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2 HISTÓRIA Professor Alcidélio Camelo A PRÉ-HISTÓRIA PERNAMBUCANA Apesar do árduo trabalho levado a cabo pelos arqueólogos, em especial da UFPE, da UNICAP e da UNIVASF em Pernambuco, um abismo de incompreensão ainda turva o que se sabe sobre período pré-duartino, isto é, anterior à chegada do donatário Duarte Coelho para tomar posse de sua Capitania, em 1535. A própria origem de nossos mais remotos ancestrais ainda não pôde ser satisfatoriamente esclarecida, com a tradicional teoria sobre a migração glacial via Estreito de Behring, há cerca de 12 mil anos, caindo por terra ante os novos indícios, encontrados pela pesquisadora Niède Guidon na Toca do Boqueirão (Serra da Capivara, Piauí), de que os paleoíndios possam ter aqui chegado há pelo menos 50 mil anos pela via marítima, após cruzarem o Pacífico. A datação das cinzas desenterradas em São Raimundo Nonato, mediante a inquestionável técnica do carbono 14, atribuiu-lhes 48 mil anos de idade, mas sobre elas paira a tese de que, ao invés de reportarem a fogueiras feitas por caçadores primitivos, correspondem a resquícios de queimadas naturais. Tesouros de giz na Chapada do Araripe O palco geológico de maior destaque no Estado é a Chapada do Araripe, com 8 mil km² de superfície e uma altitude média de 600m na divisa com o Ceará, consistindo em um dos principais sítios do Período Cretáceo do mundo. A região é especial pelos achados geológicos e paleontológicos desde os primeiros anos do Século XIX, com registros entre 110 e 70 milhões de anos, em excepcional estado de preservação e diversidade. No Araripe está mais de um terço de todos os registros de pterossauros descritos no mundo, mais de 20 ordens diferentes de insetos e a única notação da interação inseto-planta. Há similares destas mesmas espécies na África, vestígio de quando os continentes foram um só, formando a primaz Gondwanna (cerca de 36% do território brasileiro é constituído por maciços antigos que fizeram parte do supercontinente). Os fósseis da "Formação de Santana", um dos setores geológicos da Bacia do Araripe mais ricos em vestígios de peixes, evidenciam a época em que o Sertão era um imenso mar continental, entre 112 e 99 milhões de anos atrás. Nos diversos sedimentos da Formação são encontrados vestígios de peixes, crustáceos, tartarugas, rãs, insetos, sáurios da terra e do ar, únicos no mundo inteiro, bem como maravilhosas plantas. A conservação de partes moles, como a pele de vôo de sáurios e seu conteúdo estomacal, não encontra paralelo. Além dos sedimentos do Cretáceo, também existem depósitos jurássicos mais antigos, como troncos fossilizados de árvores. Há ainda sítios arqueológicos que atestam uma ocupação humana do período neolítico (utensílios de pedra, cerâmica, pinturas rupestres, já com 5 a 7 mil anos). A região, Pólo Gesseiro do Estado, respondendo por 95% da produção de gipsita no país, abriga atualmente o único geopark das Américas, o Geopark Araripe, aprovado e oficializado pela UNESCO em 2006 e formado por uma rede de 9 parques de proteção e preservação de registros geológicos, paleontológicos e paisagens naturais. Lá também está o excelente Museu de Palentologia da URCA, em Santana do Cariri (CE). A criação do Geopark e do Museu, bem como a atuação preventiva e repressiva da Polícia Federal, ajudou a inibir o contrabando internacional de fósseis nesta que é a maior reserva brasileira do tipo. Os “peixeiros”, como são conhecidos aqueles que exploram e comercializam clandestinamente os vestígios, a preços entre R$ 40 e 1.000 por peça, vendem-nos a atravessadores que os distribuem ao Primeiro Mundo, razão pela qual apenas 40% dos restos arqueológicos descobertos na Chapada permanecem no Brasil. Muitos deles estão em 3 museus europeus e são reivindicados pelo Governo Federal. Pré-história e misticismo no Vale do Catimbau Controvérsias à parte, o certo é que há mais ou menos 12 mil anos, durante a transição entre os períodos Pleistoceno e Holoceno, boa parte do território brasileiro já estava ocupado por grupos de caçadores e coletores pré-históricos. Tais grupos são divididos pelos arqueólogos em tradições, estabelecidas de acordo com os resquícios de sua cultura material. À tradição Nordeste pertenciam aqueles que possuíam indústria lítica refinada e faziam belas pinturas rupestres. Há mais ou menos 7 mil anos atrás, esse grupo foi substituído pelas tribos da tradição Agreste, que não dominava as artes, exceto a da guerra. É a esse período de transição que remonta a presença humana mais antiga de que se tem notícia no Parque Nacional do Vale do Catimbau, o 2º maior parque arqueológico do Brasil, perdendo apenas para a Serra da Capivara, no Piauí. Em 1970 foi descoberto um esqueleto datando 6.800 anos em um abrigo utilizado como cemitério pré-histórico, atualmente em exposição no Museu Municipal de Buíque. Com uma superfície de 90 mil ha, o Vale do Catimbau estende-se entre os Municípios de Buíque, Ibimirim, Inajá e Tupanatinga, fazendo fronteira com a reserva indígena federal Kapinawá, localizada na serra da Mina e onde vivem cerca de 400 índios. Primeiro Parque Nacional terrestre de Pernambuco e uma das oito unidades federais de conservação que preservam o bioma da Caatinga, é cortado por dezenas de trilhas que revelam elementos naturais exóticos e surpreendentes, em razão dos quais sempre esteve associado ao místico e ao sobrenatural. Suas formações geológicas constituem um verdadeiro espetáculo visual, com composições areníticas oscilando entre 50 colorações, as quais datam de mais de 100 milhões de anos, e rochas cujos formatos sugerem a silhueta de animais, pessoas e construções, como a Pedra do Cachorro, a do Elefante (próxima à reserva indígena) e a Serra das Torres. Na Vila do Catimbau, a Associação dos Guias disponibiliza profissionais aptos a acompanhar e orientar os visitantes durante o passeio. Segundo pesquisadores da UFPE, os antigos habitantes do lugar eram grupos caçadores-coletores do Período Holoceno que não apresentavam domínio da cerâmica e moravam em cavernas (tanto é que, das cerca de 200 grutas e cavernas existentes no Vale, pelo menos 28 guardam vestígios de sepultamentos). Dos 23 sítios arqueológicos com grafismos rupestres já catalogados pelo IPHAN no Parque, o maior e mais importante é o Alcobaça, situado em um paredão rochoso com configuração de anfiteatro. Lá foram encontradas pinturas rupestres em um painel de 60m, ocupando uma área de 50m de extensão com largura variando entre 2 e 3m. Já a pedra da Concha apresenta um painel de 2,3m por 1,5m, albergando inscrições com figuras humanas, animais e desenhos geométricos em tons ocre. São imagens isoladas que não compõem cenas, com predominância da tradição Agreste. Acredita-se que foram utilizados nas pinturas pigmentos metálicos e não metálicos misturados a pigmentos orgânicos, como genipapo e urucum. Cemitérios arqueológicos na Furna do Estrago Escavada pelos arqueólogos da UNICAP, a Furna do Estrago, abrigo sob rocha localizado no Município de Brejo da Madre de Deus, é um dos mais importantes sítios arqueológicos do Brasil. Formado pelo desabamento de um grande bloco de rocha granítica no sopé da Serra da Boa Vista durante as glaciações, o abrigo foi preenchido por blocos de rocha e sedimentos soltos pelo intemperismo físico, transportados em violentas precipitações torrenciais. Constituído por um único salão de 125m² de área coberta, com abertura voltada para nordeste, o abrigo é bastante arejado, seco e iluminado, e diante dele se estende um patamar delimitado por grandes blocos de rocha granítica, alguns contendo arte rupestre. Da sucessiva utilização do sítio como habitação por grupos caçadores-coletores numa sequência temporal de aproximadamente 10 mil anos, resultou uma estratigrafia em que predominam 4 aslentes de fogueiras superpostas, formando pacotes de cinzas, e sedimentos finos, soltos, secos, de cor parda, contendo restos alimentares e toscos artefatos de pedra e osso. Há cerca de 2 mil anos, a Furna passou a ser utilizada como cemitério. Os depósitos feitos pelo homem desde o início do Holoceno foram intensamente perturbados com a abertura de dezenas de fossas funerárias. Apenas uma área próxima do fundo do abrigo permaneceu intacta e foi tomada para estudos. Da ocupação do sítio como cemitério resgataram-se 83 esqueletos humanos encontrados em bom estado de conservação. As condições ambientais favoreceram a rápida desidratação da matéria orgânica e a preservação da pele, dos cabelos e do cérebro em alguns indivíduos, bem como do artesanato em palha utilizado no ritual funerário. É de notar a persistência de um padrão de sepultamento em que os corpos eram colocados na posição fletida (fetal), amarrados com cipós e embrulhados em esteiras de folhas de palmeira, compondo verdadeiros fardos funerários. Os recém- nascidos eram depositados em pequenos cestos ou em espatas de palmeiras e não levavam adornos, ao passo que os adultos estavam acompanhados de colares e alguns levavam flautas ósseas e tacapes. Estudos de antropologia biológica realizados sobre esses esqueletos revelaram tratar-se de uma população homogeneamente braquicéfala, de estatura média-baixa, robusta, com estado de nutrição satisfatório e boa adaptação às condições ambientais. O acentuado desgaste plano dos dentes e a ocorrência de poucas cáries nesses indivíduos indicam uma alimentação à base de vegetais não cozidos, característica observada em grupos caçadores coletores. Esse grupo humano pré-histórico era portador de patologias como a espinha bífida oculta, atribuída ao consumo de batatas tóxicas, variação numérica das vértebras (presença de uma vértebra a mais no sacro e na região