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EMPREENDEDORISMO M Ó D U LO 4 CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS ESTRATÉGIAS DE CULTURA E ARTE PARA O FUTURO 11 ESSA P UBLICA ÇÃO NÃO P ODE S ER COME RCIALI ZADA GRATU ITA APRESENTAÇÃO Trabalhar com arte, cultura e criatividade num país como o Bra-sil não é fácil. Para além dos preconceitos e da falta de recursos, a nossa estrutura educacional (desde o ensino fundamental até o superior) nos ensina muito pouco sobre o que significa ter a arte e a cultura como profissão. Ainda que a situação tenha mudado nos últimos anos, grande parte de nós saiu da faculdade como se tivés- semos saído de uma bolha, sem discutirmos em classe questões bási- cas como planejamento, gestão e finanças. Ou mesmo sobre o que era uma nota fiscal. E por isso, de alguma forma, pagamos o preço. Tanto nós quanto a sociedade muitas vezes colocam a arte/cultura e o mer- cado como antagônicos, dois polos incapazes de se conciliar. Pois bem, cá estamos: o século XXI veio nos mostrar que as coisas não são bem assim. Não vivemos mais o paradigma do “ou” (ou arte ou mercado) e, sim, passamos ao paradigma do “e” (arte e mercado. Arte e negócios. Cultura, criatividade e negócios). Mas para isso precisamos hackear o sistema. O produtor e o artis- ta somente conseguirão fazer valer seu papel de relevância quando conseguirem dialogar em bases semelhantes. Por isso, falar sobre empreendedorismo e negócios no campo da arte, da cultura e da criatividade é tão importante, pois precisamos mostrar que isso não somente é relevante para uma nova imaginação simbólica e para uma cultura mais plural e cívica, mas também é fundamental para apontar novos caminhos de desenvolvimento para o país. Este fascículo tem como objetivo falar sobre empreendedorismo na área cultural e criativa, de uma forma ampla e direta, para que você possa, posteriormente, aprofundar o tema em outras publi- cações. Espero que seja o suficiente para despertar em você a vont ade de “hackear o sistema” e compreender os códigos dos negócios, fazendo valer a sua identidade artística também como uma identi- dade de mercado. 162 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 1 EMPREENDEDORISMO 2.1. Afinal de contas, quem é o empreendedor? A palavra empreendedorismo ain-da é carregada de preconceitos e estereótipos. Se pedirmos para uma pessoa di- zer, sem pensar muito, o nome de um em- preendedor, é quase certo que mais da me- tade das pessoas vai falar algum dos nomes a seguir: Steve Jobs, Sílvio Santos, Bill Ga- tes ou Abílio Diniz. Ainda que o tema tenha mudado muito no Brasil na última década, fruto de um momento de crescimento eco- nômico e do incentivo ao empreendedoris- mo como opção (e não como necessidade), muitas pessoas ainda relacionam empre- ender com sucesso. Surge então a figura do empreendedor-herói, quase um mito nórdico de um ser predestinado. Mas será que é isso mesmo? Peter Drucker, um dos principais res- ponsáveis pelo pensamento sobre a admi- nistração moderna, defende outra coisa: para ele, empreender é um comporta- mento, e não um traço de personalidade. E suas bases são o conceito e a teoria, e não a intuição. Qualquer indivíduo que tenha à frente uma decisão a tomar pode apren- der a ser um empreendedor e se compor- tar empreendedorialmente. Esse tema, na verdade, tem sido cada vez mais estudado, o que demonstra a impor- tância do comportamento empreendedor na sociedade moderna. Os economistas per- cebem que o empreendedor é essencial ao processo de desenvolvimento econômico, porque é o ato de empreender que garan- te o que Joseph Schumpeter, economista austríaco, chama de um processo de “des- truição criativa”, através da qual produtos ou métodos de produção são destruídos e substituídos por novos. Na área da cultura ou da criatividade, tal- vez uma das definições mais interessantes é de Luiz Pondé Barreto. Para ele, “empreen- dedorismo é habilidade de criar e consti- tuir algo a partir de muito pouco ou quase nada. Fundamentalmente, empreender é um ato criativo. É uma concentração de energia no iniciar e continuar um empreen- dimento. É o desenvolver de uma organiza- ção em oposição a observá-la, analisá-la ou descrevê-la. Mas é também a sensibilidade individual para perceber uma oportunida- de quando outros enxergam caos, con- tradição e confusão. É o possuir de compe- tências para descobrir e controlar recursos aplicando-os da forma produtiva.” E para empreender, você precisa abrir uma empresa? Não necessariamente: existem também intraempreendedores (aqueles que empreendem dentro das organizações), empreendedores sociais, culturais, criativos, ou até mesmo aque- les que são empreendedores de iniciati- vas não formalizadas. Portanto, empreender é um com- portamento que pode ser aplicado em diversos momentos e situações de nos- sas vidas. Aliás, é possível percebermos pessoas que são empreendedoras no trabalho, mas não em casa, e vice-versa. O comportamento empreendedor está no Sílvio Santos, no dono da padaria, na pessoa que vende pastel, no artista, no Steve Jobs. E, esperamos, em você! Poderíamos, então, sintetizar toda essa discussão com algo como “vai lá e faz”. O empreendedor é o protagonista é animador da própria transformação e do seu entorno, e protagonistas tomam ati- tudes, executam suas decisões, fazem acontecer. Empreender é se preocupar e se responsabilizar pelo todo e não so- mente pela tarefa que está sendo exe- cutada – e por isso também se relaciona com o conceito de autonomia. Para ajudar na compreensão desse conceito, pode ser interessante falar so- bre o que não é empreender. Para Fer- nando Dolabela, um dos grandes nomes do empreendedorismo no Brasil, muitas pessoas têm o que ele chama de síndro- me do empregado. E quais são as carac- terísticas de quem tem essa síndrome? • Domina somente parte do processo. • Depende de alguém para se tornar produtivo. 