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Aula 1- Introdução

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AFO | Material de apoio 
Professor Marcelo Adriano
LEI DE RESPONSABILIDADE 
FISCAL – LRF 
1. INTRODUÇÃO
É sabido que é função do Estado atender as necessidades públicas e garantir o bem estar social de toda sua
população em toda sua plenitude. O desenvolvimento econômico-social é chave para o alcance desse objetivo sendo 
o governo o responsável por fomentá-lo. Para tanto, ele necessita obter recursos e despendê-los de forma que possa
fazer frente a todas às necessidades e promover o desenvolvimento necessário. Sendo uma tarefa árdua e complexa,
qualquer governante em qualquer ente federativo que pretenda bem cumprir seu papel somente obterá sucesso em
seus intentos se dispor de uma gestão planejada responsável e transparente, ou seja, uma administração gerencial.
O conjunto das atividades desenvolvidas pelo Estado que envolve a arrecadação de receitas para aplicação em 
despesas denomina-se Atividade Financeira do Estado. Essa atividade se materializa no Orçamento Público, 
representado pela Lei Orçamentária Anual e Leis de Créditos Adicionais. O orçamento se apresenta então como 
principal instrumento que o governante tem a sua disposição na busca da satisfação social. 
Porém, é sabido também que as necessidades são ilimitadas e os recursos limitados, ou seja, as necessidades 
públicas dificilmente serão totalmente atendidas. Por esse motivo o Estado deve desenvolver sua Atividade 
Financeira com eficiência, eficácia e efetividade, fazendo as melhores escolhas para que possa otimizar a aplicação 
dos recursos arrecadados, trazendo o máximo de bem estar social e desenvolvimento que esses recursos possam 
oferecer. 
Mas não é simples assim, o Estado não tem vida própria e não possui capacidade de autogestão, cabendo ao ser 
humano à responsabilidade de tomar as decisões necessárias, inclusive as que envolvem sua atividade financeira. O 
problema é que, muitas vezes, o ser humano toma essas decisões de acordo com suas conveniências, visando a 
interesses que nem sempre coincide com o interesse coletivo, o que leva ao emprego ineficiente, ineficaz e sem 
efetividade, dos recursos públicos. 
A situação de subdesenvolvimento na qual o Brasil sempre esteve inserido tem como uma de suas principais 
causas as administrações casuísticas, amadoras e descompromissadas, perpetradas ao longo de sua história em 
todas as esferas de governo e em todos os órgão e entidades públicas, onde a politicagem sempre deu lugar ao 
compromisso. 
Para bem atender seus próprios interesses, esses maus gestores públicos dilapidaram o patrimônio público, 
deixando o Brasil a beira de um colapso econômico com um alto preço pago por toda sociedade, sendo os mais 
desfavorecidos atingidos de forma mais contundente e cruel. 
Esse total descaso tinha como um dos principais reflexos o déficit orçamentário descontrolado que gerava efeitos 
desastrosos na economia. Isso porque o gestor gastava muito mais do que arrecadava e financiava essa diferença 
com operações de crédito que, por sua vez, gerava mais despesas, que aumentava ainda mais o déficit numa grande 
espiral cujo fim foi o caos econômico. 
A LRF veio para amenizar essa situação trazendo consigo o sentido de responsabilidade na gestão fiscal, que se 
traduz como a gestão balizada por ações que promovam o equilíbrio orçamentário-financeiro real das contas 
públicas de forma transparente e eficaz. Nesse sentido, a LRF representou uma verdadeira mudança de paradigmas 
no cenário orçamentário nacional. 
Para se atingir o almejado equilíbrio das contas públicas a LRF traz diversas inovações no contexto orçamentário 
nacional, estabelecendo conceitos próprios, responsabilidades, limites a serem respeitados, relatórios a serem 
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elaborados e publicados, sanções para o descumprimento de suas determinações, além de outros mecanismos que 
obrigam ao gestor a desenvolver uma administração mais gerencial e responsável. 