lombar), consequência de casamentos consanguíneos, osteofitose e artrose, além de fraturas frequentes decorrentes de quedas sobre a bacia e os pés. Boa parte do material resgatado na Furna, bem como artefatos em cerâmica, fragmentos de pinturas rupestres e material lítico, encontram-se em exposição nos Museus Histórico do Brejo da Madre de Deus e de Arqueologia da UNICAP, no Recife. As sociedades indígenas da Pré-história Pernambucana Quando, em 1500, o português Pedro Álvares Cabral aportou na Bahia, praticamente todo o litoral brasileiro estava ocupado por tribos do grupo Tupi- guarani. Havia meio século, Tupinambás e Tupiniquins tinham assegurado a posse da costa, expulsando para o interior as tribos por eles consideradas "bárbaras", chamadas Tapuias. Entre a foz do Rio Paraíba e a Ilha de Itamaracá, compreendendo os atuais Litorais Sul da Paraíba e Norte de Pernambuco, viviam os Tabajaras, em número de 40 mil, os quais se aliaram aos portugueses. Já os Caetés, mais ou menos 75 mil indivíduos, povoavam a faixa de terra entre a Ilha de Itamaracá e as margens do São Francisco, no Litoral Sul pernambucano e em todo o alagoano. Deglutidores do Bispo Sardinha, foram considerados "inimigos da civilização" e exterminados. Apesar do grande genocídio em que se traduziu a colonização como um todo, aproximadamente 25 mil remanescentes dos primitivos habitantes de Paranampuka, que em tupi significa "o mar que bate nas pedras", ainda habitam o Estado, espalhando-se pelo interior e constituindo a 4ª maior população indígena do país, atrás apenas das do Amazonas, do Mato Grosso e do Pará. De todos os "costumes bárbaros" que possuíam os nativos de Pindorama, nenhum se revelou mais espantoso e odioso aos olhares europeus que o canibalismo. Na Capitania de Pernambuco, o assunto veio à tona de maneira impactante. Em 1556, a caravela que transportava para a Metrópole o 1º Bispo do Brasil, Dom Pero Fernandes Sardinha, naufragou no atual Litoral Sul alagoano, e, após mil peripécias, os cerca de 100 sobreviventes - crianças, adultos e 5 idosos - que alcançaram a praia foram mortos e devorados pelos Caetés, que os aguardavam ansiosos. Apenas 1 português e 2 indígenas que compreendiam o idioma dos nativos conseguiram escapar. O Bispo foi, por assim dizer, o "prato principal" do banquete antropofágico, com sua carne trucidada sendo servida como uma especialidade. Curiosamente, consta que, desde então, o terreno no qual caíra o alto prelado da Igreja tornou-se estéril. A carnificina resultou na violenta perseguição aos Caetés, tradicionais aliados dos franceses e inimigos ferrenhos dos lusitanos, e em sua exterminação no intervalo de 5 anos. Até hoje, todavia, não há consenso sobre o assunto. Para alguns, a animosidade dos Caetés em relação aos portugueses era notória desde a destruição de sua aldeia Marim pelo donatário Duarte Coelho em 1535, lugar no qual viria a ser fundada Olinda. Empurrados para o Cabo de Santo Agostinho e, dali, cada vez mais para o sul, envolveram-se em inúmeras batalhas com os colonizadores lusos. Há quem defenda, porém, que a atribuição da carnificina aos Caetés foi uma farsa promovida pelos 3 sobreviventes de modo a motivar a perseguição à tribo, senhora das valiosas terras que posteriormente serviriam tão bem à próspera empresa açucareira nordestina. Assim, a autoria da tragédia envolvendo o Bispo recairia sobre os Tupinambás, tradicionais habitantes das terras para além da foz do Velho Chico. O fato é que o episódio chamou a atenção do Velho Mundo para o fenômeno da antropofagia, que tinha a vingança como principal objetivo e era praticada por quase todos os Tupi e Tapuia, com requintes tétricos que disseminaram espanto e horror entre os europeus. A nação Tapuia mais importante do interior do Nordeste era a Cariri, que contava com 22 grandes tribos na região e cerca de 20 mil indivíduos. Suas principais ramificações em Pernambuco eram os: Xucurus, na Serra do Ararobá (Pesqueira) os Garanhuns, na Serra homônima os Carnijós ou Fulni-ôs, no vale do Rio Ipanema (Águas Belas) os Pankararus, na Serra de Tacaratu. Em volta da capela de Nossa Senhora das Montanhas (1669), fundada pelos oratorianos na Serra do Ararobá, surgiu a povoação de Monte Alegre, futura Vila Real de Cimbres (1762). Cimbres foi um lugar de ensino direcionado aos índios durante mais ou menos dois séculos, contando, inclusive com o famoso "Colégio dos Índios do Ararobá", estabelecimento de ensino profissional. Com o decorrer dos anos, todavia, a outrora garbosa povoação foi entrando em declínio e viu a liderança regional passar à vizinha Pesqueira, localizada no sopé da Serra e, portanto, muito mais acessível. Em 1813, interrompeu-se a assistência aos cerca de 245 xucurus que viviam na Vila, já considerada muito pobre para seguir alimentando- os, e remontam daí os principais conflitos com a tribo, ainda hoje motivo de instabilidade na região. Em 1879 foi declarado extinto o aldeamento de Cimbres, cessando a tutela governamental sobre os índios, e suas terras foram entregues à Câmara para redistribuição a título de venda ou cessão a terceiros. Em retaliação, os nativos começaram a atritar-se com aqueles que promoveram o esbulho de seus domínios. Num lugar que se orgulha de haver surgido voltando-se à proteção dos silvícolas, persiste a vergonhosa situação de a demarcação das terras daqueles nunca haver sido efetuada. Tal demarcação vem sendo sistematicamente pleiteada desde 1980, bem como violentamente repreendida pelos cerca de 280 fazendeiros da região, havendo resultado em quase 30 mortes, dentre as quais a do famoso Cacique Chicão. As tribos indígenas atuais Hoje em dia, existem legalmente em Pernambuco 7 grupos indígenas, apesar de serem 10 as etnias remanescentes dos Cariris. As 7 são: os Xucurus (Pesqueira) os Fulni-ôs (Águas Belas) os Kapinawás (Buíque) os Pankararus (Petrolândia e Tacaratu), os Kambiwás (Ibimirim, Inajá e Floresta) os Atikuns (Carnaubeira da Penha) Trukás (Cabrobó). As outras 3 são os: 6 Tuxás (Inajá) os Pankarás (Itacuruba) Pipipãs (Floresta). PERÍODO PRÉ-COLONIAL (1500-1530) A tomada de posse dos portugueses sob os territórios coloniais brasileiros foi marcada por uma ocupação lenta e gradual. A urgência em obter lucro com a exploração mercantilista deixou o Brasil em segundo plano nos projetos econômicos do Estado Português, na época, bem mais preocupado em consolidar pontos comerciais na África e na Ásia. Paralelamente, a ausência de metais preciosos ou outros produtos de interesse no mercado europeu também inviabilizou a exploração imediata do território. O alto investimento exigido para o desenvolvimento de atividades exploratórias e o pequeno contingente populacional fizeram com que as expedições portuguesas se limitassem à investigação dos territórios, a coleta de recursos naturais e o combate aos contrabandistas estrangeiros. Em 1501, um grupo liderado por Gaspar de Lemos nomeou algumas regiões do Rio de Janeiro e Bahia, e confirmou a presença de pau-brasil no território. Dois anos mais tarde, o explorador Gonçalo Coelho criou feitorias no litoral fluminense que seriam utilizadas no armazenamento das toras de pau-brasil a serem transportadas para Europa. Em cada uma dessas feitorias havia a figura de um feitor responsável por assegurar os domínios da Coroa. Seguindo a lógica de exploração mercantil, Portugal tinha monopólio sob a exploração de pau-brasil. Somente uma pequena parcela de exploradores, como Fernando de Noronha, tinha concessão da Coroa para exploração. As populações indígenas foram utilizadas como mão-de-obra na extração do pau-brasil em troca de pequenas armas e mercadorias. Nesse primeiro momento, a parceria entre os colonizadores e indígenas era marcada por uma relação mais próxima e amigável. Contudo, na medida em que os colonizadores portugueses adentraram o território, encontraram outras populações nativas que lutavam contra a invasão promovida pelos europeus. Passadas as primeiras três décadas da incipiente colonização lusitana, o interesse de navegadores de outros países europeus ameaçava os domínios de Portugal no Atlântico Sul. Em 1526, o rei dom João III ordenou o envio de expedições punitivas incumbidas da missão de expulsar as embarcações e contrabandistas estrangeiros. A missão comandada pelo navegador Cristóvão Jacques afundou uma embarcação francesa e perseguiu vários de seus tripulantes. Nessa mesma época, a crise do comércio com os povos do Oriente acabou contribuindo para a ocupação efetiva das terras brasileiras. Com isso, em uma atitude completamente pioneira, o governo de Portugal decidiu destinar recursos, maquinário e mão- de-obra para o desenvolvimento de atividades que gerassem lucro e ocupassem a colônia. Em 1530, Martim Afonso de Souza foi enviado com o objetivo de iniciar as primeiras atividades de exploração. Entre outras tarefas, a expedição de Martim Afonso deveria percorrer o litoral e o interior em busca de metais preciosos; formar novos núcleos de povoamento; realizar a expulsão das expedições estrangeiras que aqui estivessem e estabelecer locais de exploração próximos às regiões do Rio da Prata. Chegando aqui, Martim Afonso formou dois grupos destinados para o norte e o sul do território. Em 1532, criou a vila de São Vicente, primeiro núcleo que deu origem à cidade de São Paulo. Com o declínio do comércio oriental, a preocupação portuguesa com a vinda dos franceses, a ausência de povoados e a ambição por metais preciosos tem-se a primeira expedição colonizadora, chefiada por Martim Afonso de Sousa, em 1530. Cabe a ele a fundação da primeira vila, São Vicente, em 1532 e o início da distribuição de sesmarias (lotes de terras) aos que se dispusessem a cultivá-las. HISTÓRIA DOS ÍNDIOS DE