163 EMPREENDEDORISMO 2 • Não é autossuficiente – depende de supervisão. • Não busca conhecer o negócio como um todo. • Não se preocupa com o que não existe ou não é feito. • Não sabe ler o ambiente externo. • Raramente é agente de inovações. • Mais faz do que aprende. • Não se preocupa em formar a sua rede de relacionamento. • Tem medo do erro e não o toma como forma de aprendizagem. E podemos ter essa síndrome, sem ser- mos de fato empregados? Sim, podemos! Aliás, esse tipo de comportamento é bastante visto por aí, até em nós mesmos. E por quê? Porque iniciamos muitas vezes nossa tra- jetória empreendedora a partir do conheci- mento de que temos sobre algum assunto, ou seja, um forte conhecimento técnico. Ouve-se logo o comentário: “Nossa, você é tão bom jornalista/músico/designer que poderia ter a sua própria empresa/banda/projeto/loja”. Michael Gerber, autor de O Mito do Empreen- dedor, chama isso de Pressuposto Fatal: o pressuposto de que “se você entende do ser- viço técnico de um negócio, você entende dos negócios que envolvem esse serviço técnico.” 2.2. O empreendedor, o administrador e o técnico Gerber também fala que existe no inte- rior dos donos ou líderes de qualquer pe- quena organização uma guerra entre três forças, que podem ser enxergadas também como personagens: o (a) Empreendedor, o (b) Administrador e o (c) Técnico. Todos nós temos um pouco de cada um deles, em maior ou menor grau e em momentos dife- rentes de nossas vidas: a) Empreendedor, aquele que transfor- ma a situação mais trivial em uma oportunidade excepcional. É visioná- rio, sonhador. O fogo que alimenta o fu- turo. Vive no futuro, nunca no passado e raramente no presente. Nos negócios é o inovador, o grande estrategista, o criador de novos métodos para penetrar nos novos mercados; b) Administrador, aquele que observa os cenários mercadológicos, planeja, or- ganiza e controla a organização visando aumentar sua produtividade e sua in- serção no mercado. É o sujeito organi- zado, que vive no passado, que vê todos os problemase não gosta de mudança (até por que é ele quem tem que resol- ver tudo na prática); c) Técnico, aquele que é o executor. Adora consertar coisas, vive no presente, fica satisfeito no controle do fluxo de traba- lho e é um individualista determinado. No fundo, é o artista que vive em nós, que gostaria de ficar o dia todo estudando, to- cando, interpretando, em contato com as pessoas, sem a necessidade de se preo- cupar com o restante. Afinal, foi para isso que muitos de nós estudamos, não é? Apesar de muitas vezes termos um pouco de cada força, também é claro que cada um de nós tem algumas dessas mais predominantes. Assim, alguns são puramente empreendedores, outros são mais administradores. O importante é que as três forças este- jam presentes na organização ou projeto no qual trabalhamos, seja por meio de nós mesmos ou também pela composição da equipe. Você tem um perfil fortemente em- preendedor? Procure estar com pessoas que possam contribuir com a administração e com outros que sejam excelentes executores. E, no caso da cultura, uma das questões mais importantes a desenvolver é a visão de negócios. Sem essa visão de negócios será muito difícil que as suas ideias, de fato, se- jam executadas e tenham resultado finan- ceiro e econômico. Lembre-se disso! PARA REFLETIR “O lado técnico de um negócio e uma empresa que lida com essa técnica são duas coisas totalmente diferentes! Porém, o técnico que inicia um negócio próprio não vê essa diferença. Para ele, um negócio não é um negócio, mas um local de trabalho.” (Michael Gerber) 164 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 165 EMPREENDEDORISMO CULTURA E CRIATIVIDADE COMO NEGÓCIO 3 3.1. Por que aqueles que atuam na área cultural e criativa devem prestar serviços e cobrar por eles Uma grande parte das produtoras, dos artistas e das instituições cul-turais no Brasil vive de projetos, tanto captados pelas leis de in- centivo quanto por meio de editais. No entanto, a lógica do financiamento por projetos pode, muitas vezes, contribuir para que as instituições se tornem autocentradas, ou seja, mais preocupadas com o autofinan- ciamento do que com a entrega de valor de fato à sociedade ou ao público final. Se quem paga a conta é o governo, e o governo não se preocupa com avaliações de resultado (somente com a execução dos recursos e com os resultados numéricos), o feedback do beneficiário final do projeto fica em segundo ou terceiro plano. É notável, por exemplo, a quantidade de projetos com recursos garantidos e com difi- culdade de atingir suas metas junto ao públi- co-alvo. Quantos livros, filmes, discos e espe- táculos são produzidos e não têm resultado de público? Por que isso acontece? Trata-se ape- nas de um problema na cadeia de distribuição dos bens culturais ou será que estamos muito mais preocupados com o autofinanciamento do que com os resultados? Não é certo que toda atividade cultural deveria ser guiada pelo êxito de público, ao custo de ficarmos eternamente reféns de uma cultura efêmera e imediatista. Se fosse assim, obras ousadas e questiona- doras não teriam espaço, estando sempre sujeitas a um sistema de avaliação que é, em grande parte, de curto prazo. Entretanto, ao mesmo tempo, não po- demos deixar de pensar neste aspecto: como criar relevância para meu público- -alvo e para a sociedade? Estamos fazendo algo realmente inovador e criando valor ou somente encontrando justificativas social- mente aceitas para fazermos o que esta- mos com vontade? E é justamente por isso que artistas e instituições devem investir, cada vez mais, no desenvolvimento de produtos e servi- ços para atuarem no mercado. Não se tra- ta somente da criação de fontes de recursos para tornar a instituição mais sustentável, mas também de buscar formas de tes- tar a relevância do que se está fazendo. Como se fossem pequenos testes que nos indicassem se estamos no caminho ou não, criando fluxos