo- rem necessárias. Não existe regra para isso, existe o jeito que funciona melhor para você. Alguns exemplos de etapas: equipe, viagens, serviços, administração, comunicação. Você pode identificar tantas quantas desejar. De- senhe, esquematize, planifique esse enten- dimento de etapas e de ações no tempo. A divisão do projeto em pré- produção, produção e pós-produção Como já vimos em nosso curso, uma das formas mais tradicionais de separar os pro- jetos em etapas é identificar atividades de pré-produção, de produção, de pós-pro- dução. Etapas de administração do proje- to e de divulgação e comunicação fecham o pacote básico. Esse formato é o mais utiliza- do pelas leis de incentivo e pela maioria dos editais vigentes. É um clássico. Identificar as atividades relativas à ad- ministração do projeto e à divulgação é tarefa fácil. Todas as atividades que per- mitem que outras sejam executadas de modo a se alcançar os objetivos, aquelas que não implicam diretamente a consecu- ção do objeto, as chamadas atividades- -meio, são atividades administrativas. As mais comuns são água, luz, telefone, in- ternet, material de escritório (consumo), correios, portadores e mensageiros. As atividades ligadas à comunicação e divulgação do projeto também são relati- vamente simples de identificar: são aque- las responsáveis por comunicar ao seu público sobre o que você está fazendo. Mas como identificar o que são as ati- vidades de pré-produção, produção e pós-produção? A verdade é que essa definição é pessoal e está grandemente atrelada ao tipo de pro- jeto. O que é pré-produção para o cinema é diferente do que é para o teatro, música ou artes visuais. Contudo, se substituirmos a ex- pressão “pré-produção” por “preparação” e “produção” por “execução”, talvez fique mais fácil você identificar, dentro das atividades encadeadas no seu projeto, o que é o quê. O mesmo vale para a pós-produção. En- quanto todas as ações que “preparam o terre- no” para outras acontecerem são atividades de pré-produção, e todas as outras que im- plicam uma ação final para atingir o objetivo são de produção, a pós-produção, de modo geral, são aquelas atividades nas quais se analisa o que foi feito, tanto em termos finan- ceiros (prestação de contas), quanto em ter- mos de cumprimento do objeto (verificação de processos, qualidade do produto, opinião do público, elaboração de relatórios e outras atividades de finalização). É muito importante ter em mente que essas etapas não são lineares, ou seja, que elas podemacontecer ao mesmo tempo até formar uma rede. Existem ações que co- meçam na pré-produção e devem ser man- tidas ao longo do projeto todo. É o caso da contratação de um arquiteto, por exemplo, em projetos que envolvem criação e insta- lação de cenários ou espaços expositivos. Outras podem ser necessárias apenas na pré-produção, como a contratação de um engenheiro que avalie a capacidade de su- porte de peso de uma estrutura que vai rece- ber um palco. Existem também profissionais que são necessários apenas na pós-produ- ção, como seria o caso da contratação de um assistente para tabulação dos resultados de uma pesquisa. Entretanto, muitas das ações que vão ser necessárias na pós-produção são realizadas, coletadas e classificadas desde a produção (registros de fotos, guarda de recortes de jornais, folhas de frequência, pesquisas de satisfação/reação etc.) O entendimento do desenho clássico das etapas é importante porque a maio- ria de editais e leis de incentivo esperam e até exigem projetos estruturados nesses moldes. Perceba que esta divisão tem mais a ver com o momento de formatação de um projeto para diferentes mecanismos de financiamento, do que com o planeja- mento e execução de projetos em si. Para nós, esse desenho é controverso, de maneira que faria mais sentido falar apenas em planejamento e execução. Mas essa é outra história... Equipe, processo e procedimentos E por falar em equipe, ao elaborar o seu checklist e identificar as ações e as etapas de trabalho do projeto, você facilmente identificará qual a equipe (quantas pes- soas e quais) que você precisa ter para encarar essa empreitada. O trabalho de produção não é so- litário. O trabalho em equipe, além de mais produtivo, é mais prazeroso. Monte sua equipe, identifique aqueles que você precisa ter perto de você, ajudando com o desenvolvimento da sua estratégia de execução, aqueles que deverão trabalhar em