PERNAMBUCO A história dos povos indígenas de Pernambuco, como a dos demais índios brasileiros, é tarefa ainda a ser realizada. Ao pesquisador se oferecem, como ponto de partida, as dificuldades provocadas pelo fato de que nossos índios não tinham uma linguagem escrita, e que na história do Brasil os personagens indígenas aparecem como o quase animal a ser domado ou exterminado, e não como um semelhante que merecesse do europeu conquistador um tratamento semelhante ao dispensado pelos historiadores e antropólogos modernos. Assim, é na história da formação da sociedade brasileira que estão escritos, de forma nem sempre precisa, os poucos dados existentes da história indígena, e do processo que significou a quase extinção dos habitantes originais deste país. 7 Se por um lado, a sociedade brasileira assimilou, além da contribuição à sua formação étnica, usos e costumes indígenas, por outro, não lhe foi ensinado a valorizar a participação do elemento indígena na alimentação, no português aqui falado, na habitação pobre de milhões de brasileiros que vivem em casa de taipa, nos utensílios usados, etc. deixou-se de aprender que nomes como Gravatá, Caruaru e Garanhuns, para citar apenas alguns municípios de Pernambuco, assim como até mesmo bairros do Recife, como Parnamirim e Capunga, estão associados a antigos locais de moradia dos índios. Esta mesma contradição é encontrada no estudo da colonização portuguesa em terras pernambucanas que encerra por um lado aspectos de esforço e tenacidade por parte dos portugueses e apresenta ao mesmo tempo exemplo lastimável e brutal de extermínio do elemento indígena. Como em outras regiões do Brasil, a ocupação do território pernambucano se iniciou pela costa, nas terras apropriadas ao desenvolvimento da agroindústria do açúcar, empreendimento em cujo o início o indígena servia de braço escravo nos engenhos e no trabalho das lavouras principalmente nos estabelecimentos que não comportavam o dispêndio de capital exigido pelo elemento africano. Marcando o fim de um primeiro período de povoação caracterizado por aparente tranquilidade, a reação dos indígenas a tal regime de trabalho e exploração, cedo se fez sentir na forma de hostilidades, assaltos, devastações de engenhos e propriedades, promovidos principalmente pelos Caetés, temíveis ocupantes da costa de Pernambuco, e, posteriormente também pelos Potyguaras que habitavam no extremo norte de Pernambuco e pelos Tabajaras, estes antigos aliados dos portugueses. A ação violenta dos portugueses foi redobrada quando foi morto o primeiro bispo do Brasil, acontecimento que motivou a resolução régia estabelecendo escravidão perpétua aos Caetés. na prática, tal medida se estendeu a todos os demais indígenas do litoral e deu caráter legal ao regime primário de esbulho, escravidão e morte instituído pelos chamados nobres que aqui se instalaram. Desde então, a guerra contra os indígenas tomou caráter sistemático, atenuada apenas quando da aliança de muitas tribos com os franceses e os holandeses que disputavam aos portugueses o domínio da terra, exceto nessas ocasiões, restou aos índios sobreviventes o recurso de emigrar para mais longe da costa. A prosperidade do empreendimento colonial, entretanto, dependia enormemente do gado que, além de produto básico de alimentação servia como agente motor e meio de transporte, dando origem à primeira fase de expansão da pecuária que se transformaria rapidamente na forma mais generalizada de ocupação das terras do interior nordestino. No litoral, a agricultura e a criação de gado mostraram-se desde cedo incompatíveis, e, em defesa das plantações, promoveu-se a retirada dos currais para o interior, distante dos engenhos, dos canaviais e dos mandiocais. Nos fins do século XVIII, vastas extensões do médio São Francisco estavam ocupadas, e o estabelecimento de currais se faria também em direção ao norte, ao longo do vale do Rio Pajeú, atravessando Pernambuco e, em seguida a Paraíba,o rio grande do norte, e a oeste, o Piauí. Iniciou-se também nas novas áreas ocupadas a distribuição da sesmarias para as quais eram atraídas vastas populações para fundar os currais. As relações entre criadores e indígenas eram bem menos hostis que entre estes e os senhores de engenho, os grupos mais acessíveis ao convívio com os novos donos da terra e ao trabalho mais ameno nas fazendas de criação permitiu a aliança entre brancos e índios embora isto não impedisse que várias guerras fossem necessárias para expulsar ou exterminar as muitas tribos que se opuseram tenazmente à invasão do seu território, para reforçar a ação dos criadores contra as nações rebeldes, convocaram-se inclusive os serviços dos paulistas, experientes exterminadores de índios, muitos dos quais permaneceram como povoadores das terras que foram desocupadas. A sobrevivência das tribos que não procuravam refúgio em locais remotos, era possível apenas quando a serviço dos interesses dos criadores contra outros proprietários ou mesmo contra outros povos indígenas, e não assegurou às tribos aliadas a posse de suas terras. Nos dois primeiros séculos da colônia, as missões religiosas foram à única forma de proteção de que dispunham os índios. Após a expulsão dos jesuítas em 1759, os aldeamentos por eles criados, e de cujo início quase nada se sabe, permaneceram sob a orientação de outros religiosos e foram posteriormente entregues a órgãos especiais. Entretanto, o trabalho desempenhado pelas juntas de missões e pelos governadores de índios e as atenções dispensadas aos primitivos habitantes do nordeste durante o império em nada contribuíram para impedir as explorações e injustiças de que continuaram sendo alvo as tribos que conseguiram alcançar o século XIX. 8 Das nações que originalmente povoaram o estado, salvo poucos sobreviventes, quase além dos nomes daquelas aldeadas por missionários religiosos está registrado na história de Pernambuco. Embora a atividade missionária se tivesse iniciado desde o século XVI, até os fins do século seguinte apenas sobre cerca de vinte aldeamentos existem referências, destes, os cinco mais ou menos localizados são: o de são Miguel ou serigi, fundado em 1591 em terras do atual município de Paudalho, um aldeamento Caeté em Ipojuca, o aldeamento de são Miguel de Iguna e dois no Recife, um na estrada do Parnamirim e outro na localidade de Salinas, no atual bairro de Santo Amaro. Nos séculos XVIII e XIV uma quantidade indeterminada de índios foi aldeada sem, aparentemente, nenhum registro dos seus locais de procedência, são os aldeamentos: dos índios Garanhuns, próximo à cidade de mesmo nome, dos Carapotó ou Carnijó ou Fulni-ô, em Águas Belas, dos Xukuru, em Cimbres, na Serra do Ororubá, dos Porcás, em Nossa Senhora do Ó, a aldeia dos Paratiós, próxima de Cimbres, diversas aldeias dos índios Argus que se espalhavam desde a serra do limoeiro na atual cidade de mesmo nome, a aldeia de Arataqui na Freguesia de Tacoara, a aldeia de Barreiros ou do Umã, a aldeia de Escada, o aldeamento terras do rei, em Altinho, a aldeia da tribo Arapoá-assu nas ribeiras dos rios Jaboatão e Gurjaú, a aldeia do Brejo dos Padres, de índios Pankaru ou Pankararu, e finalmente aldeamentos em Taquaritinga, Brejo da Madre de Deus, Caruaru e Gravatá. Ainda no século XIX, duas áreas do estado se destacavam pelo grande número de aldeamentos encontrados: a região do atual município de Floresta e diversas ilhas do rio São Francisco. Estas foram exatamente as primeiras áreas interioranas que mais sofreram com o processo de despovoamento decorrente da expansão pastoril no nordeste, e se constituíam o habitat natural das tribos que ali permaneceram sob a proteção missionária. Na primeira encontram-se os índios Umãs e Vouvês no Olho d’água da Gameleira, em Cabrobó, os índios Pi-pi-pã e Avis num local indeterminado entre os rios Moxotó e Pajeú e a Serra do Periquito, os índios Xocó nas cabeceiras dos rios Piancó e Terra Nova, o aldeamento da baixa verde composto de índios Vouvês, Carateus, Umãs e Pipães e a Serra Negra, local que durante muitos anos serviu de refúgio a inúmeras tribos não identificadas e perseguidas por fazendeiros das vizinhanças. No rio São Francisco, as aldeias localizadas são as de Nossa Senhora da Conceição, na Ilha do Pambu, de São Félix, de índios Tuxá na ilha do Cavalo, a de são Francisco, de índios Aracapás, a de santo Antônio, na ilha irapuã, a de N.S.