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INFLAMAÇÃO MILENA BAVARESCO INTRUDUÇÃO ▪ A sobrevivência de todos os organismos requer a eliminação de invasores estranhos, como agentes infecciosos e tecidos lesados. ▪ Essas funções são mediadas por uma resposta complexa do hospedeiro chamada inflamação. INFLAMAÇÃO ▪ É uma resposta protetora que envolve células do hospedeiro, vasos sanguíneos, proteínas e outros mediadores e destinada a eliminar a causa inicial da lesão celular, bem como as células e tecidos necróticos que resultam da lesão original e iniciar o processo de reparo. ▪ A inflamação realiza sua função protetora diluindo, destruindo ou neutralizando os agentes nocivos (p. ex., micróbios e toxinas). Ela movimenta os eventos que curam e reparam os sítios de lesão. ▪ Sem inflamação, as infecções prosseguiriam sem controle e as feridas jamais cicatrizariam. No contexto das infecções, a inflamação é parte de uma resposta protetora mais ampla, à qual os imunologistas se referem como imunidade inata. ▪ Embora a inflamação auxilie na remoção das infecções e outros estímulos nocivos e inicie o reparo, a reação inflamatória e o processo subsequente de reparo podem, contudo, causar danos consideráveis. ▪ Os componentes da reação inflamatória que destroem e eliminam os micróbios e tecidos mortos também são capazes de lesar os tecidos normais. ▪ Por isso, a lesão pode coexistir com as reações inflamatórias benéficas e inteiramente normais, e o dano pode se tornar característica importante se a reação for muito forte (p. ex., quando a infecção é acentuada), prolongada (p. ex., quando o agente causador resiste à erradicação) ou inapropriada (p. ex., quando ela é direcionada contra antígenos próprios nas doenças autoimunes ou contra antígenos ambientais geralmente inofensivos nos distúrbios alérgicos). ▪ Normalmente, as moléculas e as células de defesa do hospedeiro, incluindo leucócitos e proteínas plasmáticas, circulam no sangue, e o objetivo da reação inflamatória é trazê-las para o local da infecção ou da lesão tecidual. ▪ Além disso, as células residentes das paredes vasculares e as células e proteínas da matriz extracelular (MEC) também estão envolvidas na inflamação e no reparo. A INFLAMAÇÃO PODE SER AGUDA OU CRÔNICA INFLAMAÇÃO AGUDA: ▪ Início rápido e de curta duração; ▪ Duração de poucos minutos a poucos dias; ▪ Exsudação de líquido e proteínas plasmáticas, e acúmulo de leucócitos, predominantemente neutrófilos. INFLAMAÇÃO CRÔNICA: ▪ Pode ser mais insidiosa; ▪ Duração mais longa (dias a anos); ▪ Influxo de linfócitos e macrófagos com proliferação vascular associada e fibrose (cicatrização). INFLAMAÇÃO AGUDA ▪ A inflamação aguda é uma resposta rápida que leva leucócitos e proteínas plasmáticas para os locais da lesão. Uma vez lá, os leucócitos removem os INFLAMAÇÃO MILENA BAVARESCO invasores e iniciam o processo de digerir e se livrar dos tecidos necróticos. ▪ A inflamação aguda possui dois componentes principais: o Alterações vasculares: alterações do calibre vascular que resultam em aumento do fluxo sanguíneo (vasodilatação) e alterações nas paredes vasculares que permitem que as proteínas plasmáticas deixem a circulação (aumento da permeabilidade vascular). Além disso, as células endoteliais são ativadas, resultando no aumento de adesão dos leucócitos e sua migração através das paredes dos vasos. o Eventos celulares: emigração dos leucócitos da microcirculação e seu acúmulo no foco da lesão (recrutamento e ativação celular), tornando-os aptos para eliminar o agente agressor. Os principais leucócitos na inflamação aguda são os neutrófilos (leucócitos polimorfonucleares). ESTÍMULOS PARA A INFLAMAÇÃO AGUDA ▪ INFECÇÕES (bactérias, vírus, fungos, parasitas) e