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NOEMI ANDRADE| 5 SEMESTRE| UNIME 1 INTRODUÇÃO A farmacodinâmica descreve as ações dos fármacos no organismo e as influências das suas concentrações na magnitude das respostas. A maioria dos fármacos exerce seus efeitos, desejados ou indesejados, interagindo com receptores (isto é, macromoléculas-alvo especializadas) presentes na superfície ou no interior da célula. O complexo fármaco-receptor inicia alterações na atividade bioquímica e/ou molecular da célula por meio de um processo denominado transdução de sinal. A farmacodinâmica (descrita como o que o fármaco faz no corpo), é o estudo dos efeitos bioquímicos, fisiológicos e moleculares dos fármacos no corpo e diz respeito à ligação ao receptor (incluindo a sensibilidade do receptor), aos efeitos pós-receptor e às interações químicas. A farmacodinâmica, juntamente com a farmacocinética (o que o corpo faz com o fármaco) ajuda a explicar a relação entre a dose e a resposta, ou seja, os efeitos do fármaco. A resposta farmacológica depende da ligação do fármaco a seu alvo. A concentração do fármaco no sítio receptor influencia o efeito do fármaco. TRANSDUÇÃO DE SINAL →Os fármacos, atuam como sinais e seus receptores atuam como detectores de sinais. Os receptores transduzem o reconhecimento de um agonista ligado, iniciando uma série de reações que resultam em uma resposta intracelular específica. Obs: o termo “agonista” se refere a uma molécula endógena ou a um fármaco que se fixa a um local em uma proteína receptora, ativando-a. Segundos mensageiros ou moléculas efetoras são parte da cascata de eventos que traduz a ligação do agonista em uma resposta celular. O COMPLEXO FÁRMACO-RECEPTOR As células têm muitos tipos de receptores diferentes, cada qual específico para um agonista particular e produzindo uma resposta única. As membranas das células cardíacas, por exemplo, contêm receptores β que ligam e respondem à epinefrina ou norepinefrina, bem como receptores muscarínicos específicos para acetilcolina. Essas distintas populações de receptores interagem de modo dinâmico para controlar funções vitais do coração. A intensidade da resposta é proporcional ao número de complexos fármaco-receptor: esse conceito está estreitamente relacionado com a formação de complexos entre enzimas e substratos ou antígenos e anticorpos. Essas interações têm vários aspectos comuns; provavelmente a mais notável seja a especificidade do receptor por um determinado agonista. A maioria dos receptores é denominada pelo tipo NOEMI ANDRADE| 5 SEMESTRE| UNIME 2 de agonista que melhor interage com ele. Por exemplo, o receptor da histamina é denominado receptor histamínico. É importante saber que nem todos os fármacos exercem seus efeitos interagindo com receptores. Os antiácidos, por exemplo, neutralizam quimicamente o excesso de ácido gástrico, reduzindo os sintomas de azia. Especificidade – parâmetro no qual uma substância é específica para um alvo que é o seu receptor e que independentemente da dose essa substância irá se ligar. Ou seja, é um tipo para o receptor independe da dose. Quando um fármaco é específico para um receptor, mesmo que haja aumento da dose, o fármaco continuará a se ligar ao mesmo receptor. Seletividade – afetam apenas um único órgão ou sistema. Perda de seletividade reduz a segurança de um terapêutico. Ex: adrenalina é usada como substância para choque anafilático e em baixas doses causa vasodilatação. PRINCIPAIS FAMÍLIAS DE RECEPTORES A farmacologia define receptor como qualquer molécula biológica à qual um fármaco se fixa e produz uma resposta mensurável. Assim, enzimas, ácidos nucleicos e proteínas estruturais podem atuar como receptores de fármacos ou de agonistas endógenos. Contudo, a fonte mais rica e terapeuticamente relevante de receptores farmacológicos são proteínas que transduzem sinais extracelulares em respostas intracelulares. Esses receptores podem ser divididos em quatro famílias: 1) canais iônicos disparados por ligantes; 2) receptores acoplados à proteína G; 3) recepto res ligados a enzimas; 4) receptores intracelulares CANAIS IÔNICOS TRANSMEMBRANA DISPARADOS POR LIGANTES: A porção extracelular dos canais iônicos disparados por ligantes em geral contém o local de ligação. Esses locais regulam o formato do poro através do qual os íons fluem através da membrana celular. Em geral, o canal está fechado até que o receptor seja ativado por um agonista que abre o canal brevemente, por NOEMI ANDRADE| 5 SEMESTRE| UNIME 3 poucos