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A caminhada empreendedora CAP1: De acordo com Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2009), a palavra empreendedor se origina do latim imprendere, que significa “decidir, realizar tarefa difícil e laboriosa”. Já o Dicionário Aurélio (Ferreira, 2009) define empreender “como colocar em execução”.
Nota-se, nessas definições, que o termo empreender corresponde ao ato de tentar, experimentar, decidir-se a fazer alguma coisa; resolver; pôr em execução; cismar, sentir apreensões.
No campo de estudos do empreendedorismo, há algumas vertentes orientadoras desse conceito. Pelo viés econômico, é possível destacar o trabalho pioneiro de Jean-Baptiste Say (1803), que conceituou o empreendedor como o responsável por “reunir todos os fatores de produção […] e descobrir no valor dos produtos […] a reorganização de todo capital que ele emprega, o valor dos salários, o juro, o aluguel que ele paga, bem como os lucros que lhe pertencem” (Say, citado por Logen, 1997, p. 19). Há ainda o trabalho de Schumpeter (1982), que lançou o campo do empreendedorismo, associando-o à inovação: “A essência do empreendedorismo está na percepção e no aproveitamento das novas oportunidades dos negócios […] sempre tem a ver com criar uma nova forma de uso dos recursos nacionais, em que sejam deslocados de seu emprego tradicional e sujeitos a combinações” (Schumpeter, citado por Fillion, 1999, p. 12).
Nesses conceitos, nota-se que o empreendedorismo está relacionado à ação. Portanto, empreendedores são aqueles que realizam algo, que mobilizam recursos e correm riscos para iniciar negócios, para iniciar organizações.
Aquele que se propõe a empreender é alguém que não fica na esfera dos sonhos e intenções; é alguém que sonha e parte para a concretização. Também se pode constatar que na definição há o empreender para dentro de si, ou seja, agir para se autoconhecer e se autodominar e, por fim, o sentido de que empreender é algo que causa apreensões contínuas.
O pesquisador Fernando Henrique Ramos, em sua obra Empreendedores: histórias de sucesso (2005), entrevistou empreendedores brasileiros, ganhadores do prêmio Empreendedor do Ano, iniciativa da Ernst & Young, realizada em mais de 30 países, buscando identificar as características que esses empreendedores julgam importantes para o perfil empreendedor (como mostra a Quadro 1.1). São características listadas por esse grupo de empreendedores: perseguir seus sonhos, nunca desistir, ter coragem, entusiasmo, apostar no que acredita e no que faz, enxergar o que os outros não veem, correr riscos, ter inspiração e paixão, determinação, criatividade e inovação, ver oportunidades, relacionar-se bem com as pessoas e s Considerando as características apontadas pelos empreendedores, entende-se o conceito de empreendedorismo como a arte de “buscar e transformar os sonhos em realidade” (Dolabela, 2003, p. 38). Já que a “arte de buscar” está diretamente relacionada à obtenção dos recursos e competências necessários à realização do sonho, a “transformação dos sonhos em realidade” está diretamente relacionada à vontade, ao espírito e ao comportamento de empreender e buscar a realização dos sonhos.
Ou ainda, como afirma Fialho (2006, p. 26),
O empreendedorismo nada mais é do que a capacidade de criação, por meio do estabelecimento de objetivos e obtenção de resultados positivos. É a materialização de um sonho, de uma imagem mental. O objetivo a ser atingido origina-se na visão sistêmica que se destrincha na intenção dos atos do empreendedor. E os resultados surgem a partir da ação criativa, persistente e focada nos objetivos.
Portanto, a soma dos conceitos apresentados mostra que empreender é uma ação realizada por pessoas determinadas, que se autoconhecem e conhecem seus limites, que estão prontas para agir e dispostas a arcar com as consequências de seus atos. Esse é, então, um breve perfil do empreendedor.
O empreendedor
O verdadeiro empreendedor é alguém “conectado”, bem relacionado, atento e dinâmico, capaz de ver o que os outros não veem e também de produzir até mesmo enquanto dirige seu veículo ou aproveita um momento de lazer com familiares ou amigos. Não se trata de um workaholic, mas de alguém que tem uma relação profunda com o que faz, gosta do que faz e não aprecia perder oportunidades, sem, contudo, comprometer a própria saúde, seus princípios e o equilíbrio entre os âmbitos físico, pessoal, familiar, social e profissional. Isso tudo requer muita energia; portanto, o empreendedor precisa estar sempre pronto e com todos os recursos disponíveis. Afinal, a qualquer momento, suas habilidades, capacidades e competências podem ser necessárias e decisivas.
A vigília, a atenção potencializada, a ampla capacidade, a atividade elevada, a conexão e o equilíbrio acabam caracterizando-o como uma espécie de super-homem. Contudo, essa visão não está correta, pois, embora o empreendedor seja uma pessoa com muito senso de direção, postura firme, dedicação e determinação, o que ele é, sabe e faz é humanamente viável. Prova disso são as várias histórias de sucesso de que se tem notícia e que são alcançadas por diferentes povos, em diferentes nações.
Portanto, o empreendedor congrega algumas características peculiares, como determinação, autoconhecimento e ousadia, como mostra a Figura 1.1. 
Em vista disso, fica difícil imaginar alguém que não seja empreendedor – afinal, todos estão agindo constantemente e lidam com as consequências de seus atos.
Pessoas que não sabem quem são, onde estão, por que estão e para onde querem ir são sonâmbulos acordados. O empreendedor é alguém que precisa estar acordado para a vida, para o seu papel no contexto em que está inserido e também para a sua parcela de contribuição com o todo.
Assim, pode-se identificar pelo menos três grandes esferas de relacionamento do empreendedor, conforme ilustra a Figura 1.2.
Ele faz parte de um círculo menor, pessoal e individual, em que precisa conhecer a si mesmo, entender-se e se equilibrar. Esse primeiro círculo está relacionado (ou faz parte de) a outro, o do entorno, no qual se dá a relação do sujeito com o próximo. Nessa esfera, o empreendedor precisa entender seu papel, importância e relevância, atuando com as pessoas de forma correta, honesta, competente e sensível. Por fim, há a esfera do todo, mais ampla, e que corresponde à atuação como cidadão de uma sociedade, habitante de uma cidade, de um estado, de um país, de um planeta. Nesse contexto, precisa ser cívico, ecológico e ético, visto que o mundo pede empreendimentos social e ecologicamente responsáveis. Portanto, as esferas do empreendedor exigem sustentabilidade, tanto no nível pessoal como no grupal e universal.
Porém, há aqueles que vão além da “epiderme” empreendedora. Investem, persistem, crescem e vivenciam as transformações de seus sonhos em realidade. Sucessivamente, estabelecem novos sonhos que os levam a novas aprendizagens, desafios e crescimentos. O empreendedor “de carteirinha” está empreendendo constantemente e, nessa categoria, pode-se elencar o empreendedor gestor.
O empreendedor gestor
A ação de empreender constantemente não pode ser confundida com o ato de “pular” de empreendimento a empreendimento. Não se trata de uma ação momentânea, descompromissada e sem direção. Para tanto, o empreendedor precisa ter delineado um mapa, ou seja, um plano que lhe conceda direção, propósito e metas, a fim de que possa agir de acordo com o que foi sonhado, planejado, almejado. Além disso, o empreendedor se prepara e mantém seu aprendizado em constante atualização, pois sabe que sua sabedoria e seu equilíbrio pessoal são decisivos para o sucesso de seu maior empreendimento: a própria vida.
Agindo dessa forma, o empreendedor convive com os riscos de forma calculada, criativa e determinada, buscando sempre crescer em tudo que faz. Não age por agir. O que faz é parte de uma caminhada que tem percurso, destino e objetivos bem definidos. Bolton e Thompson (2002) afirmam que criatividade e inovação são hábitos do empreendedor, assim como construir o novo sendo reconhecido pelos clientes,gerar valor em novas oportunidades de negócios e aproveitar oportunidades identificadas são hábitos de planejamento de negócios. Ou seja, o improviso não serve de referencial ao empreendedor gestor.
Para garantir o sucesso da caminhada empreendedora, é preciso que sejam incorporados traços do comportamento gerencial ao empreendedor, os quais delineiam as características de gestor, tais como:
· planejamento: preparar para a ação e a medição de resultados; planos, programas, metas e objetivos ajudam a construir um ambiente sólido a ser construído;
· criatividade: buscar o novo, as soluções para os problemas, as alternativas de combinações de produtos e serviços inovadores;
· inovação: criar novos produtos, processos e formas de negociar e empresariar;
· perseverança: não desistir diante dos primeiros obstá-
culos, visto que o trabalho será árduo e contínuo;
· otimismo: acreditar em seu próprio negócio, em suas potencialidades;
· entusiasmo: saber que, no início, os erros serão maiores que os acertos, mas aqueles resultam em experiência e conhecimento, subsídios importantes para o enfrentamento de problemas futuros;
· ação: fazer acontecer é o papel principal do empreendedor.
É importante lembrar que, mesmo não estando “100%” em todos esses quesitos, o empreendedor pode dar início a sua empreitada, sempre investindo em seu aperfeiçoamento nessas questões. Algumas delas podem ser aprimoradas mediante a participação em cursos ou a realização de estudos e pesquisas, outras mediante autoconhecimento, desenvolvimento pessoal e postura proativa, a fim de desenvolver práticas saudáveis à caminhada empreendedora.
Aranha (2006) apresentou no I Seminário Nacional do Global Entrepreneuship Monitor (GEM) uma espécie de resumo dos fatores de sucesso da caminhada empreendedora:
A – amor pelo que faz;
E – experiência e/ou estratégia na construção do sonho;
I – inovação em processos, em produtos, na criação de novas formas de relacionamento com o cliente e o mercado;
O – oportunidade, reconhecimento, análise e implementação da situação percebida;
U – união, ser capaz de trazer outras pessoas paraajudar na construção do sonho e, principalmente, fazer com que vivam e queiram o sonho.
