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Policiamento_Comunitário (1)

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POLICIAMENTO 
COMUNITÁRIO 
 
Circulação Interna 
 
[ POLICIAMENTO COMUNITÁRIO] 
QUESTÕES E PRÁTICAS ATRAVÉS DO MUNDO 
“Nunca a polícia terá espiões 
comparáveis aos que se colocam ao 
serviço do ódio”. 
Honoré de Balzac 
Textos extraídos do livro: Policiamento Comunitário, de Jerome H. Skolnick e David H. Bayley. 
 
1 
http://pensador.uol.com.br/autor/honore_de_balzac/
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SUMÁRIO 
 
1. ELEMENTOS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO.................................................................................................................02 
Prevenção do Crime Baseada na Comunidade...............................................................................................................................................04 
Reorientação das Atividades de Patrulhamento.............................................................................................................................................06 
Aumento da Responsabilização da Polícia.....................................................................................................................................................10 
Descentralização do Comando.......................................................................................................................................................................12 
Supervisão......................................................................................................................................................................................................13 
Policiamento Orientado para a Solução de Problemas...................................................................................................................................14 
Exercício de síntese .......................................................................................................................................................................................16 
2. UM GUIA DAS EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS..................................................................................................................17 
Austrália.........................................................................................................................................................................................................17 
Canadá............................................................................................................................................................................................................17 
Noruega..........................................................................................................................................................................................................18 
Suécia.............................................................................................................................................................................................................19 
Dinamarca......................................................................................................................................................................................................20 
Finlândia.........................................................................................................................................................................................................21 
Grã-Bretanha..................................................................................................................................................................................................22 
Japão...............................................................................................................................................................................................................23 
Cingapura.......................................................................................................................................................................................................23 
Estados Unidos...............................................................................................................................................................................................24 
Motivações para o Policiamento Comunitário...............................................................................................................................................24 
Exercício de síntese .......................................................................................................................................................................................25 
3. ORIGENS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO.......................................................................................................................26 
O Período Tranqüilo.......................................................................................................................................................................................27 
Os Anos 1960.................................................................................................................................................................................................27 
Falta de Adequação das Unidades de Relações Públicas...............................................................................................................................28 
Policiamento em Grupo..................................................................................................................................................................................29 
A Era da Pesquisa...........................................................................................................................................................................................30 
Exercícios de síntese .....................................................................................................................................................................................32 
4. POSSÍVEIS OBSTÁCULOS AO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO.........................................................................................33 
A Cultura Tradicional da Polícia....................................................................................................................................................................33 
A Juventude da Polícia...................................................................................................................................................................................34 
Policiais de Rua versus Policiais da Administração.......................................................................................................................................34 
A Responsabilidade de Pronta Resposta........................................................................................................................................................35 
Limitações de Recursos..................................................................................................................................................................................36 
A Solução de Detroit para Responder às Obrigações de Emergência............................................................................................................37 
A Inércia dos Sindicatos Policiais..................................................................................................................................................................39 
Os Parapoliciais..............................................................................................................................................................................................39 
Viaturas com Dois Policiais...........................................................................................................................................................................41Responsabilização do Comando.....................................................................................................................................................................41 
A Estrutura de Recompensas..........................................................................................................................................................................42 
Expectativas do Público em Relação à Polícia...............................................................................................................................................42 
Fracasso da Integração com a Detecção de Crime.........................................................................................................................................43 
A Ambiguidade da Comunidade....................................................................................................................................................................44 
Exercícios de síntese .....................................................................................................................................................................................45 
5. O VALOR DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO.......................................................................................................................46 
Benefícios para a Comunidade.......................................................................................................................................................................46 
Benefícios para a Polícia................................................................................................................................................................................48 
Exercício de síntese .......................................................................................................................................................................................50 
6. POSSÍVEIS DEFICIÊNCIAS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO.......................................................................................51 
O Policiamento Comunitário Destrói a Vontade e a Capacidade das Forças Policiais de Manter a Ordem Pública?..................................51 
O Policiamento Comunitário Enfraquece a Capacidade de Ação das Forças Policiais?...............................................................................52 
O Policiamento Comunitário Resulta em Corrupção Policial?......................................................................................................................52 
O Policiamento Comunitário Destrói a Força Policial?.................................................................................................................................53 
Exercício de síntese .......................................................................................................................................................................................54 
7. POLICIAMENTO COMUNITÁRIO NA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA..................................................................................55 
É Apropriado que as Forças Policiais Desenvolvam uma Base Política?......................................................................................................55 
O Policiamento Comunitário Discrimina Aqueles que Não São Considerados Populares?..........................................................................56 
O Policiamento Comunitário Aumenta o Poder Relativo das Forças Policiais em Relação às Outras Agências do Governo?..................57 
O Policiamento Comunitário Confunde Indevidamente os Novos Domínios do Público e do Privado?......................................................57 
O Acesso ao Policiamento Comunitário será Distribuído de Maneira Justa?................................................................................................59 
Exercício de síntese .......................................................................................................................................................................................59 
CONCLUSÃO..............................................................................................................................................................................................60 
ATIVIDADES AVALIATIVAS..................................................................................................................................................................63 
 
Textos extraídos do livro: Policiamento Comunitário, de Jerome H. Skolnick e David H. Bayley. 
 
2 
Biblioteca online – sem valor comercial. Proibida a venda e a reprodução. 
 
1- ELEMENTOS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO 
 
 
Quanto mais próximo for o relacionamento entre o policial e as pessoas na sua ronda, quanto mais pessoas ele conhecer e 
quanto mais essas pessoas confiarem nele, maiores são suas chances de reduzir o crime. 
CHARLES SILBERMAN, Criminal Violence, Criminal Justice, 1978. 
 
 
Entre as democracias industriais mundiais, o policiamento orientado para a comunidade representa o lado 
progressista e avançado do policiamento. Na Europa ocidental, na América do Norte, na Austrália e Nova 
Zelândia, e no Oriente, o policiamento comunitário tem sido citado como a solução para os problemas de 
policiamento. Trabalhos explorando o assunto têm proliferado. Os governos da Austrália e do Canadá 
encomendaram relatórios sobre o policiamento comunitário1, conferências nacionais têm explorado tal tema2. E 
o Departamento de Justiça dos Estados Unidos analisou o policiamento comunitário, em junho de 1987, na sua 
terceira conferência anual, denominada Policing State of the Art [O Estado de Coisas no Policiamento]. 
Considerando a quantidade de palestras sobre o policiamento comunitário nos círculos profissionais em 
todo o mundo, poderia se pensar que tal tipo de policiamento já está bem estabelecido nas operações policiais e 
que sobram exemplos sobre ele. A realidade, no entanto, é que, ao mesmo tempo em que todo mundo fala sobre 
ele, o consenso acerca de seu significado ainda é pequeno. Como resultado, inovações práticas sob a rubrica do 
policiamento comunitário não são muito comuns. Em alguns lugares, houve mudanças genuínas nas práticas 
policiais. Em outros, o policiamento comunitário é utilizado para rotular programas tradicionais, um caso 
clássico de colocar vinho velho em garrafas novas. 
Na verdade, causa grande confusão a grande variedade de programas descritos como “policiamento 
comunitário”. Ele tem sido associado a programas como os de Vigilância de Bairro e minidelegacias, a 
comunidades homossexuais, à atenção especializada a problemas relacionados a mulheres e crianças, às visitas 
espontâneas de policiais às moradias, a campanhas na mídia para melhorar a imagem da polícia, rondas a pé, 
designação de constables3 [policiais comunitários] para povoações rurais, estabelecimento de “casas seguras” 
para escolares, estratégias para a redução do medo do crime na população, ronda direcionada [directed patrol], 
discotecas e ligas de atletismo patrocinadas pela polícia, patrulhas montadas, e criação de policiamento auxiliar 
feito por cidadãos. Um chefe de polícia criou um “policiamento comunitário” por decreto [by fiat], declarando 
que cada policial deveria ser conhecido como um “policial da comunidade”. Nos Estados Unidos, numa 
conferência recente sobre policiamento comunitário, estudiosos, consultores e administradores da polícia 
ligaram a expressão a dez programas bastante diferentes, sem sequer esclarecer o que isso significava. 
Pesquisando os departamentos de polícia dos Estados Unidos em 1984, Robert C. Trojanowicz e Hazel A. 
Harden constataram que 143 deles tinham policiamento comunitário. Embora isso fosse louvável, os programas 
qualificados como “policiamento comunitário” eram tão extensivos que quase todas as forças policiais 
apresentavam algum deles - ronda a pé, estacionar e andar, patrulha de motocicleta ou de patinete [scooter] 
motorizado,policiamento em grupo, veículo com objetivos especiais, patrulha montada, cidadãos auxiliares, 
reservas e voluntários, e unidades respondendo pelo bairro3. 
Muitos leitores deste trabalho vão achar que já sabem o que é policiamento comunitário. De fato, podem 
ter uma idéia implícita dos programas que, crêem, vão ser discutidos aqui. Mas ficarão desapontados, pois o 
policiamento comunitário ainda não é um programa aceito e nem mesmo, um conjunto de programas. 
Os policiais britânicos gostam de contar uma piada sobre o que é policiamento comunitário. Uma 
comunidade sabe que tem policiamento comunitário, dizem, quando os policiais são colocados em bicicletas - e 
então, ao encontrarem as pessoas andando pelas ruas, eles imediatamente param suas bicicletas, descem, jogam 
 
 
 
Textos extraídos do livro: Policiamento Comunitário, de Jerome H. Skolnick e David H. Bayley. 
 