outras frentes, e também em que mo- mento do projeto essas pessoas devem começar a colaborar. A partir do momento que existe uma equipe, é importante que existam pro- cessos e procedimentos para organi- zação do trabalho. Sem isso, torna-se tarefa impossível acompanhar e supervi- sionar o trabalho que está sendo feito e a evolução do projeto. Quanto mais profissionais são envolvidos, mais contratações são feitas e mais a rede de pessoas e empresas envolvidas cresce, mais importante se torna esse manual de proce- dimentos. Isso não apenas permite que você supervisione e acompanhe o processo, mas também permite aos outros se localizarem e saberem o que precisa ser feito em seguida. Ferramentas que ajudam muito nes- sa tarefa são o organograma e o fluxo- grama. Quanto maior o projeto, quanto mais pessoas estiverem envolvidas em PRODUÇÃO CULTURAL Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 4140 sua execução, mais urgente é o dese- nho de um organograma. O mesmo vale para a circulação de in- formações. E é aí que entra o fluxograma. Mais uma vez, quanto maior o projeto ou a organização, quanto mais pessoas esti- verem envolvidas na execução e quanto mais claro for o papel de cada um dentro do projeto, mais importante é definir o caminho da informação. Tomada de preços, cotações, contratos, acordos, combinados, notas fiscais, com- provantes de pagamentos, recibos, docu- mentos de identificação são apenas alguns poucos documentos que circulam entre produtores, coordenadores e executivos durante a execução de projetos. Para onde devem ir e o que deve ser feito com eles? Quem aprova uma contratação e o que ela precisa para aprovar? Quem paga um ser- viço executado e o que essa pessoa precisa para executar esse pagamento? Cabe ao produtor definir essa operação. Memória A definição da operação do projeto, de seu organograma e do fluxo de informações implica uma preocupação que fica meio que escondida, com cara de “pano de fundo”, mas que deveria ocupar lugar de destaque: a construção de memória. Todo projeto, mesmo os que não chegam nunca a sair da gaveta, geram uma quantidade enorme de conteúdo que deve ser organizado de ma- neira a ser preservado. Tudo que é produ- zido em um projeto pode se tornar material de apoio para projetos futuros. O que dizer, então, de processos de prestação de contas? Toda vez que seu pro- jeto contar com financiamento público, um processo de prestação de contas vai existir. O uso do recurso tem que ser comprova- do, assim como tem que ser comprovado o cumprimento dos objetivos do projeto. Essa reunião de documentos comprobató- rios deve ficar armazenada de forma orga- nizada e clara, sob a guarda do(a) propo- nente, por prazos mínimos determinados por lei, e esse prazo nunca vai ser inferior PARA CURIOSOS Uma boa ferramenta no desenho de organogramas é o LucidChart, que é gratuito e tem vários modelos que podem ajudar no primeiro desenho. ACESSE: www.lucidchart.com/ pages/pt/o-que-e- organograma E para fluxogramas, ACESSE: www.lucidchart.com/ pages/pt/o-que-e-um- fluxograma PARA REFLETIR O desenho de um organograma não serve para determinar hierarquia. Mesmos nos projetos e organizações mais horizontais, ele tem seu papel e seu valor. Um bom organograma serve para determinar funções, para colocar as pessoas em contato, para que todos saibam quem são os outros profissionais envolvidos no projeto. Assim, todo mundo sabe com quem falar a respeito de todos os assuntos. a 5 anos. Em caso de necessidade de con- sulta, ou quando o órgão financiador exigir alguma informação ou afirmar a falta de qualquer documento, você tem a obrigação de tê-lo a mão, evitando problemas e até mesmo a devolução de recurso. Imagine que nesses anos, documentos se perdem, as pessoas que eram da equipe não estão mais com você ou você nem se lembra mais dos detalhes daquele projeto. Identificar documentos fundamentais, organizá-los, nomeá-los de modo a serem compreensíveis por todos e a qualquer tem- po, é tarefa de todo produtor. E essa tarefa é compartilhada com toda a equipe. Além de ser necessário para a consulta futura, esse material armazenado serve de construção de informação, ou seja, para pesquisa, estudos, formulação de teses, compartilhamento de saberes. Existe pou- ca bibliografia acerca do desenvolvimento e execução de projetos. Pode existir mais, muito mais, se mais disso que você está fazendo e aprendendo for feito e