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11 A importância de contar e ouvir histórias

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27/08/2017 AVA UNINOVE
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A importância de contar e ouvir
histórias
FAZER COM QUE O EDUCADOR COMPREENDA OS CONCEITOS DE ?CONTADOR DE HISTÓRIAS? E ?
NARRADOR?. ALÉM DISSO, PROCURAR-SE-Á IDENTIFICAR PROCEDIMENTOS E MECANISMOS DO ATO
DE NARRAR, CONTAR HISTÓRIAS E A IMPORTÂNCIA DO PAPEL DESEMPENHADO PELO OUVINTE E PELO
LEITOR.
O fascínio do homem pelo ato de narrar suas fábulas e
vivências
Desde a pré-história, quando o homo sapiens surge há quase 195 mil anos, 
e a linguagem humana desenvolve-se, o homem se vê na situação de efabular e de recriar histórias
acontecidas ou imaginadas. Portanto, o homem diferencia-se do animal, não só pelo lado racional, mas,
também, pela capacidade de construir  imagens e pela elaboração do jogo lúdico que se dão a partir da
memória ou da criação artística. Nesse ponto, 
a narração é uma modalidade que é vislumbrada na cultura. 
A partir do século XVIII, o conto popular, o conto de fadas ou conto maravilhoso, bem como a novela,
surgiram a partir da perspectiva da oralidade, enraizada desde os tempos mais remotos.  Histórias como
Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, Rapunzel, A Bela Adormecida,  A Gata Borralheira, entre outras,
fazem parte da cultura popular oral 
e são, teoricamente, anônimas, ainda que assinadas inicialmente por autores de renome como Charles
Perrault e os irmãos Grimm, que demonstram, na escrita, um resultado estético-literário que  recupera
mecanismos e procedimentos surgidos desse ato de contar histórias, presente no encontro dos seres, dos
entes, nas situações familiares, no dia-a-dia das práticas culturais mais comuns.
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O ato de contar histórias para crianças torna-se  um importante recurso para formação da criança, do
adolescente e, também, do adulto,  pois "leva o homem a expressar-se através de uma forma (realista ou
alegórica) suas experiências de vida" (COELHO, 2000, 
p. 16). A narração de histórias trabalha, também, com matrizes sócio-histórico-culturais 
de um povo e sustenta a continuidade dos atos humanos valorizados pela comunidade. 
O maniqueísmo, por vezes criticado por alguns teóricos da literatura infantil, na estruturação da vivência
da criança é fundamental para estabelecer as bases educacionais,  para fazer com que ela se aproxime do
caminho do bem e  distancie-se do caminho do mal.  Isso significa, de modo simbólico,  estruturar a
herança ética e cultural de um povo.
No processo de efabulação, que ocorre no momento em que o contador diz "era uma vez", instaura-se na
mente da criança o despertar surpreendente do imaginário, que é a capacidade humana de criar imagens a
partir de fábulas, histórias, diegeses contadas.
Esse processo desencadeia o fio narrativo e faz com que o ouvinte sempre se questione sobre a sequência da
trama. O que acontecerá  à protagonista? O que acontecerá com Chapeuzinho Vermelho na floresta? Será
devorada pelo lobo? São perguntas que percorrem a mente dos ouvintes quando o contador consegue narrar
de modo enigmático, misterioso e com toques de suspense.
Segurar o fio narrativo é procurar, junto ao ouvinte/leitor, seduzir os fios da trama, 
do enredo, a teia das ações. E isso ocorreu antes da literatura escrita, já na literatura oral. Assim, o ato de
contar histórias das vivências e fábulas humanas é, justamente, retomar 
e reencontrar-se com sua própria natureza ancestral. Trata-se da  primeira característica estilística
estrutural das narrativas primordiais, a efabulação começa quando engendra 
o "motivo central da história".  (COELHO, 2000, p. 103), portanto,  a partir daí, a narrativa ganha fôlego e as
ações ocorrem "num ritmo narrativo acelerado, ou melhor, num fluir 
de rio que vai direto ao mar". (p. 103)
Características do processo narrativo
Outras características são importantes no processo narrativo das narrativas primordiais: o motivo, a
espécie de tema da história, o tempo indeterminado desencadeado pela perspectiva mítica e etérea do "era
uma vez", que remonta épocas medievais de reis 
e castelos, rainhas e princesas a serem desposadas.
O conto é a "forma literária" basilar, porque veicula as vivências do cotidiano mais "exemplares"  para a
humanidade. 
A repetição é um dos recursos técnico-narrativos mais explorados pelos contadores, pois saber lidar com tal
procedimento permite conduzir o texto oral ou escrito no veio ficcional que instiga o ouvinte/leitor a ficar
atento à história contada, ou seja, instiga-o 
e mobiliza-o a desejar entrar no processo de efabulação.
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Além da representação simbólica ou metafórica, essencial para construir a mimese das histórias mais
relevantes de um povo, temos, por outro lado, a construção da dicotomia entre o real e imaginário. Sem ela,
a magia, o fantástico, o mundo maravilhoso das fábulas, dos contos de fadas, novelas e lendas, entre outros
gêneros, não seriam elaborados e estruturados. 
O espaço (floresta, casa do campo, castelo, dentre outros), muitas vezes natural 
e mítico, é fundamental para situar o homem harmonizado e equilibrado ao cosmos. 
A exemplaridade dá o tom modelar às narrativas primordiais e o narrador, como contador 
de histórias, é justamente aquela voz ficcional que narra muitas vezes o que um dia ouvira, soubera ou
conhecera. Nesse ponto, Andersen, segundo Coelho, "representa uma fronteira ou uma passagem: foi autor
que transmitiu a memória dos textos arcaicos e também inventou novos textos". (2000, p.109)
Especificamente sobre a distinção entre narrador e contador de histórias, pode-se entender o narrador
como uma categoria narrativa que funciona como uma voz dentro 
do texto, que tem a função de contar a história, tanto participa das ações, quanto apenas observa e conta, a
partir da periferia, os acontecimentos, intradiegético (dentro da história) ou extradiegético (fora da
história). Portanto, o narrador pode ser narrador-personagem ou simplesmente narrador.
O ângulo de visão é central ou periférico, em primeira ou em terceira pessoa. 
O narrador está ligado ao texto literário, enquanto o orador está mais ligado à fala, mas ambos encontram-
se na perspectiva da enunciação e produzem o "discurso narrativo" (COELHO, p. 67).
O ouvinte/leitor é o sujeito fundamental da narrativa, sem ele a comunicação não 
se estabelece e temos textos vazios de sentido, pois os espaços interpretativos do texto 
são propiciados pelo leitor. Nas narrativas infantis, o leitor/ouvinte é visto como um ser 
em aprendizagem, um aprendiz de intenções e expressões que se revelam na instância 
da audição/leitura.
Com os gestos, posturas e elaborações de ouvintes/leitores, a narrativa ganha força 
e vida, expande-se nos fios narrativos que praticamente não têm fim. Pensemos, aqui, 
na narrativa de As mil e uma noites, uma vez que se temos mais uma noite, depois das mil noites, o leitor
precisa saciar seu desejo inesgotável por histórias a serem ouvidas e lidas.
REFERÊNCIA
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000. 
_____. O Conto de Fadas. São Paulo: Ática, 1987. 
PROPP, Vladimir I. Morfologia do conto maravilhoso. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1984.
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