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2 
 
HISTÓRIA 
Professor Alcidélio Camelo 
 
A PRÉ-HISTÓRIA PERNAMBUCANA 
 
Apesar do árduo trabalho levado a cabo 
pelos arqueólogos, em especial da UFPE, da UNICAP 
e da UNIVASF em Pernambuco, um abismo de 
incompreensão ainda turva o que se sabe sobre 
período pré-duartino, isto é, anterior à chegada do 
donatário Duarte Coelho para tomar posse de sua 
Capitania, em 1535. 
 A própria origem de nossos mais remotos 
ancestrais ainda não pôde ser satisfatoriamente 
esclarecida, com a tradicional teoria sobre a 
migração glacial via Estreito de Behring, há cerca de 
12 mil anos, caindo por terra ante os novos indícios, 
encontrados pela pesquisadora Niède Guidon na 
Toca do Boqueirão (Serra da Capivara, Piauí), de que 
os paleoíndios possam ter aqui chegado há pelo 
menos 50 mil anos pela via marítima, após cruzarem 
o Pacífico. 
 
 
 
 A datação das cinzas desenterradas em São 
Raimundo Nonato, mediante a inquestionável 
técnica do carbono 14, atribuiu-lhes 48 mil anos de 
idade, mas sobre elas paira a tese de que, ao invés de 
reportarem a fogueiras feitas por caçadores 
primitivos, correspondem a resquícios de queimadas 
naturais. 
 
Tesouros de giz na Chapada do Araripe 
 O palco geológico de maior destaque no 
Estado é a Chapada do Araripe, com 8 mil km² de 
superfície e uma altitude média de 600m na divisa 
com o Ceará, consistindo em um dos principais sítios 
do Período Cretáceo do mundo. 
 A região é especial pelos achados geológicos 
e paleontológicos desde os primeiros anos do Século 
XIX, com registros entre 110 e 70 milhões de anos, 
em excepcional estado de preservação e diversidade. 
No Araripe está mais de um terço de todos os 
registros de pterossauros descritos no mundo, mais 
de 20 ordens diferentes de insetos e a única notação 
da interação inseto-planta. 
 Há similares destas mesmas espécies na 
África, vestígio de quando os continentes foram um 
só, formando a primaz Gondwanna (cerca de 36% do 
território brasileiro é constituído por maciços antigos 
que fizeram parte do supercontinente). 
 Os fósseis da "Formação de Santana", um dos 
setores geológicos da Bacia do Araripe mais ricos em 
vestígios de peixes, evidenciam a época em que o 
Sertão era um imenso mar continental, entre 112 e 
99 milhões de anos atrás. 
 Nos diversos sedimentos da Formação são 
encontrados vestígios de peixes, crustáceos, 
tartarugas, rãs, insetos, sáurios da terra e do ar, 
únicos no mundo inteiro, bem como maravilhosas 
plantas. A conservação de partes moles, como a pele 
de vôo de sáurios e seu conteúdo estomacal, não 
encontra paralelo. Além dos sedimentos do 
Cretáceo, também existem depósitos jurássicos mais 
antigos, como troncos fossilizados de árvores. Há 
ainda sítios arqueológicos que atestam uma 
ocupação humana do período neolítico (utensílios de 
pedra, cerâmica, pinturas rupestres, já com 5 a 7 mil 
anos). 
 A região, Pólo Gesseiro do Estado, 
respondendo por 95% da produção de gipsita no 
país, abriga atualmente o único geopark das 
Américas, o Geopark Araripe, aprovado e oficializado 
pela UNESCO em 2006 e formado por uma rede de 9 
parques de proteção e preservação de registros 
geológicos, paleontológicos e paisagens naturais. Lá 
também está o excelente Museu de Palentologia da 
URCA, em Santana do Cariri (CE). 
 A criação do Geopark e do Museu, bem como 
a atuação preventiva e repressiva da Polícia Federal, 
ajudou a inibir o contrabando internacional de 
fósseis nesta que é a maior reserva brasileira do tipo. 
Os “peixeiros”, como são conhecidos aqueles que 
exploram e comercializam clandestinamente os 
vestígios, a preços entre R$ 40 e 1.000 por peça, 
vendem-nos a atravessadores que os distribuem ao 
Primeiro Mundo, razão pela qual apenas 40% dos 
restos arqueológicos descobertos na Chapada 
permanecem no Brasil. Muitos deles estão em 
 
3 
 
museus europeus e são reivindicados pelo Governo 
Federal. 
 
Pré-história e misticismo no Vale do Catimbau 
 Controvérsias à parte, o certo é que há mais 
ou menos 12 mil anos, durante a transição entre os 
períodos Pleistoceno e Holoceno, boa parte do 
território brasileiro já estava ocupado por grupos de 
caçadores e coletores pré-históricos. 
 Tais grupos são divididos pelos arqueólogos 
em tradições, estabelecidas de acordo com os 
resquícios de sua cultura material. À tradição 
Nordeste pertenciam aqueles que possuíam indústria 
lítica refinada e faziam belas pinturas rupestres. 
 Há mais ou menos 7 mil anos atrás, esse 
grupo foi substituído pelas tribos da tradição Agreste, 
que não dominava as artes, exceto a da guerra. É a 
esse período de transição que remonta a presença 
humana mais antiga de que se tem notícia no Parque 
Nacional do Vale do Catimbau, o 2º maior parque 
arqueológico do Brasil, perdendo apenas para a Serra 
da Capivara, no Piauí. Em 1970 foi descoberto um 
esqueleto datando 6.800 anos em um abrigo 
utilizado como cemitério pré-histórico, atualmente 
em exposição no Museu Municipal de Buíque. 
 
 
 Com uma superfície de 90 mil ha, o Vale do 
Catimbau estende-se entre os Municípios de Buíque, 
Ibimirim, Inajá e Tupanatinga, fazendo fronteira com 
a reserva indígena federal Kapinawá, localizada na 
serra da Mina e onde vivem cerca de 400 índios. 
 Primeiro Parque Nacional terrestre de 
Pernambuco e uma das oito unidades federais de 
conservação que preservam o bioma da Caatinga, é 
cortado por dezenas de trilhas que revelam 
elementos naturais exóticos e surpreendentes, em 
razão dos quais sempre esteve associado ao místico e 
ao sobrenatural. 
 Suas formações geológicas constituem um 
verdadeiro espetáculo visual, com composições 
areníticas oscilando entre 50 colorações, as quais 
datam de mais de 100 milhões de anos, e rochas 
cujos formatos sugerem a silhueta de animais, 
pessoas e construções, como a Pedra do Cachorro, a 
do Elefante (próxima à reserva indígena) e a Serra 
das Torres. Na Vila do Catimbau, a Associação dos 
Guias disponibiliza profissionais aptos a acompanhar 
e orientar os visitantes durante o passeio. 
 Segundo pesquisadores da UFPE, os antigos 
habitantes do lugar eram grupos caçadores-coletores 
do Período Holoceno que não apresentavam domínio 
da cerâmica e moravam em cavernas (tanto é que, 
das cerca de 200 grutas e cavernas existentes no 
Vale, pelo menos 28 guardam vestígios de 
sepultamentos). 
 Dos 23 sítios arqueológicos com grafismos 
rupestres já catalogados pelo IPHAN no Parque, o 
maior e mais importante é o Alcobaça, situado em 
um paredão rochoso com configuração de anfiteatro. 
Lá foram encontradas pinturas rupestres em um 
painel de 60m, ocupando uma área de 50m de 
extensão com largura variando entre 2 e 3m. Já a 
pedra da Concha apresenta um painel de 2,3m por 
1,5m, albergando inscrições com figuras humanas, 
animais e desenhos geométricos em tons ocre. 
 São imagens isoladas que não compõem 
cenas, com predominância da tradição Agreste. 
Acredita-se que foram utilizados nas pinturas 
pigmentos metálicos e não metálicos misturados a 
pigmentos orgânicos, como genipapo e urucum. 
 
Cemitérios arqueológicos na Furna do Estrago 
 Escavada pelos arqueólogos da UNICAP, a 
Furna do Estrago, abrigo sob rocha localizado no 
Município de Brejo da Madre de Deus, é um dos mais 
importantes sítios arqueológicos do Brasil. 
 Formado pelo desabamento de um grande 
bloco de rocha granítica no sopé da Serra da Boa 
Vista durante as glaciações, o abrigo foi preenchido 
por blocos de rocha e sedimentos soltos pelo 
intemperismo físico, transportados em violentas 
precipitações torrenciais. Constituído por um único 
salão de 125m² de área coberta, com abertura 
voltada para nordeste, o abrigo é bastante arejado, 
seco e iluminado, e diante dele se estende um 
patamar delimitado por grandes blocos de rocha 
granítica, alguns contendo arte rupestre. 
 Da sucessiva utilização do sítio como 
habitação por grupos caçadores-coletores numa 
sequência temporal de aproximadamente 10 mil 
anos, resultou uma estratigrafia em que predominam 
 
4 
 
aslentes de fogueiras superpostas, formando 
pacotes de cinzas, e sedimentos finos, soltos, secos, 
de cor parda, contendo restos alimentares e toscos 
artefatos de pedra e osso. 
 Há cerca de 2 mil anos, a Furna passou a ser 
utilizada como cemitério. Os depósitos feitos pelo 
homem desde o início do Holoceno foram 
intensamente perturbados com a abertura de 
dezenas de fossas funerárias. 
 Apenas uma área próxima do fundo do 
abrigo permaneceu intacta e foi tomada para 
estudos. Da ocupação do sítio como cemitério 
resgataram-se 83 esqueletos humanos encontrados 
em bom estado de conservação. As condições 
ambientais favoreceram a rápida desidratação da 
matéria orgânica e a preservação da pele, dos 
cabelos e do cérebro em alguns indivíduos, bem 
como do artesanato em palha utilizado no ritual 
funerário. 
 É de notar a persistência de um padrão de 
sepultamento em que os corpos eram colocados na 
posição fletida (fetal), amarrados com cipós e 
embrulhados em esteiras de folhas de palmeira, 
compondo verdadeiros fardos funerários. Os recém-
nascidos eram depositados em pequenos cestos ou 
em espatas de palmeiras e não levavam adornos, ao 
passo que os adultos estavam acompanhados de 
colares e alguns levavam flautas ósseas e tacapes. 
 Estudos de antropologia biológica realizados 
sobre esses esqueletos revelaram tratar-se de uma 
população homogeneamente braquicéfala, de 
estatura média-baixa, robusta, com estado de 
nutrição satisfatório e boa adaptação às condições 
ambientais. 
 O acentuado desgaste plano dos dentes e a 
ocorrência de poucas cáries nesses indivíduos 
indicam uma alimentação à base de vegetais não 
cozidos, característica observada em grupos 
caçadores coletores. 
 Esse grupo humano pré-histórico era 
portador de patologias como a espinha bífida oculta, 
atribuída ao consumo de batatas tóxicas, variação 
numérica das vértebras (presença de uma vértebra a 
mais no sacro e na região lombar), consequência de 
casamentos consanguíneos, osteofitose e artrose, 
além de fraturas frequentes decorrentes de quedas 
sobre a bacia e os pés. Boa parte do material 
resgatado na Furna, bem como artefatos em 
cerâmica, fragmentos de pinturas rupestres e 
material lítico, encontram-se em exposição nos 
Museus Histórico do Brejo da Madre de Deus e de 
Arqueologia da UNICAP, no Recife. 
 As sociedades indígenas da Pré-história 
Pernambucana 
 Quando, em 1500, o português Pedro Álvares 
Cabral aportou na Bahia, praticamente todo o litoral 
brasileiro estava ocupado por tribos do grupo Tupi-
guarani. Havia meio século, Tupinambás e 
Tupiniquins tinham assegurado a posse da costa, 
expulsando para o interior as tribos por eles 
consideradas "bárbaras", chamadas Tapuias. 
 Entre a foz do Rio Paraíba e a Ilha de 
Itamaracá, compreendendo os atuais Litorais Sul da 
Paraíba e Norte de Pernambuco, viviam os Tabajaras, 
em número de 40 mil, os quais se aliaram aos 
portugueses. Já os Caetés, mais ou menos 75 mil 
indivíduos, povoavam a faixa de terra entre a Ilha de 
Itamaracá e as margens do São Francisco, no Litoral 
Sul pernambucano e em todo o alagoano. 
Deglutidores do Bispo Sardinha, foram considerados 
"inimigos da civilização" e exterminados. 
 
