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94 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Unidade III 7 A IDADE MÉDIA: O ROMÂNICO O que é arte românica? Quando ela surge? Em que locais da Europa ela ocorre? Quais são as suas características? Essas são algumas questões que responderemos sobre a arte românica. Porém, antes de analisarmos a produção artística desse período, é necessário compreender seu contexto político, econômico, social e religioso. Como estudamos, a Alta Idade Média foi a fase inicial da Idade Média. Começa no século V e termina no século XI. Primeiro, entre os séculos V ao IX, houve a formação do feudalismo; dos séculos IX ao XI ocorreu de fato a sua estruturação. O que foi o feudalismo? De forma simples, podemos definir o feudalismo como um sistema político, social e econômico que vigorou na Europa Ocidental no período mencionado. Entretanto, para compreendermos a arte medieval, é importante entender como esse homem desse período vivia e se relacionava com o seu mundo. O movimento nasce da mistura de elementos romanos com elementos germânicos, num processo lento e gradual. No fim do Império Romano, a economia se tornou mais agrária e autossuficiente, com o predomínio de grandes propriedades. Boa parte da população migrou para o campo e trabalhou em troca de moradia, e parte da produção era feita num sistema conhecido como colonato. A distância social entre os proprietários e os trabalhadores (clientes, colonos e precários) era grande. Devido à crise econômica e política do Império Romano, o poder político-militar estava cada vez mais localizado. Quando os germânicos ocupam as terras do antigo Império, contribuem para o quadro econômico- social. Atua com elementos próprios, por exemplo, a economia agropastoril e o regime de trocas naturais. Na sociedade da época, os guerreiros se submetiam à autoridade de um chefe militar, e o individualismo político também contribuiu para a descentralização e a fragmentação política. Vale lembrar que os germanos não possuíam a noção de Estado, organizando-se em grupos em que cada líder possuía autonomia, e somente em caso de guerra ou perigo esses soberanos se sujeitavam a uma única autoridade suprema. Dessa forma, o comitatus inicia-se entre os germanos. Com ele, garantia-se que as relações entre o chefe e seus comandados fossem diretas e recíprocas, baseadas em juramentos de lealdade e fidelidade. Essas características seriam mantidas nas relações políticas do feudalismo. Após as invasões germânicas, o poder político sofreu uma descentralização, que foi fortalecida pela constante ameaça dos sarracenos, magiares e vikings. Com essas investidas, e somando o controle 95 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA do Mediterrâneo pelos muçulmanos, a Europa ficou isolada do Oriente e o comércio praticamente desapareceu; as cidades e a própria economia de mercado, com suas trocas monetárias, foram dispensadas, havendo um processo de ruralização econômica. Esse quadro de isolamento e instabilidade criaria as condições propícias para o desenvolvimento do feudalismo. Segundo Georges Duby (1998, p. 5), Na Europa do ano mil, a realidade é o que chamamos de feudalismo. Ou seja, maneiras de comandar adaptadas às condições reais, ao estado real, tosco, pouco aprimorado pela civilização. Tudo se agita nesse mundo, já o dissemos; mas, sem estrada, sem moeda, ou quase, quem poderia fazer executar suas ordens muito longe do lugar onde se encontra sua pessoa? O chefe obedecido é aquele que se vê, que se ouve, que se toca, com quem se come e se dorme. A invasão dos pagãos persiste ameaçadora; o medo que ela inspira sobrevive ao progressivo afastamento do perigo: o chefe obedecido é, portanto, aquele cujo escudo está ali, bem perto, que protege e vela por um refúgio em que o conjunto do povo pode buscar abrigo. Assim, a unidade fundamental desse sistema é o feudo, constituído de uma vasta propriedade rural e ocupada pelos senhores e seus dependentes. Nele, a produção é autossuficiente e o regime de trabalho que impera é o servil. Os servos estavam presos à terra que cultivavam, não podendo abandoná-la sem a autorização do senhor. Embora privados de liberdade, não eram escravos, pois tinham alguns direitos e recebiam proteção de seus patrões. Em troca, tinham uma série de obrigações a cumprir, que consistiam basicamente no trabalho gratuito em alguns dias da semana e na entrega de parte da sua produção para os soberanos. A sociedade feudal era estamental, pois praticamente não existia mobilidade, e a posição do indivíduo era determinada pelo nascimento. Os estamentos básicos eram dois: senhores e servos. O primeiro se caracterizava pela posse legal da terra, pelo poder sobre os criados e pela consequente autoridade política local, esta última incluía o poder militar, jurídico e religioso (no caso dos senhores eclesiásticos). Já o segundo correspondia ao polo social oposto. Era preso à gleba e inteiramente subordinado ao senhor (na medida em que lhe devia obrigações costumeiras), mas tinha a posse útil da terra e o direito à proteção senhorial. Essa divisão social era muitas vezes apoiada pela Igreja. A instituição religiosa afirmava que cada grupo possuía sua função na sociedade, proporcionando o devido equilíbrio. Com base nesse pensamento, cabia ao clero cuidar das almas das pessoas orando por elas. Os nobres possuíam o poder militar, portanto, deveriam proteger os habitantes do feudo e guerrear quando necessário. Nessa divisão, já que não tinham o domínio das armas nem do poder eclesiástico, os servos desempenhavam um papel muito importante: o de trabalhar. Além dessa divisão social básica, inicialmente ainda existiam escravos, que eram em número reduzido e logo desapareceriam. Havia também homens livres que trabalhavam no feudo mediante arrendamento, mas conservavam o direito de se ausentar, caso o desejassem. Eles eram chamados vilões e normalmente descendiam de pequenos proprietários que entregaram sua terra ao senhor em troca de proteção. 96 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Devem ainda ser citados os ministeriais, ou senescais, que eram agentes do senhor feudal encarregados de manter a ordem no feudo e de cobrar as obrigações devidas pelos servos. Era uma posição que permitia certa mobilidade social, uma vez que poderiam ingressar na pequena nobreza, se o senhor reconhecesse os serviços prestados e lhes concedesse um pedaço de terra. A correspondência entre a nobreza era o pilar da política feudal e se baseava nas relações de suserania e vassalagem. Suserano era o nome recebido por um rei ou nobre que, em troca de determinados compromissos, concedia a outro fidalgo um benefício – geralmente um feudo, equivalente a uma extensão de terra com tamanho variável. Em contraposição, os vassalos juravam lealdade e ofereciam apoio militar em caso de conflitos. Os senhores feudais poderiam conceder parte de seu feudo em proveito a outro nobre. Dessa forma, eles podiam ser, simultaneamente, vassalos de um senhor e suseranos de outros. Por isso, quanto mais terra tivesse um fidalgo, mais poder ele teria, uma vez que o domínio da gleba significava domínio sobre os homens que a desejavam e que nela habitavam. Oficialmente, a autoridade política máxima era o rei, por ser o suserano dos grandes senhores e não prestar vassalagem a ninguém. Na realidade, porém, o poder se fragmentava entre os patrões feudais, caracterizando uma estrutura política descentralizada, em que o controle estava nas mãos dos senhores locais. Entre os soberanos feudais, não havia uma uniformidade. Assim, existia uma alta nobreza, que era caracterizada pelos que prestavam vassalagem diretamente ao rei, e também havia uma pequena nobreza, esta constituída por vassalos de outros senhores. Havia todo um ritual envolvendo as relações de suseraniae vassalagem, que era chamado de cerimônia de investidura. A prática em si era dividida em três partes. Na primeira, a homenagem, o vassalo reconhecia a superioridade do suserano. Na segunda, a investidura propriamente dita, o suserano concedia ao vassalo a posse do feudo. Por fim, o juramento de fidelidade prestado pelo vassalo, o qual recebia, em contrapartida, a promessa de proteção por parte do suserano. Figura 104 – Cerimônia de suserania e vassalagem 97 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Assim, diante dessa fragmentação territorial, da descentralização do poder, da economia de subsistência, de relações de dependência e hegemonia da Igreja Católica é que nasce a arte românica. A palavra românica foi criada no século XIX para exprimir a influência da arte romana na cultura europeia. No domínio da arte, o termo se refere a diversas manifestações artísticas que, apesar de possuírem traços comuns, são bastante diferentes. Inicia-se na Europa Ocidental entre os séculos XI e XII. Entre outros fatores, essas diferenças refletem essa típica fragmentação territorial do feudalismo. Então, o românico da Alemanha se distingue da arte românica francesa ou da italiana. Além disso, em cada país existiam destaques regionais peculiares. Dessa forma, praticamente não existe homogeneidade na arte românica, e as variantes são consideráveis. Assim, apesar de todas as diferenças, o que fez que as produções artísticas desse período fossem vistas como pertencentes ao mesmo estilo? O ponto comum da arte dessa época, sem dúvida, é a presença de um mesmo sentimento religioso em todas essas regiões e produções artísticas, tornando a arte românica em uma arte essencialmente sacra. A influência do latim na origem de vários dialetos europeus e a presença marcante da religiosidade cristã permite, então, a utilização da expressão arte românica para definir um conjunto de manifestações artísticas influenciadas pela língua e pelo cristianismo romano. 