1. ANTECEDENTES 
O pontapé inicial para elaboração dessa lei foi a Constituição Federal de 1988, que determinou em seu art. 163 
que lei complementar deveria dispor sobre: finanças públicas; dívida pública externa e interna, incluída a das 
autarquias, fundações e demais entidades controladas pelo Poder Público; concessão de garantias pelas entidades 
públicas; emissão e resgate de títulos da dívida pública; dentre outros. 
Art. 163 - Lei complementar disporá sobre: 
I. finanças públicas; 
II. dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações e demais entidades controladas pelo 
Poder Público; 
III. concessão de garantias pelas entidades públicas; 
IV. emissão e resgate de títulos da dívida pública; 
V. fiscalização das instituições financeiras; 
VI. fiscalização financeira da administração pública direta e indireta; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 
40, de 2003) 
VII. operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios; 
VIII. compatibilização das funções das instituições oficiais de crédito da União, resguardadas as características e 
condições operacionais plenas das voltadas ao desenvolvimento regional. 
Mesmo com essa previsão constitucional, a LRF, nos moldes que foi elaborada, não foi uma novidade que surgiu 
espontaneamente no Brasil, foi, em realidade, o resultado de um processo de ajustamento, imposto em função da 
necessidade de se reorganizar as finanças do setor público nas três esferas governamentais que, nas décadas de 80 e 
90, se encontravam a beira de um colapso em função do descontrole das contas públicas que geravam déficits 
públicos cada vez maiores. 
Tal descontrole era fruto da irresponsabilidade na gestão fiscal, onde, de regra, os gestores públicos agiam sem 
nenhum planejamento, transparência e controle, afinal, não havia mecanismos eficientes que o obrigasse gerir os 
recursos públicos de forma responsável. O cenário era caótico com gestores agindo conforme sua conveniência e 
gastando muito além do que podiam, deixando, em muitos casos, “heranças malditas” na forma de débitos para 
gestores futuros, principalmente se seus sucessores fossem opositores, e tudo isso sem um mecanismo eficiente que 
permitisse a responsabilização. 
Essa situação foi agravada com a adoção do Real e do consequente controle da inflação. Isso porque, antes da 
estabilidade inflacionária alcançada pela nova moeda, parte dos desequilíbrios do regime fiscal brasileiro 
permaneceram camuflados pelos altos índices de inflação que provocavam falsos equilíbrios orçamentários, 
impactando as contas públicas de duas formas: 
1) Elevação das receitas nominais. 
A correção monetária da moeda elevava o valor nominal das receitas. 
2) Corrosão das despesas: 
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De forma inversa, por não estar tão bem indexada como a receita, a despesa não sofria os mesmos reajustes que 
a receita, o que provocava a sua corrosão. 
Assim, a inflação era, em realidade, um mecanismo de financiamento do setor público que, por sua vez, se 
apropriava do chamado imposto inflacionário. O problema dessa situação é que tal imposto incidia, principalmente, 
sobre os pobres, como um mecanismo perverso de transferência de renda, agravando as desigualdades sociais. 
Apesar das contas públicas estarem em descontrole nas três esferas governamentais, os estados apresentavam 
uma situação delicada em relação a seus compromissos financeiros, pois, apesar de renegociações anteriores, como 
as de 1987, 1989, 1993, que culminavam sempre em perdão de parte débitos e assunção de débitos por parte da 
União, os governantes desses entes federativos não conseguiam manter seus compromissos de austeridade e 
controle fiscal, o que levava a novos déficits. 
Assim, na busca por um equilíbrio orçamentário sustentável, teve início no ano de 1995 a construção do 
arcabouço legal que levaria às futuras medidas de ajuste fiscala serem adotadas pelos Estados e Distrito Federal. O 
Conselho Monetário Nacional, por intermédio da Resolução nº 162, iniciou então um Programa de Apoio à 
Reestruturação e ao Ajuste Fiscal de Estados que visou a implementação de medidas que permitissem a esses entes 
federativos alcançar o equilíbrio orçamentário sustentável, tendo como principal ação o refinanciamento de dívidas 
estaduais, além da abertura de linhas de crédito para ações emergenciais. 