TOXINAS MICROBIANAS: os mamíferos têm muitos mecanismos que sentem a presença de microrganismos. o Dentre os receptores mais importantes estão os do tipo Toll (TRLs) e vários receptores citoplasmáticos. o A ocupação desses receptores dispara vias de sinalização que estimulam a produção de vários mediadores. ▪ NECROSE TECIDUAL (isquemia, trauma, injuria física e química): o várias moléculas liberadas das células necróticas são conhecidas por provocarem a inflamação; estas incluem o ácido úrico; trifosfato de adenosina; HMGB-1 (proteína ligante de DNA); o próprio DNA (por estar no citoplasma e não núcleo, onde deveria estar). o A hipóxia por si só é um indutor de resposta inflamatória, grandemente devido ao mediador HIF-1α (produzido pelas células privadas de O2). ▪ CORPOS ESTRANHOS (lascas de madeira, sujeiras, suturas): tipicamente elicitam a inflamação porque causam injúria tecidual traumática ou transportam micróbios. ▪ REAÇÕES IMUNES (ou de hipersensibilidade): reações nas quais o sistema imune, normalmente protetor, causa dano nos próprios tecidos do indivíduo. o A resposta pode ser direcionada contra os antígenos próprios, causando doenças autoimunes, ou podem ser reações excessivas contra substâncias ou micróbios do ambiente. o A inflamação é induzida por citocinas produzidas pelos linfócitos T e outras células do sistema imune. REAÇÕES DOS VASOS SANGUÍNEOS NA INFLAMAÇÃO AGUDA ▪ Na inflamação, os vasos sanguíneos passam por uma série de mudanças que são destinadas a maximizar o movimento de proteínas plasmáticas e células circulantes para fora da circulação e para dentro do local da infecção ou injúria. ▪ O escape de fluidos, proteínas e células sanguíneas do sistema vascular para dentro do tecido intersticial ou cavidades corporais é conhecido como exsudação. ▪ As reações vasculares da inflamação aguda consistem em mudanças no fluxo de sangue e na permeabilidade dos vasos. ▪ A proliferação de vasos sanguíneos (angiogênese) é proeminente durante o reparo e na inflamação crônica. RESPOSTA DOS VASOS LINFÁTICOS ▪ Na inflamação, o fluxo da linfa é aumentado e ajuda a drenar o fluido do edema que se acumula devido à permeabilidade vascular aumentada. ▪ Em adição ao fluido, leucócitos, restos celulares e micróbio podem encontrar seu caminho em direção à linfa. ▪ Os vasos linfáticos também proliferam durante as reações inflamatórias. Os linfáticos podem se tornar secundariamente inflamados (linfagite), como o podem os linfonodos de drenagem (linfadenite). INFLAMAÇÃO MILENA BAVARESCO REAÇÕES DOS LEUCÓCITOS NA INFLAMAÇÃO ▪ Uma função crítica da inflamação é a de entregar leucócitos ao local da injúria e ativar os leucócitos para eliminar os agentes agressores. ▪ Os leucócitos mais importantes nas reações inflamatórias crônicas são aqueles capazes de fagocitar (neutrófilos e macrófagos). Os leucócitos também produzem fatores de crescimento que ajudam no reparo. ▪ O problema é que, quando fortemente ativados, eles podem induzir dano tecidual e prolongar a inflamação, porque os produtos dos leucócitos que destroem os micróbios e tecidos necróticos também podem danificar os tecidos normais do hospedeiro. ▪ Os processos envolvendo os leucócitos são: seu recrutamento do sangue para dentro dos tecidos extravasculares, reconhecimento dos micróbios e tecidos necróticos, e remoção do agente agressor. MEDIADORES DA INFLAMAÇÃO ▪ Os mediadores químicos são responsáveis por alguns dos eventos da inflamação. Mediadores são gerados a partir de células ou de proteínas plasmáticas. ▪ Os principais tipos celulares que produzem os mediadores da inflamação aguda são as plaquetas, neutrófilos, monócitos/macrófagos e mastócitos, mas as células mesenquimais (endotélio, músculo lisa e fibroblastos) e a maior parte do epitélio também podem ser induzidas para elaborar alguns dos mediadores.