7.1 A arquitetura românica Entre as principais manifestações da arte românica, encontra-se a arquitetura, com destaque para as igrejas e mosteiros, cuja importância cultural deu origem à expressão arte monástica. Devido à religiosidade, a produção arquitetônica é grande em toda a Europa Ocidental. Observação A difusão do estilo arquitetônico românico é atribuída à figura de Guilherme, o Conquistador, duque da Normandia que, em 1066, invade a Inglaterra e passa a governá-la. Na Inglaterra, esse estilo arquitetônico ainda é chamado de normando, enquanto no restante da Europa é designado como estilo românico. Entre as principais características da arquitetura românica, está o uso dos arcos, das abóbadas e das paredes de pedra com janelas pequenas. Os mosteiros eram o símbolo dessa arte. Assim como as propriedades senhoriais feudais, os mosteiros eram complexos arquitetônicos rurais e independentes, reunindo igreja, claustro, dormitório, moinho, biblioteca, escola e capelas, entre outras construções. Eram autossuficientes, e o fato de a Igreja possuir tantas terras destacava ainda mais seu poder e prestígio na época. 98 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Figura 105 – Mosteiro de Saint Pere de Roda Os mosteiros eram centros de saber e erudição, e os monges dedicavam suas vidas à religião. Muitos eram copistas magníficos, o que contribuiu para uma grande produção de iluminuras na Idade Média. A abadia de Cluny, na Borgonha, exerceu grande influência religiosa na Europa Ocidental. Construída no início do século X por monges beneditinos, foi quase destruída, mas antes irradiou as ideais e o estilo de vida beneditino. Figura 106 – Abadia de Cluny, Borgonha Um dos exemplos do estilo produzido a partir de Cluny é o mosteiro de Saint Pierre, em Moissac, que também se destaca na escultura. 99 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Figura 107 – Catedral de São Ciriaco, Itália Figura 108 – Claustro do Mosteiro de São Domingos de Silos, Burgos 100 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Saiba mais Para obter pormenores da vida num mosteiro beneditino e as construções reais da época, leia: ECO, U. O nome da rosa. São Paulo: Record, 2014. Na figura apresentada, é possível observar os arcos e as colunas duplas com capitéis trabalhados. As paredes eram grossas e os arcos pesados. Assim como vimos nos mosteiros, as igrejas românicas eram sólidas, verdadeiras fortalezas, pois o estilo é difundido por um povo que tem forte influência militar e por uma igreja que defende a luta constante contra o mal. A cobertura dessas igrejas não era mais de madeira, por isso as abóbodas são cada vez mais presentes. Feitas com pedras, as mais comuns eram a de berço e a de aresta. Figura 109 – Abóboda de berço A abóboda de berço era constituída por um arco pleno e ampliado lateralmente pelas paredes. Como abordamos, uma das suas desvantagens é sustentação precária do peso do teto de alvenaria, o que ocasionava alguns desabamentos. A luminosidade ficava comprometida, pois as janelas eram estreitas. Os arquitetos normandos começaram, portanto, a ensaiar um método diferente. Concluíram não ser realmente necessário fazer todo o teto tão pesado. Era suficiente contar com um certo número de arcos de reforço para transpor a distância e preencher os intervalos com material mais ligeiro. Verificou-se que o melhor método para fazer isso era construir os arcos ou “nervuras” (também chamados “costelas”) transversalmente entre os pilares e depois encher as seções triangulares entre eles. Essa ideia, que não tardaria em revolucionar os métodos de construção, pode remontar à catedral normanda de Durham (GOMBRICH, 1998, p. 117). 101 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Figura 110 – Abóboda de arestas Então, a abóboda de arestas passa a ser utilizada. Esta resulta da intersecção, em ângulo reto, de duas abóbodas de berço apoiadas sobre pilares. Suas vantagens eram: maior leveza e luminosidade para a construção. Por outro lado, para apoiá-la, as plantas dos edifícios deveriam ser quadrangulares. Figura 111 – Catedral de Durham com a abóboda de arestas e os pilares com decoração normanda Para sustentar os arcos e abóbodas e reunir muitos fiéis, a planta em forma de cruz latina era a mais utilizada. Assim, a estrutura basílica romana recebe o acréscimo do transepto formando o “braço” da cruz. Durante a Idade Média, as peregrinações eram comuns. Em busca da purificação, da cura de doenças e do perdão dos pecados, muitos devotos visitavam igrejas onde se encontravam relíquias sagradas e restos dos mártires. Os centros de romaria mais famosos eram Roma e Jerusalém. Porém, outros núcleos aparecem em diversos locais da Europa, como o de Santiago de Compostela, na Espanha. 102 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Lembrete As relíquias eram objetos que pertenceram a santos ou que eles tenham usufruído. Restos mortais dos cânones, ou mesmo suas vestes eram muito importantes. Desde o Império Carolíngio, as igrejas procuravam ter um altar com de relíquias. A Igreja sempre incentivava as peregrinações. Dessa forma, Santiago de Compostela passou cada vez mais a ser visitada por fiéis que, incentivados pelos relatos de milagres, desejavam visitar o túmulo de São Tiago e pedir por sua intervenção. Santiago de Compostela Figura 112 – Planta da Igreja de Santiago de Compostela Figura 113 – Vista frontal da Igreja de Santiago de Compostela 103 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Parafacilitar essas viagens, uma rede de estradas e estalagem foi organizada nesses caminhos. Em geral, o mosteiro era o local de hospedagem desses peregrinos. Para conciliar suas atividades religiosas com o apoio aos fiéis, a área sofre alterações. Para acomodar tanta gente, os monges modificaram a planta baixa em basílica passando a incluir um deambulatório [...], que servia como uma extensão das abóbodas laterais e oferecia uma passagem contínua em torno de toda a igreja. Na extremidade leste, capelas radiais (absidíolas) foram agregadas ao deambulatório e às vezes havia outras capelas no lado leste dos transeptos que eram usadas pelos monges que também haviam sido ordenados. Assim, essas pequenas capelas com altares podiam ser visitadas pelos peregrinos sem que houvesse a interrupção das atividades litúrgicas realizadas no coro (FAZIO, 2011, p. 215). Várias igrejas são construídas ao longo do caminho para abarcar todos os viajantes em romaria. Um desses exemplos é a Igreja de Sant-Sernin em Toulouse, no sul da França. Nave central Torres da fachada ocidental Nave lateral Coro Cruzeiro Saint Sernin, Tolousse Transepto Abidíolas Deambulatório Figura 114 – Planta da Igreja de Saint Sernin, Toulouse, França Essa igreja, com planta em forma de cruz latina, possui uma nave central de grandes dimensões. Esta é ampliada pelo transepto, e lá poderiam reunir-se grandes multidões para o culto. As naves laterais internas formam um corredor que contorna o altar-mor, chamado deambulatório. Esse caminho propiciava acesso a pequenas capelas, nas quais se guardavam os objetos sagrados e as relíquias. 104 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Figura 115 – Nave central da Igreja de Saint Sernin, Toulouse, França Figura 116 – Exterior de abside da Igreja de Saint Sernin: destaque da abside e das absidíolas Na Alemanha, as igrejas também aparecem pesadas, duras e primitivas, inspirando-se na fortaleza. O uso das abóbodas de arestas da Igreja de Speyer, construída no século XI, fez dela uma das mais altas de sua época. 105 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Figura 117 – Vista externa da abside, Igreja de Speyer Figura 118 – Interior da Igreja de Speyer A arte românica aparece com um estilo mais leve e delicado na Península Itálica. A proximidade das obras greco-romanas possivelmente teria influenciado essas construções, que utilizavam mármores na suas áreas externas. Além disso, as cidades dessa região viviam o renascimento urbano e comercial 106 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III e também eram rotas para a peregrinação ao Oriente e o caminho que os cruzados utilizavam para a Reconquista de Jerusalém. O complexo de Pisa é um exemplo dessa inspiração clássica, destacando-se as colunas, os arcos e o mármore. Além da igreja, existe um batistério de planta circular e em campanário. Sua planta baixa em basílica cruciforme tem naves laterais duplas e galerias dos dois lados da nave central e também do transepto. Sobre o cruzeiro, uma cúpula oval se apoia em trompas e pendentes baixos, lembrando as Igrejas com planta baixa centralizada de Bizâncio, enquanto tesouras de madeira cobrem o restante da igreja. O exterior é articulado por arcadas de mármore sobre colunatas sobrepostas na fachada principal (oeste), as quais continuam em volta da igreja. O interior é marcado pela policromia, neste caso de fiadas alternadas de mármore escuro e claro, e há mosaicos bizantinos na abside (FAZIO, 2011, p. 212-214). Figura 119 – Batistério de Pisa Figura 120 – Igreja de Pisa 107 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA A fachada da frente dessa