A decisão de ser empreendedor
Decidir empreender: Por que esse é o primeiro passo da caminhada empreendedora? O que leva um indivíduo a empreender?
Se alguém for questionado sobre isso, possivelmente dará como resposta que é para ganhar dinheiro, poder se casar, oferecer aos filhos mais comodidade, poder viajar, comprar uma casa etc. Se continuarmos
perguntando por que a pessoa quer isso ou aquilo, no final, possivelmente a resposta apontará a causa real do empreender: o desejo de ser feliz. Portanto, a finalidade última e de raiz da ação empreendedora é a felicidade.
A missão de vida das pessoas é a felicidade. Então, o ser humano empreende pela felicidade, talvez não pensando nela como um alvo, mas sim como uma empreitada, durante a qual vai colhendo momentos de felicidade, enquanto busca a realização de seus sonhos.
A Figura 1.4 mostra que, independentemente do modo como o indivíduo empreende, o que importa é a busca pela felicidade em todas as ações. Os círculos concêntricos representam que o empreendedor pode realizar uma ou todas as formas de empreender. Na verdade, ele pode deter todas elas, mas desenvolver aquelas que lhe parecem mais interessantes.
perguntando por que a pessoa quer isso ou aquilo, no final, possivelmente a resposta apontará a causa real do empreender: o desejo de ser feliz. Portanto, a finalidade última e de raiz da ação empreendedora é a felicidade.
Muitos empreendedores de negócios, com o tempo, tomam caminho do empreendedorismo social e, com certeza, todos são intraempreendedores de seus negócios.
Contudo, há que se tomar um certo cuidado quando se tenta definir quem é o empreendedor. Comumente, o ato de empreender é associado à abertura de uma empresa, mas essa é apenas uma das possíveis ações empreendedoras.
Uma pessoa também pode empreender na empresa em que trabalha. Esse indivíduo, o qual Pinchot e Pellman (2004) denominam intrapreneur (intraempreendedor) para se referir ao empreendedor interno, é aquele que faz a caminhada empreendedora em uma organização da qual é um colaborador. Os intraempreendedores são pessoas que buscam reconhecimento pelo trabalho bem feito e que, quando bem orientadas, motivadas, com liberdade de ação e recursos disponíveis, transformam a realidade de empresas existentes ou em fase de criação.
O intraempreendedor pode atuar não somente em empresas comerciais e indústrias que visam o lucro, mas também em instituições públicas, em organizações não governamentais (ONGs), em outras instituições do terceiro setor e, até mesmo, como voluntário em entidades sociais, como membro de associações de bairro ou como escoteiro. Esse é o chamado empreendedor social.
Aqueles que realizam seus sonhos por meio do empreendedorismo social se destacam dos demais empreendedores por algumas características, tais como:
· buscam soluções para os problemas coletivos da sociedade, como falta de renda em favelas, degradação do meio ambiente, altos níveis de criminalidade, entre outros;
· sua maior realização parte da criação de bens e serviços que promovam benefícios à comunidade, como treinamento profissional ou programas de saúde pública;
· todo e qualquer problema social é foco de suas ações, não importando a área ou o esforço físico e mental necessário para a resolução do problema;
· sua principal medida de desempenho de realização pessoal decorre da melhoria das condições de vida da sociedade, ou seja, o empreendedor se sente satisfeito com a concretização dos sonhos dos outros, da comunidade;
· seu trabalho visa resgatar pessoas sem esperanças na melhoria de suas condições de vida, tornando-as novos agentes de transformação da sociedade.
Aqueles que buscam a realização de seus sonhos por meio da abertura de um negócio são chamados de empreendedores de negócios, os quais objetivam oferecer produtos ou serviços a um novo mercado ou a mercados e clientes já existentes. Esse tipo de empreendedor tem as seguintes características:
· é individualista; seu objetivo é a realização do seu sonho, mas o resultado disso pode, muitas vezes, ajudar na realização dos sonhos de outros. Por isso, pode abrigar intraempreendedores e ser a fonte para trabalhos sociais;
· seus produtos e serviços são voltados para o mercado, visando ao retorno financeiro decorrente do atendimento a clientes com necessidades específicas;
· sua medida de desempenho é o lucro econômico; apesar disso, os empreendedores têm se mostrado preocupados com o social em seus negócios e, principalmente, com o respeito ao meio ambiente;
· seu objetivo, enquanto empreendedor, é satisfazer seus clientes, ampliando, assim, sua capacidade de sucesso na realização do seu sonho e propiciando crescimento ao negócio.
Como se pode observar, a busca pela felicidade, motivadora da caminhada do empreendedor, pode ocorrer em diferentes contextos, da mesma forma que o empreendedor pode representar múltiplos papéis em variadas magnitudes de ação. Nesse sentido, a caminhada passará pelos mesmos desafios, como será visto mais à frente.
A caminhada empreendedora
Antes de se delinear a caminhada empreendedora, é importante distinguir os dois tipos de visão que levam o empreendedor a trilhar esse caminho, uma vez que as causas da ação empreendedora podem ser fruto de uma necessidade ou de uma oportunidade.
Movida pela necessidade, a caminhada pode ser motivada pela falta de alternativa satisfatória de ocupação e renda; ou seja, as pessoas precisam empreender, pois não poderão sobreviver e dar sustento a seus familiares se assim não o fizerem. Portanto, é um tipo de ação mais “sofrida” e competitiva, que leva, em alguns casos, a ações precipitadas, pouco potencializadas e com maiores chances de fracasso. Entretanto, há diversos casos de empreendedores que, movidos por necessidade, obtiveram sucesso pleno em sua caminhada.
De modo geral, o empreender por necessidade levaa empreendimentos menos inovadores e mais concorridos. A pessoa que, de repente, vê-se na obrigação de empreender, não tem tempo para planejar e preparar mais detalhadamente. Precisa agir rápido e, por vezes, acaba entrando em mercados que exigem menos preparo técnico e que, portanto, são mais concorridos. É um tipo de empreendedorismo com maior probabilidade de insucesso e que se mostra mais presente em sociedades com maior desequilíbrio econômico e social. À medida que a economia e a sociedade de um país entram em um processo de desenvolvimento e equilíbrio, esse tipo de empreendimento tende a se tornar menos frequente.
 O outro tipo de empreendedor é aquele que empreende por oportunidade, o que muitos chamam de empreender por desejo. É um tipo de caminhada mais planejada, mais pensada, calcada na razão e menos influenciada pela emoção advinda da pressão de necessitar empreender. Nesse tipo de empreendedorismo são feitos estudos prévios mais detalhados, pesquisas de mercado, avaliações de cenários, tendências e detecção de nichos e oportunidades. Também permite que se estabeleçam estratégias menos arriscadas que a de entrar no mercado por necessidade. É o tipo clássico de empreendedorismo dos países desenvolvidos. Aqueles que detêm conhecimento, maior habilidade técnica e nível mais elevado de educação formal planejam o empreendimento a partir de uma oportunidade, uma ideia ou um sonho que lhes dá motivação para a ação.
No Brasil, percebe-se a mudança de um contexto mais intenso de empreendedores por necessidade para um equilíbrio entre os dois tipos de empreendedores. A cada estudo, nota-se uma tendência maior em executar o planejamento do ato de empreender de modo mais amplo e eficiente. Surgem negócios inovadores, com maior grau de complexidade técnica e que exigem maior volume de capital. Há, inclusive, uma chance de o Brasil ser um dos grandes alvos dos empreendedores de risco internacionais nos próximos anos. Isso é uma amostra clara do amadurecimento e do preparo dos empreendedores brasileiros, os quais buscam a realização dos sonhos e não o lucro de curto prazo (e, muitas vezes, minguado).
Ao se tentar entender como é o “caminhar” do empreendedor, observa-se que ele não é alguém que se deixa levar aleatoriamente pela situação, ou – dizendo de forma popular – “que se deixa levar pela maré”, parando algum tempo diante de algum obstáculo, e depois seguindo conforme o destino quer.
O empreendedor sabe onde está, o que é, para onde deseja ir e como pretende seguir. Conhece as respostas, pois fez as perguntas certas. Já atingiu maturidade e está consciente de seu papel no contexto e no todo. Busca potencializar suas competências e lidar de modo minimizador com suas limitações. Tem consciência de que há muito a fazer para crescer nessa empreitada e valoriza a aprendizagem em seu amplo sentido.
Portanto, o empreendedor sabe que empreender não é sair caminhando a esmo. Empreender é caminhar tendo claro o lugar em que se está e o que deseja alcançar, com uma rota definida, com recursos previstos e disponibilizados e competências em plena disposição e ação. Assim se constitui a visão empreendedora, a qual articula todos os elementos que fazem parte dessa caminhada, conforme mostra a figura a seguir.
O empreendedor sabe que passará por diferentes momentos durante a caminhada, os quais contemplam as seguintes ações:
1. Decidir se realmente deseja empreender e o que precisa fazer para estar apto a tal ação.
2. Buscar ideias, oportunidades ou sonhos que possam ser o alvo adequado da empreitada.
3. Avaliar as ideias e as oportunidades, de modo que possa determinar quais são as melhores, as mais adequadas e o potencial para dar rumo à caminhada empreendedora.
4. Montar um plano de negócios e buscar meios financeiros de torná-lo viável.
5. Executar o plano, ou seja, empresariar a ideia, tornando-a real, eficaz e interessante, tanto para si quanto para seus colaboradores e para o mercado.
Como se pode notar, é um percurso longo e desgastante, que exige passar por diferentes momentos, competências e desafios, e frequentemente promove surpresas, decepções, imprevistos e descobertas que podem afetar de modo profundo o caminhar empreendedor.
