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 O ABANDONO AFETIVO E A EXCLUSÃO POR INDIGNIDADE
AFFECTIVE ABANDONMENT AND EXCLUSION FOR INDIGNITY
 Barbara Aniele da Silva*
Felipe Viana**
RESUMO
O presente artigo científico tem o objetivo de realizar uma reflexão mais apurada sobre o instituto da indignidade ante um caso de abandono afetivo, buscando demonstrar sua real atuação frente à responsabilidade civil. Pela ausência de disposição normativa que trate expressamente o assunto o tema é bastante polêmico e traz diversas discussões no campo doutrinário e jurisprudencial. O método utilizado na investigação é o hipotético-dedutivo de abordagem qualitativa e natureza bibliográfica em razão de o tema do abandono afetivo ter um cunho estritamente social que pode ser observado, através do estudo de doutrinas e documentos históricos que contribuam para o desfecho da pesquisa. Demonstra-se, assim, que a omissão dos genitores no cumprimento de suas obrigações relativas ao poder familiar constitui elemento suficiente para caracterizar um dano indenizável. Necessário, também, será adentrar na visão dos tribunais brasileiros, no intuito de destacar seus posicionamentos sobre o tema a que este trabalho se dispôs a tratar. Espera-se concluir a pesquisa, tendo como objetivo a possibilidade de incluir dentre as hipóteses de indignidade exclusão do indigno envolvendo abandono afetivo quando presente o seu requisito ensejador, qual seja, a omissão dos genitores no seu dever maior que se estabelece pelo cuidado com a criança. 
Palavras-chave: Afeto. Abandono Afetivo. Indignidade. Responsabilidade Civil. Exclusão do indigno.
ABSTRACT
The objective of this scientific article is to carry out a more refined reflection on the institute of indignity in the face of a case of affective abandonment, seeking to demonstrate its real action in the face of civil responsibility. Due to the lack of a normative disposition that deals expressly with the subject, the subject is quite controversial and brings several discussions in the doctrinal and jurisprudential field. The method used in the research is the hypothetical-deductive qualitative approach and bibliographic nature because the subject of affective abandonment has a strictly social character that can be observed, through the study of doctrines and historical documents that contribute to the outcome of the research. It is thus demonstrated that the omission of the parents in the fulfillment of their obligations regarding family power is sufficient element to characterize an indemnity. It will also be necessary to enter into the Brazilian courts' view, in order to highlight their positions on the subject that this work was prepared to deal with. It is hoped to conclude the research, aiming at the possibility of including among the hypotheses of indignity exclusion of the unworthy one involving affective abandonment when it presents its predatory requirement, that is, the omission of the parents in their greater duty that is established by the care with the kid.
Keywords: Affect. Affective Abandonment. Indignity. Civil responsibility. Exclusion of the unworthy.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como fundamento dar uma ampla visão sobre o abandono afetivo e suas consequências na vida da criança, verificando como isso poderia ter uma eficácia junto ao instituto da indignidade.
Sabemos que o cuidado, o carinho e a forma pela qual a criança recebe o afeto, de forma geral, é requisito de suma importância para construção de sua personalidade e tem grande influência no adulto o qual irá se tornar. Diante disso, quando os genitores deixam de exercer esse dever de cuidar, agindo com indiferença para com sua prole, ocorre o abandono afetivo. 
No que tange à responsabilização civil relativa ao abandono afetivo, observamos que este gera danos psicológicos irreparáveis e repercutem por toda uma vida, onde os prejuízos e frustrações que dele decorrem atualmente já ensejam indenização pelo dano moral. 
A relação afetiva, apesar de sua extrema importância sempre foi um tema pouco explorado, culminado na questão do abandono afetivo, que tem trazido muitos males para a vida social. Desde o Código de 1916 sempre existiu uma preocupação maior em proteger o patrimônio, até chegarmos, a fase de repersonalização do direito de família que atualmente vem ganhado espaço no cenário jurídico nacional.
O afeto é um valor, inerente à formação da dignidade humana, tendo como fundamento o amor e o dever de convivência. Observa-se que desde que o Estado passou a tutelar o afeto que rege a família, muito se vem discutindo e aferindo as mudanças decorrentes destas disposições. Constata-se que há uma tendência na ampliação das hipóteses previstas em lei, visando à inclusão da figura do abandono afetivo.
	Nesse sentido, outras formas específicas de questionamentos são abordadas na pesquisa como a questão da afetividade no ordenamento jurídico, as proposições legais de indignidade sucessória, as conjecturas doutrinárias e jurisprudenciais de indignidade sucessória e uma breve análise das propostas do projeto de lei nª 118/2010. 
	Desse modo, teceremos noções a respeito da recente roupagem normativa, constante em nossa Constituição Federal de 1988, no tocante aos princípios da Dignidade da Pessoa Humana, Afetividade, bem como abordaremos acerca do instituto das hipóteses de exclusão por indignidade de forma sintética para dar ênfase ao tema supracitado.
