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FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 1 HISTÓRIA DA ANESTESIOLOGIA • Em muitas sociedades, técnicas “rudimentares” de anestesia foram usadas, como concussão cerebral, gelo/neve e compressão da carótida. A acupuntura era usada como anestesia na China milenar; além disso a esponja soponífera, feita com ópio, suco de amoras amargas, suco de eufórbia, suco de meimendro, suco de mandrágora, suco de hera, semenstes de bardana, sementes de alface e sementes de cicuta também foi usada por algumas sociedades. • Por muitos séculos, a igreja determinou que a dor era um justo castigo de Deus e por isso deveria ser aceita com submissão e enfrentada a sangue frio. • Por volta de 1773, Joseph Priestley, conseguiu sintetizar o óxido nitroso (N2O), dando o primeiro passo para a anestesia. • Em 1796 Humphry Davy estudou a ação fisiológica da inalação de alguns gases. • Faraday descobriu que os vapores do éter possuíam efeitos inibidores semelhantes ao do óxido nitroso. • Apesar das várias descobertas, os pesquisadores obtiveram pouco reconhecimento em sua época e os gases foram usados recreativamente. • Crawford Williamson Long (1815-1878) observou que, ao se ferir em um desses eventos em que se fazia uso do gás, seu assistente não sentiu dor, começando a partir dessa observação a fazer o uso em seus pacientes. • Horance Wells em 1844, dentista, fez a mesma observação e fez uma extração dentária utilizando o gás, após comprovar o funcionamento elaborou um equipamento que poderia ser utilizado para anestesia. Ao apresentar o novo equipamento houve um erro e não ficou comprovada a eficácia do sistema. • Em 16 de outubro de 1846 nos EUA, John Colins e Wiilliam Thoman Green Morton utilizaram éter para anestesia obtendo sucesso. • Oliver Wendel Holmes sugeriu o termo anestesia, que já existia na língua grega. • Anestesia = perda total ou parcial da sensibilidade, por efeito de várias causas mórbidas ou conseguido de propósito nas cirurgias. • A primeira anestesia geral com éter no Brasil foi feita em em 1847. • Em 1847 James Simpson substituiu o éter pelo clorofórmio. • Em 07/04/1853 John Snow realiza cirurgia com anistia na Rainha Vitória. • Em 1948 Manuel Feliciano Pereira de Carvalho realizou a primeira anestedia geral com clorofórmio no Brasil, no RJ. • 1847 é considerado um ano referência para os anestesistas pois foi nesse ano que John Snow se registra e é aceito como especialista em anestesia. • 1880 - William Macewen desenvolveu o tubo endotraqueal. • 1895 - Jockson inventa o laringoscópio. • Em 1935 foi introduzida a intubação traqueal, com pressão positiva direta e o uso dos curarizantes. • 1930 - Ciclopropano. • 1956 - Halotano. • Hoje, a anestesia é um procedimento altamente seguro, consistindo na administração de agentes sedativos, agentes anestésicos, perda da consciência, na intubação (quando indicado) e na manutenção com agentes anestésicos. FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 2 A prática de anestesia compõe um conjunto de atividades físicas e mentais sintonizadas com cuidados eficientes de casos de rotina. Já o aprendizado em gerenciamento de crises na anestesia advém do aprendizado das ciências básicas da anestesiologia, farmacologia e fisiologia. PRINCÍPIOS DA ANESTESIA • Faça com que seja legal; • Faça com que seja seguro; • Faça com que seja agradável, • Faça com que seja confortável. TIPOS DE ANESTESIA CONDUTIVA 1. BSA (Raqui) 2. BPD (Peridural) 3. Anestesia regional • Interrupção da condução nervosa pela administração de AL próxima a este (de forma temporária e reversível). GERAL 1. Endovenosa - É o resultado de alterações reversíveis da função do sistema nervoso induzidas por determinados fármacos. 2. Inalatória - Depressão do SNC resultando em perda da percepção aos estímulos ambientais. AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA • ESTIMATIVA DE RISCO - Probabilidade de que um evento possa ocorrer. Perigo ou possibilidade de perigo, possibilidade de perda, injúrias, doença ou morte. • Os exames de “rotina” pré-operatórios são realizados com a finalidade identificar doença não detectada pelo exame clínico, em pacientes assintomáticos e aparentemente saudáveis. Uma revisão de prontuários de 2000 pacientes submetidos a procedimentos eletivos e sem doença sistêmica aguda ou crônica, demonstrou que esses exames são de pouca utilidade e se fazem desnecessários em 95% dos casos. • A realização de exames laboratoriais de rotina em pacientes saudáveis é de pouco valor da detecção de doenças. Evidências sugerem que uma história específica e um exame físico devem determinar se os estudos laboratoriais pré-procedimento devem ser obtidos. Portanto, não se deve obter estudos laboratoriais de base em pacientes sem doença sistêmica significativa (ASA I ou II) submetidos a cirurgia de baixo risco - especificamente hemograma completo. • Os objetivos da avaliação pré-anestésica são: conhecimento do estado físico e psíquico do paciente; estimar o risco do ato anestésico cirúrgico; planejamento da anestesia e do pós- anestésico; segurança de adequação do hospital; estabelecer vínculo do profissional com o paciente e esclarecer sobre o ato; obter o consentimento informado. ANALGESIA - Percepção reduzida a um estímulo doloroso. SEDAÇÃO - Anestesia sem perda total dos reflexos. ANESTESIA GERAL - Característica básica é a perda de reflexos protetores, principalmente das vias aéreas. FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 3 ETAPAS DA AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA • HISTÓRIA CLÍNICA MINUCIOSA o HDA e seu tratamento. o Tolerância ao exercício. § Exercício e tolerância - Equivalente metabólico (MET) avalia a qualidade de vida biológica do paciente, pode prever risco. § Índice de atividade de Duke - É a capacidade funcional quantificada. Demanda metabólica (METs) pelas atividades diárias do paciente. O estresse metabólico anestésico cirúrgico gira em torno de METs. o Última visita ao clínico. o Medicações em uso e história de alergias. o História social (drogas ilícitas, álcool e tabaco - uso e cessação). o Qualquer condição de doença crônica (principalmente aspectos cardiovasculares, pulmonares, hepáticos, renais, endócrinos e neurológicos). o Antecedentes anestésicos e cirúrgicos (complicações, dor, náuseas e vômitos, sangramentos, transfusão, febre, reações adversas, tempo de internação, terapia intensiva). o Sangramentos e cicatrização. o Via aérea (condições de intubação). o História anestésica familiar (complicações). o Acesso venosos, pulsos, local das punções. o Exames laboratoriais. o Necessidade de consultoria. • EXAME FÍSICO PORMENORIZADO o AVALIAÇÃO DO GRAU DE DIFICULDADE DE INTUBAÇÃO TRAQUEAL: o Mobilidade do pescoço. o Distância do esterno a borda inferior do mento, se <12,5 cm indica difícil intubação. o Distância tireomentoniana <6 cm indica difícil intubação. o Mobilidade da mandíbula - Upper lip bit test 01 MET corresponde ao consume de 3,5 mL/kg/min de oxigênio. 1-4 METs - Andar em volta de casa, vestir-se, comer e atividades domésticas leves. 5-9 METs - Subir pelo menos 01 lance de escadas, subir ladeira, andar rápido (>6km/h.), jogar golfe. 