2 
 
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as pessoas no chão e lhes informam que horas são. 
Se alguém for a um departamento policial e disser “mostre-me um policiamento comunitário”, em lugares 
diferentes será apresentado a diferentes atividades. Essa falta de clareza do que é um programa de policiamento 
comunitário causa preocupação. Devido ao fato de, no policiamento moderno, o “policiamento comunitário” ser 
tão popular - mas tão vago -, muitos vão concluir que se trata de um movimento somente retórico - isto é, uma 
frase de efeito a mais, criada para tornar o policiamento mais palatável. O resultado inevitável dessa 
superexposição será o desapontamento, e o aprofundamento do cinismo acerca das perspectivas de uma reforma 
policial significativa. Nossa opinião é que há mais do que retórica no policiamento comunitário, como vamos 
demonstrar, e que devemos ter mais cuidado no uso da expressão “policiamento comunitário”. Este é um 
primeiro passo essencial para o encorajamento de uma inovação significativa. 
Não apenas a tentativa de identificar o que é distintivo do ponto de vista do programa tem falhado, mas 
também as discussões sobre o policiamento comunitário confundem, com freqüência, práticas operacionais com 
intenções, filosofia, motivação, estilo de gerenciamento, requisitos administrativos e estrutura organizacional. 
Por exemplo, os participantes de um seminário de executivos no Departamento de Polícia de Houston 
recentemente identificaram trinta elementos para a definição de um “policiamento orientado para o bairro”4. 
Que incluíam criar um sentimento de confiança entre a polícia e os cidadãos, alterar o papel da polícia, atribuir 
novas responsabilidades aos policiais e defini-las, encorajar a aceitação de responsabilidade, desenvolver 
intenções apropriadas, coordenar a prestação de serviços policiais e reconhecer limitações fiscais. Para se chegar 
ao policiamento orientado para a comunidade, ou orientado para o bairro, todos esses elementos devem estar 
envolvidos, mas, em si, eles não são o policiamento comunitário. Boas intenções não levam a novos programas. 
Departamentos de polícia podem ser reorganizados sem mudar as estratégias básicas; e estilos de gerenciamento 
podem mudar, embora os objetivos organizacionais permaneçam os mesmos. 
O policiamento torna-se significativo para a sociedade nas ações que levam em conta o mundo ao seu 
redor. O que o policiamento é, internamente, em termos de filosofia, estilo de gerenciamento e organização são 
meios para tal fim. Se quisermos fazer algum progresso em relação ao policiamento comunitário, ou em relação 
a qualquer outra forma de policiamento, devemos atribuir um conteúdo programático a esse esforço. Ele deve 
refletir a filosofia no nível de táticas e estratégias de operação. Se deixarmos de insistir neste aspecto, o 
policiamento comunitário será puro teatro, que talvez até possa ser interessante às próprias forças policiais, mas 
que terá pouca importância para as comunidades que essas forças se propõem a servir. 
Tendo isto em conta, nossa apresentação do policiamento comunitário neste estudo começa com uma 
descrição de suas características operacionais e a seguir se encaminha para uma consideração dos requisitos para 
sua implementação bem sucedida. Dessa maneira, a discussão do significado de “policiamento comunitário” 
como conjunto de atividades está separada da análise do que é necessário para torná-lo um sucesso. 
A premissa central do policiamento comunitário é que o público deve exercer um papel mais ativo e 
coordenado na obtenção da segurança. A polícia não consegue arcar sozinha com a responsabilidade, e, sozinho, 
nem mesmo o sistema de justiça criminal pode fazer isso. Numa expressão bastante adequada, o público deve 
ser visto como “co- produtor” da segurança e da ordem, juntamente com a polícia3. Desse modo, o policiamento 
comunitário impõe uma responsabilidade nova para a polícia, ou seja, criar maneiras apropriadas de associar o 
público ao policiamento e à manutenção da lei e da ordem. 
Esta formulação das responsabilidades das forças policiais não é nova, e não restringe o conceito de 
policiamento comunitário. Bastante a contragosto, policiais veteranos reconhecem que seus trabalhos se tornam 
mais fáceis se o público “coopera” com a polícia e lhe dá “apoio”. Passaram toda sua vida profissional pedindo 
o apoio do público. O que há de novo em relação a isso? Resmungam. A conseqüência disso, entretanto, é que 
“se o policiamento comunitário” deve significar algo diferente, deve referir-se a programas que mudem as 
interações habituais entre a polícia e o público. Se não descreverem uma nova realidade, expressões novas 
podem ser enganosas. 
 
Textos extraídos do livro: Policiamento Comunitário, de Jerome H. Skolnick e David H. Bayley. 
 
3 
 
Biblioteca online – sem valor comercial. Proibida a venda e a reprodução. 
 
Propomos, portanto, que só se considere a existência efetiva de um “policiamento comunitário” quando 
forem realizados novos programas para elevar o nível de participação do público na manutenção da ordem 
pública. Práticas passadas não deveriam ser tratadas como “policiamento comunitário” simplesmente porque sua 
intenção era levar a um envolvimento maior do público. Em resumo, o “policiamento comunitário” merece ser 
celebrado apenas se estiver ligado a um distanciamento das práticas operacionais passadas, e somente se ele 
refletir uma nova realidade tática e estratégica. 
Neste sentido substancial, o policiamento comunitário está bastante vivo ao redor do mundo e parece que 
vem crescendo rapidamente. Ao examinar a experiência em quatro continentes, encontramos quatro áreas de 
mudança programática no policiamento, que tiveram lugar, consistentemente, sob a bandeira do policiamento 
comunitário. Em outras palavras, quando os departamentos de polícia agem - ao invés de apenas falar sobre o 
policiamento comunitário -, tendem a seguir quatro normas: 
1. Organizar a prevenção do crime tendo como base a comunidade; 2. Reorientar as atividades de 
patrulhamento para enfatizar os serviços não-emergenciais; 3. Aumentar a responsabilização das comunidades 
locais e 4. Descentralizar o comando. A seguir, descreveremos esses quatro elementos programáticos, 
fornecendo, de cada um deles, exemplos provenientes de diferentes países. 
 
PREVENÇÃO DO CRIME BASEADA NA COMUNIDADE 
 
A prevenção do crime com base na comunidade é o objetivo último e a peça central do policiamento 
orientado para a comunidade. Pelo fato de as comunidades serem constituídas por bairros, o programa de 
Vigilância de Bairro tem-se tornado a peça central da prevenção do crime baseada na comunidade. 
Embora a Vigilância de Bairro seja uma invenção americana do início dos anos 1970, o programa varia 
consideravelmente através do mundo e, às vezes, até dentro do mesmo país5. A London Metropolitan Police 
[Polícia Metropolitana de Londres] define a Vigilância de Bairro como envolvendo três elementos: 
1. Vigilância Pública. As pessoas que moramem uma determinada área são encorajadas a se associarem 
e a agirem como os olhos e os ouvidos da polícia. Isso requer uma certa atividade de vigilância por parte dos 
moradores, prestando atenção a transeuntes e veículos suspeitos e, em seguida, passando tal informação para a 
polícia. 
2. Marcação da Propriedade. A polícia empresta equipamentos para marcar as propriedades de forma 
que os moradores possam assinalar seus bens com o número da casa ou apartamento, com o código postal, e 
suas iniciais. Isso pretende ser um fator para desencorajar ladrões e, além disso, um método de proporcionar 
identificação e retorno mais rápidos da propriedade roubada. 
3. Segurança da Moradia. Quando um esquema de Vigilância de Bairro é estabelecido, as forças 
policiais devem se propor a visitar as casas em toda aquela área, sem cobrar taxas, e fazer recomendações que 
melhorem a segurança. Acima de tudo, a Vigilância de Bairro tenta incutir um sentimento de identidade com o 
bairro e, portanto, de comunidade. Isso significa que um indivíduo que resida em um bairro pode produzir uma 
certa responsabilidade coletiva em relação a sua própria proteção e segurança, e compartilhar disso. 
Fora isso, Programas de Vigilância de Bairro podem variar quanto à iniciativa partir da polícia ou do 
público; quanto ao tamanho das áreas organizadas; à maneira pela qual os líderes são selecionados; quanto aos 
custos serem oriundos dos participantes, do governo, ou de organizações de caridade; quanto à quantidade de 
esforço devotado à manutenção de níveis altos de atividade e envolvimento; quantidade de unidades de bairro 
organizadas em associações mais amplas; e quanto ao nível de apoio contínuo proporcionado pela polícia. 
O programa de prevenção do crime no bairro mais ambicioso e extenso existente é o japonês, embora sua 
denominação não seja Vigilância de Bairro e não deva sua inspiração aos Estados Unidos6. Desde tempos 
imemoriais, os bairros japoneses tiveram os rudimentos de um governo informal, a criação de hábitos ao invés 
 
 
Textos extraídos do livro: Policiamento Comunitário, de Jerome H. Skolnick e David H. Bayley. 
 