	Para as considerações, o estudo será elaborado por meio de pesquisa descritiva de abordagem bibliográfica e documental, com técnicas de documentação indireta, tendo como principais fontes, publicações em legislações específicas, livros de renomados autores da área de Direito Civil e Processo Civil, bem como, artigos científicos.
	Com esta perspectiva, a pesquisa divide-se em cinco seções: a primeira seção se organiza pelos dizeres introdutórios como objetivos, relevância do tema e aspectos metodológicos; a segunda família em uma perspectiva constitucional; a terceira analisa principiologia constitucional aplicada a família; a quarta verifica as proposições acerca da indignidade sucessória e; a quinta realiza uma análise das propostas do Projeto de Lei nª 118/2010. 
Portanto, este trabalho justifica-se pela relevância do tema no tocante à defesa do respeito e da dignidade das pessoas, haja vista que, embora o direito de herança seja garantido aos herdeiros, estes não serão merecedores de tal benefício, quando situações de abandono afetivo restarem comprovadas.
2 A FAMILIA EM UMA PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL
Com a promulgação da Carta Constitucional de 1988, a entidade familiar assume novas e importantes diretrizes de relevância quanto à tutela de diretos de seus membros, e, em especial, à promoção e à proteção de crianças e adolescentes com importantes ressalvas nas políticas públicas, recursos públicos e outros parâmetros, como aduz Jardiel Correia (2016, p. 9):
No âmbito familiar, vão se suceder os fatos elementares da vida do ser humano, desde o nascimento até a morte. No entanto, além de atividades de cunho natural, biológico, psicológico, filosófico, também é família o terreno fecundo para fenômenos culturais, tais como as escolhas profissionais e afetivas, além da vivência dos problemas e sucessos. 
Nota-se, que é nesta ambientação primária que o homem se distingue dos demais, pela susceptibilidade de escolhas de seus caminhos e orientações, formando grupos onde desenvolve sua personalidade, na busca da felicidade – aliás, não só pela fisiologia, como igualmente, pela psicologia, pode-se afirmar que o homem nasce para ser feliz. O autor alude, acentuadamente, aos fatores necessários do crescimento do ser humano, vez que é na família que a criança e ao adolescente aprendem a tomar suas decisões e se deparam com os limites que a sociedade impõe.
O Direito de Família, dia após dia, tem seu processo evolutivo alastrado com mais incidência em diversos aspectos. Isso se mostra nas diversas formasnas quais as famílias são reconhecidas por nossos tribunais e, principalmente, pela doutrina, sendo necessário, então, que o Direito não fique inerte diante desta fase sistemática de crescimento.
Ao longo da história, inexistia igualdade entre o filho havido fora do casamento e o havido dentro do casamento. O próprio Estado ilegitimava esses filhos em seu campo normativo, que não poderiam sequer ser registrados em nome do pai. Era, portanto, excluído afetivamente do meio familiar. Em 1988, com a promulgação da Constituição Cidadã, passou-se ater mais equilíbrio, por tratá-los com isonomia, passando a haver igualdade entre os filhos oriundo de relação conjugal, extraconjugal e adoção. Nessa linha de pensamento, entende Adriana Pereira Dantas Carvalho (2012, p.46 apud Jardiel Correia, 2016, p.11):
Todos nós, seres humanos, vivemos inseridos em um contexto familiar, mesmo estando fazendo parte de uma família monoparental, formada apenas pelo filho e somente um dos pais. Falar em família se tem logo à ideia de afeto, amor entre pessoas parentas por consanguinidade, ou melhor, dizendo, por vínculo sanguíneo ou por afinidade. Mas dessas relações também surgem diversos conflitos das mais diferentes ordens, sejam elas vinculadas à traição, ao abandono afetivo ou a falta de assistência material decorrente do descumprimento de deveres referentes ao poder familiar tão consagrado no Código Civil Brasileiro, na parte que trata do Direito de Família, na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Criança e Adolescente.
Pelo contexto, notamos que a formação da família tem alçado voos mais altos. Isso se mostra por não só reconhecê-la pela ótica da sanguinidade de seus membros, mas também pelos laços de afinidade e afetividade formados. Tal aspecto não era tão constante ao longo da história, como se reproduz nas palavras de Paulo Lôbo (2011, p. 87 apud Jardiel Correia 2016, p.13):
Sempre se atribuiu à família, ao longo da história, funções variadas, de acordo com a evolução que sofreu, a saber, religiosa, política, econômica e procracional. Sua estrutura era patriarcal, legitimando o exercício dos poderes masculinos sobre a mulher — poder marital, e sobre os filhos — pátrio poder. As funções religiosa e política praticamente não deixaram traços na família atual, mantendo apenas interesse histórico3, na medida em que a rígida estrutura hierárquica foi substituída pela coordenação e comunhão de interesses e de vida.
