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AULA DE MICROBIOLOGIA, PROF. ALINE – BBPM IV Gabriela Bordignon – T5 Como nesse semestre há um enfoque no sistema nervoso central e nós já ouvimos na palestra número 1 e 2 sobre as principais bactérias potencialmente patogênicas ao sistema nervoso central, agora iremos dar continuidade estudando os fungos que também possuem o potencial de causar infecções no sistema nervoso central. O líquido cefalorraquidiano (LCR), também conhecido como liquor ou fluido cérebro espinal -> fluido corporal ESTÉRIL e INCOLOR, encontrado no espaço subaracnóideo no cérebro e medula espinal. O que é o liquor? É uma solução salina pura, com baixo teor de proteínas e células, atuando como um amortecedor, fornece nutrientes para o tecido nervoso e remove resíduos metabólicos do mesmo. De onde vem o liquor? Ele é sintetizado pelos plexos coroidais, epitélio ventricular e espaço aracnoide em uma taxa de aproximadamente 20 ml/hora. Volume normal: em recém-nascidos é encontrado em um volume que varia entre 10 a 60 ml, enquanto que no adulto fica entre 100 a 150 ml. Vimos em aulas anteriores que algumas bactérias podem passar entre as células (poucas bactérias possuem essa capacidade) e outras utilizam o artifício de se transportar via fagócitos, ou seja, a bactéria entra nos fagócitos e eles ultrapassam a barreira atingindo o liquor, levando consigo, portanto, esses microrganismos. BACTÉRIAS: Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Mycobacterium tuberculosis, Treponema palidum, Listeria spp.; Tendo em mente que essas bactérias possuem diferenças morfológicas, tendo cada qual o seu gram e características especificas, ressalta-se a importância de realizar a baciloscopia no liquor no caso de suspeita de meningite bacteriana. É importante lembrar também que existem algumas toxinas advindas de bactérias que possuem um tropismo pelo SNC, e quando essa toxina chega no SNC causa alterações nos neurônios. VÍRUS: Enterovírus (coxackie, poliovírus), arbovírus, vírus da caxumba, do grupo Herpes (simples, tipo 6, CMV, Epstein-Barr, varicela-zooster), sarampo, rubéola, HIV, parvovírus, adenovírus, rotavírus, coronavirus, entre outros); Lembrando que os vírus possuem grande potencial de causar encefalites também. FUNGOS: Cryptococcus neoformans, Histoplasma capsulatum; Esses fungos já foram estudados no semestre passado, pois possuem manifestação sistêmica e possuem uma íntima relação com o trato respiratório já que é pela inalação dos fungos, leveduras ou esporos que esses microrganismos entram em contato com o organismo. Com essa inalação é desencadeada uma resposta inflamatória no pulmão, que muitas vezes pode ser assintomática, e a partir disso, esses fungos podem ser disseminados para outros órgãos. PARASITAS: Acantamoebas, Naegleria. A meningite é causada normalmente por uma infecção, mas também pode ocorrer meningite química em resposta a um irritante bacteriano introduzido no espaço subaracnóideo (nas leucemias e linfomas, tumores, potencialmente patogênicos para o sistema nervoso central AULA DE MICROBIOLOGIA, PROF. ALINE – BBPM IV Gabriela Bordignon – T5 doenças autoimunes, doença de Kawasaki, malformações e corpos estranhos). A meningite infecciosa pode ser dividida geralmente em: 1. Piogênica aguda (normalmente bacteriana); 2. Asséptica (normalmente viral); 3. Crônica (normalmente tuberculosa, por espiroquetas ou criptocócica). O exame do LCR muitas vezes é útil para distinguir entre os vários casos de meningite. Então pode atingir o sistema nervoso central a partir de três mecanismos básicos: 1. Via hematogênica: primária ou secundária a um foco de infecção a distância (infecção de pele, pulmão, coração, trato intestinal e