igreja possui um frontão que lembra claramente os templos gregos, ressaltando a inspiração clássica na obra. Figura 121 – Campanário de Pisa O famoso campanário do Complexo de Pisa é conhecido como a “torre torta de Pisa”, que atualmente está cerca de quatro metros fora do prumo. Muitas vezes, a igreja era a única grande construção de pedra num raio considerável, e o campanário servia como ponto de referência para os viajantes. Lembrete O campanário é a torre da igreja onde se encontram os sinos. Na Península Itálica, situam-se outros exemplos do estilo mais leve da arquitetura românica. Algumas igrejas tinham seu projeto iniciado durante o românico, entretanto, por diversos fatores, só eram concluídas muito tempo depois. A Igreja de São Marcos, em Veneza, por exemplo, foi construída entre 1000 e 1200. Figura 122 – Catedral de São Marcos, Veneza 108 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III As relações comerciais que Veneza manteve com o Oriente, em especial com o Império Bizantino, possibilitaram uma influência cultural que se reflete na estrutura articulada, nas cúpulas e nos mosaicos de seu interior. A parte interna apresenta uma decoração rica e ornamentada. Ela foi concluída, aproximadamente, em 1300. Figura 123 – Interior da Catedral de São Marcos, Veneza 7.2 A escultura românica A escultura românica era subordinada à arquitetura. As obras eram elaboradas sobre colunas, portas ou outros elementos arquitetônicos, e estavam presentes nos interiores e nos exteriores das edificações. Foi a partir da França que as igrejas românicas começaram a ser decoradas com esculturas. As figuras representadas relacionavam-se com os ensinamentos da Igreja. Ainda pairava o conceito de que as imagens tinham uma função evangelizadora. Num período da chamada Igreja “militante”, em que a luta contra os “infiéis” pela reconquista de Jerusalém e pela reconquista da Península Ibérica era constante, a reafirmação do pensamento cristão era crucial. Saiba mais Para saber um pouco mais sobre as Cruzadas e o Oriente, leia: TATE, G. O oriente das cruzadas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. Os capitéis eram decorados com motivos diversos, tais como animais, demônios, figuras humanas e personagens bíblicas, sempre adaptados aos espaços a serem preenchidos. 109 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Figura 124 – Capitel decorado com aves pernaltas frente a frente Figura 125 – Capitel com a representação da tentação de Cristo Além dos capitéis, a entrada do templo era um local muito requisitado para a narração das histórias bíblicas. Figura 126 – Portal da Igreja de Saint-Pierre, Moissac 110 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III A parede semicircular que fica logo abaixo dos arcos sobre a porta, conhecida como tímpano, era uma das áreas mais utilizadas no portal. Figura 127 – Tímpano da Igreja de Saint-Pierre, Moissac Em algumas construções o tímpano era muito grande, por isso empregava-se uma pilastra central (tremó) para dividir a abertura da porta em duas partes. Essa pilastra muitas vezes também era decorada com esculturas. A escultura religiosa, mesmo quando não estava diretamente relacionada com a arquitetura, também era sacra. Ela era encontrada em báculo, cruzes, relicários, entre outros. 7.3 A pintura românica A pintura românica, assim como a escultura, estava relacionada com a religião e, consequentemente, com a arquitetura. A principal produção românica era a pintura mural. Com o objetivo de mostrar para os fiéis o temor a Deus, o respeito pela Igreja e o intuito de narrar as mensagens da bíblia, a pintura mural tinha uma função quase didática. É importante ressaltar, que durante esse período não existe a exaltação e a valorização individual do artista, sendo que este deveria exercer sua arte com humildade, caso contrário poderia ser afastado de seu trabalho.Os murais feitos em mosaico ou “a fresco” inspiravam-se na produção dos manuscritos religiosos. Pintura “a fresco”: uma técnica antiga e de difícil execução. O termo afresco é oriundo da técnica de pintura sobre paredes úmidas. A sutileza desse trabalho é a realização do painel com a argamassa ainda molhada. A preparação inicial ocorria da seguinte forma: aplicava-se uma camada de cal na superfície e, em seguida, era coberta com gesso fino e bem liso. Com a adesão do pigmento à parede, essa combinação daria o efeito desejado. A especificidade da técnica se 111 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA distingue com a pintura se incorporando à argamassa ao secar, tendo como efeito a impressão de uma película aplicada sobre o fundo. Destaca-se também o fato de camadas de gessos serem colocadas aos poucos na figura, pois o mural ainda deve estar úmido para a realização dessa tarefa. Ao observarmos de perto um trabalho com esta técnica, podemos notar vários pedaços que foram colocados de forma sucessiva. Figura 128 – Cristo em Majestade, Igreja de São Clemente de Tahul, Espanha. Figura 129 – Mosaico da Catedral de Palermo 112 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Os temas mais recorrentes nesses murais eram a criação do mundo e do homem, o pecado original, os símbolos dos evangelistas e Cristo em majestade (Cristo Pantocrator). Figura 130 – Afresco do arcanjo São Miguel, Capua As iluminuras também se destacam. Utilizavam-se cores vivas e materiais como o ouro e a prata, além de motivos como folhagens e flores empregados como molduras para o texto. Figura 131 – Autorretrato de um miniaturista, século II Figura 132 – Miniatura do século XII 113 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA 7.4 A arte civil Além da construção das igrejas românicas, a partir do século XI iniciam-se as construções dos castelos de pedra. O castelo é o centro do feudalismo. Fortalezas inumeráveis foram construídas com terra, madeira e pedra. Rudimentares, com apenas uma torre quadrada e uma paliçada, simbolizavam a segurança num período de instabilidade política (DUBY, 1998, p. 5). O duque normando Guilherme, o Conquistador, foi um dos que disseminaram o costume de se construir castelos de pedra. Assim, o torreão normando, constituído por uma torre isolada ou cercada por uma pequena área protegida por muralhas, espalha-se pela Europa Ocidental. Figura 133 – Castelo de Windsor A tapeçaria de Bayeux é um exemplo da produção artística não religiosa desse período. Feita por volta de 1080, conta a história da conquista da Inglaterra pelos normandos, narrando pictoricamente todos os eventos envolvidos nesse fato, por exemplo, a travessia a barco da Normandia para a Inglaterra e o juramento de vassalagem de Haroldo, rei saxão, a Guilherme, o futuro rei da Inglaterra. Figura 134 – Tapeçaria de Bayeux 114 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III 8 ARTE GÓTICA A partir do fim do século XII, a Europa sofre uma série de transformações que influenciam a arte. Na França, a autoridade real centralizadora tornou-se pouco a pouco mais poderosa. O sistema feudal não tinha desaparecido, mas os grandes vassalos já não eram tão independentes como no século XI. A criação de cidades importantes, favorecidas pelos reis, modificou a estrutura da sociedade. No princípio do século XIII, a França de Filipe Augusto atingiu uma unidade desconhecida até então, e esse esforço de centralização foi continuado, apesar das guerras e das crises políticas. Por outro lado, os meios de comunicação melhoraram lentamente, permitindo por toda a parte um maior conhecimento das províncias vizinhas e das suas atividades. Essas transformações favoreceram mais a elaboração de um estilo gótico francês do que de um estilo normando ou de um estilo provençal individualizado (HISTÓRIA mundial da arte, 1977, p. 195). A expressão arte gótica foi criada na Itália, por volta dos séculos XV e XVI. Interessados na revalorização da Antiguidade greco-romana, os artistas da época passaram a depreciar a arte medieval, associando-a aos invasores bárbaros. Como os godos eram os mais conhecidos, o estilo foi chamado gótico, isto é, bárbaro por excelência. Considerada por muitos a mais espetacular produção da Idade Média, do ponto de vista arquitetônico, essa arte representa a leveza e a luminosidade, solucionando o problema das abóbadas em todas as naves e, com a introdução de janelas, garantindo maior iluminação interna. Apesar de ser diferente na França, Inglaterra, Espanha ou Itália e apresentar certas diversidades regionais dentro de cada país, o gótico é mais homogêneo do que o românico. As variações do estilo são menores quando comparadas com as encontradas na arquitetura e escultura românicas demonstrando uma unidade. A arte gótica surge na Île de France, atual Paris. Essa era uma cidade medieval de grande êxito econômico e político. Com o poder real, transforma-se em capital da França. A catedral era a igreja do bispo e, ao contrário da arte românica – predominantemente rural, a arte gótica nasce com as cidades e adquirem grande destaque. Essas localidades apresentavam três funções básicas: religiosa, econômica e política; a primeira destacava-se com a significativa presença da Igreja, que controlava a ideologia dominante do período; a segunda era responsável pela arrecadação e comércio; a última atinha-se à função política e de comando. O início das ordens mendicantes foi fundamental para o desenvolvimento das cidades. 