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AULA 1 GERENCIAMENTO DE TEMPO EM PROJETOS Prof. Angelo Tadini 02 CONVERSA INICIAL Um estudo realizado pelo Standish Group International em 2009, nos Estados Unidos da América (EUA), apresentou números preocupantes com relação à quantidade de projetos que não cumprem seus objetivos: somente 32% dos projetos iniciados são entregues no prazo estipulado, dentro do orçamento previsto e com recursos e funções planejadas; 44% apresentam atrasos, orçamento estourado e poucas funcionalidades requeridas inicialmente; e, por fim, cerca de 20% são cancelados antes da sua conclusão ou quando entregues não são implementados pelas empresas. Alguns outros estudos foram realizados comprovando que empresas que investiram em esforços nas fases de pré-desenvolvimento conseguiram no mínimo duplicar as chances de sucesso no lançamento dos seus produtos. Já empresas que não faziam uso de técnicas de gerenciamento de projetos tinham em média 71% de atraso nos seus cronogramas (Medeiros, 2011). Os números dessas pesquisas demonstram que executar projetos de sucesso é uma tarefa muito difícil, a probabilidade joga contra, pois, se estamos falando dos EUA, que possuem um histórico de gerenciamento de projetos, podemos imaginar como é a situação no Brasil, onde o gerenciamento de projetos está em fase inicial de desenvolvimento. Os estudos denotam também que uma forma bastante clara de saber se um projeto foi um sucesso ou fracasso é olhar para o seu cronograma. Normalmente esse é um parâmetro bastante exato de satisfação em relação a um determinado projeto. Nesta aula, serão abordados temas a respeito da importância do gerenciamento de tempo nos projetos e a interface entre o cronograma e as outras nove áreas de conhecimento, segundo o PMBOK (PMI, 2013). Mais do que evidenciar o tempo como um tema central na gestão de projetos, a meta é proporcionar uma visão sistêmica sobre esse assunto a partir do cronograma. CONTEXTUALIZANDO Você trabalha em uma empresa familiar do ramo de alimentação, a ABC Alimentos S.A. No mercado há mais de 30 anos, ela é especializada em restaurantes organizacionais e entrega de comida para grandes corporações, um serviço de terceirização de alimentação. 03 A empresa cresceu a uma taxa média de 15% nos últimos 10 anos. Atende desde empresas pequenas até multinacionais. Você foi contratada (o) há um ano como gerente de projetos (GP) da diretoria de novos produtos (DNP). No pouco tempo de organização, como GP você sabe que já é sua função, entre outras, ajudar no desenvolvimento da organização, participar nas decisões e contribuir para a gestão efetiva dos projetos da empresa. Neste contexto, é sabido que, apesar do crescimento da empresa, os negócios do ano passado e deste ano não estão tão bem como nos anos anteriores. Para conseguir atender à demanda, a empresa foi obrigada a fazer várias aquisições nos anos passados, endividando-se. Há uma certa tensão nas reuniões da diretoria e foi agendado um brainstorming junto à área financeira para analisar a viabilidade de projetos que focam no melhoramento do desempenho da empresa no curto e médio prazo. Vários projetos foram elencados, mas no critério de priorização, um deles se destacou: a loja de venda de equipamentos para cozinha industrial, que é uma ideia antiga na ABC, e, devido aos levantamentos de mercado, mostrou-se promissor neste momento. No termo de abertura do projeto (TAP), consta que a loja deverá ter 360 m2 de espaço de venda. Será contratada mão de obra local para as obras, que demorará em média 120 dias, desde a aquisição do imóvel até a abertura das portas para o público. Sua função será encontrar um espaço, negociar o aluguel, adquirir os equipamentos e demais mobiliários, contratar uma empreiteira para a obra e organizar o evento de inauguração da loja, que precisa ser na semana do Congresso Mundial da Cadeia da Indústria Automobilística, que acontecerá na cidade. A ABC participará com um grande estande. Para isso, você tem 180 dias para finalizar todo o projeto. Sabe-se que será necessário um orçamento de $4 milhões para que o projeto seja possível. Com base nas descrições acima e na sua criatividade, como seria uma estrutura analítica para este projeto? 04 TEMA 1 – A IMPORTÂNCIA DO GERENCIAMENTO DO TEMPO NOS PROJETOS O gerenciamento do tempo é uma das questões mais complexas e fascinantes para a história da humanidade. Várias foram as estratégias, ferramentas, poemas e frases cunhadas em prol da inexorabilidade do tempo. Albert Einstein, uma das mentes mais brilhantes da humanidade, buscou estudar a relatividade do tempo (“O tempo é relativo”). Hollywood já produziu alguns filmes bem interessantes que abordam a respeito do impacto do tempo em nossas vidas. No entanto, o fato é não conseguimos dominar o tempo e por isso somos reféns da sua trajetória, não podendo voltar atrás ou “economizar tempo”. Saiba mais Alguns filmes sobre a Gestão de Tempo: • O exterminador do futuro: disfarçado de humano, o assassino conhecido como o exterminador (Arnold Schwarzenegger) viaja de 2029 a 1984 para matar Sarah Connor. • De volta para o futuro: um adolescente de uma pequena cidade da Califórnia (EUA) é transportado por uma máquina do tempo para diversas datas do passado e do futuro. • Click: um arquiteto frustrado com a vida que leva recebe de um inventor excêntrico um controle remoto universal que tem a capacidade de controlar o tempo. • A origem: um ladrão que invade os sonhos das pessoas e rouba segredos do subconsciente. • O preço do amanhã: um homem deve descobrir como derrubar um sistema onde tempo é dinheiro e que permite que os ricos vivam para sempre, enquanto os pobres devem implorar por cada minuto de suas