Por seu turno, a afetividade outrora não possuía tamanha envergadura em nosso meio jurídico como atualmente tem sido visto. Percebemos que a família, por muito tempo, fora solidificada com raízes patriarcais, nas quais o homem detinha o condão de proferir suas leis domésticas e ditar seus parâmetros tidos como os mais coerentes. Todavia, nos dias atuais, a família se apresenta de maneira mais estruturada, mais ampla e agregadora, haja vista as disposições constitucionais e infraconstitucionais no que concerne à tutela de todo e cada membro da entidade familiar. Verificamos que tratar das disposições legais inerentes ao Direito de Família não é tarefa fácil, pois se trata de relações humanas e conjugais.
Assim, estamos tratando acerca de direitos de elevada importância, pois, em relação a este instituto, são discutidos temas de grande relevância, como os casos de união estável e casamento e adoção homo afetivos. É nesse rumo que surge a discussão sobre se o afeto, hoje muito discutido em nossa doutrina e jurisprudência, seria um bem jurídico a ser tutelado. Com isso, é possível compreender a tipificação constitucional, demonstrando a efetiva preocupação com aqueles que se encontram em peculiar situação de desenvolvimento. É o que se entende da leitura do artigo 227 da Constituição Federal:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988):
Partindo do pressuposto de que há respaldo constitucional concernente à tutela dos direitos das crianças e dos adolescentes, igualmente destaca-se que além desta garantia superior, há, no plano infraconstitucional, idêntica exigência, conforme dispõe o artigo 1.634 do Código Civil de 2002, em seus incisos I e II: Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: I - dirigir-lhes a criação e educação; II - tê-los em sua companhia e guarda.
Como se não bastasse a garantia dos direitos abordados na Constituição Federal, o legislador derivado cuidou ainda, em agregar mais subsídios à tutela dos direitos das crianças e dos adolescentes, vez que elencou textualmente no Código de Civil de 2002 as competências que os pais devem seguir por lei.
3 PRINCÍPIOS CONCERNENTE AO ABANDONO AFETIVO
A análise acerca dos princípios relacionados ao abandono afetivo torna-se necessária, na medida em que os princípios exprimem com mais forma e relevância a estruturação das relações familiares que se pretende discutir.
3.1 DA AFETIVIDADE
O princípio da afetividade, ponto norteador do presente artigo, tem seu reconhecimento já firmado em no ordenamento jurídico pátrio. Apesar de implícito na Carta Constitucional, o legislador, sabiamente, fez questão de pautar no corpo do Texto Maior as determinações legais aos genitores em relação às suas proles, assegurando a sua proteção integral com absoluta prioridade. Desse modo, protegeu aqueles que ainda estão em fase de formação, com propensão de se
Formar um cidadão melhor pra sociedade.
Verificamos que o afeto tomou espaço no âmbito jurídico. Ademais, ainda são aventados questionamentos a respeito da monetarização do afeto nos tribunais brasileiros. Por certo que o dever de cuidado representaria a feição do afeto, negligenciado por aqueles que, conforme à lei, deveriam tutelá-los.
Para tanto, o abandono afetivo, levado ao crivo do Judiciário, deve ser manuseado com absoluta prioridade. O Poder Judiciário não deve ser acionado diante de qualquer aborrecimento rotineiro, pois a bagatela processual emperra a marcha processual, como hoje é possível enxergar em tantas outras ações judiciais, cujo objeto restringe ao dano moral não provado. Por ser medida excepcional, é necessária à análise criteriosa dos danos à personalidade ali causados. 
É expressa a previsão em lei da reparação dos danos à personalidade, a honra da pessoa física. Vê-se que é possível conjeturar o dano moral em várias perspectivas previstas em lei. Esse é o entendimento sustentado por Maria Berenice Dias (2015, p. 85):
O afeto talvez seja apontado, atualmente, como o principal fundamento das relações familiares. Mesmo não constando a expressão afeto do Texto Maior como sendo um direito fundamental, pode-se afirmar que ele decorre da valorização constante da dignidade humana e da solidariedade.
Notamos, do texto acima transcrito, a ideia central do presente artigo, na medida em que o afeto se encontra implicitamente em nosso ordenamento jurídico, e que decorre expressamente do princípio da Dignidade da Pessoa Humana, por este ser um macroprincípio. 
A partir desta constatação, verificamos a real importância da presença paterna e materna no seio familiar. Sua participação se soma enormemente para o natural desenvolvimento da personalidade das crianças e adolescentes. Por tais razões, uma efetiva negligência poderá gerar sérias consequências, vez que é nessa fase que a prole extraí dos genitores os limites e imposições, bem como valores fundamentais para uma boa convivência social, não restando dúvidas quanto aos prejuízos decorrentes de uma ausência paterna. Segundo nos ensina Flávio Tartuce (2017, p. 98):
Essa nova decisão, a qual se filia, demonstra um profundo impacto do reconhecimento do afeto como verdadeiro princípio da nossa ordem. Partindo-se para a análise técnica da questão, pontue-seque o dever de convivência dos pais em relação aos filhos menores é expresso pelo art. 229 da CF/1988 e pelo art. 1.634, incs. I e II do CC/2002. Se a violação desse dever – que se contrapõe a um direito subjetivo equivalente -, causar dano, estarão presentes os requisitos do ato ilícito civil (art. 186 do CC/2002). 