compar- tilhado. Se você, produtor cultural, é pro- tagonista no processo de desenvolvimento cultural do país, é duplamente protagonista porque, além de acesso às manifestações culturais, você também permite acesso ao conhecimento gerado ao fazê-lo. Tempo e dinheiro Como última etapa disso que está aqui sendo chamado de construção da estra- tégia, pensar o tempo e o dinheiro dos projetos é dessas empreitadas que o pro- dutor tem que encarar se quiser ser esse protagonista mencionado aí em cima. Ao pensar o encadeamento de ações necessárias para a execução de um proje- to, pensar qual tarefa precisa ser executada antes para que a outra aconteça, você dá o primeiro passo no desenho do crono- grama do projeto. A elaboração do cro- nograma envolve, ainda, pensar a duração de cada tarefa e, a partir disso, o tempo de envolvimento de profissionais e empresas contratadas no projeto. Para isso, parta do checklist que você já fez. Uma dica de ouro: sejam generosos com o tempo. Todo produtor tem uma pre- tensão de super-herói e acredita que vai dar conta da execução de tarefas em um tempo que não é real. Muitas vezes, repleto de boas intenções, o(a) produtor(a) diz que um tempo curto é viável para a execução da tarefa, simplesmente porque quer ver aquele projeto realizado, entende a impor- tância de sua realização e, portanto, vai se virar para fazer acontecer. Pois bem, me- lhor do que bancar o heroísmo é agir com a responsabilidade inerente ao(à) profissio- nal produtor(a). E por falar em tempo, quanto custa? O orçamentode um projeto é a mais tradicional de todas as ferramentas de gestão. Todo produtor conhece, todo pro- dutor precisa. Um bom orçamento deve contar, em números, a mesma história do projeto. Deve ser claro e compreensível para qualquer um que o leia. É como uma tradução. Cada linha do seu orçamento deve contar a história do que é necessá- rio para que aquele projeto aconteça. E cada coluna conta como aquela tarefa será executada em termos de tempo e dinheiro. Nenhuma coluna e nenhuma linha são dispensáveis. A construção do orçamento é apenas o primeiro passo na gestão financeira do projeto. A partir dele deve-se pensar nos possíveis financiamentos, nas receitas e no cronograma de entradas e saídas, no fluxo de caixa do projeto. Todos esses en- tendimentos devem partir dessa constru- ção original do orçamento. Thiry-Cherques, em seu capítulo “Fa- zendo as contas do projeto” (2008, pp. 198- 199), estabelece algumas condições para a elaboração de um orçamento sem as quais a empreitada se mostrará inútil: • Elaboração de uma estimativa inicial; • Importância de obtenção de informa- ções detalhadas do que se precisa: É uma crença comum que o rigor na elaboração do orçamento limita a criatividade na administração e restringe a tomada de decisões que poderiam afetar positivamente a qualidade do projeto. (...) O fato gerador dos problemas relacionados com o orçamento na área da cultura é a escassez de orçamentos construídos tecnicamente. Como orçamentos mal elaborados comprometem a negociação, a administração e a avaliação do projeto, tende-se a inverter o problema, pondo a culpa no instrumento e não no seu mau uso. O fato é que, à exceção de alguns sub-setores mais dinâmicos da cultura, o que se chama de “projeto” costuma ser uma proposta de aventura (...) e o orça- mento (...) algo exótico e dispensável. • Necessidade de envolvimento de uma equipe nesse raciocínio; • Existência de uma relação direta en- tre tempo e dinheiro; • Simplifique seu orçamento. Cronograma e orçamento devem ser do- cumentos vivos, que devem funcionar como ferramentas de controle, de verificação da eficiência das equipes e do andamento do projeto. Pautados na estratégia lógica do planejamento, visite e analise essas ferra- mentas todos os dias. Cada ajuste de cro- nograma vai impactar o orçamento e cada mudança de orçamento vai impactar o cronograma. E esse conjunto vai impactar a execução do projeto. Uma ferramenta não deve ser afastada da outra, elas são irmãs e gostam de andar juntas. E, à medida que se movem, cada im- pacto gerado deve ser compartilhado. Não guarde impactos, positivos ou não, só para você. Envolva a sua equipe. PRODUÇÃO CULTURAL Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 4342 6 PARA NÃO ESQUECER: SUSTENTABILIDADE O projeto como medida E m 2020, é impossível pensar qual-quer tipo de iniciativa sem pensar no seu impacto. Não seria