e energias importantes para a sobrevivência das instituições. E por que esse tipo de atuação pode me- lhorar a capacidade da instituição? Por que nenhuma ideia consegue sobreviver sem passar no teste do cliente, e isso faz com que as organizações melhorem cada vez mais sua capacidade de entrega de valor à sociedade. Basta pensarmos em nosso comporta- mento com relação ao consumo de produ- tos culturais. Quantos livros ganhamos, mas que não pagaríamos para tê-lo? Este livro de fato cria valor para nós? O que estaríamos dispostos a oferecer em troca por ele? 166 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste Garanto que, em muitos casos, algumas pessoas desistiriam de receber este livro. Se uma pessoa que paga R$ 5 por um café não aceita pagar R$ 10 por um livro, sig- nifica realmente que não vê valor no que está sendo oferecido a ela. A maneira como utilizamos nossos recursos diz muito sobre nós. Nesse sentido, me refiro não somente ao di- nheiro, mas também ao tempo e à ener- gia que temos. Precisamos entender que nas instituições devem existir trocas e fluxos de recursos nos dois sentidos, e não somente no sentido do beneficiário. Cada vez que alguém resolver dar algo em troca de um livro, aulas de capoei- ra, de violão ou de um espetáculo, por exemplo, é porque está, internamente, fazendo um balanço entre a expectati- va de retorno e o que ele está disponi- bilizando em troca. E o que é isso senão ser relevante (ter valor)? Precisamos que existam mais trocas e fluxos, e menos coisas sendo ofereci- das indiscriminadamente. Ao exigirmos a simples presença de alguém (um leitor, espectador, ouvinte etc.) como sinal de sucesso, estamos nos rebaixando e as- sumindo que criamos pouco valor. Es- tamos tão desesperados por atenção (e talvez pouco convencidos da importância de nosso produto cultural), que qualquer sinal já é encarado como êxito, quando, na verdade, precisamos ir um pouco mais a fundo para perceber as nuances. A cultura é cheia de meias verdades e de generalizações. Com isso, não quere- mos dizer que tudo é passível de ser co- brado, ou que toda relação deva ser mo- netizada, mas, sim, de que precisamos aprender a exercitar nossa capacidade de enxergar as trocas. E, a partir delas, ver possibilidades de expandirmos nos- sa capacidade de geração de recursos e engajamento. Lembre-se que isso pode garantir a sustentabilidade de suas ati- vidades artístico-culturais. Somente com uma crescente intera- ção com a sociedade e com os stakehol- ders é que as instituições poderão ser mais sustentáveis. E não apenas finan- ceiramente, mas principalmente em sua missão e seu propósito. E é por isso que é importante aos artistas, aos empreende- dores e aos produtores que pensem em estratégias para geração de receitas, seja por meio de prestação de serviços, produção e venda de produtos, finan- ciamento via crowdfunding (pré-ven- das), editais, leis de incentivo etc. 3.2. Que negócio se encaixa mais comigo? A compreensão sobre qual tipo de ne- gócio pode fazer mais sentido para uma pessoa não é recente. Temas como propósito, identidade, va- lores e motivação estão na agenda do dia de todas as empresas. Os criativos, por outro lado, que muitas vezes se guiaram pela escolha do significado, do sonho e do intangível, precisam combinar essas variáveis com as questões econômicas. Então, como articular um negócio que seja ao mesmo tempo prazeroso, rentável e ali- nhado com suas habilidades e dons? Para Lisa Sonora Beam, esse é o cha- mado Ponto Doce, aquele no qual o que fazemos está alinhado com o nosso pro- pósito e também é rentável. Para ela, artistas precisam de uma abordagem diferenciada para desenvol- ver competências no mundo dos negó- cios, pois a maioria deles não possuem as características necessárias para conseguir viver do que gostam. E as abordagens exis- tentes não levam em conta as especificida- des de trabalhadores do setor criativo. Com essa visão, ela elaborou a Mandala do EmpreendedorCriativo, que procura esta- belecer um ponto de convergência entre 4 167 EMPREENDEDORISMO eixos principais: (a) Amor e Significado, (b) Dom e Fluxo, (c) Valor e Rentabilidade e (d) Habilidades e Ferramentas. Amor e Significado Valor e Rentabilidade Habilidades e Ferramentas Dons e Fluxos Ponto Doce a) Amor e Significado: ensina a descobrir o que se ama, diminuindo sua possibi- lidade de falhar. Questões norteado- ras: o que o faz mover-se como artista? O que dá significado à sua vida? O que você faz com amor e poderia fazer pelo resto da vida com prazer? Qual é seu so- nho como artista? O que você valoriza? b) Dom e Fluxo: revela quais são seus dons inatos e como descortiná-los para alcançar seus objetivos. Questões nor- teadoras: O que você sabe fazer tão bem que nem lhe dá trabalho? O que é fácil e natural para você? O que você faz e fica por horas absorvido sem per- ceber? Quais são as coisas que você faz melhor do que ninguém? c) Valor e Rentabilidade: colabora para criar um negócio que seja centrado em alguma necessidade do seu público e como fornecer valor a partir do que você faz. Questões norteadoras: Qual o problema que o seu negócio pode resol- ver? O que o seu negócio pode fazer me- lhor que seus potenciais concorrentes? Como pode o que você produz/fornece ajudar (ser atrativo e útil) a seus clien- tes? Como pode encantar a seus clien- tes com o que faz? d) Habilidades e Ferramentas: revela quais são as ferramentas que você tem ou precisa desenvolver para alcançar suas capacidades de liderança no que quer fazer. Questões norteadoras: Quais são as ferramentas importan- tes para ser bem-sucedido no que faz? Quais capacidades de liderança deve ter para alcançar o que deseja? Como pode conseguir as competências e ferramen- tas necessárias que não possue? Como pode valorizar as competências e ferra- mentas necessárias que já possui? SAIBA MAIS Assista ao vídeo de Rafaela Cappai: “#vamoquevamo 2: Construindo seu