Evidenciamos que o ordenamento jurídico guarda os artigos fundamentadores do impacto do afeto como princípio, como se vislumbra do referido pelo artigo 229 da Constituição Federal e pelo artigo 1.634, incisos I e II do Código Civil de 2002. Em consonância com o que foi relatado, aduz Kelly Lisita Peres (2018, p. 3) que:
Abandono material é um assunto sério que gera consequências de natureza física e psicológica para muitas pessoas porque envolve não somente a questão financeira como também a emocional. O delito em questão também é considerado como abandono familiar ou ainda sentimental. Entretanto, abandono material não é o pior, mesmo porque o Direito tenta remediar essa falta, oferecendo alguns mecanismos de cobrança e sanção aos pais abandônicos. 
O autor aponta, como sendo fundamental, a função paterna no seio familiar, vez que há também o abandono material, como corriqueiramente notamos no respaldo expresso na esfera criminal, com disposição nos artigos 244 a 246 do Código Penal.
Os aludidos artigos preveem como crime os abandonos intelectual e material. Contudo, aliado a esse abandono material, percebe-se que há, infelizmente, o abandono psíquico e afetivo.
Rodrigo da Cunha Pereira (2018, p. 65) ensina ainda acerca da importância da função paterna, como fonte basilar na formação e desenvolvimento do filho, apregoando que:
Sua função básica, estruturadora e estruturante do filho como sujeito, está passando por um momento histórico de transição de difícil compreensão, onde os varões não assumem ou reconhecem para si o direito/dever de participar da formação, convivência afetiva e desenvolvimento de seus filhos. Por exemplo: o pai solteiro, ou separado, que só é pai em fins de semana, ou nem isso; o pai, mesmo casado, que não tem tempo para seus filhos; o pai que não paga, ou boicota pensão alimentícia e nem se preocupa ou deseja ocupar-se com isto; o pai que não reconhece seu filho e não lhe dá o seu sobrenome na certidão de nascimento. Enfim, a ausência do pai, e dessa imago paterna, em decorrência de um abandono material e/ou psíquico, tem gerado graves consequências na estruturação psíquica dos filhos e que repercute, obviamente, nas relações sociais.
Esclarecedoras são as palavras de Rodrigo da Cunha Pereira, sustentando que as obrigações dos genitores não se resumem ao sustento material: ser pai ou mãe é sinônimo de garantir o sustento material e moral dos filhos. É necessário, acima de tudo, ter consciência da maternidade e paternidade. A escolha de ter um filho independe da vontade deste, mas de seus pais. Com isso, surge seu dever de educar os filhos. Vale mencionar que o Estado não obriga o afeto ao ser humano, mas o dever de cuidado.
3. 2 DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Discutir o que venha ser o Melhor Interesse da Criança e do Adolescente não é caminho tão fácil a ser peregrinado, dado que o melhor interesse de uma pessoa pode não coincidir com o melhor de interesse de outrem. Não obstante isso, quando estamos frente ao caso concreto de ausência de cuidados dos genitores, se procura, paliativamente, encontrar o meio mais sensato e coerente para as crianças e os adolescentes, exigindo daquele que irá julgar a necessária cautela. 
Com base no exposto no acima, Extrai-se o Princípio do Melhor Interesse da Criança do artigo 227, caput, da Constituição Federal:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.(BRASIL,1988)
E também no Estatuto da Criança e do Adolescente em seus artigos 3º, 4º, 5º:
Art. 3º A criança e ao adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
O referido princípio não nasceu somente com o artigo 227 da CF, uma vez que já era previsto na Declaração dos Direitos da Criança, adotada pela Assembleia das Nações Unidas de 20 de novembro de 1959 e ratificada pelo Brasil. Neste sentido afirma Daniele Freitas (2016, p. 2):
 
Existe uma necessidade proteção que também já podia ser vista desde 1924, com a Declaração de Genébra, a qual determinava que “a necessidade de proporcionar à criança uma proteção especial”, no mesmo sentido, a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas de 1948 que determinava “direito a cuidados especiais” e também a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Pacto de San José, 1969), o qual possuía o artigo 19 “Toda criança tem direito às medidas de proteção que na sua condição de menor requer, por parte da família, da sociedade e do estado”. A disposição do princípio na Constituição reafirma o compromisso do Estado brasileiro na proteção das pessoas em desenvolvimento.