 Apesar do grande genocídio em que se 
traduziu a colonização como um todo, 
aproximadamente 25 mil remanescentes dos 
primitivos habitantes de Paranampuka, que em tupi 
significa "o mar que bate nas pedras", ainda habitam 
o Estado, espalhando-se pelo interior e constituindo 
a 4ª maior população indígena do país, atrás apenas 
das do Amazonas, do Mato Grosso e do Pará. 
 De todos os "costumes bárbaros" que 
possuíam os nativos de Pindorama, nenhum se 
revelou mais espantoso e odioso aos olhares 
europeus que o canibalismo. 
 Na Capitania de Pernambuco, o assunto veio 
à tona de maneira impactante. Em 1556, a caravela 
que transportava para a Metrópole o 1º Bispo do 
Brasil, Dom Pero Fernandes Sardinha, naufragou no 
atual Litoral Sul alagoano, e, após mil peripécias, os 
cerca de 100 sobreviventes - crianças, adultos e 
 
5 
 
idosos - que alcançaram a praia foram mortos e 
devorados pelos Caetés, que os aguardavam 
ansiosos. Apenas 1 português e 2 indígenas que 
compreendiam o idioma dos nativos conseguiram 
escapar. 
 O Bispo foi, por assim dizer, o "prato 
principal" do banquete antropofágico, com sua carne 
trucidada sendo servida como uma especialidade. 
Curiosamente, consta que, desde então, o terreno no 
qual caíra o alto prelado da Igreja tornou-se estéril. A 
carnificina resultou na violenta perseguição aos 
Caetés, tradicionais aliados dos franceses e inimigos 
ferrenhos dos lusitanos, e em sua exterminação no 
intervalo de 5 anos. 
 Até hoje, todavia, não há consenso sobre o 
assunto. Para alguns, a animosidade dos Caetés em 
relação aos portugueses era notória desde a 
destruição de sua aldeia Marim pelo donatário 
Duarte Coelho em 1535, lugar no qual viria a ser 
fundada Olinda. 
 Empurrados para o Cabo de Santo Agostinho 
e, dali, cada vez mais para o sul, envolveram-se em 
inúmeras batalhas com os colonizadores lusos. Há 
quem defenda, porém, que a atribuição da 
carnificina aos Caetés foi uma farsa promovida pelos 
3 sobreviventes de modo a motivar a perseguição à 
tribo, senhora das valiosas terras que posteriormente 
serviriam tão bem à próspera empresa açucareira 
nordestina. 
 Assim, a autoria da tragédia envolvendo o 
Bispo recairia sobre os Tupinambás, tradicionais 
habitantes das terras para além da foz do Velho 
Chico. O fato é que o episódio chamou a atenção do 
Velho Mundo para o fenômeno da antropofagia, que 
tinha a vingança como principal objetivo e era 
praticada por quase todos os Tupi e Tapuia, com 
requintes tétricos que disseminaram espanto e 
horror entre os europeus. 
 A nação Tapuia mais importante do interior 
do Nordeste era a Cariri, que contava com 22 
grandes tribos na região e cerca de 20 mil indivíduos. 
 Suas principais ramificações em Pernambuco 
eram os: 
 Xucurus, na Serra do Ararobá (Pesqueira) 
 os Garanhuns, na Serra homônima 
 os Carnijós ou Fulni-ôs, no vale do Rio 
Ipanema (Águas Belas) 
 os Pankararus, na Serra de Tacaratu. 
 Em volta da capela de Nossa Senhora das 
Montanhas (1669), fundada pelos oratorianos na 
Serra do Ararobá, surgiu a povoação de Monte 
Alegre, futura Vila Real de Cimbres (1762). 
 Cimbres foi um lugar de ensino direcionado 
aos índios durante mais ou menos dois séculos, 
contando, inclusive com o famoso "Colégio dos 
Índios do Ararobá", estabelecimento de ensino 
profissional. 
 Com o decorrer dos anos, todavia, a outrora 
garbosa povoação foi entrando em declínio e viu a 
liderança regional passar à vizinha Pesqueira, 
localizada no sopé da Serra e, portanto, muito mais 
acessível. Em 1813, interrompeu-se a assistência aos 
cerca de 245 xucurus que viviam na Vila, já 
considerada muito pobre para seguir alimentando-
os, e remontam daí os principais conflitos com a 
tribo, ainda hoje motivo de instabilidade na região. 
 Em 1879 foi declarado extinto o aldeamento 
de Cimbres, cessando a tutela governamental sobre 
os índios, e suas terras foram entregues à Câmara 
para redistribuição a título de venda ou cessão a 
terceiros. 
 Em retaliação, os nativos começaram a 
atritar-se com aqueles que promoveram o esbulho 
de seus domínios. Num lugar que se orgulha de haver 
surgido voltando-se à proteção dos silvícolas, 
persiste a vergonhosa situação de a demarcação das 
terras daqueles nunca haver sido efetuada. 
 Tal demarcação vem sendo sistematicamente 
pleiteada desde 1980, bem como violentamente 
repreendida pelos cerca de 280 fazendeiros da 
região, havendo resultado em quase 30 mortes, 
dentre as quais a do famoso Cacique Chicão. 
As tribos indígenas atuais 
Hoje em dia, existem legalmente em Pernambuco 7 
grupos indígenas, apesar de serem 10 as etnias 
remanescentes dos Cariris. As 7 são: 
 os Xucurus (Pesqueira) 
 os Fulni-ôs (Águas Belas) 
 os Kapinawás (Buíque) 
 os Pankararus (Petrolândia e Tacaratu), os Kambiwás (Ibimirim, Inajá e Floresta) 
 os Atikuns (Carnaubeira da Penha) 
 Trukás (Cabrobó). 
As outras 3 são os: 
 
6 
 
 Tuxás (Inajá) 
 os Pankarás (Itacuruba) 
 Pipipãs (Floresta). 
 
 
PERÍODO PRÉ-COLONIAL (1500-1530) 
 
A tomada de posse dos portugueses sob os 
territórios coloniais brasileiros foi marcada por uma 
ocupação lenta e gradual. A urgência em obter lucro 
com a exploração mercantilista deixou o Brasil em 
segundo plano nos projetos econômicos do Estado 
Português, na época, bem mais preocupado em 
consolidar pontos comerciais na África e na Ásia. 
Paralelamente, a ausência de metais preciosos ou 
outros produtos de interesse no mercado europeu 
também inviabilizou a exploração imediata do 
território. 
O alto investimento exigido para o 
desenvolvimento de atividades exploratórias e o 
pequeno contingente populacional fizeram com que 
as expedições portuguesas se limitassem à 
investigação dos territórios, a coleta de recursos 
naturais e o combate aos contrabandistas 
estrangeiros. Em 1501, um grupo liderado por Gaspar 
de Lemos nomeou algumas regiões do Rio de Janeiro 
e Bahia, e confirmou a presença de pau-brasil no 
território. 
Dois anos mais tarde, o explorador Gonçalo 
Coelho criou feitorias no litoral fluminense que seriam 
utilizadas no armazenamento das toras de pau-brasil 
a serem transportadas para Europa. Em cada uma 
dessas feitorias havia a figura de um feitor 
responsável por assegurar os domínios da Coroa. 
Seguindo a lógica de exploração mercantil, Portugal 
tinha monopólio sob a exploração de pau-brasil. 
Somente uma pequena parcela de exploradores, 
como Fernando de Noronha, tinha concessão da 
Coroa para exploração. 
As populações indígenas foram utilizadas 
como mão-de-obra na extração do pau-brasil em 
troca de pequenas armas e mercadorias. Nesse 
primeiro momento, a parceria entre os colonizadores 
e indígenas era marcada por uma relação mais 
próxima e amigável. Contudo, na medida em que os 
colonizadores portugueses adentraram o território, 
encontraram outras populações nativas que lutavam 
contra a invasão promovida pelos europeus. 
Passadas as primeiras três décadas da 
incipiente colonização lusitana, o interesse de 
navegadores de outros países europeus ameaçava os 
domínios de Portugal no Atlântico Sul. Em 1526, o rei 
dom João III ordenou o envio de expedições punitivas 
incumbidas da missão de expulsar as embarcações e 
contrabandistas estrangeiros. A missão comandada 
pelo navegador Cristóvão Jacques afundou uma 
embarcação francesa e perseguiu vários de seus 
tripulantes. 
Nessa mesma época, a crise do comércio com 
os povos do Oriente acabou contribuindo para a 
ocupação efetiva das terras brasileiras. Com isso, em 
uma atitude completamente pioneira, o governo de 
Portugal decidiu destinar recursos, maquinário e mão-
de-obra para o desenvolvimento de atividades que 
gerassem lucro e ocupassem a colônia. Em 1530, 
Martim Afonso de Souza foi enviado com o objetivo 
de iniciar as primeiras atividades de exploração. 
Entre outras tarefas, a expedição de Martim 
Afonso deveria percorrer o litoral e o interior em 
busca de metais preciosos; formar novos núcleos de 
povoamento; realizar a expulsão das expedições 
estrangeiras que aqui estivessem e estabelecer locais 
de exploração próximos às regiões do Rio da Prata. 
Chegando aqui, Martim Afonso formou dois grupos 
destinados para o norte e o sul do território. Em 1532, 
criou a vila de São Vicente, primeiro núcleo que deu 
origem à cidade de São Paulo. 
Com o declínio do comércio oriental, a 
preocupação portuguesa com a vinda dos franceses, a 
ausência de povoados e a ambição por metais 
preciosos tem-se a primeira expedição colonizadora, 
chefiada por Martim Afonso de Sousa, em 1530. Cabe 
a ele a fundação da primeira vila, São Vicente, em 
1532 e o início da distribuição de sesmarias (lotes de 
terras) aos que se dispusessem a cultivá-las. 
 