Porém, de nada adiantaria possibilitar refinanciamentos sem que, simultaneamente, fossem eliminadas as fontes 
de desequilíbrio fiscal e financeiro. Sem esse esforço, a situação de inadimplência e desajuste tenderia a repetir-se. 
Portanto, para ter acesso a tais benefícios, os Estados deveriam assumir compromissos de ajuste fiscal e 
financeiro a serem mantidos durante a vigência do programa. Tais acordos compreendiam: 
 Controle e redução da despesa de pessoal em obediência às determinações da Lei Complementar nº 82 de 
1995 (Lei Camata I); 
 Privatização, concessão de serviços públicos, reforma patrimonial e controle de estatais estaduais; 
 Aumento da receita, modernização e melhoria dos sistemas de arrecadação, de controle do gasto e de 
geração de informações fiscais; 
 Compromisso de resultado fiscal mínimo 
 Redução e controle do endividamento estadual 
Em setembro de 1997 foi editada a Lei nº 9.496, tendo por base aquilo que constava na Resolução nº 162/95, do 
CMN, com a assunção e o refinanciamento, pela União, de diversas dívidas financeiras de responsabilidade de 
Estados e do Distrito Federal, inclusive dívida mobiliária. O efeito desse ato normativo foi a redução do saldo 
devedor da dívida financeira desses entes federativos. 
Os estados tiveram como benefício a concessão de um subsídio inicial, a redução dos encargos financeiro e o 
aumento do prazo de pagamento. Em contrapartida, os entes beneficiados comprometeram-se a cumprir o 
Programa de Reestruturação e de Ajuste Fiscal além de honrar seus novos compromissos financeiros em dia. 
Diante do exposto, vê-se que a implementação dos Programas de Reestruturação e de Ajuste Fiscal se mostraram 
essenciais na busca pela responsabilidade fiscal além de ter preparado os entes federativos para os impactos da 
austeridade que seria trazida pela da Lei de Responsabilidade Fiscal. 
Em 04 de julho de 1998 foi promulgada a Emenda Constitucional 19 que em seu art. 30 estabeleceu prazo de 
cento e oitenta dias, a partir de sua promulgação, para a elaboração da lei a que se refere o art. 163 da Constituição. 
O equilíbrio fiscal sempre foi uma das prioridades do processo de reformas por que passou e ainda vem passando 
o país desde a implantação do Plano Real. No entanto, as sucessivas crises no mercado internacional (Tigres 
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Asiáticos, Rússia, México, Argentina) provocaram um movimento de contração do crédito global, em função da 
desconfiança das relações econômicas em nível mundial, sobretudo (mas não exclusivamente) para os mercados 
emergentes. A relativa abundância de recursos internacionais, característica dos primeiros quatro anos do processo 
brasileiro de estabilização, cedeu lugar a um ambiente de forte retração dos capitais. 
Em 29 de outubro de 1998 o Governo Federal também apresentou à sociedade brasileira seu Programa de 
Estabilidade Fiscal, fundado em uma premissa básica: o Estado não pode mais viver além de seus limites, gastando 
mais do que arrecada. 
Segundo o texto introdutório desse programa, o equilíbrio das contas públicas representava um passo decisivo na 
redefinição do modelo econômico brasileiro. Tratava-se, em essência, da introdução de mudanças fundamentais no 
regime fiscal do país, com o objetivo de promover o equilíbrio definitivo das contas públicas na velocidade 
necessária para permitir a consolidação dos três objetivos básicos do Plano Real: estabilidade da moeda, 
crescimento sustentado com mudança estrutural e ganhos de produtividade, e a melhoria progressiva das condições 
de vida da população brasileira. 
Ao suprimir as condições favoráveis de liquidez internacional, o contexto externo adverso retirou do Brasil a 
possibilidade de prosseguir com gradualismo na adoção de ajustes estruturais. Esse novo cenário tornou imperativo 
acelerar o processo de ajuste fiscal estrutural para fazer o Estado, de forma definitiva, viver dentro de seus limites 
orçamentários. 