Conforme acima mencionado a uma bagagem histórica acerca do princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, na qual se firmou uma estrutura onde houve significativas mudanças relações familiares, de modo que o filho deixa de ser considerado objeto para ser alçado a sujeito de direito, ou seja, a pessoa humana merecedora de tutela do ordenamento jurídico, mas com absoluta prioridade comparativamente aos demais integrantes da família de que ele participa. Cuida-se, assim, de reparar um grave equívoco na história da civilização humana em que o menor era relegado a plano inferior, ao não titularizar ou exercer qualquer função na família e na sociedade, ao menos para o direito.
4 DA SUCESSÃO
Direito das Sucessões é a parte especial do Direito Civil que regula a destinação do patrimônio de uma pessoa depois de sua morte. Refere-se apenas a pessoas físicas. Disciplina, concisamente falando, os efeitos da morte de uma pessoa natural, na área do Direito Privado. Como refere-se Luiz Fernando Perreira (2016, p.5) Sucessão é:
É a transmissão de bens, existência de um adquirente de valores, que substitui o antigo titular. Substituição inter vivos ou causa mortis de uma pessoa a outra de direito material. Transferência da herança, ou do legado, por morte de alguém, ao herdeiro ou legatário, seja por força de lei, ou em virtude de testamento. Contempla as normas que norteiam a superação de conflito de interesses envolvendo a destinação do patrimônio da pessoa falecida.
Conforme Princípio de Saisine esse transmissão aos herdeiros ocorre, imediatamente, na data de sua morte, onde se estabelece que a posse dos bens do "de cujus" se transmitam aos herdeiros, naquele momento. Esse princípio foi consagrado em nosso ordenamento jurídico pelo art. 1.784, do Código Civil “Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”. 
O Direitodas Sucessões vem evoluindo desde o Direito Romano onde o pater famílias tinha absoluta liberdade de dispor dos seus bens para depois da morte, mas, se falecesse sem testamento, a sucessão se devolvia, aos herdeiros. Conforme Orlando Gomes (2015, p.22), existiam três classes na sequencial Sui, Agnati, Gentiles:
Heredes sui et necessarii eram os filhos sob pátrio poder, a mulher in manu, quia filiae loco est e outros parentes sujeitos ao de cujus.
Agnati, as pessoas sob o mesmo pátrio poder ou que a ele se sujeitariam se o pater familias não estivesse morto. A herança não era deferida a todos os agnados, mas ao mais próximo no momento da morte. 
Gentiles, os membros da mesma gens.
Em seguida, o sistema foi substituído pelo direito pretoriano, que admitiu quatro ordens sucessíveis, e os mais próximos excluíam os mais remotos. Passando pelo Direito germânico primitivo onde a sucessão baseava-se na compropriedade familiar, vindo, em primeiro lugar, os filhos varões e, em seguida, os irmãos do defunto, tios paternos e maternos. O direito de família passou por diversas evoluções como a da Lei n. 8.971, de 29 de dezembro de 1994, que criou, nas relações concubinárias, o direito de sucessão em favor do companheiro sobrevivente, sobre a totalidade da herança, na falta de descendentes ou ascendentes. Até a chegada da a Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que instituiu o Código Civil vigente, apresentando como principal inovação no direito sucessório a inclusão do cônjuge como herdeiro necessário e concorrente com descendentes e ascendentes.
Analisando todo esse cenário histórico podemos perceber a quando o direito das sucessões está relacionado com as questões sociais e por esse motivo é que deve o legislador está sempre atento as mutações no âmbito social principalmente no que se refere ao âmbito familiar, afim de que a lei possa ter eficácia junto as necessidades da sociedade.
4.1 CLASSIFICAÇÃO DA SUCESSÃO
A sucessão pode ser classificada em duas espécies: legítima e testamentária. Pode, também, ser classificada em sucessão a título universal e singular. Proclama o art. 1.786 do Código Civil: “A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade”. Quando se dá em virtude da lei, denomina-se sucessão legítima; quando decorre de manifestação de última vontade, expressa em testamento ou codicilo, chama-se sucessão testamentária. Por sua vez, prescreve o art. 1.788 do Código Civil:
Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo. (Brasil,2002).
Como mencionado acima ocorre a sucessão legítima quando, na falta de testamento, defere-se o patrimônio do morto a seus herdeiros necessários e facultativos, convocados conforme relação preferencial da lei. Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves (2017, p. 37) a sucessão legitima é vontade presumida da vontade do de cujus: 
Costuma-se dizer, por isso, que a sucessão legítima representa a vontade presumida do de cujus de transmitir o seu patrimônio para as pessoas indicadas na lei, pois teria deixado testamento se outra fosse a intenção.
