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Farmacodinâmica o que é? RECEPTORES A farmacodinâmica refere-se aos efeitos de um fármaco no organismo. Já as influências corporais nas ações dos fármacos definem os processos farmacocinéticos, que incluem absorção, distribuição, metabolismo e excreção. A maioria dos fármacos exerce seus efeitos, desejados ou indesejados, interagindo com receptores (macromoléculas-alvo especializadas) presentes na superfície ou no interior da célula. Os fármacos atuam como sinais, e seus receptores atuam como detectores de sinais. Os receptores traduzem o reconhecimento de um agonista ligado, iniciando uma série de reações que resultam em uma resposta intracelular específica. Obs: o termo “agonista” se refere a uma molécula endógena ou a um fármaco que se fixa a um local em uma proteína receptora, ativando-a. Segundos mensageiros ou moléculas efetoras são parte da cascata de eventos que traduz a ligação do agonista em uma resposta celular. BEATRIZ GURGEL - MEDICINA CPTL- UFMS Farmacodinâmica COMPLEXO FÁRMACO RECEPTOR As células têm muitos tipos de receptores diferentes, onde um agonista em particular produz uma resposta única. Ex: as células cardíacas contêm receptores β que se ligam e respondem à epinefrina ou norepinefrina, bem como receptores muscarínicos específicos para acetilcolina. A intensidade da resposta é proporcional ao número de complexos fármaco-receptores. Especificidade – parâmetro no qual uma substância é específica para um alvo que é o seu receptor e que independentemente da dose essa substância irá se ligar. Ou seja, é um tipo para o receptor independente da dose. Quando um fármaco é específico para um receptor, mesmo que haja aumento da dose, o fármaco continuará a se ligar ao mesmo receptor. Seletividade – afetam apenas um único órgão ou sistema. Perda de seletividade reduz a segurança de um terapêutico. Ex: adrenalina é usada como substância para choque anafilático e em baixas doses causa vasodilatação. PRINCIPAIS FAMÍLIAS DOS RECEPTORES O receptor é qualquer molécula biológica à qual um fármaco se fixa e produz uma resposta mensurável. Assim, enzimas, ácidos nucleicos e proteínas estruturais podem atuar como receptores de fármacos ou de agonistas endógenos. Contudo, proteínas que traduzem sinais extracelulares em respostas intracelulares são os principais receptores. Esses receptores podem ser divididos em quatro famílias: • Canais iônicos disparados por ligantes; • Receptores acoplados à proteína G; • Receptores ligados a enzimas; • Receptores intracelulares. BEATRIZ GURGEL - MEDICINA CPTL- UFMS Farmacodinâmica 1. RECEPTOR IONOTRÓPICO Esses receptores são canais iônicos proteicos transmembranares que se abrem diretamente em resposta à ligação do ligante. A porção extracelular dos canais iônicos disparados por ligantes contém o local de ligação (receptor). Em geral, o canal está fechado até que o receptor seja ativado por um agonista que abre o canal brevemente, por poucos milissegundos. Quando o canal se abre, pela ligação de um neurotransmissor, o receptor sofre uma mudança conformacional que pode gerar um efeito excitatório ou inibitório, dependendo dos íons que possam passar pelos canais e suas concentrações dentro e fora da célula. Canal voltagem dependente – são canais iônicos transmembranares ativados por alterações de diferença de potencial elétrico. Os receptores ionotrópicos são dependentes de voltagem e precisam de uma diferença de voltagem para que ocorra a abertura do canal. Além do canal de sódio e potássio, o canal iônico de cálcio também é voltagem dependente e responde a essa mudança de voltagem. A entrada de cálcio para dentro da célula permite a contração muscular através do complexo miosina-actina. • Influxo de sódio e cálcio – despolarização celular e consequente ativação da resposta fisiológica; BEATRIZ GURGEL - MEDICINA CPTL- UFMS Farmacodinâmica • Influxo de potássio e efluxo de cloreto – hiperpolarização celular e inativação do receptor. Ex: a estimulação do receptor nicotínico pela acetilcolina resulta em influxo de sódio e efluxo de potássio, gerando um potencial de ação no neurônio ou contração no músculo esquelético. Por outro lado, a estimulação do receptor ácido γ -aminobutírico (GABA) pelo agonista aumenta o influxo de cloretos e hiperpolariza os neurônios. Hiperpolarização da célula A hiperpolarização da membrana vai ser causada pelo GABA – neurotransmissor inibitório, que atua em um canal iônico de voltagem dependente. Quando se tem, ao invés de acetilcolina, o GABA ativando o receptor ocorre a entrada de íons cloreto, que faz com que a célula fique mais negativa e hiperpolarizada. A hiperpolarização é um fenômeno que inibe as funções celulares. A hiperpolarização ocorre tanto pela entrada de cloreto como pelo canal de potássio que se abre. 2. RECEPTOR METABOTRÓPICO Esses receptores não são canais iônicos (receptores ionotrópicos) – para ser canal iônico tem que ser dependente de voltagem e precisar de um ligante. A ligação do neurotransmissor ativa uma via de sinalização, que pode indiretamente abrir ou fechar canais ou promover algum outro efeito. Sinalização por meio desses receptores metabotrópicos depende da ativação de diversas moléculas dentro da célula e frequentemente envolve uma via de segundos mensageiros. Por envolver mais passos, a sinalização por receptores metabotrópicos é muito mais lenta que aquela feita por canais iônicos ativados por ligantes. Alguns receptores metabotrópicos têm efeitos excitatórios quando eles são ativados ( por tornar a célula mais provável a disparar um potencial de ação), enquanto outros têm efeitos inibitórios. Muitas vezes, estes efeitos ocorrem porque o receptor metabotrópico dispara uma via de sinalização que abre ou fecha um canal iônico. RECEPTOR ACOPLADO À PROTEÍNA G- GPCR Todos os GPCRs têm uma estrutura em comum que inclui sete segmentos que cruzam a membrana e se movimentam em ondas para frente e para trás ao longo da membrana. Os receptores transmembranares acoplados à proteína G (GPCR) são os principais alvos de fármacos. O domínio extracelular deste receptor contém a área de ligação BEATRIZ GURGEL - MEDICINA CPTL- UFMS Farmacodinâmica do ligante e o domínio intracelular interage (quando ativado) com a proteína G ou com a molécula efetora. Há vários tipos de proteínas (Gs, G i e Gq ), mas todas são compostas de três subunidades de proteínas. A subunidade α liga trifosfato de guanosina (GTP), e as subunidades β e γ ancoram a proteína G na membrana celular. A ligação de um agonista ao receptor aumenta a ligação de GTP na subunidade α, causando a dissociação do complexo α-GTP do complexo βγ. Então esses dois complexos podem interagir com outros efetores celulares, em geral enzima, proteína ou canal iônico, responsáveis por ações adicionais dentro da célula. Algumas vezes, os efetores ativados produzem segundos mensageiros que ativam outros efetores adicionais