10METs - Jogar tênis, nadar, correr curta distância e etc... Classificação: Ruim < 4 METs Moderada = 5 até 7 METs Boa > 7 METs Excelente > 10 METs FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 4 § Solicita-se ao paciente para morder com os incisivos inferiores os lábios superiores. Quando o paciente não consegue fazer este movimento é um bom preditor de dificuldade. § Incisivos centrais grandes, retrognatismo e distância inte-incisivos < 3cm são sinais de dificuldade. o Índice de Wilson e col. - leva em conta o peso (menor que 90 ou maior que 110kg.), movimento da cabeça e pescoço, movimento da mandíbula, retração ou não da mandíbula, dentes protrusos ou não. Considera-se que 75% dos casos de intubação difícil estão associados a dois ou mais pontos, e também é muito difícil achar uma intubação fácil a partir dos 4 pontos de sua classificação. o Índice de Mallampati CRITÉRIOS DO NÚCLEO VIA AÉREA DIFÍCIL (VAD) HC-FMUSP 1. Mallampati III ou IV 2. Abertura da boca <3cm 3. Distância tireomento <6cm 4. Flexão <35º e extensão <80º 1 e 3 somados 2 isolado = Via aérea difícil 4 isolado • Se necessário: EXAMES COMPLEMENTARES, orientado pelos dados clínicos. CLASSIFICAÇÃO PELA AMERICAN SOCIETY OF ANESTHESIOLOGISTS (ASA) • O escore Asa correlaciona-se com incidentes perioperatórios e mortalidade pós-operatória. • Pelo índice da ASA a idade não é risco e sim as condições físicas. FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 5 INDICADORES DE RISCO CARDIOVASCULAR PERIOPERATÓRIO PARA CIRURGIAS NÃO CARDÍACAS: • Alto risco: o Angina instável o ICC descompensada o Quantidade significativa de arritmias o Doença valvar grave • Risco intermediário: o Angina pectoris moderada o Infarto do miocárdio prévio ( > ou = 30 dias) o ICC prévia ou descompensada o Diabetes mellitus • Risco menor: o Idade avançada o ECG anormal o Ritmo diferente do sinusal o Capacidade funcional diminuída o História de AVC o HAS não controlada Índice de Detsky: Índice de Lee: FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 6 Índice de Larsen: Índice de Goldman: FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 7 • A II Diretriz Brasileira de Avaliação Perioperatória sugere o uso de qualquer uma das 3 seguintes: EMAPO (Estudo Multicêntrico de Avaliação Perioperatória), IRCR (Individual Reserve Capacity Requirement) ou ACP (American College of Physicians), sem, no entanto, poder firmar qual seria a de maior acurácia em discriminar riscos. American College of Physicians: • IAM<6m – 10 • IAM>6m – 5 • Angina Classe III – 10 • Angina Classe IV – 20 • EAP recente – 10 • EAP alguma vez na vida – 5 • PO2<60, pCO2>50, K<3, U>50, C>2,3 ou acamado – 5 • Ritmo não sinusal ou RS c/ ESSV no ECG – 5 • Suspeita de EAO crítica – 20 • >5 ESV no ECG – 5 • Idade > 70 anos – 5 • Cirurgia de emergência – 10 Calssificação de risco (%) para óbito e/ou eventos cardíacos: • Muito baixo 0 pontos (<1,0%) • Baixo 1-5 pontos (<3,0%) • Moderado 6-10 pontos (<7,0%) • Elevado 11-15 pontos (7,0% - 13%) • Muito elevado >15 pontos (>13%) FATORES DE RISCO PARA COMPLICAÇÕES PULMONARES PÓS-OPERATÓRIAS: • Fumante (atual ou > 40 maços/ano) • ASA > 2 • Idade > 70 anos • Doença pulmonar obstrutiva crônica • Cirurgia de pescoço, tórax, abdominal superior, aórtica, neurológica • Procedimentos com duração > 2 h • Intubação traqueal • Albumina < 3 g/dL • Reserva funcional < 4 MET • IMC > 30 kg/m2. MEDICAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA • Utilizada com a finalidade de: redução da ansiedade, sedação, amnésia, analgesia, redução de secreções das vias aéreas, efeito antiemético, redução da necessidade de anestésicos, profilaxia de reações alérgicas. FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 8 MONITORIZAÇÃO E CUIDADOS GERAIS RESPIRAÇÃO • A respiração envolve 4 processos e diversas estruturas: o Ventilação pulmonar o Difusão pulmonar § Reabastece o suprimento de oxigênio no sangue que foi depletado pela produção energética oxidativa. § Remove o dióxido de carbono do sangue venoso que retorna. § Ocorre através de uma fina membrana respiratória. § Gases são permutados através da membrana respiratória do alvéolo para o sangue vice-versa. A quantidade de gás em casa permuta depende da pressão parcial de cada gás, os gases se propagam ao longo do gradiente de pressão (sempre movendo de uma área de maior pressão para uma área de menor pressão). o Transporte de O2 e CO2 pelo sangue o Troca gasosa capilar (O2 e CO2 entre sangue e tecidos) • A respiração está intimamente ligada ao sistema cardíaco: o coração é responsável pela manutenção das necessidades metabólicas dos tecidos através do bombeamento do sangue para todas as partes do corpo. O seu desempenho depende de quatro componentes fundamentais: frequência cardíaca, pré-carga, pós-carga e contratibilidade. • O centro respiratório, localizado no tronco cerebral (bulbo raquidiano e ponte), é responsável pelo mecanismo respiratório e pelos estímulos para eliminar CO2, manter o PH adequado e suprir a necessidade de O2. • Durante o procedimento anestésico o CO2 é produzido pelas reações metabólicas intracelulares (continuamente), por difusão alcança o sistema venoso até as câmara do coração direito, chega então aos pulmões e difunde-se dos capilares ao alvéolos, dos alvéolos este gás é finalmente eliminado com a mistura exalada. • A quantidade de CO2 que alcança os espaços alveolares é proporcional ao débito cardíaco e ao fluxo sanguíneo pulmonar. A eliminação deste gás para o ambiente depende da eficácia da ventilação. Capnografia: • A capnometria é a medida da pressão parcial de CO2 na mistura gasosa expirada. FICHA DE ANESTESIA: a. Identificação do(s) anestesiologista(s) responsável(is) e, se for o caso, registro do momento de transferência de responsabilidade durante o procedimento b. Identificação do paciente c. Início e término do procedimento d. Técnica de anestesia empregada e. Recursos de monitoração adotados f. Registro da oxigenação, gás carbônico expirado final (nas situações onde foi utilizado), pressão arterial e freqüência cardíaca a intervalos não superiores a dez minutos g. Soluções e fármacos administrados (momento de administração, via e dose) h. Intercorrências e eventos adversos associados ou não à anestesia FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIATalita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 9 • A representação gráfica da curva da pressão parcial de CO2 na mistura gasosa expirada, em relação ao tempo, é denominada capnografia. • A maior parte dos monitores utiliza como aferição a espectrofotometria de luz infravermelha. • Capnógrafo = Monitor que fornece medidas, de forma não invasiva, da fração de CO2 expirada. o Os capnógrafos são classificados conforme a localização do sensor: aspirativos (sidestream) e não-aspirativos (mainstream) em que o sensor está colocado no circuito. o Mainstream: § Vantagens: § Nenhum tubo de amostragem § Nenhuma obstrução § Nenhuma alteração de pressão § Nenhuma alteração devido às mudanças na pressão do vapor de água § Nenhuma poluição § Nenhuma deformidade do traçado devido a não dispersão dos gases § Nenhum atraso na gravação § Apropriado para neonatos e crianças § Desvantagens: § O sensor pesado impõe uma tração no tubo endotraqueal § Volumoso § Cabo elétrico longo § Queimaduras faciais § Obstrução do sensor com secreções § Difícil de usar no paciente posicionado em posição prona § Difícil de esterilizar o Sidestream: § Vantagens: § Fácil de conectar; § Nenhum problema com esterilização; § Pode ser usado em pacientes acordados; § Fácil de usar quando o paciente está em posições incomuns como na posição prona; § Pode ser usado com administração simultânea de oxigênio através de um prolongador nasal. § Desvantagens: § Atraso na gravação devido ao movimento dos gases do ET à unidade; § Obstrução do tubo de amostragem; § As mudanças da pressão do vapor de água afetam concentrações do CO2; § Alteração de pressão ao longo do tubo de amostragem afeta medidas do CO²; § Deformidade dos traçados nas crianças devido à dispersão dos gases nos tubos de amostragem. • Capnograma: Fase I - início da expiração Fase II - Gases alveolares + espaço morto Fase III - Platô alveolar FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 10 • Quando analisada, a capnografia, à semelhança do eletrocardiograma, deve ser interpretada através de cinco características que conduzem a pensar em suspeitas diagnósticas, com posterior constatação clínica: altura, frequência, ritmo, linha de base e forma da curva. Normal - Desintubação acidental - Desconexão - Estenose complete das vias aéreas. Intubação esofágica - Vazamento no sistema - Tubo na laringofaringe - Estenose parcial da via aérea - Hipotensão súbita - Grande perda sanguínea - Parada cardíaca - By-pass cardiopulmonary - Embolismo pulmonar Hipocarbia progressiva Hipertermia maligna Hipercarbia progressiva rápida - Liberação de garroteamento - Injeção de CO2. FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 11 • A curva do monitor é considerada padrão- ouro para o estabelecimento da qualidade de ventilação e relação com perfusão, que, por consequência, fornece um ganho em segurança do paciente. - Hiperventilação - Hipotermia - Choque Hipocarbia Reinalação - Cal sodada esgotada - Fluxo de oxigênio insuficiente - Retenção de CO2 - Defeito da válvula expiratória - Tempo de expiração insuficiente - Broncoespasmo - Obstrução parcial das vias aéreas ou do circuito. - Corpo estranho - Asma - Alterações distributivas (esvaziamento assíncrono). - Ventilação alveolar insuficiente - DPOC - Obstrução das vias aéreas - Obstrução parcial do tubo. Alteração na forma da curva FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 12 • Problemas que podem ser identificados pela capnografia: Oximetria: • De todo O2 ciruculante, 97% circula em ligação com a hemoglobina (oxiemoglobina) em uma ligação reversível, e 3% circula dissolvido no plasma. o A hemoglobina é de extrema importância para o transporte de O2 pelo sangue pois o oxigênio é menos solúvel que o CO2 e apenar uma pequena porcentagem fica dissolvida no plasma, o que não é suficiente pata suprimir nossas necessidades metabólicas. • 5 mL de O2 são transportados para os tecidos em cada 100mL de sangue. • Em condições de repouso são transportados 1mL de CO2/100 mL de sangue. 