Ponto Doce”. ACESSE: www.youtube.com/ watch?v=4jAwEkt0pac 168 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 7 PASSOS PARA TRANSFORMAR SUA IDEIA EM UM NEGÓCIO 4 T ransformar uma ideia em um negó-cio, ou seja, fazer com que ele seja viável economicamente, não é uma tarefa simples. Existem muitas variáveis que influenciam esse processo, que vão desde a economia bra- sileira, a realidade local, fatores culturais e, até, como vimos, as capacidades do empreende- dor. Diante disso, procuramos descrever 7 pas- sos para transformar sua ideia em negócio, não com a perspectiva de ser uma receita de bolo (porque sabemos que, em termos de ne- gócios e de gestão, isso não existe), mas, sim, como uma forma de organizar o pensamento e estruturar o processo. Cada passo representa uma nova camada de conhecimento que será sintetizada e deve modificar a ideia original, constituindo-se em um processo de aprendizagem sobre você, sua ideia e o mundo que o rodeia, como se fosse uma espiral. Tudo parte de uma ideia, que pode ter vin- do durante o banho, numa caminhada, leitura, assistindo a um filme, em uma conversa com alguém ou num momento de indignação. Em al- guns desses momentos (ou em vários) nos surge uma ideia, algo como um “e se...” que ecoa em nossa cabeça... e pronto! Você fica louco para contar para alguém. Nem sempre acontece assim, é claro. Pode- mos também estar no meio de uma discussão sobre algo sério, parecendo estarmos num beco sem saída e, no meio dela, vem à mente uma possibilidade. De qualquer forma, o que fazer com essa ideia? Como podemos desenvolvê-la para entender se ela pode se transformar em um negócio? Acompanhe a seguir: Passo #1: Desenvolva a sua ideia Primeiramente, precisamos ter consciên- cia de que ideia é diferente de oportunida- de. A ideia causa grande fascínio em seu autor (uma ideia é quase um filho), o que o impede de ver claramente se a ideia é válida. Mais ain- da: o apego à ideia, por razões psicológicas/ afetivas, pode impedir que ela sofra um pro- cesso de validação e, não raro, faz com que se torne uma das causas do insucesso. Por- 169 EMPREENDEDORISMO tanto, é fundamental que o empreende- dor consiga visualizar a sua ideia com distanciamento emocional, de modo a fazer uma análise detalhada e objetiva. Desenvolver a ideia significa analisá-la e validá-la, para que aos poucos ganhe consistência e concretude. Para que uma ideia seja desenvolvida, é possível pensar nas seguintes etapas: (a) Pesquisa, (b) Elaboração, (c) Exposição e Validação da Ideia e (d) Feedback e Ajustes. Para aqueles que gostam de gestão de processos, basta pensarmos no famoso PDCA (Planejar, Executar, Checar, Melho- rar). Vamos a cada um deles: a) Pesquisa Para evitar a ideia tentadora de que “nin- guém nunca pensou nisso antes”, é impor- tante iniciar com uma pesquisa (também chamada de pesquisa de benchmarketing): o que está acontecendo no mundo? E na minha cidade ou bairro? Essa ideia é nova mesmo ou existe algo parecido? Quais ou- tros projetos existem parecidos com o que eu faço, com o mesmo público ou com a mesma dinâmica (no Brasil e no exterior)? Como eles funcionam? Que tipo de serviços ou produtos vendem e por quanto vendem? O que eles têm de diferente? É importante estruturar esse conhecimento em uma ta- bela ou documento no qual fique claro o nome do projeto, qual a ideia dele resumi- da (sinopse), que produtos (bens/serviços) prestam e quais as principais fontes de re- ceita. Isso vai ajudar você a encontrar boas referências para se inspirar e pensar na sus- tentabilidade da sua ideia. E se você encontrou algo parecido com o que está pensando, não fique achando que sua ideia não vale a pena porque ela não é “nova”. Na verdade, poucas ideias são realmente novas: a novidade está, às vezes, na aplicação de algo em um contex- to diferente, ou com um público diferente. Afinal, milhares de histórias de amor já fo- ram contadas, mas cada uma delas é única. Toda história de amor é igual, mas diferen- te, e seu negócio pode ser assim também. Da mesma forma, o que não deu certo para alguém pode ser sucesso com você. O mais importante da pesquisa é ter uma maior dimensão do que funcionou ou não (naturalmente, avaliar o que fazer para evitar os mesmos erros), quais os possíveis caminhos que você pode seguir para concretizar aquela ideia e como você poderá dar, mais para frente, o seu toque pessoal a ela, garantindo o seu sucesso. b) Elaboração Após fazer essa pesquisa inicial, pro- cure sintetizar e elaborar melhor o que você está propondo. Neste processo de elaboração, procure levar em considera- ção o quadro a seguir: Demanda/ Oportunidade Por que o negócio é necessário? Que demanda ou oportunidade justifica meu negócio? Impactos desejados Que tipo de mudança queremos? Ideia do Negócio Qual a ideia do negócio? O que vou fazer e para quem? 170 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste Não podemos desvincular nosso negócio do ambiente no qual estamos inseridos. Nossa ideia causa impacto e, por isso, ajuda a resolver um proble- ma ou contempla uma oportunidade. Portanto, para além da ideia, qual a de- manda cultural, social ou econômica que fazem com que seu negócio seja necessá- rio? Como o que está propondo, vai cau- sar impacto no seu público-alvo? A demanda ou a oportunidade é o que você pode considerar como justificativa (tema de outros módulos). Com base no que observamos na sociedade, propomos um negócio, e queremos causar um impacto. É essa relação causal que deve ser trabalhada para que consigamos explicar aos outros por que nossa ideia/projeto é relevante. O impacto desejado não precisa ser algo extremamente audacioso. Em alguns casos pode ser bem simples (essas soluções sim- ples até surpreendem mais...). Imagine que você trabalha em um mu- seu e tem um projeto de criar uma loja de produtos: o impacto que queremos é que o visitante leve para casa a lembrançade uma experiência memorável. Ele