geniturinário); Pensando na via hematogênica que pode ser primária ou secundária (após um pouco de infecção inicial a distância), tem-se que a maior parte dos microrganismos desencadeiam meningite dessa forma. Logo, o que acontece é que, inicialmente, existe uma infecção pulmonar que não é resolvida e o microrganismo a partir desse sítio inicial, no pulmão, acaba atingindo a corrente sanguínea e migrando para as meninges. Além disso, há também a possibilidade de ocorrer através das infecções de pele, como no caso do Staphylococcus aureus e do Staphylococcus epidermidis que também poderiam causar a meningite via hematogênica a partir de um enfoque Inicial na pele. Ademais, isso também pode ocorrer a partir de uma endocardite, do trato gastrointestinal e também do trato urinário e do trato reprodutor. Sendo assim, com manifestações que acontecem de maneira mais exacerbada, em relação aos microrganismos, situação na qual o corpo humano, pela resposta imunológica, não consegue conter a proliferação desses microrganismos. Vimos também que essa infecção pode chegar ao sistema nervoso central através de infecções próximas ou adjacentes, como por exemplo, uma faringite complicada, uma sinusite e uma otite média. No caso da faringite, entra aqui o Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, na sinusite e na otite, poderíamos ter como agente etiológico o Haemophilus influenza, também uma otite causada pela Pseudomonas aeruginosa. Em terceiro lugar, temos ocorrendo mais raramente, esse processo de infecção sendo decorrente de uma solução de continuidade, causada por traumatismo craniano, infecção dos ossos e inflamações/infecções de vasos sanguíneos. MENINGITE POR CRIPTOCOCOSE (Cryptococcus neoformans) Um fungo oportunista, encontra- se na forma de levedura, sendo cosmopolita. Pode causar tanto meningite, quanto meningoencefalite -> MICOSE SISTÊMICA. Ou seja, esse fungo causador da criptococose, que se encontra na forma de levedura, pode causar a meningite e a meningoencefalite, logo, esse fungo pode ficar restrito entre as meninges, porém, ele também tem a capacidade de invadir a parte encefálica, gerando então casos de micose sistêmica. É encontrado no sistema digestório de aves, sendo que se apresenta em duas variedades principais: Gatti (melhor prognóstico e é encontrado em solo, vegetais e suco de frutas – Criptococose oportunista) e Neoformans (é mais virulenta e encontra-se em fezes de pombo – Criptococose em indivíduos saudáveis) / Grubii. Desse modo, já podemos observar uma das diferenças entre essas duas espécies de Cryptocococus, uma tem a capacidade de causar doença em indivíduos saudáveis e a outra é oportunista. Há ainda uma terceira espécie, a Grubii, mas ela não é tão comum, porém, existem algumas descrições que indicam que ela está muito relacionada a infecção de diversas aves e outros animais, mas em humanos não é responsável por infecções significativas. Esses criptococos causam uma doença chamada de criptococose, onde inicialmente há a formação de granulomas no pulmão (como forma da tentativa da resposta imunológica em conter o fungo), e ocorre uma disseminação, posteriormente, que se dá por via linfática e/ ou sanguínea. Então, no pulmão o início é assintomático, quando sintomática, essa lesão pulmonar inicial irá provocar tosse, febre, dispneia, dor torácica e expectoração. O microrganismo pode se disseminar, e esse fungo possui um tropismo para o SNC, e uma vez atingindo o SNC, os sintomas se alteram, manifestando-se, portanto, febre, dor na nuca, vômito e cefaleia (TRÍADE CLÁSSICA DAS MENINGITES), e indo para sintomas mais graves ao AULA DE MICROBIOLOGIA, PROF. ALINE – BBPM IV Gabriela Bordignon – T5 passo que atinge regiões encefálicas, dependendo