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Psicologia Jurídica - Psicopatia copy

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PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA (PUC-SP) 
Professora: Evani Zambon Marques da Silva 
Disciplina: Psicologia Judiciária II - 2º semestre – 2020 
Seminário 2º bimestre 
 
Grupo: 
Alberto Sormani Zanoni - RA00180069 
Alícia Cristovão Pessetti – RA00180334 
Bárbara Ricardo Cardassi – RA00185813 
Beatriz Cavicchioli de Marino – RA00181196 
Bruna Mendes Brossa – RA00181357 
Camila Salles Abramovitz – RA00187341 
Carolina Lazzaro Barbosa – RA00168285 
Eduarda Dourado Viana da Silva - RA00188035 
Edson Luiz Vettore - RA00188033 
 
 
 
 
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 QUESTÕES 
1. Partindo do transtorno apresentado, há maior frequência/ocorrência de qual tipo 
de crime? 
2. Como a justiça tem lidado com o portador? 
3. Como a área da saúde mental tem lidado com o doente? 
4. Há algum filme/série ou caso prático que pode ser trazido para exemplificação? 
 
RESPOSTAS 
A Psicopatia – Introdução: 
A psicopatia está ligada ao comportamento antissocial, mas com este não se 
confunde. O transtorno antissocial é aquele em que “prevalece a indiferença pelos 
sentimentos alheios, podendo adotar comportamento cruel; desprezo por normas e 
obrigações; baixa tolerância a frustração e baixo limiar para descarga de atos violentos.”1 
No caso das psicopatias, há maior evidência no dinamismo anômalo, envolvendo 
amplamente a vida psíquica da pessoa. Trata-se de condição muito relevante para a 
psiquiatria forense por conta de apresentar a insensibilidade afetiva. Isso, por si só, já 
dificulta a possibilidade de reabilitação da pessoa infratora. 
Os psicopatas diferem de outros criminosos, segundo a escala PCL-R 
(Psychopathy Checklist-Revised). Essa escala é um checklist de 20 itens, cuja pontuação 
pode ir de zero a dois para cada item (resultado acima de 30 pontos seria uma pessoa 
considerada psicopata), conforme mencionado abaixo: 
Os 20 elementos que compõem a escala são os seguintes: 
1) loquacidade/charme superficial; 
2) auto-estima inflada; 
3) necessidade de estimulação/tendência ao tédio; 
4) mentira patológica; 
5) controle/manipulação; 
6) falta de remorso ou culpa; 
 
1 MORANA, Hilda C P; STONE, Michael H; ABDALLA-FILHO, Elias. Transtornos de personalidade, 
psicopatia e serial killers. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo , v. 28, supl. 2, p. s74-s79, Oct. 2006. 
3 
 
7) afeto superficial; 
8) insensibilidade/falta de empatia; 
9) estilo de vida parasitário; 
10) frágil controle comportamental; 
11) comportamento sexual promíscuo; 
12) problemas comportamentais precoces; 
13) falta de metas realísticas em longo prazo; 
14) impulsividade; 
15) irresponsabilidade; 
16) falha em assumir responsabilidade; 
17) muitos relacionamentos conjugais de curta duração; 
18) delinqüência juvenil; 
19) revogação de liberdade condicional; 
20) versatilidade criminal.2 (...) 
 
Questão 1) Considerando a insensibilidade afetiva e falta de remorso, há uma 
gama muito ampla de crimes cometidos pelos psicopatas. A princípio, destacam-se os 
crimes mais graves e cruéis, como homicídio, tortura e estupro; em grande parcela das 
vezes, os homicidas seriais (serial killers) são diagnosticados com o transtorno de 
personalidade psicopática, vez que tais indivíduos não são capazes de sentir empatia pelas 
suas vítimas. 
 Fiorelli e Mangini, entretanto, destacam que os psicopatas não necessariamente 
desenvolvem atividades criminosas cruéis, mas também podem cometer com frequência 
crimes de furto, dano, lesão corporal, violência doméstica, estelionato, sequestros, 
organização criminosa e organização criminosa para o tráfico. 
 Essa diversidade de delitos praticados pelos psicopatas muito se relaciona à 
facilidade em manipular os outros, à impulsividade, à busca incessante pelo prazer e à 
falha em assumir os próprios erros. “A conduta reiterada, a habitualidade e outros 
 