No que se refere a sucessão testamentária, sabemos que dá-se por disposição de última vontade. Havendo herdeiros necessários (ascendentes, descendentes ou cônjuge/companheiro), divide-se a herança em duas partes iguais e o testador só poderá dispor livremente da metade, denominada porção disponível. a sucessão testamentária é conduzida pelo testamento, sendo que este instrumento pode contemplar herdeiros, que sucedem a título universal, ou legatários, que sucedem a título singular. Além disso, como menciona Salomão Araújo Gateb (2017, p. 103):
O testamento assume natureza de negócio jurídico por se tratar de uma declaração de vontade que produz efeitos jurídicos, ainda que post-mortem. Assume também o caráter de instrumento solene, pois somente pode ser escrito e sempre atendendo as formalidades previstas na lei, sob pena de ser declarado inválido.
É possível identificarmos uma liberdade mitigada ao autor do testamento, uma vez que mesmo se tratando de ato que expressa sua vontade a lei impõe limites ao direito de testar, existem limites a serem observamos em favor dos herdeiros necessário. Como expresso no Art. 1.846 “Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima”.
A sucessão poderá ser, também, simultaneamente legítima e testamentária quando o testamento não compreender todos os bens do de cujus, pois os não incluídos passarão a seus herdeiros legítimos.
Desta forma, resta claro que a sucessão patrimonial não se reduz à sucessão legítima, uma vez que, ainda que em desuso, a sucessão testamentária conta com ampla regulamentação legal e, muitas das vezes, vem de encontro aos interesses do autor da herança, possibilitando-lhe manifestá-los através de sua disposição de última vontade.
4.1 DA INDIGNIDADE SUCESSÓRIA
 Diante todo exposto acerca do instituto da sucessão, percebe-se a necessidade de dar continuidade às relações jurídicas, mediante a substituição da titularidade, o legislador adotou o princípio da saisine, onde se entende que, com o evento morte, transfere-se o patrimônio do defunto de forma automática para os herdeiros, pois o próprio Código Civil consolida este entendimento em seu artigo 1784: “Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários” (Brasil, 2002). Portanto, os herdeiros legítimos e testamentários são investidos na titularidade, tenham eles ciência ou não. Trata-se de uma transmissão despida de qualquer formalidade, embora este direito de propriedade seja exercido de forma precária. Ao falar de indignidade expressa Salomão Araújo Gateb (2017, p. 135):
A sucessão hereditária assenta em uma razão de ordem ética: a afeição real ou presumida do defunto ao herdeiro ou legatário. Tal afeição deve despertar e manter neste o sentimento da gratidão ou, pelo menos, do acatamento e respeito à pessoa do de cujus e às suas vontades e disposições 178. A quebra dessa afetividade, mediante a prática de atos inequívocos de desapreço e menosprezo para com o autor da herança, e mesmo de atos reprováveis ou delituosos contra a sua pessoa, torna o herdeiro ou o legatário indignos de recolher os bens hereditários. 
A sucessão representa uma expressão real ou presumida da vontade do autor, tendo como base, parâmetro, os laços afetivos criados durando toda uma vida. Entretanto, como bem mencionado pelo autor quando há uma quebra desse vínculo afetivo, praticando o herdeiro algum dos atos previsto no art. 1814 do Código Civil, este se torna indigno. A parti desse ponto é que tem se levantado na doutrina o questionamento acerca de que não seria esse rol taxativo, ser capaz de englobar todas as hipóteses onde a gravidade da quebra desse vinculo representar a exclusão do herdeiro. 
No Direito Civil brasileiro a exclusão do herdeiro da sucessão ocorre por meio de dois institutos: a indignidade e a sucessão. A indignidade atos contra a vida, atos contra a honra e contra a liberdade para testar com exposto no rol do art. 1814 e a deserdação: com a pratica dos atos próprios previstos disposto nos artigos 1.969 e 1.963 do Código Civil. Flávia Teixeira Ortega (2016, p. 5) ao tratar de sucessão aduz:
A Indignidade é a exclusão do sucessor devido ao fato do mesmo ter praticado um ato reprovável contra o autor da herança sendo então punido com a perda do direito hereditário. A indignidade é uma sanção civil que acarreta na perda do direito sucessório. Já a deserdação é a exclusão do sucessor feita pelo próprio autor da herança. Nesta modalidade, a manifestação de vontade é imprescindível. Apenas podem ser deserdados os herdeiros necessários, e na manifestação expressa, feita normalmente em cédulas testamentárias, deve estar explicando o porquê dá deserdação.
A principal diferença se dá em relação fonte de cada um, enquanto aindignidade decorre da lei enquanto a deserdação é uma pena aplicada pelo autor da herança em testamento ao sucessor que tenha praticado qualquer ato previsto em lei.
Feita uma breve analise quantos aos institutos de indignidade e deserdação e suas principais diferenças, adentraremos nas atuais hipóteses de exclusão por indignidade, observando o rol extraído do artigo 1.814 do Código Civil:
Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade. (BRASIL, 2002).