da sua localização, tais como cegueira, confusão mental, delírio, perda de memória e até coma. DIVERSIDADE DAS CEPAS: As espécies de criptococos são principalmente o gatti e o neoformans, e elas apresentam sorotipos B e C, e A e D, respectivamente. Entretanto, valeressaltar que pode ocorrer a formação de um híbrido, ou seja, a união desses genótipos que resulta em novas linhagens híbridas, sendo estas responsáveis por surtos isolados em determinadas regiões. Um estudo publicado em 2013 avaliou e caracterizou essa distribuição dos sorotipos do complexo relacionado ao Cryptococcus neoformans, observando-se que o sorotipo A é o mais frequente em todos os locais. Sendo, no Brasil, quase que 80% dos casos de criptococose causados pelo sorotipo A. Além disso, os demais sorotipos apresentam variações de incidência conforme a região geográfica analisada. Em relação a resposta imunológica frente aos fungos, é importante entender que dependendo do tipo de resposta que o paciente apresenta frente a infecção fúngica o caso será diferente, por conta disso, existem desfechos diferentes para infecções de um mesmo fungo dependendo do paciente e sua respectiva resposta imunológica. Quando as células entram em contato com os diferentes fungos, se o paciente reconhecer via receptor TL9, sinalizar a via MYD88 e ter uma expressão de IL-12, o padrão de resposta predominante será do tipo padrão Th1, promovendo um clereance fúngico via inflamação, gerando, portanto, um recrutamento leucocitário, ativação de macrófagos, ativação de neutrófilos com seus grânulos tóxicos, e através desse padrão de resposta o que se espera é um clereance fúngico. Já em casos de liberação de IL- 23/IL-1/IL-6, frente ao reconhecimento desses fungos, haverá um padrão de resposta Th17, com predomínio da IL-18 e IL-22, e isso faz o recrutamento de neutrófilos, produção e liberação de defensinas e processo inflamatório visando também o clereance fúngico. Pensando em secreção de IL-10, há uma tendência na manifestação por esse paciente do padrão de resposta do tipo Th2, com liberação de IL-4 e IL-5, ligadas a diferenciação dos eosinófilos, gerando como resposta a infecção um desencadeamento de um processo alérgico (ativação de mastócitos, liberação de histaminas), culminando na INIBIÇÃO do clereance fúngico e sendo responsável por manifestações mais graves relacionadas às infecções fúngicas. Há também a possibilidade da ativação de um padrão P regulador com expressão de IL-10 e TGFbeta que ocorre geralmente em pacientes com imunossupressão, e normalmente está relacionado também com manifestações mais graves nas infecções causadas por fungos. AULA DE MICROBIOLOGIA, PROF. ALINE – BBPM IV Gabriela Bordignon – T5 A patogênese do Cryptococcus neoformans é simples de ser descrita, sendo, portanto, desde a entrada desse fungo até os caminhos que ele percorre para atingir o seu alvo. Então, lembrando que o neoformans é liberado nas fezes de aves, principalmente pombos, e no solo; e o gatti está presente em solos e vegetações. O homem acaba inalando as leveduras (o foco será no neoformans, pois possui manifestações mais graves), e essas leveduras atingem os alvéolos pulmonares. Atingindo os alvéolos, haverá a fagocitose via macrófagos, já que nos alvéolos existem uma grande concentração de macrófagos esperando a chegada dos microrganismos, então se esse fungo escapa de todos os mecanismos de defesa do sistema respiratório e alcança os alvéolos, nos alvéolos ainda há essa defesa feita pelos macrófagos, sendo que a evolução da doença irá depender do estado imunológico do indivíduo, como fora comentado anteriormente. Desse modo, pode haver uma evolução que curse com a resolução da doença através de uma limitação aos pulmões por