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LETRAS/PORTUGUÊS 3º PERÍODO HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Carla Cristina Barbosa Huagner Cardoso da Silva Maria Cristina Freire Barbosa Maria Nadurce Silva Adaptação: Rosângela Silveira Rodrigues HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Carla Cristina Barbosa Huagner Cardoso da Silva Maria Cristina Freire Barbosa Maria Nadurce Silva Adaptação: Rosângela Silveira Rodrigues Montes Claros - MG, 2010 2010 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39041-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 REITOR Paulo César Gonçalves de Almeida VICE-REITOR João dos Reis Canela DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Giulliano Vieira Mota Andréia Santos Dias Bárbara Cardoso Albuquerque Clésio Robert Almeida Caldeira Débora Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida Diego Wander Pereira Nobre Gisele Lopes Soares Jéssica Luiza de AlbuquerqueREVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Karina Carvalho de AlmeidaOsmar Pereira Oliva Rogério Santos Brant REVISÃO TÉCNICA Claúdia de Jesus Maia IMPRESSÃO, MONTAGEM E ACABAMENTO Gráfica Yago PROJETO GRÁFICO E CAPA Alcino Franco de Moura Júnior Andréia Santos Dias EDITORAÇÃO E PRODUÇÃO Alcino Franco de Moura Júnior - Coordenação CONSELHO EDITORIAL Maria Cleonice Souto de Freitas Rosivaldo Antônio Gonçalves Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho Wanderlino Arruda Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Coordenador Geral da Universidade Aberta do Brasil Celso José da Costa Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Alberto Duque Portugal Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes Paulo César Gonçalves de Almeida Vice-Reitor da Unimontes João dos Reis Canela Pró-Reitora de Ensino Maria Ivete Soares de Almeida Coordenadora da UAB/Unimontes Fábia Magali Santos Vieira Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Diretor de Documentação e Informações Giulliano Vieira Mota Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH Mércio Coelho Antunes Chefe do Departamento de Comunicação e Letras Coordenadora do Curso de Letras/Português a Distância Ana Cristina Santos Peixoto AUTORES Carla Cristina Barbosa Doutoranda em História da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, mestre em Letras/Português pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU, especialista em Docência para a Educação Profissional e graduada em História pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes. Atualmente, é professora do Departamento de História e coordenadora geral do Núcleo de História e Cultura Regional - Nuhicre desta Universidade. Huagner Cardoso da Silva Mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU, especialista em Docência para a Educação Profissional e graduado em Pedagogia pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes. É professor do Departamento de Estágios e Práticas Escolares desta Universidade. Maria Cristina Freire Barbosa Mestre em Educação pelo Instituto Superior Enrique José Varona- Cuba/Universidade de Brasília - UnB e graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes. Docente da disciplina Estrutura e Funcionamento da Educação Básica pelo Departamento de Educação da Unimontes, coordenadora de Apoio ao Estudante e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação na Diversidade e Saúde desta Universidade. Maria Nadurce Silva Mestre em Educação pela Universidade Católica de Brasília - UCB e especialista em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes. ADAPTAÇÃO Rosângela Silveira Rodrigues Doutora em Educação, área de História e Filosofia da Educação, na UNICAMP. Mestre em Educação na área de Docência do Ensino Superior pela PUC - Campinas. Graduada em Pedagogia pela FUNM. Professora de Didática do Departamento de Métodos e Técnicas educacionais - UNIMONTES. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa GEHES. Coordenadora da Pós-Graduação, especialização: Metodologia Científica e Epistemologia da Pesquisa. SUMÁRIO Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07 Unidade I: A educação antiga e medieval. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 1.2 Povos primitivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.3 Educação egípcia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.4 Educação grega . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 1.5 Educação romana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 1.6 Educação medieval . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 1.7 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 Unidade II: A educação do renascimento ao surgimento dos sistemas escolares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 2.2 Educação a caminho da modernidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 2.3 A educação no período do renascimento . . . . . . . . . . . . . . . 47 2.4 A educação, a reforma e a contra-reforma. . . . . . . . . . . . . . . 50 2.5 O iluminismo e a consolidação da educação moderna . . . . . 54 2.6 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 2.7 Vídeos sugeridos para debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 Unidade III: A educação braslieira na colônia e no império . . . . . . . 62 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 3.2 Para um começo de história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 3.3 Período jesuítico (1549 - 1759) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 3.4 A influência jesuítica na educação brasileira . . . . . . . . . . . . . 65 3.5 A educação no Brasil na era pombalina (1760-1808). . . . . . . 68 3.6 A educação no Brasil imperial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 3.7 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 Unidade IV: A educação no Brasil: período republicano. . . . . . . . . . 79 4.1 A reforma educacional de Benjamim Constant . . . . . . . . . . . 81 4.2 A educação na 2ª República . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 4.3 A educação superior no Brasil pós ldben 9.394/1996 . . . . . . 97 4.4 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 Referências básicas, complementares e suplementares . . . . . . . . . . 115 Atividades de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 APRESENTAÇÃO 07 Prezado(a) acadêmico(a), a disciplina HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO é obrigatória para os alunos dos diferentes cursos de licenciatura. O objetivo desta disciplina é contribuir para que os acadêmicosdos cursos de licenciatura compreendam os aspectos históricos da sociedade brasileira que fundamentam o atual sistema educacional. Você iniciará, agora, seus estudos de História da Educação. Essa disciplina conduzirá você com o apoio dos autores clássicos da historiografia da história da educação, a uma análise das principais características dos processos educativos e sua interação com o contexto socioeconômico e cultural em diferentes períodos históricos da civilização, relacionando-os ao contexto educativo brasileiro. A disciplina tem como objetivos: ?Examinar a educação em diferentes contextos históricos; conhecer a história da educação da civilização ocidental, para compreender a história da educação brasileira; ?compreender a influência das transformações ocorridas no período renascentista na definição do modelo da educação ocidental e a influência nas determinações do modelo da educação predominante na história da educação brasileira; ?analisar historicamente os vários aspectos da realidade educacional nos diferentes contextos históricos, com a finalidade de compreender as políticas determinantes da educação na atual sociedade brasileira; ?desvelar as políticas que delineiam a história da educação brasileira desde a sua implantação até a atualidade, para compreender os interesses que a impulsiona, no que se refere aos valores, ideias e organização nos diversos períodos da história desse país; e ?problematizar os determinantes históricos do papel da escola, do modelo de professor e do aluno que se pretende formar, assim como o enfoque dos conteúdos e da avaliação nos diferentes períodos da educação brasileira. Esclarecemos a você a relevância em alcançar esses objetivos, pois esta disciplina é muito importante para sua formação ética-política e humana, de forma emancipada. 