ª da piedade, na ilha do Inhamum, a de N. Senhora do Pilar, de índios Tamaquéus, a de Santa Maria, em três ilhas contíguas no município de Boa Vista e a de Assunção, na ilha de mesmo nome, no município de Cabrobó. O levantamento é incompleto e calcado apenas parte de fontes ainda a serem extensivamente exploradas, esta informação torna-se particularmente significativa ao se considerar que, segundo relatório do governo da província de Pernambuco publicado em 1873, dos aldeamentos acima citados restavam apenas 07 na segunda metade do século passado: o de escada, o do riacho do mato, o de barreiros, o de cimbres, o de Águas Belas, o do brejo dos padres e o da ilha de assunção desaparecimento de tantas tribos é explicado pelas diversas formas de alienação de terras indígenas postas em prática no nordeste, ou da resolução do governo em determinada época de extinguir os aldeamentos existentes. destas últimas 7 aldeias algumas não alcançaram nossos dias; os povos que compõem as restantes, os Xucuru, os Fulni-ô, os Pankararu e os Truká, foram acrescidos os Atikum, os kambiwá e os kapinawá, identificados mais recentemente, como grupos indígenas ainda existentes em Pernambuco. SISTEMA COLONIAL NO BRASIL A constituição do Sistema Colonial no Brasil, como no restante da América, é um desdobramento da implantação de uma ordem capitalista na Europa Ocidental. No caso brasileiro, o interesse da metrópole é mais intenso pela cana e pelo ouro, devido à valorização desses produtos no mercado externo e à crescente situação de dificuldades financeiras e econômicas de Portugal. Vê-se, aqui, o Colonialismo tradicional, baseado no monopólio (Pacto Colonial) e na escravidão negra, com uma organização política marcada por um grau cada vez mais elevado de centralização, em Lisboa. Destaca-se também a ação dos jesuítas católicos no trabalho de catequização (submissão) dos nativos e imposição dos padrões culturais europeus à terra. Apesar de tudo, a acumulação de capitais em Portugal não permite um desenvolvimento estrutural da metrópole, o que leva à dependência com a Inglaterra. As necessidades portuguesas refletem-se no Brasil, onde o fiscalismo e a tributação chegam a níveis insuportáveis, sobretudo no século XVIII, época da mineração, levando a exploração da Colônia ao grau máximo. Essa situação provoca o 9 questionamento da própria existência do sistema colonial, por parte da população brasileira. CAPITANIA DE PERNAMBUCO A Capitania de Pernambuco foi uma das subdivisões do território brasileiro no período colonial. Abrangia os territórios dos atuais estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará e a porção ocidental da Bahia (a oeste do Rio São Francisco) possuindo, deste modo, fronteira ao sul com Minas Gerais. À época do Brasil Colônia, as únicas capitanias que prosperaram foram esta de Pernambuco e a de Capitania de São Vicente, graças ao cultivo de cana- de-açúcar. De acordo com a Carta de Doação passada por D. João III a 10 de março de 1534, o capitão donatário de Pernambuco foi Duarte Coelho Pereira, fidalgo que se destacara nas campanhas portuguesas na Índia. A capitania se estendia entre o rio São Francisco e o rio Igaraçu, compreendendo: "Sessenta léguas de terra (…) as quais começarão no rio São Francisco (…) e acabarão no rio que cerca em redondo toda a Ilha de Itamaracá, ao qual ora novamenteponho nome rio *de+ Santa Cruz (…) e ficará com o dito Duarte Coelho a terra da banda Sul, e o dito rio onde Cristóvão Jacques fez a primeira casa de minha feitoria e a cinquenta passos da dita casa da feitoria pelo rio adentro ao longo da praia se porá um padrão de minhas armas, e do dito padrão se lançará uma linha ao Oeste pela terra firme adentro e a terra da dita linha para o Sul será do dito Duarte Coelho, e do dito padrão pelo rio abaixo para a barra e mar, ficará assim mesmo com ele Duarte Coelho a metade do dito rio de Santa Cruz para a banda do Sul e assim entrará na dita terra e demarcação dela todo o dito Rio de São Francisco e a metade do Rio de Santa Cruz pela demarcação sobredita, pelos quais rios ele dará serventia aos vizinhos dele, de uma parte e da outra, e havendo na fronteira da dita demarcação algumas ilhas, hei por bem que sejam do dito Duarte Coelho, e anexar a esta sua capitania sendo as tais ilhas até dez léguas ao mar na frontaria da dita demarcação pela linha Leste, a qual linha se estenderá do meio da barra do dito Rio de Santa Cruz, cortando de largo ao longo da costa, e entrarão na mesma largura pelo sertão e terra firme adentro, tanto, quanto poderem entrar e for de minha conquista. (…)." (Carta de Doação) As Primeiras Capitanias Hereditárias A metade da barra Sul do canal de Itamaracá, que o soberano denominou de "rio" de Santa Cruz, até 50 passos além do local onde existira a primitiva feitoria de Cristóvão Jacques, demarcava o limite Norte; ao Sul, o limite da capitania era o rio São Francisco, em toda sua largura e extensão, incluindo todas suas ilhas da foz até sua nascente. O território da capitania infletia para o Sudoeste, a acompanhar o curso do rio, alcançando suas nascentes no atual Estado de Minas Gerais. Ao Norte, o soberano estabelecia o traçado de uma linha para o Oeste, terra adentro, até os limites da conquista, definidos pelo Tratado de Tordesilhas ou seja, as terras situadas além das 370 léguas ao oeste das ilhas do Cabo Verde. As fronteiras da capitania abrangiam todo o atual Estado de Alagoas e terminavam ao Sul, no rio São Francisco, fazendo fronteira com o atual Estado de Minas Gerais. Graças à posse deste importante rio, em toda sua extensão e largura, Pernambuco crescia na orientação Sudoeste, ultrapassando em largura em muito as 60 léguas estabelecidas na carta de doação. Na observação de Francisco Adolfo de Varnhagen possuía a capitania 12 mil léguas quadradas, constituindo-se na maior área territorial entre todas que o rei distribuiu. Ao receber a doação, Duarte Coelho Pereira partiu para o Brasil com a esposa, filhos e muitos parentes. Ao chegar ao seu lote, fixou-se numa bela colina, construindo uma fortificação (o Castelo de Duarte Pereira), uma capela e moradias para si e para os colonos: seria o embrião de Olinda, constituída vila em 1537. Pioneiros na terra foram o seu próprio engenho, o do Salvador, e o do seu cunhado, o de Beberibe. 10 Tudo estava por fazer e o donatário organizou o tombamento de terras, a distribuição de justiça, o registro civil, a defesa contra os índios Caetés e Tabajaras. Ao falecer, em Lisboa, em 1554, legou aos filhos uma capitania florescente. O seu cunhado, Jerônimo de Albuquerque, em correspondência com a Coroa, pedia autorização para importar escravos africanos. Em Olinda, sede administrativa da capitania, se instalaram as autoridades civis e eclesiásticas, o Colégio dos Jesuítas, os principais conventos e o pequeno cais do Varadouro. Em fins do século XVI, cerca de 700 famílias ali residiam, sem contar os que que viviam nos engenhos, que abrigavam de 20 a 30 moradores livres. O pequeno porto de Olinda era pouco significativo, sem profundidade para receber as grandes embarcações que cruzavam o Oceano Atlântico. Por sua vez, Recife, povoado chamado pelo primeiro donatário de "Arrecife dos navios", segundo a Carta de Foral passada a 12 de março de 1537, veio a ser o porto principal da capitania. O ENGENHO, O CANAVIAL E SUA ESTRUTURA A casa-grande foi casa de morada, vivenda ou residência do senhorio nas propriedades rurais do Brasil colônia a partir do século XVI. Tudo no engenho girava em torno da casa-grande, sendo ela uma espécie de centro de organização social, política e econômica local. No Brasil colonial, a casa-grande era estrategicamente construída próxima ao engenho propriamente dito (fábrica), a senzala, a casa de farinha e a capela. Alguns sociólogos acreditam que a distribuição espacial das construções nos engenhos possibilitava maior convivência entre as diferentes classes sociais, o que teria tornado a experiência da colonização brasileira diferente de outras. Naquela época, o poder e a riqueza dos donos de engenhos eram demonstrados através de luxuosas vestimentas e do grande número de escravos que possuíam. Havia uma preocupação maior com a aparência do que com a moradia ou a alimentação. As casas-grandes dos primeiros engenhos eram modestamente mobiliadas. Usavam-se redes e colchões para dormir, tamboretes e bancos para sentar. Na cozinha, os utensílios eram cerâmicas indígenas, objetos de estanho, prata e vidro. O colonizador português não reproduziu no Brasil o estilo das casas portuguesas, preferindo criar uma casa que correspondesse ao ambiente físico brasileiro e que, ao mesmo tempo, atendesse as necessidades de trabalho e pessoais dos residentes. As casas-grandes eram erguidas visando à segurança e não à estética. Os donos de engenhos, chamados posteriormente de senhores de engenhos, sentiam-se inseguros com a possibilidade de ataques dos índios e dos negros, já que essas casas representavam o poderio feudal brasileiro. O senhor de engenho em sua propriedade, tinha poder total sobre a vida de seus escravos, empregados e moradores. Por esse motivo, as casas eram construídas com alicerces profundos utilizando óleo de baleia e grossas paredes de taipa (barro amassado para preencher os espaços criados por uma espécie de gradeado de paus, varas ou bambus); pedra e cal; teto de palha, sapê ou telhas com o máximo de inclinação para servir de proteção contra o sol forte e as chuvas tropicais; piso de terra batida ou assoalho; poucas portas e janelas e alpendres na frente e dos lados. Todavia essas quase fortalezas, feitas para durarem séculos, não seriam suficientes para impedir que ainda “na terceira ou quarta geração”, começassem a desmoronar por falta de conservação. Estudiosos em arquitetura consideram possível que as casas-grandes tenham assimilado elementos típicos das habitações indígenas, como os grandes espaços sem divisão, semelhante às ocas coletivas. A casa-grande, além de fortaleza, serviu de escola, enfermaria, harém, hospedaria, e foi também banco, pois dentro de suas paredes ou no chão, guardavam-se e enterravam-se dinheiro, joias e ouro. Até nas capelas deixavam-se joias enfeitando os santos (naquela época os ladrões não se atreviam, pelo menos não tanto quanto os de hoje, a entrar nas capelas para roubar os santos). Outra particularidade das casas-grandes era o costume de enterrarem seus mortos dentro das capelas, que a partir do século XVIII, principalmente na Bahia e em Pernambuco, passaram a ser construídas como uma espécie de anexo da casa. Em algumas havia até um acesso privado para os familiares do senhor de engenho. Um exemplo desse tipo de construção era a casa-grande do engenho Poço Comprido, na Mata Norte de Pernambuco. Os santos eram considerados parte da família, tanto quanto os familiares mortos. Em muitas casas- grandes conservavam-se os retratos dos familiares mortos no santuário, entre as imagens dos santos. É interessante observar que algumas igrejas resistiram mais a ação do tempo do que algumas das casas- 11 grandes, como