vidas. Como não poderia ser diferente, no ambiente de projetos gerenciar o tempo é uma das tarefas mais importantes. O cumprimento do cronograma conforme o seu planejamento é um dos indicadores mais emblemáticos de sucesso (ou fracasso em um projeto). Se, por exemplo, abordarmos a organização da Copa do Mundo de 2014 pelo Brasil, um dos assuntos mais discutidos na época foram os atrasos na 05 entrega das obras, sobretudo dos estádios. Por outro lado, se observarmos a história da construção do Empire State Building, em 1930, que durante décadas foi o edifício mais alto do mundo, teremos um exemplo de grande sucesso. O edifício nova-iorquino, que tem cento e dois andares e mais de quatrocentos metros de altura, foi construído em pouco mais de um ano. Foi a primeira grande obra a utilizar-se de uma ferramenta de tempo, conhecida como fast-tracking. Nesse processo, as várias etapas do cronograma que não possuem relação de dependência entre elas são realizadas simultaneamente, uma inovação considerável naquele período. O gerenciamento do tempo é um assunto tão importante que muitas empresas acabam encarando a gestão de projetos como um conjunto de ferramentas. Instalar um software de controle do cronograma já é entendido como uma forma de gerenciar seus projetos. No mercado, hoje, é possível encontrar diversas ferramentas como Gantt Project, Open Project, MS Project, entre outros que têm como premissa básica a gestão de cronogramas. Porém, não são esses softwares que vão garantir a boa execução de um projeto. Embora o cronograma seja o requisito mínimo para desenvolver qualquer projeto, é preciso conhecimento, recursos humanos treinados, estrutura organizacional compatível e maturidade em gestão de projetos. Do mesmo modo, é sabido que o tempo é apenas uma das dez áreas de conhecimento, segundo o PMBOK (PMI, 2013), sendo uma das que faz inter- relação com todas as outras nove áreas e, sim, precisa ser tratada com prioridade pela organização. Durante muitos anos, os estudiosos do gerenciamento de projetos destacaram com veemência o conceitoda tríplice restrição. Segundo essa abordagem, não é possível diminuir o tempo de um projeto, sem diminuir o escopo e/ou aumentar o custo, mantendo a qualidade (Figura 1). Em consonância, se é necessário aumentar o escopo, será preciso aumentar também o custo e/ou o tempo do projeto. 06 Figura 1 – A tríplice restrição Fonte: Shutterstock/Novelo. Por exemplo, na construção de uma casa, para atender a uma solicitação do cliente para aumentar um cômodo (escopo), os custos e/ou o prazo do projeto deverão ser aumentados; caso contrário, a qualidade final do projeto poderá ser afetada pela necessidade de se reduzir a quantidade de materiais, de utilizar materiais mais baratos e, possivelmente, de menor qualidade, contratação de equipes mais baratas e menos experientes etc. (Montes, 2017). Por mais que essa conceituação seja obsoleta, pois não leva em conta a integração com outras importantes áreas de conhecimento dos projetos, como o risco e a qualidade, por exemplo, a tríplice restrição demonstra o impacto que o cronograma tem em um projeto. TEMA 2 – A GESTÃO DO TEMPO, INTEGRAÇÃO E ESCOPO Antes de abordarmos a integração do tempo com as demais áreas de conhecimento faz-se necessário observar o tempo como um fator importante nos grupos de processos do PMBOK. As próprias fases do ciclo de vida do projeto pretendem evidenciar que os processos não são ações estanques, que terminam em si mesmas, mas que possuem um alto grau de interação entre si no tempo. 07 Figura 2 – Interação entre os grupos de processos Fonte: PMI, 2013. Conforme demonstra a Figura 2, apesar de cada um dos grupos de processos ter suas definições próprias, distintas, é em conjunto que eles fazem sentido. Isso significa que, enquanto se está planejando o projeto, provavelmente muitas ações do grupo de processos da execução também estão acontecendo. De forma geral, segundo o PMI (2013), as fases do ciclo de vida do projeto definem: • Qual é o trabalho técnico que deve ser realizado em cada fase; • Quando as entregas devem ser realizadas, bem como sua revisão, verificação e validação; • Quais e quem são os envolvidos em cada fase do projeto; • Como controlar e validar cada fase; • Como as fases normalmente são sequenciadas; • Os níveis de custos e uso de recurso têm ascensão a partir do início do seu ápice nas fases intermediárias e declínio a partir do momento em que o projeto passa a se encaminhar para sua conclusão; • Grande nível de incerteza com relação a não atingir os objetivos na fase inicial do projeto. A certeza de término se torna cada vez maior na medida em que o projeto vai se realizando; 08 • Influência de interessados nas características do projeto é maior no início do e se torna menor com o andamento do projeto. Quando analisamos a correlação entre a gestão de tempo e as outras áreas de conhecimento, separadamente, é possível observar a importância do cronograma no gerenciamento de projetos. A interface entre tempo e as áreas diz respeito não apenas aos processos, como é o caso do escopo, em que as atividades do cronograma surgem dentro dos pacotes de trabalho, mas sobretudo de como o cronograma impacta nas ações das outras áreas. Figura 3 – Integração das áreas de conhecimento A própria área de gerenciamento da integração do projeto depende da gestão do cronograma para que seja possível estabelecer políticas, procedimentos para planejar, desenvolver, gerenciar e controlar o projeto como um todo. Como demonstra a Figura 2, é possível afirmar que o tempo possui papel central no processo de integração do projeto. O gerenciamento da integração do projeto inclui os processos e as atividades necessárias para