08 Letras/Português Caderno Didático - 3º Período EXPERIÊNCIAS DE APRENDIZAGEM Atividades e Fórum: os textos propõem leituras e atividades que devem ser desenvolvidas individualmente discutidas com o Tutor e socializadas com a turma, isto é, colocadas no FÓRUM para leitura e apreciação de todos os acadêmicos. Momento de Interação: para discussão dos textos e das atividades, você contará com o apoio do tutor, e poderá recorrer a diferentes ferramentas. As sugestões de textos, pesquisas e filmografias também são importantes, uma vez que ampliam os conhecimentos e discussões. Também serão apresentadas discussões fundamentadas nos estudos de outros autores que citaremos como referências complementares. Para que haja aproveitamento nos seus estudos, é preciso que você realize as atividades propostas, ao longo dos textos, pois estas o(a) ajudarão a compreender e a fixar os conteúdos abordados. Atenção! Não se esqueça de realizar as atividades sugeridas. Esse caderno didático foi organizada em quatro unidades. Cada uma está dividida em subunidades, com o objetivo de facilitar a compreensão das discussões propostas. Desejamos que sua caminhada nesta disciplina seja prazerosa e enriquecedora. Os autores 09 1UNIDADE 1A EDUCAÇÃO ANTIGA E MEDIEVAL 1.1 INTRODUÇÃO Esta é a primeira unidade da disciplina História da Educação. O objetivo central é examinar a educação nos diferentes contextos históricos e compreender a história da educação antiga e medieval. Ao ler o texto, você vai encontrar temáticas que são abordadas com base em uma perspectiva histórica, mostrando que tudo na Educação, dos conhecimentos às relações entre sujeitos escolares, espaços, metodologias e materiais foi inventado, produzido pelo ser humano em circunstâncias sociais e históricas determinadas. Com base em autores como Maria Lúcia Aranha, Paul Monroe, Tomas Giles, Luciano Farias Filho e Mario Manacorda, buscaremos os fundamentos teóricos para que você compreenda a educação antiga e medieval. A História da Educação tem como uma das suas funções desnaturalizar as práticas educativas, estabelecendo uma relação com o contexto no qual estão inseridas. Para isso, esta unidade explicitará os elementos da história da educação ocidental. Esta primeira unidade abordará a importância da história da educação e o processo sócio-histórico das práticas educativas no Egito, na Grécia, em Roma e nas Escolas Medievais. Para entendermos a História da Educação, é importante conhecer a educação no contexto histórico. Na verdade, faz-se necessário compreender que o homem é resultante de sua prática social dentro de determinado contexto histórico, social. É a partir das relações sociais que os homens criam padrões, instituições e saberes. Portanto, é a educação que mantém viva a memória de um povo e dá condições para sua sobrevivência. Por isso dizemos que a educação é uma instância mediadora que torna possível a reciprocidade entre indivíduo e sociedade. (ARANHA, 1990, p.15). A educação está envolvida nas relações sociais que os homens estabelecem e sofre influência ideológica por estar ligada com a política. Portanto, o fenômeno educacional não é neutro, está ligado às questões culturais, políticas e sociais de seu tempo (FARIA FILHO, 2002). A escola faz parte de um mundo marcado por desigualdades e lutas sociais; neste sentido, devemos refletir que a escola é um instrumento de 10 Letras/Português Caderno Didático - 3º Período transformação da sociedade, ao mesmo tempo em que as transformações políticas, econômicas e sociais contribuem para a constituição dos sistemas de ensino. A educação está envolvida nas relações sociais que os homens estabelecem e sofre influência ideológica por estar ligada com a política. Portanto, o fenômeno educacional não é neutro, está ligado às questões culturais, políticas e sociais de seu tempo (FARIA FILHO, 2002). A escola faz parte de um mundo marcado por desigualdades e lutas sociais; neste sentido, devemos refletir que a escola é um instrumento de transformação da sociedade, ao mesmo tempo em que as transformações políticas, econômicas e sociais contribuem para a constituição dos sistemas de ensino. 1.2 POVOS PRIMITIVOS A educação primitiva se caracteriza pela sua forma simples, onde a criança é inserida no meio social através da experiência de vida das gerações passadas. Nesse período, a atividade educacional pode ser entendida pela educação prática e pela educação teórica. A educação prática não é organizada, compreende a busca de alimentos, abrigo e vestuário, dividindo-se em dois estágios. O primeiro estágio baseia-se na aquisição de conhecimento por imitação, ou seja, a criança imita inconscientemente as atividades dos adultos. No segundo estágio da educação prática, a criança participa das atividades dos adultos, aprendendo conscientemente, por imitação. Nesse momento, passa-se a exigir das meninas e meninos o trabalho. A educação teórica consiste na transmissão dos adultos às gerações mais jovens os conhecimentos das cerimônias, danças e rituais que caracterizam o culto religioso dos povos primitivos. Essas cerimônias tinham caráter educativo pois, por meio delas, as gerações mais jovens eram instruídas a partir da tradição do passado, isto é, da vida intelectual e espiritual desses povos. Entre as cerimônias dessas comunidades, as cerimônias de iniciação tinham papel educativo especial por possuírem valor moral. As meninas eram orientadas pelas mulheres, e os meninos, pelos homens. Foram essas danças que deram ao homem primitivo a explicação do universo, ou seja, é das crenças animistas que originaram as ciências, a filosofia e as religiões naturais (MONROE, 1976). Podemos dizer que a educação primitiva caracterizou-se pelo seu caráter estacionário e imitativo, onde o processo educativo era o único meio de perpetuar os padrões culturais aos jovens que eram moldados para atuarem na manutenção do sistema vigente.C F E A B GGLOSSÁRIO Ideologia: Ciência que trata da formação das ideias e da sua origem; conjunto de ideias, crenças e doutrinas, próprias de uma sociedade, de uma época ou de uma classe, e que são produto de uma situação histórica e das aspirações dos grupos que as apresentam como imperativos da razão; sistema organizado e fechado de ideias que serve de base a uma luta política. (Dicionário da Língua Portuguesa On Line. http://www.priberam.pt/%20DL PO DICAS Para entender o significado educativo da vida primitiva, é preciso compreender o animismo. É a interpretação do ambiente. Para os povos primitivos, não existia diferença entre a sua existência e a existência das outras coisas animadas ou inanimadas. História da Educação UAB/Unimontes 1.2.1 A escrita A educação baseada na linguagem escrita era ministrada pelo sacerdócio e compreende a instrução formal; o treino prático representa estágio avançado dos povos primitivos. Assim Paul Monroe a descreve: Do animismo provêm as religiões naturais, as primeiras filosofias e as ciências rudimentares. Com a formulação destas, criam-se as linguagens escritas e se desenvolve um corpo especial de conhecimento, acessível apenas a poucos. Isto constitui matéria para um estádio superior de educação. Juntamente desenvolve-se um sacerdócio especial que se diferencia dos curandeiros ou exorcistas, de um lado, e do povo comum do outro. O sacerdócio torna-se uma classe especial de professores para todos. Logo que se organizam para ensinar os futuros membros de sua própria ordem, surge a primeira escola. Com a formação de um currículo definido, de um magistério e da escola, encerra-se o estádio primitivo na educação, e atingem-se os primeiros estágios da civilização. (MONROE, 1976, p.11) Neste estágio da invenção da escrita através de símbolos, aumenta a comunicação e informações disponíveis ao indivíduo e à sociedade, permitindo à sociedade o registro de sua história. A Mesopotâmia é considerada a primeira civilização a produzir a escrita. O deus escriba Nabu era o responsável pela escrita, tinha caráter místico (GILES, 1987). Nesse momento, homens e mulheres utilizam figuras para representar cada objeto. Esta forma de expressão é chamada pictográfica. A fase pictórica apresenta uma escrita bem simplificada dos objetos da realidade, por meio de desenhos que podem ser vistos nas inscrições astecas presentes em cavernas, ou nas inscrições de cavernas do noroeste do Brasil. É importante ressaltar que primeiro surgiram os silabários, conjunto de sinais específicos para representar as sílabas, isto é, os sinais representavam sílabas inteiras em vez de letras individuais. Figura 1: Imagens de escritas pictográficas Fonte: http://www.webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/modulo4/e1_assuntos_a1.html Acesso 10/09/2008 ATIVIDADES Acesse os sites: Google Earth - http://www.earth.google.com Cartographic - http://www.henrydavis. com/MAPS/carto.html Osshe Historic Atlas Resource Library - http://www.uoregon.edu/~atlas Geohistory - http://www.geohistory.com Atlas of the biosphere - http://www.sage.wisc.edu/atlas Maps of world - http://www.mapsofworld.com Procure nos sites os mapas da localização e coordenadas geográficas do Egito. Copie as imagens para seu trabalho. Depois elabore um álbum, em texto ou virtual, utilizando imagens que retratem as cidades do Egito. Discuta com seus colegas no Fórum. Fonte: http://www.mec.gov.br 11 Os fenícios inventaram um sistema reduzido de caracteres que representavam o som consonantal, característica das línguas semíticas encontrada hoje na escrita árabe e hebraica. Em seguida, os gregos adaptaram o sistema de escrita fenícia agregando as vogais e criando assim a escrita alfabética. (Alfabeto, palavra derivada de alfa e beta, as duas primeiras letras do alfabeto grego.) Posteriormente, a escrita grega foi adaptada pelos romanos, constituindo-se o sistema alfabético greco-romano, que deu origem ao nosso alfabeto. Esse sistema representa o menor inventário de símbolos que permite a maior possibilidade combinatória de caracteres, isto é, representação dos sons da fala em unidades menores que a sílaba. Com a invenção da escrita, o processo educativo é mais formalizado, exigindo uma classe de especialista, neste caso, a transmissão e a escrita ficam entregues à responsabilidade da casta sacerdotal. Esta casta tem a função de transmitir a tradição coletiva, os costumes, os hábitos, valores e o estilo de vida da sociedade. Assim, a casta sacerdotal implantou o primeiro sistema de ensino formal para a formação do sacerdote escriba, que era considerado o guardião da ordem