7% dissolvido no plasma, 70% na forma HCO3- e 23% em ligação com a Hb (carbaminoemoglobina), mais especificamente liga-se aos aminoácidos da parte globina. • O O2 é constantemente absorvido do ar alveolar enquanto o CO2 sofre constante difusão do sangue pulmonar para os alvéolos. • O ar atmosférico é umidificado nas vias respiratórias. H2O no ar atmosférico representa 0,5% e no ar alveolar 6,2%. • A deficiência de Hb e/ou hemácias reduz o transporte de O2. Oxiemoglobina • Hb saturada de O2 Desoxiemoglobina • Hb sem 1 ou mais moléculas de O2 Carboxiemoglobina • HbCO • A afinidade da Hb pelo CO é 200x > que pelo O2. FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 13 • Dentre as técnicas não invasivas destinadas a monitorizar as trocas gasosas, destaca-se a oximetria de pulso. O oxímetro de pulso é um aparelho que estima a saturação da hemoglobina arterial denominada SpO2%. o Uma luz emitida por fonte aposta à extremidade digital ou lobo da orelha atravessa os tecidos, onde é parcialmente absorvida. Através de um sensor situado na superfície oposta da extremidade, o oxímetro de pulso analisa a absorção de luz pela hemoglobina e oxihemoglobina do sangue que a perfunde. o No sensor do oxímetro, diodo emitem luz vermelha, em comprimentos de onda de 660nm, e luz infravermelha, em 960 nm, que atravessa a ponta do dedo. o A detecção do fluxo pulsátil é feita por pletismografia óptica. A cada pulsação do sangue arterial, o local onde está o sensor (ex: dedo) aumenta de volume e o trajeto percorrido pela luz aumenta, o que ocasiona aumento também da absorbância da luz. o A absorção varia de acordo com a pulsação, de forma periódica e constante, função das modificações do volume de sangue contido na extremidade. • Indicações: o Controle da oxigenação. o Monitorização da circulação. o Avaliação da apnéia do sono. o Analgesia pós-operatória com narcóticos. o Regulagem de ventiladores. Transporte de O2 Oxigênio dissolvido no plasma (PO2 do plasma) Oxigênio ligado a Hb % de saturaço da Hb pH Temperatura 2,3-DPG (difosfoglicerato) reduz a afinidade da Hb pelo O2 Número total de sítios de ligação Conteúdo de Hb por hemácia Número de hemácias Transporte de CO2 CO2 na forma de HCO3- Atividade da anidrase carbônica CO2 ligado a Hb % de saturaço da Hb O2 Número total de sítios de ligação Conteúdo de Hb por hemácia Número de hemácias FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIATalita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 14 • Possibilita a detecção precoce e confiável da hipoxemia. • A carboxihemoglobina (COHb) e a HbO2 absorvem a mesma quantidade de luz vermelha. o Numa situação de intoxicação por CO, o oxímetro vai indicar um valor incorreto de SpO2, maior que o real, indicando hipoxemia fisiológica. o Ex.; vitimais de incêndio, pacientes que inalaram fumaça, tentativa de suicídio com escapamento de veículo, tabagistas. • Erros e inferências: o Baixa perfusão tecidual o Hiportermia o Vasoconstrição o Anemia intensa o Movimentação o Posição do sensor o Luz externa (rádio-frequência) PRESSÃO NÃO INVASIVA: • A pressão arterial é determinada primariamente pela quantidade de fluxo sanguíneo (Q) e a resistência oferecida pelas arteríolas (R). → P = Q x R Monitores automáticos: • Utilizam método oscilométrico para estimar a PA, via balonete que afere oscilações de pressão que ocorrem durante a pulsação arterial. o PAS - pressão máxima do balonete na qual a oscilação de pressão é detectada. o PAM - pressão do balonete na qual a amplitude de oscilação é maior (quando aferida). o PAD - pressão mínima do balonete na qual a oscilação de pressão pode ser detectada. Oscilometria: • Oscilações transmitidas pela pulsação para o manguito e para o sistema de medição. • A largura do manguito deve ser 20-30% maior que o diâmetro do braço. o Pressões falsamente elevadas: manguitos pequenos, membro abaixo do nível do coração, compressão desuniforme. o Pressões falsamente baixas: manguitos grandes, membro acima do coração e deflações rápidas. • Devantagens: o Movimentação do manguito. o Arritmias. o Dor por pressão excessiva. o Intervalo entre medições: período de repouso do equipamento e prevenção de lesão. PA Monitoriza: • Hipertensão: o Patologias renais o Patologias adrenais o Usuários de drogas o Hiperatividade simpática (dor/tireotoxicose) • Hipotensão: o Sobredose de anestésicos o Hipovolemia o Isquemia miocárdica - IAM o Fenômenos tromboembólicos FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 15 CARDIOSCOPIA ECG: • Mostra a atividade elétrica do miocárdio: o Arritmias perioperatórias. o Isquemia do miocárdio. o Frequência cardíaca. o Funcionamento de marca-passo. o Alterações eletrolíticas. o Toxicidade de fármacos. • Não mostra a atividade mecânica: débito cardíaco e perfusão tecidual. FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 16 • Interferências: (trocar derivações, alterar ganho, filtros) o Bisturi elétrico o Aterramento inadequado o Atividade muscular o Aparelhos de litotripsia o Aquecedores de fluídos, CEC, etc. o Ondas T apiculadas o Marcapasso ANALISADOR DOS GASES ANESTÉSICOS: MONITORIZAÇÃO DA PROFUNDIDADE DA ANESTESIA (BIS) • O índice bispectral (BIS) foi desenvolvido especificamente para descrever alterações no EEG (eletroencefalograma) que se relacionam com os níveis de sedação, anestesia, perda de consciência e lembrança. • Mostrou-se eficaz na diminuição da incidência de consciência transoperatória (CTO). • Parâmetros do EEG clássico são analisados e processador pelo monitor BIS, transformando a atividade cortical cerebral em um índice. MONITORIZAÇÃO DA FUNÇÃO NEUROMUSCULAR • Desde a introdução dos bloqueadores neuromusculares na prática clínica a sua monitorização passou a ser relevante porque garante o objetivo de imobilidade no período operatório e sua reversão ao término do procedimento. • Sequência de quatro estímulos (Train of Four - TOF) o O padrão de estimulação consiste na aplicação de quatro estímulos em uma frequência de 2 Hz (quatro estímulos em dois segundos). FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 17 o Não deve ser repetido em intervalo menor que 10s. o Avalia-se o número de respostas e a relação entre a última resposta (T4) e a primeira (T1). o Não precisa de controle, é mais sensível que o estímulo isolado e permite acompanhamento muito próximo do grau de bloqueio. o T4/T1 <0,9 → BNM (bloqueador neuromuscular) residual • A medida da força de contração de um músculo periférico, em resposta ao estimulo elétrico do seu nervo motor correspondente, é o método mais eficaz para avaliar a função neuromuscular. OUTROS: Pressão inavasiva, PVC, Monitorização hemodinâmica... PUNÇÃO VENOSA 1. Selecionar a veia e os materiais: • Evitar veias lesadas, avermelhadas e inchadas; veias próximas de áreas previamente infectadas; região de articulação; veias muito pequenas para o tamanho do cateter 2. Garrotear (colocar o torniquete): • Aplicar o garrote 15-20 cm acima do local da punção venosa. • Em pacientes com hipotensão mover o garrote tão próximo quanto possível do local da punção. 