meio de uma ativação da resposta imunológica com a formação de granulomas que resolve, ou também, pode haver o desenvolvimento de uma doença pulmonar grave, além da disseminação desse fungo para diferentes sítios, sendo um desses sítios preferíveis pelo Cryptococcus neoformans o SNC. Continuando a patogênese relacionada ao neoformans, pensando em indivíduos saudáveis que ao entrar em contato com a levedura por inalação, irão ter que esse microrganismo inicialmente vai interagir com os macrófagos alveolares via PRR (receptor de reconhecimento padrão), após essa fagocitose, o macrófago vai sinalizar via eliminação de citocinas e quimioatrativos desencadeando o recrutamento leucocitário para o sítio pulmonar no qual ouve o início da infecção. Caso alguns desses fungos escape da fagocitose, eles podem ser capturados por células dendríticas (elas possuem a capacidade de capturar e processar esse antígeno em seu interior e apresentar ao linfócito T), ao apresentarem esse antígeno para o linfócito T, haverá a ativação do padrão de resposta Th1 ou Th17, o que por sua vez, irá levar a liberação de diversas citocinas, como interleucinas e o interferon, isso ativa ainda mais o recrutamento de macrófagos e neutrófilos. Adicionalmente, é secretado o GM-CSF (fator estimulador de colônias da linhagem granulocítica), esse fator irá cair na corrente sanguínea e irá atuar no sistema hematopoiético, fazendo com que haja maior diferenciação da linhagem de granulócitos, nesse caso, por ex., os neutrófilos. Logo, a partir disso tem-se a ativação dos macrófagos e formação do granuloma. No caso do Cryptococcus neoformans, ele fica centralizado e ao redor dessas leveduras migram diversos leucócitos que tentam fechar, mantendo a infecção controlada, posteriormente, forma-se até um anel de fibroblastos e há depósito de colágeno. Quanto ao desenvolvimento da doença, tem-se vários fatores relacionados, como por ex., a imunossupressão, a ausência de processo inflamatório (o processo inflamatório ajuda a recrutar as células para ajudar na fagocitose, com a sua diminuição o fungo passa a ter um crescimento descontrolado), além de outros fatores AULA DE MICROBIOLOGIA, PROF. ALINE – BBPM IV Gabriela Bordignon – T5 ligados ao hospedeiro como, ativação imune excessiva (com a hiperativação da resposta imune há sim o clereance fúngico, porém, isso acaba resultando em danos no epitélio). Em outras palavras, podemos concluir que qualquer desbalanço na resposta imune, seja para mais ou para menos pode contribuir para o desenvolvimento da patologia. Na deficiência imunológica associada por ex., ao HIV, câncer, doenças crônicas e órgão transplantado, tem-se que o fungo consegue crescer e se disseminar. Agora, em indivíduos saudáveis com uma resposta normal do sistema imunológico, com padrão Th1 ativando macrófagos, há a tendência do clereance fúngico, um padrão de reposta frente a interação com o fungo do tipo Th2, estabelecendo um quadro de resposta alérgica com imunomodulação, entretanto, o fungo consegue se proliferar, e no caso de uma resposta inflamatória exacerbada, com intensa ativação do padrão Th1, com muitos macrófagos e células ativadas, eu consigo ter o clereance fúngico, porém o dano tecidual é muito significativo. Então, como já foi dito, a partir desse contato inicial com o pulmão, os macrófagos tentam fagocitar essa levedura que, entretanto, consegue sobreviver a essa fagocitose via macrófagos alveolares e então o fungo consegue atingir a corrente sanguínea, sendo que essa disseminação pela corrente sanguínea pode ocorrer tanto de forma extracelular, bem como por meio da levedura no interior dos fagócitos, ou seja, o fungo pode se disseminar para outros sítios através dessas duas formas. Uma