▪ Os mediadores derivados do plasma (p. ex., proteínas do complemento, cininas) são produzidos principalmente no fígado e estão presentes na circulação como precursores inativos que têm de ser ativados, usualmente por uma série de clivagens proteolíticas. ▪ Mediadores ativos são produzidos em resposta a vários estímulos. ▪ Estes estímulos incluem produtos microbianos, substâncias liberadas de células necróticas e as proteínas do complemento, cininas e sistemas da coagulação, que são ativados por micróbios e tecidos danificados. ▪ Essa necessidade de estímulos iniciais garante que a inflamação normalmente seja disparada somente quando e onde ela é necessária. Um mediador pode estimular a liberação de outros mediadores. Tais cascatas fornecem mecanismos para amplificar – ou, em certos casos, neutralizar – a ação inicial do mediador. ▪ Os mediadores variam em seus alcances de alvos celulares. Eles podem agir em um ou poucos tipos celulares-alvo, podem ter diversos alvos ou podem ter mesmo efeitos diferentes nos diferentes tipos de células. Uma vez ativados e liberados da célula, a maioria desses mediadores tem curta meia-vida. (AA) PROSTAGLANDINAS ▪ Quando as células são ativadas por diversos estímulos, tais como produtos microbianos e vários mediadores da inflamação, o AA da membrana é rapidamente convertido pelas ações de enzimas para produzir as prostaglandinas e os leucotrieno ▪ Esses mediadores lipídicos biologicamente ativos servem como sinais intra ou extracelulares para afetar uma variedade de processos biológicos, incluindo inflamação e hemostasia. ▪ O AA é um ácido graxo poli-insaturado com 20 carbonos (ácido 5,8,11,14-eicosatetraenoico) que é derivado de fontes da dieta ou pela conversão a partir do ácido graxo essencial ácido linoleico. ▪ Ele não ocorre livre em células, mas normalmente é esterificado nos fosfolipídios da membrana. Estímulos mecânicos, químicos e físicos ou outros mediadores (p. ex., C5a) liberam AA da membrana fosfolipídica através da ação de fosfolipases celulares, principalmente a fosfolipase A2. ▪ Os sinais bioquímicos envolvidos na ativação da fosfolipase A 2 incluem um aumento no Ca 2+ citoplasmático e ativação de várias cinases em resposta a estímulos externos. ▪ Os mediadores derivados do AA, também chamados de eicosanoides, são sintetizados por duas classes principais de enzimas: ciclooxigenases (que geram as prostaglandinas) e lipoxigenases (que produzem os leucotrienos e lipoxinas). ▪ Os eicosanoides se ligam aos receptores acoplados à proteína G em vários tipos celulares e podem mediar virtualmente cada passo da inflamação. INFLAMAÇÃO MILENA BAVARESCO PROSTAGLANDINAS ▪ As PROSTAGLANDINAS (PGs) são produzidas pelos mastócitos, macrófagos, células endoteliais e muitos outros tipos celulares e estão envolvidas em reações vasculares e sistêmicas da inflamação. ▪ Elas propiciam inflamação e dor. Elas são produzidas pelas ações de duas ciclooxigenases, a constitutivamente expressa COX-1 e a enzima induzida COX-2. ▪ As prostaglandinas são divididas em séries baseadas em características estruturais codificadas por uma letra (PGI, PGE, PGF, PGG e PGH) e por um número subscrito (p. ex., 1, 2), que indica o número de duplas ligações no composto. As mais importantes na inflamação são a PGE2, PGD2, PGF2α, PGI2 (prostaciclina) e o TXA2 (tromboxano) – responsável pela agregação plaquetária e formação de trombos –, cada qual derivado pela ação de uma enzima específica em um intermediário da via. ▪ Algumas dessas enzimas têm distribuição tecidual restrita.
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