religiosa e responsável pela administração da sociedade. Este período se caracteriza pela teocracia absolutista, onde não existia diferença entre a esfera política e religiosa. A formação era centrada nos rituais e tinha o templo como centro controlador da distribuição dos alimentos. O sacerdote era o mediador entre os deuses e o homem. Entretanto, o novo sistema escolar não era universal, destinava-se somente aos filhos dos detentores de poder. Neste contexto, surgem as primeiras bibliotecas com escritos de mitologia, história, astronomia, astrologia, magia, poesia e gramática. Como o sacerdote era o mediador entre o homem e os deuses, a formação era centrada nos rituais. Portanto, o processo educativo se destinava à conservação e à continuidade do sistema político e social do período. F i g u r a 2 : E s c r i t a A l f a b é t i c a Fonte: http://www.webeduc.mec.gov.br/ midiaseducacao/modulo4/e1_assuntos_a1. html acesso em 10/09/2008 Fi gu ra 3 : E s c r i t a A l f abé t i ca Fonte: http://www.webeduc.mec.gov. br/midiaseducacao/modulo4/e1_ assuntos_a1.html acesso 10/09/2008 DICAS Uma espécie de papel chamado papiro, que era produzido a partir de uma planta de mesmo nome, também era utilizado para registrar os textos. A escrita egípcia também foi algo importante para este povo, pois permitiu a divulgação de ideias, comunicação e controle de impostos. Existiam duas formas de escrita: a demótica (mais simplificada) e a hieroglífica (mais complexa e formada por desenhos e símbolos). As paredes internas das pirâmides eram repletas de textos que falavam sobre a vida do faraó, rezas e mensagens para espantar possíveis saqueadores 12 Letras/Português Caderno Didático - 3º Período Assim, a base de todo o processo educativo era a escrita, destacando o ditado e a caligrafia. A aprendizagem era individual e o conteúdo do ensino era vocacional, moral e didático. Nesse sentido, a base educativa foi a obediência, e o castigo físico foi um instrumento utilizado. Podemos dizer que a obediência era considerada uma virtude fundamental para conseguir sucesso social e econômico. Este sistema vigora desde o período dos sumérios, babilônios, assírios, caldeus e persas. Entre os povos mesopotâmicos, o ensino dos caldeus era para os filhos das classes altas não sacerdotais, mas responsáveis pelo serviço administrativo burocrático. Os persas se destacam por serem considerados entre os povos da mesopotâmia responsáveis pelo elo entre o arcaico e a evolução da civilização ocidental, isto se dá, principalmente, pela sistematização do processo educativo. Desta forma, as classes que não se destinavam à carreira burocrática administrativa ou ao serviço militar tinham um processo educativo informal, herdados dos povos primitivos. A educação de massa era inexistente. A escola formal destinava-se aos filhos dos escribas e dos chefes religiosos. Somente no Egito a exclusividade de acesso à educação formal seria diferente. 1.3 EDUCAÇÃO EGÍPCIA 1.3.1 Um pouco de históriado Egito Para pensarmos a educação egípcia, é necessário conhecermos um pouco a civilização egípcia antiga; desenvolveu-se no nordeste africano (margens do rio Nilo) entre 3200 a.C (unificação do norte e sul) a 32 a.c (domínio romano). Como a região é formada por um deserto (Saara), o rio Nilo ganhou uma extrema importância para os egípcios. O rio era utilizado como via de transporte (através de barcos) de mercadorias e pessoas. As águas do rio Nilo também eram utilizadas para beber, pescar e fertilizar as margens, nas épocas de cheias, favorecendo a agricultura. Figura 4: Vista panorâmica das pirâmides egípcias. Fonte: http://www.discoverybrasil.com/egito/brasil_dc_egito_home/index.shtml acesso 09/08 História da Educação UAB/Unimontes 13 A sociedade egípcia estava dividida em várias camadas, sendo que o faraó era a autoridade máxima, chegando a ser considerado um deus na terra. Sacerdotes, militares e escribas (responsáveis pela escrita) também ganharam importância na sociedade. Esta era sustentada pelo trabalho e impostos pagos por camponeses, artesãos e pequenos comerciantes. Os escravos também compunham a sociedade egípcia e, geralmente, eram pessoas capturadas em guerras. Trabalhavam muito e nada recebiam por seu trabalho, apenas água e comida. A economia egípcia era baseada principalmente na agricultura, que era realizada, principalmente, nas margens férteis do rio Nilo. Os egípcios também praticavam o comércio de mercadorias e o artesanato. Os trabalhadores rurais eram constantemente convocados pelo faraó para prestarem algum tipo de trabalho em obras públicas (canais de irrigação, pirâmides, templos, diques). A religião dos egípcios era repleta de mitos e crenças interessantes. Acreditavam na existência de vários deuses (muitos deles com corpo formado por parte de ser humano e parte de animal sagrado) que interferiam na vida das pessoas. As oferendas e festas em homenagem aos deuses eram muito realizadas, acreditavam na vida após a morte, mumificavam os cadáveres dos faraós colocando-os em pirâmides, com o objetivo de preservar o corpo para a vida seguinte. A civilização egípcia destacou-se muito nas áreas de ciências. Desenvolveram conhecimentos importantes na área da matemática, usados na construção de pirâmides e templos. Na medicina, os procedimentos de mumificação proporcionaram importantes conhecimentos sobre o funcionamento do corpo humano. A educação egípcia não se limitava à elite, ao contrário da Babilônia e de outros povos em que somente a classe dos sacerdotes escribas era alfabetizada. No Egito, existia a possibilidade de as classes inferiores aprenderem a ler e a escrever e inclusive poderiam subir de nível social. O processo educativo egípcio caracteriza-se pela palavra escrita. Assim, a capacidade de ler e de escrever conferiu aos que detinham esse saber certo mistério, pois, apoiada pela religião, a autoridade da palavra escrita se torna inviolável (GILES, 1987). Figura 5: Alfabetização (escrita chamada hieroglífica) Fonte: http://www.discoverybrasil.com/egito/alfabetizacao acesso em 10/09/2008 C F E A B GGLOSSÁRIO Dialética: äéáëåêôéêÞ) era, na Grécia Antiga, a arte do diálogo, da contraposição e contradição de ideias. www.dicionarioonline.c om.br . (do grego 14 Letras/Português Caderno Didático - 3º Período A presença da religião configura-se também como uma característica marcante da educação e de todos os aspectos da vida egípcia. O faraó era o sumo sacerdote dos cultos oficiais e chefe de Estado. Este Estado apoiava-se na forma teocrática de governo, onde a administração burocrática era ligada à casta sacerdotal. Pode-se observar que a flexibilidade da sociedade egípcia se deu, entre outros fatores, pelo fato de qualquer menino talentoso poder, se tornar um escriba. No Egito, os sacerdotes eram responsáveis pela manutenção da cultura e sustentáculos da ordem política. A hierarquia social era assim constituída: A integração da sociedade era o meio que a burocracia sacerdotal adotava, fornecendo administradores e funcionários para o governo. Giles relata que a escolarização era um mecanismo importante nessa sociedade. Em suas palavras: Junto à tesouraria real sempre havia uma escola pública, equipada para a formação de escribas, cujos serviços eram indispensáveis para a manutenção de todo o aparato burocrático do Estado. Mesmo não conseguindo emprego junto ao governo, o escriba era sempre procurado para a administração das grandes fazendas e junto aos grandes comerciantes do reino. A instrução nessas escolas era gratuita, custeada pelo próprio Estado. O instrumento de mobilidade e de estabilidade social é a escola. Trata-se de aprender a ler e escrever para subir socialmente. (GILES, 1987, p. 54) No Egito, no período depois de 3.000 a.c, observamos três tipos de escolas: as escolas do templo eram direcionadas para treinamento do clero; as escolas da corte eram destinadas à formação dos burocratas; e as escolas provinciais eram destinadas à formação de funcionários para o setor privado e para o governo. Figura 6: Hierarquia social egípcia Fonte: Acervo pessoal DICAS Expansão do povo grego (diáspora) Por volta dos séculos VII a.C e V a.C. acontecem várias migrações de povos gregos a vários pontos do Mar Mediterrâneo, como consequência do grande crescimento populacional, dos conflitos internos e da necessidade de novos territórios para a prática da agricultura. A economia grega baseava-se no cultivo de oliveiras, trigo e vinhedos. O artesanato grego, com destaque para a cerâmica, teve grande aceitação no Mar Mediterrâneo. Com o comércio marítimo, os gregos alcançaram grande desenvolvimento. moedas de metal. Os escravos, devedores ou prisioneiros de guerras foram utilizados como mão-de-obra na Grécia. Cada cidade-estado tinha sua própria forma político- administrativa, organização social e deuses protetores. Foi na Grécia Antiga, na cidade de Olímpia, que surgiram os Jogos Olímpicos em homenagem aos deuses. Os gregos desenvolveram uma rica mitologia. Até os dias de hoje, a mitologia grega é referência para estudos e livros. A filosofia também atingiu um desenvolvimento surpreendente, principalmente em Atenas, no século V (Período Clássico da Grécia). Platão e Sócrates são os filósofos mais conhecidos deste período. A dramaturgia grega também pode ser destacada. A poesia, a história, as artes plásticas e a arquitetura foram muito importantes na cultura grega. A religião politeísta grega era marcada por uma forte marca