HISTÓRIA DOS ÍNDIOS DE PERNAMBUCO 
 
A história dos povos indígenas de Pernambuco, 
como a dos demais índios brasileiros, é tarefa ainda a 
ser realizada. Ao pesquisador se oferecem, como 
ponto de partida, as dificuldades provocadas pelo fato 
de que nossos índios não tinham uma linguagem 
escrita, e que na história do Brasil os personagens 
indígenas aparecem como o quase animal a ser 
domado ou exterminado, e não como um semelhante 
que merecesse do europeu conquistador um 
tratamento semelhante ao dispensado pelos 
historiadores e antropólogos modernos. 
Assim, é na história da formação da sociedade 
brasileira que estão escritos, de forma nem sempre 
precisa, os poucos dados existentes da história 
indígena, e do processo que significou a quase 
extinção dos habitantes originais deste país. 
 
7 
 
Se por um lado, a sociedade brasileira assimilou, 
além da contribuição à sua formação étnica, usos e 
costumes indígenas, por outro, não lhe foi ensinado a 
valorizar a participação do elemento indígena na 
alimentação, no português aqui falado, na habitação 
pobre de milhões de brasileiros que vivem em casa de 
taipa, nos utensílios usados, etc. deixou-se de 
aprender que nomes como Gravatá, Caruaru e 
Garanhuns, para citar apenas alguns municípios de 
Pernambuco, assim como até mesmo bairros do 
Recife, como Parnamirim e Capunga, estão associados 
a antigos locais de moradia dos índios. Esta mesma 
contradição é encontrada no estudo da colonização 
portuguesa em terras pernambucanas que encerra 
por um lado aspectos de esforço e tenacidade por 
parte dos portugueses e apresenta ao mesmo tempo 
exemplo lastimável e brutal de extermínio do 
elemento indígena. 
Como em outras regiões do Brasil, a ocupação do 
território pernambucano se iniciou pela costa, nas 
terras apropriadas ao desenvolvimento da 
agroindústria do açúcar, empreendimento em cujo o 
início o indígena servia de braço escravo nos 
engenhos e no trabalho das lavouras principalmente 
nos estabelecimentos que não comportavam o 
dispêndio de capital exigido pelo elemento africano. 
Marcando o fim de um primeiro período de 
povoação caracterizado por aparente tranquilidade, a 
reação dos indígenas a tal regime de trabalho e 
exploração, cedo se fez sentir na forma de 
hostilidades, assaltos, devastações de engenhos e 
propriedades, promovidos principalmente pelos 
Caetés, temíveis ocupantes da costa de Pernambuco, 
e, posteriormente também pelos Potyguaras que 
habitavam no extremo norte de Pernambuco e pelos 
Tabajaras, estes antigos aliados dos portugueses. 
A ação violenta dos portugueses foi redobrada 
quando foi morto o primeiro bispo do Brasil, 
acontecimento que motivou a resolução régia 
estabelecendo escravidão perpétua aos Caetés. na 
prática, tal medida se estendeu a todos os demais 
indígenas do litoral e deu caráter legal ao regime 
primário de esbulho, escravidão e morte instituído 
pelos chamados nobres que aqui se instalaram. 
Desde então, a guerra contra os indígenas tomou 
caráter sistemático, atenuada apenas quando da 
aliança de muitas tribos com os franceses e os 
holandeses que disputavam aos portugueses o 
domínio da terra, exceto nessas ocasiões, restou aos 
índios sobreviventes o recurso de emigrar para mais 
longe da costa. 
A prosperidade do empreendimento colonial, 
entretanto, dependia enormemente do gado que, 
além de produto básico de alimentação servia como 
agente motor e meio de transporte, dando origem à 
primeira fase de expansão da pecuária que se 
transformaria rapidamente na forma mais 
generalizada de ocupação das terras do interior 
nordestino. 
No litoral, a agricultura e a criação de gado 
mostraram-se desde cedo incompatíveis, e, em 
defesa das plantações, promoveu-se a retirada dos 
currais para o interior, distante dos engenhos, dos 
canaviais e dos mandiocais. 
Nos fins do século XVIII, vastas extensões do 
médio São Francisco estavam ocupadas, e o 
estabelecimento de currais se faria também em 
direção ao norte, ao longo do vale do Rio Pajeú, 
atravessando Pernambuco e, em seguida a Paraíba,o 
rio grande do norte, e a oeste, o Piauí. Iniciou-se 
também nas novas áreas ocupadas a distribuição da 
sesmarias para as quais eram atraídas vastas 
populações para fundar os currais. 
As relações entre criadores e indígenas eram bem 
menos hostis que entre estes e os senhores de 
engenho, os grupos mais acessíveis ao convívio com 
os novos donos da terra e ao trabalho mais ameno 
nas fazendas de criação permitiu a aliança entre 
brancos e índios embora isto não impedisse que 
várias guerras fossem necessárias para expulsar ou 
exterminar as muitas tribos que se opuseram 
tenazmente à invasão do seu território, para reforçar 
a ação dos criadores contra as nações rebeldes, 
convocaram-se inclusive os serviços dos paulistas, 
experientes exterminadores de índios, muitos dos 
quais permaneceram como povoadores das terras 
que foram desocupadas. 
A sobrevivência das tribos que não procuravam 
refúgio em locais remotos, era possível apenas 
quando a serviço dos interesses dos criadores contra 
outros proprietários ou mesmo contra outros povos 
indígenas, e não assegurou às tribos aliadas a posse 
de suas terras. 
Nos dois primeiros séculos da colônia, as missões 
religiosas foram à única forma de proteção de que 
dispunham os índios. Após a expulsão dos jesuítas em 
1759, os aldeamentos por eles criados, e de cujo 
início quase nada se sabe, permaneceram sob a 
orientação de outros religiosos e foram 
posteriormente entregues a órgãos especiais. 
Entretanto, o trabalho desempenhado pelas juntas de 
missões e pelos governadores de índios e as atenções 
dispensadas aos primitivos habitantes do nordeste 
durante o império em nada contribuíram para 
impedir as explorações e injustiças de que 
continuaram sendo alvo as tribos que conseguiram 
alcançar o século XIX. 
 
8 
 
Das nações que originalmente povoaram o 
estado, salvo poucos sobreviventes, quase além dos 
nomes daquelas aldeadas por missionários religiosos 
está registrado na história de Pernambuco. 
Embora a atividade missionária se tivesse iniciado 
desde o século XVI, até os fins do século seguinte 
apenas sobre cerca de vinte aldeamentos existem 
referências, destes, os cinco mais ou menos 
localizados são: o de são Miguel ou serigi, fundado em 
1591 em terras do atual município de Paudalho, um 
aldeamento Caeté em Ipojuca, o aldeamento de são 
Miguel de Iguna e dois no Recife, um na estrada do 
Parnamirim e outro na localidade de Salinas, no atual 
bairro de Santo Amaro. 
Nos séculos XVIII e XIV uma quantidade 
indeterminada de índios foi aldeada sem, 
aparentemente, nenhum registro dos seus locais de 
procedência, são os aldeamentos: dos índios 
Garanhuns, próximo à cidade de mesmo nome, dos 
Carapotó ou Carnijó ou Fulni-ô, em Águas Belas, dos 
Xukuru, em Cimbres, na Serra do Ororubá, dos Porcás, 
em Nossa Senhora do Ó, a aldeia dos Paratiós, 
próxima de Cimbres, diversas aldeias dos índios Argus 
que se espalhavam desde a serra do limoeiro na atual 
cidade de mesmo nome, a aldeia de Arataqui na 
Freguesia de Tacoara, a aldeia de Barreiros ou do 
Umã, a aldeia de Escada, o aldeamento terras do rei, 
em Altinho, a aldeia da tribo Arapoá-assu nas ribeiras 
dos rios Jaboatão e Gurjaú, a aldeia do Brejo dos 
Padres, de índios Pankaru ou Pankararu, e finalmente 
aldeamentos em Taquaritinga, Brejo da Madre de 
Deus, Caruaru e Gravatá. 
Ainda no século XIX, duas áreas do estado se 
destacavam pelo grande número de aldeamentos 
encontrados: a região do atual município de Floresta 
e diversas ilhas do rio São Francisco. Estas foram 
exatamente as primeiras áreas interioranas que mais 
sofreram com o processo de despovoamento 
decorrente da expansão pastoril no nordeste, e se 
constituíam o habitat natural das tribos que ali 
permaneceram sob a proteção missionária. 
Na primeira encontram-se os índios Umãs e 
Vouvês no Olho d’água da Gameleira, em Cabrobó, os 
índios Pi-pi-pã e Avis num local indeterminado entre 
os rios Moxotó e Pajeú e a Serra do Periquito, os 
índios Xocó nas cabeceiras dos rios Piancó e Terra 
Nova, o aldeamento da baixa verde composto de 
índios Vouvês, Carateus, Umãs e Pipães e a Serra 
Negra, local que durante muitos anos serviu de 
refúgio a inúmeras tribos não identificadas e 
perseguidas por fazendeiros das vizinhanças. 
No rio São Francisco, as aldeias localizadas são as 
de Nossa Senhora da Conceição, na Ilha do Pambu, de 
São Félix, de índios Tuxá na ilha do Cavalo, a de são 
Francisco, de índios Aracapás, a de santo Antônio, na 
ilha irapuã, a de N.S.ª da piedade, na ilha do 
Inhamum, a de N. Senhora do Pilar, de índios 
Tamaquéus, a de Santa Maria, em três ilhas contíguas 
no município de Boa Vista e a de Assunção, na ilha de 
mesmo nome, no município de Cabrobó. 
O levantamento é incompleto e calcado apenas 
parte de fontes ainda a serem extensivamente 
exploradas, esta informação torna-se particularmente 
significativa ao se considerar que, segundo relatório 
do governo da província de Pernambuco publicado 
em 1873, dos aldeamentos acima citados restavam 
apenas 07 na segunda metade do século passado: o 
de escada, o do riacho do mato, o de barreiros, o de 
cimbres, o de Águas Belas, o do brejo dos padres e o 
da ilha de assunção desaparecimento de tantas tribos 
é explicado pelas diversas formas de alienação de 
terras indígenas postas em prática no nordeste, ou da 
resolução do governo em determinada época de 
extinguir os aldeamentos existentes. destas últimas 7 
aldeias algumas não alcançaram nossos dias; os povos 
que compõem as restantes, os Xucuru, os Fulni-ô, os 
Pankararu e os Truká, foram acrescidos os Atikum, os 
kambiwá e os kapinawá, identificados mais 
recentemente, como grupos indígenas ainda 
existentes em Pernambuco. 
 