milissegundos. Dependendo do íon conduzido através desses canais, os receptores mediam diversas funções, incluindo neurotransmissão e contração cardíaca ou muscular. Por exemplo, a estimulação do receptor nicotínico pela acetilcolina resulta em influxo de sódio e efluxo de potássio, gerando um potencial de ação no neurônio ou contração no músculo esquelético. Por outro lado, a estimulação do receptor ácido γ-aminobutírico (GABA) pelo agonista aumenta o influxo de cloretos e hiperpolariza os neurônios. Os canais iônicos disparados por voltagem também podem ter locais de fixação de ligantes que podem regular a função do canal. Por exemplo, os anestésicos locais se ligam ao canal de sódio disparado por voltagem, inibindo o influxo de sódio e diminuindo a condução neuronal. RECEPTORES TRANSMEMBRANA ACOPLADOS À PROTEÍNA G: O domínio extracelular deste receptor contém a área de fixação do ligante, e o domínio intracelular interage (quando ativado) com a proteína G ou com a molécula efetora. Há vários tipos de proteínas G (p. ex., Gs, Gi e Gq), mas todas são compostas de três subunidades de proteínas. A subunidade α liga trifosfato de guanosina (GTP, do inglês guanosine triphosphate), e as subunidades β e γ ancoram a proteína G na membrana celular. A ligação de um agonista ao receptor aumenta a ligação de GTP na subunidade α, causando a dissociação do complexo α-GTP do complexo βγ. Então esses dois complexos podem interagir com outros efetores celulares, em geral enzima, proteína ou canal iônico, responsáveis por ações adicionais dentro da célula. Essas respostas geralmente duram de vários segundos a minutos. RECEPTORES LIGADOS A ENZIMAS Esta família de receptores consiste em uma proteína que pode formar dímeros ou complexos de subunidades múltiplos. Quando ativados, esses receptores sofrem alterações conformacionais, resultando em aumento da atividade enzimática no citosol, dependendo de sua estrutura. Essa resposta dura de minutos a horas. Os receptores ligados a enzimas mais comuns (fator de crescimento epidermal, fator de crescimento derivado de plaquetas, peptídeo natriurético atrial, insulina e outros) possuem atividade tirosinocinase como parte da sua estrutura. RECEPTORES INTRACELULARES: Diferente dos outros receptores, o receptor é inteiramente intracelular, e, portanto, o ligante precisa difundir-se para dentro da célula para interagir com ele . Para mover-se através da membrana da célula-alvo, o ligante deve ser suficientemente lipossolúvel. O alvo primário desses complexos ligante-receptor são fatores de transcrição no núcleo da célula. A fixação do ligante com seu receptor geralmente ativa o receptor por meio de sua dissociação de uma variedade de proteínas. Então, o complexo ligante-receptor ativado se desloca até o núcleo, onde se dimeriza, em geral, antes de ligar-se aos fatores de transcrição que regulam a expressão gênica. A ativação ou inativação desses f atores causa a transcrição do DNA em RNA, na maior parte das vezes. A resposta desses receptores demora horas ou dias. Ex: os hormônios esteróides exercem suas ações em células- alvo por meio de receptores intracelulares. Receptoresconstitutivamente ou fis iologicamente ativos são receptores que, na ausência do agonista endógeno, apresentam uma atividade basal. São receptores altamente expressos em determinadas células, sem precisar de um ligante. TRANSDUÇÃO DE SINAIS A transdução de sinais tem dois aspectos importantes: NOEMI ANDRADE| 5 SEMESTRE| UNIME 4 1) amplificar sinais pequenos e 2) proteger a célula contra estimulação excessiva 1. Amplificação de sinais: A característica dos receptores ligados à proteína G e a enzimas é sua propriedade de amplificar a intensidade e a duração do sinal. Por exemplo, um único complexo agonista- receptor pode interagir com várias proteínas G, multiplicando, assim, várias vezes o sinal original. Além disso, a proteína G ativada persiste por mais tempo do que o complexo ligante-receptor original. Devido a essa amplificação, apenas uma fração ligante específico precisa ser ocupada para evocar a resposta máxima. Diz-se que os sistemas que exibem essa característica possuem receptores de reserva. Estes são exibidos pelos receptores de insulina, onde se estima que 99% dos receptores são “reserva”. Isso constitui uma imensa reserva funcional que garante a entrada de quantidades adequadas de glicose na célula. Por outro lado, no coração humano, apenas cerca de 5 a 10% do total de adrenoceptores β são de reserva. Uma implicação importante dessa observação é que há pouca reserva funcional no coração insuficiente; a maioria dos receptores precisa ser ocupada para obter a contratilidade máxima. 