foi o caso da capelinha de São Mateus do Engenho Massangana,onde Joaquim Nabuco viveu oito anos da sua infância. A preocupação dos senhores de engenhos com a segurança foi se dissipando ao longo dos séculos XVII e XVIII. Com a chegada da corte portuguesa para o Brasil, no início do século XIX, começaram as mudanças nas condições gerais das casas-grandes. Elas se tornaram maiores e mais luxuosas, seus donos passaram a gastar mais dinheiro em móveis, objetos de arte, decoração e utensílios domésticos. Nesse período, o material de construção também ficou mais diversificado. Além do material já existente, passou-se a usar também alvenaria de pedras e tijolos nas paredes; madeira recoberta com telhas cerâmicas nas coberturas; lajotas de barro e/ou assoalhos de madeira nos pisos. Usava-se também um tipo de tijolo circular que servia para construção de colunas para alpendres de capelas, casas-grandes, senzalas e, eventualmente, de fábricas. Tudo dependia das condições financeiras do senhor de engenho e da disponibilidade de material na região. O início do uso da máquina a vapor nos engenhos, da Bahia e Pernambuco, em 1815 e 1817, respectivamente, promoveu grandes mudanças, principalmente quanto ao aumento da produção. Todavia, por ser um investimento caro, nem todos os senhores de engenho tinham disponibilidade financeira para instalar as inovações em suas fábricas. Em decorrência disso, muitos engenhos acabaram sendo incorporados por outros cujos donos tinham maior poder aquisitivo. Assim, um único senhor de engenho ou uma única família passou a ser proprietário de vários engenhos, através da compra, herança ou pelo casamento. O fato é que o número de senhores de engenho diminuiu, mas os que sobreviveram ficaram mais ricos e poderosos. A riqueza mudou a vida dos senhores de engenho e de seus familiares, possibilitando a construção de novas casas-grandes e a reforma de outras. Nesse período surgiram três tipos de casas de engenho: o bangalô, o sobrado neoclássico e o chalé. A sociedade agrária, patriarcal, escravocrata do açúcar passou a ocupar a mais alta classe social da época. A imagem de riqueza era evidenciada através de bonitas e confortáveis casas, devidamente equipadas com móveis em madeira de lei, louça de porcelana da melhor qualidade, títulos de nobreza, brasões gravados sobre os portais e outros objetos. As mulheres passaram a frequentar salões de festas, teatros e a viajar para capital da Província. Filhos eram mandados para estudar na Europa. A GUERRA DOS BÁRBAROS A resistência dos nativos e a interiorização da colonização Devido ao avanço das frentes pastoris, com o objetivo de expandir a pecuária, a ocupação do Sertão se intensificou. Entretanto, chegou o momento que a presença indígena se tornou um empecilho e essa a essa expansão. As autoridades coloniais utilizaram, então, a estratégia de desocupação das terras pela eliminação dos nativos que resistissem aos interesses colonizadores. Os portugueses cobiçavam as grandes extensões de terras dos silvícolas e tentavam se apossar delas através do extermínio dos nativos, que se obrigavam a irem cada vez mais para o interior do território. Por outro lado, é bem possível que, enquanto ainda se arrastavam as negociações com os portugueses, os holandeses tivessem animado o povo tarairiu a se rebelar no interior da colônia. Provavelmente havia um clima de revanchismo, pois os nativos teriam defendido os holandeses e deveriam se sentir ameaçados com o avanço dos portugueses, que sempre foram seus inimigos. As tribos não possuíam um comando único que todos obedecessem; poderiam se aliar ou lutar sozinhas, de acordo com as circunstâncias. Na maioria das vezes, tratou-se mais de uma reação contra as perseguições dos brancos do que uma guerra com objetivos próprios. Os colonos provocavam os nativos para que atacassem e, assim, justificariam a guerra justa, que levaria à escravização dos nativos derrotados. Era uma forma de expansão sem respeito às posses ancestrais dos indígenas, que havia saído de http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=256&Itemid=184 http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=373&Itemid=1 12 um período de violência, vilipêndio e rapinagem, mergulhou em um conflito contra os indígenas, que, no espaço de cinquenta anos, exterminou as tribos do território. Esse conflito ficou supostamente conhecido como a “Guerra dos Bárbaros” ou “Confederação dos Cariris” e envolveu várias etnias indígenas, no interior das capitanias do Nordeste. Os índios avançaram e, para se defenderem, os colonos construíram casas fortes e paliçadas. Em face dos pedidos de socorro, o governo-geral do Brasil, decidiu requisitar bandeirantes de São Paulo e de São Vicente. Os indígenas, além das armas europeias, adotaram o uso de cavalos e incendiavam fazendas, matavam o gado e os vaqueiros. A resistência desses nativos foi um elemento surpresa e a presença dos bandeirantes, que foram eficientes no quilombo de Palmares, não conseguiu debelar a revolta. Ao contrário, o conflito dilatou-a para outras regiões, provocando a adesão das tribos dos anacés, jaguaribaras, acriús, canindés, jenipapos, tremembés e dos baiacus, que se mostraram muito violentos na defesa de seus direitos. Enquanto isso a guerra era alimentada pela ambição de uma parte dos colonos, que desejavam as terras que pertenciam aos nativos. Quando Antônio de Albuquerque reassumiu o comando da guerra, seu objetivo era exterminar os guerreiros indígenas e escravizar mulheres e crianças. Por outro lado, Bernardo Vieira, governando a capitania na época, habilidosamente atraiu os nativos para um acordo de paz. Essa pacificação terminou servindo muito bem para os colonos, pois o genocídio já havia sido iniciado e os colonos poderiam tomar posse das terras. Os grupos nativos que se submeteram a essa pacificação tiveram o direito a uma légua quadrada de terra, devidamente demarcada para viver. As mulheres trabalhariam na agricultura, enquanto as crianças seriam educadas nos moldes cristãos e de acordo com os interesses dos dominadores. A guerra ainda não havia terminado, em 1715, quando o governador de Pernambuco determinou que se extinguissem ou se afugentassem completamente os bárbaros que ainda habitavam os sertões nordestinos, entregando o uso da terra para os sesmeiros. O que se diz é que, depois de 1720, não houve mais registro de sublevação. SOCIEDADE COLONIAL Pode-se, de forma esquemática, apresentar um paralelo entre as principais sociedades da Colônia, a açucareira e a mineratória, como se segue: ESCRAVISMO NEGRO Os escravos africanos representam a mão-de- obra mais numerosa da Colônia. A razão fundamental está no extraordinário lucro que o tráfico negreiro representa para a Metrópole. Muitos negros trazidos para o Brasil já haviam passado pela experiência da escravidão na África, dominados nas lutas inter-tribais. Aprisionados, são trocados por tabaco, cachaça, rapadura, armas, etc. e chegam em péssimas condições de transporte, nos navios negreiros, onde muitos morrem antes do desembarque. NÃO-ESCRAVIZAÇÃO DO NATIVO Um conjunto de fatores leva à não-escravização do indígena do Brasil, diferentemente do que ocorre na América Espanhola. Podem ser mencionados: o caráter nômade e livre da vida do nativo, o tipo físico mais fragilizado, a dificuldade de captura, além de todas as “vantagens” apresentadas pelo tráfico do africano. Além disso, deve se destacar a “proteção” dada ao índio pelos 13 padres, que não permitiam a sua escravização, o que, paradoxalmente, não vale para o negro. Deve-se salientar que a não adaptação do índio ao trabalho escravo não pode ser considerado, pois ninguém se adapta à escravidão, sendo o negro obrigadoa ela. AÇÃO JESUÍTICA Os jesuítas tinham a incumbência, na Colônia, de: - chefiar as missões – aldeamento de índios; - converter os nativos à cultura europeia; -controlar a educação, o ensino e a cultura dos índios; - submeter o índio à dominação branca. HISTÓRIA DOS QUILOMBOS No período de escravidão no Brasil (séculos XVII e XVIII), os negros que conseguiam fugir se refugiavam com outros em igual situação em locais bem escondidos e fortificados no meio das matas. Estes locais eram conhecidos como quilombos. Nestas comunidades, eles viviam de acordo com sua cultura africana, plantando e produzindo em comunidade. Na época colonial, o Brasil chegou a ter centenas destas comunidades espalhadas, principalmente, pelos atuais estados da Bahia, Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e Alagoas. Na ocasião em que Pernambuco foi invadida pelos holandeses (1630), muitos dos senhores de engenho acabaram por abandonar suas terras. Este fato beneficiou a fuga de um grande número de escravos. Estes, após fugirem, buscaram abrigo no Quilombo dos Palmares, localizado em Alagoas. Esse fato propiciou o crescimento do Quilombo dos Palmares. No ano de 1670, este já abrigava em torno de 50 mil escravos. Estes, também conhecidos como quilombolas, costumavam pegar alimentos às escondidas das plantações e dos engenhos existentes em regiões próximas; situação que incomodava os habitantes. Esta situação fez com que os quilombolas fossem combatidos tanto pelos holandeses (primeiros a combatê-los) quanto pelo governo de Pernambuco, sendo que este último contou com os serviços do bandeirante Domingos Jorge Velho. A luta contra os negros de Palmares durou por volta de cinco anos; contudo, apesar de todo o empenho e determinação dos negros chefiados por Zumbi, eles, por fim, foram derrotados. Os quilombos representaram uma das formas de resistência e combate à escravidão. Rejeitando a cruel forma de vida, os negros buscavam a liberdade e uma vida com dignidade, resgatando a cultura e a forma de