identificar, definir, combinar, unificar e coordenar os vários processos e atividades dos grupos de processos de gerenciamento. No contexto de gerenciamento de projetos, integração inclui características de unificação, consolidação, articulação e ações integradoras que são essenciais para o término do projeto, para gerenciar com sucesso as expectativas das partes interessadas e atender aos requisitos (PMI, 2013, p.63). O início do projeto com o termo de abertura (processo da área de Integração) já traz como destaque a necessidade de haver uma linha de tempo 09 para o desenvolvimento do projeto. Conforme pode ser visto na Figura 3, é com base neste esboço de cronograma que os principais interessados vão decidir se autorizam ou não o planejamento e execução desse projeto. Figura 4 – O tempo no Project Model Canvas Fonte: adaptado de Finocchio Jr. (2013) Saiba mais O Project Model Canvas é uma metodologia criada para simplificar o planejamento de projetos, utilizando-se de uma ferramenta conhecida como design thinking, que aborda aspectos visuais da neurociência aliados a uma estrutura lógica. Neste exemplo (Figura 3) de componentes que integram as premissas básicas do termo de abertura de um projeto (justificativa, benefícios, objetivos, produtos, requisitos, stakeholders, equipe, restrições, premissas, riscos, custos, grupo de entregas e a linha do tempo). Por outro lado, quando abordarmos, segundo o PMBOK (PMI, 2013), as principais saídas/entregas do gerenciamento do escopo (Figura 5), verificaremos que elas são as principais entradas do gerenciamento de tempo. 010 Figura 5 – Projetos de gerenciamento do escopo do projeto Fonte: Adaptado do PMBOK, 2013. O planejamento do gerenciamento do escopo tem como função primordial fornecer orientação e instruções sobre como o escopo será gerenciado ao longo de todo o projeto (PMI, 2013). Isso inclui prever as fases do escopo a partir de um cronograma. A coleta dos requisitos do escopo do projeto também pode ser observada a partir da gestão do cronograma. Determinadas características que o projeto pode precisar demandam tempo e podem inviabilizá-lo, caso isso não seja integrado. Por exemplo, em reformas de casa, para economizar tempo, muitos clientes estão preferindo colocar um determinado tipo de piso que pode ser “colado” em cima daquele já existente. Encontrar esse requisito do projeto tem impacto significativo sobre o cronograma. Por outro lado: Requisitos precisam ser obtidos, analisados e registrados com detalhes suficientes para serem incluídos na linha de base do escopo e medidos uma vez que a execução do projeto se inicie. Requisitos se transformam na fundamentação da EAP. O planejamento do custo, cronograma e da qualidade e às vezes as aquisições são todos construídos com base nestes requisitos (PMI, 2013, p. 112). 011 Em consonância, há que se avaliar que é com base na definição do escopo que se desenvolvem atividades do projeto. Esse processo tem a função de identificar as atividades específicas que devem ser elaboradas para se produzirem os produtos/serviços do projeto, bem como de suas várias entregas no tempo. Com base na decomposição da estrutura analítica do projeto (EAP), é possível construir a lista de atividades ou matriz de atividades (que veremos detalhadamente na próxima aula), que é a parte mais específica e indivisível do projeto. A decomposição dos pacotes de trabalho, que produzem essas atividades, será a base para a construção do cronograma. A EAP organiza e define o escopo total do projeto e representa o trabalho especificado na atual declaração do escopo do projeto aprovada. O trabalho planejado é contido dentro dos componentes de nível mais baixo da EAP, que são chamados de pacotes de trabalho. Um pacote de trabalho pode ser usado para agrupar as atividades onde o trabalho é agendado, tem seu custo estimado, monitorado e controlado. No contexto da EAP, o trabalho se refere a produtos de trabalho ou entregas que são o resultado da atividade e não a atividade propriamente dita (PMI, 2013, p. 126). A fase de validação e controledo escopo normalmente é realizada com a linha de base do escopo e do cronograma, ou seja, o cliente vai validar o escopo dependendo do período em que ele for entregue. Caso isso seja feito fora do prazo, ele pode simplesmente não precisar ou querer mais essa entrega, o que acaba retornando como um prejuízo para o projeto. Nesse contexto, o controle do escopo acaba se interpolando com o controle do tempo do projeto. Em suma, é evidente a relação de interdependência entre a gestão do escopo e do cronograma. Como parte do gerenciamento da integração do projeto, é necessário realizar quase que simultaneamente as ações de planejamento dessas duas áreas supramencionadas. Caso isso não seja feito, é muito provável que se dimensione um escopo que não caiba dentro do tempo previsto, e isso por si só já determina o não sucesso do projeto. TEMA 3 – A GESTÃO DO TEMPO E A INTERFACE COM O CUSTO, A QUALIDADE E A COMUNICAÇÃO DO PROJETO Quando se analisa a interface entre o tempo e o custo, é evidente o impacto direto que um tem sobre o outro. Se voltarmos ao exemplo da Copa do Mundo de 2014, entre outras questões relevantes, é notável que o atraso das 012 obras significou o aumento no valor delas. Como diria um velho ditado inglês: “time is money” (“Tempo é dinheiro”). Até porque o valor de um projeto não está apenas relacionado à quantidade de recursos que ele utiliza, mas também à quantidade de tempo pelo qual esses recursos são utilizados. Estamos falando de aluguel de máquinas e/ou de espaços, valor homem/hora, quantidade de turnos, taxa interna de retorno, entre vários outros. Figura 5 – A interface tempo e custo Fonte: Shutterstock/Nando Machado. Inclusive, em