2. Dessensibilização dos receptores: A administração repetida ou contínua de um agonista (ou um antagonista) pode causar alterações na responsividade do receptor. Para evitar possíveis lesões às células (p. ex., altas concentrações de cálcio iniciando morte celular), vários mecanismos se desenvolveram, buscando proteger a célula da estimulação excessiva. Quando um receptor é exposto a administrações repetidas de um agonista, o receptor se torna dessensibilizado, resultando em diminuição do efeito. Esse fenômeno, denominado taquifilaxia, é devido à fosforilação ou a evento químico similar que torna o receptor da superfície celular não responsivo ao ligante. Além disso, os receptores podem ser dessensibilizados (down-regulated) por internalização ou sequestro no interior da célula, ficando indisponíveis para novas interações com os agonistas. Esses receptores podem ser reciclados para a superfície celular, restabelecendo a sensibilidade; ou, de modo alternativo, podem ser processados e degradados, diminuindo o número total de receptores disponíveis. Além disso, os receptores podem ser dessensibilizados por internalização o u sequestro no interior da célula, ficando indisponíveis para novas interações com os agonistas. Esses receptores podem ser reciclados para a superfície celular, restabelecendo a sensibilidade; ou, de modo alternativo, podem ser processados e degradados, diminuindo o número total de receptores disponíveis. A exposição repetida do receptor a antagonistas pode resultar e m sensibilização, na qual receptores de reserva são inseridos na membrana, aumentando o número total de receptores disponíveis. A sensibilização de receptores torna a célula mais sensível aos agonistas e mais resistente ao efeito dos antagonistas. • Inativação • Dessensibilização • Tolerância Se a dessensibilização não é suficiente para inativar o receptor há um processo de tolerância, recrutando, então, proteínas arrestinas. • Tolerância aguda – reversível • Tolerância crônica – irreversível, uma vez que causa neuroplasticidade dos neurônios e mudando sua atividade. Gera processo de dependência que pode ser: químico/físico, abstinência, psicológica ou aditiva/vício. NOEMI ANDRADE| 5 SEMESTRE| UNIME 5 INTERAÇÃO FÁRMACO-RECEPTOR As moléculas (fármacos, hormônios e neurotransmissores) que se ligam ao receptor são denominadas ligantes. Um ligante pode ativar ou inativar um receptor, podendo a ativação aumentar ou diminuir uma função celular particular. A capacidade do fármaco em afetar um determinado receptor relaciona-se à afinidade do fármaco (probabilidade de ocupar um receptor a qualquer instante) e à eficácia intrínseca (atividade intrínseca/resposta fisiológica). Conforme a concentração do fármaco aumenta, seu efeito farmacológico também aumenta gradualmente até que todos os receptores estejam ocupados (efeito máximo). A intensidade do efeito do fármaco depende da sua concentração no local receptor, o que, por sua vez, é determinado pela dose administrada e pelo perfil farmacocinético do fármaco, como velocidades de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação. A maioria dos receptores farmacológicos tem uma constituição proteica e pode ser: Transmembranar – presentes na membrana celular, com domínio extracelular, onde o ligante se acopla ao receptor/alvo (domínio de ligação). No interior de uma célula com receptor transmembranar há um efetor que desencadeia a atividade, mecanismo de ação e a propagação da mensagem. Intracelular – são proteínas receptoras encontradas dentro da célula, normalmente no citoplasma ou no núcleo. Na maioria dos casos, os ligantes de receptores intracelulares são pequenas moléculas hidrofóbicas, pois elas precisam atravessar a membrana plasmática para alcançar seus receptores. CLASSIFICAÇÃO DOS LIGANTES Há dois tipos principais de ligantes nos receptores: Agonistas – todo agonista tem característica principal de ligação sobre um receptor por ter afinidade. Ao ligar-se ao receptor, ele causa uma mudança conformacional no mesmo e gera ativação do receptor e consequente resposta fisiológica. Os fármacos agonistas mimetizam a ação de um ligante endógeno original no seu receptor. Ex: o isoproterenol mimetiza a norepinefrina nos receptores β1 cardíacos. Antagonista – os antagonistas impedem a ativação do receptor. Antagonistas aumentam a função celular