4 
 
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de estatutos. A parceria sempre foi automática e a participação forçada pela pressão social. Seus líderes 
mediavam as disputas, uniam-se em bloco para obter serviços municipais, organizavam campanhas de 
melhoramento do bairro, passavam as informações sobre as preocupações locais, e financiavam festivais. Em 
conseqüência desta tradição, a maioria dos bairros japoneses tem, atualmente, associações de prevenção do 
crime, que distribuem informação, vendem programas de computador sobre segurança, publicam jornais, 
mantêm ligações estreitas com as forças policiais locais e, ocasionalmente, patrulham as ruas. Todas as 
organizações de bairro pertencem a associações provinciais ou nacionais de prevenção ao crime. 
Embora observadas de perto pelas forças policiais, e muitas vezes desencorajadas, as rondas de rua feitas 
por civis são encontradas também em outros países. Nos Estados Unidos são comuns as patrulhas CB (citizen-
band radio [faixa do cidadão]). Designadas para aumentar a capacidade de vigilância da polícia, os participantes 
da CB são muito cautelosos, 110 sentido de não tomarem qualquer iniciativa de ação que não seja a notificação 
das forças policiais acerca de circunstâncias emergenciais ou suspeitas7. 
Na Grã-Bretanha, o programa Vigilância de Bairro tem sido apresentado pelas forças policiais e pelos 
políticos do governo como sua estratégia mais importante de prevenção ao crime. Durante os anos 1980, a 
Vigilância de Bairro se espalhou rapidamente por toda a Grã-Bretanha. Dados apresentados pelo Ministro de 
Estado do Ministério do Interior indicam que, em 1986, estavam em operação algo em torno de 8 mil 
esquemas8. Eles foram estabelecidos ou através de uma iniciativa da polícia ou como resultado de interesses 
locais expressos para a polícia. Por exemplo, após identificar uma área alvo, a polícia normalmente vai contatar 
pessoas que possam ser membros ativos de uma associação de moradores, proprietários ou locatários. Essas 
pessoas freqüentemente formam o núcleo do esquema, e informalmente a polícia vai indicar, dentre esses 
moradores, o coordenador da área. 
Em Londres, o programa Vigilância de Bairro é parte de um conceito mais amplo de policiamento por 
múltiplas agências. Esse conceito baseia-se na crença de que todos os moradores de Londres e as forças policiais 
têm como interesse comum acabar com o crime, e, para alcançar esta finalidade, a boa vontade do público deve 
ser reforçada sempre que possível. O policiamento multiagências, portanto, envolve não apenas a Vigilância de 
Bairro e a participação do cidadão, mas também a coordenação, pela polícia, dos vários departamentos de 
serviços públicos, como a educação local, os serviços sociais, e as agências de habitação. Desse modo, em 
Londres, a Vigilância de Bairro é apenas parte de uma visão mais ampla e mais estendida do papel das forças 
policiais na sociedade: os policiais devem ser considerados como a vanguarda da mudança social, seja 
mostrando a necessidade de uma mudança na arquitetura para ajudar na “prevenção” do crime, seja defendendo 
políticas alternativas de habitação, ou persuadindo, ativamente, as empresas comerciais a incorporar maiores 
fatores de segurança e prevenção do crime em projetos habitacionais ou de veículos9. 
Várias críticas têm sido levantadas na Grã-Bretanha tanto aos Programas de Vigilância de Bairro como à 
visão mais estendida do conceito. Questiona-se, em primeiro lugar, se o programa de Vigilância de Bairro 
realmente funciona na prevenção do crime ou só serve para deixar os cidadãos menos amedrontados em relação 
ao crime. 
Embora considerada apenas uma tentativa, uma avaliação cuidadosa de duas áreas onde foi implantado o 
programa Vigilância de Bairro, realizada em pelo Instituto de Criminologia da Universidade de Cambridge, 
sugere que não há muita razão para se acreditar que a Vigilância de Bairro seja muito eficaz10 . Critica-se, 
também, que embora a Vigilância de Bairro possa ser útil para famílias de classe média, que são proprietárias de 
suas casas, o tipo de assessoria que as forças policiais estão preparadas para oferecer tem pouquíssimo valor 
prático para indivíduos que não são capazes de arcar com melhorias, devido ao seu modo de vida e à sua baixa 
renda. Finalmente, o policiamento multiagências tem sido criticado como uma intromissão da polícia em 
aspectos das vidas dos cidadãos que, de fato, não são de sua alçada. Essas questões voltarão a ser discutidas no 
 
 
 
 
Textos extraídos do livro: Policiamento Comunitário, de Jerome H. Skolnick e David H. Bayley. 
 
5 
 
Biblioteca online – sem valor comercial. Proibida a venda e a reprodução. 
 
capítulo 6 deste livro. 
Também na Austrália a Vigilância de Bairro é relativamente nova, tendo começado no Estado de Victoria 
no começo dos anos 1980. Embora antes de formular seus próprios programas os policiais australianos tenham 
estudado sistematicamente a experiência americana, o “Modelo de Victoria” introduziu algumas modificações 
importantes11. Por exemplo, a unidade básica não é um quarteirão, mas uma área que contenha 
aproximadamente 400 a 600 residências, ou cerca de duas mil pessoas. Como na Grã-Bretanha, os policiais 
trabalham junto aos moradores para identificar pessoas com possibilidade de se tornarem líderes responsáveis e 
então os lançam como candidatos em uma eleição. A fim de permanecerem com um certificado de grupo de 
Vigilância de Bairro, as reuniões devem ser realizadas pelo menos uma vez por mês. Jornais contendo 
informações sobre crime e conselhos sobre prevenção de crime são padronizadas. Na Austrália, a Vigilância de 
Bairro não é um programa gratuito. Embora a polícia ajude com publicidade e alguns governos locais forneçam 
distintivos de Vigilânciade Bairro, espera-se que os membros façam uma pequena contribuição anual para as 
despesas cotidianas assim como para a compra de ferramentas para a gravação (identificação) dos pertences, 
contratação de projetos e publicação de jornais. Os grupos de Vigilância de Bairro australianos não são 
abandonados à própria sorte e pertencem a associações mais amplas que apoiam e coordenam seus trabalhos. Há 
organizações zonais, municipais e estaduais que, sucessivamente, congregam os programas de Vigilância de 
Bairro, das quais fazem parte representantes do nível imediatamente abaixo. 
Já a polícia de Cingapura avalia que, entre 1980 e 1987, aproximadamente metade da população estava 
coberta por Grupos de Vigilância de Bairro (Neighborhood Watch Groups - NWGs)12. A unidade básica era 
bem pequena, contando com uma média de quatro habitações, fossem casas ou apartamentos. Face a dúvidas 
tanto internas quanto externas à polícia, acerca da eficácia dos NWGs, o Departamento de Prevenção do Crime 
da força policial realizou, em 1986, um programa de “intensificação” cuidadosamente avaliado, que envolvia 
uma formação incrementada [stepped- up] de novos grupos, visitas dos policiais locais às casas dos membros já 
pertencentes à Vigilância de Bairro, e um encorajamento geral a atividades de autodefesa. Como a avaliação 
envolvia comparações de antes e depois, bem como comparações paralelas, no final de 1987, Cingapura devia 
ter uma das melhores coleções de dados do mundo para avaliar a prática e o impacto dos programas de 
Vigilância de Bairro. 
Forças policiais do mundo todo também desenvolveram programas de educação intensiva, destinados a 
ajudar grupos muito visados a se protegerem com mais sucesso. Os departamentos de polícia atualmente 
produzem uma vasta literatura em várias línguas, com conselhos de prevenção do crime para os idosos, 
escolares, mulheres operárias, secretárias, vendedores ambulantes, motoristas de táxi e turistas em férias. Além 
de escrever e publicar livros e folhetos, os especialistas das agências policiais, habitualmente baseados em sedes 
de unidades de prevenção ao crime, dão palestras, organizam encontros, realizam cursos e coordenam 
campanhas na mídia. Existem atualmente redes nacionais e mesmo internacionais de pessoal para prevenção de 
crime, que fazem intercâmbio de material, trocam especialistas e encorajam, de modo geral, umas às outras, 
para que lutem contra o ceticismo de seus colegas policiais. 
 