viver que deixaram na África e contribuindo para a formação da cultura afro-brasileira. Comunidades quilombolas na atualidade Muitos quilombos, por estarem em locais afastados, permaneceram ativos mesmo após a abolição da escravatura em 1888. Eles deram origens às atuais comunidades quilombolas (quilombos remanescentes). Existem atualmente cerca de 1.500 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Palmares, embora as estimativas apontem para a existência de cerca de três mil. Grande parte destas comunidades está situada em estados das regiões Norte e Nordeste. Os integrantes das comunidades quilombolas possuem fortes laços culturais, mantendo suas tradições, práticas religiosas, relação com o trabalho na terra e sistemas de organização social próprio. DOMÍNIO HOLANDÊS A batalha de Guararapes, segundo Vítor Meirelles Nove anos após a expulsão dos franceses, o território colonial brasileiro sofreu uma invasão holandesa, em 1624. Os motivos que traziam os holandeses ao Brasil eram muito diferentes. Para compreendê-los, é necessário fazer algumas considerações sobre o período em que Portugal (União Ibérica) esteve sob o domínio espanhol, bem como sobre as relações internacionais da Espanha. Após ter emergido como potência europeia, a Espanha perseguiu o objetivo de unificar toda a península ibérica, incorporando Portugal ao seu território. Os portugueses resistiram enquanto puderam. Mas, no século 16, alguns acontecimentos contribuíram para a Espanha concretizar seus objetivos. Em 1578, o rei dom Sebastião, último monarca da dinastia de Avis, morreu e não deixou herdeiros. Então, o cardeal dom Henrique, único sobrevivente masculino da linhagem de Avis, assumiu a regência. Com sua morte, em 1580, o rei da Espanha, Felipe 2º; da mesma linhagem familiar, 14 achou-se no direito de ocupar o trono português e invadiu Portugal. O domínio espanhol sobre Portugal duraria 60 anos, até 1640. Espanha e Holanda Contudo, antes disso, Portugal já havia estabelecido relações comerciais com os ricos negociantes holandeses, que passaram a financiar a produção açucareira no Brasil e a controlar toda a sua comercialização no mercado europeu. Por outro lado, no mesmo período, a Espanha pretendia dominar todo o território dos Países Baixos, na qual a Holanda estava situada, pois a circulação de mercadorias naquela região contribuía significativamente para abastecer os cofres do tesouro espanhol. Não obstante, em 1581, sete províncias do Norte dos Países Baixos, incluindo a Holanda, criaram a República das Províncias Unidas e passaram a lutar por sua autonomia em relação aos espanhóis. Ao incorporar Portugal, aproveitando-se do seu controle sobre o Brasil, a Espanha planejou impedir que os holandeses continuassem a comercializar o açúcar brasileiro. Era uma tentativa de sufocar economicamente a Holanda e impedir sua independência. As invasões holandesas Os holandeses reagiram rapidamente, concentrando seus esforços no controle das fontes dos produtos que negociavam. Surgiu assim, em 1602, a Companhia das Índias Orientais. Essa empresa, de porte enorme, se apossou dos domínios coloniais portugueses no Oriente. Em decorrência dos êxitos desse empreendimento, os holandeses criaram, em 1621, a Companhia das Índias Ocidentais. Esta ficou encarregada de recuperar o controle do açúcar brasileiro e monopolizar o seu comércio nos mercados europeus. Para controlar a produção e comercialização do açúcar era necessário ocupar e se apoderar de partes do território colonial brasileiro onde ele era produzido. Desse modo, contando com uma frota composta de 26 navios e 500 canhões, os holandeses iniciaram sua primeira invasão do Brasil em 1624. Atacaram a cidade de Salvador, na época o centro administrativo da colônia. Mas, um ano após terem chegado, foram expulsos, sem grandes dificuldades. Uma segunda tentativa de invasão se deu em 1630, dessa vez em Pernambuco. Os holandeses conseguiram conquistar as vilas de Olinda e Recife. Houve combates, mas os invasores holandeses resistiram e estabeleceram o controle de uma extensa parte do litoral brasileiro que ia do Sergipe ao Maranhão. A Companhia das Índias Ocidentais nomeou um governador para administrar o domínio recém conquistado, que ficou conhecido como o Brasil-holandês. Maurício de Nassau Para o cargo de governador, foi nomeado o conde João Maurício de Nassau, que chegou ao Recife em janeiro de 1637. No período em que governou o Brasil-holandês, entre 1637 a 1644, Nassau procurou estabelecer uma administração eficiente e um bom relacionamento com os senhores de engenho da região. Desse modo, foram colocados a disposição dos proprietários de engenho recursos financeiros, para serem utilizados na compra de escravos e de maquinário para o fabrico do açúcar. Nassau também criou as Câmaras dos Escabinos, que eram órgãos de representação municipal, a fim de estimular a participação política da população nas decisões de interesse local. Durante o governo de Nassau, as vilas de Recife e Olinda passaram por um intenso processo de urbanização e melhoramentos que mudaram completamente a paisagem local. Com o fim do domínio espanhol sob Portugal, em 1640; o novo rei português, D. João 4º, decidiu recuperar o Nordeste brasileiro retirando-o do domínio holandês. Esse período coincidiu com o descontentamento dos senhores de engenho do Nordeste brasileiro diante dos holandeses. Nassau já havia partido e, para explorar ao máximo a produção do açúcar brasileiro, a Holanda adotou inúmeras medidas impopulares, em especial o aumento dos impostos, o que contrariava os interesses dos proprietários de engenho. Batalhas contra os holandeses A luta contra os holandeses no Nordeste brasileiro foi iniciada pelos próprios senhores de engenho da região e durou cerca de dez anos. Sob iniciativa dos senhores,os colonos da região foram mobilizados e travaram várias batalhas contra os holandeses. As mais importantes foram a de Guararapes e Campina de Taborda. Mas a expulsão definitiva dos holandeses teve início em junho de 1645, em Pernambuco, através da eclosão de uma insurreição popular liderada pelo paraibano André Vidal de Negreiros, pelo senhor de engenho João Fernandes Vieira, pelo índio Felipe Camarão e pelo negro Henrique Dias. A chamada 15 Insurreição Pernambucana, chegou ao fim em 1654, tendo libertado o Nordeste brasileiro do domínio holandês. Porém, a expulsão dos holandeses do território brasileiro teria um impacto negativo sobre a economia colonial. Durante o período em que estiveram no Nordeste, os holandeses tomaram conhecimento de todo o ciclo da produção do açúcar e conseguiram aprimorar os aspectos técnicos e organizacionais do empreendimento. Quando foram expulsos do Brasil, dirigiram-se para as Antilhas, ilhas localizadas na região da América Central. O fim de um ciclo açucareiro Lá montaram uma grande produção açucareira que, em pouco tempo, passou a concorrer com o açúcar do Brasil e logo se impôs no mercado europeu. Consequentemente, provocou a queda das exportações brasileiras. Já na segunda metade do século 17, os engenhos brasileiros estavam em decadência. Era o fim do chamado ciclo da cana-de-açúcar na história econômica do Brasil. Restava a Portugal encontrar outros meios para explorar economicamente a Colônia. Um novo ciclo de exploração colonial teria início com a descoberta de riquezas minerais como o ouro, a prata e os diamantes, na região que ficaria conhecida como a das Minas Gerais. CRISE DO SISTEMA COLONIAL NO BRASIL A exemplo do restante da América, o processo de emancipação é conduzido pela elite nativa que, detentora do poder econômico almeja o poder político, no pós-independência. No caso brasileiro existem algumas especificidades se comparada ao processo no restante da América Latina, como, por exemplo, a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil. Várias são as razões que levam à decadência do colonialismo tradicional, dentre elas: - A ideologia liberal imposta pela burguesia, contestando o Absolutismo e o Mercantilismo; - A expansão do capitalismo após a Revolução Industrial; - A contestação do escravismo pelo capitalismo internacional; - A ambição política da burguesia colonial; - A insatisfação da população colonial com a excessiva exploração metropolitana. Esses aspectos, típicos do fim do século XVIII e início do século XIX se transformam em movimentos armados de contestação à dominação política metropolitana nas colônias. No Brasil, tais movimentos podem ser Nativistas e Coloniais (Emancipacionistas). MOVIMENTOS BRASILEIROS DE CONTESTAÇÃO MOVIMENTOS NATIVISTAS São movimentos de contestação a aspectos do domínio português no Brasil, sem desejo de emancipação colonial. Têm também por característica o caráter local e a não influência estrangeira. Como exemplo tem-se: Aclamação de Amador Bueno (SP - 1641); Revolta de Beckman (MA - 1684); Revolta dos Emboabas (MG - 1708-09); Revolta dos Mascates (PE - 1710) e Sedição de Vila Rica (MG - 1720). GUERRA DOS MASCATES – 1710 A partir de 1654, a expulsão definitiva dos holandeses de Pernambuco provocou uma grande mudança no cenário econômico daquela região. Os grandes produtores de açúcar que anteriormente usufruíram dos investimentos holandeses, agora viviam uma crise decorrente da baixa do açúcar no mercado internacional e a concorrência do açúcar produzido nas Antilhas. Contudo, esses senhores de engenho ainda possuíam o controle do cenário político local por meio do poder exercido na câmara municipal de Olinda. Em contrapartida, Recife – região vizinha e politicamente subordinada à Olinda – era considerado o principal polo de desenvolvimento econômico de Pernambuco. O comércio da cidade trazia grandes lucros aos portugueses, que controlavam a