vez atingindo a barreira hematoencefálica, tanto a levedura sozinha (na forma extracelular) consegue passar através das células/entre as células, quanto via vacúolo no interior dos fagócitos. Sintomas: dor de cabeça, febre, rigidez de nuca, podem ser acompanhados de náuseas e vômitos, aumento de sensibilidade à luz (fotofobia), confusão, alucinações ou alteração do estado mental e alterações comportamentais -> AVALIAR A PRESENÇA DE IMUNOSSUPRESSÃO E EPIDEMIOLOGIA.Necessita atendimento imediato e o tratamento deve começar o mais cedo possível. Se a meningite por Cryptococcus spp. não for tratada pode levar a consequências mais graves, como acúmulo de líquido no cérebro (hidrocefalia), dano cerebral, perda de audição e coma. Diagnóstico: exames de sangue e líquido cefalorraquidiano (LCR) -> cultura para fungos. Testes laboratoriais: aglutinação em látex, PCR e ELISA -> pesquisa de antígeno do C. neoformans circulante (Crag). Exames por imagem: determinar a presença de lesão cerebral. AULA DE MICROBIOLOGIA, PROF. ALINE – BBPM IV Gabriela Bordignon – T5 *vídeo sobre punção lombar! https://www.youtube.com/watch?v=ErNhuKfoYAU No LCR devem ser avaliados: aspecto, número de leucócitos, qual leucócito é predominante, número de eritrócitos (sugere lesão/rompimento em vasos sanguíneos), dosagem de proteínas, dosagem de glicose e cultura. Na imagem podemos ver o LCR com aspecto turvo, como ocorre na meningite, sendo que em casos normais o LCR é transparente. Na meningite fúngica temos um aspecto de liquor claro, então, é diferente da meningite bacteriana que possui recrutamento intenso de leucócitos, em relação as células, apesar de em grande quantidade, não é um numero tão exacerbado, a glicose pode estar diminuída ou normal, as proteínas se encontram um pouco aumentadas e a cultura é negativa. Aqui chama-se a atenção pelo tipo de célula que estará presente na meningite fúngica, sendo nesse caso, monócitos e linfócitos. Como o C. neoformans é uma levedura que apresenta cápsula, quando imersa em um ambiente com uma gota de tinta Nakim, essa tinta não vai entrar devido a cápsula característica do fungo em questão. Então, vai ficar tudo “pintado”, e em caso de presença do fungo poderá se observar regiões sem essa coloração. Coloração com tinta Nakim: os fungos se destacam contra o fundo negro devido à presença da cápsula. A centrifugação do LCR por 10 minutos aumenta a sensibilidade -> detecção de poucas leveduras. Podemos observar nas imagens, tanto em campo claro como escuro, a presença de leveduras “brilhando”, remetendo a um “céu estrelado”. Observa-se a tinta escura e as leveduras protegidas pelas suas cápsulas e, portanto, não coloridas com a tinta. Pensando na incidência da meningite por criptococose, se pensarmos em relação às meningites virais e bacterianas, não é uma alta incidência, já que as etiologias supracitadas são muito mais recorrentes. Entretanto, há uma distribuição de diversos casos espalhados em várias regiões do mundo. AULA DE MICROBIOLOGIA, PROF. ALINE – BBPM IV Gabriela Bordignon – T5 Pensando no Brasil, existem poucos estudos acerca desse tema, porém, já ouve uma evolução no número de trabalhos com o decorrer do tempo. Comprometimento predominantemente pulmonar e disseminação por via hematogênica. Em imunocomprometidos: 90% são assintomáticos para a infecção pulmonar. Seus conídios são encontrados em galinheiros, cavernas, sótãos e outras construções (velhas e abandonadas). Podendo também ser isoladas no solo -> MICOSES SISTÊMICAS. RESERVATÓRIO: morcegos, galinhas (e outras aves), ratos, cães e gatos. *Pode através da infecção pulmonar inicial chegar à via hematogênica podendo atingir as meninges e casar comprometimento do tecido epitelial. A patogênese