está le- vando mais do que um produto (uma ca- neca, um lápis, uma camiseta, um chavei- ro...), está levando consigo um pedaço do próprio museu. c) Exposição e Validação da Ideia Tão importante quanto elaborar uma ideia é validá-la. E, para isso, é preciso contar a alguém. Pode ser de forma des- pretensiosa, como um telefonema para um amigo, ou de forma mais estruturada, como a elaboração de um projeto para um edital. O fato é: uma ideia, para ganhar for- ma e contorno, precisa sair da cabeça das pessoas e se transformar em palavras. E isso só acontecerá se você puder expor o que está pensando. O simples fato de es- truturar uma narrativa para contar a ideia a alguém já fará, pouco a pouco, com que ela seja desenvolvida. Nesse caso, você estará, como fazem os instrumentistas de sopro, “treinando a embocadura”. Procure fazer principalmente esse exer- cício com seu público-alvo, seus potenciais financiadores ou possíveis parceiros estra- tégicos. Eles serão as pessoas que darão feedbacks preciosos. Ainda lembrando o caso da loja de produtos de um museu, é o mesmo que você perguntar aos visitantes ou a alguma pessoa próxima: “você compra produtos em lojas de museus? Compraria nesse caso? Que tipo de produtos interes- sam mais a você?” d) Feedback e Ajustes Mas, para que o processo de exposi- ção seja realmente útil, ele deverá ser acompanhado de um feedback: no final, o que acharam as pessoas para as quais você contou a sua ideia? É comum que tenhamos respostas que não gostemos de ouvir, por uma sé- rie de fatores, além do já mencionado apego psicológico, que nos faz muitas vezes desconsiderar a opinião alheia por achar que “a pessoa não entendeu bem o contexto e já criticou”. Entretanto, se o problema não está na ideia, no mínimo, está na forma como você está explicando, o que já é uma boa resposta. O importante é: não entrar em discus- são. É preciso lidar com esse processo a par- tir da perspectiva da aprendizagem, e pro- curar realmente entender o porquê de uma pessoa ter determinada opinião às vezes é mais importante do que a opinião em si. Fale pouco, ouça com atenção e anote para refletir depois. Passo #2: Prepare-se para a viagem Um negócio pode ser, por exemplo, como uma viagem para a Polônia. Pensar num lugar para viajar é sempre interessan- te, mas as questões começam a ficar com- plexas quando nos perguntamos: Tenho di- nheiro? Quando eu teria condições de ficar fora tanto tempo? Sei falar polonês? Será o que o dólar vai abaixar ou aumentar? Se no primeiro passo você pôde pesqui- sar e imaginar como seria esse seu negócio, agora é hora de começar a trazer essa ideia para um contexto prático e fazer dois tipos de análise: interna e externa. A análise interna busca responder a questões fundamentais: que tipo de ne- gócio você quer? Quais as suas habilida- des e quais as habilidades que precisa desenvolver? Qual papel esse negócio terá na sua vida? O resultado dessa análise deverá apon- tar, principalmente, os seus pontos fortes e fracos relacionados ao negócio, e qual o papel que um negócio desse teria em sua vida ou em suas demais atividades. 171 EMPREENDEDORISMO Já a análise externa busca compreen- der quais são os fatores que podem im- pactar seu negócio. Você está pensando em contar com recursos do governo? En- tão precisa entender como o momento político do país pode influenciar sua ideia. Quer vender serviços para a classe C? Pes- quise sobre como esse segmento pode ter perdido capacidade de compra com a cri- se. Mas lembre-se que o foco desta análise é levantar questões que podem influen- ciar seu negócio, ou seja, com as quais você pode ter que lidar no futuro. Uma das ferramentas que podem ajudar nesse processo é a ferramenta PEST (Políti- ca, Econômica, Social e Tecnológica). A ideia é refletir sobre cada um desses eixos e ve- rificar como eles podem impactar positiva- mente ou negativamente a sua ideia. Essas análises serão consolidadas na ferramenta chamada FOFA (Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças), já descrita anteriormente nos módulos 2 e 7. O FOFA deve representar, na práti- ca, um pouco de tudo o que levantamos e que impactarão diretamente nessa jor- nada, assim como podemos nos preparar para que ela seja um sucesso. Passo #3: Monte a história do seu negócio Neste ponto, você já conseguiu traçar um perfil dos principais personagens da história do seu negócio: sua ideia, você, os clientes e os demais personagens que podem ser seus amigos ou “inimigos” durante a jornada. Lembre-se que, nem sempre, aqueles que identificamos como inimigos no começo, de fato, atrapalha- ram você, assim como nem sempre os amigos o apoiarão. Fazendo uma analo- gia a partir da cultura pop/nerd do cine- ma, qual o papel do personagem Snape na trajetória do Harry Potter? É nessa etapa que você deve procurar montar a história do seu negócio, estabe- lecendo quais os personagens mais im- portantes, que características cada um tem e qual o papel que eles devem ter em sua narrativa. Então, você deverá enten- der melhor qual seu (a) modelo de negó- cios, qual a sua (b) estratégia e quais são os seus (c) diferenciais. a) Modelo de negócios De acordo com Erick Santos, “mode- lo de negócio é como a empresa gera e captura valor do mercado. Estendendo um pouco mais, é a definição de quem é o cliente, qual é o problema dele, como o produto atende a esse problema e como se ganha dinheiro com isso.” Uma metodologia bastante utilizada para descrever o modelo de negócios é a Business Model Generation, que tem como objetivo descrever de forma prá- tica e visual como funciona um negócio ou projeto. Ela é composta por 9 elemen- tos fundamentais, que nos ajudam a en- tender, de forma visual, como funciona um negócio (você poderá encontrar um modelo digital pronto para ser preenchi- do no site www.sebraecanvas.com). Veja a figura a seguir, que represen- ta o modelo, sendo que acrescentamos o elemento “Demanda / Oportunidade” como externo: DEMANDA / OPORTUNIDADE INFRAESTRUTURA Como? Atividades chave Rede de Parceiros Recursos- Chave OFERTA O quê? Proposta de Valor CLIENTES Quem? Relacionamento com Clientes Segmentos de Clientes Canais FINANÇAS $ Estrutura de Custos Fontes de Receita 172 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste Tangibilizar Capacidade de entender, de sentir, de perceber. Neste momento, o mais importante é você se concentrar na tríade demanda/ oportunidade, proposta de valor e seg- mentos de clientes, que, se bem consis- tentes, indicam um caminho promissor para seu negócio. Para poder caracterizar bem seus clientes, você poderá utilizar metodologias como o Buyer persona e a descrição do público-alvo. b) Estratégia Estratégia, em termos gerais, é uma nar- rativa, uma história com começo, meio e fim. A concepção da estratégia vai levar em consideração seus pontos fortes e fracos, as oportunidades e as ameaças, e mostrar qual o melhor caminho a percorrer para que a sua ideia tenha sucesso. Uma estratégia bem elaborada leva em consideração, por exemplo, os pon- tos fortes do empreendedor, afinal, é sempre melhor traçar um caminho a partir daquilo que temos e fazemos de melhor. E também deverá apontar como você deverá minimizar seus pontos fra- cos, escapando das ameaças e aprovei- tando as oportunidades. Mas o principal, nesse momento, é definir como você irá competir no mercado. A definição da estratégia nos ajuda a entender o que irá agregar ou não para nossa jornada, o que irá nos ajudar a chegar ou não aos nossos objetivos. É ela quem nos deveria mostrar, por exemplo, quais os projetos e ações prioritárias, ou também se devemos aceitar ou não uma parceria. Como disse Brian Halligan, fun- dador do HubSpot: “a arte da estratégia é saber quando dizer não”. c) Diferencial Parte da estratégia é definir quais os diferenciais do seu negócio. Para ter um diferencial,você precisa saber qual o mer- cado em que atua, quem é o seu público e o que seu público está vendo, lendo e/ou escutando (ou seja, quais são as outras ati- vidades que disputam a atenção dele). Esse diferencial será consolidado em uma proposta de negócio ou uma pro- posta artística potente, que se comunica com esse público, contempla as carac- terísticas artísticas mais marcantes, fala sobre os diferenciais, e que é capaz de consolidar essas características em um produto único (design, performance, es- tética, interação com o público, etc.). Para isso, você também deverá pensar em como você quer que a sua marca seja reconhecida pelo seu público ou pelos seus clientes. Como as pessoas percebem o seu negócio/projeto? Com o que elas associam esse meu negócio? Quais características elas percebem nele? Como elas diferenciam seu negócio/produto/projeto dos outros? Passo #4: Pesquise e crie produtos Tão importante quanto conseguir ela- borar a narrativa do negócio é conseguir tangibilizar a ideia em um ou mais pro- dutos ou serviços. Para isso, você precisará descrever exatamente o que você está ofe- recendo, para quem, quais as característi- cas e quanto custa. Uma boa abordagem para trazer essas questões para um plano prático é o Mix de Marketing, os 4 P’s pro- postos por Philip Kotler: (1) Produto, (2) Preço, (3) Praça e (4) Promoção. Nesse sentido, o mais importante nes- ta etapa é consolidar os itens Produto e Preço, para que você consiga compre- ender se a proposta de produto (bem/ serviço) é atrativa e se as pessoas efeti- vamente podem (ou vão querer) pagar por ela. Ou seja, qual o valor de seu pro- duto para esse(a) cliente/usuário(a)? É importante lembrar que o produto é um meio pelo qual você entrega valor ao cliente/usuário(a). Ele é uma forma tangível de “embalar” o que existe de in- tangível em algo. Não é possível levar um pedaço do museu? Claro que não! Então leve um produto da loja do museu. Passo #5: O Teste dos Números Após o “Teste da narrativa”, que é ba- seado no modelo de negócios e em sua história, entramos num momento chave: entender se ele é capaz de gerar resulta- do econômico e financeiro. É o chamado “Teste dos Números”. O teste é feito com base em dois cená- rios: no primeiro, é preciso identificar o lucro bruto do negócio quando estiver funcionan- do, com base no modelo de negócios des- crito no Teste da Narrativa (ou seja, quando tiver atingido uma certa maturidade). Se estiver indicando lucro, deve-se analisar agora um cenário inicial de imple- mentação para estabelecer o investimen- to necessário para iniciar o negócio. Ou seja, se o negócio é bom o suficiente para retornar o valor investido inicialmente. Para fazer o Teste dos Números, é re- comendável que procure alguém que possa ajudá-lo a estruturar um plano financeiro, ainda mais se você não tiver habilidade com manejo de Excel. Procu- re também o Sebrae local e verifique que serviços eles disponibilizam e que podem oferecer a você nesta etapa. E se o Teste dos Números der errado? É preciso voltar algumas casas e replane- jar o negócio, procurando entender como você pode melhorar a proposta para au- mentar o valor dos produtos (bens/ser- viços) e diminuir o custo de produção. 