dife-rente com iniciativas culturais, principalmente se pensadas dentro das dimensões simbólica, cidadã e econômica apontadas pelo Plano Nacional de Cultura. Projetos culturais geram impacto, impac- to social, econômico e ambiental. O dicionário nos aponta que sustentabi- lidade é a “característica ou condição do que é sustentável”. Por sua vez, sustentável é a ca- racterística de algo que permite sua perma- nência. Permanência por um determinado prazo em um processo que envolve questões ambientais, sociais e econômicas. Nessa li- nha, sustentabilidade é impacto positivo. Para algo ser sustentável, deve ter impacto social, econômico e ambiental positivos. Indo um pouco mais adiante, a cultu- ra é entendida hoje como um pilar para a sustentabilidade do planeta. Retomando o raciocínio anterior, sustentabilidade agora fala de desenvolvimento social, econômico, cultural e do impacto disso tudo no meio ambiente. Tudo isso deve estar em harmo- nia. A Cultura é condição para isso. Os projetos culturais são medidas de promoção da sustentabilidade, pois geram acesso e permitem conhecimento e compar- tilhamento desse conhecimento. A identifi- cação do seu público-alvo, dos beneficiários do seu projeto e do impacto dele nessas pes- soas, garantir que essas pessoas sejam im- pactadas é o que transforma o projeto nessa medida de sustentabilidade. Quando o projeto atingir seus objetivos e impactar pessoas, ele vai mudar a vida daquelas pessoas de alguma maneira. A partir daquele momento, a vida delas pode nunca mais ser a mesma. É nessa hora que seu projeto promove transforma- ção e desenvolvimento. A lógica do projeto traz em si a ideia de que se está falando de algo com começo, meio e fim. Essa é a natureza dos projetos. São provisórios, transitórios. Começam e terminam. Retomando o conceito de que o projeto é a unidade básica da atuação cul- tural no país, cabe aos produtores corromper essa lógica para pensar projetos que tenham impacto positivo por meio de propostas de longo prazo, recorrentes ou até permanentes. Medidas dentro do projeto Além do impacto puro e simples que um projeto cultural pode ter na vida das pesso- as que têm contato com ele, o(a) produtor(a) cultural pode e deve pensar medidas sus- tentáveis para a execução do projeto. Inclusão, acolhida, democratização, engajamento comunitário, formação de público, acessibilidade, para falar apenas em aspectos sociais. Seleção, redução, reutilização, otimização de materiais, gestão de resíduos, utilização de fontes limpas de energia e recursos naturais e renováveis para além das compensações de carbono, para falar em aspectos am- bientais. Geração de empregos, contrata- ção de mão de obra local, valorização de iniciativas e comércios locais, visibilidade e promoção de artistas locais, diversifica- ção de fontes de financiamento, geração de recursos próprios, para pensar o míni- mo em termos econômicos. Todos esses aspectos podem fazer parte das estratégias de execução. A associação dessas medidas com as iniciativas de longo prazo, recorrentes e permanentes potencia- liza esse papel de vetor de sustentabilidade. Claro que isso é assunto para muita con- versa e discussão. São muitas as possibili- dades, as variáveis, os pontos a serem con- siderados na tomada de decisão a respeito de medidas sustentáveis. Mas isso é assunto para depois. Pense nisso. SAIBA MAIS John Hawkes, ativista australiano, foi o primeiro a falar da cultura como o 4º pilar da sustentabilidade no artigo “O quarto pilar da sustentabilidade: o papel essencial da cultura no planejamento público”. Publicado por ocasião de um encontro entre lideranças pelo desenvolvimento cultural na Austrália, o artigo defendia que a cultura deveria ter importância reconhecida no desenvolvimento sustentável de povos, já que, em tradução livre, os valores de uma sociedade são a base em que tudo está construído. Esses valores e a forma como estes valores são expressados são, por si só, a cultura de uma sociedade. Essa base não pode ser ignorada no planejamento de desenvolvimento por parte dos governos nacionais. EVENTOS CULTURAIS É importante pensar que, eventual-mente, seu projeto pode configu-rar-se, por exemplo, em um evento cultural que vai reunir pessoas em um espaço. São muitas as variáveis a se con- siderar na configuração de um evento cultu- ral, e elas dependem do tipo de evento, do tamanho, da quantidade de público que se espera, no