custos, estuda-se a gestão do valor agregado, o GVA (do inglês Earned Value Analysis), que aborda justamente o quanto o não cumprimento das etapas do projeto afeta no custo do projeto, ou seja, o quanto o trabalho até aquele determinado momento agregou para a entrega do projeto em questão, pois qualquer obra, por exemplo, que tinha prazo planejado de entrega de três anos e foi realizado em quatro anos terá um impacto negativo no seu custo real. A própria estimativa de custos de um projeto é um processo que se inicia na gestão do tempo, pois um dos seus processos, que veremos mais detalhadamente nas próximas aulas, é estimar os recursos das atividades, ou seja, um pontapé para saber o quanto o projeto custará. A qualidade é outra área do conhecimento que tem uma correlação muito forte com o tempo. O senso comum nos traz alguns aprendizados sobre isso: “a pressa é inimiga da perfeição”, “quem tem pressa, come cru”. Esses ditos populares reforçam que, para algo ter qualidade, é preciso que haja tempo 013 adequado para realizá-lo. Embora muitos processos tenham se aprimorado para que seja possível fazer algo de alta qualidade em um tempo menor, essa relação ainda é importante. A organização dos Jogos Olímpicos de 2016 deixou isso evidente quando vários atletas tiveram problemas nos quartos que iriam dormir. Como a parte final das obras precisou ser feita às pressas, várias infraestruturas não foram totalmente finalizadas, conforme o planejado, o que afetou sobremaneira a qualidade das entregas e a reclamação dos clientes. Isso é muito comum de se ver em várias áreas. Já na comunicação o tempo em que a mensagem é transmitida é tão importante quanto a própria mensagem. Dependendo do momento em que a informação é transmitida, pode ser que ela não tenha mais nenhuma validade, ou pior, ela pode levar ao erro. Por isso os gerentes de projetos têm utilizado ferramentas de comunicação que tenham atualização em tempo real, evitando retrabalhos, ruídos e problemas. Figura 6 – A importância da comunicação Fonte: Shutterstock/Ozz Design Até porque a confiança na informação é outro fator importante dentro do cronograma de um projeto, pois, se um determinado emissor transmite uma mensagem que não tenha confiabilidade, é provável que o receptor se obrigue a confirmar a informação, gerando retrabalho e maior tempo para executar uma determinada tarefa. 014 TEMA 4 – A GESTÃO DO TEMPO E A INTERFACE COM OS RECURSOS HUMANOS, RISCOS, AQUISIÇÕES E STAKEHOLDERS DO PROJETO O tempo também é fator importante para a área de recursos humanos (RH). Determinados projetos precisam ter o timing correto para contratação, treinamento e ambientação de parte da equipe. Alguns projetos atrasam seu caminho crítico ao não planejar corretamente o momento em que determinada mão de obra seria utilizada. Não ter essa força de trabalho no tempo certo impede que a atividade seja desenvolvida e inevitavelmente leva ao atraso de todo o projeto. Por outro lado, também é comum observar projetos que mantenham colaboradores ociosos por tê-los contratado antes da necessidade de sua participação no projeto, o que acaba também impactando bastante na área de custos. Uma das premissas básicas de qualquer projeto é que ele termine no prazo certo, principalmente quando falamos de lançamentos ou de projetos que tenham uma data específica para serem lançados, como o caso das Olimpíadas ou da Copa do Mundo. Nesse contexto, é sabido que toda premissa gera um risco (Figura 3) e, neste contexto, o fator tempo sempre será um risco que deve ser observado. Alguns projetos, como a cerimônia de um casamento, são planejados durante meses e têm sua execução realizada em horas. Atrasos nesses casos significa questão de vida ou morte para o projeto. Um outro exemplo, no entanto, mais trágico, demonstra bem essa relação. Durante a Segunda Guerra Mundial, os alemães se lançaram em um projeto (Operação Barbarossa) de conquista da Rússia (antiga União Soviética). A ideia era conquistar o território russo e transformar a Alemanha em um vasto Império (III Reich). Hitler e seus generais contavam com uma marcha rápida até a capital soviética, previam uma ‘blitzkrieg’ de algumas semanas. Mas se enganaram” (Rabitz, 2017, p. 1). A bravura do povo russo em resistências importantes, como a da cidade de Stalingrado, fez com que o projeto se arrastasse por meses e entrasse no duro inverno soviético “que pararia as unidades alemãs antes de chegarem a Moscou. Na perspectiva atual, aquele era o prelúdio da derrota de 1945. Três milhões de soldados alemães não retornariam à terra natal” (Rabitz, 2017, p. 1). Os alemães sabiam do perigo do inverno russo, tanto que o projeto da invasão estava sendo planejado desde 1933 e foi lançado durante o verão 015 europeu, em 22 de junho de 1941. Essa é mais uma importante interação entre tempo e risco, que são áreas de conhecimento que andam juntas e precisam ser integradas com vistas ao sucesso do projeto. Figura – Stalingrado, 1942 Fonte: Shutterstock/Everett Historical O tempo de entrega das aquisições também é fator crítico para qualquer projeto. O atraso em adquirir determinado produto para este pode impedir que determinada fase do projeto seja realizada. Ao mesmo tempo, o momento da compra também é importante, se levarmos em conta questões relacionadas à inflação, à taxa de juros e ao câmbio. Todo o gerente de contratos tem em seu radar o melhor momento para negociar determinada aquisição para conseguir melhores taxas, prazos de entrega e de pagamento. Uma das capacidades mais avaliadas de um gerente de projetos é o de negociação. Saber o momento certo para negociar com um stakeholder do projeto é tão crucial quanto o que se quer firmar. É preciso entender e sentir o momento certo de abordar determinados atores. Às vezes, para que haja uma relação de “ganha-ganha”, é preciso esperar, ou, pelo contrário, é preciso atuar antes que a situação conflituosa se desenvolva e dificulte a sua solução ou mediação. FINALIZANDO Esta primeira aula teve como objetivo proporcionar uma abordagem sistêmica a respeito dagestão do tempo nos projetos e evidenciar a importância dessa área para as outras áreas de conhecimento e sobretudo para o próprio projeto e organização que o está planejando. 