Bem se sabe que ninguém chega aonde deseja sem percalços, desafios e aprendizagens importantes. Portanto, “empreender é preciso, viver é empreender”.
Muitas vezes, atingir o final de um empreendimento – seja pelo sucesso, seja pelo fracasso – significa alcançar a linha de largada do próximo empreendimento: o fim pode significar um novo começo.
A importância da criatividade
Nos três contextos em que atua, tanto no nível pessoal como no grupal e universal, há uma questão importante e essencial para o empreendedor: a criatividade. Predebon (2002, p. 27) afirma que “a espécie humana tem a capacidade inata e exclusiva de raciocinar construtivamente. Essa capacidade produz o que tranquilamente pode ser chamado de criatividade”.
O potencial criativo do empreendedor é exigido ao extremo em toda a sua empreitada, seja inovando em termos dos produtos e/ou serviços que oferece, seja em suas atitudes, decisões, ações e percepções. Afinal, manter a criatividade como parte do ser é uma das habilidades do empreendedor, pois ele sabe que ser criativo é redundância, visto que, por natureza, é um ser criativo.
Entretanto, há empreendedores que não acessam, não usam e não costumam exercitar a própria criatividade. Comumente, muitas pessoas colocam “tantas demãos de tinta” em sua base criativa que, com o tempo, nem lembram que têm em sua estrutura essa importante competência.
Com base nas ideias de Maslow, Predebon (2002, p. 34) diz que a “criatividade é característica da espécie humana: o homem criativo não é o homem comum ao qual se acrescentou algo; o homem criativo é o homem comum do qual nada se tirou”.
Apesar disso, nessa questão, o contexto é antagônico, pois ao mesmo tempo em que se fala, repetidamente, que as pessoas precisam ser empreendedoras, cobram-se delas posturas e comportamentos adversos aos exigidos de um empreendedor. Um exemplo disso são escolas e famílias que incentivam a formação de bons “empregados”, ou seja, aqueles que se habilitam para um emprego, que se resignam a cumprir uma rotina em busca de segurança e tranquilidade. Mas o mercado quer empreendedores até mesmo para ocuparem cargos menos representativos e decisórios em empresas. Por outro lado, as organizações tendem a “formatar” as pessoas para se enquadrarem no perfil de profissionais de que precisam. Nisso, acabam formando exércitos de “seguidores de regras”, que as aceitam sem questionamento e que se orientam por elas, perdendo iniciativa, criatividade e adesão à mudança. Tais profissionais, assim, tornam-se rígidos, pouco criativos e acomodados, características totalmente contrárias ao perfil empreendedor.
Esse é, portanto, um aspecto nefasto à formação do empreendedor, além de contráditório, pois o mercado, ao mesmo tempo em que exige do profissional um perfil empreendedor, acaba por formatá-lo em um “seguidor de regras” ao inseri-lo no contexto organizacional.
Apesar disso, vale dizer que já existem empresas trabalhando diferentemente sua relação com o espírito empreendedor e criativo de seus colaboradores. Vejamos o exemplo da empresa Google, um dos casos de sucesso da atualidade, descrita por David Vise na obra Google: a história do negócio de mídia e tecnologia de maior sucesso dos nossos tempos (2007). O exemplo serve para compreender que os graus de inovação da organização e o de satisfação dos funcionários crescem em ordem direta.
O contexto da ação do empreendedor
O contexto de ação do empreendedor nem sempre é justo e honesto, visto que se mostra quase sempre competitivo e complexo. Logo, fazer parte dele e não estar consciente de suas características é como empreender cegamente: dificilmente se chega aonde se quer.
Para Young, Wendy e Fischer (2002), o empreendedor pode ser classificado em quatro tipos: artesão, tecnológico, oportunista (negócios) e “estilo de vida”. Aqui são focalizados doistipos de empreendedores, por se entender que o empreendedor tecnológico e o “estilo de vida” são subdivisões que podem ser aplicadas tanto ao empreendedor artesão quanto ao oportunista. Dessa forma, os dois tipos empreendedores em relação à ação empreendedora são:
· O empreendedor artesão: possui habilidade técnica superior (marceneiro, alfaiate) e pouco conhecimento de negócios. Pensa e decide em curto prazo, não faz planejamento; o negócio é sua principal fonte de capital. O marketing do negócio tem como base o preço, o relacionamento pessoal, a personalização de produtos e a reputação.
· O empreendedor oportunista: alia o conhecimento técnico com o administrativo, o econômico, o legislativo ou o em línguas, e está constantemente atualizado. Toma decisões em curto, médio e longo prazos, usa estratégias de marketing e esforços de vendas variados de acordo com cada cliente e mercado. Preza pelo trabalho em equipe, faz orçamentos e, principalmente, pesquisas de mercado para o lançamento de novos produtos e para medir a satisfação de clientes.
Compreender o contexto, as variáveis que o influenciam, saber relacioná-las de modo complexo e, ao mesmo tempo, estabelecer estratégias para continuar a exploração de oportunidades de negócios é uma das grandes habilidades exigidas do empreendedor, que precisa, ainda, ter clara visão empreendedora, foco, relacionar bem as partes, considerar o todo, as implicações, as exigências e as tendências. Deve também compreender plenamente a realidade, tanto no nível do negócio quanto do mercado em que está inserido. Portanto, essa é uma habilidade de planejamento altamente técnica, aliada à aguçada percepção, à inteligência, ao poder de relacionamento de variáveis ambientais e à criatividade, uma vez que, em meio a situações muito complexas, soluções inovadoras são a única saída.
O contexto em que o empreendedor atua é, ao mesmo tempo, dinâmico, mutante, complexo e competitivo. O que ontem valia como regra para o sucesso, hoje pode ser a base do fracasso.
O empreendedor não pode pensar que encontrou o caminho do sucesso, pois, na verdade, este apresenta constantes bifurcações, diante das quais precisa optar por algumas das estradas que estão a sua frente, ou por cortar a selva, fazendo um verdadeiro rally para chegar aonde deseja.
Aquele que não tem um alvo bem definido nem o preparo exigido se perde pelo caminho. Somente alguém com muita sorte pode conseguir resultados em um negócio sem ter conhecimentos, habilidades e competências próprios ao ramo de atividade em que pretende competir.
Portanto, para falar em empreender, é necessário atrelar a essa ideia um preparo prévio do empreendedor. Esse preparo tem relação com vários elementos discutidos no âmbito da administração, mas não se pode deduzir que somente com um curso de Administração se está apto para empreender. Da mesma forma, não se pode dizer que pessoas sem o curso superior de Adminitração não podem empreender com boas chances de sucesso.
O preparo não significa apenas ter um diploma universitário; ele tem relação com a energia da pessoa, o seu rol de conhecimentos, as suas habilidades e as suas competências. Deve-se levar em conta, ainda, a inteligência emocional, a capacidade de lidar com o próximo, com os conflitos e a habilidade de fazer a leitura complexa do ambiente, que consiste em perceber e relacionar variáveis, detectar ameaças e oportunidades, bem como vislumbrar meios e estratégias inovadoras para agir e atingir o objetivo.
Portanto, a competência empreendedora é uma soma de fatores, como mostra a Figura 1.6.
A visão empreendedora é uma forma especial de ver a realidade empresarial, os elementos que a constroem e o ambiente de negócios pretendido. Para que uma visão seja realmente empreendedora, é preciso que se tenha em mãos o volume de informações sobre o mercado, os clientes, os concorrentes, a demanda, as restrições legais e ambientais, bem como a credibilidade dessas informações. Ao fazer uma gestão adequada dos dados disponíveis, o empreendedor passa a perceber relações, interdependências e fluxos que não são facilmente perceptíveis.
Assim, reafirma-se o que muitos especialistas consideram: o empreendedor é aquele que olha para o que todos olham e vê o que ninguém (ou quase ninguém) vê. Isso proporciona a habilidade de detectar oportunidades até mesmo em situações nas quais parece impossível ou improvável que elas existam. Logo, empreender consiste na união de diversas competências que envolvem:
· a obtenção de informações e o conhecimento sobre a área de negócios na qual deseja atuar;
· o controle dos sentimentos, a valorização do equilíbrio e a confiança no empreendimento;
· a disseminação de valores como a ética, a moral, a responsabilidade social e ambiental, que proporcionam a realização autêntica do sonho;
· o estabelecimento de processos administrativos, nos quais a autonomia e a interação entre as partes são critérios de atuação no negócio;
· a utilização da tecnologia de informação e comunicação como um diferencial do negócio.
Saber ler a realidade com olhos atentos, contar com um bom acervo de informações e conhecimentos, fazer parcerias e estabelecer uma rede de relações profícuas e adequadas, aliadas a boas técnicas de organização, constituem alguns dos grandes segredos do empreendedor. É bom lembrar que, há cem anos, o empreendedor não precisava ser tão complexo como hoje, visto que o mundo não era tão complicado e inter-relacionado. Provavelmente,
do empreendedor de amanhã será exigido ainda mais. Em vista disso, empreender com sucesso será algo cada dia mais complexo, exigente e difícil, razão pela qual se focaliza com destaque a questão do preparo para empreender, tanto no sentido técnico como no emocional e, até mesmo, no físico, pois existem empreendedores que não obtêm o sucesso almejado por não terem administrado bem o stress gerado pelo caminhar empreendedor.
O perfil do empreendedor
O empreendedor é alguém que precisa aprender a gerenciar, de forma equilibrada, não só os aspectos usuais de gestão – pessoal, finanças, estoques, entre outros –, como também as informações, os valores éticos e morais, o tempo, as tecnologias e as relações pessoais e profissionais.