tipo de público, da duração do evento em si. São inúmeras as cartilhas dis- poníveis na internet com informações técni- cas para produção de eventos – basta digitar no Google “normas técnicas de produção de eventos” e você comprovará isso. E existem, claro, agências de produção de eventos. Dependendo do tamanho do seu evento, contrate os profissionais. Em geral, a regra número 1 aqui é conhecer a legislação vi- gente no local onde seu evento acontece- rá. Se ele vai acontecer em um espaço pró- prio para esse tipo de ação, a regra número 2 é consultar as equipes internas em relaçãoao que já se sabe e se tem. Informe-se a res- peito das necessidades. Uma boa dica é pro- curar o Corpo de Bombeiros. Os bombeiros são a base para a maioria das informações que você irá precisar. Aqui, não iremos expor um guia de normas técnicas. A ideia é, simplesmente, apontar alguns caminhos sobre logística, bilheteria, circulação de pessoas e orien- tação de público, gestão de alimentos e resíduos, normas de segurança e acessibili- dade, para que você saiba que essas neces- sidades, além de outras, existem. Pensar a logística de um evento cul- tural tem duas aplicações práticas: (1) o transporte de materiais ou obras e (2) o transporte de pessoas. O transporte de materiais deve le- var em conta o meio de transporte, a adequada manipulação e embalagem do material, as condições de armazena- mento (considerando controles de tem- peratura e umidade, o tempo de trânsito, a guarda de embalagens e, claro, o cus- to dessa operação como um todo). O(A) produtor(a) deve buscar o equilíbrio mais que perfeito (ou quase!) da equação tem- po x dinheiro x segurança no momento de definir o plano logístico. Cada material a ser transportado precisa de um tratamento adequado, de modo a preservá-lo e mantê-lo seguro. São três as opções de transporte: a) transporte terrestre, b) aéreo e c) marítimo. Cada modalidade tem regulação pró- pria e os agentes de transporte sabem quais são. Dependendo do material, seu evento vai precisar receber adequações no local de execução para recebê-lo. Obras de arte, por exemplo, precisam de controle de temperatura e umidade. Documentos his- tóricos também. Muitos ainda demandam controle de luminosidade. Lembre-se, não são apenas as obras que precisam ser transportadas: tudo que é necessário para a execução do projeto, se material, precisa ser transportado. Se você precisa pedir peças emprestadas, sejam elas obras de arte, objetos históri- cos ou de colecionador, ocupe-se, assim que definido o local do seu evento, em preparar um memorial descritivo do lo- cal contendo detalhamento das facilida- 7 des técnicas do espaço e um relatório de instalação. Data de construção do prédio, material utilizado na construção, relevo local, proximidade da água ou de áreas de preservação ambiental, formas de aces- so, medidas dos cômodos, corredores e portas, altura do pé direito, presença de alarmes, sensores de presença, controle de luz, de temperatura e de umidade, cir- culação de ar, medidas contra incêndio, capacidade de público etc. Essas e outras tantas questões devem fazer parte disso que comumente se chama facility report. Isso pode ser determinante para os em- préstimos. Alguns emprestadores podem demandar instalações especiais para o permitir o empréstimo de suas obras e cabe a você avaliar a viabilidade disso. O transporte de pessoas é a outra parte desse raciocínio. Você deve se responsabi- lizar por pensar a logística necessária para que as pessoas que trabalham no proje- Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste PRODUÇÃO CULTURAL 45 44 to, artistas e acompanhantes cheguem ao local do evento, e também deve pensar nos meios disponíveis para que seu públi- co chegue ao evento. Dependendo do lo- cal e das dificuldades de acesso a ele, pode fazer-se necessária a previsão de meios de transporte exclusivos para seu público, como ônibus ou vans. Mais uma vez, o trabalho está em equa- cionar tempo x dinheiro x segurança. E essa estratégia deve contemplar não apenas deslocamentos, mas também a permanên- cia das equipes no local, se este for diferente da sua cidade de residência. Passagens, hos- pedagem, alimentação e deslocamentos lo- cais compõem o checklist básico. Seu evento tem venda de ingressos? Caso positivo, você vai precisar de uma bilheteria. Então vai precisar prever as formas de pagamento com que preten- de trabalhar. Praticidade