2 ABDALLA-FILHO, E. Avaliação de risco de violência em psiquiatria forense. Rev Psiquiatr. Clin. 
2004;31(6):279-83. 
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aspectos de personalidade é que indicam a presença do transtorno, e não a violência do 
crime”3. 
 Nesse sentido: 
Estupro de vulnerável (art. 217-A do Cód. Penal). Crime caracterizado, 
integralmente. Provas de materialidade e de autoria. Palavras da vítima e 
confissão judicial. Caracterização do crime em continuidade delitiva. 
Condenação imperiosa. Apenamento. Majoração da base adequada e bem 
fundamentada. Reincidência reconhecida, sem risco de 'bis in idem'. 
Benevolente redução pela confissão. Prevalência da reincidência sobre a 
confissão não observada, 'data venia' do entendimento da origem. 
Agravante atinente à personalidade do agente. Entendimento esposado 
pelo E. Supremo Tribunal Federal. Impossibilidade de compensação. 
Majoração pela continuidade delitiva bem aplicada. Reiteradas condutas 
praticadas, ao longo de um ano. Redução mínima pela semi-
imputabilidade. Quadro de psicopatia caracterizado. Acusado que 
compreende o caráter ilícito da conduta. Critérios da origem respeitados. 
Regime fechado único possível. Apelo improvido. (TJSP; Apelação 
Criminal 0002921-06.2018.8.26.0032; Relator (a): Luis Soares de Mello; 
Órgão Julgador: 4ª Câmara de Direito Criminal; Foro de Araçatuba - 3ª 
Vara Criminal; Data do Julgamento: 02/04/2020; Data de Registro: 
02/04/2020) 
Apelação Criminal Atentado violento ao pudor praticado por pai 
contra filha criança Parecer psicológico classificando o recorrente como 
psicopaía Psicopatia que é considerado distúrbio mental grave - 
Necessidade de realização de prova técnica - Preliminar de nulidade 
acolhida Sentença anulada. " (TJSP; Apelação Sem Revisão 9146137-
61.2001.8.26.0000; Relator (a): Luiz Antonio de Salles Abreu; Órgão 
Julgador: 11ª Câmara de Férias Janeiro; Foro Central Criminal Barra 
Funda - 23ª Vara Criminal; Data do Julgamento: N/A; Data de Registro: 
02/12/2004) 
HABEAS CORPUS - HOMICÍDIO - LIBERDADE PROVISÓRIA - 
Paciente que sofre de grave psicopatia, esquizofrenia. - Os direitos à 
liberdade e à proteção preventiva do Estado devem ser compatibilizados 
para alcançar a Justiça - Concedida a ordem para determinar que o 
paciente seja custodiado em cela própria, separado dos demais presos, e 
sob supervisão médica, facultado o acesso de seus familiares e médicos 
para acompanhar e ministrar o necessário ao seu tratamento psíquico, até 
a solução do incidente de msalubndade e da ação instaurada "in judicio" 
- ORDEM DE "HABEAS CORPUS" CONCEDIDA, COM 
DETERMINAÇÃO. (TJSP; Habeas Corpus Criminal 0004456-
81.2009.8.26.0000; Relator (a): Amado de Faria; Órgão Julgador: 3ª 
Câmara de Direito Criminal; Foro de Diadema - Vara do Júri/Exec./Inf. 
Juv.; Data do Julgamento: 16/06/2009; Data de Registro: 28/07/2009) 
 
3 FIORELLI, José Osmir; MANGINI, Rosana Cathya Ragazzoni. Psicologia Jurídica. 10. ed. São Paulo: 
Atlas, 2020. P. 82 
5 
 
 Assim, através dos exemplos trazidos acima, é possível notar alguns delitos 
praticados por réus que sofrem de psicopatia, e a posição do Tribunal de Justiça do Estado 
de São Paulo ao reconhecer tal doença. 
 