 SISTEMA COLONIAL NO BRASIL 
 
 A constituição do Sistema Colonial no Brasil, 
como no restante da América, é um desdobramento 
da implantação de uma ordem capitalista na Europa 
Ocidental. 
 No caso brasileiro, o interesse da metrópole é 
mais intenso pela cana e pelo ouro, devido à 
valorização desses produtos no mercado externo e à 
crescente situação de dificuldades financeiras e 
econômicas de Portugal. 
 Vê-se, aqui, o Colonialismo tradicional, baseado 
no monopólio (Pacto Colonial) e na escravidão negra, 
com uma organização política marcada por um grau 
cada vez mais elevado de centralização, em Lisboa. 
 Destaca-se também a ação dos jesuítas 
católicos no trabalho de catequização (submissão) dos 
nativos e imposição dos padrões culturais europeus à 
terra. 
 Apesar de tudo, a acumulação de capitais em 
Portugal não permite um desenvolvimento estrutural 
da metrópole, o que leva à dependência com a 
Inglaterra. As necessidades portuguesas refletem-se 
no Brasil, onde o fiscalismo e a tributação chegam a 
níveis insuportáveis, sobretudo no século XVIII, época 
da mineração, levando a exploração da Colônia ao 
grau máximo. Essa situação provoca o 
 
9 
 
questionamento da própria existência do sistema 
colonial, por parte da população brasileira. 
 
CAPITANIA DE PERNAMBUCO 
 
 A Capitania de Pernambuco foi uma das 
subdivisões do território brasileiro no período 
colonial. Abrangia os territórios dos atuais estados de 
Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte, 
Ceará e a porção ocidental da Bahia (a oeste do Rio 
São Francisco) possuindo, deste modo, fronteira ao 
sul com Minas Gerais. 
À época do Brasil Colônia, as únicas capitanias que 
prosperaram foram esta de Pernambuco e a de 
Capitania de São Vicente, graças ao cultivo de cana-
de-açúcar. 
 
De acordo com a Carta de Doação passada 
por D. João III a 10 de março de 1534, o capitão 
donatário de Pernambuco foi Duarte Coelho Pereira, 
fidalgo que se destacara nas campanhas portuguesas 
na Índia. A capitania se estendia entre o rio São 
Francisco e o rio Igaraçu, compreendendo: 
 
"Sessenta léguas de terra (…) as quais começarão no 
rio São Francisco (…) e acabarão no rio que cerca em 
redondo toda a Ilha de Itamaracá, ao qual ora 
novamenteponho nome rio *de+ Santa Cruz (…) e 
ficará com o dito Duarte Coelho a terra da banda Sul, 
e o dito rio onde Cristóvão Jacques fez a primeira casa 
de minha feitoria e a cinquenta passos da dita casa da 
feitoria pelo rio adentro ao longo da praia se porá um 
padrão de minhas armas, e do dito padrão se lançará 
uma linha ao Oeste pela terra firme adentro e a terra 
da dita linha para o Sul será do dito Duarte Coelho, e 
do dito padrão pelo rio abaixo para a barra e mar, 
ficará assim mesmo com ele Duarte Coelho a metade 
do dito rio de Santa Cruz para a banda do Sul e assim 
entrará na dita terra e demarcação dela todo o dito 
Rio de São Francisco e a metade do Rio de Santa Cruz 
pela demarcação sobredita, pelos quais rios ele dará 
serventia aos vizinhos dele, de uma parte e da outra, 
e havendo na fronteira da dita demarcação algumas 
ilhas, hei por bem que sejam do dito Duarte Coelho, e 
anexar a esta sua capitania sendo as tais ilhas até dez 
léguas ao mar na frontaria da dita demarcação pela 
linha Leste, a qual linha se estenderá do meio da 
barra do dito Rio de Santa Cruz, cortando de largo ao 
longo da costa, e entrarão na mesma largura pelo 
sertão e terra firme adentro, tanto, quanto poderem 
entrar e for de minha conquista. (…)." (Carta de 
Doação) 
 
 
As Primeiras Capitanias Hereditárias 
 
 
 
A metade da barra Sul do canal de Itamaracá, 
que o soberano denominou de "rio" de Santa Cruz, 
até 50 passos além do local onde existira a primitiva 
feitoria de Cristóvão Jacques, demarcava o limite 
Norte; ao Sul, o limite da capitania era o rio São 
Francisco, em toda sua largura e extensão, incluindo 
todas suas ilhas da foz até sua nascente. O território 
da capitania infletia para o Sudoeste, a acompanhar o 
curso do rio, alcançando suas nascentes no atual 
Estado de Minas Gerais. Ao Norte, o soberano 
estabelecia o traçado de uma linha para o Oeste, terra 
adentro, até os limites da conquista, definidos pelo 
Tratado de Tordesilhas ou seja, as terras situadas 
além das 370 léguas ao oeste das ilhas do Cabo 
Verde. As fronteiras da capitania abrangiam todo o 
atual Estado de Alagoas e terminavam ao Sul, no rio 
São Francisco, fazendo fronteira com o atual Estado 
de Minas Gerais. Graças à posse deste importante rio, 
em toda sua extensão e largura, Pernambuco crescia 
na orientação Sudoeste, ultrapassando em largura em 
muito as 60 léguas estabelecidas na carta de doação. 
Na observação de Francisco Adolfo de Varnhagen 
possuía a capitania 12 mil léguas quadradas, 
constituindo-se na maior área territorial entre todas 
que o rei distribuiu. 
Ao receber a doação, Duarte Coelho Pereira 
partiu para o Brasil com a esposa, filhos e muitos 
parentes. Ao chegar ao seu lote, fixou-se numa bela 
colina, construindo uma fortificação (o Castelo de 
Duarte Pereira), uma capela e moradias para si e para 
os colonos: seria o embrião de Olinda, constituída vila 
em 1537. Pioneiros na terra foram o seu próprio 
engenho, o do Salvador, e o do seu cunhado, o de 
Beberibe. 
 
10 
 
Tudo estava por fazer e o donatário organizou 
o tombamento de terras, a distribuição de justiça, o 
registro civil, a defesa contra os índios Caetés e 
Tabajaras. Ao falecer, em Lisboa, em 1554, legou aos 
filhos uma capitania florescente. O seu cunhado, 
Jerônimo de Albuquerque, em correspondência com a 
Coroa, pedia autorização para importar escravos 
africanos. 
Em Olinda, sede administrativa da capitania, 
se instalaram as autoridades civis e eclesiásticas, o 
Colégio dos Jesuítas, os principais conventos e o 
pequeno cais do Varadouro. Em fins do século XVI, 
cerca de 700 famílias ali residiam, sem contar os que 
que viviam nos engenhos, que abrigavam de 20 a 30 
moradores livres. O pequeno porto de Olinda era 
pouco significativo, sem profundidade para receber as 
grandes embarcações que cruzavam o Oceano 
Atlântico. Por sua vez, Recife, povoado chamado pelo 
primeiro donatário de "Arrecife dos navios", segundo 
a Carta de Foral passada a 12 de março de 1537, veio 
a ser o porto principal da capitania. 
 
O ENGENHO, O CANAVIAL E SUA ESTRUTURA 
 
 A casa-grande foi casa de morada, vivenda ou 
residência do senhorio nas propriedades rurais do 
Brasil colônia a partir do século XVI. Tudo no engenho 
girava em torno da casa-grande, sendo ela uma 
espécie de centro de organização social, política e 
econômica local. No Brasil colonial, a casa-grande era 
estrategicamente construída próxima ao engenho 
propriamente dito (fábrica), a senzala, a casa de 
farinha e a capela. 
 
Alguns sociólogos acreditam que a 
distribuição espacial das construções nos engenhos 
possibilitava maior convivência entre as diferentes 
classes sociais, o que teria tornado a experiência da 
colonização brasileira diferente de outras. 
 
 Naquela época, o poder e a riqueza dos donos 
de engenhos eram demonstrados através de luxuosas 
vestimentas e do grande número de escravos que 
possuíam. Havia uma preocupação maior com a 
aparência do que com a moradia ou a alimentação. As 
casas-grandes dos primeiros engenhos eram 
modestamente mobiliadas. Usavam-se redes e 
colchões para dormir, tamboretes e bancos para 
sentar. Na cozinha, os utensílios eram cerâmicas 
indígenas, objetos de estanho, prata e vidro. 
 
 O colonizador português não reproduziu no 
Brasil o estilo das casas portuguesas, preferindo criar 
uma casa que correspondesse ao ambiente físico 
brasileiro e que, ao mesmo tempo, atendesse as 
necessidades de trabalho e pessoais dos residentes. 
As casas-grandes eram erguidas visando à segurança 
e não à estética. Os donos de engenhos, chamados 
posteriormente de senhores de engenhos, sentiam-se 
inseguros com a possibilidade de ataques dos índios e 
dos negros, já que essas casas representavam o 
poderio feudal brasileiro. O senhor de engenho em 
sua propriedade, tinha poder total sobre a vida de 
seus escravos, empregados e moradores. 
 
Por esse motivo, as casas eram construídas 
com alicerces profundos utilizando óleo de baleia e 
grossas paredes de taipa (barro amassado para 
preencher os espaços criados por uma espécie de 
gradeado de paus, varas ou bambus); pedra e cal; teto 
de palha, sapê ou telhas com o máximo de inclinação 
para servir de proteção contra o sol forte e as chuvas 
tropicais; piso de terra batida ou assoalho; poucas 
portas e janelas e alpendres na frente e dos lados. 
Todavia essas quase fortalezas, feitas para durarem 
séculos, não seriam suficientes para impedir que 
ainda “na terceira ou quarta geração”, começassem a 
desmoronar por falta de conservação. 
 
 Estudiosos em arquitetura consideram 
possível que as casas-grandes tenham assimilado 
elementos típicos das habitações indígenas, como os 
grandes espaços sem divisão, semelhante às ocas 
coletivas. A casa-grande, além de fortaleza, serviu de 
escola, enfermaria, harém, hospedaria, e foi também 
banco, pois dentro de suas paredes ou no chão, 
guardavam-se e enterravam-se dinheiro, joias e ouro. 
Até nas capelas deixavam-se joias enfeitando os 
santos (naquela época os ladrões não se atreviam, 
pelo menos não tanto quanto os de hoje, a entrar nas 
capelas para roubar os santos). 
 