causada por esse microrganismo é muito semelhante a já explanada patogênese do Cryptococcus neoformans. Logo, ocorre então a inalação desse fungo (uma diferença entre eles aqui é que o C. neoformans é SÓ levedura, enquanto que o Histoplasma capsulatum é um fungo dimórfico, ou seja, possui duas morfologias diferentes, e essa morfologia irá variar conforme a temperatura na qual esse fungo está exposto, na temperatura de 25 graus, esses fungos ficam na forma filamentosa (presença de hifas), e na temperatura corpórea de 37 graus (considerada a fase parasitária dos fungos dimórficos) eles se apresentam na forma de leveduras. No restante, a evolução/patogênese é muito semelhante. Há a inalação desses fungos em ambas as suas formas, eles atingem o pulmão, entram em contato com os macrófagos alveolares, são internalizadas em vacúolos, e acabam sobrevivendo nesse local, mesmo após a ligação com o lisossomo, escapando assim da resposta imunológica e se disseminando pelo organismo. Histoplasmose e infecção pelo HIV -> apresentação sindrômica Hepatoesplenomegalia febril, pneumonia comunitária grave, sepse ou choque séptico, lesões de pele e/ou mucosas e meningite de curso subagudo ou crônico. *lembrando que o fungo passa primeiro pelo pulmão e depois pode causar as lesões de pele por via hematogênica! Somente 1 a 10% possuem comprometimento neurológico. AULA DE MICROBIOLOGIA, PROF. ALINE – BBPM IV Gabriela Bordignon – T5 É importante lembrar que esses casos normalmente ocorrem em indivíduos imunossuprimidos, mas, apesar de mais raro, indivíduos normais também podem ser acometidos. Paciente S.M.G.F, 62 anos, masculino, casado. Em 02/09/2016 foi admitido no Hospital São José do Avaí (HSJA) por familiares, com queixa de dor torácica, cefaleia, referindo perda ponderal de 7Kg em 20 dias e anorexia. Hipertenso de longa data e ex-tabagista. Ao exame físico, paciente vigil, orientado, hipocorado ++/4+, anictérico, acianótico e eupneico. Ritmo cardíaco regular em 2 Tempos, bulhas normofonéticas. Murmúrio vesicular diminuído em terço médio e base direita. Abdome flácido, ruídos hidroaéreos presentes, ausência de massas palpáveis, indolor à palpação. Ausência de edema em membros inferiores, panturrilhas livres, pulsos simétricos. S.M.G.F, ficou internado, nesse período, na Enfermaria do HSJA, onde foram realizados exames de imagens, afim de esclarecimentos diagnósticos. No dia 09/09/2016, esse paciente, evoluiu com insuficiência respiratória, rebaixamento do nível de consciência, necessitando de aminas vasoativas, sendo transferido para o Centro de Terapia Intensiva do HSJA. A conduta com o mesmo, na Unidade referida, foi: vigilância hemodinâmica e ventilatória, intubação orotraqueal, punção venosa profunda, sonda vesical de demora e sonda nasogástrica. O paciente desse estudo evoluiu com parada cardiorrespiratória em assistolia, sendo realizadas manobras de reanimação cardiopulmonar durante 20 minutos com sucesso; porém, paciente dependente de Noradrenalina e Encrise de altas doses pós-reanimação (infusões continuas de Encrise - 6 ml/h, Noradrenalina - 16 ml/h, Ancoron - 5 ml/h, Hidratação Venosa - 42 ml/h). Posteriormente, nova parada cardiorrespiratória, nesse mesmo dia (09/09/2016), sem sucesso. A princípio suspeitou-se, devido à clínica desse paciente, de tumor de pulmão e tuberculose, prosseguindo com as investigações. Foi realizado rastreio infeccioso, que evidenciou uma leucocitose com desvio para a esquerda (16.000- 0/0/13/69), teste de escarro (BAAR), com 3 culturas negativas. Tomografia Computadorizada (TC) de crânio / abdome / pelve e cintilografia óssea, todos sem alterações. A Radiografia de Tórax (figura 1) realizada nesse período evidenciou a presença de uma massa, no