Questão 2) Havendo dúvidas sobre a sanidade mental do acusado, o juiz 
determina a realização de perícia. O responsável por constatar a insanidade mental do 
acusado é o perito (médico-legal), que realiza o exame e constata se o acusado é portador 
de alguma doença mental, conforme previsto nos artigos 149 e 159 do Código de Processo 
Penal. 
Constatada a insanidade mental e que esta efetivamente interferiu na prática do 
crime, em se tratando de como a Justiça Criminal lida com o portador da psicopatia que 
pratica um fato típico e antijurídico, verifica-se que o art. 26 do Código Penal disciplina 
o seguinte: 
“Inimputáveis 
 Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo 
da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o 
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esseentendimento. 
 
Redução de pena 
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, 
se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era 
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar-se de acordo com esse entendimento”. 
 
 Assim, percebe-se que o CP prevê que, inicialmente, no art. 26, “caput” se 
tratando de indivíduo inimputável, que é aquele completamente incapaz de entender a 
ilicitude da sua conduta e que não entende o que está fazendo, a proposta de pena para 
este indivíduo é que o juiz profira uma sentença de absolvição imprópria, na qual 
absolverá o agente e o isentará de pena, mas, em contrapartida, imporá a ele o 
cumprimento de uma medida de segurança. 
 Já o art. 26, parágrafo único, do CP, se ocupa de disciplinar a conduta dos 
chamados semi-imputáveis, que são aqueles que não são inteiramente capazes de entender 
a ilicitude da conduta e de controlar seu comportamento. Nesse caso, a solução penal é 
diferente: a sentença é condenatória, mas o juiz aplica uma diminuição de um a dois terços 
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da pena. Se o juiz entender que ao semi-imputável é melhor poderá substituir a pena e 
aplicar a medida de segurança, conforme autoriza o art. 98 do CP. 
 Uma vez condenado e sendo inimputável ou semi-imputável, cuja pena o juiz 
substituiu, o indivíduo será submetido a uma medida de segurança. O art. 96 do Código 
penal prevê: 
“Art. 96. As medidas de segurança são: 
I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico 
ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; 
II - sujeição a tratamento ambulatorial”. 
 
 Se observa, portanto, que na medida de segurança, há dois tratamentos possíveis: 
a internação em hospital psiquiátrico ou o tratamento ambulatorial. O art. 97 do CP 
determina que se o sujeito for inimputável, será submetido à internação. Já se o sujeito 
for semi-imputável, será aplicado a ele o tratamento ambulatorial. Em ambos os casos, 
por prazo mínimo de um ano e prazo máximo de três anos. 
 Sobre a aplicação da internação e da medida de segurança, explica Daniel Martins 
de Barros: 
“Os hospitais de custódia e tratamento, antigamente 
denominados manicômios judiciários, são instalações que, no 
Brasil, ficam sob a gestão das Secretarias de Administração 
Penitenciária, e mesclam características hospitalares com 
prisionais, por receberem doentes que cometeram crimes. (...) 
Caso o laudo indique e o juiz concorde que a pessoa já não 
representa perigo iminente para si ou para os outros, mas ainda 
assim necessita de tratamento, pode determinar que ela submeta-
se a tratamento ambulatorial. Nos dois casos, a responsabilidade 
da Justiça persiste enquanto durar o que ela entender por 
“periculosidade”, ou seja, o risco aumentado de, em função da 
doença, a pessoa vir a delinquir”4. 
 O psicopata é um agente que sofre de transtorno psicológico, mas, que consegue 
entender parcialmente o caráter ilícito da sua conduta e, por isso, no direito penal 
brasileiro, ele é considerado como semi-imputável. Exemplo disso é o julgado trazido 
na questão 1 (Apelação Criminal 0002921-06.2018.8.26.0032), na qual o Tribunal de 
Justiça reconheceu a capacidade do psicopata de entender parcialmente o caráter ilícito 
da conduta, configurando-se a semi-imputabilidade e, por isso, lhe foi imposto o 
cumprimento de pena, com aplicação de redução de pena (art. 26, parágrafo único do CP). 
 