As capacidades e as competências do empreendedor são exigidas de modo diferenciado no decorrer da caminhada empreendedora. No início, precisa ser criativo, ou seja, ter ideias, saber pesquisar, identificar oportunidades, enxergar além do óbvio. Nesse processo, desenvolve o papel que Oech (1988) denomina de caçador de ideias, alguém capaz de achar sua “presa”. Para isso, o empreendedor precisa conhecer o ambiente em que ela vive, seus hábitos e seus perigos. Ao mesmo tempo, é preciso ter criatividade para saber como capturar essa presa com sabedoria. Para facilitar essa “caçada”, vale lembrar as recomendações de Schumpeter (1982) sobre inovação:
· crie produtos novos, combine produtos e serviços, acrescente funcionalidades, melhore a qualidade do produto;
· com a crescente evolução tecnológica, há espaço para novas técnicas de produção, novos materiais;
· com a queda de barreiras logísticas, a cada dia está mais fácil abrir novos mercados, inclusive para a exportação, visto que o Mercosul, a Alca, a União Europeia, a África e a Europa Oriental são mercados grandes e atrativos;
· os fornecedores de produtos e serviços são uma grande fonte de inovação para os negócios, e as possibilidades vão de fornecimento de informações a matérias-primas; de componentes a tecnologia e novos processos, de um componente a um produto completo;
· vivemos um momento de transformação das organizações – das organizações clássicas às organizações virtuais, do ambiente de trabalho conservador ao trabalho em casa, das relações de dependência às relações de participação e cocriação.
Além disso, o empreendedor precisa ser um pouco “artista”, ou seja, ter a habilidade de moldar uma ideia bruta e dar a ela uma forma interessante, propícia e viável. Nota-se que as habilidades usadas para se ter e moldar ideias são diferentes. As habilidades aserem utilizadas mudarão de acordo com o momento em que estiver da caminhada.
Nesse sentido, percebe-se que o empreendedor precisa representar diferentes papéis, o que exige mais do que mera vontade. Esse indivíduo deve ser determinado na busca por oportunidades para empreender, além de ser alguém comprometido, persistente e que exige qualidade e eficiência em tudo o que faz. Também precisa saber definir metas, estabelecer riscos calculados, ter bom grau de persuasão, de encanto pessoal e uma ampla rede de relacionamentos. Precisa, ainda, ter autonomia, autoconfiança, independência e domínio técnico suficiente para lidar bem com informações, planejar estrategicamente, controlar e monitorar a ação empreendedora. Isso tudo com autocontrole, autoconhecimento e equilíbrio pessoal.
Portanto, para estabelecer o perfil do empreendedor, é necessário lembrar que há um triplo papel a ser por ele desenvolvido. De acordo com Cassia (2007), quem deseja empreender precisa ser um bom empreendedor, no sentido de ter boas ideias, de ser visionário, determinado, criativo e sonhador. Mas também precisa ser um administrador, no sentido de saber planejar, organizar os planos, ações, recursos e metas. Por fim, precisa ser um bom técnico, ou seja, alguém que consegue executar o que foi planejado. Falhando um desses papéis, o resultado fica comprometido. Ter boas ideias e planejar, mas sem executá-las bem, compromete o resultado, assim como saber criar e executar, mas sem ter o domínio do planejamento, também pode não levar ao sucesso. Sem ideias, o planejamento e a executação não surtem os efeitos desejados. É preciso uma boa combinação entre o empreendedor, o administrador e o técnico para que a caminhada empreendedora seja realizada de forma plena e potencializada.
Agrupando todas essas características, pode-se afirmar que o empreendedor precisa ser sistemático, tanto em termos de conteúdo e de comportamento como de aprendizagem. O conteúdo diz respeito à busca pela inovação, por novas oportunidades de negócio ou então à busca por oportunidades de crescimento nos negócios já existentes, de modo a melhorar processos e/ou produtos. O comportamento diz respeito à consciência e à responsabilidade de empreender e inovar, à habilidade de trabalhar em equipe, eliminando barreiras, mostrando paixão pelo negócio e por criar o seu próprio futuro. A aprendizagem implica a disposição para aprender sobre novas ferramentas, novos relacionamentos, sobre como estimular a criatividade e a inovação na empresa; portanto, implica estar aberto a novas formas de pensar e atuar.
Em estudo intitulado O DNA dos vencedores, publicado na revista Pequenas empresas grandes negócios (Simões, 2005), é apresentada uma lista de 18 características importantes ao empreendedor de sucesso. Tal lista foi elaborada a partir de pesquisa realizada junto a 30 empreendedores brasileiros e estrangeiros de sucesso. As características listadas são as seguintes:
1. Capacidade de sonhar- o poder das leis 
2. Curiosidade pergunte sempre o “por quê”
3. Intuição e visão de futuro- sentimento a flor da pele
4. Detectar possibilidades- o pote de ouro está logo ali
5. Criatividade e inovação- viva a diferença Iniciativa – não deixe nada para amanhã.
6. Coragem e ousadia – quem não arrisca não petisca.
7. Objetivos bem definidos – os desvios podem ser fatais.
8. Paixão pelo negócio – o fogo que move montanhas.
9. Disciplina – meu nome é trabalho.
10. Persuasão – acredite no que você diz.
11. Persistência – seja duro na queda.
12. Humildade – o sucesso não pode deslumbrar.
13. Superação – enfrente os obstáculos.
14. Autoconfiança – acredite em si mesmo.
15. Habilidade comercial – as sutilezas da arte de vender.
16. Rede de relacionamentos – de mãos dadas com o poder.
17. Liderança – dois mais dois pode dar cinco.
18. Iniciativa- não deixe para amanhã
Esse rol de características motivou uma analogia que relaciona o perfil do empreendedor com uma famosa pintura de Leonardo da Vinci, denominada Homem Vitruviano.
Leonardo da Vinci, em um diário datado de 1490, deixou como legado o famoso desenho do Homem Vitruviano, no qual se vê a figura de um homem nu separadamente e simultaneamente em duas posições sobrepostas, com os braços inscritos em um círculo e em um quadrado. Essa obra impressiona não somente pela perfeição plástica, mas também pela exata proporção matemática entre as partes do corpo humano.
Relacionando essa obra ao estudo do empreendedorismo, pode-se dizer que o empreendedor se cerca de “espaços”. Um espaço material – o quadrado – no qual ele precisa saber gerenciar, relacionar-se, controlar e atuar sobre o mundo do dinheiro e dos bens materiais. Por outro lado, está inserido em um outro espaço – o círculo –, que é mais sutil e intangível. Trata-se do espaço do “eu”, que envolve autoconhecimento, sensibilidade, criatividade, percepção e modelos mentais. Além disso, há uma outra divisão de espaços no qual se destacam a razão e a sensibilidade.
Assim como no desenho do Homem Vitruviano, para empreender é necessário que haja um equilíbrio entre as partes – ou espaços – materiais e sutis, racionais e sentimentais. Um empreendedor muito “quadrado” e racional acaba sendo um capitalista selvagem. Focado excessivamente no lucro e na produtividade a qualquer custo, enxerga o outro como uma peça de quebra-cabeça do sucesso nos negócios. No entanto, de modo oposto, há o empreendedor “redondo”, que se mostra muito mais sensível, dedicado ao próximo e ao planeta, com ideias novas e muitas vezes altruístas, mas que têm pouca aderência ao mundo prático e de resultados. Fluindo entre esses dois extremos, há os empreendedores que buscam uma mescla entre o “quadrado” e o “círculo”, tendo por vezes uma inclinação mais para o lado prático e outra para as elocubrações criativas, inovadoras e inusitadas.
Nota-se que há uma emergente e importante necessidade de relacionamento, integração e complementaridade entre esses espaços, o que se efetiva de modo complexo, uma vez que tem em seu bojo conhecimentos técnicos, gerenciais, autoconhecimento, modelos mentais, criatividade, responsabilidade social e ecológica, bem como habilidades interpessoais, de gestão de conflitos, intuição, visão sistêmica etc. Em outras palavras, é um conjunto complexo de habilidades, capacidades e competências, que exigem muita dedicação, conhecimento e sensibilidade do “empreendedor vitruviano”.
Assim como Da Vinci baseou seu desenho nos trabalhos do arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio, o desenho do homem vitruviano fornece base para se tentar representar os diferentes “espaços” que o empreendedor vitruviano precisa ocupar para alcançar significativos resultados em seus empreendimentos. Esses espaços são:
6. Vínculo espiritual (ligação com Deus).
7. Autoconhecimento.
8. Responsabilidade social.
9. Criatividade.
10. Intuição e sensibilidade.
11. Responsabilidade ecológica.
12. Visão sistêmica e complexa.
13. Capacidade interpessoal.
14. Domínio da tecnologia.
15. Competência técnica e gerencial.
16. Capacidade de liderança.
17. Habilidade em gestão de conflitos.
18. Bons modelos mentais.
Vê-se nesses espaços o quanto é complexo o contexto humano, uma vez que os elementos todos estão inter-relacionados. Nesse sentido, é necessário estabelecer boas estruturas (fundações) emocionais, intelectuais e sociais para se fazer uma caminhada efetiva em busca da concretização dos sonhos. Essa fundação começa com o propósito firme de querer empreender.
A partir dessas características, vê-se que, quando o sujeito empreendedor define que quer efetivamente algo e declara ao mundo essa vontade, tem início um processo de transformação à sua volta, do que decorre a formação de boas bases para a caminhada empreendedora.
Portanto, o conceito do Homem Vitruviano de Da Vinci remete ao conceito de homem e empreendedor como um todo, visto que não é possível separar o pessoal do profissional, do empreendedor. A partir do momento em que é tomada a decisão de empreender, os universos pessoal e profissional se fundem e se inter-relacionam,pois lança mão da capacidade técnica e também das habilidades pessoais, pois empreender implica o entendimento de todas as dimensões apontadas no empreendedor vitruviano e elas são parte do homem que empreende.