é a ordem do dia. Quanto mais prático, mais rápido o atendimento, menos tempo de fila para o visitante. E tenha claro o destino dos recursos arrecadados, tanto naquele dia quanto em relação à composição de re- ceitas do projeto. Lembre-se de que a bilheteria não é apenas o ponto comercial onde o públi- co vai adquirir, presencialmente, ingres- sos para acessar o projeto. Vai ser na bilheteria que o controle e a contagem do público acontecerá. Identifique os tipos de entrada (ingresso cheio, meia- -entrada, gratuidades), faça ingressos numerados, mantenha canhotos de con- trole e fique atento às regras de distri- buição dos ingressos, principalmente se você estiver trabalhando com recursos públicos ou incentivados. Se a entrada ao seu evento é gratui- ta, ainda assim você deve contar com algum tipo de ponto de apoio e controle de entrada/frequência, no mínimo para contabilizar o seu público para seu rela- tório de execução e prestação de contas. E como? Contadores de mão ou aparatos ultramodernos e tecnológicos? Tanto faz, desde que você consiga contabilizar seu público. Paralelamente à contagem, é importante que seu público tenha um local onde possa ter mais informações a respeito do projeto. Seja qual for a solução adotada, não se esqueça de treinar e capacitar todos os que estarão em contato com seu pú- blico. O público precisa se sentir acolhi- do, seguro e bem informado por aqueles designados a recebê-lo (equipe de apoio, monitores, guias etc.). Evento aberto: seu público vai pre- cisar circular e ser orientado enquanto estiver lá dentro. Sinalização e orienta- dores são fundamentais. A sinalização de um evento é algo tão fundamental que, muitas vezes, demanda uma equi- pe inteira para pensar nessa orienta- ção espacial. É preciso identificar rotas, indicar caminhos, preservar rotas de fuga, identificar entrada, saída, saída de emergência, sinalizar banheiros, extintores de incêndio, lixeiras. A sinalização de um evento tem tam- bém uma segunda intenção, para além de orientar o público e indicar serviços, que é o compartilhamento de conteúdos. No caso de uma exposição de arte, por exem- plo, identificação de obras, artistas, con- textos históricos, influências, sugestões de roteiros de visitação são informações necessárias para a experiência que se quer que o público tenha. Interativa ou não, a sinalização localiza o visitante desde o seu ingresso até a sua saída. No espaço, é importante contar com orientadores de público, bem treinados e prestativos que fornecerão todo tipo de informação para o público a res- peito daquele evento. Os orientadores devem ser capacitados a ponto de se apropriarem do evento, do projeto, dos seus objetivos. Quanto mais envolvi- dos e engajados com os objetivos, mais preparados e estimulados estarão para acolher o público esperado. Dependendo do tipo e do tamanho do seu evento, você pode querer incluir ser- viço de comida e bebida entre os disponí- veis para o público. Neste caso, você vai precisar observar a legislação vigente no que diz respeito ao recebimento, prepa- ro, acondicionamento, armazenamen- to, transporte, exposição, consumo e comercialização desses alimentos e bebidas, além de consultar as autorida- des sanitárias locais. Dentro do mesmo espectro da mani- pulação de comida e bebida, está o ge- renciamento de resíduos perecíveis ou não. Dispor de lixeiras, preferencialmen- te separadas por tipo, é a primeira de muitas necessidades. O que fazer com o lixo descartado é a outra parte desse pro- blema. Lembre-se, o gerenciamento e o descarte correto do lixo são atitudes res- ponsáveis e sustentáveis e que envolvem saúde pública. O lixo reciclável deve ser separado e destinado a cooperativas de reciclagem. Existem várias, e é possível estabelecer parceria com elas para desti- nação correta deste lixo. O mais complicado será a destinação do lixo orgânico, porque este, sim, tem potencial de contaminação e pode acar- retar problemas de saúde e para o meio ambiente. O Brasil possui uma Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que buscaorganizar a forma como o país lida com seu lixo. A PNRS trata dos resíduos que podem ser reciclados e reaproveita- dos e também dos rejeitos que não po- dem. Busquem informações a respeito da coleta de lixo no local do seu evento, de modo a adequarem-se às necessidades e evitar problemas com as autoridades, multas, suspensão de alvarás e, claro, ris- co