4 Barros, Daniel Martins de. Introdução à psiquiatria forense [recurso eletrônico] /Daniel Martins de 
Barros. – Porto Alegre : Artmed, 2019, p. 71. 
7 
 
 Dessa forma, se percebe que o Código Penal considera o portador da psicopatia 
parcialmente capaz de entender a ilicitude do fato e portar-se de acordo com esse 
entendimento, considerando, assim, que o psicopata sofre de um distúrbio mental que 
influencia seu comportamento quando comete o ato ilícito. 
 Parece acertada a classificação do psicopata como semi-imputável à medida em 
que este consegue perceber de certa forma a ilicitude da sua conduta, até porque uma das 
características do psicopata é a inteligência, capacidade de controlar e manipular a 
situação para atingir seu objetivo. Mas, observadas as características da psicopatia, como 
o fato de que ele não tem remorso de suas atitudes e não consegue assumir 
responsabilidade por suas doenças, é que o torna apenas parcialmente capaz de entender 
a ilicitude e não completamente capaz de fazê-lo. 
 Como o psicopata é considerado semi-imputável na Justiça Brasileira, a ele 
se aplica o art. 26, parágrafo único, do CP, ou seja, a ele, em regra, aplica-se pena, com 
diminuição, e, apenas se o juiz considerar melhor, a pena pode ser substituída por medida 
de segurança. 
Neste ponto, é imprescindível fazer uma análise crítica da sanção penal aplicada 
ao psicopata. Ora, se ele sofre de uma perturbação mental e é apenas parcialmente capaz 
de se comportar e entender a ilicitude das suas condutas, não parece correto aplicar a 
mesma pena que é aplicada aos condenados que tem plena sanidade mental. 
Isso porque, encarcerar o psicopata como os demais presidiários e não fornecer a 
ele um tratamento de qualidade, com profissionais adequados, não mudará em nada a sua 
tendência à prática de crimes. A pena imposta não cumprirá, por si só, a finalidade de 
ressocializá-lo, porque, sozinho no cárcere, ele não conseguirá enxergar como se 
comportar de maneira adequada. 
O ideal seria a realização de um estudo, com profissionais da área psiquiátrica e 
forense, a fim de unir essas duas áreas para que se criasse uma sanção penal que forneça 
um tratamento adequado para o psicopata, a fim de que ele pare de cometer ilícitos. Se 
isso não for feito, uma vez cumprida a pena, há muitas chances de reincidência por parte 
do indivíduo, porque ele não foi corretamente tratado e, portanto, finda o cumprimento 
da pena sem entender o que deve ou não fazer. Assim, o fato de o art. 26, parágrafo único, 
colocar como sanção penal para o semi-imputável o cumprimento de uma pena, não 
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parece adequado, pois acaba por tratar um portador de psicopatia no mesmo patamar de 
um indivíduo completamente são. 
Contudo, como o Poder Legislativo não parece se mobilizar para promover uma 
pena adequada ao psicopata, o mais correto seria que a ele sempre fosse aplicada a medida 
de segurança, que promove a internação ou tratamento ambulatorial e, portanto, um 
tratamento adequado. Dessa forma, a lei não parece acertada ao impor a pena e deixar a 
cargo do juiz (não perito em medicina) a decisão de substituí-la por medida de segurança 
ou não. A própria lei já deveria, desde o começo, impor ao semi-imputável a medida de 
segurança, que lhe fornece um tratamento. 
Nesse sentido, explica Daniel Martins de Barros: 
"Os estudos ao redor do mundo variam quanto aos resultados, 
dependendo da metodologia utilizada, mas pode-se dizer que 
entre um e dois terços das pessoas em presídios apresentam uma 
ou mais doenças mentais. As prevalências mais altas são 
encontradas nos estudos que levam em conta todos os 
transtornos, inclusive dependências químicas, alcoolismo e 
transtornos de personalidade (...) Com esses dois exemplos – 
agressividade patológica e populações encarceradas – 
conseguimos entender que a Psiquiatria Forense vai, e deve ir, 
além de seus limites normativos – os conhecimentos médicos 
auxiliando a Justiça no estabelecimento e no cumprimento de 
normas e leis. É também seu papel auxiliar no estabelecimento 
de condutas médicas arvoradas no conhecimento das leis e das 
normas, visando o objetivo último da Medicina, resumido no 
antigo aforismo: “Curar algumas vezes, aliviar muitas vezes e 
consolar sempre”5. 
 