humanista. Os deuses possuíam características humanas e de deuses. História da Educação UAB/Unimontes 15 Nesse período, observamos que há indícios da existência de escolas militares para a formação dos filhos da nobreza que pretendiam seguir a carreira de oficial do exército. Além disso, existiam os colégios sacerdotais de estudos superiores. Aos cinco anos, iniciava-se a formação dos jovens nas escolas da aldeia, sob a orientação do templo local, onde podiam aprender os fundamentos de determinada profissão. Aos dezessete anos, os jovens que se destacavam continuavam os estudos no templo central ou nas escolas superiores de instrução escribal, durante três ou quatro anos. A atividade principal dentro dessa escola era a memorização da hieroglífica e o domínio da escrita hierática cursiva, utilizada para fins comerciais. A escola egípcia consistia na manutenção da literatura de inspiração divina. A técnica predominante no ensino era a memorização e a repetição. As virtudes consideradas neste período eram o silêncio, a obediência, a abstinência e a reverência ao passado. A criatividade e a originalidade deveriam ser evitadase o castigo era aplicado ao aluno como forma para conseguir as virtudes. Evidentemente, para se tornar escriba, o aluno tinha que alcançar perfeição na reprodução dos textos antigos e modelos de escrita. Assim, poderia ter acesso à mobilidade social. O processo educativo do Egito consistia na conservação das instituições existentes na sociedade sem que elas fossem modificadas. Essa educação que formava os guardiões funcionou durante 3000 anos. 1.4 EDUCAÇÃO GREGA 1.4.1 Um pouco da história da Grécia Convidamos você para iniciarmos as nossas conversas a respeito da história da educação na Grécia, e para isto é interessante que você saiba que a civilização grega surgiu entre os mares Egeu, Jônico e Mediterrâneo, por volta de 2000 a.C. e que esta formou-se após a migração de tribos nômades de origem indo-europeia, como, por exemplo, aqueus, jônios, eólios e dórios. Os heróis gregos (semi-deuses) eram os filhos de deuses com mortais. Zeus, deus dos deuses, comandava todos os demais do topo do monte Olimpo. Podemos destacar outros deuses gregos. A mitologia grega também era muito importante na vida desta civilização, pois através dos mitos e lendas os gregos transmitiam mensagens e ensinamentos importantes. Na arquitetura, os gregos ergueram palácios, templos e acrópoles de mármore no topo de montanhas. As decisões políticas, principalmente em Atenas, cidade onde surgiu a democracia grega, eram tomadas na Ágora (espaço público de debate político). DICAS Figura 7: Ruína grega Fonte: http://www.suapesquisa.com/grecia/ acesso 10/09/08 16 Letras/Português Caderno Didático - 3º Período Ressaltamos ainda que a Grécia era formada por um aglomerado de diversas cidades (polis). As polis (cidades-estado), forma que caracteriza a vida política dos gregos, surgiram por volta do século VIII a.C. As duas polis mais importantes da Grécia foram Esparta e Atenas. A respeito do contexto grego onde foram constituídos marcos que configuram a educação do ocidente, Silveira Rodrigues (2006) afirma que: [...] convém ponderar que, quando se refere à Grécia, não se fala em um único Estado, mas em um aglomerado de cidades (“pólis”), com suas características e, consequentemente, com suas diferenças econômicas e culturais, independentes e muitas vezes, até rivais. Considere-se, ainda, o processo de modificação dessas cidades, de acordo com a dinâmica das relações de poder, vigentes no período pré-socrático. Nesse período, conflitos de pensamentos foram vivenciados por pensadores como Tales de Mileto, (623-546 a.C.), além de Anaximandro e Anaxímenes, dedicados à busca de respostas para suas indagações no sentido de superarem o senso comum (doxa), tendo como base a razão e diferenciando-se das respostas encontradas nas explicações mitológicas que fundamentavam as concepções acerca da natureza, do sobrenatural, dos homens e da sociedade (SILVEIRA RODRIGUES, 2006, p. 6). Figura 8: Mapa da Grécia Fonte: http://www.suapesquisa.com/grecia/ acesso 10/09/08 PARA REFLETIR O conceito grego do homem, da personalidade era tão amplo como os de hoje. Os gregos foram os primeiros a formular o conceito de liberdade política no Estado. Foi dos gregos que surgiu a ideia de que a educação é a preparação para a cidadania e também o primeiro esforço para assegurar o desenvolvimento intelectual da personalidade. (Paul Monroe, 1976) Qual a relação que pode ser estabelecida entre o conceito grego de homem e o conceito de homem na atual democracia? História da Educação UAB/Unimontes 17 Aqui, vale considerarmos que o modelo de governo que é estabelecido nesse contexto é o governo democrático. Porém, lembramos a você que, ao se tratar da democracia na Grécia, refere-se a uma “democracia escravista”, onde só são considerados cidadãos os homens livres: Atenas tinha cerca de meio milhão de habitantes, dos quais trezentos mil eram escravos e cinquenta mil metecos (estrangeiros). Excluídas ainda as mulheres e as crianças, apenas os 10% restantes tinham o direito de decidir por todos. Atentando para o número de escravos, percebemos que, nesse período, a escravidão grega atingiu seu apogeu. Em todas as atividades artesanais, encontramos o braço escravo “libertando” o cidadão para as funções teóricas, políticas e de lazer, consideradas mais nobres. E no que se refere à educação grega, podemos considerar que essa teve como particularidade a oportunidade do desenvolvimento individual. Os gregos atingiram um grau de consciência de si mesmo. As explicações religiosas são substituídas pelo reconhecimento da razão autônoma, pela inteligência crítica, pela personalidade livre, capaz de formular o ideal de formação do cidadão. Assim, Aranha relata que: Uma nova concepção de cultura e do lugar do indivíduo na sociedade repercute na educação bem como nas teorias educacionais. De fato, os filósofos gregos refletiram a esse respeito, para que a educação pudesse desenvolver um processo de construção consciente de que o homem fosse constituído de modo correto e sem falha, nas mãos, nos pés e no espírito. (ARANHA, 1990). A organização da sociedade grega fez florescer o progresso social, a liberdade estimulou o desenvolvimento de todos os aspectos e de todas as formas de expressão do valor individual. Assim surgiu o conceito de educação liberal, considerada digna do homem livre. A educação digna do homem livre, que possibilita tirar proveito de sua liberdade ou fazer uso dela. A Grécia tinha a missão de aplicar a inteligência a todas as fases da vida. O saber deixou de ser servo da teologia e a pesquisa não era privilégio especial do sacerdócio. Naquele contexto, existia uma contraposição de ideias, discutidas por meio de debates, de forma que provocasse um conflito. Nesses debates, defendiam-se ideais filosóficos que, ao serem estabelecidos, foram cristalizados de forma a influenciar o mundo ocidental, até a atualidade. De acordo com Chatelet (1973): [...] é incontestável que a concepção grega do homem e do mundo se secularizou ou laicizou progressivamente e que o universo dos deuses desapareceu pouco a pouco face às ações dos homens... Subministra-se aí um pensamento novo, que rejeita nos horizontes distantes do arcaísmo o C F E A B GGLOSSÁRIO Paideia: o termo Paideia “foi criado por volta do século V a.c, que significava “criação dos meninos” (pais paidós). Na educação intelectual, a noção de paideia amplia de simples educação da criança para a contínua formação do adulto, capaz ele mesmo de repensar a cultura do seu tempo. Para Aranha, a Grécia Clássica é o berço da pedagogia. A palavra paidagogos significa aquele que conduz a criança, no caso o escravo que acompanha a criança à escola. Com o tempo, o sentido amplia para designar a teoria da educação. Os gregos, ao discutirem o fim da Paideia, esboçam as primeiras linhas da ação pedagógica, que irão influenciar a cultura ocidental. 18 Letras/Português Caderno Didático - 3º Período excessivo interesse pelos deuses e, em consequência, o exclusivo interesse pelos homens. Nesta óptica, a regulamentação da continuidade já é significação de ruptura... Um estilo novo de discurso nela se impõe; define- se uma ordem que será logo designada como lógica; determina-se nele uma política original. A novidade é evidente, não é mais a força dos hábitos ou do poder pseudo-real dos mantenedores da ordem que se impõe, mas a ordem da palavra controlada. (CHATELET, 1973, p.20). É importante lembrar que, no período denominado como pré- socrático, predominava o interesse em investigar a natureza (Physis) com a intenção de compreender o universo. E em meio a tal intenção, viveram pessoas como Heráclito de Éfeso, e Parmênedes de Eleia, cujas ideiasse contrapunham. E no decorrer da história, ao serem defendidas tais ideias, estas foram configurando um modelo de cidade e, consequentemente, um modelo ideal de educação, necessária para formar as pessoas com o perfil adequado aos moldes estabelecidos para a cidade. No que se refere às ideias do primeiro filósofo acima mencionado, estas defendiam o princípio de que as coisas que compõem o universo são móveis, e que nada permanece imóvel. Desta forma, concebe a vida como um constante devir. E o segundo, ou seja, Parmênides de Eleia, defendia que a realidade poderia se entendida de duas maneiras, sendo a primeira a filosofia da razão e da essência, e a segunda a da