de contaminação e riscos à saúde da- queles envolvidos no seu projeto. Normas de segurança é outro desses assuntos que mereceriam um artigo pró- prio, tantas são as questões a serem consi- deradas: alvarás de funcionamento, segu- ro de responsabilidade civil, rotas de fuga, saídas de emergência, medidas contra in- cêndio (extintores, detectores de fumaça, portas corta-fogo), seguranças, bombei- ros, ambulância, posto médico etc. Quan- do a sua ação acontece em um ambiente estruturado para receber eventos, muito provavelmente ele já contará com uma sé- rie de medidas de segurança (vale verificar com a equipe local quais são elas para que você trabalhe nas que estão faltando). Por outro lado, se o evento acontecer em uma estrutura temporária levanta- da apenas para este fim, você precisará prever e providenciar tudo. A dica nós já passamos: procure o Corpo de Bom- beiros local. Eles poderão orientá-lo(a) a respeito do que será necessário para obtenção de alvarás de funcionamento e para a garantia da segurança patrimonial e das pessoas. Dependendo da quantida- de de pessoas esperadas, será necessário dispor de bombeiros e também de am- bulâncias, por vezes com socorristas, por vezes com médico. Para além do cumprimento das nor- mas de segurança, não se esqueça de contratar seguros. Existem diversos ti- pos de seguros e coberturas no mercado. Seguros de responsabilidade civil são instrumentos de simples contratação e relativamente baratos, diante da abran- gência da cobertura. Procure um corre- tor especializado. Não subestime a necessidade de atendimento das normas de segurança. Elas salvam vidas e nos protegem de multas e processos. Agora que é seguro, é impossível falar em eventos sem falar em acessibilidade. Existem dois aspectos a se considerar na execução do seu evento: (a) acessibilidade física e (b) acessibilidade de conteúdo. Você quer que todos os públicos pos- sam participar do seu evento e para isso todos precisam, fisicamente, conseguir acessá-lo. Existe legislação específica para isso e, de novo, escritórios e con- sultorias que podem ser contratados para auxiliá-lo no desenvolvimento de um plano: rampas de acesso, piso tátil, elevadores e plataformas elevatórias são algumas das coisas a serem con- sideradas. Além disso, é fundamental que a equipe que recebe o público este- ja preparada para receber pessoas com deficiências de diferentes tipos e saiba a forma correta de agir nas diversas situa- ções. Uma vez dentro do evento, a pes- soa com deficiência deve poder circular em segurança e acessar os conteúdos. São várias as opções de acessibilidade de conteúdo, desde obras táteis, mate- riais em braile, em áudio, uso de fonte ampliada, opção de alteração de con- traste, linguagem simples, descrição de imagem. Preocupe-se com esses aspec- tos ainda durante o seu planejamento. Tenha em mente que não é papel do produtor saber de tudo. Ninguém espera isso de você. Produção de eventos é um tema tão específico e tão complexo que existem cursos e mais cursos, técnicos, de graduação, de especialização e até de MBA a respeito. Cabe ao produtor saber que essas de- mandas existem, que precisam de sua atenção, que reconheça as suas limita- ções e saiba a hora de buscar ajuda pro- fissional especializada. Referências ANJOS, Moacir dos. Local/global: arte em trânsi- to. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. BRANDT, Leonardo. O poder da cultura. São Pau- lo: Peirópolis, 2009. BOTELHO, Isaura. Dimensões da cultura: políti- cas culturais e seus desafios. São Paulo: Edições SESC, 2016. CEREZUELA, David Rosselló. Planejamento e avaliação de projetos culturais: da ideia à ação. São Paulo: Edições SESC, 2015. Guia do Artista Visual: Inserção e Internacionali- zação. Unesco e Ministério da Cultura, 2018. Dis- ponivel em: http://cultura.gov.br/wp -content /uploa - ds/2018/12/Guia-do-Artista-Visual.pdf OLIVIERI, Cristiane; NATALE, Edson. Guia Brasilei- ro de Produção Cultural: 2013-2014. São Paulo: Edições Sesc SP, 2013. HOLLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Relatórios da Agenda 21 da Cultura. Disponíveis em: http://www.agenda21culture.net/home SILVA, Liliana Souza e. Sustentabilidade na cul- tura: da diversidade cultural à sustentação financeira. In: II SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE POLÍTICAS CULTURAIS. Resumo dos trabalhos. Rio de Janeiro: Casa Rui Barbosa, set. 2011. Disponível em: http://www.casaruibarbosa. gov.br/dados/DOC/palestras/Politicas_Cultu- rais/II_Seminario_Internacional/FCRB_Liliana_ Sousa_e_Silva_Sustentabilidade_na_cultura.pdf THIRY-CHERQUES, Hermano. Projetos culturais: técnicas de modelagem. 