REORIENTAÇÃO DAS ATIVIDADES DE PATRULHAMENTO 
 
Nos últimos quinze anos, tem sido seriamente questionado se as estratégias policiais tradicionais 
proporcionam uma proteção eficaz. Essas estratégias têm-se baseado na suposição de que a atividade criminal e 
a desordem poderiam ser impedidas se a polícia fosse uma presença visível nas ruas e prendesse imediatamente 
pessoas que infringissem a lei. Em conseqüência disso, aproximadamente sessenta por cento do pessoal das 
forças policiais têm sido designado para patrulhar as ruas, e a maior parte do pessoal restante vem sendo 
encaminhada para a investigação criminal13. Por várias décadas, o trabalho de patrulhamento tem sido, cada vez 
 
 
 
Textos extraídos do livro: Policiamento Comunitário, de Jerome H. Skolnick e David H. Bayley. 
 
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mais, realizado em veículos motorizados, sendo acionado por solicitações telefônicas e mensagens de rádio. 
Embora muitas vezes descrito, erroneamente, como o modelo de policiamento que “combate o crime”, o 
propósito deste sistema era, de fato, a prevenção do crime. É fonte de confusão e de mal-estar que os defensores 
do policiamento comunitário algumas vezes falem como se tivessem o monopólio da preocupação com a 
prevenção. O que o policiamento comunitário questiona não é o objetivo do policiamento, mas os meios 
utilizados. 
Apoiados por pesquisas demonstrando que o patrulhamento motorizado aleatório e a resposta rápida 
podem não deter o crime de maneira eficaz ou mesmo levar a uma detenção maior de criminosos14, os 
partidários do policiamento comunitário defendem que as operações de patrulhamento encorajariam um 
envolvimento mais profundo da polícia com a comunidade, algo que, quando predominam, as solicitações de 
serviço de emergência não instigam. Ao invés de se desenvolver como um serviço ambulatorial, os policiais da 
patrulha deveriam “empenhar-se em conhecer a comunidade”, falar com as pessoas em seus itinerários diários 
usuais, encorajar pedidos de serviços não emergenciais, e tornar-se parte visível da cena comunitária, mas sem 
chamar a atenção. Ao agir dessa maneira, os policiais do patrulhamento serão capazes de ajudar na autoproteção 
coletiva ou individual; de intervir nos estágios iniciais para prevenir os problemas que poderiam surgir; de 
desenvolver uma apreciação fortalecida das preocupações da comunidade; de explicar os serviços da polícia 
com mais precisão, e de obter informações que levem a prisões e a dar seguimento aos procedimentos legais. As 
forças policiais ainda poderiam lidar com as emergências genuínas, mas com uma equipe bem mais reduzida. O 
principal, de fato, é liberar - do sistema de atendimento das emergências - uma grande parte do pessoal de 
patrulhamento, de modo a eles poderem engajar-se na prevenção proativa do crime. 
Praticada em nome do policiamento comunitário, esta espécie de reorientação do patrulhamento tem sido 
realizada de várias maneiras. A mudança mais dramática é o deslocamento dos policiais de patrulha dos 
veículos motorizados para pequenos postos descentralizados de policiamento. Em Detroit, esses postos são 
chamados de minidelegacias, na Austrália de “shopfronts” [alojados] ou escritórios, em Cingapura de Postos de 
Polícia do Bairro, e no Japão de koban. Os postos de policiamento japoneses, noruegueses e de Cingapura são 
miniaturas de delegacias de polícia, responsáveis por todos os aspectos do policiamento, com exceção da 
investigação criminal - recebem denúncias, respondem a solicitações de serviço, propiciam informação e 
aconselhamento, patrulham a pé ou de bicicleta, organizam a prevenção do crime na comunidade, e 
desenvolvem contatos pessoais. As minidelegacias de Detroit, assim como as de Estocolmo ou o shopfront de 
Broadmeadows15 em Melbourne, Austrália, não executam o trabalho policial em geral: são responsáveis apenas 
pela prevenção do crime na comunidade. Seus funcionários organizam o programa Vigilância de Bairro, dão 
palestras sobre autoproteção, e servem como ligação entre a força policial e as instituições com necessidades 
especiais de segurança. Em Copenhague, eles ensinam os rudimentos da segurança pública para escolares. 
Como o próprio “policiamento comunitário”, os postos de policiamento comunitário fixos não seguem um único 
padrão; há diferenças operacionais no intuito e no desempenho. 
Fisicamente, o koban japonês e os Postos de Polícia de Bairro (Neighborhood Police Posts - NPPs) de 
Cingapura são constituídos por uma sala de recepção com um balcão ou mesa, telefone, rádio, e mapas na 
parede; uma sala de descanso para o pessoal que trabalha, geralmente com uma televisão; uma pequena cozinha 
ou pelo menos um fogão e um refrigerador. Uma sala de entrevista; uma despensa; e um banheiro. Os NPPs têm 
também uma sala bastante ampla destinada a “múltiplos propósitos”, com cadeiras dobráveis e uma 
escrivaninha, que pode funcionar como sala de reunião ou como escritório para o policial em serviço. Para 
desencorajar o público a usar o koban como lavatório público, os banheiros em geral têm uma plaquinha de 
“não funciona”. Em Cingapura isto não costuma causar problema, porque os NPPs estão localizados 
principalmente em bairros residenciais, que têm suas próprias dependências adequadamente equipadas. Já os 
koban japoneses foram construídos em todo e qualquer espaço que estivesse disponível - em estações 
 
 
Textos extraídos do livro: Policiamento Comunitário, de Jerome H.Skolnick e David H. Bayley. 
 