Outra particularidade das casas-grandes era o 
costume de enterrarem seus mortos dentro das 
capelas, que a partir do século XVIII, principalmente 
na Bahia e em Pernambuco, passaram a ser 
construídas como uma espécie de anexo da casa. Em 
algumas havia até um acesso privado para os 
familiares do senhor de engenho. Um exemplo desse 
tipo de construção era a casa-grande do engenho 
Poço Comprido, na Mata Norte de Pernambuco. 
 
 Os santos eram considerados parte da família, 
tanto quanto os familiares mortos. Em muitas casas-
grandes conservavam-se os retratos dos familiares 
mortos no santuário, entre as imagens dos santos. É 
interessante observar que algumas igrejas resistiram 
mais a ação do tempo do que algumas das casas-
 
11 
 
grandes, como foi o caso da capelinha de São Mateus 
do Engenho Massangana,onde Joaquim Nabuco viveu 
oito anos da sua infância. 
 
A preocupação dos senhores de engenhos 
com a segurança foi se dissipando ao longo dos 
séculos XVII e XVIII. Com a chegada da corte 
portuguesa para o Brasil, no início do século XIX, 
começaram as mudanças nas condições gerais das 
casas-grandes. Elas se tornaram maiores e mais 
luxuosas, seus donos passaram a gastar mais dinheiro 
em móveis, objetos de arte, decoração e utensílios 
domésticos. 
 
Nesse período, o material de construção 
também ficou mais diversificado. Além do material já 
existente, passou-se a usar também alvenaria de 
pedras e tijolos nas paredes; madeira recoberta com 
telhas cerâmicas nas coberturas; lajotas de barro e/ou 
assoalhos de madeira nos pisos. Usava-se também um 
tipo de tijolo circular que servia para construção de 
colunas para alpendres de capelas, casas-grandes, 
senzalas e, eventualmente, de fábricas. Tudo 
dependia das condições financeiras do senhor de 
engenho e da disponibilidade de material na região. 
 
 O início do uso da máquina a vapor nos 
engenhos, da Bahia e Pernambuco, em 1815 e 1817, 
respectivamente, promoveu grandes mudanças, 
principalmente quanto ao aumento da produção. 
Todavia, por ser um investimento caro, nem todos os 
senhores de engenho tinham disponibilidade 
financeira para instalar as inovações em suas fábricas. 
Em decorrência disso, muitos engenhos acabaram 
sendo incorporados por outros cujos donos tinham 
maior poder aquisitivo. Assim, um único senhor de 
engenho ou uma única família passou a ser 
proprietário de vários engenhos, através da compra, 
herança ou pelo casamento. O fato é que o número 
de senhores de engenho diminuiu, mas os que 
sobreviveram ficaram mais ricos e poderosos. 
 A riqueza mudou a vida dos senhores de 
engenho e de seus familiares, possibilitando a 
construção de novas casas-grandes e a reforma de 
outras. Nesse período surgiram três tipos de casas de 
engenho: o bangalô, o sobrado neoclássico e o chalé. 
 
A sociedade agrária, patriarcal, escravocrata 
do açúcar passou a ocupar a mais alta classe social da 
época. A imagem de riqueza era evidenciada através 
de bonitas e confortáveis casas, devidamente 
equipadas com móveis em madeira de lei, louça de 
porcelana da melhor qualidade, títulos de nobreza, 
brasões gravados sobre os portais e outros objetos. 
As mulheres passaram a frequentar salões de festas, 
teatros e a viajar para capital da Província. Filhos 
eram mandados para estudar na Europa. 
 
A GUERRA DOS BÁRBAROS 
 
 
A resistência dos nativos e a interiorização da 
colonização 
 
Devido ao avanço das frentes pastoris, com o 
objetivo de expandir a pecuária, a ocupação do Sertão 
se intensificou. Entretanto, chegou o momento que a 
presença indígena se tornou um empecilho e essa a 
essa expansão. As autoridades coloniais utilizaram, 
então, a estratégia de desocupação das terras pela 
eliminação dos nativos que resistissem aos interesses 
colonizadores. 
Os portugueses cobiçavam as grandes 
extensões de terras dos silvícolas e tentavam se 
apossar delas através do extermínio dos nativos, que 
se obrigavam a irem cada vez mais para o interior do 
território. Por outro lado, é bem possível que, 
enquanto ainda se arrastavam as negociações com os 
portugueses, os holandeses tivessem animado o povo 
tarairiu a se rebelar no interior da colônia. 
Provavelmente havia um clima de revanchismo, pois 
os nativos teriam defendido os holandeses e 
deveriam se sentir ameaçados com o avanço dos 
portugueses, que sempre foram seus inimigos. 
 
As tribos não possuíam um comando único que 
todos obedecessem; poderiam se aliar ou lutar 
sozinhas, de acordo com as circunstâncias. Na maioria 
das vezes, tratou-se mais de uma reação contra as 
perseguições dos brancos do que uma guerra com 
objetivos próprios. Os colonos provocavam os nativos 
para que atacassem e, assim, justificariam a guerra 
justa, que levaria à escravização dos nativos 
derrotados. 
 
Era uma forma de expansão sem respeito às 
posses ancestrais dos indígenas, que havia saído de 
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=256&Itemid=184
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=373&Itemid=1
 
12 
 
um período de violência, vilipêndio e rapinagem, 
mergulhou em um conflito contra os indígenas, que, 
no espaço de cinquenta anos, exterminou as tribos do 
território. 
 
Esse conflito ficou supostamente conhecido 
como a “Guerra dos Bárbaros” ou “Confederação dos 
Cariris” e envolveu várias etnias indígenas, no interior 
das capitanias do Nordeste. 
 
Os índios avançaram e, para se defenderem, os 
colonos construíram casas fortes e paliçadas. Em face 
dos pedidos de socorro, o governo-geral do Brasil, 
decidiu requisitar bandeirantes de São Paulo e de São 
Vicente. Os indígenas, além das armas europeias, 
adotaram o uso de cavalos e incendiavam fazendas, 
matavam o gado e os vaqueiros. 
 
A resistência desses nativos foi um elemento 
surpresa e a presença dos bandeirantes, que foram 
eficientes no quilombo de Palmares, não conseguiu 
debelar a revolta. Ao contrário, o conflito dilatou-a 
para outras regiões, provocando a adesão das tribos 
dos anacés, jaguaribaras, acriús, canindés, jenipapos, 
tremembés e dos baiacus, que se mostraram muito 
violentos na defesa de seus direitos. Enquanto isso a 
guerra era alimentada pela ambição de uma parte dos 
colonos, que desejavam as terras que pertenciam aos 
nativos. 
 
Quando Antônio de Albuquerque reassumiu o 
comando da guerra, seu objetivo era exterminar os 
guerreiros indígenas e escravizar mulheres e 
crianças. Por outro lado, Bernardo Vieira, governando 
a capitania na época, habilidosamente atraiu os 
nativos para um acordo de paz. Essa pacificação 
terminou servindo muito bem para os colonos, pois o 
genocídio já havia sido iniciado e os colonos poderiam 
tomar posse das terras. 
 
Os grupos nativos que se submeteram a essa 
pacificação tiveram o direito a uma légua quadrada 
de terra, devidamente demarcada para viver. As 
mulheres trabalhariam na agricultura, enquanto as 
crianças seriam educadas nos moldes cristãos e de 
acordo com os interesses dos dominadores. 
 
A guerra ainda não havia terminado, em 1715, 
quando o governador de Pernambuco determinou 
que se extinguissem ou se afugentassem 
completamente os bárbaros que ainda habitavam os 
sertões nordestinos, entregando o uso da terra para 
os sesmeiros. O que se diz é que, depois de 1720, não 
houve mais registro de sublevação. 
 
SOCIEDADE COLONIAL 
 
Pode-se, de forma esquemática, apresentar um 
paralelo entre as principais sociedades da Colônia, a 
açucareira e a mineratória, como se segue: 
 
 
 
 
 
ESCRAVISMO NEGRO 
 
 Os escravos africanos representam a mão-de-
obra mais numerosa da Colônia. A razão fundamental 
está no extraordinário lucro que o tráfico negreiro 
representa para a Metrópole. 
 
 Muitos negros trazidos para o Brasil já haviam 
passado pela experiência da escravidão na África, 
dominados nas lutas inter-tribais. Aprisionados, são 
trocados por tabaco, cachaça, rapadura, armas, etc. e 
chegam em péssimas condições de transporte, nos 
navios negreiros, onde muitos morrem antes do 
desembarque. 
 
NÃO-ESCRAVIZAÇÃO DO NATIVO 
 
 Um conjunto de fatores leva à não-escravização 
do indígena do Brasil, diferentemente do que ocorre 
na América Espanhola. 
 
 Podem ser mencionados: o caráter nômade e 
livre da vida do nativo, o tipo físico mais fragilizado, a 
dificuldade de captura, além de todas as “vantagens” 
apresentadas pelo tráfico do africano. Além disso, 
deve se destacar a “proteção” dada ao índio pelos 
 
13 
 
padres, que não permitiam a sua escravização, o que, 
paradoxalmente, não vale para o negro. 
 
 Deve-se salientar que a não adaptação do índio 
ao trabalho escravo não pode ser considerado, pois 
ninguém se adapta à escravidão, sendo o negro 
obrigadoa ela. 
 
AÇÃO JESUÍTICA 
 
Os jesuítas tinham a incumbência, na Colônia, de: 
- chefiar as missões – aldeamento de índios; 
- converter os nativos à cultura europeia; 
-controlar a educação, o ensino e a cultura dos índios; 
- submeter o índio à dominação branca. 
 