Por isso, o primeiro passo é o decidir empreender. Entretanto, querer não é o suficiente, mas é o passo inicial que fundamenta, energiza e potencializa os demais passos da caminhada empreendedora. Portanto, é preciso evitar o autoengano, a preguiça ou as crenças limitadoras, e ainda acreditar que é possível efetivar o sonho e seguir com o lema: quem se não eu; onde se não aqui; quando se não agora!
CAP2: Tomando a decisão de empreender
No capítulo anterior, ficou evidenciado que não existe caminhada empreendedora sem o querer empreender. Nesse sentido, para dar início a essa jornada, é preciso desejar, acreditar, querer e estar disposto a colocar “o pé na estrada”. Toda viagem precisa ter um destino, um alvo, um objetivo. Logo, empreender precisa ser uma ação que tem um objetivo claro e viável.
Em alguns casos, o empreendedor já tem uma ideia delineada, um sonho ou uma visão de oportunidade. O próximo passo é a avaliação da ideia. Mas se o empreendedor ainda não tem essa ideia já configurada, não pode seguir em frente sem antes identificar, criar ou sonhar algo.
É nesse momento que se insere a criatividade na viagem empreendedor
O passo criativo da caminhada
A palavra de ordem nas organizações é inovar, que consiste em criar e colocar uma ideia nova em prática (seja ela voltada a um produto, um serviço, um processo ou mesmo uma estratégia). Portanto, para criar algo novo é preciso criatividade.
Se o desejo é o de inovar, o primeiro passo é aprender a criar e, quando a criatividade é requisitada, constata-se que ela existe mas, não raro, está escondida dentro das pessoas.
No âmbito da caminhada empreendedora, há casos de pessoas que decidem empreender por terem detectado uma oportunidade ou por terem tido uma ideia interessante. Mas, na maioria das vezes, isso não ocorre de modo automático, razão pela qual é preciso buscar a ideia. Como cita Barreto (1997, p. 285), Thomas Edison disse que uma invenção é fruto de apenas “1% inspiração e 99% transpiração”. Logo, é preciso agir de forma determinada e planejada para se obter ideias inovadoras.
Para tanto, é preciso entender o que é criatividade e, com base nisso, compreender que o desafio é reaprender a ser criativo, ou seja, voltar a ter caminho livre para o desenvolvimento da essência criativa. Mas como fazer isso se geralmente a criatividade não é exercitada?
O processo criativo é bem variado: pode-se criar algo novo, inusitado, surpreendente; pode-se fazer a junção do novo com o que já existe; pode-se pensar e fazer algo de modo diferente, mudando processos, locais de uso, contextos etc. Para isso, é preciso pesquisar, pensar, analisar, entender, dedicar-se totalmente à busca de um bom alvo para o empreendimento.
Esse passo da caminhada empreendedora não é um momento simples e rápido. Todos nascem com potencial criativo, mas sentem dificuldade em colocá-lo em prática.
Geralmente, as pessoas não vivenciam a criatividade com frequência, não ativam esse poder, não o colocam em prática. Como aponta Barreto (1997, p. 21), “a criatividade acaba encoberta por uma camada de conformismo, rotina, desinteresse, racionalização, insegurança e até mesmo mistificação”. As pessoas ficam inibidas, desestimuladas e desacostumadas a criar. Cria-se uma barreira entre a pessoa e sua criatividade. Talvez, por essa razão, seja comum uma pessoa reconhecer a criatividade no outro, mas não em si mesma. Entretanto, para além dessa barreira, ainda resta a essência criativa. Assim, é necessário ultrapassar esse obstáculo e voltar a ter contato direto com a criatividade, ou seja, é preciso entrar em erupção criativa. Mas como fazer isso?
O acesso à essência criativa
Em primeiro lugar, é preciso entender o que é criatividade:
criatividade é criar, produzir aquilo que é simultaneamente inusitado e útil. Envolve a capacidade de perceber possibilidades, tolerar ambiguidades, recombinar, pensar independentemente, planejar, julgar sem preconceitos, perceber analogias, produzir ideias em quantidade, mudar de abordagem ou ponto de vista, e de ser original (Me eduque, 2011)
Vários autores abordam a criatividade com diferentes enfoques, relacionando-a tanto à questão pessoal quanto à profissional.
Osho (1999, p. 13) faz uma abordagem mais filosófica, dizendo que “a criatividade é divina e está na essência do homem. Além de ser natural, é a própria saúde da pessoa. Sem ela a pessoa não está verdadeiramente viva”. De acordo com o autor, a criatividade exige um bom grau de autoconhecimento, pois o caminho criativo é individual e cheio de obstáculos. Para superá-los, deve-se voltar a ser criança (o ser mais criativo que existe), estar sempre aprendendo algo novo (ser curioso, atento e estudioso), aprender a experimentar momentos simples de felicidade e sonhar.
Csiksentmihalyi (1999) associa a criatividade ao conceito de fluxo, que são os momentos em que o homem concentra toda sua atenção, vontade e capacidade em uma determinada ação, alcançando não somente bons resultados práticos como também uma grande satisfação pessoal. Sem criatividade não há fluxo.
Barreto (1997) associa criatividade aos problemas. Segundo ele, só é possível ser criativo quando se tem um problema a ser resolvido. Portanto, sem haver um problema, o ato de criar é puro devaneio. As pessoas só criam por duas razões: conveniência e, principalmente, prazer. Ele afirma que o cérebro é capaz de resolver 99% dos problemas. Apenas 1% requer efetiva criatividade. O mercado busca incessantemente pessoas com a capacidade de resolver esse 1% de problemas.
Ainda de acordo com o autor, as ideias são aparições mágicas, ou seja, passam sempre correndo e nunca nascem completas. São evocadas pela conjunção de três fatores, que ele chama de BIP:
· bom humor: no sentido de “estar numa boa”; sem isso, não há flash criativo;
· irreverência: implica ter jogo de cintura, um leve e cordato ceticismo; dar um leve desconto a tudo que o cerca e a tudo que lhe dizem;
· pressão: é um fator imprescindível à inspiração, mas deve ser exercida dentro de limites objetivos e num quadro geral de valorização.
Hargrove (2006) complementa a questão apontando que a criatividade se dá quando as pessoas são capazes de conectar diferentes marcos de referência, de modo que resultem em criar ou descobrir algo de novo. Para exemplificar, ele cita a ação de Gandhi, que uniu protesto e pacifismo; a internet, que é uma combinação de computador e telefone, e o ferro de passar roupa não aderente, que combina a tecnologia do ferro convencional com aquele da frigideira antiaderente.
A partir dessas diferentes visões, pode-se resumir assim o conceito de criatividade:
· na visão de Osho (1999), é algo natural, divino;
· na percepção de fluxo de Csiksentmihalyi (1999), é o que torna a pessoa feliz;
· para Barreto (1997), é o que se relaciona com a resolução de problemas;
· para Hargrove (2006), é o que exige um pensamento diferente, ambíguo, paradoxal e fora do padrão linear/cartesiano para que se perceba o novo, com novas combinações, novos usos e perspectivas etc.
Imagine-se fazendo algo que lhe é natural, que lhe dá prazer, que é útil e lhe faz sair do lugar comum. Isso não parece ser bom e interessante? Então, aí surge o grande paradoxo da vida moderna. As pessoas não são criativas em seu cotidiano; no entanto, poderiam e deveriam ser, já que se trata de algo bastante positivo para suas vidas e profissões. Mas parece que não o são, em parte, por ignorarem o que é criatividade e também em virtude dos bloqueios que a vida colocou entre o ser racional, lógico, cartesiano, e sua essência criativa, fluida e pouco convencional.
Os bloqueios à criatividade
Oech (1988, p. 21), assim como a maioria dos autores que versam sobre o assunto, afirma que há meios de se desbloquear a criatividade, trazendo-a de volta ao contexto pessoal e profissional. O autor apresenta dez bloqueiosmentais, que, uma vez conhecidos e trabalhados, levam a pessoa a um novo e melhor patamar de criatividade. Os bloqueios são:
19. “A resposta certa”.
20. “Isso não tem lógica”.
21. “Siga as normas”.
22. “Seja prático”.
23. “Evite ambiguidades”.
24. “É proibido errar”.
25. “Brincar é falta de seriedade”.
26. “Isso não é da minha área”.
27. “Não seja bobo”.
28. “Eu não sou criativo”.
Ao explicar os referidos bloqueios, o autor diz que as pessoas são viciadas em achar uma resposta certa e param de procurar outras alternativas. E questiona: a primeira resposta certa é a melhor? Pode ser que a segunda, a terceira, a quarta sejam muito melhores. Mas como elas vão surgir se a busca acaba na primeira resposta certa?
A esse respeito, Duailibi (1990) lembra que é da quantidade que se extrai a qualidade, e isso é fundamental em criatividade. Segundo ele, as pessoas são viciadas em lógica, descartando tudo que, a princípio, não lhes pareça “amigo da razão”. É possível que o inventor do aparelho de fax, ao pensar em uma solução de uma cópia de documento impressa a distância, tenha sido criticado. As pessoas possivelmente diziam a ele que imprimir um documento por telefone era algo ilógico. Mas o inventor persistiu e, se não tivesse vencido esse bloqueio, o mundo teria sido privado dessa ferramenta.
Duailibi (1990) também ressalta a forte educação no tocante ao atendimento das normas. Seguindo-as cegamente, as pessoas acabam por se tornarem cegas a regras novas e inovadoras. Comumente, pais e educadores orientam as crianças a serem realistas e práticas, em virtude de a praticidade estar no âmbito daquilo que é esperado, do comum, e não do novo, inovador, diferente do status quo vigente.
Outro elemento que compromete e inibe a criatividade é crer que não pode haver ambiguidade, como se houvesse apenas uma possibilidade a ser considerada.