A indignidade é, portanto, uma sanção civil que acarreta a perda do direito sucessório. Segundo Mariana Silva Sinastro (2015, p. 3), “é a privação do direito, cominada por lei, a quem cometeu certos atos ofensivos à pessoa ou ao interesse do hereditando”. 
Todavia, porém, inspira-se o instituto da indignidade como já mencionado “num princípio de ordem pública”, e dessa forma repugna à consciência social de que uma pessoa suceda a outra, extraindo vantagem de seu patrimônio, depois de haver cometido contra estes atos lesivos de certa gravidade. Por essa razão, atinge tanto os herdeiros legítimos quanto os testamentários, e até mesmo os legatários.
Partindo dessa premissa podemos constatar que o abandono afetivo em virtude das drásticas consequências trazidas, seja de cunho material ou psicológico, e também do seu impacto sobre a vida da pessoa ora abandonada, pode se encaixar dentre as hipóteses de exclusão por indignidade, uma vez que pode-se presumir este como sendo um ato lesivo e grave cometido contra o autor da herança. 
A indignidade do herdeiro é requerida através da Ação de exclusão e não pode ser proposta em vida, mas somente após a morte do hereditando, a ação de exclusão como argumenta Carlos Roberto Gonçalves (2017, p. 158):
É uma ação de interesse privado, e não público, de sorte que só aqueles que se beneficiariam com a sucessão poderiam propor a exclusão do indigno. Se o herdeiro legítimo ou testamentário assassinou o hereditando, mas as pessoas a quem sua exclusão beneficiaria preferissem manter-se silentes, o assassino não perderia a condição de herdeiro e receberia os bens da herança, não podendo a sociedade, através do Ministério Público, impedir tal solução.
Entretanto, a Lei 13.532, de 2017, que acresceu o parágrafo 2º ao artigo 1.815 do Código Civil “§ 2º Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério Público tem legitimidade para demandar a exclusão do herdeiro ou legatário”. Antes dessa lei, porém, se autor cometesse o crime previsto no inciso I do art. 1.814 do Código Civil poderia ser excluída da sucessão e não receber a herança dos seus pais. Ocorre que, para isso acontecer, os outros herdeiros deveriam propor ação de indignidade contra. Caso não o fizessem, o herdeiro mesmo tendo matado os pais, em tese, receberia a herança. Isso parece extremamente injusto e contrário à ética geral.
5 ANÁLISE DA PROPOSTA DO PROJETO DE LEI Nª 118/2010 
Segundo Lucimara Barreto (2013, p. 19) a senadora Maria do Carmo Alves, autora do projeto de lei nº 118/2010, esclareceu em sus justificações que seu teor foi extraído das sugestões apresentadas pelo professor Carlos Minozzo Poletto em sua dissertação de mestrado em Direito Civil Comparado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). 
Esse projeto trata da possibilidade de inclusão do abandono afetivo como causa de exclusão por deserdação. Entretanto, afim de que possamos compreender melhor acerca do tema ora abordado, usaremos a proposta de lei como parâmetro para tratarmos sobre a hipótese de uma possível inclusão do abandono afetivo como causa de exclusão por indignidade, demostrando como seria mais eficaz incluir o abandono afetivo como causa de exclusão por indignidade, bem como, faremos uma análise ampla a parte da proposta de lei que pretendia altera o artigo 1.962 do Código Civil, 2002, vejamos: 
A redação vigente do artigo 1.962 (Código Civil, 2002) dispõe: 
Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes: 
I - ofensa física; 
II - injúria grave; 
III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto; 
IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade. (Brasil, 2010)
Propõe o projeto nº 118/2010: 
Art. 1.962. O autor da herança também pode, em testamento, com expressa declaração de causa, privar o herdeiro necessário da sua quota legitimaria quando este: 
I – culposamente, em relação ao próprio testador ou à pessoa com este intimamente ligada, tenha se omitido no cumprimento dos deveres e das obrigações do direito de família que lhe incumbiam legalmente; 
II – tenha sido destituído do poder familiar; 
III – não tenha reconhecido voluntariamente a paternidade ou maternidade do filho durante a sua menoridade civil. 
Parágrafo único. A cláusula testamentária deve ser pura, não podendo subordinar-se a condição ou termo. 
As três causas específicas de privação da legitima elencadas nos incisos do artigo 1.962 contemplam toda espécie de inadimplemento familiar, desde a prestação de alimentos até a punição daquele que praticou alienação parental ou abandono moral. Da mesma forma permite a privação da legítima daquele que não tenha reconhecido voluntariamente a paternidade ou maternidade do filho durante sua menoridade civil ou que tenha perdido, por ato judicial, o poder familiar.
O projeto de lei, no que se refere a modificação no tocante a inclusão do abandono afetivo como causa de deserdação, reflete uma visão atual do cenário jurídico que se espera para melhor eficácia das normas jurídicas quanto as necessidades sociais. Nas palavras de Marcelo Aguiar (2015, p. 2):
A legislação vigente já reconhece o potencial de desumanidade e de lesividade dessas condutas, uma vez que já as considera crime. Mas, apesar disso, ainda não há lei que impeça que o autor desse fato de ter benefícios como herdeiro.