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ferroviárias ou rodoviárias, entre fileiras de lojas, na intersecção de rodovias movimentadas, em lotes 
residenciais, e até mesmo em terrenos de templos. Como os preços dos terrenos em Tóquio recentemente 
subiram às nuvens, o custo para construir novos koban tem se tornado um escoadouro dos recursos policiais. 
Alguns proprietários, além disso, gostariam que os koban se mudassem, para que eles pudessem revender a 
terra. Os NPPs, ao contrário, são muito mais novos e bem-equipados, tendo sido construídos a partir de 1983. A 
maior parte está localizada no térreo de grandes construções públicas para moradia e comércio onde vivem 
atualmente aproximadamente 84% da população. 
Os kobane os NPPs foram bastante inventivos para encontrar maneiras de serem úteis às suas 
comunidades, realizando, além do patrulhamento, pesquisas sobre segurança, e promovendo a prevenção do 
crime. Nos dois países eles servem como um local para “achados e perdidos”. Os policiais ouvem infindáveis 
reclamações sobre os serviços municipais, as disputas com os vizinhos, e as complicações legais. Cada um dos 
koban japoneses atua a seu modo: um é escritório de entrega de cartas endereçadas a pessoal trabalhando 
temporariamente na área; um outro toca uma sirene de manhã bem cedo para indicar as horas; e um terceiro 
irradia informações de interesse local através de um alto-falante, inclusive com conselhos para as crianças que, 
quando o sol se põe, costumam estar saindo de um parque local e voltando para casa. Os NPPs de Cingapura 
convidam as organizações do bairro a se reunirem em suas salas de múltiplos propósitos. Alguns emprestam 
jogos de tabuleiro, como o xadrez chinês, para as crianças usarem; todos eles registram as mudanças de 
endereço, e também os nascimentos e as mortes. 
Uma forma intensiva de envolvimento com a comunidade é o trabalho de “visitas às casas”, quando os 
policiais vão de porta em porta perguntando sobre os problemas de segurança, oferecendo serviços, pedindo 
sugestões sobre a atividade policial e, algumas vezes, colhendo informação sobre os moradores. Os policiais do 
koban no Japão e os policiais do NPP em Cingapura, pelo menos uma vez por ano, devem passar em cada 
residência e estabelecimento comercial no âmbito de suas rondas. As visitas às casas também são feitas pelos 
Policiais do Serviço Comunitário [Community Service Officers] em Santa Ana e em Oslo, embora não de 
maneira tão rotineira como no Japão e em Cingapura. As forças policiais de Detroit e de Houston também têm 
feito visitas às casas e, ao contrário das expectativas, têm sido recebidos com entusiasmo, ao invés de serem 
considerados como tendo se perdido no caminho16. 
As visitas a moradias, em Cingapura, requerem uma desafiadora habilidade lingüística. Cingapura tem 
quatro línguas oficiais - o inglês, o mandarim, o malaio e o tamil. Embora todos os seus habitantes tenham de 
aprender inglês, os moradores mais antigos podem não ser fluentes nessa língua. Por isso, os policiais dos NPPs, 
quando estão trabalhando a céu aberto, percorrendo os corredores dos quarteirões onde se concentram os 
grandes blocos de moradias, entram em contato, sucessivamente, com famílias indianas, malaias e chinesas, 
todas elas preferindo falar suas línguas maternas. Entre os chineses, isso envolve o uso de dialetos, como o 
cantonês, o hakka e o hokkien. Os policiais do NPP batem nos portões gradeados que, no clima tropical, ao 
mesmo tempo, proporcionam a segurança aos apartamentos e deixam passar o ar fresco. As conversas são, 
quase sempre, realizadas através das grades, que permitem ao policial ver o que se passa na intimidade da 
família. Invariavelmente, eles relatam quando os portões estão destrancados, especialmente quando as crianças 
atendem, mostrando que isso facilita o acesso de gatunos e outras pessoas indesejadas. Algumas vezes, os 
moradores mandam o policial embora, por não quererem ser perturbados enquanto comem ou assistem TV. 
Certa vez, quatro senhoras chinesas de meia idade, sorrindo, se recusaram a interromper seu jogo de mahjong17 
vespertino. Mas os policiais também são convidados a entrar e tomar uma bebida fria ou uma xícara de chá. 
Normalmente, recusam, alegando a pressão do trabalho. 
Tanto as rondas a pé como as montadas, estratégias tradicionais de policiamento, estão voltando a ser 
realizadas em todos os lugares. Em Cingapura e no Japão, as rondas a pé são os principais desdobramentos em 
cada um dos bairros. Cingapura enfatiza o “patrulhamento vertical”, em que os policiais passam pelos 
 
 
Textos extraídos do livro: Policiamento Comunitário, de Jerome H. Skolnick e David H. Bayley. 
 
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corredores abertos dos grandes blocos de moradias, começando no andar mais alto e descendo até o andar mais 
baixo. Por essa razão, os policiais das rondas em Cingapura ainda são uma presença visível, não apenas na 
passagem de um prédio para o outro mas também em seu interior. Eles também podem ser vistos nos arredores 
das moradias. Em Cingapura, as rondas a pé, que parecem tão intensivas, nada mais são do que uma adaptação 
prática à necessidade de tornar as forças policiais acessíveis em três dimensões, ao invés de em duas. 
Os policiais das rondas a pé em Estocolmo, Copenhague e Santa Ana trabalham em conjunto com as 
minidelegacias do Bairro. As minidelegacias na Escandinávia são especialmente atraentes, mobiliadas com 
aconchego, lugares convidativos onde os moradores do bairro conversam com os policiais sobre uma variedade 
de “problemas” - uma bebedeira excessiva de um marido, uma criança que não cumpre suas obrigações 
escolares - que podem não ser diretamente ligados ao crime. 
Na maior parte dos países, entretanto, as rondas a pé são utilizadas de modo seletivo, principalmente para 
as áreas de alto trânsito de pedestres, como praças, shopping centers, “corredores” de entretenimento, e locais 
onde estão as estações de transporte público. Algumas forças policiais têm ordenado a seu pessoal motorizado 
para estacionar seus veículos regularmente e fazer as rondas a pé em certos lugares. Outros têm colocado os 
policiais de rondas a pé em carros com instruções de cobrir várias áreas dispersas durante um único turno de 
trabalho. 
As rondas a pé constituem um estratagema para desligar do sistema de emergência os policiais, 
permitindo que se mesclem com o público fora de um contexto de reivindicações. As rondas a pé não podem, 
naturalmente, diminuir o volume de reivindicações de serviço, mas elas estendem, aprofundam e personalizam a 
interação. 
Há uma espécie particular de patrulhamento reorientado - a “manutenção da ordem” - que freqüentemente 
é identificado como policiamento comunitário. Embora a “manutenção da ordem” algumas vezes se refira ao 
controle de multidões rebeldes ou revoltadas, aqui o termo se refere à supressão da desordem ou do 
comportamento incivilizado de indivíduos em lugares públicos. Dar prioridade à manutenção da ordem foi 
destaque em um artigo bastante conhecido de James Q. Wilson e George L. Kelling intitulado “The Police and 
Neighborhood Safety: Broken Windows” [“A Polícia e a Segurança do Bairro: Janelas Quebradas”], publicado 
em 198218. Eles argumentam que a contribuição da ronda foi importante para tornar a comunidade segura, 
mesmo que, como as pesquisas demonstraram, nem patrulhas móveis nem rondas a pé feitas ao acaso evitem o 
crime. O que uma ronda a pé pode fazer, entretanto, é reduzir o medo de crime, em especial a onda de medo que 
paira em locais que parecem não seguir as normas e estar fora de controle. Patrulhas a pé, eles sustentam, 
poderiam reduzir os “sinais de crime” e de desordem, tais como vandalismo, pichações, comportamento 
agressivo e violento, mendigos pelas ruas, bicicletas e skates guiados perigosamente nascalçadas, bebedeiras 
em público, música muito alta e vagabundos dormindo em locais públicos. Essas rondas não apenas reduzem a 
ansiedade, encorajando assim as pessoas a usar os locais públicos mais livremente, mas também podem evitar a 
decadência dos bairros. Wilson e Kelling sugerem que a polícia dê uma atenção especial à manutenção da 
ordem em bairros que estejam se inclinando na direção da desorganização social anômica, tentando restabelecer 
o equilíbrio antes que as pessoas “respeitáveis” desistam de viver no local e se mudem. A manutenção da 
ordem, portanto, seria vista como uma tática para a estabilização do bairro ao reforçar o código de 
comportamento público das pessoas que se tenham fixado naquela comunidade. Do ponto de vista da polícia, a 
habilidade para manter a ordem depende da leitura correta do código de comportamento considerado apropriado 
para cada área por seus habitantes respeitáveis. Se a polícia puder fazer isso, a manutenção da ordem 
demonstrará que a moralidade ainda importa, e que os elementos criminosos não estão no comando naquele 
local, e que existe uma comunidade que se importa com o que acontece dentro dela. 
Se a manutenção da ordem, no sentido de Wilson e Kelling, enquadra-se na filosofia e na prática do 
policiamento comunitário, só vai depender do modo como tal tipo de policiamento estiver sendo executado. Se 
for realizado de modo autoritário e sem a responsabilização em relação à comunidade local, poderá vir a ser 
 
Textos extraídos do livro: Policiamento Comunitário, de Jerome H. Skolnick e David H. Bayley. 
 
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apenas mais uma reciclagem do policiamento “da pancadaria”. Por outro lado, se for uma resposta inteligente 
para os problemas que perturbam o bairro, e refletir os desejos da maioria, então a manutenção da ordem poderá 
ser considerada como capaz de proporcionar um serviço relevante da polícia, embora seja um serviço realizado 
sob a ameaça explícita da lei. A manutenção da ordem representa uma ampliação dos propósitos do 
policiamento, ultrapassando a estrita supressão dos crimes para chegar ao desenvolvimento de comunidades nas 
quais se pode viver dignamente. Em resumo, a manutenção da ordem, no sentido de Wilson e Kelling, é um 
programa de reorientação do patrulhamento que pode ocorrer sob a bandeira do policiamento comunitário. 
 