Este foi o objetivo imediato do Programa. Para tanto, a proposta compreendeu dois conjuntos de iniciativas. O 
primeiro, a Agenda de Trabalho, abrangendo medidas estruturais e mudanças institucionais que visavam dar forma 
apropriada às decisões, procedimentos e práticas fiscais no futuro. Em segundo lugar o Plano de Ação 1999-2001, 
composto por medidas de impacto imediato que faria uma "ponte" entre a situação da época e a que estaria em 
vigor quando as reformas estruturais antes mencionadas estiveram produzindo plenos efeitos. 
A Agenda de Trabalho, que pretendia atacar a raiz das causas estruturais do desequilíbrio das contas públicas, 
compreendeu diversas medidas, sendo uma das principais a edição de uma lei que fosse capaz de instituir ordem 
definitiva nas contas públicas do conjunto dos Poderes e níveis de governo: A Lei de Responsabilidade Fiscal, 
Para tanto essa lei deveria definir princípios básicos de responsabilidade, derivados da noção de prudência na 
gestão dos recursos públicos, bem como limites específicos referentes a variáveis como nível de endividamento, 
déficit, gastos e receitas anuais. O texto deveria estabelecer também mecanismos prévios de ajuste destinados a 
assegurar a observância de parâmetros de sustentabilidade da política fiscal. Determinaria ainda sanções quando 
caracterizada a inobservância de princípios de responsabilidade. 
Sob o arcabouço geral da lei, caberia a Estados e municípios fixar suas metas específicas, formalizando-as no 
corpo de Planos Plurianuais e Leis de Diretrizes Orçamentárias. 
Em 25 de fevereiro de 1999, a Medida Provisória nº 1.811 estendeu o refinanciamento de dívidas aos municípios 
e estabeleceu critérios para a consolidação, a assunção e o refinanciamento, pela União, da dívida pública mobiliária 
e outras de responsabilidade desses entes federativos. 
Em 04 de maio de 2000 foi aprovada a lei complementar 101, a chamada Lei de Responsabilidade Fiscal. 
2. Inspirações 
Como dito, a LRF não surgiu de forma espontânea e sua concepção não teve por base somente a imaginação da 
classe política brasileira. O cenário que foi palco para o surgimento da LRF era extremamente conturbado, o que 
favoreceu a visualização de sua efetiva necessidade. Pressionado pelo Fundo Monetário Internacional e por outros 
credores internacionais o governo brasileiro deu início a elaboração da lei que proporcionaria a segurança fiscal tão 
almejada por todos. 
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Além do mais, no mundo, já existiam documentos que versam sobre a responsabilidade na gestão fiscal, com 
mecanismos e conceitos relacionados a esse tema. A elaboração da Lei de Responsabilidade Fiscal teve como 
inspiração os documentos seguintes: 
 Fundo Monetário Internacional - FMI, organismo do qual o Brasil é Estado-membro, e que tem editado e 
difundido algumas normas de gestão pública em diversos países - Fiscal Transparency; 
 Nova Zelândia, através do Fiscal Responsibility Act, de 1994; 
 Comunidade Econômica Européia, a partir do Tratado de Maastrcht; e, 
 Estados Unidos, cujas normas de disciplina e controle de gastos do governo central levaram à edição do 
Budget Enforcement Act, aliado ao princípio de “accountability”. 
Estes exemplos não foram os únicos parâmetros utilizados, pois não existe nenhum manual de finanças públicas 
que possa ser utilizado indiferentemente por qualquer nação. Cada país guarda peculiaridades que torna 
praticamente impossível a utilização de uma norma únicapara ser utilizado indistintamente. 
Por esse motivo, quando de sua elaboração, foram feitas diversas consultas públicas para que chegar ao texto 
final, dessa forma, a LRF é um documento único no mundo, inspirado nos documentos acima citados, mas com 
particularidades que se ajustam à realidade brasileira. 
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