3. Calçar as luvas e realizar antissepsia no local escolhido: • A solução aplicada para antissepsia (álcool 70%) deve secar antes de realizar o procedimento. • O local escolhido não deve interferir com a mobilidade, assim, a fossa ante cubital deve ser evitada, exceto como último recurso. Recomenda-se utilizar primeiro o local mais distal do braço ou da mão, para que punções possam ser movidas, progressivamente, para cima. FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 18 Cânulas venosas: VIAS DE ACESSO: Subclávia: • Alto risco. • Vias supra e infraclaviculares. Veia jugular externa: • Menos técnica. • Pior progressão e posicionamento. Veia jugular interna: • Escolha em pediatria. • Acessos anterior, medial ou posterior. REPOSIÇÃO HÍDRICA • Os líquidos correspondem, em média, a 60% do peso corporal do adulto normal. • A proporção líquida corporal varia inversamente à quantidade de gordura, o que explica a menor capacidade do obeso em resistir a desidratação. • O corpo distribui os líquidos basicamente em dois compartimentos: o intracelular (40%) e extracelular (20% - 5% intravascular e 15% interstício). • Em circunstâncias especiais, como no trauma e cirurgia, pode haver a formação de um terceiro espaço, que corresponde à perda interna de líquido, eletrólitos e proteínas sequestrados para a formação de edema, derrame pleural, ascite, edema peritoneal, etc. Essa perda interna muitas vezes corresponde a vários litros de conteúdo líquido que, a princípio, retorna ao compartimento intravascular à medida que a causa primária se resolve. • O sódio exerce papel importante, sendo sua titulação no plasma usada como referência, pois existe íntima relação entre o sódio e o líquido corporal. Nesse sentido, o déficit de um deles não deve ser tratado isoladamente. • As perdas líquidas podem ser principalmente via renal, cutânea, pulmonar e digestiva. o O somatório das perdas diárias normais varia entre 900-2000mL. o Pode-se calcular as perdas da seguinte maneira: diurese corresponde a 1000- 2000mL, nas fezes200 mL, na respiração 600mL e cutânea 400mL, isto em 24h. • Quando existe uma perda de grande volume em poucas horas, esta é praticamente dependente do compartimento vascular, pois em tão pouco tempo não há como o interstício participar. Já o inverso também é verdadeiro, ou seja, a infusão de grandes FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 19 quantidades de líquidos em um tempo mínimo produz sobrecarga vascular, pois não há tempo para difundir este volume para o interstício. • Durante uma cirurgia, os pacientes podem apresentar alterações do equilíbrio hidroeletrolítico em qualquer fase do procedimento. Estas alterações são mais frequentes e intensas, quanto mais prolongado e maior for o porte do procedimento. o Não é possível estimar com precisão, durante o ato operatório, as perdas pela exposição de vísceras nem a perda interna no terceiro espaço, o que prejudica a estimativa do volume de solução a ser administrada. o Infunde-se, geralmente, de 2-10 mL de solução salina por kg de peso corporal por hora de cirurgia, o que pode induzir erros, resultando em desidratação ou super- hidratação graves, sobretudo em pacientes criticamente doentes. o Uma estimativa de reposição por perda sanguínea pode ser calculada com a seguinte fórmula: • Quando se utilizar solução glicosada, o cálculo é de 60% do peso corporal/3 e, para solução com eletrólitos, o cálculo é 20% do peso corporal/3. • No pós-operatório, os distúrbios estão relacionados às alterações endócrino-metabólicas decorrentes do trauma cirúrgico. • O rim normal pode corrigir o excesso de água e de eletrólitos dentre de determinado limites, esses limites são menores no idoso e nos pacientes com lesão renal. Condições que aumentam a permeabilidade capilar: • Anestesia (vasodilatação, redução do débito cardíaco e hiper-hidratação) o Hipervolemia absoluta o Hemodiluição • Cirurgia o Cascata inflamatória • Condições pré-operatórias o HAS o Diabete o Dislipidemia o Síndrome metabólica o Apneia do sono o Tabagismo • No sentido de otimizar a fluidoterapia intra-operatória para diminuir as complicações no pós-operatório, foram desenvolvidos inúmeros ensaios clínicos randomizados que compararam quantitativamente diferentes fluidoterapias. Estes ensaios também foram motivados pela evidência contraditória relativamente às guidelines em que se baseiam muitos dos princípios que guiam a fluidoterapia e ainda, na evidência de que grande parte das complicações no pós-operatório se devem à hiper-hidratação iatrogénica. • Os resultados destes ensaios sugiram que uma fluidoterapia mais restritiva favorece os pacientes. Os resultados destes ensaios são promissores relativamente a uma diminuição quantitativa da fluidoterapia geralmente administrada. O jejum de 12h. normalmente resulta em um déficit líquido de carca de 800mL. Reposição = Volume perdido x (Vd/3) Onde Vd= volume de distribuição FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 20 ANESTESIA GERAL PROCESSO DE ANESTESIA: 1. Pré-opertaório 2. Indução anestésica 3. Manutenção 4. Despertar 5. Pós-operatório CONCEITO: • Depressão do sistema nervoso central resultando em perda da percepção e resposta aos estímulos ambientais. • No sentido mais amplo, a anestesia geral pode ser definida como uma depressão global, mas reversível do SNC, resultando na perda de percepção e resposta a todos os estímulos extremos. Os componentes essenciais do estado anestésico são: imobilização, amnésia e atenuação das respostas autônomas á estimulação nociva. FASES DA ANESTESIA INDUÇÃO • Venosa - Com hipnóticos • Inalatória sob máscara • Outras formas: retal, intramuscular e nasal. MANUTENÇÃO • Venosa total • Inalatória • Combinação de venosa e inalatória DESPERTAR • Interrupção da manutenção com o uso de antagonistas QUATRO PILARES DA ANESTESIA: ANALGESIA - HIPNOSE - PROTEÇÃO DE REFLEXOS - RELAXAMENTO MUSCULAR ANESTESICOS GERAIS INALATÓRIOS • Objetivo: produzir estado anestésico por meio de uma concentração específica de moléculas deste agente no SNC. • Controle: o controle da profundidade da anestesia inalatória pode ser realizado por meio da pressão parcial do anestésico no ar alveolar (fração expirada). FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 21 o Quando se utiliza o analisador de gases, considera-se que a fração expirada do anestésico reflete sua pressão parcial no cérebro (na prática). o Na situação de equilíbrio as pressões parciais do anestésico nos compartimentos (alvéolo, sangue arterial e cérebro) se estabilizam. Se um anestésico for inspirado por um período suficiente, haverá equilíbrio com a mesma pressão parcial (igual à PI) em todos os compartimentos do corpo. o Os anestésicos inalatórios equilibram-se de acordo com sua pressão parcial para cada tecido. • Farmacocinética: A farmacocinética da anestesia inalatória reflete a velocidade de equilíbrio das pressões parciais do anestésico entre os compartimentos. Os fatores que influenciam esta velocidade de equilíbrio incluem, além da solubilidade do anestésico, o volume dos compartimentos e o fluxo que os atravessa. Ex.: Isoflurano - GRV (min) 2,1 GM (min) 88 GA(min) 2.039 • A alta solubilidade ao anestésico de um tecido em relação ao sangue, significa grande transferência de anestésico do sangue para o tecido e, consequentemente, maior tempo para completar a capacidade (saturação) do tecido até que as pressões parciais sejam iguais. Dessa forma, esse coeficiente permite uma estimativa da velocidade de aumento ou decréscimo da pressão parcial do anestésico em um determinado tecido. Anestesia Geral Pressão parical (Palv) Coeficientes de partição λ(solvente/gás) Grupo tecidos % Débito card. % Peso corp. GRV 75% 9% GM 18% 50% GA 5,5% 19% GRV: encéfalo, fígado, rins - grupo ricamente vascularizado; GM: músculo, pele - grupo muscular; GA: gordura - grupo pouco vascularizado Constantes de tempo para equilíbrio τ(Palv →PI) Volume dos compartimentos e o fluxo que os atravessa. O quociente entre o volume e o fluxo de cada compartimento determina sua constante de tempo. (vol/fluxo) τ {Palv →PI} = constante de tempo para equilíbrio de 63% entre Palv e PI , somente após 4 constantes o percentual será ≈ 98 % FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 22 • O λ(óleo/gás) define a potência do anestésico (quanto maior, mais potente), ao passo que o λ(sangue/gás) define a taxa de indução e recuperação da anestesia (quanto menor, mais rápido). Anestésico Sangue/gás Óleo/gás Indução Recuperação Éter 12 65 Lenta Rápida Halotano 2,4 220 Média Lenta Isoflurano 1,4 91 Rápida Média Sevoflurano 0,6 63 Rápida Rápida Determinantes dos gradientes de pressão parciais necessáriospara o estabelecimento da anestesia • Oferta de anestésico para o alvéolo - Transferência do anestésico do aparelho de anestesia para o alvéolo o Pressão parcial inspirada o Características do sistema de anestesia o Ventilação alveolar o Capacidade residual funcional • Remoção de anestésico do alvéolo - Transferência do anestésico do alvéolo para o sangue arterial o Coeficiente de partição sangue/gás o Débito cardíaco o Diferença alveolovenosa de pressão parcial • Remoção de anestésico do sangue - Transferência do anestésico do