 Para exemplificar a problemática da pena imposta ao psicopata, cabe citar o 
famoso caso do “Maníaco do Parque”. Por volta de 1988 vários corpos demulheres foram 
encontrados em um parque situado na cidade de São Paulo, sendo que alguns deles 
estavam com sinais de violência sexual. Na época, o Departamento de Homicídios 
investigou o caso e constatou-se que se tratava de um assassino em série, que passou a 
ser denominado pela imprensa como Maníaco do Parque. 
 Depois de várias buscas e alguns retratos falados de vítimas que sobreviveram, o 
motoboy Francisco de Assis Pereira, conhecido como Chico Estrela, foi identificado 
como o autor dos crimes. A sua forma de operar ou “modus operandi” era a seguinte: 
seduzia as vítimas, com falsas promessas de emprego em uma agência de modelos. 
Distribuía elogios e convencia as vítimas que uma equipe publicitária as aguardava no 
 
5 Barros, Daniel Martins de. Introdução à psiquiatria forense [recurso eletrônico] /Daniel Martins de 
Barros. – Porto Alegre : Artmed, 2019, p. 80. 
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referido parque. Atraídas pela possibilidade de seguir uma carreira artística, as mulheres 
o acompanhavam até o parque. Quando chegavam lá, Chico Estrela torturava fisicamente 
e psicologicamente as vítimas, por meio de ofensas e agressões e mostrava a elas 
cadáveres anteriores. Ao final, matava as mulheres asfixiadas, com o uso de cintos ou 
cadarços das próprias vítimas. 
 Tem-se aqui um clássico e famoso caso de um psicopata, que torturava e matava 
suas vítimas sem qualquer sinal de remorso. Na época, Francisco de Assis Pereira foi 
condenado a 285, 11 meses e dez dias de reclusão pelos crimes cometidos. Essa foi a pena 
imposta, a princípio, sendo que o Código Penal permite apenas o cumprimento de 40 anos 
de pena efetivamente. 
 Apesar de ter sido considerado semi-imputável, ele não teve sua pena diminuída 
e também não lhe fora aplicada uma medida de segurança. A pena determinada para ele 
está sendo cumprida em uma prisão normal, no regime fechado de cumprimento de pena. 
Dessa forma, vê-se que dificilmente o papel de ressocialização da pena será cumprido e 
a sua psicopatia não será nem minimamente tratada no cárcere. 
 Apesar de ele ser um criminoso reincidente, como ele sofre de um transtorno de 
psicopatia, o ideal seria que lhe fosse aplicada uma medida de segurança adequada, 
justamente para que não haja mais vítimas, em virtude de tal “desvio de conduta” ou 
personalidade. 
 Encarcerar o indivíduo portador da psicopatia é uma resposta da justiça que apenas 
visa afastá-lo da sociedade, mas que não se importa nem um pouco em tratar do transtorno 
mental que sofre. 
 
Questão 3) A tratabilidade da psicopatia e a reabilitação do doente são temas que 
não possuem entendimento pacificado entre os especialistas da área da saúde mental. Em 
que pese grande parte dos especialistas defendam que a psicopatia é um distúrbio mental 
que não possui cura ou tratamento eficaz, há quem defenda a eficácia do tratamento com 
terapias especializadas e remédios, seguido de acompanhamento da evolução do paciente. 
De forma geral, as opiniões dos especialistas se resumem a três possibilidades: (a) 
o tratamento da psicopatia não terá nenhum efeito na condição do doente; (b) o tratamento 
irá piorar a condição; ou (c) o tratamento potencialmente irá melhorar a condição do 
psicopata. 
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A psicoterapia é um dos principais tratamentos para pessoas com esse distúrbio 
mental. O acompanhamento psicoterapêutico pode ser eficaz para aliviar alguns sintomas, 
embora não se espere que o paciente seja curado. Assim, o tratamento com psicoterapia 
pode ser realizado individualmente entre um psicólogo e o paciente, em grupo ou até 
mesmo para familiares afetados. 
Contudo, pesquisas com especialistas ao redor do mundo mostram que os 
tratamentos tiveram resultados moderadamente baixos, e por vezes com piora do quadro. 
Isso porque o examinado tende a abandonar o tratamento e descumprir os programas 
disciplinares. É preciso lembrar que os pacientes que sofrem deste distúrbio são 
egocêntricos, acreditam que não precisam de ajuda, e, por isso, não se adaptam ao uso de 
medicamentos e relutam em frequentar terapias comportamentais. A minoria dos estudos 
mostra melhora, com evidências de resultados positivos, principalmente quando o 
tratamento é realizado em jovens e crianças. 
Outro tratamento muito utilizado é o farmacológico, isto é, o tratamento 
sintomático. Aqui, busca-se aliviar os sintomas, principalmente os transtornos 
comórbidos de eixo 1 (depressão, ansiedade, TDAH, etc.), e o tratamento da 
agressividade explosiva / irritabilidade / impulsividade, através de estabilizadores de 
humor, antipsicóticos atípicos e antipsicóticos de depósito. Além disso, é feito um 
tratamento hormonal para a questão da hipersexualidade do paciente. 
Por fim, não há tratamento com medicamento para os demais sintomas da doença, 
tais como: insensibilidade / falta de empatia; agressividade instrumental / planejada, 
dificuldade em aprender com erros; egocentrismo / narcisismo; perversidade; mentira 
patológica e comportamentos manipulativos. 
 