se bloquearem a ação de uma substância que normalmente diminui a função celular. Da mesma forma que diminuem a função celular se bloquearem a ação de uma substância que normalmente aumenta a função celular. AGONISTA Um agonista liga-se a um receptor e produz uma resposta biológica baseada na concentração do agonista e na fração de receptores ativados. A atividade intrínseca de um fármaco determina sua capacidade de ativar total ou parcialmente os receptores. AGONISTAS TOTAIS NOEMI ANDRADE| 5 SEMESTRE| UNIME 6 Se um fármaco se liga a um receptor e produz a resposta biológica máxima que mimetiza a resposta do ligante endógeno, ele é um agonista total. Agonistas totais se ligam ao receptor e o estabilizam no seu estado ativo, e diz-se que tem atividade intrínseca unitária. Todos os agonistas totais de uma população de receptores devem produzir o mesmo Emáx (eficácia). AGONISTAS PARCIAIS Os agonistas parciais têm atividade intrínseca maior do que zero, mas menor do que um. Os agonistas parciais não conseguem produzir o mesmo Emáx que o agonista total, mesmo ocupando todos os receptores. Entretanto, o agonista parcial pode ter uma afinidade que é maior ou menor que a do agonista total, ou equivalente a ela. Quando o receptor é exposto ao agonista parcial e ao total simultaneamente, o agonista parcial pode atuar como antagonista do agonista total. AGONISTAS INVERSOS Comumente, os receptores livres são inativos e precisam da interação com um agonista para assumir uma conformação ativa. Contudo, alguns receptores apresentam conversão espotânea de R para R* na ausênciade agonista. Agonistas inversos, ao contrário de agonistas totais, estabilizam a forma R (inativa) e convertem R* em R. Isso diminui o número de receptores ativados para menos do que observado na ausência do fármaco. Assim, os agonistas inversos têm atividade intrínseca menor que zero, revertem a atividade de receptores e exercem efeito farmacológico oposto ao dos agonistas. ANTAGONISTAS Os antagonistas ligam-se ao receptor com alta afinidade, mas têm atividade intrínseca nula. Um antagonista não tem efeito na ausência de agonistas, mas pode diminuir o efeito do agonista quando estiver presente. Pode ocorrer antagonismo pelo bloqueio da ligação do fármaco ao receptor ou da capacidade de ativar o receptor. ANTAGONISTAS COMPETITIVOS: Se ambos, antagonista e agonista, se ligam ao mesmo local receptor de modo reversível, eles são denominados “competitivos”. O antagonista competitivo impede que o agonista se ligue ao seu receptor e mantém esse receptor no estado inativo. Por exemplo, o anti-hipertensivo terazosina compete com o ligante endógeno norepinefrina nos adrenoceptores α1, diminuindo, assim, o tônus do músculo liso vascular e reduzindo a pressão arterial. Contudo, essa inibição pode ser superada aumentando-se a concentração do agonista em relação ao antagonista. ANTAGONISTAS IRREVERSÍVEIS: NOEMI ANDRADE| 5 SEMESTRE| UNIME 7 Antagonistas irreversíveis se fixam de modo covalente ao local ativo do receptor, reduzindo, assim, o número de receptores disponíveis para o agonista. Diminui o Emáx, sem alterar o valor de CE50 do agonista. OBS: A CE50 é a concentração do fármaco que produz uma resposta igual a 50% da resposta máxima. A potência do fármaco pode ser comparada usando a CE50: quanto menor a CE50, mais potente é o fármaco. ANTAGONISTAS ALOSTÉRICOS: O antagonista alostérico também diminui o Emáx, sem alterar o valor de CE50 do agonista. Esse tipo de antagonista se fixa em um local (local alostérico) diferente do local de ligação do agonista e evita que o receptor seja ativado pelo agonista. A picrotoxina é um exemplo de agonista alostérico, pois se fixa no interior do canal de cloreto controlado pelo GABA. Quando a picrotoxina está fixada dentro do canal, o cloreto não pode passar pelo canal mesmo quando o receptor está totalmente ativado pelo GABA. ANTAGONISMO FUNCIONAL: Um antagonista pode atuar em um receptor completamente separado, iniciando eventos que são funcionalmente opostos aos do agonista. O exemplo clássico é o antagonismo funcional pela epinefrina da broncoconstrição induzida por histamina. A histamina se liga aos receptores H1 histamínicos na musculatura lisa bronquial, causando broncoconstrição da árvore brônquica. A epinefrina é um agonista nos adrenoceptores β2 na musculatura lisa bronquial, que causa o relaxamento do mús culo. O antagonismo funcional também é conhecido como “antagonismo fisiológico”.
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