atividade comercial da região. Essa posição favorável tinha 16 como motivação as diversas melhorias empreendidas na cidade com a colonização holandesa, que havia transformado a cidade em seu principal centro administrativo. Com o passar do tempo, a divergência da situação política e econômica entre os fazendeiros de Olinda e os comerciantes portugueses de Recife criou uma tensão local. Inicialmente, os senhores de engenho de Olinda, vivendo sérias dificuldades para investirem no negócio açucareiro, pediram vários empréstimos aos comerciantes portugueses de Recife. Contudo, a partir da deflagração da crise açucareira, muitos dos senhores de engenho acabaram não tendo condições de honrar seus compromissos. Nessa mesma época, a complicada situação econômica de Olinda somava-se ao completo sucateamento da cidade, que sofreu com as guerras que expulsaram os holandeses. Com isso, a câmara de Olinda decidiu aumentar os impostos de toda a região, incluindo Recife, para que fosse possível recuperar o centro administrativo pernambucano. Inconformados, os comerciantes portugueses, pejorativamente chamados de “mascates”, buscaram se livrar da dominação política olindense. Para tanto, os comerciantes de Recife conseguiram elevar o seu povoado à categoria de vila, tendo dessa maneira o direito a formar uma câmara municipal autônoma. A medida deixou os latifundiários de Olinda bastante apreensivos, pois temiam que dessa forma os comerciantes portugueses tivessem meios para exigir o pagamento imediato das dívidas que tinham a receber. Dessa forma, a definição das fronteiras dos dois municípios serviu como estopim para o conflito. A guerra teve início em 1710, com a vitória dos olindenses que conseguiram invadir e controlar a nova cidade pernambucana. Logo em seguida, os recifenses conseguiram retomar o controle de sua cidade em uma reação militar apoiada por autoridades políticas de outras capitanias. O prolongamento da guerra só foi interrompido no momento em que a Coroa Portuguesa indicou, em 1711, a nomeação de um novo governante que teria como principal missão estabelecer um ponto final ao conflito. O escolhido para essa tarefa foi Félix José de Mendonça, que apoiou os mascates portugueses e estipulou a prisão de todos os latifundiários olindenses envolvidos com a guerra. Além disso, visando evitar futuros conflitos, o novo governador de Pernambuco decidiu transferir semestralmente a administração para cada uma das cidades. Dessa maneira, não haveria razões para que uma cidade fosse politicamente favorecida por Félix José. DICAS!!! ECONOMIA PERNAMBUCANA NO SÉCULO XVIII Existem divergências quanto à forma de poder exercida na América Portuguesa do Séc. XVIII no que se refere às formas de governo - levando em consideração inúmeros fatores, como a não institucionalização estatal no território colonizado, a influência exterior do Estado Absolutista Português, além de incursões individuais no que se refere a sublevações de poder. A primeira parte do presente texto busca apresentar e discutir alguns conceitos referentes a arte de governar (levando em consideração os que mais se adequam a realidade da Colônia) para o desenvolvimento, a posteriori, da mentalidade política de Pernambuco no início do Séc. XVIII, que é o foco do trabalho. Dito isto, os conceitos aqui tratados serão estamento, patrimonialismo e patriarcalismo, nas definições weberianas dos termos. Porém, uma ressalva aqui será feita: nem mesmo Max Weber fechou seus conceitos a ponto de torná-los ortodoxos e privados de uma dinâmica analítica; portanto, pensar em um estamento único e grupos agindo de forma idêntica é uma ideia limitada a ponto de ser ingênua. Assim, o conceito de estamento aqui empregado será entendido na questão relacionada ao status na hierarquia política daadministração da Colônia Lusitana. Já os conceitos de patrimonialismo e patriarcalismo serão baseados no argumento de Rubens Goyatá Campante (cf. CAMPANTE, 2003: 153 a 193), procurando focar na mentalidade conservadora e tradicional que procura legitimar sua supremacia através de tais formas de poder. O cenário de estudo aqui abordado possui como referência à região de Pernambuco, com recorte histórico feito no início do Século XVIII, e o objeto de análise aqui apresentado é a mentalidade política do senhor de engenho que viveu no período nesta região Diversas obras, como a de Gilberto Freyre (1973), mencionam uma espécie de genealogia dos senhores de engenho na época da colônia, 17 salientando a adaptabilidade em meio a inúmeras adversidades enfrentadas por estes desbravadores e um perfil com traços autoritários marcantes. Nesta linha de raciocínio, o senhor de engenho conquista uma autonomia que em determinados momentos chega a preocupar a Coroa Portuguesa, adquirindo uma autoridade legitimada pelo seu prestígio. Porém, deve ser salientado que este prestígio não se refere a meras atribuições honoríficas, mas a imagem de um poder que invadia o imaginário popular e regimentava-se como status de “senhor da terra”. O modelo estamental que se cria com esse status pode ser entendido por meio da premissa de Max Weber (1974): o círculo que se forma no estamento gera uma endogamia, fechando-se e contrapondo-se ao próprio governo - no caso a Coroa portuguesa - onde o parâmetro que se deseja alcançar seria o status de senhor de engenho. Por outro lado, devido à crise do açúcar no Século XVIII, a capital Olinda entra em declínio por causa de fatores como o aumento do preço e levantes de escravos. Além disso, a sombra que pairava a respeito da expulsão dos holandeses ocorrida em 1654 que favorecia o clima de insegurança somava-se a epidemias e inúmeros outros fatores. Concomitantemente a isso, os mascates (comerciantes portugueses que se instalaram em Recife), beneficiados pela estruturação urbana feita pelos holandeses, enriqueceram com o comércio e empréstimo pecuniário em detrimento à endividada nobreza olindense (cf. MELLO, 1995). O poder local dos senhores de engenho rivalizava contra esta suposta burguesia mascate favorecida pela Coroa Portuguesa. Tal fato ocasionou animosidade entre os senhores de engenho e a Coroa Lusitana - aquilo que Edvaldo Cabral Mello chama de “poder local contra o Estado” - fazendo com que os mascates conseguissem apoio da Corte Portuguesa. Estes fatores, aliados a questões de ordem política e econômica, ao final de tal disputa geraram a conhecida Guerra dos Mascates, com a vitória dos comerciantes, apoiados pela Coroa Portuguesa devido aos interesses econômicos em comum (cf. MELLO, op. cit.). A análise deste trabalho não irá voltar-se para as conclusões acima mencionadas, mas é necessário apresentá-las para que se possa compreender o contexto e elucidar a perspectiva política da época, além das relações sociais que permeavam este contexto. Em um primeiro momento observa se a ascensão de uma burguesia mascate que ameaçava a ordem estamental dos senhores de engenho ao lado da economia agrícola que até então dominara, desenvolve-se a mobiliária: o comércio e o crédito. E com ela surge uma rica burguesia de negociantes, que, por seus haveres rapidamente acumulados, começa a pôr em xeque a nobreza dos proprietários rurais, até então a única classe abastada e, portanto, de prestígio da colônia. É por obra dela que as cidades do litoral, onde se fixa, se transformam em centros populosos e ricos. Recife, que antes da ocupação holandesa não passava de um ajustamento de choças habitadas quase exclusivamente por humildes pescadores, vai ofuscar a capital de Pernambuco, Olinda, a cidade da nobreza. (PRADO JR, 1970: 38 e 39) Por outro lado, devido à ameaça de cobrança das dívidas que os senhores de engenho contraíram com empréstimos feitos aos mascates, havia a preocupação destes senhores de terra endividados, preocupados em se resguardar junto à Coroa Portuguesa que por nenhuma dívida, ainda que seja da fazenda real, assim que estão contraídas como das que ao diante se contraírem, se façam execuções aos senhores de engenho lavradores de cana, ou roça em nenhuns bens seus assim móveis como de raiz, outros de qualquer qualidade que sejam, mas somente nos rendimentos se possam executar, e que os açúcares se não rematem, por nenhumas dívidas, e o receberão pelo preço que sair, pois Sua Majestade o manda dar, e isto será sem limitação de tempo e para sempre.