Questão 4) O Tema da psicopatia, de maneira entrelaçada com os serial killers, 
sempre foi solo fértil para a produção cinematográfica, de modo que existem diversos 
filmes e séries que podem ser trazidos para tratar do transtorno de psicopatia. No entanto, 
a ficção e a produção audiovisual costumeiramente sensacionalizam a temática, sendo 
mais interessante, para uma abordagem mais ligada à realidade, a análise dos casos 
práticos. 
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A História é, também, cheia de serial killers famosos, como Tedy Bundy, John 
Wayne Gacy, Jeffrey Dahmer, Pedrinho Matador, o Vampiro de Niterói, o Bandido da 
Luz Vermelha, O Maníaco do Parque, e etc. 
 Assim, o grupo traz como objeto de análise o caso do brasileiro Tiago Henrique 
Gomes da Rocha, que ficou conhecido pela mídia como o Serial Killer de 
Goiânia/Maníaco de Goiânia. Thiago, que era vigilante, ao ser preso confessou ter 
assassinado 39 pessoas entre os anos de 2011 e 2014 na cidade de Goiânia/GO. Dos 33 
juris populares que enfrentou, foi condenado em 30 por homicídios. Atualmente, a soma 
de suas penas ultrapassa os 600 anos de cárcere. 
 Os homicídios eram realizados friamente, por meios que impossibilitam a defesa 
da vítima. Seu modus operandi, ou seja, seu modo de operação, consistia em subir em 
uma motocicleta e alvejar vítimas aleatórias na rua. A extrema frieza e impessoalidade 
do confesso assassino são marcas fortes. 
 Em depoimentos prestados à força-tarefa policial criada para investigar o 
assassinato de suas vítimas, Thiago revelou que na infância e adolescência teria crescido 
sem uma figura paterna. Foi criado pela mãe e avó, e teria sido abusado sexualmente por 
seu vizinho quando tinha 11 anos de idade, o que o traumatizou. Alguns delegados que 
participaram das investigações, entretanto, afirmaram que Thiago ressaltava essa 
informação, mas não oferecia maiores detalhes, parecia não dar importância ao ocorrido. 
 No início da adolescência e vida adulta, Thiago relatou aos policiais que sofreu 
bullying na escola e foi traído diversas vezes em relacionamentos amorosos, em uma série 
de desilusões. 
 Tudo isso, o trauma do abuso sexual, o bullying e as traições, nas palavras do 
próprio Thiago, teriam gerado nele “raiva da sociedade”. 
 Foi para extravasar essa raiva que Thiago começou a matar. Nas palavras do 
delegado Mauricio Massanobo Kai, em entrevista ao G1: “Ele ficava angustiado, 
procurando uma forma de resolver o problema e descobriu que matando ele se sentia 
melhor”. Thiago teria começado matando moradores de rua, mas depois passou a matar 
quase exclusivamente mulheres. Na visão dos delegados, seria para descontar a raiva do 
abandono e traições. 
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 Depois dos assassinatos, como relatou à Polícia, Thiago fazia questões de assistir 
aos noticiários para certificar-se da morte e saber o nome da vítima. 
 Além disso, em uma reação típica a diversos seria killers, Thiago revelou ter certo 
medoe ojeriza de mulheres: “Ele trava quando tem uma mulher na sala. É preciso que 
um agente homem converse com ele para que ele colabore e continue dando as 
informações”, afirmou a delegada Silvana Nunes. Durante um dos depoimentos, a escrivã 
teve que sair da sala para que Thiago continuasse sua fala: “ele simplesmente parou de 
falar, olhou para ela e disse ‘tem gente demais aqui’”, afirmou um dos delegados. “Ele 
disse que tem raiva da figura feminina, mas sente uma atração. Não tem um padrão, por 
exemplo, loira ou morena. É uma pessoa muito inteligente, lúcida e perspicaz”, disse a 
delegada. 
 Os delegados sempre apontavam que os depoimentos eram calmos, e que Thiago 
não alterava seu tom de voz, demonstrando tranquilidade e ausência de expressões faciais 
intensas. Também essa é uma característica associada ao transtorno de psicopatia. 
O psiquiatra forense que realizou um dos juris de Tiago afirma que ele tinha pleno 
entendimento de seus atos, que ele é psicopata e que se trata de um transtorno de 
personalidade. O próprio perito psiquiatra forense Diego Franco de Lima explica: 
“Como apontam os laudos, Tiago Henrique é psicopata, o que 
caracteriza um transtorno de personalidade e não uma doença 
mental, com as características de frieza emocional, tendência a 
manipulação e agressividade. Porém, a falha na estruturação do 
caráter, ou personalidade, como é mais utilizado em termos 
médicos, não tem relação alguma com o entendimento de atos 
lícitos ou ilícitos (...) A psicopatia é uma condição intratável e o 
nosso laudo é de que ele tem pleno entendimento e 
autodeterminação nos atos praticados”6 
 Thiago confessou o assassinato de mulheres, homens homossexuais e moradores 
de rua. Durante o período de oito horas que passou na Delegacia Estadual de Repressão 
a Narcóticos (Denarc), afirmou que estava com vontade de matar. Já preso no Núcleo de 
Custódia do Complexo Prisional, o ex-vigilante ameaçou de morte outros detentos. 
 Dois dias depois de preso, Thiago tentou se suicidar na cela, mas foi atendido por 
bombeiros e sobreviveu. 
 