016 Por meio da gestão de tempo não apenas se estuda o comportamento do cronograma, mas também o impacto que ele tem nos processos diários do projeto. Seja na área do escopo e do custo, formando a tríplice restrição, ou na qualidade e aquisição, o cronograma tem papel central, pois possibilita visualizar como os atrasos podem impactar nas atividades futuras. Por isso, muitas empresas acabam tendo o gerenciamento do cronograma como a mais importante ação de planejamento em projetos, adquirindo ferramentas que possibilitem seu acompanhamento. 017 REFERÊNCIAS FINOCCHIO JR. J. Project model canvas. São Paulo: Elsevier, 2013. MEDEIROS, A. A. O processo de definição do escopo do projeto segundo o PMBOK. Revista de Ciências Gerenciais, v. 15, n. 21, São Paulo, 2011. MONTES, E. Introdução ao gerenciamento de projetos. Escritório de Projetos, 13 set. 2017. Disponível em: <https://escritoriodeprojetos.com.br/restricao- tripla>. Acesso em: 2 fev. 2018. PMI – Project Management Institute. Um guia do conhecimento em gerenciamento de projetos (Guia PMBOK). 5. ed. Project Management Institute, 2013. RABITZ. C. 1941: Alemanha nazista invade a URSS. 2017. Disponível em: <http://www.dw.com/pt-br/1941-alemanha-nazista-invade-a-urss/a-15183132>. Acesso em: 3 fev. 2018. AULA 2 GERENCIAMENTO DE TEMPO EM PROJETOS Prof. Angelo Tadini 02 CONVERSA INICIAL Esta aula pretende demonstrar os processos do gerenciamento do tempo, os principais conceitos envolvidos na gestão do cronograma e como é o plano de gerenciamento do tempo do projeto. No primeiro tópico foi realizado um overview sobre os processos de planejar o gerenciamento do cronograma: definir, sequenciar e estimar recursos e duração das atividades e controlar o cronograma. No segundo tópico, são levantados alguns conceitos importantes e que servem para nivelar os conteúdos sobre a gestão de tempo, pois, para se iniciar o trabalho com o cronograma de um projeto, é preciso conhecer os fatores ambientais e os processos organizacionais da empresa, quais serão os marcos temporais do cronograma, qual é a linha de base do projeto, como isso impactará nos recursos e onde buscar informações especializadas, quando não se sabe um assunto específico do cronograma do projeto. Por fim, é abordado com mais detalhamento o plano de gerenciamento do tempo do projeto, que é onde se estabelecem os critérios e as atividades para o desenvolvimento, monitoramento e controle do cronograma. CONTEXTUALIZANDO Junto da equipe de projetos da diretoria de novos produtos da empresa ABC, você conseguiu finalizar a EAP da loja de equipamentos para cozinha industrial. Seguindo os padrões do PMBOK (PMI, 2013), a EAP, conforme demonstra a Figura 1, as entregas do projeto são: gerenciamento de projetos, contratação de imobiliária, fornecedores, serviços, inauguração e encerramento. Para cada uma dessas entregas foram desenvolvidos diversos pacotes de trabalho. 03 Figura 1 – Modelo EAP Com a EAP finalizada, o momento agora é se ater para o desenvolvimento de um cronograma factível. Você já recebeu informações de que as obras demoram em média 120 dias para ficarem prontas e você tem 180 dias para finalizar todo o projeto – do planejamento até o encerramento, que acontecerá com o evento de inauguração. Com base nos seus conhecimentos de logística e gerenciamento de projetos, como seria a estrutura básica do plano de gerenciamento de tempo da loja de equipamentos para cozinha industrial? TEMA 1 – OS PROCESSOS DA GESTÃO D O TEMPO O gerenciamento do tempo do projeto descreve os processos relativos ao término do projeto em relação ao prazo previsto. Uma vez o escopo do projeto definido e seus principais produtos (deliverables) identificados, as atividades do projeto para o alcance dos objetivos precisam ser definidas, sequenciadas e estimadas em termos de recursos necessários e duração. Conforme já abordado, os pacotes de trabalho são decompostos em componentes menores, chamados de atividades, para fornecer uma base para a estimativa e elaboração do cronograma. Segundo o PMBOK (PMI, 2013), os processos do gerenciamento de tempo podem ser divididos em: • Planejar o gerenciamento do cronograma; 04 • Definir as atividades; • Sequenciar as atividades; • Estimar os recursos das atividades; • Estimar as durações das atividades; • Desenvolver o cronograma, e; • Controlar o cronograma. Figura 2 – Processos do gerenciamento de tempo Fonte: adaptado do PMBOK (PMI, 2013). Conforme pode ser observado na Figura 2, os processos relativos à gestão de tempo concentram-se no grupo de planejamento. Segundo o PMBOK (PMI, 2013), o processo de planejar o gerenciamento de tempo diz respeito ao estabelecimento das políticas, procedimentos, e documentação para planejar, desenvolver, gerenciar, executar e controlar o cronograma do projeto. Já o trabalho de definir as atividades trata da identificação e documentação das tarefas a serem realizadas pela equipe e stakeholders para produzir as entregas do projeto. Depois de definir, é necessário sequenciar as atividades, ou seja, identificar e documentar as inter-relações entre essas atividades do projeto, possibilitando entender como elas interagem entre si. 05 Saiba mais Assista ao documentário "Megaconstruções Aeroporto de Hong Kong", sobre a construção do aeroporto internacional daquela cidade e entenda a importância da definição e sequenciamento das atividades de um projeto: <https://www.youtube.com/watch?v=gWcHj9SvtEc> Uma vez sequenciadas, é importante estimar os recursos das atividades, ou seja, verificar os tipos e quantidades de materiais, equipamentos, pessoas, espaços que serão necessários para desenvolver cada uma das atividades. Além dos recursos que o projeto necessita, é imprescindível estimar a duração das atividades, definindo seu começo e término, verificando assim a quantidade de períodos de trabalho que são necessários para finalizar as atividades específicas. Todo esse trabalho de definir, sequenciar e estimar recursos e duração das atividades serve para se construir/desenvolver o cronograma do projeto. A estratégia é criar um padrão que leve em consideração as particularidades de cada atividade. Durante a fase de gerenciamento do tempo do projeto, o crucial é chegar a um cronograma que seja factível e claro para a equipe e stakeholders, respeitando os marcos temporais previstos em contrato e sujeito às limitações de recursos. O cronograma básico do projeto, juntamente com os cronogramas específicos, consiste em uma representação gráfica temporal dos blocos de trabalho, mostrando como estes se encaixam no esquema total do projeto. Por fim, como o único processo que não é do grupo de planejamento, a ação de controlar o cronograma é o trabalho de monitorar “o andamento das atividades do projeto para a atualização no seu progresso e gerenciamento das mudanças feitas na linha de base do cronograma para realizar o planejado” (PMI, 2013, p. 141). TEMA 2 – CONCEITOS IMPORTANTES DOS PROCESSOS DA GESTÃO DE TEMPO: FATORES AMBIENTAIS, ATIVOS DOS PROCESSOS ORGANIZACIONAIS E OPINIÃO ESPECIALIZADA Como sabido, o Guia PMBOK (PMI, 2013) tem como base didática a divisão do projeto em grupos de processos e áreas de conhecimento. A 06 integração entre esses dois importantes fatores cria os processos de gerenciamento dos projetos. Para que existam esses processos, o Guia trabalha uma lógica de entradas, ferramentas e saídas. As entradas dizem respeito aos insumos necessários para executar aquele determinado processo, as ferramentas são astécnicas que serão utilizadas para transformar os insumos no que se quer, e as saídas são o resultado com o valor agregado que se esperava. Ao todo, segundo Montes (2017), são 47 processos que transformam 257 entradas em 153 saídas (PMI, 2013). No entanto, mais importante que saber a quantidade de entradas, ferramentas e saídas de um processo, é entender o que significa cada um deles e, mais, a funcionalidade destes no projeto. Na Figura 3 é possível ter uma visão geral da gestão do tempo do projeto e entender alguns importantes itens que compõem esse arranjo. 07 Figura 3 – Detalhamento dos processos de gerenciamento de tempo Fonte: PMBOK (PMI, 2013, p. 143). Embora esses itens sejam abordados transversalmente em todas as aulas, no gerenciamento do tempo do projeto alguns conceitos básicos são importantes de serem analisados para uma melhor compreensão dos processos como um todo. Destaca-se: • Fatores ambientais; • Ativos de processos organizacionais; • Opinião especializada; • Linha de base; 08 • Cronograma; • Recursos; • Marcos (milestones). Os fatores ambientais da organização, seguindo a lógica do PMBOK (PMI, 2013), são as forças internas e externas que agem sobre a empresa e, nesse caso, sobre o cronograma do projeto. Segundo Coimbra (2012), compreende na cultura e estrutura organizacional, infraestrutura, recursos existentes, bancos de dados comerciais, condições de mercado e software de gerenciamento de projetos. Já os ativos de processos organizacionais são as informações históricas da organização no que se refere a projetos. Nesse caso, sobre a gestão do cronograma. Uma organização com alta maturidade em gerenciamento de projetos tende a não só relatar sobre os aprendizados em relação a projetos passados, mas também a desenvolver padrões e técnicas de gestão. São ativos de processos organizacionais no gerenciamento de tempo (PMI. 2013, p. 142): • Ferramentas de controle do cronograma; • Políticas, procedimentos e diretrizes existentes, formais ou informais, relacionadas ao controle do cronograma; • Modelos (Templates); • Diretrizes para encerramento do projeto; • Procedimentos de controle das mudanças; e • Procedimentos de controle de riscos, incluindo categorias de riscos, definições de impacto e probabilidade e matriz de probabilidade e impacto. A opinião especializada refere-se às experiências e know how existentes dentro da organização. Toda a organização possui um capital humano e intelectual que deve ser utilizado, especialmente no que tange a assuntos específicos, por exemplo, finanças, marketing, riscos, cultura organizacional, entre outros. A opinião especializada, guiada por informações históricas, fornece discernimento valioso sobre o ambiente e informações de projetos passados similares. A opinião especializada também pode sugerir sobre se seria recomendável combinar métodos e como reconciliar as diferenças entre eles (PMBOK, 2013, p.147). 