sangue arterial para o cérebro o Coeficiente de partição cérebro-sangue o Fluxo sanguíneo cerebral o Diferença arteriovenosa de pressão parcial FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 23 Diferenças farmacocinéticas principais entre recuperação x indução • Enquanto o aumento da concentração acelera a indução, não há como estabelecer uma concentração alveolar abaixo de zero para acelerar a recuperação; todos os tecidos começam a indução com pressão parcial zero de anestésico. • Na recuperação cada tecido terá uma concentração diferente, músculo e gordura podem continuar a absorver anestésico por horas, decorrente da redistribuição que se mantém até que a pressão parcial sangue/alvéolo do anestésico fique abaixo da pressão parcial do tecido. • Biotransformação: produto final = ácido trifluoroacético. Anestésico Metabolismo Via de eliminação Óxido Nitroso 0,004% Pulmonar (exalação) Pele Halotano 15-20% Fígado (citocromo P-450) Pulmonar (exalação) Renal Isoflurano 0,2% Pulmonar (exalação) Desflurano <0,1% Pulmonar (exalação) Sevoflurano 2-3% Pulmonar (exalação) Enflurano 2-10% Pulmonar (exalação) Fígado Renal CAM (Concentração alveolar mínima) • É a pressão parcial alveolar que extingue o movimento em resposta a uma incisão cirúrgica em 50% dos pacientes. • A potência de um anestésico está inversamente relacionada à sua CAM. Se a CAM é pequena, a potência será alta, e uma pressão parcial relativamente baixa será suficiente para causar anestesia. • Dose eficaz (DE) = 1,3 a 1,5 CAM, 95% dos pacientes submetidos a anestesia inalatória encontram-se anestesiados FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 24 MECANISMO DE AÇÃO DOS ANESTÉSICOS GERAIS: • Potencializam as sinapses inibitórias por meio da sua ação sobre os receptores de glicina e de GABA (ácido gama-aminobutírico A), além de exercerem efeito inibitório sobre as sinapses excitatórias por meio da ação sobre os receptores NMDA (N-metil-D-aspartato) e AMPA (alfa-amino-3-hidróxi-5-metil-4-isoxazolpropionato). • É provável, também, que atuem sobre canais de sódio e potássio, inibindo a transmissão dos potenciais de ação e promovendo hiperpolarização do neurônio. Embora existam evidências não há comprovação ainda. • Apesar do uso difundido e seguro dos anestésicos inalatórios, os mecanismos e os locais exatos da ação anestésica permanecem desconhecidos Efeitos sobre o Sistema Nervoso Central • Exercem efeito depressor sobre a atividade eletroencefalográfica e proporcional ao aumento da CAM; • Todos os agentes voláteis aumentam o fluxo sanguíneo cerebral (FSC) de maneira dose- dependente; • Os anestésicos voláteis reduzem o metabolismo e o consumo de oxigênio cerebral. Efeitos sobre o Sistema Cardiovascular • Todos os halogenados, exceto o halotano, podem causar aumento transitório da frequência cardíaca; • O efeito direto dos anestésicos voláteis sobre a função miocárdica é o depressor, de modo dose-dependente; • Todos os halogenados, com exceção do sevoflurano, aumentam a pressão venosa central (PVC). Efeitos sobre o sistema respiratório • Quando administrados sob ventilação espontânea, exercem efeito depressor sobre a ventilação; • Os halogenados são potentes broncodilatadores; • Os anestésicos inalatórios afetam a distribuição do fluxo sanguíneo pulmonar e, consequentemente, podem alterar as trocas gasosas. Efeitos sobre o fígado • Isoflurano, desflurano e sevoflurano apresentam mínimos efeitos sobre o fluxo sanguíneo através da artéria hepática e da veia porta, O halotano, por sua vez, tem efeito vasoconstritor sobre a artéria hepática com consequente redução de 65% na disponibilidade de oxigênio durante a anestesia; • O metabolismo oxidativo do halotano resulta em ácido trifluoroacético. As proteínas hepáticas acetiladas são reconhecidas pelo sistema imune como neoantígenos com formação de anticorpos antiácidotrifluoroacético. Efeitos renais • Os anestésicos halogenados promovem redução dose-dependente no fluxo sanguíneo renal, na taxa de filtração glomerular e no débito urinário. Proteção de órgãos • Os estudos mostram que os anestésicos voláteis apresentam efeitos cardioprotetores diretos, isto é, pré-condicionam diretamente ou aumentam indiretamente o pré- FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 25 condicionamento isquêmico, além de promoverem pós-condicionamento, resultando em proteção contra a lesão miocárdica isquêmica reversível e irreversível. • Em modelos experimentais de isquemia ou infarto do miocárdio, os declínios na função contrátil induzidos por anestésicos voláteis foram bem tolerados e não causaram uma disfunção sistólica franca. Na verdade, os anestésicos voláteis exercem significativos efeitos benéficos sobre a função mecânica durante a isquemia do miocárdio e a reperfusão da lesão. • Os anestésicos voláteis reduziram o tamanho do infarto do miocárdio experimental, preservaram as integridades estrutural e metabólica durante a isquemia e a reperfusão regional, incrementaram a recuperação funcional do miocárdio lesionado, e melhoraram os índices de desempenho diastólico do VE durante a breve oclusão da artéria coronária. Hipertermia maligna (adiante título só sobre isso) Efeitos obstétricos Efeitos mutagênicos e sobre a medula óssea RELAXANTES MUSCULARES • Os relaxantes musculares são substâncias hidrossolúveis e ionizadas, divididas em: o Despolarizantes - Produzem seus efeitos a partir da despolarização sustentada da placa motora. § Succinilcolina (suxametônio) o Não polarizantes - Possuem seus efeitos da inibição competitiva da acetilcolina ao receptor nicotínico, impedindo a despolarização da placa motora § Aminioesteroides: Pancurônio, Vecurônio e Rocurônio. § Benzilisoquinolico: Atracúrio, Cisatracúrio e Mivacúrio. Mecanismo de ação: • Agem nos receptores colinérgicos nicotínicos da musculatura estriada provocando paralisia da musculatura. • Despolarizantes: o Todas as drogas bloqueadoras neuromusculares assemelham-se estruturalmente à acetilcolina. o Liga-se ao receptor nicotínico e age como a Ach (acetilcolina), despolarizando a junção neuromuscular e permanecendo ligado ao receptor por um período de tempo relativamente longo, causando paralisia flácida. • Não despolarizantes: o Em baixas doses: § Competem com a Ach pelo receptor nicotínico. § Impedem a despolarização e inibem a contração muscular. § Sua ação pode ser desfeita aumentando-se a concentração de Ach na fenda sináptica = Estratégia usada pelos anestesiologistas, através do emprego de inibidores da acetilcolinesterase. o Em altas doses: § Acarreta bloqueio adicionalda transmissão neuromuscular e reduz a capacidade dos inibidores da acetilcolinesterase de reverterem às ações relaxantes musculares. FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 26 Train of Four (TOF) • Padrão de estimulação utilizado para avaliação do grau de bloqueio neuromuscular. • Consistem na aplicação de quatro estímulos em uma frequência de 2Hz (quatro estímulos em 2 segundos). • O bloqueio pode ser avaliado pelo número de respostas musculares e por meio da relação entre a amplitude da quarta e da primeira resposta da sequência. • No bloqueio muscular é observado progressivo decréscimo na amplitude de resposta, proporcional à profundidade do relaxamento. Na ausência de bloqueio neuromuscular, todas as quatro respostas são de igual amplitude. Efeitos: • Mastocitostócito: o Liberação de Histamina o ↓ da P.A o Broncoespasmo o ↑ Secreção brônquica o Fármacos derivados da isoquinolina, succinilcolina • Gânglios autonômicos e locais muscarínicos o Bloqueio ganglionar parcial o ↓ da P.A. o Taquicardia o Succinilcolina estimula o Alguns fármacos derivados da isoquinolina bloqueiam fracamente • Sistema cardiovascular o ↓da P.A. o Vasodilatação periférica o ↓do retorno venoso o Taquicardia o Derivados esteroides bloqueiam moderadamente o Galamina bloqueio forte o Succinilcolina estimula Farmacocinética: • Via de Hoffmann - degradação espontânea sob pH e temperatura fisiológicas. • Metabolismo: Hepático e/ou plasmático • Eliminação: renal FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 27 INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL (IOT) • Mesmo com recuperação rápida, a indução com relaxamento muscular, na impossibilidade de ventilação, pode resultar em hipóxia. Sempre que possível manter a ventilação espontânea do paciente. Para evitar problemas na IOT é importante: • Conhecer a anatomia e fisiologia da via aérea. • Conhecer e