2a ed. rev. Rio de Janei- ro: Editora FGV, 2008 VALIATI, Leandro; FIALHO, Ana Letícia do Nasci- mento (ORG). Atlas econômico da cultura bra- sileira: metodologia I. Porto Alegre: Editora da UFRGS/CEGOV, 2017 _____________. Atlas econômico da cultura brasileira: metodologia II. Porto Alegre: Editora da UFRGS/CEGOV, 2017 VELHO, Gilberto. “Observando o familiar”. In ______________. Individualismo e cultura: no- tas para uma antropologia da sociedade con- temporânea. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1980. Conclusão Este fascículo buscou trazer um ma- peamento geral do trabalho do produtor e dos aspectos que precisam estar no seu horizonte quando se quer tirar um proje- to do papel e executá-lo. Entender o con- texto de onde se atua, o projeto geral de condução da cultura no país, passando pelo aspecto organizador do planejamen- to e do passo a passo de estruturação do projeto em busca da construção de uma estratégia foi o caminho aqui percorrido. Avaliando mais a fundo a atuação do produtor, foi possível perceber que sua ativi- dade é fundamental para o desenvolvimen- to cultural do país. Ao tirar ideias do papel, você não executa um trabalho simples e se torna um agente de transformação. Concluímos que cada produtor(a) é portador(a) do potencial de transformar vi- das e fazer a diferença. Use sem moderação. Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste PRODUÇÃO CULTURAL 47 46 Guabiras (Ilustrador) É cartunista, autor de histórias em quadrinhos e de muitos personagens. Publicou mais de 5 mil tirinhas em veículos como jornais, fanzines, livros (antologias), revistas (MAD-SP, Gibi Quântico-SP, Tarja Preta-RJ, entre outras) e na web, entre eles, no jornal EXTRA de Nova York (EUA) e na obra Marcatti 40 (Ugra/SP). Recebeu, em parceria, 3 troféus HQMIX e o Troféu Ângelo Agostini de “Melhor Cartunista de 2016”, as maiores comendas de quadrinhos do país. REALIZAÇÃOAPOIO CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS ESTRATÉGIAS DE CULTURA E ARTE PARA O FUTURO Marcela Amaral (Autora) Graduada em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP-SP) e em História pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Cursou MBA em Gestão de Bens Culturais na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Atua na área de produção cultural desde 2001. Trabalhou em importantes galerias paulistanas como Millan e Nara Roesler e também em escritórios de produção cultural como Arte3. Como autônoma, atuou em grandes eventos como a 27ª e 29ª Bienal Internacional de São Paulo, na I Bienal do Fim do Mundo em Ushuaia (Argentina), entre outras importantes mostras. Foi produtora executiva no Instituto de Cultura Contemporânea (ICC-SP), onde coordenou a produção do World Biennial Forum, ocorrido em São Paulo (2014), entre outras atividades. Hoje, responde pelo setor de planejamento e operação da Fundação Bienal de São Paulo. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidente: João Dummar Neto Diretor Administrativo-Financeiro:André Avelino de Azevedo Gerente Geral: Marcos Tardin Gerente Editorial e de Projetos: Raymundo Netto Gerente TV O POVO: Chico Marinho Analistas de Projetos: Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerente Pedagógica: Viviane Pereira Coordenadora de Cursos: Marisa Ferreira Designer Educacional: Joel Bruno | CURSO CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS Coordenador Geral, Editorial e Estabelecimento de Texto: Raymundo Netto Coordenadora de Conteúdo: Daniele Torres Assistente Editorial Emanuela Fernandes Projeto Gráfico e Edição de Arte: Andrea Araujo Designer Gráfico: Carlos Weiber Ilustrador: Guabiras Roteirista, Locutora e Mediadora (radioaulas): Lílian Martins Produtora: Luísa Duavy ISBN: 978-65-86094-49-7 (Coleção) ISBN: 978-65-86094-50-3 (Fascículo 3) Todos os direitos desta edição reservados à: Este fascículo é parte integrante do projeto Estratégias de Cultura e Arte para o futuro: capacitação de agentes culturais, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (SecultFOR), sob o nº 02/2020. Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 fdr.org.br fundacao@fdr.org.br
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