HISTÓRIA DOS QUILOMBOS 
No período de escravidão no Brasil (séculos 
XVII e XVIII), os negros que conseguiam fugir se 
refugiavam com outros em igual situação em locais 
bem escondidos e fortificados no meio das matas. 
Estes locais eram conhecidos como quilombos. Nestas 
comunidades, eles viviam de acordo com sua cultura 
africana, plantando e produzindo em comunidade. Na 
época colonial, o Brasil chegou a ter centenas destas 
comunidades espalhadas, principalmente, pelos 
atuais estados da Bahia, Pernambuco, Goiás, Mato 
Grosso, Minas Gerais e Alagoas. 
Na ocasião em que Pernambuco foi invadida 
pelos holandeses (1630), muitos dos senhores de 
engenho acabaram por abandonar suas terras. Este 
fato beneficiou a fuga de um grande número de 
escravos. Estes, após fugirem, buscaram abrigo no 
Quilombo dos Palmares, localizado em Alagoas. 
Esse fato propiciou o crescimento do 
Quilombo dos Palmares. No ano de 1670, este já 
abrigava em torno de 50 mil escravos. Estes, também 
conhecidos como quilombolas, costumavam pegar 
alimentos às escondidas das plantações e dos 
engenhos existentes em regiões próximas; situação 
que incomodava os habitantes. 
Esta situação fez com que os quilombolas 
fossem combatidos tanto pelos holandeses (primeiros 
a combatê-los) quanto pelo governo de Pernambuco, 
sendo que este último contou com os serviços do 
bandeirante Domingos Jorge Velho. 
A luta contra os negros de Palmares durou 
por volta de cinco anos; contudo, apesar de todo o 
empenho e determinação dos negros chefiados por 
Zumbi, eles, por fim, foram derrotados. 
Os quilombos representaram uma das formas 
de resistência e combate à escravidão. Rejeitando a 
cruel forma de vida, os negros buscavam a liberdade e 
uma vida com dignidade, resgatando a cultura e a 
forma de viver que deixaram na África e contribuindo 
para a formação da cultura afro-brasileira. 
Comunidades quilombolas na atualidade 
Muitos quilombos, por estarem em locais 
afastados, permaneceram ativos mesmo após a 
abolição da escravatura em 1888. Eles deram origens 
às atuais comunidades quilombolas (quilombos 
remanescentes). Existem atualmente cerca de 1.500 
comunidades quilombolas certificadas pela Fundação 
Palmares, embora as estimativas apontem para a 
existência de cerca de três mil. Grande parte destas 
comunidades está situada em estados das regiões 
Norte e Nordeste. 
Os integrantes das comunidades quilombolas 
possuem fortes laços culturais, mantendo suas 
tradições, práticas religiosas, relação com o trabalho 
na terra e sistemas de organização social próprio. 
DOMÍNIO HOLANDÊS 
 
A batalha de Guararapes, segundo Vítor Meirelles 
 
Nove anos após a expulsão dos franceses, o 
território colonial brasileiro sofreu uma invasão 
holandesa, em 1624. Os motivos que traziam os 
holandeses ao Brasil eram muito diferentes. 
Para compreendê-los, é necessário fazer 
algumas considerações sobre o período em que 
Portugal (União Ibérica) esteve sob o domínio 
espanhol, bem como sobre as relações internacionais 
da Espanha. 
Após ter emergido como potência europeia, a 
Espanha perseguiu o objetivo de unificar toda a 
península ibérica, incorporando Portugal ao seu 
território. Os portugueses resistiram enquanto 
puderam. Mas, no século 16, alguns acontecimentos 
contribuíram para a Espanha concretizar seus 
objetivos. 
Em 1578, o rei dom Sebastião, último 
monarca da dinastia de Avis, morreu e não deixou 
herdeiros. Então, o cardeal dom Henrique, único 
sobrevivente masculino da linhagem de Avis, assumiu 
a regência. Com sua morte, em 1580, o rei da 
Espanha, Felipe 2º; da mesma linhagem familiar, 
 
14 
 
achou-se no direito de ocupar o trono português e 
invadiu Portugal. O domínio espanhol sobre Portugal 
duraria 60 anos, até 1640. 
 
Espanha e Holanda 
 
Contudo, antes disso, Portugal já havia 
estabelecido relações comerciais com os ricos 
negociantes holandeses, que passaram a financiar a 
produção açucareira no Brasil e a controlar toda a sua 
comercialização no mercado europeu. Por outro lado, 
no mesmo período, a Espanha pretendia dominar 
todo o território dos Países Baixos, na qual a Holanda 
estava situada, pois a circulação de mercadorias 
naquela região contribuía significativamente para 
abastecer os cofres do tesouro espanhol. 
Não obstante, em 1581, sete províncias do 
Norte dos Países Baixos, incluindo a Holanda, criaram 
a República das Províncias Unidas e passaram a lutar 
por sua autonomia em relação aos espanhóis. Ao 
incorporar Portugal, aproveitando-se do seu controle 
sobre o Brasil, a Espanha planejou impedir que os 
holandeses continuassem a comercializar o açúcar 
brasileiro. Era uma tentativa de sufocar 
economicamente a Holanda e impedir sua 
independência. 
 
As invasões holandesas 
 
Os holandeses reagiram rapidamente, 
concentrando seus esforços no controle das fontes 
dos produtos que negociavam. Surgiu assim, em 
1602, a Companhia das Índias Orientais. Essa 
empresa, de porte enorme, se apossou dos domínios 
coloniais portugueses no Oriente. Em decorrência dos 
êxitos desse empreendimento, os holandeses 
criaram, em 1621, a Companhia das Índias Ocidentais. 
Esta ficou encarregada de recuperar o controle do 
açúcar brasileiro e monopolizar o seu comércio nos 
mercados europeus. 
Para controlar a produção e comercialização 
do açúcar era necessário ocupar e se apoderar de 
partes do território colonial brasileiro onde ele era 
produzido. Desse modo, contando com uma frota 
composta de 26 navios e 500 canhões, os holandeses 
iniciaram sua primeira invasão do Brasil em 1624. 
Atacaram a cidade de Salvador, na época o centro 
administrativo da colônia. Mas, um ano após terem 
chegado, foram expulsos, sem grandes dificuldades. 
Uma segunda tentativa de invasão se deu em 1630, 
dessa vez em Pernambuco. Os holandeses 
conseguiram conquistar as vilas de Olinda e Recife. 
Houve combates, mas os invasores holandeses 
resistiram e estabeleceram o controle de uma extensa 
parte do litoral brasileiro que ia do Sergipe ao 
Maranhão. A Companhia das Índias Ocidentais 
nomeou um governador para administrar o domínio 
recém conquistado, que ficou conhecido como o 
Brasil-holandês. 
 
 
Maurício de Nassau 
 
Para o cargo de governador, foi nomeado o 
conde João Maurício de Nassau, que chegou ao Recife 
em janeiro de 1637. No período em que governou o 
Brasil-holandês, entre 1637 a 1644, Nassau procurou 
estabelecer uma administração eficiente e um bom 
relacionamento com os senhores de engenho da 
região. Desse modo, foram colocados a disposição 
dos proprietários de engenho recursos financeiros, 
para serem utilizados na compra de escravos e de 
maquinário para o fabrico do açúcar. 
Nassau também criou as Câmaras dos 
Escabinos, que eram órgãos de representação 
municipal, a fim de estimular a participação política 
da população nas decisões de interesse local. Durante 
o governo de Nassau, as vilas de Recife e Olinda 
passaram por um intenso processo de urbanização e 
melhoramentos que mudaram completamente a 
paisagem local. 
Com o fim do domínio espanhol sob Portugal, 
em 1640; o novo rei português, D. João 4º, decidiu 
recuperar o Nordeste brasileiro retirando-o do 
domínio holandês. Esse período coincidiu com o 
descontentamento dos senhores de engenho do 
Nordeste brasileiro diante dos holandeses. Nassau já 
havia partido e, para explorar ao máximo a produção 
do açúcar brasileiro, a Holanda adotou inúmeras 
medidas impopulares, em especial o aumento dos 
impostos, o que contrariava os interesses dos 
proprietários de engenho. 
 
Batalhas contra os holandeses 
 
A luta contra os holandeses no Nordeste 
brasileiro foi iniciada pelos próprios senhores de 
engenho da região e durou cerca de dez anos. Sob 
iniciativa dos senhores,os colonos da região foram 
mobilizados e travaram várias batalhas contra os 
holandeses. As mais importantes foram a de 
Guararapes e Campina de Taborda. 
Mas a expulsão definitiva dos holandeses teve início 
em junho de 1645, em Pernambuco, através da 
eclosão de uma insurreição popular liderada pelo 
paraibano André Vidal de Negreiros, pelo senhor de 
engenho João Fernandes Vieira, pelo índio Felipe 
Camarão e pelo negro Henrique Dias. A chamada 
 
15 
 
Insurreição Pernambucana, chegou ao fim em 1654, 
tendo libertado o Nordeste brasileiro do domínio 
holandês. 
Porém, a expulsão dos holandeses do território 
brasileiro teria um impacto negativo sobre a 
economia colonial. Durante o período em que 
estiveram no Nordeste, os holandeses tomaram 
conhecimento de todo o ciclo da produção do açúcar 
e conseguiram aprimorar os aspectos técnicos e 
organizacionais do empreendimento. Quando foram 
expulsos do Brasil, dirigiram-se para as Antilhas, ilhas 
localizadas na região da América Central. 
 
 
O fim de um ciclo açucareiro 
 
Lá montaram uma grande produção 
açucareira que, em pouco tempo, passou a concorrer 
com o açúcar do Brasil e logo se impôs no mercado 
europeu. Consequentemente, provocou a queda das 
exportações brasileiras. Já na segunda metade do 
século 17, os engenhos brasileiros estavam em 
decadência. 
Era o fim do chamado ciclo da cana-de-açúcar 
na história econômica do Brasil. Restava a Portugal 
encontrar outros meios para explorar 
economicamente a Colônia. Um novo ciclo de 
exploração colonial teria início com a descoberta de 
riquezas minerais como o ouro, a prata e os 
diamantes, na região que ficaria conhecida como a 
das Minas Gerais. 
 
CRISE DO SISTEMA COLONIAL NO BRASIL 
 
 A exemplo do restante da América, o processo 
de emancipação é conduzido pela elite nativa que, 
detentora do poder econômico almeja o poder 
político, no pós-independência. 
 No caso brasileiro existem algumas 
especificidades se comparada ao processo no 
restante da América Latina, como, por exemplo, a 
transferência da Corte Portuguesa para o Brasil. 
 
 Várias são as razões que levam à decadência do 
colonialismo tradicional, dentre elas: 
- A ideologia liberal imposta pela burguesia, 
contestando o Absolutismo e o Mercantilismo; 
- A expansão do capitalismo após a Revolução 
Industrial; 
- A contestação do escravismo pelo capitalismo 
internacional; 
- A ambição política da burguesia colonial; 
- A insatisfação da população colonial com a excessiva 
exploração metropolitana. 
 
 Esses aspectos, típicos do fim do século XVIII e 
início do século XIX se transformam em movimentos 
armados de contestação à dominação política 
metropolitana nas colônias. No Brasil, tais 
movimentos podem ser Nativistas e Coloniais 
(Emancipacionistas). 
 
MOVIMENTOS BRASILEIROS DE CONTESTAÇÃO 
 
MOVIMENTOS NATIVISTAS 
 
 São movimentos de contestação a aspectos do 
domínio português no Brasil, sem desejo de 
emancipação colonial. Têm também por característica 
o caráter local e a não influência estrangeira. 
 Como exemplo tem-se: Aclamação de Amador 
Bueno (SP - 1641); Revolta de Beckman (MA - 1684); 
Revolta dos Emboabas (MG - 1708-09); Revolta dos 
Mascates (PE - 1710) e Sedição de Vila Rica (MG - 
1720). 
 