saber manipular os instrumentos para manejo das vias aéreas. • Adequado posicionamento do paciente. • Reconhecer situações de potenciais dificuldades. • Treinamento. MATERAIS ADEQUADOS: • Máscara facial • Cânulas orofaríngea (Guedel) - Garante perviedade da via aérea evitando mecanicamente o desabamento da parte posterior da língua. • Cânula nasofaríngeas (Wendel) - Garante perviedade da via aérea mesmo com desabamento da parte posterior da língua. • Laringoscópio com laminas, • Laringoscópio óptico, videolaringoscópio, • Tubo endotraqueal, • Máscara laríngea, • Fibroscópio, • Mandris, • Cateter transtraqueal, • Máscara de ventilação, FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 28 SISTEMA MÁSCARA-BALÃO • Primeiro recurso disponível para manter via aérea e a ventilação. • A máscara deve ter tamanho e conformação compatíveis com a anatomia do paciente. • O paciente deve ser colocado em posição olfativa, exceto na suspeita de trauma cervical. • Para realizar a ventilação sob máscara facial deve-se evitar a compressão de partes moles, para isso realiza-se tração na parte óssea da mandíbula. TENTATIVA ÓTIMA DE INTUBAÇÃO - Definição • Profissional com experiência (>3anos) • Tônus muscular insignificante • Pressão laríngea externa ótima - BURP (back up right position) (cartilage cricóide) • Adequar tamanho da lâmina • Adequar tipo da lâmina • Ótima posição da cabeça - “Sniff position”/posição olfativa Posicionamento para manejo da via aérea: • Neutra / Decúbito 0 grau - Difícil visualização o Desalinhamento dos eixos oral, faríngeo e laríngeo. • Extensão da cabeça o Alinhamento dos eixos oral e laríngeo. • Extensão cervical (posição olfativa) - POSICIONAMENTO IDEAL! o Alinhamento dos eixos oral, faríngeo e laríngeo. o Flexão da coluna cervical em direção anterior com elevação da cabeça, através de um suporte firme (coxim occiptal). INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 29 MANUTENÇÃO DE VIAS AÉREAS PULMÕES • Os pulmões são como refinarias, extraem do ar combustível e entregam ao sangue. • A principal função dos pulmões são as trocas gasosas. • Mecânica respiratória: fisiologicamente a respiração ocorre na dependência das forças desenvolvidas pelos músculos respiratórios e das propriedades mecânicas do sistema. o Inspiração: § Redução da pressão intrapulmonar. § Diafragma contrai e desce; m. escalenos e intercostais externos. § Processo ativo. o Expiração: § Aumento da pressão intrapulmonar. § M. intercostais internos e abdominais. § Processo passivo/ativo - Relaxamento dos músculos inspiratórios + retração elástica do tecido pulmonar VENTILAÇÃO MECÂNICA • A ventilação mecânica frequentemente é utilizada para manutenção das funções vitais durante o período itraoperatório. Ao longo da última década se verificou que em paralelo aos benefícios há efeitos lesivos dependente dos parâmetros respiratórios utilizados. • A maioria dos procedimentos cirúrgicos estão relacionados com alteração da função pulmonar, aumentando a morbimortalidade perioperatória. • Objetivos: o Suporte mecânico - “fole” o Suporte pulmonar - troca gasosa o Princípio fisiológico - ventilação alveolar adequada com controle de: PaCO2, pH e oxigenação (PaO2, CaO2) • A partir da instituição da ventilação mecânica com pressão positiva, ocorre alteração da dinâmica ventilatória. • Existem várias maneiras de se realizar a pressurização das vias aéreas, que se diferenciam quanto a interface interposta entre o ventilador e paciente. Pode ser classificada como o Não invasiva o Invasiva. • Em relação à forma como é gerado o fluxo inspiratório, a ventilação mecânica pode ser classificada em: Pressão intrapulmonar mais negativa que a atmosférica Contração do diafragma e músculos intercostais Volume da cavidade torácica aumenta Pressão intrapleural mais negativa Expansão pulmonar Pressão intrapulmonar negativa Ar flui para dentro dos pulmões Pressão intrapulmonar similar a atmosférica FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 30 o Ventilação com fluxo controlado, o Ventilação com pressão controlada Conceitos: • Pressão - É a força aplicada sobre uma superfície, em ventilação mecânica a unidade utilizada é cmH2O. A manutenção de uma pressão positiva na fase final expiratória é denominada de PEEP (Positive end expiratory pressure). • Volume corrente - Em mL ou L, reflete o volume final de gás inspirado no interior dos pulmões. • Fluxo - é representado pela taxa de volume em relação ao tempo, portanto L/min ou suas variantes (L/s , ...). • Resistência das vias aéreas - Para o movimento dos gases através da via aérea ou tubo, é necessária uma diferença de pressão na direção do movimento, que determina o sentidodo ponto de maior para o de menor pressão. É a força motriz do fluxo. Portanto a soma das resistências do tubo endotraqueal e do sistema respiratório se constitui na própria resistência das vias aéreas. • Complacência do sistema respiratório - quando o volume pulmonar aumenta durante a fase inspiratória determina uma expansão da caixa torácica, portanto distendendo as estruturas elásticas do sistema ( analogicamente semelhante a um sistema de molas) gerando uma força contrária, é a relação entre o volume inspirado e a variação de pressão no interior do pulmão. MODOS DE VENTILAÇÃO: Ventilação com pressão controlada: • Pressão inspiratória é predeterminada • VC variável de acordo com a complacência pulmonar • Fluxo inspiratório livre que desacelera de forma logarítimica ao chegar próximo do valor preestabelecido • Limitação da pressão de platô - < risco de barotrauma FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 31 • Distribuição mais homogênea do VC – evita esvaziamento precoce dos alvéolos com constante de tempo de enchimento mais rápido • Queda da complacência ou aumento da resistência de vias aéreas – compromete o VC adequado Ventilação com volume controlado: • VC é preestabelecido • Pressão intrapulmonar será determinada segundo a complacência e a resistência de via aérea • Fluxo inspiratório constante • Distribuição do VC segundo áreas de maior ou menor resistência • Ventilação com pressão de via aérea maior • Aumento de áreas de atelectasia, portanto shunt e hipóxia Ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV) • VC pré-determinado com freqüência determinada • Liberação da ventilação espontânea do paciente sincronizada ao ciclo do aparelho • As incursões espontâneas são auxiliadas por uma pressão suporte • Modo de desmame Pressão de suporte • Usado para desmame em pacientes em respiração espontânea • Pressão utilizada na fase inspiratória para diminuir o trabalho respiratório • Utilizado em conjunto com SIMV e PEEP CPAP • Pressão contínua de via aérea • Pode ser utilizada com paciente sob IOT ou com máscara apropriada • Pressurização menor que na VPPI(vent. com pressão positiva não invasiva); > conforto ao paciente • Promove recrutamento alveolar e melhora da PaO2 • Utilizado como forma de suporte ventilatório antes da IOT ou como forma de fisioterapia respiratória • Apnéia do sono • Provoca distensão gástrica BiPAP • Variação do CPAP onde há duas pressões distintas: uma na fase inspiratória (IPAP) e outra na fase expiratória (EPAP) • Mais fisiológico e confortável para o paciente • 60% de sucesso, evitando IOT em casos de insuficiência respiratória aguda REPERCUSSÕES DA VENTILAÇÃO ARTIFICIAL Efeitos cardiovasculares • Queda do retorno venoso • Aumento da RVP FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 32 • Ação sobre a VE varíavel • A influência da ventilação positiva na hemodinâmica varia de acordo com o tipo de suporte ventilatório. Outros efeitos • Renal o Queda da filtração glomerular o Queda da excreção de Na o Queda da depuração de água livre • Aumento do tônus simpático • Aumento dos níveis plasmáticos de adrenalina e noradrenalina (estudo em animais) Efeitos ventilatórios • Perda da ação diafragmática • Conteúdo abdominal tendendo a empurrar o diafragma diminuição da CRF. • Queda da complacência o Atelectasia alveolar o Desvio de fluxo para áreas de menor resistência o Distúrbio V/Q (vent./perfusão) – aumento do espaço morto e mistura venosa Efeitos pulmonares • “Observou-se edema intersticial e alveolar, aumento da permeabilidade capilar e lesão tecidual grave após ventilação mecânica em animais de experimentação sadios. Tais alterações microscópicas e funcionais são, na maioria das vezes, indistinguíveis daquelas que ocorrem na LPA ou SARA (...). Os mecanismos