lobo inferior do pulmão direito. A TC de tórax de 03/09/16 (figura 2), também demonstrou uma massa pulmonar com envolvimento pleural à direita. AULA DE MICROBIOLOGIA, PROF. ALINE – BBPM IV Gabriela Bordignon – T5 Diante do aspecto encontrado no exame tomográfico, foi realizado a biópsia dessa lesão em 05/09/2016, sendo que, o resultado, foi obtido dias após o óbito do paciente em questão, evidenciando criptococose. A lâmina do paciente S.M.G.F, corada com hematoxilina-eosina, está demonstrada na figura 3. Nos cortes histológicos corados por hematoxilina- eosina, as células dessa levedura normalmente se apresentamcom formatos esféricos, ovais ou elípticos, de coloração rosada ou azulpálido (PEDROSO; CANDIDO, 2006). 5 Discussão Em humanos, a resposta tecidual à presença de C. neoformans é bastante variável. Em pacientes imunossuprimidos, a reação inflamatória pode estar ausente, permitindo o crescimento de massas gelatinosas do fungo nos tecidos. Em indivíduos com imunossupressão grave, a infecção pode se disseminar para a pele, órgãos parenquimatosos e ossos. Em indivíduos imunocompetentes ou com doença prolongada, o fungo induz uma reação granulomatosa composta por macrófagos, linfócitos e células gigantes multinucleadas (SAMUELSON, 1999, apud KOMMERS, et al, 2005). A história e o quadro clínico são parâmetros iniciais para o diagnóstico, podendo ser auxiliados por exames laboratoriais. O método mais indicado para o diagnóstico laboratorial é através da pesquisa do antígeno polissacarídeo circulante no soro e líquor através da prova de látex. Essa prova é considerada uma técnica muito sensível e específica na detecção dessa micose, podendo ser utilizada no controle de tratamento e na detecção de recidivas após o aparente sucesso terapêutico (BIVANCO et al., 2006). Entretanto, há casos falso-positivos devido à presença de fator reumatoide, neoplasias, infecção por bactérias como Stomatococcus mucilaginosis que pode provocar quadros de meningite e Trichosporon spp. que produz os mesmos polissacarídeos da cápsula do C. neoformans, além disso, pode ocorrer contaminação durante pipetagem no laboratório. Há também reações falso-negativas, devido ao efeito prozone, infecção por microrganismos pobremente encapsulados ou por problemas no kit do teste (BIVANCO et al., 2006). Os achados hematológicos e bioquímicos normalmente não são sugestivos. A análise histopatológica, cortes histológicos corados pela Hematoxilina-Eosina (HE) mostram células (basidiósporos) de C. neoformans esféricas, ovais ou elípticas; com parede fina rósea ou azul pálido com 5 a 15 µm de diâmetro. As cápsulas não se coram devido a sua natureza mucopolissacarídea, permanecendo em seu lugar um halo claro (LACAZ, et al, 2002). Segundo recentes Guidelines da sociedade de Doenças Infecciosas da América (IDSA), as opções de tratamento, sua dose e duração variam de acordo com a severidade da doença, imunidade do hospedeiro e o sítio da infecção (SAAG, 2000). A anfotericina B, isolada ou associada a 5-fluorcitosina, e o fluconazol são consideradas drogas de escolha no tratamento dessa micose. A anfotericina B é utilizada em associação com a 5- flucitosna, em infecções disseminadas, ou fluconazol e itraconazol, como alternativa para o tratamento de infecções cutâneas (BIVANCO et al., 2006). Referência do caso clínico: GENTIL, Fernanda Alvarez; DIAS, Dayane Temponi; PACHECO, Daniele Figueiredo; LUZ, Eveline de Almeida; COSTA, Luiz Guilherme Ferreira da Silva; BRUM, Rosa Maria de Oliveira. CRIPTOCOCOSE: relato de caso. Acta Biomédica Brasiliensia, [S.L.], v. 7, n. 2, p. 102-109, 23 dez. 2016. Universidade Iguacu - Campus V. http://dx.doi.org/10.18571/acbm.114.
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