aparência da crendice da opinião pessoal. Podemos compreender, portanto, que as duas ideias se contrapunham. Uma afirmava que o ser é e o não ser não é, determinando o chamado princípio da identidade, consequentemente concluindo que o ser é único, imutável, eterno. E a outra afirmava o princípio da dialética, do devir. Em meio ao contexto mencionado, posições contrárias originavam uma diversidade de ideias, que, por sua vez, provocavam conflitos de opiniões. Opiniões estas que despertavam os cidadãos mais ambiciosos a aprender a arte da argumentação pública para driblarem seus adversários através da argumentação. Nesse cenário, encontramos a influência de Sócrates, que se dá no método que enfatiza a análise crítico-dialética, o que se torna indispensável para a educação com vistas à formação do homem culto. Já Isócrates (436-338 a.c) defende o ideal da retórica como principal conteúdo no processo educativo. Em 392 a.c, funda sua própria escola de oratória e retórica, tendo como objetivo do processo educativo a formação do homem total, onde sua conduta na vida como cidadão privado ou público seja baseada na virtude. Nesse momento da história grega, por meio do pensamento de Sócrates (469-399 a.C), nasce a visão essencialista ou inatista, onde buscar o PARA REFLETIR Para Sócrates, a aprendizagem é fruto de uma semente germinada e cultivada na alma. E assim, a educação deve ocorrer por meio de diálogos críticos, procurando demonstrar a necessidade de unir pensamento e vida, a fim de que o ser humano procurasse buscar o auto- conhecimento. Você percebe esse modelo de educação presente nas concepções ensino- aprendizagem adotadas atualmente? História da Educação UAB/Unimontes 19 conhecimento da identidade pressupõe buscar determinações apriorísticas. O que implica a defesa de que a aprendizagem é fruto de uma semente germinada e cultivada na alma. E assim, a educação deve ocorrer por meio de diálogos críticos, procurando demonstrar a necessidade de unir pensamento e vida, a fim de que o ser humano procurasse buscar o auto- conhecimento. Para Sócrates, o professor deveria indagar os alunos, de forma a promover o desenvolvimento das virtudes, e alcançar o auto- conhecimento, ou melhor, o conhecimento de sua essência. Na sequência da história da educação grega, encontramos Platão (427-347), discípulo de Sócrates, pertencente a uma das famílias mais nobres atenienses, o qual criticava o ideal de Isócrates e defendia a aristocracia e contra a democracia como sistema político e como processo educativo. O filósofo defendia o ideal de Sócrates, onde insiste na existência de um bem superior à vontade popular; esse ideal que se manifesta na justiça. Para Platão, a retórica ofusca a visão e a procura do bem. No pensamento dele filósofo, o processo educativo depende da cronologia dos diálogos. A metodologia de inspiração socrática estava na procura do sentido essencial da realidade, a classificação de termos, a exposição de opiniões e os preceitos à luz de verdades e valores absolutos. Ressaltamos que, para pensar a participação de Platão na História da Educação, é necessário esclarecer que esse filósofo grego defendia a ideia de que os homens que não eram considerados livres não conseguiam passar do mundo das sombras e aparências para o mundo das ideias e das essências – condição para sair do mundo inicial das sensações, das impressões, da opinião, e penetrar no mundo da razão. Para refletirmos um pouco a respeito da história da educação no contexto onde vivia Platão, necessitamos lembrar que as ideias deste filósofo marcam dois momentos e dois modelos de educação, sendo que o primeiro momento representa as ideias de Platão enquanto jovem, que são expressas no livro A República. Platão aponta o modelo ideal de cidade, onde as pessoas são livres para se governar. Aqui fica clara a concepção de homem, que traz implícita uma concepção de educação e, consequentemente, uma visão de ensino e aprendizagem coerente com a moral e a política. Segundo Platão (1989): Um homem perfeito só pode ser um perfeito cidadão. E como é necessário conhecer o bem para ser um homem de bem ou um bom cidadão, se não o conhecer por si mesmo em todo o seu esplendor, convém pelo menos ser orientado por aqueles que se elevaram até este conhecimento, ou seja, os filósofos. Eis por que é necessário, para o bem de todos, que os filósofos sejam considerados os líderes da cidade (PLATÃO 1999, p.32) Podemos observar aqui que, ao conceber o homem livre, a educação também é concebida de forma livre, pois é necessário formar o DICAS Leia sobre a Grécia em obras de Sócrates, Isócrates, Platão e Aristóteles. Você encontra e- books desses pensadores em sites como http://ateus.net/ebooks/ http://projetophronesis.wordpr ess.com/2009/07/10/e-books- socrates/ http://searchworks.stanford.edu /view/4535727 20 Letras/Português Caderno Didático - 3º Período homem que se ajuste a um modelo, onde cada pessoa tenha consciência de sua classe e, desta forma, irá desempenhar os seus papéis, cumprir obrigações, a fim de manter a harmonia entre a hierarquia, necessária a uma cidade justa, livre das desilusões, conveniências sociais e interesses individuais ou de uma minoria de aristocratas. No que se refere à educação proposta por Platão na República, Giles(1987) afirma que: Em A República, Platão analisa demoradamente o processo educativo. Este visa, antes de tudo, à formação do guardião, que é quem deve exercer liderança e garantir a subsistência do Estado na sua forma ideal. Platão é menos explícito no que diz respeito à formação dos guerreiros e dos artesãos. Porém, a escolha do candidato para cada tipo de educação será baseada no talento, ou seja, na capacidade natural. (GILES, 1987, p. 21) Após termos pontuado a visão de mundo de homem e, consequentemente, de educação de Platão enquanto jovem, vamos abordar elementos referentes ao pensamento de Platão que demarcam decisivamente a história da educação ocidental. Sendo assim, enfatizamos que, após a sua juventude, já em um momento mais maduro de sua vida, Platão apresenta uma visão de mundo diferenciada da que apresentava em sua juventude. A respeito da influência do pensamento de Platão na história ocidental, Suchodolski (1984), com a seguinte análise, afirma que a mesma é de extrema [...] importância capital na história espiritual da Europa resulta não só de ter sido por diversas vezes ponto de partida de várias correntes filosóficas, desde a época helenística ao Renascimento, mas também de algumas das teses dessa filosofia terem entrado por vezes no domínio público quase geral, tornando-se expressão da posição idealista mais vulgar em relação à realidade. Isto se revelou particularmente fértil no campo da pedagogia. (SUCHODOLSKI, 1984, p. 19) Diante do exposto, lembramos a você que a visão de mundo que Platão apresentava na república é negada, a favor da apresentação de outra, que é cristalizada no decorrer da história. Ou seja, é cristalizada a concepção de que a lei como criação humana enquanto a Paideia não é natural. Talvisão, a partir da obra As Leis, onde a visão idealista de Platão apresentada em A República é abandonada dando lugar a uma visão realista, consequentemente interfere na concepção de homem que passa a ter que agir sobre as instâncias da lei. De acordo com Chatelet: Constrói uma cidade de segunda ordem e propõe talvez um estado definit ivo do ensinamento polít ico do platonismo. Desde então, Atenas passa a ser governada PARA REFLETIR As Universidades do mundo grego originaram-se das escolas filosóficas e retóricas. Mesmo com diversos grupos de escolas, somente duas receberam o título de Universidade: Universidade de Atenas e Universidade de Alexandria. A Universidade de Atenas originou-se da combinação de 3 escolas; a Academia, a Peripatética (fundada por Aristóteles) e a estóica. A Universidade de Alexandria foi considerada como centro intelectual do mundo nos primeiros séculos cristãos superando a Universidade de Atenas. O propósito de Alexandre de tornar Alexandria em um centro de influência grega de poder e saber no Oriente foi efetivado sob a influência dos Ptoloneus (323- 30 d.c). Foram fundados museu e biblioteca, juntou-se uma extensa coleção de manuscritos gregos, hebreus, egípcios e orientais. Alexandria foi a única instituição de ensino superior que aplicou o método aristotélico de investigação, foi também a única que possuía manuscritos de Aristóteles. Nesta Universidade, foram educados os primeiros Padres da Igreja e foi onde procedeu dos centros intelectuais do norte da África a formulação da doutrina cristã aceita até hoje como ortodoxa. (Paul Monroe, 1976) História da Educação UAB/Unimontes 21 pelas regras da boa proporcionalidade; as leis analisam o nascimento da sociedade política, demonstrando a necessidade de um legislador para criar leis e organizar a vida coletiva. (CHATELET, 1973, p. 12) Nesse contexto, pensar a educação implica pensar no princípio pedagógico, a partir das instâncias da lei. Assim, consideramos que o processo educativo está ligado às leis, que, por sua vez, consideram a educação como a preparação do homem para viver corretamente, viver bem a vida, ou seja, ser um cidadão. De acordo com a ideia de educação conforme apresentado em Platão nas Leis, é indispensável lembrar que, nessas circunstâncias, as pessoas precisam seguir as leis, pois elas não se governam mais. E, para tal, é necessário que aprendam a agir conforme as circunstâncias