09 Segundo Montes (2016), é a ferramenta técnica mais utilizada no gerenciamento de projetos e pode ser obtida por meio da opinião (informal) e conhecimento (formal) de grupos ou pessoas que tenham capacidade na área em questão, tais como: • Alta administração; • Stakeholders (Aliados); • Gerentes de projetos que trabalharam em projetos da mesma área; • Especialistas no assunto da área de negócio ou do projeto; • Grupos e consultores do setor. A opinião fornecida baseada em especialização é uma ferramenta poderosa para construir e monitorar o cronograma de um projeto, e todo o gerente de projetos precisa conhecer os canais para acessá-la, e isso faz parte da sua capacidade de networking. TEMA 3 – CONCEITOS IMPORTANTES O PROCESSO DA GESTÃO DE TEMPO: CRONOGRAMA, RECURSOS, MILESTONES E LINHA DE BASE O cronograma básico do projeto, juntamente com os cronogramas específicos, consiste em uma representação gráfica temporal das atividades de trabalho, mostrando como estes se encaixam no esquema total do projeto (PMI, 2013). Quanto mais complexo for o projeto, maior será o detalhamento do cronograma em atividades e a importância deste no gerenciamento como um todo. É impossível falar de projetos sem falar de recursos. No entanto, normalmente há uma confusão quanto ao entendimento sobre o que são os recursos de um projeto, restringindo seu conceito apenas como recursos financeiros. Um recurso é um meio, não um fim, podendo ser de todo o tipo, sendo um canal para se obter algo que se pretende. Fazem parte de um projeto os seguintes recursos (Chiavenato, 2006): • Físicos e materiais: compreende os recursos que entrarão como insumos do projeto, possibilitando a empresa transformar a matéria-prima em produto, por exemplo: espaços para a realização das atividades, instalações, tecnologias, equipamentos etc; 010 • Humanos: é o recurso mais importante do projeto, composto pelas pessoas que participam direta ou indiretamente deste. Normalmente, tem atenção privilegiada do gerente do projeto, que precisa ter a habilidade de integrar as pessoas de forma que o trabalho do projeto aconteça de forma mais harmônica possível; • Financeiro: são os recursos que possuem um alto grau de liquidez, ou seja, possuem grande facilidade para ser convertido em alguma troca, podendo ser transformado rapidamente em um recurso físico, material ou humano. Normalmente, o autorizo do projeto no termo de abertura traz consigo uma disponibilidade financeira para ser utilizada neste projeto. Em suma, é a quantidade de dinheiro que o projeto tem para gastar. Por outro lado, o Microsoft Project, que é um dos softwares de gerenciamento de projetos mais utilizados no Brasil, acompanha uma lógica um pouco diferente e divide recursos em três tipos: trabalho, material e custo. Conforme destaca Kustro (2015), o primeiro diz respeito as pessoas e equipamentos que são utilizados para executar o trabalho daquela atividade, exemplo: colaboradores, consultorias, maquinário e etc. O segundo são definidos como suprimentos ou itens de consumo utilizados no projeto, sendo possível medir o custo em valor versus unidade, exemplo: m3 de um material “X”, número total de ferramentas “Y”, Kg de insumos “Z” e etc. Por fim, o terceiro trata dos recursos que não dependem de quantidade de trabalho ou da duração da tarefa. Geralmente são os gastos totais para realizar uma atividade, tais como: traslados, combustível, hospedagem, alimentação e etc. Figura 5 – Milestones (I) Fonte: 9Woodd/Shutterstock. 011 Figura 6 – Milestones (II) Fonte: Rzarek/Shutterstock. Figura 7 – Milestones (III) Fonte: Jenny Lipets/Shutterstock. Figura 8 – Milestones (IV) Fonte: Nucleartist/Shutterstock. 012 Já os milestones ou marcos são os pontos significativos do projeto. É um ponto de orientação para identificar o quão próximo você está na sua meta. Nas estradas, os pontos de identificação da quilometragem são conhecidos como milestones. No entanto, podem ser identificados em vários aspectos da vida. Nos projetos, os milestones são os eventos cuja ocorrência precisa ser reportada aos stakeholders, de modo a terem clara a visibilidade do seu cumprimento. Os marcos evidenciam momentos importantes de um projeto, podendo estar associados ao final de fases (concepção, elaboração, construção, transição) ou às entregas (primeiro andar concluído, segundo andar concluído, prédio concluído). Na representação do cronograma, é sempre importante enaltecê-lo, seja por meio de um ícone, um negrito ou um sublinhado. Por fim, um conceito bastante importante para a gestão do cronograma do projeto é o de linha de base (baseline em inglês) que se trata do marco zero do projeto. Conforme salienta Montes (2017), a linha de base serve como um retrato retirado no momento da aprovação do que foi planejado, congelandoas datas de início e término de todas as atividades do cronograma. Posteriormente será utilizada para avaliar a evolução do projeto, monitorando o prazo por meio da comparação do planejado com o realizado. Pode acontecer de um projeto ter mais de uma linha de base. Isso ocorre quando há uma repactuação dos prazos de entrega, que deve ser aprovado pelo patrocinador e principais stakeholders e comunicado para toda a equipe do projeto. A linha de base do cronograma também serve para que o gerente do projeto possa ter ideia do impacto de eventuais solicitações de mudanças, avaliando se é possível ou não atender a tal demanda. Na gestão de tempo ainda se fala em linha de base do escopo. Diferentemente da linha de tempo, esta linha de base refere-se à declaração do escopo do projeto, EAP e Dicionário da EAP. TEMA 4 – PLANO DE GERENCIAMENTO DO TEMPO DO PROJETO Conforme salienta o PMBOK (PMI, 2013, p. 148), o plano de gerenciamento do cronograma define os processos necessários para que o término do projeto seja realizado dentro do prazo determinado e “pode ser formal 013 ou informal, altamente detalhado ou generalizado, baseado nas necessidades do projeto e inclui os limites de controle apropriados”. São as políticas adotadas pelo projeto para garantir que o seu cronograma será planejado, executado, controlado e finalizado. Ainda de acordo com o PMBOK, é função deste plano estabelecer: • Qual modelo de cronograma será utilizado; • O nível de exatidão das