AUMENTO DA RESPONSABILIZAÇÃO DA POLÍCIA 
 
Na prática, o policiamento comunitário envolve não apenas ouvir com simpatia, mas criar novas 
oportunidades de se fazer isso, o que é um grande passo para a maioria das forças policiais, temerosas de abrir 
as comportas da crítica injusta. Ele também se choca com suas crenças mais caras de serem os profissionais que 
sabem, melhor que quaisquer outros, o que deve ser feito para proteger a comunidade e realizar o policiamento. 
No entanto, os policiais têm descoberto que, se desejam gozar do apoio e da cooperação do público, devem estar 
preparados para ouvir o que a população tem a dizer, mesmo que seja desagradável. O programa de Vigilância 
de Bairro e o lema “vamos conhecer as pessoas” não vão funcionar se a polícia insistir na comunicação de mão 
única. Se a polícia não se propuser, no mínimo, a tolerar o que o público tem a dizer sobre as operações, o 
policiamento comunitário será visto apenas como “relações públicas”, e o distanciamento entre polícia e público 
vai, mais uma vez, aumentar mais ainda. 
Na Inglaterra, o relatório Scarman - uma pesquisa sobre o conflito, em 1981, entre polícia e minorias em 
Brixton- influiu bastante para que se pensasse haver uma ligação de causa e efeito19. O relatório de Scarman 
concluiu que as revoltas eram uma “explosão de raiva e ressentimento dos jovens negros contra a polícia”20. O 
relatório atribuiu as revoltas, pelo menos em parte, ao fracasso das forças policiais em manter uma ligação 
formal com a comunidade negra desse bairro do centro da cidade de Londres, concluindo que “uma força 
policial que não troca idéias com a população local não poderá ser eficiente”21. 
As forças policiais estão criando um esquadrão de policiais para contatar e cooperar com grupos cujas 
relações com a polícia têm sido turbulentas, tais como os negros nos Estados Unidos, os aborígines na Austrália, 
os coreanos no Japão, os indianos e os afro-caribenhos na Grã-Bretanha, e os homossexuais, em muitos lugares. 
Melbourne, na Austrália, tem, para esses contatos, até mesmo um comitê que conta com advogados. Como é 
natural, os policiais encarregados dessas ligações gastam a maior parte de seu tempo evitando crises potenciais - 
o afloramento do ódio, da confusão e da violência muitas vezes gerados pelos confrontos policiais com esses 
grupos. Eles também tentam cultivar contatos no interior dessas comunidades e desenvolver programas que 
supram suas necessidades especiais. E, freqüentemente, são requisitados para criar programas educacionais que 
aumentem o conhecimento e a sensibilidade de seus colegas no trato com grupos não-dominantes. 
A polícia também está tentando cooperar mais de perto com grupos estabelecidos e com instituições que 
têm interesse de trabalhar contra o crime e na manutenção da ordem. Para comandantes de todos os escalões, na 
Grã-Bretanha, Suécia, Japão e Cingapura, por exemplo, é comum reunirem-se com organizações de prevenção 
do crime. Também agem desse modo as forças policiais de Houston, Santa Ana e Detroit. Em Londres, alguns 
chefes das delegacias de polícia locais são mais receptivos do que outros a encontrar os grupos comunitários. Os 
que estão no comando das delegacias de áreas onde possam ocorrer revoltas são particularmente receptivos em 
relação a essa necessidade. Os policiais das minidelegacias e os dos postos de polícia estabelecidos em frente às 
delegacias nos Estados Unidos e em locais de movimento na Austrália (shopfronts) atuam como consultores 
informais de segurança para estabelecimentos que atendem pessoas com distúrbios mentais, ou lares para 
mulheres agredidas, escolas e hospitais próximos. Os Postos de Polícia do Bairro, em Cingapura estão 
 
 
 
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envolvidos em uma estrutura de consultoria que vem desde sua independência em 1965. Os limites dos NPPs 
coincidem com os distritos eleitorais dos parlamentares, embora um ou dois distritos mais amplos tenham dois 
NPPs. O inspetor-chefe de um NPP se reúne com regularidade com o Comitê Consultivo do Distrito Eleitoral 
[Consti-tuency Consultative Cornmittee], que é um grupo político-consultivo com base popular nos 
parlamentares do distrito. Todos os espaços públicos habitacionais contam com Comitês de Moradores 
formados por representantes dos diferentes quarteirões habitacionais. A ligação com cada um deles é de 
responsabilidade dos sargentos designados em cada NPP. E, quando necessário, há contato regular com outras 
organizações tais como os Comitês Administrativos do Centro Comunitário [Community Centre Management 
Committees], os Comitês do Centro de Recreação dos Cidadãos mais Idosos [Senior Citizens Recreation Centre 
Committees], e os Clubes de Esporte. 
Com alcance até mesmo maior, os policiais estão criando novas comunidades formais e conselhos de 
assessoramento para necessidades e operações de segurança. Esses comitês consultivos existem em toda a Grã-
Bretanha e Escandinávia. Eles tomam formas variadas, mas em geral são constituídos por uma mistura de 
policiais eleitos e de representantes da comunidade. Na Grã-Bretanha, por exemplo, a despeito do fato de cada 
força policial ser de responsabilidade de uma Autoridade Policial [Police Authority], cujos membros são 
constituídos de um terço de magistrados judiciais e dois terços de políticos eleitos do conselho local, 
recentemente as forças policiais de várias cidadesestabeleceram Comitês Consultivos especiais, em nível de 
delegacia de polícia. Seu intuito é mobilizar a participação do público, avaliar a opinião do consumidor a 
respeito dos serviços policiais, e comunicar informações que possam ajudar os policiais a realizar seus deveres 
com mais eficácia. Detroit criou grupos similares em seus distritos policiais. A Austrália não tem tradição de 
controle local sobre a polícia, e suas forças policiais, com exceção da força federal, são responsáveis pelos sete 
estados do governo federal. Como resultado, John Avery, Comissário de Polícia de New South Wales, e a 
Comissão Policial de Victoria estão empenhados em defender a criação de comitês consultivos para cada 
delegacia policial. 
Mais problemático é o papel atualmente representado pelos comitês consultivos. Morgan, em seu estudo 
sobre os arranjos de consultoria do policiamento comunitário na Inglaterra e no País de Gales, distinguiu três 
modelos (não mutuamente excludentes) que os grupos de consultoria podem seguir22. Um é o modelo 
organizador [steward] ou auditor [auditing], requerendo que o Chefe de Polícia publique um relatório anual - 
do mesmo modo que uma corporação de comércio pública - que forneça uma prestação de contas sobre o 
policiamento em sua área para a sua Police Authority. Mas, nesse modelo, as políticas e a prática são 
responsabilidade exclusiva da polícia. 
Já o modelo de parceria [partner] é muito semelhante ao que definimos como policiamento comunitário. 
Ele reforça a importância da polícia estar em contato com as opiniões do cidadão e enfatiza a “necessidade de a 
polícia se engajar, junto aos cidadãos e outras agências, na prevenção do crime e nas iniciativas de descoberta de 
criminosos”23. Em resumo, o policiamento é considerado congruente com as prioridades da comunidade e um 
convite à cooperação pública “para conhecer e solucionar a maioria dos crimes”24. 
Finalmente, o modelo dirigido [directive] coloca a política policial sob o controle de autoridades eleitas 
democraticamente, seja do Parlamento ou dos comitês locais eleitos. Morgan cita como “os principais 
problemas deste enfoque” o fato de os grupos políticos locais poderem discordar da lei, ignorar os interesses ou 
os direitos das minorias e ser susceptíveis de corrupção25. 
Apesar de, algumas vezes, representarem esforços que deixam esgotados até mesmo os nervos mais 
pacientes, as tentativas para permitir que os cidadãos observem as operações policiais têm aumentado, a fim de 
assegurar que elas são realizadas honesta e legalmente. A Grã-Bretanha, por exemplo, atualmente, permite 
“colocar visitantes” para inspecionar as delegacias de polícia, com atenção particular para as celas aí existentes. 
 
 
 
 
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A Suécia também age assim. Muitas forças policiais americanas, a despeito de uma tradição de hostilidade 
automática em relação à supervisão civil, permitem que civis participem de rondas, desde que isso tenha um 
objetivo educacional sério. Recentemente têm sido estabelecidos tribunais de queixas contra policiais em todos 
os estados da Austrália, o que contraria a maioria dos prognósticos mais otimistas de até oito anos atrás. Muitas 
cidades americanas - como Miami, Detroit, Los Angeles e Washington, DC - vêm criando, aos poucos, na 
última década, diferentes modelos de supervisão civil. 
Em resumo, o policiamento comunitário adota o aumento da participação civil no policiamento. A 
reciprocidade na comunicação não só é aceita como também encorajada. Sob o policiamento comunitário, o 
público pode falar sobre prioridades estratégicas, enfoques táticos, e mesmo sobre o comportamento dos 
policiais enquanto indivíduos, e também ser informado sobre tudo isso. 
 