115 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA a implantação, ao longo do século XIII, dos conventos das novas ordens mendicantes, reduzidas a quatro pelo segundo concílio de Lyon em 1274 — os pregadores ou jacobinos, nossos dominicanos, os menores ou cordeliers, nossos franciscanos, os agostinhos e os carmelitas —, revelou a nova fisionomia urbana e marcou-a profundamente. As ordens mendicantes originaram-se do agudo sentimento que tiveram alguns homens e mulheres, principalmente dois, Domingos de Osma e Francisco de Assis, da inadaptação das estruturas e práticas da Igreja às condições de um mundo submetido a uma aceleração da história. Suas motivações conscientes eram, sobretudo para o primeiro, a luta contra a heresia e, para o segundo, a luta contra o dinheiro. Mas cada um desses combates conduzia-os a um mesmo terreno, à cidade. Querendo romper com a tradição monástica, que preconizava a instalação na solidão —, ainda que essa solidão fosse muito frequentada e não apenas combinasse com o modelo urbano da Alta Idade Média, mas estivesse por vezes na origem de cidades de um novo estilo —, eles plantaram seus conventos (que não eram mosteiros) no meio dos homens e, a princípio, no meio daqueles “homens novos” cujos problemas queriam encarregar-se e cujos desvios pretendiam combater, os homens das cidades (LE GOFF, 1992, p. 46-47). O desenvolvimento urbano desse período histórico teve grande influência sobre a sociedade e, consequentemente, sobre a mentalidade da época. Assim, a passagem da arte românica para a arte gótica, especialmente a arquitetura, não é apenas uma mudança de estilo técnico, mas sim uma visão de mundo que se diferencia entre si. As próprias igrejas perdem a sua forma de fortalezas (não mais necessárias num mundo que adquire certa estabilidade) e procuram representar o contato com Deus, numa preocupação mais espiritual. A arte gótica responde, ao mesmo tempo, a um grande crescimento demográfico, que reclama igrejas maiores, e a uma profunda mudança de gosto. Além das dimensões mais vastas o gótico manifestou-se pela atração da verticalidade, da luz e até dacor (LE GOFF, 2007, p. 205-206). 8.1 A arquitetura gótica A arte gótica desenvolveu-se a partir da românica, mas tem como principal característica o arco em ogiva. O fato é que, se este elemento é fundamental no estilo gótico, também aparece em outros gêneros, como o islâmico. Embora sua produção típica seja a catedral, a arquitetura gótica não é sinônimo de edifício religioso; possui, mais que a obra românica, um vasto raio de realizações: capelas, mercados, sedes de corporações, casas e palácios particulares, fortalezas, muralhas de defesa, palácios públicos, batistérios, hospitais e castelos. Os próprios reis franceses apropriam-se desse estilo e o divulgam em todos os seus domínios territoriais. 116 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Figura 135 – Residência papal em Avignon, França Apesar disso, o símbolo da arquitetura gótica é a catedral. Esta era a igreja do bispo. Como a arte gótica nasce com as cidades, a catedral torna-se o centro do local, e todos contribuíam para a sua construção. Por definição, a catedral é a igreja do bispo, portanto, a igreja da cidade, e o que a arte das catedrais significou primeiramente na Europa foi o renascimento das cidades. Estas, nos séculos XII e XIII, não param de crescer, de se animar, de estender os subúrbios ao longo das estradas. Captam a riqueza. Após um longuíssimo apagamento, tornam a ser [...] o foco principal da mais alta cultura. Mas a vitalidade que as penetra vem, quase toda, dos campos circundantes. [...] em parte alguma o impulso de prosperidade rural foi mais vivo nesta época do que no noroeste da Gália. [...] Por isso a nova arte foi reconhecida por todos os contemporâneos como sendo propriamente a arte de França (DUBY, 1998, p. 99). É interessante ressaltar que muitas vezes as cidades rivalizam para ter a melhor e a mais alta catedral. Assim, nessa busca pela verticalidade, a Basílica de Notre Dame, de Paris, atingiu 32 metros; a de Reims, 38 metros; e a de Notre Dame, de Amiens, 42 metros. Com essa ideia desenfreada, a abadia de Beauvais tentou atingir 48 metros, o que levou ao seu desabamento. Inicialmente, destacava-se que o uso dos arcos ogivais era o fato propulsor do início da arte gótica, porém foi algo bem mais significativo. A utilização de novas técnicas possibilitou a construção de grandes edifícios de pedra e vidro. Tudo o que se precisava era de pilares finos e “costelas” estreitas nas arestas da abóbada. Qualquer coisa de permeio podia ser dispensada sem perigo de desabamento da estrutura. Havia mais um aspecto a ser considerado. As pesadas pedras da abóbada não exercem apenas pressão para baixo, mas também para os lados, à maneira de um arco retesado. Também aqui o arco ogival constituiu um aperfeiçoamento em relação ao arco redondo, mas, de qualquer modo, os pilares não 117 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA eram por si só suficientes para suportar essa pressão de dentro para fora. Nas naves laterais abobadadas isso não representou grande dificuldade. Contrafortes (ou botaréus) podiam ser construídos do lado de fora. Mas o que se poderia fazer com a alterosa nave central? Era preciso mantê-la em sua forma desde o lado de fora, passando sobre os telhados das naves laterais. Para isso, os construtores tiveram que introduzir os “arcobotantes”, os quais completam a armação externa da abóbada gótica. Uma igreja gótica parece estar suspensa entre essas estruturas mais delgadas de pedra como uma roda de bicicleta, — que não se deforma em virtude de seus finos raios — e suporta a sua carga. Em ambos os casos, é a distribuição uniforme de peso que torna possível reduzir o material necessário à construção, cada vez mais, e sem pôr em perigo a solidez do todo (GOMBRICH, 1998, p.129). Figura 136 – Esboço de uma catedral gótica A origem da arte gótica remonta-se a 1137, quando o abade Suger, conselheiro real, concebeu e dirigiu as obras de reconstrução da Catedral de Saint-Denis, na periferia de Paris, em formas góticas. Essa abadia tinha uma importância simbólica, exercendo papel fundamental na consolidação da incipiente nação francesa, pois, desde os merovíngios, passando por Pepino, o Breve, e Carlos Martel, vários foram os reis franceses sepultados ali. Além disso, foi o local de consagração de Carlos Magno e de seu pai. Considerando essas associações com os primeiros grandes soberanos franceses, Suger chegou à conclusão de que, fazendo da igreja um impressionante edifício, esta serviria a propósitos tanto espirituais quanto temporais, o que despertaria o sentimento nacional dos franceses. O seu objetivo era fazer um grande local de peregrinação. Sua dedicação foi tanta, que registrou praticamente um passo a passo de como a obra deveria ser executada. Segundo Suger, a abadia deveria transmitir esplendor para a glória do Senhor. Assim, precisaria ser bonita e ricamente decorada. Naquela época, beleza era sinônimo de grandeza. Além do mais, como “Deus é luz”, era necessário que a catedral fosse luminosa. A basílica também tinha missão evangelizadora, sendo vista como um livro de pedra em que todos glorificam o Senhor e prestam a sua devoção. A igreja gótica mantém planta em forma de cruz latina. 118 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Sua implantação era feita de forma que a nave e a capela-mor se situassem no braço longitudinal no sentido leste-oeste. Assim, o altar-mor ficaria a leste, onde nasce o sol, o que se acostumou se chamar cabeceira. A fachada ocidental ficaria preferencialmente a oeste, onde o sol se põe, numa nítida alusão à necessidade do homem de percorrer um longo caminho para chegar até Deus. Desta forma, o braço do transepto ficaria no sentido norte-sul, sendo do lado do Evangelho para o norte e o lado da Epístola para o sul. A parte inferior do braço longitudinal da cruz era normalmente dividida em três naves, sendo a central maior que as outras duas, tanto em altura quanto em largura (MAIOLINO, 2007, p. 12). Figura 137 – Planta da Catedral de Saint-Denis com as capelas em destaque Em busca da luminosidade, o grande destaque vai para os vitrais, que recobriam as janelas das capelas como se fossem grandes mosaicos de vidro. Estes permitiam a entrada da luz solar que se espalhava pela igreja, simbolizando a presença de Deus. Figura 138 – Fachada frontal e vitrais da Catedral de Saint Denis 119 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Figura 139 – Vitrais da Catedral de Saint Denis Saiba mais Para visualizar diversos monumentos franceses, acesse: <http://www. monuments-nationaux.fr/>. A partir da Catedral de Saint-Denis, os bispos e as cidades disputavam entre si a glória de construir os templos mais importantes e mais altos. Para conseguir os recursos necessários para o tentame, tudo era válido. A Igreja vendia indulgências e também comercializava relíquias para o povo, além de obter a concessão de subsídios por parte dos reis. Devido à magnitude da obra, muitas abadias sequer foram concluídas. A superfície ocupada na construção das catedrais góticas era gigantesca, atingindo às vezes até 8 mil m2, com três ou cinco naves. O início da edificação da Catedral de Notre Dame, de Paris, ocorreu a pedido de Maurice de Sully, em 1163, e demorou aproximadamente 90 anos para ficar pronta. Considerada por muitos como o triunfo do gótico, a basílica tem uma nave central de 30 metros de altura e duas naves em cada lateral. Na sua fachada, a exemplo de Saint-Denis, é possível identificar uma das principais características da arquitetura gótica, ou seja, a existência de três portais, que normalmente dão acesso às naves centrais e laterais. Saiba mais Para conhecer melhor e saber mais detalhes sobre a Catedralde Notre Dame, consulte: DUMAS, V. Notre-Dame: 850 anos. História Viva, [s.d.]. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/historiaviva/artigos/notre- dame_850_anos.html>. Acesso em: 4 mar. 2015. 120 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Na parte externa dessa igreja, é possível identificar uma das principais características góticas: o arcobotante. Esse elemento arquitetônico possui a forma de um arco e recebe parte das forças de repulsão das abóbodas da nave central, possibilitando que as paredes laterais não precisassem mais sustentar a abóboda; permitiam, ainda, o uso de grandes aberturas, que eram preenchidas com vitrais. Figura 140 – Vista lateral da Catedral de Notre Dame, Paris. Destaque para os arcobotantes A assimetria era comum nas construções góticas. Na Catedral de Chartres, por exemplo, as flechas que arrematam as torres são diferentes. A flecha sul é mais ou menos contemporânea da fachada, que data do século XII, mas a flecha norte só foi construída no início do século XVI, o que explica seu estilo distinto. Figura 141 – Catedral de Chartres, França Essa abadia passou por uma reconstrução durante o século XIII devido a um incêndio. Da construção anterior restou apenas a fachada da porta régia. Como uma típica catedral gótica, foi erguida a partir de uma planta em forma de cruz e três naves, sendo que a central possui 37 metros de altura. No seu interior havia um labirinto em bronze, mas este foi destruído. Há rumores de que o bronze tenha sido destinado para fins militares. Apesar disso, essa igreja é uma das mais conservadas, e muitos dos seus 176 vitrais com histórias bíblicas são originais, pois foram restaurados do século XIII. 121 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Na Catedral de Chartres, destaca-se, entre outros elementos, o seu portal principal. Constitui-se como qualquer catedral gótica: possui três portais, um central e dois laterais. Sua principal diferença é que todos eles levam à nave central, e em cada um deles o tímpano é decorado. Esse portal foi chamado de portal régio. Figura 142 – Portal régio, Catedral de Chatres Outra catedral francesa é a Notre Dame de Reims. Desde o batismo de Clóvis e a conversão dos francos ao cristianismo, Reims adquire grande importância, uma vez que parte da coroação dos reis franceses era feita em seu interior. Sua construção como igreja iniciou-se a partir do século XIII, e ela representa o domínio das técnicas desenvolvidas na arquitetura gótica. Possui uma planta em forma de cruz e sua nave central chega a 38 metros de altura. A presença dos arcobotantes permite que os vitrais sejam comuns, ensejando a luminosidade e a beleza da catedral. A denominação arquiteto raramente aparece nos registros medievais. O título recorrente para essa função era mestre de obras ou mestre pedreiro. Este profissional acumulava encargos de arquiteto, empreiteiro e contramestre. Em Reims, é possível encontrar os projetos de Jean d’Orbais. Há também uma produção escultórica significativa relativa a essa catedral, e os seus pórticos são bastante ornamentados. Figura 143 – Catedral de Reims, França 122 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Na fachada, os dois portais laterais continuam em altas torres. Outra característica presente no gótico e visível na fachada é um vitral em forma de flor chamado rosácea. Esta se localizava acima da janela do portal central, facultando vultosa luminosidade. Figura 144 – Rosácea da Catedral de Reims Ao lado dos arcos ogivais, a abóboda de nervuras é uma das características mais expressivas da arquitetura gótica. Nela, destacam-se os arcos ogivais, que formam a sua estrutura. Figura 145 – Abóboda de nervuras, Catedral de Westminster, Inglaterra 123 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Os arcos ogivais contribuem para dar a impressão de altura e verticalidade, algo típico das catedrais góticas. Saiba mais Muitas catedrais possuem sites oficiais que apresentam vários detalhes e informações. Veja alguns deles: <http://www.notredamedeparis.fr/>; <http://www.cathedralechartres.org/>; <http://www.cathedrale-reims. com/>. A arquitetura gótica, apesar de suas características comuns, também possuía estilos peculiares de acordo com o período em que era produzida. O século XIII, por exemplo, é marcado pelo arco ogival bastante elevado, o qual era formado por um triângulo agudo e apresentava verticalismo acentuado. Durante o século XIV, o arco ogival não é mais tão agudo, sendo que o verticalismo é atenuado, além disso, suas nervuras são formadas por elementos circulares. O século XV é o período do gótico flamejante, também chamado de tardio. Aqui o arco ogival é menos agudo ainda. Este é formado por um ângulo obtuso, o que permite uma tendência ao horizontalismo, e suas nervuras sugerem labaredas. Com o passar do tempo, o estilo torna-se cada vez mais decorado. Recebe nomes como o flamboyant, na França, e que apresenta variações na Alemanha e na Inglaterra. Assim, apesar da homogeneidade, a arquitetura gótica destaca suas especificidades regionais. Na Itália, por exemplo, muitos consideram essa fase do chamado gótico tardio (século XV) como o Pré-Renascimento, e os estudiosos italianos analisam essa produção aproximando-a muito mais do Renascimento do que do gótico. Na Inglaterra, o gótico foi bem-aceito. Mesmo desenvolvendo características específicas na região, isso não destituiu a homogeneidade da arquitetura gótica. A Catedral de Salisbury é um exemplo. Ao adotar determinadas características francesas como a construção de grandes janelas acima da entrada principal, com o objetivo de enfatizá-la, a Catedral de Salisbury proclama uma nova era na arquitetura – mesmo que essas características às vezes deem a impressão de acréscimos posteriores (observe os arcobotantes, que parecem estruturalmente desnecessários). Com seus dois transeptos acentuadamente prolongados, e sua ampla fachada, que termina em torreões baixos e largos, Salisbury também conservou importantes características do estilo Românico. Transmite-nos uma sensação de amplitude e naturalidade, como se estivesse à vontade não apenas em seu cenário, mas também em suas ligações com o passado anglo-normando. 124 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III O pináculo que se eleva por sobre o cruzeiro é aproximadamente cem anos mais velho que as demais partes da igreja, sendo um indício da rápida evolução do gótico inglês para uma verticalidade mais acentuada (JANSON, 1996, p. 137). Figura 146 – Catedral de Salisbury, Inglaterra O primeiro período do gótico inglês é menos decorado, e a Catedral de Salisbury é um exemplo disso. Durante o século XIII, nasce um gênero mais elaborado, o estilo decorado, que é mais ornamentado. O destaque vaia para as abóbodas em leque. Figura 147 – Catedral de Canterbury, Inglaterra 125 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Figura 148 – Detalhe para a abóboda em leque da Catedral de Canterbury A partir do século XIV, inicia-se o gótico perpendicular inglês. O sistema de abóbadas traz uma inovação que, embora mais tarde adotada no continente europeu, é essencialmente inglesa: a propagação das nervuras em um reticulado ornamental de múltiplos filamentos, impedindo que se tenha uma visão nítida das separações dos intercolúnios e suas subdivisões, confere ao interior uma maior unidade visual. Embora o estilo inglês tenha-se desenvolvido independentemente da ornamentação Flamboyant francesa, há, obviamente, uma relação artística entre essas duas variedades de decoração arquitetônica de elaboraçãodecorativa tão acentuada (Ibidem, p. 138). Figura 149 – Interior da Capela de Henrique VII, Abadia de Westminster, Londres Na Alemanha, o gótico apresenta elementos próprios para atender aos fiéis. Possui uma nave central da mesma altura das naves laterais ou com uma diferença muito pequena, formando um estilo chamado igreja-salão (hallenkirche). Em geral, utilizavam-se tijolos em vez de pedras. O exterior dessas catedrais era muito ornamentado e suas torres eram altas. 126 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Figura 150 – Catedral de Ulm Na arquitetura de edifícios não religiosos, podemos destacar a construção do Palácio dos Doges de Veneza. Figura 151 – Arte gótica: Palácio dos Doges, Veneza, Itália 127 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Observação O gótico inspirou vários movimentos artísticos ao longo do tempo. No século XIX, o Romantismo incorpora elementos para a literatura, a pintura e a arquitetura. Ainda no século XX, muitas construções, principalmente as religiosas, utilizaram características góticas. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a Catedral da Sé foi edificada utilizando arcos ogivais, vitrais e arcobotantes. Durante o século XVI, época do gótico tardio, encontramos em Portugal uma produção artística que recebe o nome de arte manuelina. Vinculada às transformações sociais, políticas e econômicas vividas por essa nação, teve na figura do rei D. Manoel o maior incentivador. No contexto das grandes navegações e das “descobertas”, essa arte caracterizava-se, entre outras coisas, pelos motivos marítimos, florais e vegetais. Não há dúvida de que são as composições esculturais das fachadas, os ornatos exuberantes dos arcos e dos pilares, a vegetação intensa das ombreiras e arquivoltas dos portais e das grilhagens que constituem os aspectos considerados mais característicos da arte manuelina, e que foi como estilo decorativo que entrou na história da arte europeia ao lado do estilo flamejante, do gótico final alemão e flamengo, da arte isabelina e mudéjar e do estilo perpendicular inglês (CHICÓ, 1969, p. 194). O Mosteiro dos Jerônimos, o Mosteiro da Batalha e a Torre de Belém são exemplos da arquitetura manuelina. Saiba mais Artigos interessantes e dados históricos sobre a arte manuelina estão disponíveis em: <http://www.mosteirobatalha.pt/pt/index.php?s= white&pid=181>. Exemplo de aplicação Compare uma igreja românica com uma catedral gótica. Procure analisar a parte interna e externa identificando as diferenças e as permanências desses dois estilos. 128 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III 8.2 Os vitrais Para o abade Suger, a luminosidade representa a presença de Deus, por isso, as catedrais góticas são muito mais iluminadas do que as românicas. Além disso, deveriam ilustrar para os fiéis as mensagens bíblicas. Figura 152 – Vitral Em muitas basílicas, o papel catequizador da imagem é feito pelos vitrais. Praticamente não existem afrescos nos murais, e a pintura ornamental era encontrada nos capitéis, nos pilares e nas abóbadas. O efeito desses vitrais, além da claridade, era compor um ambiente sereno, grandioso e cheio de cores. Isso ocorria devido aos efeitos da composição dos vidros coloridos. A temática passa pela infância de Cristo ou a vida de Moisés. O Apocalipse e as Epístolas de São Paulo também eram fonte de inspiração para as vitrines. Além da iluminação, os vitrais possuem uma função arquitetônica, preenchendo os espaços vazios deixados pela estrutura de pedra. Possui também um significado espiritual, transformando o ambiente num espaço místico, próprio à prece e ao recolhimento. 129 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Figura 153 – Abside com vitral O trabalho minucioso do artesão era realizado em várias etapas. Inicialmente, derretia-se o vidro em fornalha, e depois eram adicionados componentes químicos para sua coloração. Feito isso, as placas de vidro eram confeccionadas utilizando-se um método que tinha como resultado o chamado vidro antique. Nesse método, o artesão acumulava uma pequena quantidade de vidro fundido na extremidade de um tubo e imediatamente começava a soprar por ele, até formar uma bolha de vidro de forma cilíndrica. A seguir, cortava suas duas extremidades, como se tirasse uma tampa de cada lado, obtendo assim um cilindro oco. Depois cortava esse cilindro ainda quente em sentido longitudinal e o achatava, até obter uma placa. Cada placa, depois de resfriada, era recortada com uma ponta de diamante, segundo o desenho previamente determinado (PROENÇA, 2011, p. 76). Depois que os detalhes da figura eram pintados, as placas de vidro eram encaixadas a partir de uma moldura metálica. 130 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Figura 154 – Vitrais de Saint Chapelle, Paris Figura 155 – Vitrais 131 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA A catedral apresentada é um exemplo do gótico francês do século XIII. O maior centro produtor e difusor dos vitrais era Chartres, de onde partiam os artesãos e, às vezes, as obras já prontas, o que contribuía economicamente para a cidade. 8.3 A escultura Enquanto no românico a arquitetura não está dissociada da arquitetura, no gótico a escultura vai assumindo uma autonomia própria, sendo cada vez menos subordinada a ela. Sobretudo, mudam- se os conteúdos. A escultura é vivaz e serena, livre da preocupação do monstruoso e do terrífico. É mais sincera e humana. A igreja é um “livro em pedra”, e como tal os escultores procuram detalhar a mensagem ilustrada. Figura 156 – Escultura da Virgem com o menino Jesus Figura 157 – Crucificação Esses monumentos eram numerosos e foram executados por vários artistas, possibilitando uma diferença nas suas realizações. Ao contrário das esculturas românicas, nas quais se tem a percepção de já estarem esculpidas antes de as pedras serem dispostas, as estátuas góticas foram, na maior parte das vezes, esculpidas antes de serem posicionadas, o que modifica a sua aparência em relação ao estilo anterior. 132 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Figura 158 – Detalhe de escultura da Catedral de Naumburg Como acontece na arte românica, a escultura gótica é principalmente religiosa. É regida por um código muito rígido para qualquer figura. Deus, os anjos e os apóstolos estão sempre descalços, enquanto as outras personagens estão calçadas. Isso ocorria porque seria não apenas incorreto, mas uma verdadeira heresia representá-los de outro modo. A preocupação em transmitir uma naturalidade nas imagens faz que as vestes fiquem mais leves. Essa tendência, segundo Gombrich (1998), faz pensar que os artistas da época se aproximaram dos exemplos de arte clássica e observaram suas técnicas. O detalhe com o movimento e o drapeado das roupas pode ser notado na obra; além disso, a expressividade das feições, que transmite sentimentos para o observador, está presente em todas as faces. Figura 159 – Detalhe do púlpito 133 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA A haste com folhas representa uma árvore e significa que a cena desenrola-se na Terra. Uma torre com uma porta indica uma cidade, e se existe um anjo sobre a torre, trata-se de Jerusalém. Uma auréola expressa santidade. Figura 160 – Escultura, Catedral de Chartres Essas convenções iconográficas permitem identificar as personagens e as cenas. O lugar ocupado por cada figura também tem um significado: Cristo encontra-se aocentro. Na composição do episódio, quanto mais elevada encontra-se a imagem, maior é a sua categoria; estar à direita do Senhor, por exemplo, representa uma honra, pois, nos Juízos Finais, os eleitos estão sempre à direita do Cordeiro, e os condenados, à esquerda. 134 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Figura 161 – Escultura em ouro Era comum a presença de seres fantásticos como as gárgulas da Catedral de Notre Dame. Além do simbolismo místico de que as gárgulas espantavam os “maus espíritos”, elas possuíam uma função utilitária, uma vez que funcionavam como bicos de escoamento de água dos tetos inclinados. 8.4 A pintura medieval 8.4.1 As iluminuras A pintura em livro era usada desde a antiguidade. Entretanto, com a produção de iluminuras e letras capitulares, os monastérios e sua produção fez delas uma verdadeira arte. É preciso ressaltar que o livro no mundo cristão medieval não era apenas um objeto, mas sim o portador da palavra de Deus. Para sua produção, eram necessárias várias etapas, o que exigia o labor de várias pessoas. Os manuscritos eram confeccionados com pele de animal, principalmente cordeiros e vitelas, e feitos para receber a escrita em ambos os lados. Essa pele tinha o nome de velino, e nas oficinas em que esses trabalhos se realizavam essas folhas eram cortadas conforme o tamanho do livro. 135 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA A etapa seguinte era o preenchimento dos textos, obra desempenhada pelos copistas. Ainda havia os espaços nos livros, para que fossem integrados com as ilustrações, os cabeçalhos, os títulos; as capitulares, quase ornamentadas, é que iniciavam o texto. Iluminura pode ser definida como a arte do manuscrito em seu conjunto, ou seja, refere-se a todo elemento decorativo e representações figuradas existentes nele. Normalmente, o copista não era o iluminista ou ilustrador, pois era necessário ter certo talento artístico. Alguns iluministas começam a se destacar, por exemplo, Mestre Honoré. Os ateliês urbanos passam a ser mais produtivos do que os ateliês monásticos. Figura 162 – Detalhe do Breviário de Filipe, o Belo. Mestre Honoré, século XIII Para alguns pesquisadores, o nome iluminura viria da preparação do pergaminho antes da pintura, quando se usava uma laca obtida com a combinação de pigmentos vegetais e minerais com o mordente alume de potássio (pedra-pome), que era aplicado para impermeabilizar o pergaminho. Esse allume dava certo brilho ao velino. As cores usadas pelos artistas eram variadas e obtidas a partir de pigmentos naturais (vegetais, animais e minerais), por exemplo, o lápis-lazúli (mineral), a púrpura (animal) e o índigo (vegetal) ou artificiais, por exemplo, o branco de chumbo. Exigia-se um conhecimento técnico para conseguir as cores desejadas e combiná-las com os aglutinantes adequados para cada superfície, como a gema de ovo ou a goma arábica. Ao longo do tempo, as capitulares adquirem novas formas, tamanhos e decorações. Durante o período merovíngio, por exemplo, os entrelaçamentos eram fortemente inspirados na arte céltica e germânica. No gótico encontramos iniciais de página inteira e até mesmo cenas figurativas, as iniciais historiadas. Elas assumem status de guia para a ornamentação, além de valorizarem e destacarem os trechos importantes. 