O temor ao erro é outra causa nefasta que atua sobre a criatividade. A escola ensina que erro leva à punição; como ninguém gosta de ser punido, ninguém quer errar. Mas é preciso lembrar que, para acertar, é preciso errar (provavelmente, Pelé chutou umas 10 mil bolas para fazer mil gols). Nessa concepção, brincar também é proibido, principalmente para quem já saiu da infância. Entretanto, essas proibições são negativas para a criatividade, pois quanto mais a pessoa brinca, mais relaxada e criativa fica, trazendo à tona ideias que, de outro modo, nunca iriam aparecer.
Vale lembrar também a questão da especialidade. Comumente, as pessoas apenas consideram o que passa pelo seu “funil” de conhecimentos e, assim, cada um olha apenas para seu pequeno mundo e foco de percepção. Quando há cruzamento de visões, acontecem fagulhas criativas. É importante relacionar os conhecimentos para criar mais e melhor.
Por fim, o último fator bloqueador da criatividade é acreditar que não se é criativo. Os estudos da neurolinguística relacionam o que se diz com o que se acredita, e também o que se acredita ao que se faz. Robbins (1987, p. 30) diz que “muitas pessoas são impetuosas, mas devido às suas crenças limitadas sobre quem são e o que podem fazer, nunca agem de forma a tornar seus sonhos uma realidade. Pessoas bem-sucedidas sabem o que querem, e acreditam que conseguirão”. Acreditar na criatividade é o primeiro e decisivo passo para se caminhar para uma vida mais rica, interessante, inovadora e plena de criatividade.
Como incorporar criatividade
Segundo Kraft (2004), é possível criar as condições básicas necessárias para se aproveitar ao máximo o potencial criativo de cada um, bastando, para isso, mudanças na postura e nas condições circundantes que se oferecerem. É aparentemente muito simples: basta ter curiosidade, vontade de se surpreender, coragem para derrubar certas muralhas intelectuais e confiança em ser capaz de criar. Esses fatores são importantes para desbloquear o caminho da criatividade.
Clegg (2000) esclarece que os principais inimigos da criatividade são a visão limitada e a falta de inspiração. Uma ação que almeja a criatividade passa pelo uso de técnicas que desviam do caminho padrão de respostas. Deve-se encontrar pontos de vista diferentes, força-se a fazer algo que normalmente não se faria. Isso pode ser incômodo, mas é a única maneira de fazer algo acontecer.
Predebon (2002, p. 87) diz que “A inovação é irmã da criatividade”. Dessa forma, pode-se dizer também que a criatividade está na base da inovação. Sem boas ideias, não se consegue inovar; por isso, é importante que o administrador desenvolva sua criatividade. Para tanto, pode-se exercitar algumas ações, fazer exercícios criativos e incorporar ao máximo hábitos que contribuem para desenvolver a criatividade. Com base no mesmo autor (p. 118), segue um rol de sugestões fornecidas pelo autor para a “incorporação” da criatividade:
· Brinque (com crianças, com a comida).
· Busque diferentes pontos de vista (coloque-se no lugar do outro ou de algo).
· Busque muitas ideias (brainstorming).
· Conte histórias (se possível, invente-as).
· Desenhe de forma simples e rápida (mesmo que não seja um bom desenhista).
· Faça novas combinações e arrumações (no armário, no vestir, na cozinha).
· Inverta as coisas (mude caminho, horários, hábitos).
· Relacione coisas rapidamente.
· Use os dois lados do corpo (faça malabarismos; use a mão menos habilidosa para comer, escrever).
· Veja e ouça mais atentamente.
· Anote tudo (tenha um bloco sempre à mão).
· Aprenda a contar piadas.
· Aprenda a fazer coisas novas (música, artes, mecânica, ioga, xadrez, línguas, desenho).
· Pense rápido (estude como o cérebro funciona e exercite os dois hemisférios).
· Permita-se sonhar (sair do real, lógico, racional).
· Use melhor o tempo para poder criar mais (organize-se para ser mais criativo).
· Aumente seu vocabulário (conheça mais palavras, saiba sua origem, significado).
· Busque melhorar o potencial criativo de um local (ambiente).
· Busque mais momentos “lentos” e relaxantes (caminhadas, pôr do sol).
· Invente brincadeiras novas com seus amigos e familiares.
· Conheça lugares diferentes (sebos, asilos, ferros-velhos, lojas de usados, bibliotecas).
· Ensine alguém a ser criativo.
· Escolha mentores (gênios criativos) e converse – e se inspire – com eles (tenha papos fictícios com Leonardo da Vinci, Einstein, Thomas Edison).
· Faça pesquisas sobre coisas, pessoas, lugares.
· Dê uma “pirada” (exagere, encolha, adapte e substitua coisas; saia do óbvio, do comum).
· Invente histórias (infantis, ficção, humor).
· Pergunte como uma criança, seja curioso (O quê? Por quê? Quem? Onde? Quando?).
Bono (2008), um dos maiores autores sobre criatividade, recomenda o exercício de adoção do pensamento paralelo, mediante a prática de um método intitulado Seis Chapéus. Segundo esse método, pontos de vista diferenciados, mesmo que contraditórios, são considerados de forma idêntica na reflexão criativa. Como cada chapéu oferece um ponto de vista diferente, a análise ganha muito em diversidade e potencial criativo.
Vale observar que a criatividade se relaciona à capacidade que a pessoa tem de fazer associações. A esse respeito, Guilford (citado por Kraft, 2004, p. 47) define criatividade como a capacidade de “encontrar respostas inusitadas, às quais se chega por associações muito amplas”. Para se fazer associações, é preciso conhecimento, “pois quanto mais se sabe, maior é a possibilidade de associações”. É, portanto, uma prática criativa de buscar semelhanças, diferenças, absurdos e complementações.
Essas orientações para a melhoria da criatividade fazem perceber que, na verdade, a pessoa criativa precisa estar bem consigo e com o mundo, não sendo escrava da preguiça, da vergonha, da timidez e da rigidez perante a vida. A pessoa criativa é essencialmente solta, não vive em função do que os outros pensam, tem autoconhecimento e procura o novo em tudo, a qualquer momento e em qualquer situação. É curiosa, inquieta e procura sempre adquirir novos conhecimentos para poder utilizá-los em suas criações.
Integrando o empreendedorismo
com a criatividade
Nizo (2009) afirma que, aohomem moderno, só resta romper velhos paradigmas e aprender decididamente a ter domínio sobre sua atuação, desenvolvendo uma mente focada e criativa. Isso lembra as características de um bom empreendedor, uma vez que o seu perfil se assemelha ao da pessoa criativa. Pode-se dizer que há uma simbiose entre ambos. Na verdade, trata-se da mesma pessoa, mas é somente com essas duas características que passa a caminhar com efetividade em direção a seus sonhos. Portanto, a criatividade faz parte do “kit básico do empreendedor”.
Oech (1988) lembra que, na caminhada empreendedora, o empreendedor criativo acaba representando pelo menos quatro grandes papéis: o de caçador de ideias (ter ideias); o de artista (melhorar ideias); o de juiz (escolher ideias) e o de guerreiro (tornar reais as ideias).
Esses papéis reforçam a percepção de que o valor de uma ideia muitas vezes depende de quem as têm à mão. A história da empresa Xerox é um exemplo disso. O inventor da máquina de fotocópia ofereceu seu invento para grandes corporações, mas foi o empreendedor proprietário de uma relativamente pequena e próspera empresa que viu o valor da ideia, comprou-a e investiu em sua efetivação. O resultado dessa visão e o ímpeto empreendedor acabaram se transformando na Xerox que o mundo inteiro conhece. O criador da máquina de fotocópia foi um bom caçador de ideias, mas o fundador da Xerox foi aquele que soube moldá-la de modo comercialmente interessante, escolhendo a melhor maneira de colocá-la no mercado, tornando-a algo de valor.
Essa história mostra que a criatividade é importante para todo o percurso da caminhada empreendedora, e não somente no momento de se identificar uma ideia. Sem ela, não se vai longe. Afinal, todos os dias surgem problemas, desafios, oportunidades e situações que exigem muita criatividade do empreendedor. Dar atenção a ela e exercitá-la é um dos fatores críticos de sucesso. Portanto, a ação empreendedora criativa implica a conjugação de várias outras ações, a saber: ter ideia, melhorá-la, escolher a melhor forma de realização e, por fim, executá-la, como mostra a Figura 2.3.
Há dois tipos de criatividade: a pura e a aplicada. A primeira é mais pessoal, divertida, lúdica e pode estar presente em todos os momentos da vida. Já a segunda está ligada à administração, aos negócios, ao planejamento e ao empreendedorismo, à criação de algo que pode se tornar um produto, serviço ou diferencial competitivo.
Em termos de criatividade, o que não faltam são obras que abordam o tema. Os estudiosos citados neste capítulo, assim como outros autores, apresentam elementos que podem ajudar a incrementar o potencial criativo. Porém, para que isso aconteça, é preciso ver a criatividade como algo natural, que deve ser exercitado o máximo de tempo possível e em tudo o que se faz. A essência criativa precisa brilhar e, para isso, é importante estar sempre “afinando o instrumento”, ou seja, exercitando a criatividade.
O segundo passo da caminhada empreendedora é voltar a ser uma pessoa criativa. Desse modo, vale lembrar as dicas de Oech (1988): acredite em suas ideias, persista na concretização delas, corra riscos, questione e erre com sabedoria, divirta-se, seja bobo e vire criança, sonhe, viaje na imaginação, saia do real.
A liderança para a criatividade
Ao se relacionar liderança e criatividade, uma desafiante questão é colocada. Mesmo sendo a criatividade importante no sucesso da ação empreendedora, é preciso observá-la como sendo um recurso do contexto da ação, e não apenas uma competência do empreendedor. Em outras palavras, a criatividade não deve ser algo exclusivo do empreendedor, mas sim de todos que estão caminhando com ele.