DESCENTRALIZAÇÃO DO COMANDO 
 
Embora operações policiais com freqüência sejam geograficamente descentralizadas para a jurisdição de 
algum distrito policial relativamente pequeno ou para postos de polícia, os comandantes locais têm tido, em 
geral, uma habilidade limitada para caracterizá-las. Eles vêm seguindo planos de forças policiais maiores, 
projetados por funcionários dos quartéis - que os administram “pelos números”. Uma das principais afirmativas 
do policiamento comunitário, entretanto, é que as comunidades têm prioridades e problemas diferentes de 
policiamento. O policiamento deve ser adaptável. Para realizar esta tarefa, deve-se dar aos comandantes 
subordinados liberdade para agir de acordo com suas próprias leituras das condições locais. A descentralização 
do comando é necessária para ser aproveitada a vantagem que traz o conhecimento particular, obtido e 
alimentado pelo maior envolvimento da polícia na comunidade. Disso se conclui que nem toda a 
descentralização pode ser considerada como um degrau em direção ao policiamento comunitário. A Suécia, 
recentemente “descentralizou” os comandos policiais nas suas cento e dezessete jurisdições subnacionais. Mas 
ainda há áreas muito grandes, de fato maiores do que eram em 1965, quando havia 558 forças policiais26. Resta 
ver se, na Suécia, poderá ocorrer a adaptação do policiamento às condições locais e se ela será permitida. 
O policiamento comunitário utiliza-se da descentralização para ganhar a flexibilidade necessária para dar 
forma às estratégias policiais em certas áreas. A reestruturação dos limites do comando, que constantemente 
acontecem no policiamento mundial, pode ou não envolver a devolução da autoridade aos comandantes locais. 
Esse elemento crítico depende da escala de comando, assim como do comprometimento dos administradores 
policiais superiores27. A descentralização do comando é mais do que um exercício de demarcação no mapa. 
Como um todo, portanto, o policiamento comunitário implica que quanto menores os locais, e quantos 
mais houver, melhor ele será. Algumas cidades que foram objeto de estudos no livro The New Blue Line tinham 
fragmentado o comando. Santa Ana tinha sido dividida em quatro áreas, nas quais grupos inteiros de policiais e 
policiais associados ao serviço comunitário poderiam ser designados por períodos substanciais de tempo - 
geralmente dois ou mais anos. O primeiro passo da reforma policial comunitária em Adelaide, Austrália, foi a 
reestruturação dos limites das subdivisões para fazer com que coincidissem com comunidades menores e mais 
orgânicas. Os policiais no comando eram pressionados para desenvolver seus próprios planos para policiamento 
da área, mudando-os quando as circunstâncias exigissem. Em Denver, Colorado, para assessorar os 
comandantes dos distritos no planejamento das operações de patrulhamento para calcular padrões emergentes de 
crime, instalaram-se terminais de computador e foram comparados dados selecionados. 
Lee P. Brown, Chefe de Polícia em Houston, Texas, em 1984, iniciou um programa baseado em um 
programa-piloto, que ele esperava fosse transformar as operações de patrulhamento e as responsabilidades do 
comando em toda a cidade. Reduziu-se o tamanho das rondas e elas foram cobertas por grupos de policiais de 
ronda e detetives. Os comandantes dos Grupos de Resposta Direta da Área [Directed Area Response Teams - 
DART], como eram chamados, receberam autoridade para determinar a maneira de usar os recursos para 
 
 
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enfrentar os problemas locais. O planejamento operacional deveria ser coletivo, usando as idéias, o 
conhecimento e as sugestões do pessoal de campo. Os comandantes poderiam mudar o planejamento, fazendo 
trocas entre o pessoal uniformizado e os investigadores, e concentrando-se, conforme a necessidade, nos 
problemas que surgissem. A experiência dos DART, desde então, tem sido freqüentementerevista. Seus 
principais conceitos, especialmente a adaptação supervisionada às necessidades locais, tornaram-se o modelo 
para todas as operações de campo28. 
No policiamento comunitário, o aumento da responsabilidade na tomada de decisão vai além dos 
comandantes subordinados, pois envolve também a tropa. Além de suas tarefas tradicionais, os chefes da polícia 
comunitária e os policiais do patrulhamento devem ser capazes de organizar grupos comunitários, sugerir 
soluções para os problemas do bairro, ouvir comentários críticos sem perder a calma, registrar a cooperação das 
pessoas que estiverem amedrontadas ou ressentidas, participar de maneira inteligente nas conferências do 
comando e falar com equilíbrio nos encontros com o público. Tais deveres requerem novas atitudes. Os policiais 
devem ter capacidade de pensar por si só e de traduzir as ordens gerais em palavras e ações apropriadas. É 
necessária uma nova espécie de policial, bem como um novo tipo de comando. O policiamento comunitário 
transforma as responsabilidades em todos os níveis: no nível dos subordinados, aumenta a autogestão; no dos 
superiores, encorajam-se as iniciativas disciplinadas, ao mesmo tempo em que se desenvolvem planos coerentes 
que correspondam às condições locais. 
 
SUPERVISÃO 
 
Prevenção comunitária do crime, reorientação do patrulhamento, aumento da responsabilização e 
descentralização do comando. São esses, assim, os quatro componentes programáticos que sempre se repetem 
quando o que se traz para a idéia de policiamento comunitário é mais do que apenas um discurso vazio. Muitos 
outros programas podem estar envolvidos, dependendo da forma como estão sendo feitos. O emprego de civis 
no policiamento, seja como voluntários ou através de pagamento, pode ser usado para incrementar esses 
elementos. E a manutenção da ordem, como apresentada por Wilson e Kelling, pode tornar-se uma atividade 
que vem ao encontro das necessidades da comunidade numa estrutura de patrulhamento reorientado. 
Aceitando-se que o propósito do policiamento comunitário é envolver o público na sua própria defesa, 
compartilhando com a thin blue Une (os policiais) a tarefa da sua proteção, teremos, como conclusão lógica, a 
presença desses quatro elementos programáticos. A prevenção ao crime baseada na comunidade é o objetivo que 
as forças policiais buscam alcançar. Para executar essa tarefa, entretanto, eles devem encontrar os recursos, 
especialmente os humanos, para mobilizar as comunidades e mostrar-lhes a direção correta. Isso requer usar, de 
modo mais eficaz, o pessoal de ronda, que é o maior reservatório de talentos da polícia. Se o que se quer é que o 
público seja persuadido, estimulado e encorajado a ajudar na prevenção do crime e na detenção de criminosos, é 
essencial oferecer-lhe uma participação ativa nesta interação. Além disso, usando apenas as unidades 
especializadas dos quartéis, essa tarefa não pode ser efetuada de modo suficientemente amplo: todo policial da 
linha de frente tem de ser envolvido. 
O aumento da responsabilização decorre, logicamente, da ultrapassagem dos limites. Uma razão para 
mobilizar o público para a prevenção do crime é o fornecimento de uma quantidade maior de informação para a 
polícia. É pouco provável que o público queira ser passivo nesse relacionamento, especialmente nas reuniões em 
grupo com a polícia. A responsabilização - no sentido de ampliar o conhecimento das atividades da polícia, 
sejam elas coletivas ou individuais - e o aumento das possibilidades de ouvir críticas é o preço que a polícia 
paga por uma cooperação mais sincera da comunidade. 
Finalmente, a descentralização do comando é uma adaptação da organização; e deve ocorrer para 
aproveitar a vantagem de que certas particularidades das comunidades se tornam aparentes. A não ser que os 
centros do comando se multipliquem, não é possível administrar o aumento das interações nem a informação 
 
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adicional pode ser assimilada. O sistema de administração de cima para baixo, mais antigo, simplesmente estaria 
superado. 
Desse modo, os quatro elementos se combinam. As Forças Policiais vão descobrir que, se embarcarem 
seriamente na prevenção do crime baseada na comunidade, incorporando a noção de co-produção, o processo de 
interação com o público vai guiá-las para os outros três elementos. O policiamento comunitário é um pacote 
cujas partes estão integralmente relacionadas. 
 