GUERRA DOS MASCATES – 1710 
 
 
 
A partir de 1654, a expulsão definitiva dos 
holandeses de Pernambuco provocou uma grande 
mudança no cenário econômico daquela região. Os 
grandes produtores de açúcar que anteriormente 
usufruíram dos investimentos holandeses, agora 
viviam uma crise decorrente da baixa do açúcar no 
mercado internacional e a concorrência do açúcar 
produzido nas Antilhas. Contudo, esses senhores de 
engenho ainda possuíam o controle do cenário 
político local por meio do poder exercido na câmara 
municipal de Olinda. 
 
Em contrapartida, Recife – região vizinha e 
politicamente subordinada à Olinda – era considerado 
o principal polo de desenvolvimento econômico de 
Pernambuco. O comércio da cidade trazia grandes 
lucros aos portugueses, que controlavam a atividade 
comercial da região. Essa posição favorável tinha 
 
16 
 
como motivação as diversas melhorias empreendidas 
na cidade com a colonização holandesa, que havia 
transformado a cidade em seu principal centro 
administrativo. 
 
Com o passar do tempo, a divergência da 
situação política e econômica entre os fazendeiros de 
Olinda e os comerciantes portugueses de Recife criou 
uma tensão local. Inicialmente, os senhores de 
engenho de Olinda, vivendo sérias dificuldades para 
investirem no negócio açucareiro, pediram vários 
empréstimos aos comerciantes portugueses de 
Recife. Contudo, a partir da deflagração da crise 
açucareira, muitos dos senhores de engenho 
acabaram não tendo condições de honrar seus 
compromissos. 
 
Nessa mesma época, a complicada situação 
econômica de Olinda somava-se ao completo 
sucateamento da cidade, que sofreu com as guerras 
que expulsaram os holandeses. Com isso, a câmara de 
Olinda decidiu aumentar os impostos de toda a 
região, incluindo Recife, para que fosse possível 
recuperar o centro administrativo pernambucano. 
Inconformados, os comerciantes portugueses, 
pejorativamente chamados de “mascates”, buscaram 
se livrar da dominação política olindense. 
 
Para tanto, os comerciantes de Recife 
conseguiram elevar o seu povoado à categoria de vila, 
tendo dessa maneira o direito a formar uma câmara 
municipal autônoma. A medida deixou os 
latifundiários de Olinda bastante apreensivos, pois 
temiam que dessa forma os comerciantes 
portugueses tivessem meios para exigir o pagamento 
imediato das dívidas que tinham a receber. Dessa 
forma, a definição das fronteiras dos dois municípios 
serviu como estopim para o conflito. 
 
A guerra teve início em 1710, com a vitória 
dos olindenses que conseguiram invadir e controlar a 
nova cidade pernambucana. Logo em seguida, os 
recifenses conseguiram retomar o controle de sua 
cidade em uma reação militar apoiada por 
autoridades políticas de outras capitanias. O 
prolongamento da guerra só foi interrompido no 
momento em que a Coroa Portuguesa indicou, em 
1711, a nomeação de um novo governante que teria 
como principal missão estabelecer um ponto final ao 
conflito. 
 
O escolhido para essa tarefa foi Félix José de 
Mendonça, que apoiou os mascates portugueses e 
estipulou a prisão de todos os latifundiários 
olindenses envolvidos com a guerra. Além disso, 
visando evitar futuros conflitos, o novo governador de 
Pernambuco decidiu transferir semestralmente a 
administração para cada uma das cidades. Dessa 
maneira, não haveria razões para que uma cidade 
fosse politicamente favorecida por Félix José. 
 
DICAS!!! 
 
ECONOMIA PERNAMBUCANA NO SÉCULO XVIII 
 
 Existem divergências quanto à forma de poder 
exercida na América Portuguesa do Séc. XVIII no que 
se refere às formas de governo - levando em 
consideração inúmeros fatores, como a não 
institucionalização estatal no território colonizado, a 
influência exterior do Estado Absolutista Português, 
além de incursões individuais no que se refere a 
sublevações de poder. 
 A primeira parte do presente texto busca 
apresentar e discutir alguns conceitos referentes a 
arte de governar (levando em consideração os que 
mais se adequam a realidade da Colônia) para o 
desenvolvimento, a posteriori, da mentalidade 
política de Pernambuco no início do Séc. XVIII, que é o 
foco do trabalho. Dito isto, os conceitos aqui tratados 
serão estamento, patrimonialismo e patriarcalismo, 
nas definições weberianas dos termos. Porém, uma 
ressalva aqui será feita: nem mesmo Max Weber 
fechou seus conceitos a ponto de torná-los ortodoxos 
e privados de uma dinâmica analítica; portanto, 
pensar em um estamento único e grupos agindo de 
forma idêntica é uma ideia limitada a ponto de ser 
ingênua. 
 
Assim, o conceito de estamento aqui 
empregado será entendido na questão relacionada ao 
status na hierarquia política daadministração da 
Colônia Lusitana. Já os conceitos de patrimonialismo e 
patriarcalismo serão baseados no argumento de 
Rubens Goyatá Campante (cf. CAMPANTE, 2003: 153 
a 193), procurando focar na mentalidade 
conservadora e tradicional que procura legitimar sua 
supremacia através de tais formas de poder. 
 O cenário de estudo aqui abordado possui 
como referência à região de Pernambuco, com 
recorte histórico feito no início do Século XVIII, e o 
objeto de análise aqui apresentado é a mentalidade 
política do senhor de engenho que viveu no período 
nesta região 
 
Diversas obras, como a de Gilberto Freyre 
(1973), mencionam uma espécie de genealogia dos 
senhores de engenho na época da colônia, 
 
17 
 
salientando a adaptabilidade em meio a inúmeras 
adversidades enfrentadas por estes desbravadores e 
um perfil com traços autoritários marcantes. Nesta 
linha de raciocínio, o senhor de engenho conquista 
uma autonomia que em determinados momentos 
chega a preocupar a Coroa Portuguesa, adquirindo 
uma autoridade legitimada pelo seu prestígio. Porém, 
deve ser salientado que este prestígio não se refere a 
meras atribuições honoríficas, mas a imagem de um 
poder que invadia o imaginário popular e 
regimentava-se como status de “senhor da terra”. O 
modelo estamental que se cria com esse status pode 
ser entendido por meio da premissa de Max Weber 
(1974): o círculo que se forma no estamento gera 
uma endogamia, fechando-se e contrapondo-se ao 
próprio governo - no caso a Coroa portuguesa - onde 
o parâmetro que se deseja alcançar seria o status de 
senhor de engenho. 
 
Por outro lado, devido à crise do açúcar no 
Século XVIII, a capital Olinda entra em declínio por 
causa de fatores como o aumento do preço e levantes 
de escravos. Além disso, a sombra que pairava a 
respeito da expulsão dos holandeses ocorrida em 
1654 que favorecia o clima de insegurança somava-se 
a epidemias e inúmeros outros fatores. 
 
Concomitantemente a isso, os mascates 
(comerciantes portugueses que se instalaram em 
Recife), beneficiados pela estruturação urbana feita 
pelos holandeses, enriqueceram com o comércio e 
empréstimo pecuniário em detrimento à endividada 
nobreza olindense (cf. MELLO, 1995). 
 
O poder local dos senhores de engenho rivalizava 
contra esta suposta burguesia mascate favorecida 
pela Coroa Portuguesa. Tal fato ocasionou 
animosidade entre os senhores de engenho e a Coroa 
Lusitana - aquilo que Edvaldo Cabral Mello chama de 
“poder local contra o Estado” - fazendo com que os 
mascates conseguissem apoio da Corte Portuguesa. 
Estes fatores, aliados a questões de ordem política e 
econômica, ao final de tal disputa geraram a 
conhecida Guerra dos Mascates, com a vitória dos 
comerciantes, apoiados pela Coroa Portuguesa devido 
aos interesses econômicos em comum (cf. MELLO, op. 
cit.). 
 
A análise deste trabalho não irá voltar-se para 
as conclusões acima mencionadas, mas é necessário 
apresentá-las para que se possa compreender o 
contexto e elucidar a perspectiva política da época, 
além das relações sociais que permeavam este 
contexto. 
 
Em um primeiro momento observa se a 
ascensão de uma burguesia mascate que ameaçava a 
ordem estamental dos senhores de engenho ao lado 
da economia agrícola que até então dominara, 
desenvolve-se a mobiliária: o comércio e o crédito. E 
com ela surge uma rica burguesia de negociantes, 
que, por seus haveres rapidamente acumulados, 
começa a pôr em xeque a nobreza dos proprietários 
rurais, até então a única classe abastada e, portanto, 
de prestígio da colônia. É por obra dela que as cidades 
do litoral, onde se fixa, se transformam em centros 
populosos e ricos. Recife, que antes da ocupação 
holandesa não passava de um ajustamento de choças 
habitadas quase exclusivamente por humildes 
pescadores, vai ofuscar a capital de Pernambuco, 
Olinda, a cidade da nobreza. (PRADO JR, 1970: 38 e 
39) 
 
Por outro lado, devido à ameaça de cobrança 
das dívidas que os senhores de engenho contraíram 
com empréstimos feitos aos mascates, havia a 
preocupação destes senhores de terra endividados, 
preocupados em se resguardar junto à Coroa 
Portuguesa que por nenhuma dívida, ainda que seja 
da fazenda real, assim que estão contraídas como das 
que ao diante se contraírem, se façam execuções aos 
senhores de engenho lavradores de cana, ou roça em 
nenhuns bens seus assim móveis como de raiz, outros 
de qualquer qualidade que sejam, mas somente nos 
rendimentos se possam executar, e que os açúcares 
se não rematem, por nenhumas dívidas, e o 
receberão pelo preço que sair, pois Sua Majestade o 
manda dar, e isto será sem limitação de tempo e para 
sempre.(Calamidades de Pernambuco – 
Reivindicações feitas por grandes proprietários de 
terras na Guerra dos Mascates, pela qual se deviam 
processar as execuções e cobranças)". (PRADO JR, op. 
cit.: 41). 
 
A Coroa Portuguesa até então não 
apresentava nenhum tipo de hostilidade para com os 
senhores de engenho, que demonstravam, inclusive, 
subordinação efetiva nas imposições do governo, 
criando uma aliança contrabalançada por interesses 
mútuos: até meados do século XVII, a Coroa não 
temia a autonomia dos colonos, seu ímpeto sertanista 
e seus excessos armados. A organização 
administrativa seria suficiente para conter os ânimos 
mais ardentes ou insubordinados. Preocupava-o, ao 
contrário, o estímulo, nos engenhos e latifúndios, do 
aparelhamento militar, com falcões, berços, 
arcabuzes e espingardas, como se lê no regimento de 
Tomé de Sousa. Os senhores de engenho e os 
 
18 
 
moradores se entrosavam na rede de governo, como 
auxiliares e agentes. (FAORO, 1975: 149). 
 O cenário descrito nas passagens acima ilustra 
uma posição desfavorável aos senhores de engenho, 
favorecendo aos mascates e, até então, 
proporcionando uma posição confortável a Coroa 
Lusitana. Mas, é na política que as divergências se 
tornam acirradas. Os senhores de engenho sentem 
sua honra afrontada e o “sagrado estamento” mostra-
se violado pelo elemento invasor denominado 
mascate. Ampliando o problema, os Mercadores do 
Recife conseguem direito à eleição, o que demonstra 
um grave risco a hierarquia até então arregimentada 
pelos senhores de engenho em 1703 alcançam os 
mercadores de Pernambuco o direito de concorrer às 
eleições da Câmara de Olinda. E finalmente, em 1707, 
obtêm a ereção de Recife, onde dominavam pelo 
número, como vimos, à categoria de vila 
independente da capital. No resto do país foi-se 
dando idêntica infiltração da burguesia mercantil na 
administração municipal. (PRADO JR, op. cit.: 42). 
 