da lei, pois as mesmas pertencem ao Estado, que é representado pelo legislador, o qual, por sua vez, também é educador que trabalha para manter o bem-estar da sociedade, por meio da formação do homem corajoso, ético, prudente, generoso, ágil, belo-político e, principalmente, obediente às leis, assim como afirmava Platão (1999): [...] poderemos, sem hesitação e imediatamente formular a seguinte lei: todos os cidadãos que chegaram ao termo da vida depois de terem realizado pelo corpo ou a alma obras nobres e labores difíceis e terem sido obedientes às leis serão considerados como apropriados objetos de louvor. (PLATÃO, 1999, p. 293) Nesta perspectiva, o processo educativo e sua eficácia dependem da constituição do Estado. Assim, a primeira finalidade do Estado é formular e executar o processo educativo que visa, antes de tudo, formar o bom cidadão. Trata-se, nesse contexto, de formar o cidadão ideal para uma sociedade ideal. O Estado é um organismo análogo do homem, onde, para poder desempenhar sua função política, o estado deve oferecer ao cidadão uma educação que corresponda à sua capacidade e função social. Silveira Rodrigues (2006) refere-se à história da educação grega sob a ótica estabelecida por Platão da seguinte maneira: Nesta direção, a lei, que na condição de criação humana, enquanto Paideia, não é natural, ou seja, é criada pelo homem, a serviço do bem-estar social público. Assim, nota- se que é aberto o espaço para a obrigação do Estado em relação à educação. Ou seja, a educação pública. De acordo com as reflexões acima, entende-se que as instâncias da lei de responsabilidade do legislador são vistas como princípio pedagógico, que buscam socializar o corpo para atingir os objetivos. Nesse sentido, agindo sobre as instâncias da lei como um administrador da escola, o legislador do Estado DICAS Os gregos adaptaram o sistema de escrita fenícia agregando as vogais e criando assim a escrita alfabética. (Alfabeto, palavra derivada de alfa e beta, as duas primeiras letras do alfabeto grego.) Posteriormente, a escrita grega foi adaptada pelos romanos, constituindo-se o sistema alfabético greco-romano, que deu origem ao nosso alfabeto. Esse sistema representa o menor inventário de símbolos que permite a maior possibilidade combinatória de caracteres, isto é, representação dos sons da fala em unidades menores que a sílaba. Com a invenção da escrita o processo educativo é mais formalizado, exigindo uma classe de especialista, neste caso, a transmissão e a escrita fica entregue à responsabilidade da casta sacerdotal. 22 Letras/Português Caderno Didático - 3º Período tem de garantir uma unidade de educação. Propõe-se, então, que a educação inicial caiba às mulheres, tendo em vista que estas já educam os filhos, ainda quando fetos, em seu ventre, pois é por intermédio de seu corpo que os fetos alimentam e recebem saúde e vigor. (SILVEIRA RODRIGUES, 2006, p. 33) A autora supracitada ainda ressalta que, mesmo correndo o risco de ser ridicularizado, considerando a imagem atribuída às mulheres na época, Platão defende a ideia em questão, considerando, ainda, que quando se refere à mulher, não diz respeito apenas às mães. Diz respeito também às amas de leite, à mulher grávida, pois são elas que se relacionam diretamente com as crianças antes de nascer e nos primeiros anos de vida. São as pessoas que se relacionam inicialmente com as crianças no espaço privado, onde recebem a primeira educação, que diz respeito aos cuidados com o espaço privado. O que entendemos que, para Platão, pertencem ao público, considerando que as pessoas não pertencem a si mesmas, pertencem ao Estado. Segundo Platão (1999): [...] não caberá a nenhum pai decidir enviar ou não seu filho à escola, a seu próprio critério. Todo homem e todo rapaz, na medida do possível, será obrigado a se educar já que, mais que filhos de seus pais, serão filhos do Estado. (PLATÃO, 1999, p. 297) Nesse contexto, marca a história a ligação que é estabelecida entre o público e o privado; a educação inicia-se no espaço privado e, após os seis anos, os homens são separados das mulheres e continua o processo educacional, que busca atender o corpo e a alma por meio da ginástica, da dança, da luta e da música. Sobre a obrigatoriedade da educação, Platão (1999) afirma que os professores de todas as disciplinas deverão ensinar a seus alunos. Deixamos claro que dizer ensinar a todos não significa dizer que a educação era igual para todos. A educação diferenciava de uns para outros considerando a seletividade social que tinha como parâmetro a natureza social dada a cada um. Assim, estabelece a seletividade no processo educacional grego, que aparece de forma explícita no pensamento de Platão, ao afirmar que: [...] para os nascidos livres três ramos do aprendizado: destes, o primeiro é o cálculo e a aritmética, e o segundo a arte da medição das extensões, das superfícies e dos sólidos; e o terceiro diz respeito ao curso dos astros e à forma de trajeto natural um em relação ao outro. Todas essas ciências não deverão ser estudadas com minuciosa precisão pela maioria dos alunos, mas apenas por alguns selecionados, que diremos quais serão, quando estivermos próximo do fim [deste tratado as leis], visto queeste será o lugar adequado para tal. (PLATÃO, 1999, p. 314) DICAS Na educação homérica, gregos homéricos eram em grande parte analfabetos. O processo educativo tinha por base a tradição oral, que se concretiza em duas epopeias,Ilíada e Odisseia, atribuídas a Homero, considerado por Platão 'o educador de toda a Grécia' (MANACORDA, 1988). Essas obras dominaram todo o processo educativo na Grécia e depois irão fazer parte do patrimônio romano. História da Educação UAB/Unimontes 23 Nesse sentido, precisamos ter claro que o modelo educacional presente no idealismo pedagógico encontra-se de acordo com a Paideia, ou o saber apresentado por Platão, que afirma a necessidade de produzir o homem conforme os moldes e os interesses da época, caracterizada pela sociedade patriarcal. Desta forma, a educação é vista como condição para materialização do fato de que não é possível construir o político sem educação ou manutenção da ordem vigente. O que, nesse caso, justifica o sistema educacional afirmar a desigualdade da divisão do trabalho e assim sustentar a divisão de classe social. Conforme afirma Manacorda: Para as classes governantes, uma escola, isto é, um processo de educação separado visando preparar para as tarefas do poder que são o “pensar” ou o “falar” (isto é a política) e o “fazer” a esta inerente (isto é, as armas); para os produtores governados nenhuma escola inicialmente, mas só um treinamento no trabalho, cujas modalidades, que foram mostradas por Platão, são destinadas a permanecer imutáveis durante milênios: observar e imitar as atividades dos adultos no trabalho, vivendo com eles. Para as classes excluídas e oprimidas, sem arte nem uma escola e nem um treinamento, mas em modo e em graus diferentes, a mesma aculturação que descende do alto para as classes subalternas. (MANACORDA, 1988, p. 41). Após termos abordado um pouco a respeito da história da Grécia e os modelos teóricos que permearam a educação no contexto em questão, lembramos a você que a educação grega deve suas limitações, sobretudo na ética, costumes e privilégios. Podemos concluir que essa educação dividiu- se entre antigo (Idade Homérica) e novo período (educação espartana e ateniense). Ressaltamos aqui que não podemos nos esquecer de que, na educação grega, o fator dominante que irá prevalecer em todos os períodos é o aspecto social, institucional e o aspecto individualista. E lembramos também que a educação helenística pressupõe a observação física, a dedução lógica, as pesquisas matemáticas, de medicina, de física compõem estudos científicos importantes. E, A partir da educação elementar, a escola destina-se aos filhos dos cidadãos. Aliás, é obrigação dos pais mandar os filhos à escola. A cidade limita-se a nomear o diretor oficial do ensino, que é quem controla a programação e a execução do processo educativo. O novo período compreende as ideias educacionais, religiosas e morais; nesse momento se desenvolvem o novo pensamento filosófico e as novas práticas educativas. No segundo período estende-se desde a conquista da Macedônia, no IV século a.c até a fusão completa da cultura grega com a vida romana; compreende principalmente as escolas filosóficas e a vida intelectual cosmopolita. O período clássico – séculos V e IV a.c , considerado o apogeu da civilização grega. Observa-se na política o ideal grego de democracia representado por Péricles. Além disso, as artes, literatura e filosofia contribuíram definitivamente para a herança cultural do mundo ocidental. (ARANHA, 1990) DICAS 24 Letras/Português Caderno Didático - 3º Período 1.4.2 Educação homérica A educação no período homérico se caracterizava pela falta de organização institucional específica, falta de método e de controle. A educação consistia no treino de atividades práticas, com pouco lugar para a instrução de caráter literário. O treino voltado para atender às necessidades reais da vida acontecia no seio familiar. Para deveres superiores da vida, como serviço público, o treino era realizado pelo Conselho (aproximava de uma instituição educativa), na guerra e nas expedições de conquista. O ideal da educação homérica baseava-se na teoria do desenvolvimento da personalidade; compreendia o ideal do homem de ação e