responsáveis pela LP/VM são diversos (...), entretanto parece que a combinação de fatores mecânicos (hiperdistensão alveolar e aumento da pressão transmural vascular), celulares (ativação de neutrófilos e macrófagos), inativação do surfactante e síntese de mediadores inflamatórios determinam, em última análise, a lesão pulmonar.” Rev Ass Med Brasil 2001; 47(4): 358-64 • Alvéolo inflamado - IL-1 B, IL-6, IL-8, TNF-alfa, MCP-1 FISIOPATOLOGIA DA VENTILAÇÃO MECÂNICA • Fenômeno de “recrutamento” e “derecrutamento” alveolar o Alteração funcional do pulmão o Lesão histológica o Liberação de citocinas pró-inflamatórias • Volutrauma, barotrauma e atelectrauma FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 33 • Atelectasia - O conceito de atelectasia intraoperatória foi proposto na década de 60, trata- se do colapso do tecido pulmonar que ocorre após ou durante a indução anestésica. Caraterizada pela diminuição da complacência pulmonar e comprometimento da oxigenação arterial. o Presente em 90% dos pacientes anestesiados, o Representa 3 a 4% da área pulmonar, podendo chegar a 20%, o Maior incidência em pacientes normais que em pac. com DPOC. o Capacidade de fechamento (CP) é o vol. a partir do qual as vias aéreas começam a fechar na expiração e favorecer o surgimento das atelectasias. • Compressão: o Anestesia inalatória ou venosa o Duração e tipo da cirurgia o Posição do paciente o Idade o Conformação torácica o Doenças pulmonares previas o Fatores cirúrgicos (tração de estruturas) • Reabsorção: o Ventilação com FiO2 elevadas o V/Q baixos • Alteração do surfactante: o Agentes anestésicos o Duração da anestesia o Volumes correntes baixos VENTILAÇÃO PROTETORA • Estratégias ventilatórias que não promovam lesão pulmonar e que garantam uma adequada oxigenação. • Medidas: o Baixa pressão alveolar o FiO2 < 100% o Anestésico inalatório • Volume corrente baixo: o VC ≤ 5 mL/kg o Menor pressão alveolar o Diminuição da liberação de citocinas pró-inflamatórias o menor estiramento alveolar o Menor lesão alveolar • Recrutamento alveolar o Melhor oxigenação o Desfaz áreas de atelectasia o Melhora distribuição do fluxo inspiratório o Mais eficiente quando instalado PEEP posteriormente o Efeito temporário (30 a 40 min) o Não se comprovou se pode causar lesão pulmonar por hiper-distensão alveolar o Pressão contínua entre 30 e 40cmH2O por 10 sec • PEEP (pressão positiva expiratória final) o Melhora a oxigenação arterial o Estratégia do “pulmão aberto” o Promove recrutamento alveolar FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 34 o Redistribuição de fluido do alvéolo para o interstício o Aumento da CRF o Manter pressão de platô menor que 30cmH2O o Não há consenso no cálculo da PEEP § Valor da PEEP – 2cmH2O acima do ponto de inflecção inferior da curva de complacência* - melhor oxigenação com menor lesão pulmonar o Efeitos adversos § Instabilidade hemodinâmica § Queda do débito cardíaco § Queda do débito urinário HIPERTERMIA MALIGNA DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:A hipertemia maligna é uma doença farmacogenética potencialmente letal que acomete indivíduos geneticamente predispostos. É desencadeada pela exposição a agentes indutores ou fatores ambientais desgastantes, os agentes anestésicos voláteis (agentes indutores) e os relaxantes musculares despolarizantes são implicados como indutores. • Há um aumento rápido e sustentado da concentração de cálcio mioplasmático (Ca 2+) induzido pela hiperativação dos receptores de rianodina (RYR1) do músuculo esquelético. • A ventilação mecânica pode causar lesão pulmonar. • Modos de ventilação mandatória (necessária/obrigatória): o Volume controlado o Pressão controlada o Pressão controlada com volume garantido • Modos de desmame o SIMV o Pressão suporte • A ventilação protetora parece ser o método menos danoso dentro dos critérios. FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 35 • O paciente pode ter usado alguma das substâncias anteriormente e não ter tido um quadro. • Herança: Os modos de herança à suscetibilidade para HM são autossômicos dominantes com penetração reduzida (significa que menos filhos são afetados do que o esperado em um padrão de dominância) e expressão variável1,2 (diferença da suscetibilidade entre famílias e pequena variação entre a mesma família), autossômica recessiva, multifatorial ou não classificada. (expressão pode ser diferente para cada membro da família). • Associada a mutações genéticas cuja maioria se encontram no cromossoma 19 gene receptor para rianodina (Ryr1). Pode ser descrita como um distúrbio genético heterogêneo com uma apresentação clínica altamente variável. FISIOPATOLOGIA - Estado hipermetabólico • Em condições normais, os níveis de Ca²+ no mioplasma são controlados pelos receptores rianodina (RyR1), DHPR (receptores diidropiridínicos) e sistema Ca2+ -adenosina trifosfatase (Ca²+ -ATPase). • Na crise de HM há uma intensa alteração na homeostasia do Ca²+, na qual a hiperativação do RyR1 provoca um aumento na concentração de Ca²+ citoplasmático, o que resulta na ativação sustentada da contração muscular. • Os processos de contração muscular e de reabsorção desse excesso de Ca²+consomem grandes quantidades de ATP e geram um excesso de calor (hipertermia), que é a marca da doença. Agentes desencadeantes Agente seguros Succinilcolina Relaxantes musculares adespolarizantes Halotano Óxido nitroso Isoflurano Propofol Enflurano Etomidato Sevoflurano Benzodiazepínicos Metoxiflurano Barbitúricos Desflurano Vasopressores Outros: álcool, ecstasy, 4-m-cresol Libração de Ca++ dos canais de Rianodina Excitação – Contração Muscular Alteração do metabolismo ↑Ca++ intracelular ↑ metabolismo por ativação das fosforilases ↑ Glicogenólise ↑ Demanda de ATP ↑ CO2 Lise celular com extravasamento de conteúdo cel. FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 36 • O esgotamento dos estoques de ATP resulta no rompimento da membrana do músculo esquelético e há um extravasamento dos constituintes celulares, que incluem potássio, creatina, fosfatos e mioglobina. A perda do potássio a partir de células do músculo resulta em arritmias cardíacas. • A diminuição da concentração de ATP causa rigidez muscular, uma vez que a presença de ATP é normalmente necessária para permitir o relaxamento muscular, além da associação de filamentos de actina e miosina; • Um aumento potencial no consumo de oxigênio por meio da glicólise e do metabolismo aeróbico descontrolados leva a hipóxia celular, acidose láctica progressiva e excesso de geração de dióxido de carbono. CLASSIFICAÇÃO DAS CRISES DE HIPERTERMIA MALIGNA Atípicas: morte súbita ou parada cardíaca inexplicadas durante anestesia. Outras: febre pós-operatória, rabdomiólise, insuficiência renal, antecedentes familiares suspeitos. Espasmo de masseter: • Rigidez de masseter com evidências de lesão muscular (p. ex., elevação da creatinoquinase sérica e mioglobinúria). • Rigidez de masseter associada a alterações metabólicas (p. ex., elevação da temperatura, arritmias cardíacas). • Rigidez de masseter isolada. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DAS CRISES DE HIPERTERMIA MALIGNA Clínicas Laboratoriais Inicial Taquicardia Elevação progressiva do CO2 exalado Taquipnéia Rigidez muscular localizada (incluindo rigidez de masseter) Cianose Arritmias Hipertermia Sudorese profusa Hipercapnia (ac respiratória) Acidose metabólica Hiperlacticidemia Hipercalemia Dessaturação venosa central Tardia Febre acima de 40ºC Cianose Má perfusão cutânea Instabilidade pressórica Rigidez muscular generalizada Mioglobinemia Elevação da creatinoquinase plasmática Elevação da creatininemia Coagulação intravascular disseminada FULMINANTE CLÁSSICA Potencialmente fatal, múltiplas manifestações metabólicas e musculares MODERADA Manifestações metabólicas e musculares sem a gravidade da forma fulminante LEVE Discretas alterações metabólicas, sem manifestações musculares. FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 37 ESCALA CLÍNICA GRADUADA (CGS-MH) DE PROBABILIDADE QUALITATIVA TRATAMENTO: Fase aguda: 1. Interrupção imediata da inalação de anestésicos voláteis e/ou succinilcolina. 2. Hiperventilação com oxigênio puro (não há necessidade de troca do circuito circular ou sistema de absorção de CO2). 