136 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Observação As capitulares eram as letras maiúsculas que iniciavam os textos manuscritos. Com o tempo, passaram a ser cada vez mais elaboradas e ornamentadas. No século XIII, os artistas começam a renunciar os modelos preestabelecidos e tentam representar as figuras a bel-prazer. Deixar o treinamento de lado não é tarefa fácil, afinal são anos de preparação. Começava por ser aprendiz de um mestre, a quem ajudava executando suas instruções e preenchendo partes relativamente secundárias de uma pintura. Aprendia gradualmente como representar um apóstolo e como desenhar a Santa Virgem. Aprendia a copiar e reagrupar cenas de velhos livros, e a ajustá-las a diferentes contextos; finalmente, adquiria suficiente desenvoltura em tudo isso para poder até ilustrar uma cena para a qual não conhecia modelo algum. Mas jamais em sua carreira se defrontaria com a necessidade de apanhar um livro de esboços e desenhar algo a partir da vida real. Mesmo quando solicitado a representar uma determinada pessoa, o rei ou um bispo, ele não fazia o que chamaríamos um retrato fiel. Na Idade Média não havia retratos, tal como hoje os entendemos. Tudo o que os artistas faziam era desenhar uma figura convencional e dar-lhe as insígnias do cargo – coroa e cetro para o rei, mitra e báculo para o bispo – e talvez escrever por baixo o nome da personalidade representada, para que não houvesse engano (GOMBRICH, 1998, p. 139). Com o tempo, a ilustração ganha um caráter individualista. Sua produção era voltada para aqueles que poderiam possuir essas obras. Além de bíblias, saltérios e evangelhos, eram comuns os livros das horas usadas por pessoas comuns. O mais conhecido é o Livro das Horas, do duque de Berry. Esse manuscrito foi encomendado à oficina dos irmãos Limbourg, flamengos que viviam e trabalhavam na França. Possui uma riqueza de informação não apenas religiosa, mas do período medieval, uma vez que apresenta um calendário faustoso e com cenas comuns aos meses retratados. 137 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Figura 163 – Mês de janeiro, Livro das Horas, Duque de Berry Figura 164 – Mês de agosto 138 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Após alguns anos, os artistas góticos aperfeiçoaram a efígie tridimensional e a composição da cena influenciando a pintura do período. Nas figuras do Livro das Horas, nota-se a ideia de movimento e naturalidade. Saiba mais Alguns museus e bibliotecas possuem um acervo riquíssimo de manuscritos ilustrados. Para saber um pouco mais sobre eles, acesse: <http://www.themorgan.org/>; <www.domainedechantilly.com>. 8.4.2 A pintura A pintura gótica ocorre do século XIII até o XV. Alguns pesquisadores aproximam alguns artistas dos séculos XIV e XV à arte renascentista, chamando-os de pré-renascentistas ou pertencentes ao Trecento italiano. Os pintores italianos, na realidade, tiveram grande destaque no período. Dentre eles, podemos citar Giotto Bondone, Duccio, Cimabue, Simone Martini e os irmãos Lorenzetti. Na Península Itálica, os vitrais não fazem tanto sucesso como na França, na Inglaterra e na Alemanha. As obras nos murais, especialmente os afrescos, permanece em grande produtividade. A pintura em madeira com painéis e retábulos também era comum. Duccio di Buoninsegna, influenciado pela arte grego-romana, procura transmitir sensação de profundidade em sua obra. Também acresce elementos góticos, por exemplo, as típicas construções, e a delicadeza nas formas humanas e na sensação de agilidade de suas composições cênicas. Figura 165 – Cristo entrando em Jerusalém, Duccio 139 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Assim como outros italianos, a pintura de Cimabue foi inspirada pelos ícones bizantinos. Sua obra preocupa-se em representar figuras humanas realistas, com movimentos da postura corporal e pelos drapeados das roupas. Giotto Bondoni, ou simplesmente Giotto, destacou-se pela pintura de afrescos como os realizados na Igreja de São Francisco, em Assis. Ele tentou identificar a figura dos santos com pessoas comuns evidenciando-os na pintura. O estilo tridimensional da pintura de Giotto é uma de suas principais características. A profundidade e o volume de sua obra o tornaramo maior pintor gótico. o caráter tridimensional de seus traços vigorosos é tão convincente, que eles parecem quase tão sólidos como esculturas independentes. Com Giotto, as figuras criam o seu próprio espaço, e a arquitetura é reduzida ao mínimo necessário exigido pela narrativa. Consequentemente, sua profundidade é obtida através dos volumes combinados dos corpos sobrepostos na pintura, mas, mesmo restrito a esses limites, os resultados são muito convincentes. Giotto considerava a pintura superior à escultura – uma pretensão nada vã, pois ele de fato inicia o que poderíamos chamar de “era da pintura” na arte do Ocidente. Entretanto, seu objetivo não era simplesmente rivalizar com a estatuária; queria, antes, que o impacto total da cena atingisse o espectador de imediato (JANSON, 1996, p. 150). Figura 166 – Afresco da Capela da Arena, Pádua 140 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Figura 167 – Lamento sobre Cristo Morto (Giotto) Em Lamento sobre Cristo Morto, é possível observar as feições que transmitem dor e tensão. Na Capela dos Scrovegni, Pádua, Giotto pinta os afrescos narrando histórias da vida de Nossa Senhora e de Cristo. Nessas obras representa a luta entre o bem e o mal com figuras alegóricas das virtudes e dos vícios, intitulando os desenhos de Juízo Final. As imagens centrais de cada lado são a Justiça e a Injustiça, que só aparecem em painéis retangulares como figuras sentadas de governantes. A importância concedida a esta virtude e vício relacionou-se com as ambições políticas de Enrico Scrovegni e o seu interesse em ficar depurado das acusações de usura de que era alvo. A Injustiça representa-se mediante a figura imponente de um velho barbudo, com uma vara numa das mãos e um cajado na outra, sentado diante de uma porta guarnecida com paredes laterais que se desmoronam e racham. Diante dela crescem várias árvores, que parecem conservar a personagem presa. O chão é de perfis irregulares e na sua frente representam- se várias cenas com um homem que jaz como morto debaixo de um cavalo que um bandido tenta dominar, uma mulher caída que é despida por outro salteador, enquanto a olha um acólito, e, por último, dois soldados com escudo que acodem ao lugar (VALDOVINOS, 1997, p. 102). É importante ressaltar que o trabalho de Giotto para a família Scrovegni foi um dos primeiros de que se tem notícia de custeio pela burguesia, antecipando o mecenato renascentista. Outros dois pintores da Baixa Idade Média que apresentam as características renascentistas são Bosch e Jan van Eyck. 141 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Por meio das obras de Giotto e dos irmãos Van Eyck, é possível perceber não apenas as mudanças de estilo da pintura, mas também as experiências da sociedade medieval. A burguesia ganha destaque como personagem. Busca representação e financia a arte, que adquire um caráter personalizado, afastando-se do religioso. No quadro de Van Eycke, o casal Arnolfini, além da encenação de um casal burguês, em que a mulher aparece grávida, também existe uma preocupação com a perspectiva, profundidade e o volume, que são perceptíveis nas roupas e no detalhe da obra. Além das pinturas murais, os retábulos foram a grande expressão da pintura gótica. Consistindo de painéis de madeira que podem ser fechados e abertos durantes as cerimônias religiosas, foram influenciados pelas pinturas das iluminuras. Figura 168 – Retábulo Resumo A arte românica era uma arte religiosa ou sacra. Seus monumentos de maior destaque datam do século XI, quando diminuem os ataques dos bárbaros. Entre as principais representações encontra-se a arquitetura, com ênfase para as igrejas e mosteiros, cuja relevância cultural deu origem à expressão arte monástica. 142 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Unidade III Assim como as propriedades senhoriais feudais, os mosteiros eram complexos arquitetônicos rurais e independentes, reunindo igreja, claustro, dormitório, moinho, biblioteca, escola e capelas, entre outras edificações. Entre as principais características da arquitetura românica, citam-se o uso dos arcos e das abóbadas e a construção das igrejas no formato da cruz latina. Neste livro-texto, vimos que a escultura românica era subordinada à arquitetura. Eram representados motivos variados, tais como animais, demônios, figuras humanas e personagens bíblicas, sempre adaptados aos espaços a serem preenchidos. A presente obra destaca que uma das mais importantes manifestações da pintura românica foi a técnica da iluminura, empregada para ilustrar e ornamentar livros. Utilizava cores vivas e materiais como o ouro e a prata, além de motivos como folhagens e flores, aplicados como molduras para o texto. Nesta unidade, estudamos que a expressão arte gótica foi criada na Itália, entre o século XV e XVI. Interessados na revalorização da Antiguidade greco-romana, os artistas da época passaram a desvalorizar a arte medieval, associando-a aos invasores bárbaros. Como os godos eram os bárbaros mais conhecidos, o estilo foi chamado gótico, isto é, bárbaro por excelência. Considerada por muitos a mais espetacular produção da Idade Média, do ponto de vista arquitetônico, representa a leveza e a luminosidade solucionando o problema das abóbadas em todas as naves, além de proporcionar maior iluminação interna com as janelas. A catedral era a igreja do bispo e, ao contrário da arte românica, predominantemente rural, a arte gótica nasce com as cidades, e então torna-se destaque central nelas. O início das ordens mendicantes foi fundamental para o desenvolvimento das cidades. Neste trabalho, ressaltou-se que a evolução urbana desse período histórico teve grande influência sobre a sociedade e, consequentemente, sobre a mentalidade da época. Assim, a passagem da arte românica para a arte gótica, especialmente a arquitetura, não é apenas uma mudança de estilo técnico, mas sim uma visão de mundo que se diferencia entre si. As próprias igrejas perdem a sua forma de fortalezas (não mais necessárias num mundo que adquire certa estabilidade), e procuram representar o contato com Deus numa preocupação mais espiritual. 