173 EMPREENDEDORISMO Passo #6: Planeje Se você chegou até aqui, é por que seu negócio tem uma boa estratégia, uma boa narrativa e consegue gerar resultado. Agora é hora de pensar como será a implementação dessa ideia na prática, um momento tão ou mais importante quanto os demais. É claro que, se você seguiu parte das dicas, já pôde perceber que seu negócio foi para rua bem antes, provavelmente no Passo #1. E se alguém gostou da sua ideia, é possível até que você já tenha conquistado o seu primei- ro cliente. Esse é o caminho: ter uma boa ideia não vale muito se não conseguimos colocá-la em prática. Ainda assim, em determinado momen- to, você precisará estruturar melhor o seu negócio em etapas, para garantir que ele tenha sucesso. Por isso, a etapa de planeja- mento da implementação é necessária. Vicente Falconi, consultor de empresas, questiona no livro O verdadeiro poder por que falhamos. Segundo ele, falhamos porque: • Não estabelecemos as metas certas (o que significa que não sabemos aonde queremos chegar, e isso não é nada bom); • Não fazemos bons Planos de Ação, seja por que não conhecemos os métodos de análise ou por que não temos as informa- ções necessárias (ou seja, não sabemos como chegar); • Não executamos completamente, e a tempo, o Plano de Ação (o que indica que não conseguimos conduzir o negócio na direção que desejamos); • Podem ocorrer circunstâncias fora de nosso controle. Muitas coisas acontecem no meio do caminho e que podem, em alguns casos, modificar bastante o nosso planejamento. Isso é muito normal, ainda mais nos dias de hoje, nos quais as situações mudam drasticamente, mas mesmo assim não diminui a necessidade de termos um pla- no minimamente estruturado. No fundo, planejamos para poder improvisar. Passo #7: Conte a história do seu negócio Saber contar a história do negócio é uma das principais habilidades a ser de- senvolvida pelo empreendedor, pois é necessário que ele “venda” sua ideia para parceiros, equipe, possíveis financiado- res etc. Essa forma de contar uma história do negócio também é chamada de Pitch. E o que é o pitch? É uma apresentação rápida com objetivo de despertar o inte- resse da outra parte (investidor ou clien- te) pelo seu negócio, e, portanto, deve conter apenas as informações essenciais e diferenciadas. O pitch pode ser tanto apresentado apenas verbalmente, quanto ilustrado por slides, e pode durar 1 minu- to, 5 minutos ou até 15 minutos. Ele é o formato utilizado em programas como o Shark Tank, no qual as pessoas falam so- bre seus negócios e convidam investidores a serem sócios. Mas em outros contextos, você pode considerar o pitch como a his- tória do negócio que você vai contar para atrair alguém para a sua equipe, conseguir uma parceria ou fazer uma campanha de crowdfunding, por exemplo. Ele deve conter basicamente qual é a oportunidade que você quer atacar ou qual problema quer resolver, qual o mer- cado que quer atuar, qual é a sua solução (ou seja, a ideia do negócio), seus diferen- ciais e o que está buscando. É preciso convencer o seu ouvinte de que existe um mercado (ou seja, existe uma de- manda), de que a ideia resolve um problema ou aproveita uma oportunidade real, que o modelo tem lógica e que a sua equipe é ca- pacitada para colocar em prática. Você pode partir também do roteiro básico a seguir para elaborar o seu pitch, e depois desenvolver outros formatos diferentes: • Identificando a oportunidade; • Apresentando sua ideia; • Definindo seus diferenciais; • Explicando sua proposta; • Esclarecendo o que você quer. E como mostrar que seu negócio é uma boa ideia? Um dos erros mais comuns ao apre- sentarmos um projeto ou uma ideia a alguém é falar somente da motivação individual: falar de si mesmo, de como a ideia é revolucionária. O problema dessa abordagem é que o interlocutor vai achar que o projeto só serve ao proponente, e não ao público final, e poderá desinteressar-se automa- ticamente. Para conseguir estabelecer um fluxo de pensamento para o proje- to, uma das formas é iniciar falando do problema que você quer resolver ou da oportunidade que quer aproveitar – ou seja, do porquê. Veja como Simon Sinek elabora essa questão ao falar do Círculo de Ouro: O que fazer? (Produto / Serviço) Como fazer? (A maneira) Por que fazer? (A causa) 174 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste Sinek fala que os grandes líderes não vendem produtos e serviços, e, sim, vendem a causa. Para conseguir apresentar esse porquê, existem 2 formas bási- cas, sendo que cada uma tem suas vantagens e desvantagens. Forma 1: série de elementos e fatos que, ao serem encadea- dos, levam ao problema principal.Argumento 1 Argumento 2 Argumento 3 Conclusão • Aspecto positivo: conduzem o espectador por uma linha de ra- ciocínio lógica; • Aspecto negativo: caso exista algum conflito ou discordância em qualquer um dos elementos, a conclusão fica afetada; • Exemplo: nossa cidade tem uma taxa alta de criminalidade, principalmente nos mais jovens. Isso acontece pela falta de espa- ços de convivência e de cultura. Portanto, nosso projeto propõe oferecer atividades de contraturno para adolescentes em situa- ção de alta vulnerabilidade; • Risco: o interlocutor pode questionar se a taxa de criminalidade é realmente fruto da falta de atividades culturais ou se existem outros elementos que contribuem mais agudamente para esse problema. Forma 2: Série de elementos e fatos que são colocados lado a lado e que, juntos, levam a uma conclusão. Argumento 1 Argumento 2 Argumento 3 Conclusão • Aspecto positivo: caso o espectador questione um dos elemen- tos, os demais ainda servem para chegar à conclusão; • Aspecto negativo: relação entre os elementos apresentados e a conclusão pode ser menos clara; • Exemplo: nossa cidade tem uma taxa alta de criminalidade, prin- cipalmente nos mais jovens. Existem exemplos conhecidos de ci- dades que conseguiram melhorar essas taxas aumentando a oferta de espaços de convivência e de atividades culturais para esse pú- blico. Logo, nosso projeto propõe oferecer atividades de contratur- no para adolescentes em situação de alta vulnerabilidade; • Risco: nem sempre os elementos apresentados são claramen- te relacionados, o que dificulta que a pessoa consiga estabelecer uma reação de causa e efeito. Jason Schlossberg, executivo de comunicação, contou em uma palestra no SXSW (2018) que costumamos argumentar com fatos e elementos práticos, na busca de sermos racionais. No entanto, nós tomamos decisões de outra forma: primeiro, tomamos a de- cisão, baseados em critérios subjetivos, e depois racionalizamos (utilizamos os argumentos para explicar a nossa decisão). Na ver- dade, nossas escolhas são feitas baseadas em nossas crenças e