do homem de sabedoria. A primeira virtude do homem de ação e do guerreiro era a bravura. Assim, Aquiles (o guerreiro) e Ulisses (oratória) foram o modelo de virtude e de honra. O menino aprendia as proezas dos heróis homéricos. Nesse período, o ensino formal não existia, o conteúdo desse ensino era a retórica ensinada para falar e a arte militar ensinada para agir. 1.4.3 Educação em Esparta Para conversarmos a respeito da educação espartana, precisamos ressaltar que, com a formação da Cidade-Estado (unidades políticas maiores), faz aparecer a evolução da nova estrutura política acompanhada por modificações nas formas de governo, de sistema monárquico, depois ditadura e, por fim, a democracia republicana. Entretanto, Esparta aparece como uma exceção a esse processo, pois o ideal homérico irá permanecer de maneira atuante e nitidamente militarista. O estado de guerra praticamente permanente impõe uma disciplina que subordina o indivíduo ao Estado. Desta forma, você precisa ter claro que a educação espartana consistia em dar a cada indivíduo a perfeição física, coragem e hábito de obediência às leis para que esse indivíduo se tornasse um soldado ideal em bravura e verdadeiro cidadão. O processo educativo é controlado pelas autoridades políticas, afinal as crianças nascem e são criadas para servir ao Estado. Aos sete anos de idade, o menino é entregue aos cuidados da escola oficial do Estado. Todo o ensino destinava-se a formar o soldado. Ao ingressar na escola: O menino recebe uma cama de palha, sem cobertor, e uma camisola curta. Deve andar descalço. Para acostumar-se a passar fome em tempo de guerra, só recebe um mínimo de comida. (GILES, 1987, p.13). História da Educação UAB/Unimontes 25 Desta maneira, o conteúdo da educação espartana era dominantemente físico e moral. A educação moral valorizava a obediência, a aceitação dos castigos e o respeito aos mais velhos. 1.4.4 Educação em Atenas A educação em Atenas contrastava com a adotada em Esparta. A inversão da formação física para a espiritual, isto se dará principalmente no ensino superior ministrado pelos filósofos. Os atenienses acreditavam que a cidade-estado se tornaria mais forte se cada menino desenvolvesse individualmente suas aptidões. O governo não controlava os alunos e as escolas. O menino entrava na escola aos 6 anos e ficava sob a responsabilidade de um pedagogo. Todo cidadão ateniense enviava o filho a três tipos de escola elementar: a palestra ou escola de ginástica, a escola de música e a escola de escrita. A música visava ao desenvolvimento do senso estético do menino e o sentido de participação em concursos, festivas e declamações de poesia; constituía a formação do caráter moral. Na escola de escrita, o menino aprendia a escrever tanto a letra formal como a letra cursiva. Neste período (século V a.c) houve evolução do alfabeto em Atenas, isto foi de extrema importância para o processo educativo: O aluno iniciava por copiar as letras individuais, para depois combiná-las em sílabas e, enfim, decorava palavras inteiras. A escrita era feita em tábuas de barro cozido com estilete. As tábuas eram cobertas com uma camada de cera. Mais tarde, escrevia-se em folhas de papiro. O aluno traçava as formas das letras, já preparadas pelo instrutor, até aprender a formá- las ele próprio. (GILES, 1987, p. 15) As leituras eram baseadas nas obras de Homero, Hesíodo, Esopo, Tucídides. Posteriormente, o desenhou e os elementos de geometria foram introduzidos nos estudoselementares. Com relação ao nível superior, o ideal da formação do homem total é substituído pela formação do homem literário. Os estudos da gramática e da crítica literária ganham importância e os jovens de quatorze a dezoito anos de idade preferem estudar a nova tradição literária. Porém, uma transformação maior acontece no ensino superior com os sofistas, que surgem para atender ao novo ideal social e cultural e ao novo processo educativo que garantisse a vantagem política e o êxito nos assuntos públicos. Com os sofistas (primeiros mestres profissionais), o jovem ateniense podia alcançar a capacidade de persuadir e manipular as massas, afinal Atenas vivia a nova experiência política, a democracia. 26 Letras/Português Caderno Didático - 3º Período O processo educativo estava associado às necessidades práticas, principalmente a eloquência perante a assembleia dos cidadãos. A retórica é fundamental, pois é na argumentação, na força de dicção poética e na ornamentação e estilística que a opinião pública poderá, através da persuasão, ser manipulada. Assim, o processo educativo ateniense fundamentava-se na ideia de que o conhecimento é o modelo intelectual do mundo fenomenal. As ciências aplicativas constituem a aplicação prática dos princípios aprendidos na ética, na política e na retórica. Atenas foi a “escola de toda a Grécia”, segundo Tucídides. 1.4.5 Educação Helenística O helenismo representa a fase final da especulação filosófica, da atividade estética, de experiências sociais e políticas. Surge um novo padrão de civilização através da fusão da cultura da Grécia Antiga e das culturas do Oriente. A astronomia e a geometria irão se destacar. A tradição ateniense, isto é, o método empírico-indutivo, é seguida tendo como objetivo a maior compreensão do mundo físico. A observação física, a dedução lógica, as pesquisas matemáticas, de medicina, de física compõem estudos científicos importantes. Segundo Cambi (1999 p.53 ) O Helenismo coincide com o período em que desenvolve a hegemonia da cultura grega no Mediterrâneo, em que se chega a construir uma verdadeira Koiné (uma língua comum) e afirmar um modelo de cultura baseado na humanista; isto é, na valorização da humanidade mais própria do homem posta em exercício pela assimilação da cultura que exalta seu caráter de universalidade; mas se trata também de uma época em que se delineia uma cultura cada vez mais científica, mais especializada, mais articulada em formas diferenciadas entre si tanto pelos objetos quanto pelos métodos. (CAMBI, 2003, p. 94) Nesse contexto, o processo educativo é baseado em Atenas, ou seja, no modelo desenvolvido por Sócrates, Platão e Aristóteles. O que compreende cinco etapas: o lar, a escola elementar (dos quatorze aos dezoito anos), o ensino efébico (a cargo do Estado) e o ensino superior (retórica ou filosofia) a partir dos vinte e um anos. Assim, Giles (1987) escreve: A partir da educação elementar, a escola destina-se aos filhos dos cidadãos. Aliás, é obrigação dos pais mandar os filhos à PARA REFLETIR Pão e Circo Com o crescimento urbano, vieram também os problemas sociais para Roma. A escravidão gerou muito desemprego na zona rural, pois muitos camponeses perderam seus empregos. Esta massa de desempregados migrou para as cidades romanas em busca de empregos e melhores condições de vida. Receoso de que pudesse acontecer alguma revolta de desempregados, o imperador criou a política do Pão e Circo. Esta consistia em oferecer aos romanos alimentação e diversão. Quase todos os dias ocorriam lutas de gladiadores nos estádios (o mais famoso foi o Coliseu de Roma), onde eram distribuídos alimentos. Desta forma, a população carente acabava esquecendo os problemas da vida, diminuindo as chances de revolta. História da Educação UAB/Unimontes 27 escola. A cidade limita-se a nomear o diretor oficial do ensino, que é quem controla a programação e a execução do processo educativo. (GILES, 1987, p. 45) Após abordarmos a respeito da educação helenística, vamos dialogar um pouco a respeito da educação Romana, e, para tal, precisamos considerar que, com a conquista romana, a cultura grega estende suas fronteiras, sem mudar seu caráter. Na realidade, a educação romana vai ser apenas um aspecto da educação da Grécia. 1.5 EDUCAÇÃO ROMANA 1.5.1 Um pouco da história de Roma Reportarmos à história de Roma requer considerarmos que esta consistia em uma pequena cidade e se tornou um dos maiores impérios da antiguidade. Dos romanos, herdamos uma série de características culturais. O direito romano, até os dias de hoje, está presente na cultura ocidental, assim como o latim, que deu origem à língua portuguesa, francesa, italiana e espanhola. Origens de Roma: explicação histórica e Monarquia Romana (753 a.C a 509 a.C). Esclarecemos para você que, de acordo com os historiadores, a fundação de Roma resulta da mistura de três povos que foram habitar a região da península itálica: gregos, etruscos e italiotas. Alertamos-lhe que esses povos desenvolveram na região uma economia baseada na agricultura e nas atividades pastoris. Lembramos-lhe, também, que a sociedade, nessa época, era formada por patrícios (pobres proprietários de terras) e plebeus (comerciantes, artesãos e pequenos proprietários). O sistema político era a monarquia, já que a cidade era governada por um rei de origem patrícia. A religião nesse período era politeísta, adotando deuses semelhantes aos dos gregos, porém com nomes diferentes. Nas artes, destacava-se a pintura de afrescos, murais decorativos e esculturas com influências gregas. República Romana (509 a.C. a 27 a.C). Ressaltamos ainda que, durante o período republicano, o senado Romano ganhou grande poder político. Os senadores, de origem patrícia, cuidavam das finanças públicas, da administração e da política externa. As atividades executivas eram exercidas pelos cônsules e pelos tribunos da plebe. A criação dos tribunos da plebe está ligada às lutas dos plebeus por uma maior participação