143 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 ARTES VISUAIS NA IDADE MÉDIA Embora sua produção típica seja a catedral, a arquitetura gótica não é sinônimo de edifício religioso. Ela tem, mais que a românica, um vasto raio de realizações: capelas, mercados, sedes de corporações, casas e palácios particulares, fortalezas, muralhas de defesa, palácios públicos, batistérios, hospitais e castelos. Em busca da luminosidade, o grande destaque vai para os vitrais que recobriam as janelas das capelas como se fossem grandes mosaicos de vidro, permitindo a infiltração da luz solar, o que simbolizava a presença de Deus. Outra característica presente no gótico é um vitral em forma de flor, que é chamado rosácea. Ao lado dos arcos ogivais, a abóboda de nervuras é um dos traços mais significativos da arquitetura gótica. Os arcos ogivais contribuem para dar a impressão de altura e verticalidade, perfis típicos da catedral gótica. Vimos, nesta unidade, que o século XV é o período do gótico flamejante, também intitulado de tardio em alguns lugares. Aqui o arco ogival é menos agudo ainda. É formado por um ângulo obtuso, o que possibilita uma tendência ao horizontalismo, e suas nervuras sugerem labaredas. Com o passar do tempo, o estilo torna-se mais decorado. Na França, recebe nomes como o Flamboyant, e apresenta variações na Alemanha e na Inglaterra. Assim, apesar da homogeneidade, a arquitetura gótica expressa suas especificidades regionais. Na Itália, por exemplo, muitos consideram essa fase do gótico tardio (século XV) como o Pré-Renascimento. Alguns estudiosositalianos analisam a produção desse período aproximando-a muito mais do Renascimento do que do gótico. A pintura gótica ocorre do século XIII até o século XV. Alguns pesquisadores ligam certos pintores dos séculos XIV e XV à arte renascentista chamando-os de pré-renascentistas ou pertencentes ao Trecento italiano. Os artistas italianos, na realidade, tiveram grande destaque na pintura do período. Dentre eles, podemos citar Giotto Bondone, Duccio, Cimabue, Simone Martini e os irmãos Lorenzetti. 144 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 02.GIF. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3399/02.gif>. Acesso em: 14 fev. 2015. Figura 2 FAZIO, M. A história da arquitetura mundial. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011, p. 156. Figura 3 DUBY, G.; LACLOTTE, M. (Org.). História artística da Europa: a idade média. v. 1. São Paulo: Paz e Terra, 1998, p. 23. Figura 4 FAZIO, M. A história da arquitetura mundial. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011, p. 156. Figura 5 GOITIA, F. C. História geral da arte: arquitetura I. Espanha: Edicionesdel Prado, 1996, p. 83. Figura 6 A_6_7_5.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_1582/ A_6_7_5.jpg>. Acesso em: 24 fev. 2015. Figura 7 MAPA_07_PEQUENO.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/ conteudo_3399/mapa_07_pequeno.jpg>. Acesso em: 12 fev. 2015. Figura 8 A_1_1.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_1566/A_1_1. jpg>. Acesso em: 22 fev. 2015. Figura 9 GOMBRICH, E. H. A História da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 97. 145 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Figura 10 A_1_3.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_1566/ A_1_3.jpg>. Acesso em: 14 fev. 2015. Figura 11 FAZIO, M. A história da arquitetura mundial. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011, p. 160. Figura 12 BATTISTONI FILHO, D. Pequena história da arte. Campinas: Papirus, 2008, p. 45. Figura 13 PROENÇA, G. História da arte. São Paulo: Ática, 2011, p. 53. Figura 14 056B.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9591/056b. jpg>. Acesso em: 19 fev. 2015. Figura 15 48.JPG. Disponível em: http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3417/48. jpg>. Acesso em: 19 fev. 2015. Figura 16 49.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3417/49. jpg>. Acesso em: 19 fev. 2015. Figura 17 PROENÇA, G. História da arte. São Paulo: Ática, 2011, p. 58. Figura 18 PROENÇA, G. História da arte. São Paulo: Ática, 2011, p. 58. Figura 19 50.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3417/50. jpg>. Acesso em: 16 fev. 2015. 146 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Figura 20 02.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3238/02.jpg>. Acesso em: 21 fev. 2015. Figura 21 51.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3417/51. jpg>. Acesso em: 20 fev. 2015. Figura 22 FAZIO, M. A história da arquitetura mundial. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011, p. 157. Figura 23 GOITIA, F. C. História geral da arte: arquitetura I. Espanha: Edicionesdel Prado, 1996, p. 50. Figura 24 FIM da Idade Média. Porto: Folio, 2007, p. 84. Figura 25 GHARIB, G. Os ícones de Cristo: história e culto. São Paulo: Paulinas, 1997, p. 37. Figura 26 ESPLENDOR da cultura medieval. Porto: Folio, 2007, p. 104. Figura 27 PROENÇA, G. História da arte. São Paulo: Ática, 2011, p. 60. Figura 28 GALLENO, R. História del arte. Madrid: Editorial Editex, 2009, p. 116. Figura 29 58.GIF. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9591/58.gif>. Acesso em: 19 fev. 2015. 147 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Figura 30 059B.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9591/059b. jpg>. Acesso em: 18 fev. 2015. Figura 31 Mundo feudal. Porto: Folio, 2007, p. 24. Figura 32 43.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3361/43. jpg>. Acesso em: 22 fev. 2015. Figura 33 GOITIA, F. C. História geral da arte: arquitetura II. Espanha: Ediciones del Prado, 1996, p. 9. Figura 34 MUNDO feudal. Porto: Folio, 2007, p. 24. Figura 35 057B.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9591/057b. jpg>. Acesso em: 24 fev. 2015. Figura 36 060B.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/ conteudo_9591/060b.jpg>. Acesso em: 24 fev. 2015. Figura 37 FAZIO, M. A história da arquitetura mundial. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011, p. 194. Figura 38 GOITIA, F. C. História geral da arte: arquitetura II. Espanha: Ediciones del Prado, 1996, p. 9. Figura 39 GOMBRICH, E. H. A História da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 104. 148 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Figura 40 HISTÓRIA da arte. Salvat Editora do Brasil Ltda, 1978, tomo 3, p. 115. Figura 41 BARRUCAND, M. Arquitectura islámica em Andalucía. Madrid: Taschen, 2007, p. 38. Figura 42 42.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3360/42.jpg> Acesso em: 20 fev. 2015. Figuras 43 GALLENO, R. História del arte. Madrid: Editorial Editex, 2009, p. 121. Figura 44 GALLENO, R. História del arte. Madrid: Editorial Editex, 2009, p. 125. Figura 45 GALLENO, R. História del arte. Madrid: Editorial Editex, 2009, p. 125. Figura 46 GOITIA, F. C. História geral da arte: arquitetura II. Espanha: Ediciones del Prado, 1996, p. 19. Figura 47 GOITIA, F. C. História geral da arte: arquitetura II. Espanha: Ediciones del Prado, 1996, p. 14. Figura 48 GALLENO, R. História del arte. Madrid: Editorial Editex, 2009, p. 127. Figura 49 GOITIA, F. C. História geral da arte: arquitetura II. Espanha: Ediciones del Prado, 1996, p. 9. Figura 50 100.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3360/100.jpg> Acesso em: 21 fev. 2015. 149 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Figura 51 101.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3360/101. jpg>. Acesso em: 21 fev. 2015. Figuras 52 GOITIA, F. C. História geral da arte: arquitetura II. Espanha: Ediciones del Prado, 1996, p. 21. Figuras 53 GOITIA, F. C. História geral da arte: arquitetura II. Espanha: Ediciones del Prado, 1996, p. 21. Figura 54 FAZIO, M. A história da arquitetura mundial. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011, p. 159. Figura 55 GOITIA, F. C. História geral da arte: arquitetura II. Espanha: Ediciones del Prado, 1996, p. 17. Figura 56 GOITIA, F. C. História geral da arte: arquitetura II. Espanha: Ediciones del Prado, 1996, p. 17. Figura 57 GALLENO, R. História del arte. Madrid: Editorial Editex, 2009, p. 137. Figura 58 41.JPG. Disponível em: <http://www2.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3360/41. jpg> Acesso em: 21 fev. 2015. Figura 59 MAPA_1_G.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_1566/ mapa_1_g.jpg> Acesso em: 21 fev. 2015. Figura 60 DUBY, G; LACLOTTE, M. (Org.). História artística da Europa. v. 2. São Paulo: Paz e Terra, 1998, p. 32. 150 AR TV - R ev isã o: V ito r - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 6/ 02 /2 01 5 Figura 62 GOITIA, F. C. História geral da arte: arquitetura II. Espanha: Ediciones del Prado, 1996, p. 95. Figura 63 GOITIA, F. C. História geral da arte: arquitetura II. Espanha: Ediciones del Prado, 1996, p. 95. Figura 64 FAZIO, M. A história da arquitetura mundial. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011, p. 161. Figura 65
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