6 https://www.jornalopcao.com.br/ultimas-noticias/psiquiatra-reforca-psicopatia-de-tiago-henrique-tinha-
pleno-entendimento-de-seus-atos-72551/ 
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 Em um especial produzido pela Câmara Record, programa da TV Record, Thiago 
cita um suposto arrependimento por suas ações e diz que o que espera de sua vida “deixa 
nas mãos de Deus”. Através de seu depoimento, é possível ver que o indivíduo não sente 
remorso pelas vítimas. 
Por todo o apurado, fica claro que Thiago possui manifestamente vários dos 20 
quesitos indicadores de psicopatia apontados no trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Referências bibliográficas 
ABDALLA-FILHO, E. Avaliação de risco de violência em psiquiatria forense. Rev 
Psiquiatr. Clin. 2004;31(6):279-83. 
BARROS, Daniel Martins de. Introdução à psiquiatria forense [recurso eletrônico] 
/Daniel Martins de Barros. – Porto Alegre : Artmed, 2019, p. 71. 
MORANA, Hilda C P; STONE, Michael H; ABDALLA-FILHO, Elias. Transtornos de 
personalidade, psicopatia e serial killers. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo , v. 28, supl. 
2, p. s74-s79, Oct. 2006. 
Organização Mundial de Saúde. Classificação de transtornos mentais e de 
comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: 
Artmed, 1993. 
FIORELLI, José Osmir; MANGINI, Rosana Cathya Ragazzoni. Psicologia Jurídica. 10. ed. São 
Paulo: Atlas, 2020. 
RIBEIRO, Dr. Rafael Bernardon. Tratabilidade dos transtornos de personalidade 
antissocial e psicopatia – evidências. Disponível em: 
<https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUK
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em: 11/11/2020.

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