Logo, em seu perfil de gestor do negócio, o empreendedor precisa desenvolver características de liderança para a criação de um ambiente no qual todos que trabalham na organização, e que com ela se relacionam, sintam-se motivados a serem criativos. As organizações são mais ou menos criativas em função do espaço para a criação, da percepção da importância da criatividade para o negócio, do líder que estimula e cria condições para o novo. Isso é reforçado por Hunter (2004, p. 88) quando diz que “o líder deve ter um interesse especial no sucesso daqueles que lidera. Um dos papéis do líder é apoiar e incentivar seus liderados a serem bem-sucedidos”. Nesse sentido, o sucesso decorre das ações de gerar entusiasmo, despertar o interesse, induzir à ação, dentro de um escopo em que todos sejam beneficiados.
Senge (2002) amplia o conceito de influenciar pessoas para o de formação de pessoas, razão pela qual a atuação de empreendedor deve ser pautada pela busca da criação de um ambiente de aprendizado. Por vezes, o empreendedor será um professor, outras, um mentor ou guia na busca de soluções criativas para os problemas da organização, da sociedade e do mundo.
Agindo dessa forma, o empreendedor não estará criando apenas novas fontes de emprego, mas uma fonte de prazer para as pessoas que trabalham na organização, um espaço onde a aprendizagem constante leva a um melhor desempenho. Pessoas motivadas e com espaço para desenvolverem o seu melhor são naturalmente criativas e a organização que as tem se habilita a ser inovadora.
Traduzindo esses conceitos para a formação do empreendedor, pode-se dizer que é preciso construir em suas características pessoais um processo de criação visionária, no qual a compreensão do setor onde se pretende atuar, conjugada à visão clara das expectativas do mercado, e com base no relacionamento (clientes, sociedade, fornecedores, entidades de classe, concorrentes, equipes de trabalho na organização), leva à criação de um novo conceito de si mesmo, cujas características principais são energia, liderança e criatividade.
Para facilitar o processo de desenvolvimento das características de liderança e o de criação visionária, sugerem-se as seguintes ações:
· Esteja pronto para aprender sempre, pois o aprendizado deve ser contínuo e isso vale também para a organização.
· Esqueça e tome cuidado com as ideias preconcebidas, tais como “já tentamos isso antes”; “não vale a pena tentar”, “é muito demorado” e “os resultados são inexpressivos.”
· Mantenha um clima agradável e convidativo, de modo que todos (clientes, funcionários e fornecedores) queiram estar e permanecer na organização.
· Acredite na capacidade do ser humano. Todas as pessoas são dotadas de vontade e criatividade próprias, bastando que as deixe desenvolvê-las.
· Mantenha um certo equilíbrio entre motivação e controle da situação. Criar sem analisar, pesar, testar, pode levar à criação de coisas inúteis.
· Estimule o trabalho em equipe. A melhor maneira de conseguir um resultado sinérgico é com grupos de trabalho motivados.
· Lembre-se sempre que coragem, renovação, servir ao próximo, amor e solidariedade não fazem mal a ninguém.
O processo para o desenvolvimento
da criatividade
Para o desenvolvimento do processo criativo, vale lembrar o que Predebon (2002) chamou de metáfora da criatividade, cuja analogia pode ser feita com o processo de criação da vida na natureza, no qual as sementes dão origem a plantas que, por sua vez, crescem e geram frutos, cujas sementes podem germinar novas plantas. Talvez essa seja a metáfora da vida criativa.
No processo de desenvolvimento da criatividade, a terra representa nosso potencial criativo e as sementes nossa disposição favorável à criação. A partir do momento que a planta brota da terra, precisamos adubá-la com determinação, iniciativa, esforço, tempo e dedicação. A planta cresce em função do adubo que colocamos em nossos canteiros, e seu crescimento simboliza nossa atitude, nossa forma de sentir as coisas relativas à criatividade. O sol representa a prática, as experiências adquiridas com nossas ações, as técnicas aprendidas que facilitam as tentativas seguintes. A chuva representa nosso autoconhecimento, que é uma conquista valiosa e nunca muito fácil de ser obtida. A prática da criatividade deixa nossas vidas mais interessantes e nos faz crescer como pessoas. A árvore já formada,recebendo a ação do sol e da chuva, terá uma grande e definitiva copa, que simboliza o comportamento criativo. Trata-se agora de um modo próprio de ser, incorporado à personalidade individual. Os frutos representam as ideias criativas geradas na forma de produtos e ações que são a manifestação prática da criatividade no dia a dia. A escada para a colheita representa os recursos necessários ao estímulo da criatividade, e esses recursos são representados por ferramentas como brainstorming, a técnica do pensamento paralelo, o checklist. As sementes representam o reinício do processo de criação, no qual as sementes simbolizam o resultado gratificante da criatividade aplicada. É um resultado prático e evidente, em forma de reconhecimento ou lucro direto, que se obtém com a produção de fatos criativos.
Fonte: Adaptado de Predebon, 2002.
Esse texto a respeito da criatividade ilustra o percurso do processo criativo, com o objetivo principal de demonstrar que a criatividade não é um ato isolado do ser humano, mas um “comportamento para a criatividade”, que precisa ser estimulado para dar frutos e sementes. Tal processo nunca termina, nunca para. Na verdade, ele se realimenta, como nos melhores modelos de pensamento sistêmico. A Figura 2.4 ilustra todos os elementos essenciais ao comportamento criativo.
Figura 2.4 – Comportamento para a criatividade
Portanto, a criatividade é fundamental na caminhada empreendedora, tanto no âmbito pessoal como no grupal e no organizacional. Um ambiente fértil em criatividade é um ambiente de transformação, de realização, de inovação e de evolução.
A criatividade é a semente inovadora, que faz do empreendedor e de seus colaboradores pessoas capazes de sonhar, de se apaixonar pelas ideias e de ter motivação para transformá-las em realidade. O empreendedor, além de ser criativo, deve ser um aliado da criatividade em todos os flancos de seu empreendimento. Deve ser aquele que induz nos colaboradores, parceiros e clientes o desejo do novo, do desafio, da curiosidade, do inusitado – enfim, da criatividade.
Cap 3 Nos capítulos anteriores, foi possível conhecer o perfil do empreendedor e a importância de ser criativo. Contudo, nem toda ideia é uma oportunidade de inovação. Caberá ao empreendedor colher o máximo de ideias e analisá-las sob a ótica de efetivas oportunidades que trazem em si algo inovador.
Oferecer o que já é oferecido, da mesma forma e seguindo plenamente as regras vigentes, pode significar uma entrada fracassada no mercado; afinal, é comum encontrar a repetição das mesmas ideias. As grandes oportunidades estão com aqueles que têm algo mais a oferecer, o que torna seu produto ou serviço diferenciado, detentor de uma boa vantagem competitiva. Logo, o empreendedor não quer ser “mais um” no mercado. Ele quer ser “aquele um”, isto é, aquele que faz acontecer algo novo e que possa obter sucesso.
O empreendedor por oportunidade, apoiado por sua criatividade disponível, busca mais o novo, em contraste com o empreendedor por necessidade, que se vê limitado a oferecer mais do mesmo. Em vista disso, nota-se que a ação inovadora depende da competência de lidar com a complexidade e de trabalhar bem com a informação e o conhecimento. Afinal, quanto mais se sabe, maiores são as possibilidades de fazer associações e, portanto, de criar algo novo. Por isso, é preciso conhecer a relação que existe entre a criação de ideias e a efetivação das inovações. Esse é o caminho a ser percorrido pelo empreendedor que tem visão e alta possibilidade de sucesso.
De onde vêm as oportunidades
Em termos de negócios, pode-se dizer que se torna uma oportunidade aquilo que possa ser útil, necessário e/ou interessante. Isso quer dizer que só é oportuno o que é percebido pelas pessoas e, nesse contexto, o que as pessoas mais veem é aquilo que elas estão precisando, o que desejam ou sonham. Portanto, se é necessário partir em busca de oportunidades, é importante lembrar que elas geralmente têm como berço as necessidades humanas. Conhecendo mais sobre as necessidades das pessoas, pode-se encontrar brechas, nichos e focos pouco explorados.
No âmbito do pensamento administrativo, muito já se estudou sobre necessidades, motivações e ambições, mas nem por isso se pode afirmar que esses estudos já estão prontos, acabados e que novas análises não possam ser feitas.
O estudo da hierarquia das necessidades, proposto por Maslow (citado por Chiavenato, 2004), muito tem contribuído para o entendimento da motivação humana, principalmente no que se refere ao surgimento de novos produtos e serviços. A teoria de Maslow apresenta a motivação sob a forma de uma pirâmide de necessidades, dispostas em níveis, numa hierarquia de importância e de influência – uma nova necessidade somente poderia ser alcançada quando uma necessidade de base estivesse satisfeita.
O papel do empreendedor em relação a essa hierarquia de necessidades envolve o entendimento das necessidades humanas e seu impacto na motivação das pessoas para que estas adquiram um produto num primeiro momento. Num segundo momento, esse papel envolve a criação de produtos e serviços que atendam a essas necessidades. Quanto maior a probabilidade de essa necessidade estar na base da pirâmide, maior será o número de clientes potenciais do negócio.