política e melhores condições de vida. Em 367 a.C, foi aprovada a Lei Licínia, que garantia a participação dos plebeus no Consulado (dois cônsules eram eleitos: um patrício e um plebeu). Esta lei também acabou com a escravidão por dívidas (válida somente para cidadãos romanos). Formação e Expansão do Império Romano. DICAS A Educação Superior em Roma era a imitação da educação da Grécia. Em 167 a.c Paulus e Sila trouxeram as primeiras bibliotecas (tomadas dos gregos), depois Augusto fundou duas bibliotecas públicas. Durante a idade de ouro da literatura latina, os livros e as bibliotecas se multiplicaram. A partir da biblioteca fundada por Vespasiano surge a Universidade de Roma no Templo da Paz. Priorizava-se mais o direito e a medicina do que a filosofia. As artes liberais, neste caso, a gramática e a retórica, estavam presentes na língua latina e grega. O trabalho da universidade era direcionado para a arquitetura, a matemática e a mecânica; toda a instrução consistia em uma disciplina formal, não existia a investigação ou o estímulo criativo. A exposição do assunto era como acontecia nas escolas inferiores. Diferentemente das escolas de gramáticas e retóricas que estavam espalhadas pelas províncias. Fora das localidades, nos centros de cultura grega, não havia outras universidades sob o domínio romano. (Paul Monroe) 28 Letras/Português Caderno Didático - 3º Período Todavia, esclarecemos-lhe que, após dominar toda a península itálica, os romanos partiram para as conquistas de outros territórios. Com um exército bem preparado e muitos recursos, venceram os cartagineses nas Guerras Púnicas (século III a.C). Essa vitória foi muito importante, pois garantiua supremacia romana no Mar Mediterrâneo. Após dominar Cartago, Roma ampliou suas conquistas, dominando a Grécia, o Egito, a Macedônia, a Gália, a Germânia, a Trácia, a Síria e a Palestina. Com as conquistas, a vida e a estrutura de Roma passaram por significativas mudanças. O império romano passou a ser muito mais comercial do que agrário. Povos conquistados foram escravizados ou passaram a pagar impostos para o império. As províncias (regiões controladas por Roma) renderam grandes recursos para Roma. A capital do Império Romano enriqueceu e a vida dos romanos mudou. Você precisa ter claro também que, no ano de 395, o imperador Teodósio resolve dividir o império em: Império Romano do Ocidente, com capital em Roma, e Império Romano do Oriente (Império Bizantino), com capital em Constantinopla. Em 476, chega ao fim o Império Romano do Ocidente, após a invasão de diversos povos bárbaros, entre eles, visigodos, vândalos, burgúndios, suevos, saxões, ostrogodos, hunos etc. Nesse contexto, podemos afirmar que ocorria o fim da Antiguidade e início de uma nova época chamada de Idade Média. 1.5.2 A Educação Agora, dedicaremos nossa atenção à reflexão acerca da educação romana; historiadores afirmam que, na antiga Roma, o pai de família é o primeiro educador. Esse modelo de educação se caracteriza pela mentalidade prática dos romanos, enquanto na Grécia os sofistas foram os instrumentos para a introdução de novas práticas educativas. Para podermos discutir a respeito da educação em Roma, você precisa saber que os filósofos gregos, particularmente Sócrates, Platão e Aristóteles tentaram conciliar o conflito existente entre a educação institucional e a nova educação individualista, o que resultou na formulação de um problema da educação atual. As discussões de fins, métodos e conteúdo educacionais tinham sofrido influência dessa época até o presente, assim a organização educacional sugerida pelos filósofos gregos não teve impacto imediato. Dessa forma, ponderamos que a tendência individualista permaneceu até que fosse reprimida politicamente pelo Império Romano e moralmente pelo cristianismo. O ideal romano de educação era baseado na concepção de direitos e deveres. Assim: Todos os deveres de pai e de cidadão reclamavam uma educação definida, durante os anos da meninice, a fim de se DICAS http://www.suapesquisa.com/ imperioromano/www.discovery brasil.com/gu%20iaroma/alfabe tizacao/index.s%20html História da Educação UAB/Unimontes 29 desenvolverem as aptidões ou virtudes adequadas. Mesmo nos últimos períodos, esta educação, apenas em pequena parte, era ministrada na escola. O lar é que ministrava uma educação definida, de caráter positivo e de grande valor. (GILES, 1987, p. 37) Esclarecemos a você que o processo educativo romano tinha a finalidade de formar os filhos para servirem à Pátria. A aprendizagem consistia nas artes mais necessárias para o Estado. Com o ideal prático, os romanos orientavam-se para a lei e a ordem, o dever ao Estado, as tradições passadas e a dignidade auto-suficiente. Lembramos também que na sociedade romana a família é a instituição mais importante e o principal agente educativo. O processo educativo é a formação do caráter moral. Assim, as escolas formais tinham menor relevância, em comparação com o lar. A educação é responsabilidade dos pais, que devem dar disciplina severa, autoritária e moral. Thomas Giles (1987) revela que: Completados os oito ou nove dias do nascimento, o filho é inspecionado para ver se merece viver ou não. Sendo aprovado, a família festeja a ocasião com cerimônia religiosa, dando-se nome ao filho. Só então a família assume a sagrada tarefa de cuidar da criança, educando-a para o cumprimento da futura tarefa de assumir os deveres de cidadão. (GILES, 1987, p.78) A partir dessa fase, a criança aprende a referendar as divindades ancestrais, a obedecer às leis e aos pais, na realidade aprendem a ser guerreiro e cidadão. Segundo Cambi, (1999) as crianças na Roma antiga são marginalizadas, são [...] totalmente fechadas no âmbito da vida familiar, sujeitas a doenças e à morte precoce, às vezes mimadas e cuidadas, em geral, porém brutalizadas e violentadas, submetidas ao duplo regime do “medo de pai” e da orientação ética da mãe, além da vigilância dos pedagogos e do autoritarismo dos mestres. Pajeadas por amas, amedrontadas pelas bruxas (as lâminas), nutridas de exempla (sobretudo dos maiores: os ancestrais), as crianças romanas, através de sua educação familiar, entram em contato com os valores e os princípios da vida civil, incorporando-os como valores comuns e modelos de comportamento. (CAMBI, 1999, p.106) Quanto ao processo educativo fundamental dos romanos, é a tradição, o jovem aprende a ser um homem bom e piedoso a partir da observação dos mais velhos, assim a força do exemplo é o instrumento crucial da educação romana. Para Manacorda (1999), a transição do estado tribal à monarquia aconteceu em apenas 300 anos: 30 Letras/Português Caderno Didático - 3º Período Em Roma a educação moral, cívica e religiosa, aquela que chamamos de inculturação às tradições pátrias, tem uma história com características próprias, ao passo que a instrução escolar no sentido técnico, especialmente das letras, é quase totalmente grega. Com as palavras de Cícero podemos dizer que “As virtudes (virtutes) têm sua origem nos romanos, a cultura (doctrinae) nos gregos.” (MANACORDA, 1988, p. 73). Os ritos da iniciação começam aos dezesseis anos, quando o adolescente passa para a condição de adulto, aí troca de veste e confirma o nome. A educação então é entregue a parentes ou amigos que ensinarão a arte guerreira e agrícola. O adolescente aprende também a ginástica, o manejo de armas e a ler e escrever e a história da pátria como sinal de identidade nacional. O ensino literário limitava-se à transmissão oral de hinos religiosos e cantos militares. O filho era moldado pelo pai para formar uma sociedade de soldados e aristocratas, pois o objetivo dessa educação era moral e prática, e não intelectual e literária. Entretanto, a anexação da Grécia, da Macedônia e de outras províncias transforma Roma em uma cidade bilíngue, destacando a língua grega, que se torna a segunda língua para os diplomatas e aristocratas. Assim, as mudanças em Roma são irreversíveis. Inicia-se o ideal pragmático utilitário de aceitação e adaptação dos estudos helenistas por parte de Roma. Somente na segunda metade do século II surge um curso de instrução formal que tem o ideal humanista, correspondente à Paideia. A organização sistemática do ensino se baseia no programa de estudos dominados pela gramática, filologia e retórica, e não pela literatura, estética e filosofia. Os estudos dividiam-se em três etapas; a primeira consistia na leitura, na escrita do grego e do latim; a segunda, gramática, filologia e literatura; a última etapa compreendia o nível superior, ou seja, o estudo técnico da filosofia, da dialética e da retórica. Porém, o elemento comum nessas três etapas é a dimensão prática (aplicabilidade à vida do que se ensina e se aprende). A estrutura escolar helenista é implantada no sistema escolar romano vigente. O ensino de literatura, da lógica e da oratória continua, e nesse momento o menino era entregue aos cuidados do pedagogo. O pedagogo romano tinha como objetivo servir de guardião, companheiro e orientador moral. Esse pedagogo era escolhido com muito critério, sendo observado principalmente o seu caráter moral. Aos sete anos, o menino aprendia a escrever copiando as palavras ditadas pelo mestre ou traçando as letras sobre as tábuas de cera. Na leitura, C F E A B GGLOSSÁRIO Pragmatismo: Doutrina que toma como critério de verdade o valor prático. ATIVIDADES Assista aos filmes:
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