3. Dantrolene sódico (única medicação que consegue controlar): Injeções intravenosas de 2,5mg/kg, repetidas até o completo controle das manifestações de HM. Ainda que doses maiores sejam eventualmente necessárias, o controle das crises de HM é obtido na maioria dos casos com dose total inferior a 10 mg/kg. Diluir cada frasco-ampola, contendo 20 mg de dantrolene e 3g de manitol, em 60 ml de ÁGUA estéril. • O dantrolene bloqueia os RyRs, atua diretamente sobre as isoformas RyR1 e RyR3, reduz a ativação do canal pela calmodulina e diminui a sensibilidade do canal ao Ca++ 4. Bicarbonato de sódio intravenoso, conforme o bicarbonato sérico (em geral, 1 a 2 mEq/kg); 5. Resfriamento ativo: Lavagem gástrica, vesical, retal e cavidades (peritoneal ou torácica) eventualmente abertas com NaCl 0,9% gelado; colchão hipotérmico e aplicação de gelo na superfície corporal. Evitar hipotermia, interrompendo o resfriamento com temperaturas inferiores a 38ºC. Processo Indicador Pontos Rigidez Generalizada(excetoshivering) Espasmo de masseter após succinilcolina 15 ou 15 Destruição muscular CPK>20 000 UI com Succinilcolina CPK>10 000 UI sem Succinilcolina Urina cor de Coca-Cola Mioglobinúria>60 mcg/l Mioglobinemia>170 mcg/l Potassemia>6 mEq/l 15 ou 15 ou 10 ou 5 ou 5 ou 3 Acidose respiratória PETCO2>50 mmHg em Ventilação controlada PaCO2>60 mmHg em Ventilação controlada PETCO2>65 mmHg em Ventilação espontânea PaCO2>60 mmHg em Ventilação espontânea Hipercarbia (inapropriada) Taquipnéia (inapropriada) 15 ou 15 ou 15 ou 15 ou 15 ou 10 Acidose metabólica BEa além de - 8 mEq/l 10 10 Acidemia pHa < 7,25 10 10 Hipertermia Elevação rápida da T (inapropriada) T> 38,8ºC (inapropriada)15 ou 10 Ritmo cardíaco Taquicardia sinusal (inapropriada) Taquicardia ou fibrilação ventricular 3 ou 3 Dantrolene & acidose Reversão rápida (respiratória ou metabólica) 5 Pontuação Risco de H. Maligna Probabilidade 0 1 Quase impossível 3 a 9 2 Improvável 10 a 19 3 Algo menos que provável 20 a 34 4 Algo mais que provável 35 a 49 5 Bastante provável 50 e mais 6 Quase certo FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 38 6. Tratamento das arritmias cardíacas (geralmente controladas com o tratamento da hiperpotassemia e acidemia). Entre os antiarrítmicos, não usar bloqueadores de canais de Ca++, associados a hiperpotassemia e colapso circulatório. 7. Tratamento da hiperpotassemia, com hiperventilação, bicarbonato de sódio, Solução “polarizante” (0,15U de insulina simples/kg em 1ml/kg de glicose 50%), cloreto de Ca++, intravenoso - 2 a 5 mg/kg (arritmias graves). 8. Manter diurese acima de 2 ml/kg/hora: Hidratação, manitol ou furosemida. Fase tardia: 1. Face ao risco de recidiva é conveniente observação em Unidade de Tratamento Intensivo durante pelo menos 24 horas. 2. Dantrolene intravenoso 1 mg/kg a cada 6 horas, durante 48 horas. 3. Controles a cada 6 horas: temperatura, gasometria arterial, níveis sangüíneos de creatino-fosfocinase (CPK), potássio e Ca++ coagulograma, mioglobina sérica e urinária. 4. Orientação do paciente e familiares acerca da doença. DIAGNÓSTICO: • Atualmente, o método padrão para o diagnóstico de sensibilidade à HM e o teste de contratura muscular para exposição ao halotano-cafeína (CHCT) e o tratamento é uso de dantrolene. ASSOCIAÇÃO COM OUTRAS DOENÇAS NEUROMUSCULARES: • O fenótipo de suscetibilidade ao teste CMHC encontrado na HM pode se manifestar secundariamente em indivíduos portadores de doenças neuromusculares, tais como: o Distrofia musc. progressiva tipo Becker e Duchenne; o Distrofia muscular congênita; o Distrofia miotônica; o Miotonia congênita; o Paralisia periódica familiar; o Síndrome de King- Denborough; o Doença do núcleo central (DNC). FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 39 ANESTESIA VENOSA Objetivos: • Inconsciência -> Hipnóticos • Analgesia -> Analgésicos • Relaxamento muscular -> Bloqueadores neuromusculares FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA Absorção - Processo pelo qual a droga deixa seu sítio de administração para penetrar a corrente sanguínea. Distribuição - Determinante na concentração da droga no órgão-alvo (perfusão, ligação à proteína e solubilidade lipídica), Biotransformação - Alteração de uma substância por processos metabólicos, geralmente inativos e solúveis em água. Excreção - Depuração das drogas, principalmente renal. Biodisponibilidade - Percentual de aproveitamento, pelo organismo, de uma substância. Depende da quantidade de droga livre e da biotransformação. Modelo farmacocinético de drogas venosas: são instrumentos matemáticos que ajudam a prever e entender a trajetória da massa de uma determinada substância ofertada ao organismo por essa via de administração. • A farmacocinética e dinâmica dos fármacos venosos era determinada por um único medicamento, entretanto atualmente aumentaram os estudos das interações entre os agentes anestésicos, com o intuito de diminuir efeitos colaterais e aumentar a ação terapêutica. Hipnose Analgesia Bloqueio Neuromuscular Pré-anestesia Indução Manutenção Recuperação FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 40 • A escolha das drogas para essa técnica deve levar em conta as características do fármaco ideal: o Rápido inicio de ação (. Ke0 baixo e Ke0 elevado) o Pouca distribuição pelos compartimentos periféricos (musculo e gordura) o Clearance elevado o Mínimos efeitos cardiovasculares e respiratórios o Amplo intervalo terapêutico o Ação antiemética, antioxidante e anti-inflamatoria o Não liberar histamina o Facilmente titulada, o Não poluir meio ambiente o Não interagir com outras drogas anestésicas o Não ter metabólitos ativos. • A interação é chamada de adição, isto é, quando ocorre a soma dos efeitos individuais na combinação de dois anestésicos. • Sinergismo ocorre quando o efeito é maior que o esperado em relação aos efeitos individuais, que se traduz pelo uso de uma dose menor, quando comparada às doses individuais dos fármacos utilizados. • Biofase é o local que um fármaco deve atingir para exercer a sua ação terapêutica. • Volumes comportimentais • Histerese do fármaco: É o tempo para que um fármaco atinja o equilíbrio entre a concentração plasmática e o local efetor ou biofase. Por definição farmacológica, o equilíbrio entre os compartimentos plasmático e o local efetor, para fármacos venosos, corresponde a 4,32 meias-vidas do fármaco. Assim, o produto T1/2Ke0 x 4,32 corresponde ao tempo de equilíbrio entre o compartimento plasmático e o local efetor. • Ke0 (quanto maior o Ke0, mais rapidamente a droga chega no sítio de ação): velocidade com que a droga deixa V1 em direção à biofase. • T1/2Ke0: tempo que o fármaco leva para alcançar a metade da concentração desejada no sítio efetor (concentração na biofase seja a metade da concentração no plasma). o O tempo será maior quanto menor a velocidade de passagem do medicamento do plasma para o reptor. Essa velocidade de transferência é chamada de Ke0. o O T1/2Ke0 representa o tempo necessário para que a concentração na biofase seja a metade da concentração no plasma. o Assim, fármacos com T1/2Ke0 curtos possuem Ke0 altos e início de ação rápido. • Constantes K: é a constante de transformação entre os compartimentos. • Meia-vida contexto dependente: tempo para que a concentração plasmática de uma droga diminua em 50%, após o término da infusão • Concentração = dose/volume • Velocidade de remoção do fármaco = clearance x concentração FUNDAMENTOS DE ANESTESIOLOGIA Talita Valente Prof. Fernando ATM 2023/A 41 • A anestesia intravenosa pode ser realizada por simples injeção em “bolus” e repetida quantas vezes se fizerem necessário, segundo os critérios do anestesiologista. Isso irá determinar os denominados picos (doses elevadas) e vales (doses subterapêuticas). ANESTESIA INTRAVENOSA COM INFUSÃO ALVO- CONTROLADA • Para se obter uma concentração plasmática previsível e com níveis aproximadamente constantes é utilizada a técnica denominada Anestesia Intravenosa com Infusão Alvo- Controlada (AIVAC) ou TIC (Target Controlled Infusion). • Utilizam cálculos matemáticos para infusão inicial e manutenção, de modo a atingir um plano anestésico adequado, estável e com os menores efeitos colaterais possíveis. • Com base em softwares que processam cálculos em tempo real utilizando equações matemáticas que descrevem a forma como o fármaco (propofol) se desloca entre os compartimentos corporais, essas bombas são capazes de estimar a concentração tanto no plasma como no local de efeito ou biofase. • Esta técnica originou-se com o aparecimento dos hipnóticos (principalmente o propofol e o midazolam)
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