A passagem acima demonstra um marco na 
história do Recife (sua elevação à vila), o que a torna 
uma rival direta de Olinda. Contrastava uma 
burguesia embrionária mascate com um 
conservadorismo dos senhores da terra, isso 
porque, em Pernambuco, principalmente desde a 
época dos holandeses, Olinda havia decaído, à 
medida que levantara o Recife, crescendo muito em 
população. Entretanto, essa colônia, a antiga corte do 
príncipe da casa de Orange, de Nassau-Siegen, a 
cidade Maurícia, a praça de guerra e de comércio 
mais importante do Norte do Brasil, no princípio do 
século passado [XVIII], contando já umas oito mil 
almas, nem sequer era vila; e se aí moravam às vezes 
alguns governadores e outras autoridades era por 
abuso: - a capital da capitania era a Olinda de Duarte 
Coelho, habitada pelas principais e mais antigas 
famílias da terra, quando no Recife os habitantes 
eram pela maior parte comerciantes portugueses, de 
humilde nascimento, vindos ali pobres, e agora donos 
ou caixeiros de armazéns de secos e molhados, casas 
de comissão, etc. – Olinda era a cabeça de todo o 
conselho, e estava desde tempos remotos avezada a 
ver os cargos dele exercidos por indivíduos de 
algumas dessas principais famílias. 
 
Como, porém, a tais cargos correspondiam 
votos para certos impostos municipais, que recaíam 
também nos do Recife, quiseram ter nas eleições; e 
desde que a isso se propuseram,fácil era de prever 
que sairiam vencedores, sendo tão superiores em 
número, apesar de uma provisão anterior, de 8 de 
Maio de 1705, que dispunha que na Câmara da 
mesma vila não poderiam servir mercadores, 
entendendo-se por tais os que assistissem em loja 
aberta, medindo, pesando e vendendo ao povo 
qualquer gênero de mercadoria. Ressentiram-se os de 
Olinda, e se queixaram de que forasteiros vindos de 
‘suas terras a tratar dos seus negócios’, conseguisse 
‘ter na alheia o governo da república, o que em 
nenhuma daquelas em que nasceram se consente. 
 
 Para evitar conflitos, resolveu 
prudentemente a corte, depois de algumas hesitações 
e incoerências, declarar o Recife vila independente, 
devendo o juiz de fora de Olinda fazer as audiências 
alternadas nessa vila e na do Recife, segundo se 
praticava em várias terras do Reino, e sendo cometida 
a erecção do pelourinho e a fixação dos limites das 
duas jurisdições ao governador Sebastião de Castro e 
Caldas, e ao ouvidor da capitania Dr. Luís de 
Velenzuela Ortiz. (VANHAGEM, 1970: 314). 
 
Diante do conflito político, ficam evidentes 
características marcantes dos senhores de engenho, 
pois, observa-se que primeiramente fez-se notório a 
concretização de um estamento em que as relações 
ocorrem de forma vertical, onde a honra do cargo que 
ocupa dentro da esfera política é o fator 
determinante do grau de importância dentro da 
Monarquia Portuguesa (perpassando as relações 
sociais dentro da colônia). 
 
Externa-se uma outra característica patente, a 
saber, a visão dos senhores de engenho de que os 
cargos públicos seriam de sua propriedade - o que nos 
remete ao patrimonialismo -, ficando evidente o 
tamanho da afronta dos mascates que não apenas 
estavam se infiltrando e usurpando o status 
estamental, mas também violando a propriedade 
alheia (na visão dos senhores da terra), ou seja, 
tomando posse do bem público que se tornara 
particular em meio às relações patrimoniais. 
 
Tal afirmação é justificada pela definição de 
patrimonialismo, que é a substantivação de um termo 
de origem adjetiva: patrimonial, que qualifica e define 
um tipo específico de dominação. Sendo a dominação 
um tipo específico de poder, representado por uma 
vontade do dominador que faz com que os 
dominados ajam, em grau socialmente relevante, 
como se eles próprios fossem portadores de tal 
vontade, o que importa, para Weber, mais que a 
obediência real, é o sentido e o grau de sua aceitação 
como norma válida - tanto pelos dominadores, que 
afirmam e acreditam ter autoridade para o mando, 
 
19 
 
quanto pelos dominados, que creem nessa 
autoridade e interiorizam seu dever de obediência. 
(CAMPANTE, op. cit.) 
 
Os senhores de engenho, devido à ameaça 
que se apresentava no cenário, não apenas observam 
a aliança da Coroa Portuguesa com os mascates, 
como também fortalecem seu poder de forma 
autônoma, criando uma autarquia, como forma de 
precaver-se contra esta união política bipolar. Assim, 
o patrimonialismo se faz notório com seu alto grau de 
prestígio, favorecendo um egocentrismo que 
transforma o senhor de engenho em detentor da 
autoridade local, exercendo sua força com mão-de-
ferro, melhor dizendo, “mão-de-terra” (já que lhe 
atribuíram o título de senhor da terra), neste 
momento de declínio da elite olindense. 
 
 
O desprestígio dos senhores de engenho com 
relação à Coroa Portuguesa fica patente, quando o 
senhor de engenho e o fazendeiro não eram mais os 
aliados do soberano, voltado este para o comércio, na 
sua tradicional política. Os mascates levariam a 
melhor parte das atenções públicas, perdidos os 
privilégios antigos, próximos, perigosamente 
próximos, dos usos aristocráticos. O rei queria súditos 
e não senhores, soldados e não caudilhos. (FAORO, 
op. cit.: 164). 
 
Com a separação entre Olinda e Recife 
ocorreu uma bipartição do governo local, fazendo 
com que fosse necessário um fortalecimento 
administrativo de ambos os lados, até mesmo devido 
às disputas políticas, pois, a divisão da cabeça (poder 
central), ao contrário da “Hidra de Lerna”, tornou as 
partes separadas ineficazes, sem possibilidade de 
regeneração. O momento dessa necessidade de um 
governante é apontado por Varnhagen: 
 
A capitania ficou acéfala e toda se deu por 
sublevada. Tratou, pois, de ter um chefe. Foi primeiro 
eleito um juiz do povo; porém, acerca da escolha do 
novo governo variaram muito os pareceres, filhos 
alguns das ambições pessoais; como às vezes sucede 
entre certos políticos, aos quais tanto cega a paixão, 
que julgam bem da pátria o que é apenas satisfação 
dos seus interesses. (VANHAGEM, op. cit.: 316). 
 
Como consequência das disputas de poder 
administrativo aparece um outro fator característico e 
determinante do perfil do senhor de engenho 
pernambucano do início do Século XVIII: o 
patriarcalismo. Percebe-se uma personalidade criada 
de forma fragmentada que surge a partir de uma 
tripartição da mentalidade do senhor de engenho 
onde ocorre harmonia e, ao mesmo tempo, rivalidade 
em meio a três estados distintos que se integram em 
prol de interesses comuns. 
 
Cria-se o perfeito arquétipo de Cérbero, 
formando assim a trilogia: estamento, 
patrimonialismo e patriarcalismo. Sobre o 
patriarcalismo, Rubens Goyatá Campante esclarece: a 
dominação tradicional subdivide-se em patrimonial e 
feudal. 
 
A dominação patrimonial tem sua 
legitimidade baseada em uma autoridade sacralizada 
por existir desde tempos antigos, longínquos. Seu 
arquétipo é a autoridade patriarcal. Por se espelhar 
no poder atávico, e, ao mesmo tempo, arbitrário e 
compassivo do patriarca, manifesta-se de modo 
pessoal e instável, sujeita aos caprichos e à 
subjetividade do dominador. A comunidade política, 
expandindo-se a partir da comunidade doméstica, 
toma desta, por analogia, as formas e, sobretudo, o 
espírito de "piedade" a unir dominantes e dominados. 
(CAMPANTE, op. cit.). 
 
Nesse prisma, pode-se observar o senhor de 
engenho legitimando seu poder sob um 
patrimonialismo que resgata os valores patriarcais das 
antigas famílias dos proprietários de terra de 
Pernambuco, perpetuando a hegemonia do “senhor” 
através das gerações. O legado do senhor de engenho 
é uma herança tradicional de uma ascendência 
patriarcal de natureza orgânica. 
 
Ocorreram diversas insurreições e tanto 
Olinda quanto Recife depauperavam-se em conflitos 
frequentes - o que agravava o quadro político, 
econômico e social. Mas, deve-se ressaltar que pelos 
fatores tradicionalistas que formavam este “Cérbero” 
(senhor de engenho), os mascates não pareciam tão 
homogêneos quanto os senhores da terra e 
necessitavam de medidas que os resguardassem das 
investidas olindenses como, por exemplo, o apoio da 
Coroa Portuguesa. Os mascates também procuraram 
reforçar sua administração e optaram pelo critério de 
confiabilidade, baseado em relações de dependência 
do administrador com a elite recifense, criando um 
comprometimento arbitrário: 
 
Os do Recife obrigaram o bispo a expedir uma 
circular a todos os povos da capitania desculpando a 
insurreição, contando como Bernardo Vieira, causa 
dela, ficava preso, recomendando a paz, prometendo 
 
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esquecimento do passado, e ordenando que não 
impedissem a vinda de mantimentos para a praça. – 
Essa circular assinou o bispo no dia que se devia 
passar para estes; e assim o efectuou, embarcando-se 
no dia 21, em um escaler, com o ouvidor, e 
reassumindo logo aí as funções de governador. 
Passou a intimar aos do Recife que lhe prestassem 
obediência: resistiram, porém, estes, proclamando 
seu mandante o capitão João da Mota, que se 
preparou para se opor qualquer ataque. (VANHAGEM, 
op. cit.: 318). 
 
MOVIMENTOS EMANCIPACIONISTAS 
 
São movimentos de contestação ao domínio 
no Brasil, com desejo de independência, tendo o 
caráter regional com ideologia de libertação nacional, 
sofrendo influência estrangeira do Liberalismo e suas 
manifestações. 
 
Como exemplo tem-se: 
 
- A Inconfidência Mineira

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