Os níveis da pirâmide, de baixo para cima, indicam que quanto maior for o nível, maior a especialização, a complexidade e menor a competição, porém com necessidade de maior investimento. Normalmente, quanto mais baixo estiver na escala de necessidades, mais concorrido e de menor complexidade e custo é o empreendimento. De qualquer modo, independentemente da altura em que a necessidade se encontre na pirâmide, o importante é satisfazê-la, seja inovando, seja criando valor para as pessoas nos produtos e/ou serviços que lhes serão oferecidos
Longenecker (2007) faz um importante alerta sobre a detecção de oportunidades. Segundo ele, em razão das diferentes experiências e perspectivas, uma pessoa poderá ver uma oportunidade onde outras não conseguem enxergá-la. Isso significa que cada um possui uma visão diferente, na qual pode ou não haver oportunidades. Daí a constatação de que se deve estar atento e preparado não apenas para ver o novo como também para criar o novo. Esse último é uma característica importante de Steve Jobs, executivo da Apple: ele não atende à demanda, ele as cria.
Atualmente, uma grande parte das necessidades é atendida por produtos e serviços existentes, ficando praticamente impossível criar algo novo, nunca antes pensado. Mas isso não quer dizer que não existe espaço para novos negócios. Cada vez mais, empreendedores e empresas vêm mostrando que é possível criar e pensar o novo, criando valor para o cliente.
Transformando necessidades
em oportunidades
Nem todas as ideias irão se tornar boas oportunidades de negócios. As oportunidades estão relacionadas com espaços de mercado até então desocupados por produtos e serviços. A ocupação desse espaço pode se dar pela criação de novos produtos e serviços, dos quais, até então, desconhecia-se a necessidade. Exemplo disso é a internet, o buscador Google, o Ipod, produtos criados sem uma demanda preestabelecida. A criação desses produtos e serviços representam um misto de visão, imaginação, criatividade e inovação.
Para saber se a ideia de negócio é uma boa oportunidade, é importante seguir algumas orientações: converse com diversas pessoas sobre o assunto; conheça outros negócios; participe de feiras; leia sobre o tema.
Para sedimentar o processo de escolha e de transformação de uma ideia em uma oportunidade de negócio, convém ao empreendedor responder a algumas perguntas básicas sobre o sonho a realizar:
· Quais necessidades podem ser satisfeitas com o negócio que se quer empreender?
· Quanto os potenciais clientes possuem para gastar, ao tentarem satisfazer suas necessidades?
· Figura 3.3 – Das necessidades às oportunidades
· Quais são as opções atuais para a satisfação de tais necessidades?
· Quem são os fornecedores atuais para o produto ou o serviço?
· O que éfornecido aos clientes pelos concorrentes atuais?
· Como geram valor aos clientes e ao mercado?
As respostas a essas perguntas básicas levam à modelagem de uma proposta de atendimento aos clientes e ao mercado. Afinal, conhecer o mercado é um dos primeiros pressupostos que o empreendedor deve considerar, como mostra a Figura 3.4.
Formatar uma proposta de trabalho para um determinado negócio torna-se uma atividade simples quando se conhece o comportamento do público que se pretende atingir. A pesquisa de mercado ajuda na compreensão dos gostos, das preferências, dos desejos, das necessidades de um determinado nicho ou público-alvo para o negócio, em determinada região, cidade, país, site ou grupo de pessoas de uma rede social. Assim, produtos e serviços podem ser combinados com vistas a oferecê-los a preços acessíveis às mais diversas classes sociais, ou podendo incrementar marcas conhecidas com o desenvolvimento de produtos novos e até personalizados. Tudo isso significa uma oportunidade latente e com bom potencial de sucesso.
A análise de uma oportunidade de negócios envolve a identificação dos seguintes elementos: oportunidade primária (Ex.: alimentação); valor que o cliente pode gastar para satisfazer essa necessidade (Ex.: R$ 10,00); opções de produtos que podem satisfazer tal necessidade (Ex.: doces, balas, chocolates, lanches); produção (Ex.: se será feita na própria empresa ou se demandará produtos de terceiros); marca (Ex.: se será lançada marca própria ou de terceiros); preço que será praticado em relação à concorrência e nível de atendimento a ser prestado aos clientes/consumidores.
Buscando oportunidades
em um mundo em transformação
Apesar de as necessidades humanas serem o berço de oportunidades de negócios, nem todas nascem diretamente dessa fonte. Muitas vezes, novos negócios são gerados como fornecedores de materiais necessários à transformação de matérias-primas, produção de máquinas, geração de tecnologias para comunicação, transporte, educação, medicina, entre outros.
Nos últimos 100 anos, nasceram e prosperaram os mais variados tipos de negócios, bem como o maior volume de inovações e invenções. A velocidade com que são desenvolvidos novos materiais e tecnologias faz com que produtos e serviços tenham ciclos de vida cada vez menores. Foram criados produtos revolucionários, como o telégrafo e o aparelho de fax, os quais foram substituídos dentro de um mesmo século. Outros produtos, como a fita cassete, o disco de vinil e o CD tiveram seu auge e queda em questão de anos. Outro exemplo da velocidade das transformações são modelos de celulares que, atualmente, duram poucos meses até que sejam superados por versões mais modernas e versáteis. Para o futuro, essa será uma realidade, com novas oportunidades batendo à porta diariamente, porém com duração e sucesso cada vez menores. Sucesso e fracasso nos negócios andarão de mãos dadas; portanto, sobreviverá quem acertar mais do que errar.
As principais transformações ocorridas – não somente na economia brasileira, mas em todo o mundo – estão relacionadas à forma como eram obtidos e transformados os recursos colocados à disposição do empreendedor. A evolução na utilização e na transformação dos recursos pode ser dividida em eras, como segue:
· Era dos recursos naturais e da mão de obra intensiva: período dos primórdios da existência humana e que vai até a Revolução Industrial, na qual o ser humano é a força transformadora e realizadora de grandes feitos.
· Era dos recursos naturais transformados por máquinas e de mão de obra intensiva: a partir da Revolução Industrial, as máquinas começaram a substituir a mão de obra humana na transformação dos materiais, resultando em uma oferta maior de produtos e serviços a um mercado ávido por consumir. Isso aconteceu no período de 1800 a 1900. Nessa fase, o uso da mão de obra ainda era intensivo.
· Era da evolução tecnológica e da criação de novos materiais: período iniciado em 1900, quando novos processos industriais foram desenvolvidos, novos materiais foram criados e pesquisados, muitos deles devido às necessidades de guerra. Automatização, padronização e produção em massa são as características desse período que se estendeu até 1960.
· Era da qualidade e do cliente: os focos dos empreendimentos passaram a ser o cliente e o mercado. A qualidade de processos e de produtos, a garantia de requisitos mínimos de funcionamento e, principalmente, produtos adequados ao uso e ao gosto dos consumidores se tornaram pressupostos de funcionamento de qualquer organização. Esse período compreende o intervalo entre 1960 e 1990.
· Era da informação e do conhecimento: talvez a palavra que melhor descreva essa era seja globalização. A partir de 1990, esse termo passou a ditar a nova ordem da economia mundial. A informação instantânea, em tempo real, passou a ditar as normas de funcionamento dos negócios. A mão de obra, antes vista como recurso, passou a ser tratada como capital intelectual. O conhecimento passou a ser visto por muitos como o principal recurso dessa nova era.
Figura 3.5 – Er o conhecimento e da informação
Antes que um diferencial perca a efetividade, é necessário ter em mente outro que possa substituí-lo. Atualmente, as organizações buscam uma percepção mais rápida das medidas adotadas pela concorrência, além da definição de novos rumos dos negócios, pesquisando a respeito das necessidades dos clientes e dos mercados.
Nem todas as transformações podem ser percebidas facilmente, mas elas estão acontecendo e vão transformar os modelos de negócios. Para que o empreendedor não seja surpreendido, precisa estar atento a algumas situações previstas para o futuro:
· Quanto mais conhecimento se tem, mais conhecimento se gera. A geração de conhecimento ainda não tem limites.
· A mudança será a única certeza em relação ao futuro; isso gera incerteza e insegurança.
· Vivemos cada vez mais em um mundo global, no qual se procurará defender os valores e a cultura contra a imposição de uma única cultura global.
· Todos estarão conectados em redes mundiais, seja para o bem, seja para o mal.
· O capital continuará a ser volátil, trocando de mãos tão rapidamente quanto a velocidade de troca de informações em rede. Isso causa instabilidade econômica e fragilidade política mundial.
· A mudança do conceito de família tradicional para um novo contexto de relacionamentos, com situações novas e inusitadas, irão obrigar a uma revisão do modelo tradicional familiar.
· São esperadas melhorias nas condições de vida, com aumento da expectativa de vida e também da exclusão e insegurança social.
· O meio ambiente será o foco de discussões mundiais, recursos escassearão e novas limitações serão impostas a pessoas e organizações.
· Crença e descrença religiosa andarão juntas.
· Novos ramos do conhecimento serão fatores determinantes da nova era. Entre eles, podem ser citados: biotecnologia, robótica, nanotecnologia, transgenia, fractais, clonagem, tecnologia da informação, química e física quântica, entre tantos outros.
Na era do conhecimento e da informação, há conflitos como coletivismo versus individualismo; fragmentação versus integração. Neles há a percepção de três cenários (mundo verde, azul e laranja) que o empreendedor precisa levar em consideração na avaliação de suas ideias e oportunidadeFigura 3.6 – Tendências e cenários contemporâneosFonte: HSM Management, Avaliação de oportunidades
Dolabela (1999), em sua obra Oficina do empreendedor, orienta a respeito da necessidade de se considerar que as oportunidades têm uma forte relação com a personalidade, os valores, as preferências, a visão de mundo e os sonhos do empreendedor. O autor alerta também que a avaliação das ameaças externas, que incidem sobre a oportunidade, é extremamente importante para que se evite a entrada em empreendimentos equivocados, fora do tempo correto ou alicerçados por premissas errôneas. Nessa direção, Dolabela (1999, p. 96) aponta oito erros que precisam ser evitados:
29. Paixão: agir sem pensar, sem analisar e movido pela fé – e não pela razão –

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