Verificamos assim a intensão do legislador em enquadrar entre as hipóteses de exclusão por deserdação, entretanto como podemos verificar nas palavras de Lucimara Barreto (2013, p. 14) “Seria mais seguro a estrutura do direito das sucessões a inclusão do abandono afetivo como causa de exclusão por indignidade, uma que o rol de legitimados a propor a ação, inclui, inclusive o Ministério público”.
Partindo desse ponto podemos ressaltar a possibilidade de uma nova lei que alcance o abandono afetivo como causa de exclusão por indignidade afim de não somente oferecer uma forma justiça mas também de reconhecer a gravidade e a extensão do dano causado por esse ato. 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O desenvolvimento principal deste estudo fundamentou-se na análise jurídica da afetividade e do instituto sucessório punitivo. No direito Romano a houve uma grande evolução do direito familiar até que fossem reconhecidas as causas de indignidade, que ainda atualmente padecem de total eficácia.
Conforme observado no decorrer do estudo, a família, desde os primórdios, sempre foi um elemento de fundamental importância para o desenvolvimento humano. O objetivo do direito da família atualmente vem se moldando no sentido de que existe uma necessidade de proteger não apenas o patrimônio, mas a considerar a pessoa humana como figura e valor central dessa proteção. 
Uma das maiores transformações no direito de família foi a tutela do afeto, seu reconhecimento dentro das relações familiares. A evolução social quanto à compreensão da família elevou o afeto à condição de princípio jurídico. 
Tanto é que o Direito pátrio já reconhece a união estável como entidade familiar geradora de direitos e deveres,ressaltando então a importância da afetividade como base destas uniões. 
Por conseguinte, o afeto é um dos principais pilares das relações familiares e está diretamente relacionado com a valorização da pessoa e de sua dignidade. 
A afetividade na verdade funciona como um elo de união entre as pessoas e influencia na realização pessoal, visto ser um princípio específico e que se relaciona com a convivência familiar harmoniosa. No cenário contemporâneo em que a família vem sendo cada vez mais reconhecida como instituição essencial para o desenvolvimento e formação humana, a questão afetiva ganha uma maior relevância. 
O que caracteriza a entidade familiar é o campo sucessório, portanto, o princípio da afetividade deveria ter seus efeitos estendidos ao ramo do direito das sucessões, garantido ao titular do direito relativo ao patrimônio a segurança jurídica de direcionar da melhor forma possível o patrimônio construído durante toda uma vida. 
Para atualizar esta questão, principalmente porque muitas foram as mudanças e transformações que atingiram a família enquanto instituição social nos últimos anos, o projeto de lei nº 118/2010 pretendia dar novo tratamento ao instituto da exclusão de herdeiros no que se refere à deserdação. Da mesma forma, pretendendo ampliar a proteção ao testador e a sua vontade, é que se pretende através da inclusão do abandono afetivo como causa de exclusão por indignidade, alcançar a quem romper os laços familiares de forma indigna e que compromete a afetividade não devendo este ter direito a usufruir do patrimônio que será deixado. 
Importante ressaltar que o presente trabalho não teve o escopo de exigir amor de alguém, mas sim de exigir que haja o respeito aos preceitos constitucionais que afastam qualquer forma de negligência parental. 
Ademais, o testamento enquanto a manifestação da vontade do indivíduo e sendo resultado de ação autônoma, consciente e voluntária deve ser respeitado, pois expressa subjetivamente a forma de ver os relacionamentos construídos ao longo da vida; os afetos ou a ausência deles. 
Portanto, conclui-se que o abandono afetivo como causa de exclusão por indignidade do herdeiro justifica-se principalmente levando-se em conta que os efeitos e repercussões deste abandono na vida das pessoas atingidas são irreversíveis. O direito pátrio, em consequência, precisa ser revisto e atualizado a fim de acompanhar as mudanças e transformações que ocorrem nas instituições sociais como a família e também a fim de garantir que em todo e qualquer caso prevaleça a justiça.
REFERÊNCIAS
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S586a Silva, Barbara Aniele da.
			 O abandono afetivo e a exclusão por indignidade / 
 Barbara Aniele da Silva. - João Pessoa, 2019.
 20f.
 Orientador (a): Prof. Felipe Viana.
 TCC (Curso de Direito) –
 Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ
 1. Afeto. 2. Abandono Afetivo. 3. Indignidade. 4. Responsabilidade Civil. 5. Exclusão do indigno. I. Título.
UNIPÊ / BC CDU – 347.635 
 
___________________
*Bacharelanda no 10º período do Curso de Direito do UNIPÊ, turma E. barbaralisboa789@gmail.com
 
**Professor do Centro Universitário de João Pessoa/Cruzeiro do Sul e Advogado.

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