POLICIAMENTO ORIENTADO PARA A SOLUÇÃO DE PROBLEMAS 
 
O que foi discutido acima explica porque o “policiamento orientado para a solução de problemas”, como 
formulado por Herman Goldstein, é freqüentemente identificado com o policiamento comunitário. As mesmas 
partes programáticas estão reunidas, embora seja diferente, de um modo muito interessante, a razão por trás do 
“policiamento orientado para a solução de problemas”. Goldstein argumenta que a polícia tem-se limitado a 
enfocar incidentes específicos e de maneira muito restrita29. A estratégia da maioria das forças policiais é 
colocar em ação a maior parte de seu pessoal, de modo que estejam visivelmente disponíveis para responder às 
solicitações de serviços emergenciais. O objetivo principal da patrulha policial é chegar rapidamente aos 
lugares, estabilizar as situações e voltar para o trabalho - o que significa estar novamente disponível. A resposta 
dos policiais do patrulhamento à maioria das solicitações de serviço é inevitavelmente rápida e superficial. 
Como o serviço do pessoal do atendimento paramédico, o que eles fazem pode ser muito importante para 
minimizar o estrago, mas não se pretende que sirva para terapêuticas mais prolongadas. Os policiais do 
patrulhamento também reconhecem que não resolvem os problemas; eles lidam com as conseqüências dos 
problemas. Na melhor das hipóteses, eles encaminham as situações para outras pessoas que têm tempo e 
experiência para encontrar as soluções de longo prazo. 
O efeito de se aderir a essa estratégia centrada no incidente é que os recursos policiais são, em grande 
parte, perdidos. Nem as forças policiais resolvem os problemas, nem previnem contra o crime. Suas presenças 
visíveis, a pé ou motorizadas, têm sobre o crime um efeito questionável, como muitas pesquisas têm 
demonstrado. Ao se concentrarem em incidentes, as polícias têm perdido o controle sobre os seus trabalhos e a 
sua eficácia. A maior parte de seus recursos humanos está amarrada a um formato que os torna inviáveis para 
buscar abordagens mais efetivas para enfrentar os problemas de perturbação da ordem nas comunidades 
modernas. 
A solução, diz Goldstein, é que a polícia se torne orientada para a solução de problemas ao invés de 
orientada para atender a incidentes. Ela deve desenvolver a capacidade de diagnosticar as soluções a longo 
prazo para crimes recorrentes e problemas de perturbação da ordem, e ajudar na mobilização de recursos 
públicos e privados para esses fins. Isso significa que as polícias devem desenvolver uma habilidade para 
analisar os problemas sociais, trabalhar com outras pessoas para encontrar as soluções, escolher os enfoques 
mais viáveis e de menor custo, advogar vigorosamente a adoção dos programas desejados, e monitorar os 
resultados dos esforços de cooperação30. No policiamento orientado para a solução de problemas, o objetivo não 
muda: continua sendo melhorar a ordem e a segurança do público. O que muda é que os recursos policiais são 
aplicados onde podem fazer a diferença. Isso implica, por sua vez, que as forças policiais tenham de desenvolver 
organizações que possam acomodar a flexibilidade, adaptar-se às situações surgidas das necessidades, e 
supervisionar a responsabilidade dos diferentes usos dos recursos. 
O enfoque orientado para a solução de problemas de Goldstein já foi testado em várias comunidades 
americanas. EmMadison, Wisconsin, por exemplo, a polícia era constantemente chamada ao pátio do shopping 
center no centro da cidade devido a pessoas que estavam se comportando de modo bizarro e desordeiro. 
Reportagens afirmavam ser em torno de mil o número de pessoas envolvidas nesses tumultos, descrevendo o 
shopping como um refúgio para desempregados e vagabundos das ruas. Não é de surpreender que o público 
 
 
Textos extraídos do livro: Policiamento Comunitário, de Jerome H. Skolnick e David H. Bayley. 
 
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tenha começado a evitar o shopping, e os negócios sofreram as conseqüências. Ao estudar o problema por um 
certo período, a polícia constatou que apenas treze indivíduos eram responsáveis pelo problema todo: tinham 
estado sob supervisão psicológica e seu comportamento estranho só se manifestava quando deixavam de tomar 
os remédios prescritos para eles. A polícia começou a trabalhar com as autoridades de saúde mental e criou um 
sistema mais rigoroso de supervisão para essas pessoas. Em pouco tempo, o problema do shopping center tinha 
sido resolvido, os negócios começaram a aumentar, e a polícia ficou livre para tratar de outros assuntos31. 
Além do caso de Madison, o enfoque mais bem documentado sobre a adoção do policiamento orientado 
para a solução de problemas ocorreu no condado de Baltimore, em Maryland32. A partir de 1982, o 
Departamento de Polícia do Condado de Baltimore, que cobre uma população de 670 mil habitantes em uma 
área de 600 milhas quadradas, fora da cidade de Baltimore, criou três grupos, cada um com quinze policiais, 
com a finalidade de tentar encontrar soluções para problemas recorrentes que geravam incidentes. O programa 
recebeu o nome de COPE, Citizen Oriented Police Enforcement [Policiamento Orientado para o Cidadão]. 
Trabalhando em conjunto com os policiais do patrulhamento, os grupos do COPE procuraram localizar com 
precisão as condições existentes que não estavam respondendo à mobilização normal da patrulha, mas que, a 
baixo custo, poderiam levar à coordenação de recursos entre as agências do governo. Neste processo, eles 
analisaram os dados dos incidentes, conversaram exaustivamente com os moradores, fizeram visitas 
domiciliares, e exploraram a boa vontade de outras agências em ajudá-los. Depois de elaborados os planos, e de 
terem sido aprovados pelos supervisores operacionais, os grupos do COPE trabalharam ativamente para 
implementá-los, inclusive criando campanhas de publicidade, listando o apoio no bairro, e estimulando outras 
agências a se juntarem aos esforços33. 
Um dos problemas enfrentados era a onda de furtos qualificados [burglaries] que, todos os anos, ocorria 
durante a primavera. Um grupo do COPE observou que luvas de baseball eram um item cujo furto se repetia. 
Ao organizarem um programa, para famílias de baixa renda, para facilitar a compra de equipamentos de 
baseball, a taxa de furto qualificado caiu incrivelmente. Em um outro caso, quando adolescentes cheirando tinta 
[paint sniffing] tornaram desagradável o uso de um parque público, os policiais do COPE persuadiram os 
comerciantes locais a não expor as cores preferidas, com conteúdo mais alucinógeno, e a não vender para 
conhecidos usuários. Eles também levantaram os casos dos infratores crônicos, para que, quando fossem presos, 
os processos e as condenações pudessem ser mais bem estabelecidos. No processo de sensibilizar o bairro para o 
problema de cheirar tinta, os policiais do COPE descobriram que residentes idosos de um prédio de 
apartamentos tinham dificuldade em atravessar um cruzamento movimentado para chegar ao shopping center 
mais próximo. Problema esse, de fato, muito mais importante para eles do que o problema de cheirar tinta no 
parque, pois raramente usavam o parque à noite. O COPE defendeu a remodelação do cruzamento, incluindo a 
instalação de um sinal de trânsito, e conseguiu reforçar o policiamento com a própria polícia de trânsito. 
Elementos similares ao COPE foram incorporados ao CPOP (Community Police Officer Program 
[Programa da Polícia Comunitária]) da Cidade de Nova Iorque. Iniciado em 1984, os policiais do CPOP eram 
designados permanentemente para rondas que cobriam cerca de dezoito quarteirões da cidade. Eram 
responsáveis por conhecer a comunidade; descobrir os problemas que a polícia pudesse ajudar a resolver de 
modo apropriado e plausível; facilitar os esforços da comunidade e do governo para encontrar soluções; e 
aumentar o fluxo de informações recíprocas entre a polícia e o público. O CPOP tem atualmente vinte e um 
distritos policiais, e sua eficácia está sendo avaliada pelo Instituto Vera34. 
Parece bastante óbvio que o policiamento orientado para a solução de problemas pode incorporar - e 
muitas vezes incorporam - elementos do policiamento comunitário, principalmente quando envolve uma 
interação estreita com os moradores locais ou o uso flexível de recursos pelos comandantes de área. Mas o 
policiamento orientado para a solução de problemas não é necessariamente policiamento comunitário, como, 
 
 
 
 
Textos extraídos do livro: Policiamento Comunitário, de Jerome H. Skolnick e David H. Bayley. 
 
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por exemplo, se fraudes em caixas eletrônicos forem identificadas como um problema que merece atenção 
especial da polícia. Do mesmo modo, o policiamento comunitário não envolve, necessariamente, a resolução de 
um “problema”. 
No que diz respeito a encorajar a reforma do policiamento, o “policiamento orientado para a solução de 
problemas” pode ser um apelo melhor para uma união do que o “policiamento comunitário”. O “policiamento 
orientado para a solução de problemas” conota mais do que uma orientação e o empenho em uma tarefa 
particular. Ele implica em um programa, com sugestões sobre o que a polícia precisa fazer. 
Em ambos os casos, administradores policiais que desejam introduzir uma nova orientação em relação ao 
policiamento enfrentam uma batalha difícil para definir seus programas e conseguir a anuência tanto do público 
como de seu próprio pessoal. Ao descrever a variedade de formas que o policiamento comunitário tem tomado 
através do mundo e - no capítulo 6 - os obstáculos à sua implementação, este trabalho ajuda os administradores 
interessados na reforma da polícia. 
 
Exercício de síntese 
 
Defina o termo policiamento comunitário pela ótica dos autores. ______________________________________ 
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