(Calamidades de Pernambuco – Reivindicações feitas por grandes proprietários de terras na Guerra dos Mascates, pela qual se deviam processar as execuções e cobranças)". (PRADO JR, op. cit.: 41). A Coroa Portuguesa até então não apresentava nenhum tipo de hostilidade para com os senhores de engenho, que demonstravam, inclusive, subordinação efetiva nas imposições do governo, criando uma aliança contrabalançada por interesses mútuos: até meados do século XVII, a Coroa não temia a autonomia dos colonos, seu ímpeto sertanista e seus excessos armados. A organização administrativa seria suficiente para conter os ânimos mais ardentes ou insubordinados. Preocupava-o, ao contrário, o estímulo, nos engenhos e latifúndios, do aparelhamento militar, com falcões, berços, arcabuzes e espingardas, como se lê no regimento de Tomé de Sousa. Os senhores de engenho e os 18 moradores se entrosavam na rede de governo, como auxiliares e agentes. (FAORO, 1975: 149). O cenário descrito nas passagens acima ilustra uma posição desfavorável aos senhores de engenho, favorecendo aos mascates e, até então, proporcionando uma posição confortável a Coroa Lusitana. Mas, é na política que as divergências se tornam acirradas. Os senhores de engenho sentem sua honra afrontada e o “sagrado estamento” mostra- se violado pelo elemento invasor denominado mascate. Ampliando o problema, os Mercadores do Recife conseguem direito à eleição, o que demonstra um grave risco a hierarquia até então arregimentada pelos senhores de engenho em 1703 alcançam os mercadores de Pernambuco o direito de concorrer às eleições da Câmara de Olinda. E finalmente, em 1707, obtêm a ereção de Recife, onde dominavam pelo número, como vimos, à categoria de vila independente da capital. No resto do país foi-se dando idêntica infiltração da burguesia mercantil na administração municipal. (PRADO JR, op. cit.: 42). A passagem acima demonstra um marco na história do Recife (sua elevação à vila), o que a torna uma rival direta de Olinda. Contrastava uma burguesia embrionária mascate com um conservadorismo dos senhores da terra, isso porque, em Pernambuco, principalmente desde a época dos holandeses, Olinda havia decaído, à medida que levantara o Recife, crescendo muito em população. Entretanto, essa colônia, a antiga corte do príncipe da casa de Orange, de Nassau-Siegen, a cidade Maurícia, a praça de guerra e de comércio mais importante do Norte do Brasil, no princípio do século passado [XVIII], contando já umas oito mil almas, nem sequer era vila; e se aí moravam às vezes alguns governadores e outras autoridades era por abuso: - a capital da capitania era a Olinda de Duarte Coelho, habitada pelas principais e mais antigas famílias da terra, quando no Recife os habitantes eram pela maior parte comerciantes portugueses, de humilde nascimento, vindos ali pobres, e agora donos ou caixeiros de armazéns de secos e molhados, casas de comissão, etc. – Olinda era a cabeça de todo o conselho, e estava desde tempos remotos avezada a ver os cargos dele exercidos por indivíduos de algumas dessas principais famílias. Como, porém, a tais cargos correspondiam votos para certos impostos municipais, que recaíam também nos do Recife, quiseram ter nas eleições; e desde que a isso se propuseram,fácil era de prever que sairiam vencedores, sendo tão superiores em número, apesar de uma provisão anterior, de 8 de Maio de 1705, que dispunha que na Câmara da mesma vila não poderiam servir mercadores, entendendo-se por tais os que assistissem em loja aberta, medindo, pesando e vendendo ao povo qualquer gênero de mercadoria. Ressentiram-se os de Olinda, e se queixaram de que forasteiros vindos de ‘suas terras a tratar dos seus negócios’, conseguisse ‘ter na alheia o governo da república, o que em nenhuma daquelas em que nasceram se consente. Para evitar conflitos, resolveu prudentemente a corte, depois de algumas hesitações e incoerências, declarar o Recife vila independente, devendo o juiz de fora de Olinda fazer as audiências alternadas nessa vila e na do Recife, segundo se praticava em várias terras do Reino, e sendo cometida a erecção do pelourinho e a fixação dos limites das duas jurisdições ao governador Sebastião de Castro e Caldas, e ao ouvidor da capitania Dr. Luís de Velenzuela Ortiz. (VANHAGEM, 1970: 314). Diante do conflito político, ficam evidentes características marcantes dos senhores de engenho, pois, observa-se que primeiramente fez-se notório a concretização de um estamento em que as relações ocorrem de forma vertical, onde a honra do cargo que ocupa dentro da esfera política é o fator determinante do grau de importância dentro da Monarquia Portuguesa (perpassando as relações sociais dentro da colônia). Externa-se uma outra característica patente, a saber, a visão dos senhores de engenho de que os cargos públicos seriam de sua propriedade - o que nos remete ao patrimonialismo -, ficando evidente o tamanho da afronta dos mascates que não apenas estavam se infiltrando e usurpando o status estamental, mas também violando a propriedade alheia (na visão dos senhores da terra), ou seja, tomando posse do bem público que se tornara particular em meio às relações patrimoniais. Tal afirmação é justificada pela definição de patrimonialismo, que é a substantivação de um termo de origem adjetiva: patrimonial, que qualifica e define um tipo específico de dominação. Sendo a dominação um tipo específico de poder, representado por uma vontade do dominador que faz com que os dominados ajam, em grau socialmente relevante, como se eles próprios fossem portadores de tal vontade, o que importa, para Weber, mais que a obediência real, é o sentido e o grau de sua aceitação como norma válida - tanto pelos dominadores, que afirmam e acreditam ter autoridade para o mando, 19 quanto pelos dominados, que creem nessa autoridade e interiorizam seu dever de obediência. (CAMPANTE, op. cit.) Os senhores de engenho, devido à ameaça que se apresentava no cenário, não apenas observam a aliança da Coroa Portuguesa com os mascates, como também fortalecem seu poder de forma autônoma, criando uma autarquia, como forma de precaver-se contra esta união política bipolar. Assim, o patrimonialismo se faz notório com seu alto grau de prestígio, favorecendo um egocentrismo que transforma o senhor de engenho em detentor da autoridade local, exercendo sua força com mão-de- ferro, melhor dizendo, “mão-de-terra” (já que lhe atribuíram o título de senhor da terra), neste momento de declínio da elite olindense. O desprestígio dos senhores de engenho com relação à Coroa Portuguesa fica patente, quando o senhor de engenho e o fazendeiro não eram mais os aliados do soberano, voltado este para o comércio, na sua tradicional política. Os mascates levariam a melhor parte das atenções públicas, perdidos os privilégios antigos, próximos, perigosamente próximos, dos usos aristocráticos. O rei queria súditos e não senhores, soldados e não caudilhos. (FAORO, op. cit.: 164). Com a separação entre Olinda e Recife ocorreu uma bipartição do governo local, fazendo com que fosse necessário um fortalecimento administrativo de ambos os lados, até mesmo devido às disputas políticas, pois, a divisão da cabeça (poder central), ao contrário da “Hidra de Lerna”, tornou as partes separadas ineficazes, sem possibilidade de regeneração. O momento dessa necessidade de um governante é apontado por Varnhagen: A capitania ficou acéfala e toda se deu por sublevada. Tratou, pois, de ter um chefe. Foi primeiro eleito um juiz do povo; porém, acerca da escolha do novo governo variaram muito os pareceres, filhos alguns das ambições pessoais; como às vezes sucede entre certos políticos, aos quais tanto cega a paixão, que julgam bem da pátria o que é apenas satisfação dos seus interesses. (VANHAGEM, op. cit.: 316). Como consequência das disputas de poder administrativo aparece um outro fator característico e determinante do perfil do senhor de engenho pernambucano do início do Século XVIII: o patriarcalismo. Percebe-se uma personalidade criada de forma fragmentada que surge a partir de uma tripartição da mentalidade do senhor de engenho onde ocorre harmonia e, ao mesmo tempo, rivalidade em meio a três estados distintos que se integram em prol de interesses comuns. Cria-se o perfeito arquétipo de Cérbero, formando assim a trilogia: estamento, patrimonialismo e patriarcalismo. Sobre o patriarcalismo, Rubens Goyatá Campante esclarece: a dominação tradicional subdivide-se em patrimonial e feudal. A dominação patrimonial tem sua legitimidade baseada em uma autoridade sacralizada por existir desde tempos antigos, longínquos. Seu arquétipo é a autoridade patriarcal. Por se espelhar no poder atávico, e, ao mesmo tempo, arbitrário e compassivo do patriarca, manifesta-se de modo pessoal e instável, sujeita aos caprichos e à subjetividade do dominador. A comunidade política, expandindo-se a partir da comunidade doméstica, toma desta, por analogia, as formas e, sobretudo, o espírito de "piedade" a unir dominantes e dominados. (CAMPANTE, op. cit.). Nesse prisma, pode-se observar o senhor de engenho legitimando seu poder sob um patrimonialismo que resgata os valores patriarcais das antigas famílias dos proprietários de terra de Pernambuco, perpetuando a hegemonia do “senhor” através das gerações. O legado do senhor de engenho é uma herança tradicional de uma ascendência patriarcal de natureza orgânica. Ocorreram diversas insurreições e tanto Olinda quanto Recife depauperavam-se em conflitos frequentes - o que agravava o quadro político, econômico e social. Mas, deve-se ressaltar que pelos fatores tradicionalistas que formavam este “Cérbero” (senhor de engenho), os mascates não pareciam tão homogêneos quanto os senhores da terra e necessitavam de medidas que os resguardassem das investidas olindenses como, por exemplo, o apoio da Coroa Portuguesa. Os mascates também procuraram reforçar sua administração e optaram pelo critério de confiabilidade, baseado em relações de dependência do administrador com a elite recifense, criando um comprometimento arbitrário: Os do Recife obrigaram o bispo a expedir uma circular a todos os povos da capitania desculpando a insurreição, contando como Bernardo Vieira, causa dela, ficava preso, recomendando a paz, prometendo 20 esquecimento do passado, e ordenando que não impedissem a vinda de mantimentos para a praça. – Essa circular assinou o bispo no dia que se devia passar para estes; e assim o efectuou, embarcando-se no dia 21, em um escaler, com o ouvidor, e reassumindo logo aí as funções de governador. Passou a intimar aos do Recife que lhe prestassem obediência: resistiram, porém, estes, proclamando seu mandante o capitão João da Mota, que se preparou para se opor qualquer ataque. (VANHAGEM, op. cit.: 318). MOVIMENTOS EMANCIPACIONISTAS São movimentos de contestação ao domínio no Brasil, com desejo de independência, tendo o caráter regional com ideologia de libertação nacional, sofrendo influência estrangeira do Liberalismo e suas manifestações. Como exemplo tem-se: - A Inconfidência Mineira
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