valores, naquilo que sentimos como verdadeiro (e não necessaria- mente a partir do que é verdadeiro). E o que sentimos como verda- deiro? Aquilo que é familiar, simples, concreto... o que faz parte da memória, o consistente, o emocional. Portanto, contar histórias nos ajudam a conectar emocio- nalmente nosso interlocutor com os fatos e com a ideia de nosso negócio. Para além de levar dados, é importante que to- dos consigam visualizar, e sentir, claramente o problema e como o mundo poderia ser melhor se seu projeto saísse do papel. SAIBA MAIS Assista ao TEDx com Simon Sinek, cujo título é “Como grandes líderes inspiram a ação”. Basta acessar: www.ted.com/ talks/simon_sinek_how_ great_leaders_inspire_action 175 EMPREENDEDORISMO DICAS FINAIS5 Ana Mae Barbosa, a primeira bra-sileira com doutorado em arte--educação, pela Universidade de Boston, EUA, elaborou uma metodologia conhecida como Abordagem Triangular do Ensino da Arte. Por meio dela, implementou-se o ensino da arte utili- zando uma abordagem com tríplice ação: o VER, com a leitura da obra de arte; o CON- TEXTUALIZAR, com o estudo da informação histórica; e o FAZER artístico. Outras meto- dologias ligadas à educação patrimonial e à educação musical, entre outras, partiam também do pressuposto de que era neces- sário fruir a arte, pesquisar e praticar. No campo do empreendedorismo e dos negócios não é diferente: é preciso ir a campo, testar, errar e aprender. Nada do que foi escrito neste fascículo terá va- lidade se não for colocado em prática. Portanto, alguns pontos que podem para ajudá-lo nesta jornada: • Um negócio não é uma corrida de 100 me- tros, é uma maratona! • Qual seu diferencial? • É preciso investir. • Networking e relacionamento são fun- damentais. • Escute. Escute. Escute. • Mais importante do que ter uma boa ideia é colocar ela logo em prática. E por último: Você está com medo? Pois vai com medo mesmo! Referências PETERS, Tom. La esencia. Liderazgo. Ma- drid: 2005. Pearson – Prentice Hall. SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia. (Editado por George Allen e Unwin Ltd., traduzido por Ruy Jungmann). — Rio de Janeiro: Edito- ra Fundo de Cultura, 1961. DOLABELA, Fernando. O segredo de Luí- sa. 30. ed. rev. e atual. – São Paulo: Edito- ra de Cultura, 2006. GERBER, Michael. O mito do Empreende- dor. 2ª Ed. – 2011. Editora Fundamento. BEAM, Lisa Sonora. The Creative Entrepre- neur: A DIY Visual Guidebook for Making Business Idea. Londres: 2008. Quarry Books. OSTERWALDER, Alexsander e PIGNEUR, Yves. Business Model Generation: Ino- vação em Modelos de Negócios. Alta Books, 2011. FALCONI, Vicente. O verdadeiro poder. INDG, 2013. BARRETO, Luiz Pondé. Educação para o empreendedorismo. Núcleo para Estu- dos do empreendedorismo, Universidade Católica de Salvador – Salvador, 1998. MARTINEZ, Andre e PINHO, Minom. Guia do Empreendedor Sociocultural. São Paulo: 2017. Casa Redonda. https://sociocriativo.files.wordpress. com/2017/12/guia_empreendedor_so- ciocultural.pdf Guabiras (Ilustrador) É cartunista, autor de histórias em quadrinhos e de muitos personagens. Publicou mais de 5 mil tirinhas em veículos como jornais, fanzines, livros (antologias), revistas (MAD-SP, Gibi Quântico-SP, Tarja Preta-RJ, entre outras) e na web, entre eles, no jornal EXTRA de Nova York (EUA) e na obra Marcatti 40 (Ugra/SP). Recebeu, em parceria, 3 troféus HQMIX e o Troféu Ângelo Agostini de “Melhor Cartunista de 2016”, as maiores comendas de quadrinhos do país. REALIZAÇÃOAPOIO CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS ESTRATÉGIAS DE CULTURA E ARTE PARA O FUTURO Erick Krulikowski (Autor) Graduado em Música pela Universidade de São Paulo (USP), possui MBA com ênfase em Marketing pela ULACIT (San Jose, Costa Rica) e é mestrando em estratégia pela Fundação Dom Cabral. É professor, consultor e palestrante especializado em clusters e indústrias criativas e no desenvolvimento de negócios culturais e criativos, principalmente nos seguintes setores: música, audiovisual, tecnologia, eventos e museus. Coordenou o estudo “Mapeamento e impacto econômico do setor audiovisual no Brasil – 2016”, pela FDC / Apro / Sebrae Nacional, e o Criativar: laboratório de negócios criativos do programa Empreendedores Criativos. Tem mais de 20 anos de experiência em empreendedorismo, liderança, estratégia, finanças e desenvolvimento institucional para diversas organizações. Atualmente é professor convidado da Funda& ccedil;ão Dom Cabral, coidealizador do Festival MARTE:música, arte e tecnologia e diretor-executivo da iSetor. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidente: Luciana Dummar Diretor Administrativo-Financeiro: André Avelino de Azevedo Gerente Geral: Marcos Tardin Gerente Editorial e de Projetos: Raymundo Netto Gerente Canal FDR: Chico Marinho Analistas de Projetos: Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerente Pedagógica: Viviane Pereira Coordenadora de Cursos: Marisa Ferreira Designer Educacional: Joel Bruno | CURSO CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS Coordenador Geral, Editorial e Estabelecimento de Texto: Raymundo Netto Coordenadora de Conteúdo: Daniele Torres Assistente Editorial Emanuela Fernandes Projeto Gráfico e Edição de Arte: Andrea Araujo Designer Gráfico: Carlos Weiber Ilustrador: Guabiras Roteirista, Locutora e Mediadora (radioaulas): Lílian Martins Produtora: Luísa Duavy ISBN: 978-65-86094-49-7 (Coleção) ISBN: 978-65-86094-51-0 (Fascículo 11) Todos os direitos desta edição reservados à: Este fascículo é parte integrante do projeto Estratégias de Cultura e Arte para o futuro: capacitação de agentes culturais, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (SecultFOR), sob o nº 02/2020. Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora CEP: 60.055-402 - Fortaleza-CearáTel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 fdr.org.br fundacao@fdr.org.br
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