estimativas de tempo e recursos; • A unidade de medição a ser utilizada (horas, dias – úteis ou diretos, semanas) na medida de prazos e também de quantidade (metros, litros, toneladas, quilômetros etc.); • A atualização do cronograma, ou seja, qual será a periodicidade em que se avaliará o andamento das atividades; • Limites de controle, para indicar uma quantidade de variação combinada a ser permitida antes que alguma ação seja necessária; • Regras para medição de desempenho, como as regras estabelecidas no Gerenciamento do valor agregado (GVA); • Formato de relatórios; • Descrições dos processos, entre outros. Os planos de gerenciamento têm o objetivo de descrever as ações que devem ser tomadas de acordo com o andamento do projeto, definindo as políticas e práticas que toda a equipe deve saber. No caso do plano do cronograma, pode ser interessante detalhar a priorização das mudanças do prazo, definindo critérios, por exemplo (KOLB, 2014, p.01): Prioridade 0 (Zero) – Atrasos de prioridade zero requerem uma ação imediata por parte do gerente do projeto, que deve acionar imediatamente o patrocinador para discussão e análise, uma vez que é um problema urgente, de alto impacto no projeto e com soluções inicialmente não identificadas. Prioridade 1 (Um) – Atrasos de prioridade um requerem uma ação imediata por parte do gerente do projeto, independente das reuniões de controle previstas devido à urgência, acionando as medidas de recuperação de prazos disponíveis, tais como o Fast Tracking, o Crashing, o trabalho em horas-extras, banco de horas e mutirão. Os custos que por ventura decorrerem dessas ações deverá ser alocado nas reservas gerenciais. Prioridade 2 (Dois) – Atrasos de prioridade dois requerem um replanejamento das atividades futuras, uma vez que o projeto ainda não completou 25% de conclusão. Prioridade 3 (Três) – Atrasos de prioridade três são atrasos pequenos se comparados com a duração do projeto e podem ser remanejados sem necessariamente ser preciso planejar novamente ou acionar algum tipo de mecanismo de recuperação. 014 Ou ainda, definir qual software será utilizado para o gerenciamento do cronograma do projeto, se haverá a definição de uma margem de erro para os prazos (normalmente são 10%), qual será a alocação financeira para o gerenciamento de tempo, quem será o responsável por atualizar o cronograma, entre outros. De acordo com a Figura 3, fazem parte das entradas para a construção do plano de gerenciamento do cronograma: plano de gerenciamento do projeto, termo de abertura do projeto, fatores ambientais da empresa e ativos de processos organizacionais. FINALIZANDO O objetivo desta aula foi mostrar como se inicia o planejamento do tempo para um projeto. Embora o plano do cronograma esteja com o primeiro processo (Figura 2), ele só se torna um produto/saída depois que todos os outros procedimentos de tempo (definir as atividades, sequenciar as atividades, estimar os recursos das atividades, estimar as durações das atividades, desenvolver o cronograma, e; controlar o cronograma) já tenham sido finalizados. Mais do que isso, conforme já salientado em aulas passadas, a gestão de tempo está totalmente comprometida com as outras nove áreas de conhecimento, ou seja, todos os planos precisam ser criados concomitantemente para que eles sejam efetivos. A elaboração do plano de gerenciamento de tempo fica sob a responsabilidade do gerente do projeto, por exigir uma visão sistêmica do negócio que se está atuando e multidisciplinar das áreas se serão impactadas ou impactarão no cronograma. Exige-se, nesse caso, grande técnica e habilidade para fazer com que esse planejamento seja utilizado e atualizado. 015 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Recursos humanos: o capital humano das organizações. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2006. COIMBRA, P. M. P. Ferramentas e técnicas PMBOK – fatores ambientais da empresa. Projetos e TI, 27 mar. 2012. Disponível em: <https://projetoseti.com.br/ferramentas-e-tecnicas-pmbok-fatores-ambientais-da- empresa>. Acesso em: 4 fev. 2018. KUSTRO, L. Tipos de recursos do projeto no Project 2010. MC Info, 2016. Disponível em: <http://bloginformaticamicrocamp.com.br/novidades/tipos-de- recursos-projeto-no-project-2010>. Acesso em: 4 fev. 2018. MONTES, E. Guia de gerenciamento de projeto. Escritório de Projetos, 22 jul. 2017. Disponível em: <https://escritoriodeprojetos.com.br/entradas-e-saidas-dos- processos-de-gerenciamento-de-projeto>. Acesso em: 4 fev. 2018. PMI – Project Management Institute. Um guia do conhecimento em gerenciamento de projetos (Guia PMBOK). 5. ed. Project Management Institute, 2013. VARGAS, R. Manual prático do plano de projeto – utilizando o PMBOK guide. 5. ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2014. https://projetoseti.com.br/ferramentas-e-tecnicas-pmbok-fatores-ambientais-da-empresa/ https://projetoseti.com.br/ferramentas-e-tecnicas-pmbok-fatores-ambientais-da-empresa/ https://escritoriodeprojetos.com.br/entradas-e-saidas-dos-processos-de-gerenciamento-de-projeto https://escritoriodeprojetos.com.br/entradas-e-saidas-dos-processos-de-gerenciamento-de-projeto AULA 3 GERENCIAMENTO DE TEMPO EM PROJETOS Prof. Angelo Tadini 02 CONVERSA INICIAL Nesta aula será possível identificar os primeiros e importantes passos para a operacionalização do plano de gerenciamento do projeto. Em primeiro lugar, é importante entender o caminho para que uma estratégia empresarial se transforme em uma atividade. Com base neste entendimento, é necessário compreender como os pacotes de trabalho se transformam em atividades e quais são as características e necessidades para que as atividades sejam formatadas. Destaca-se ainda a criação dos marcos do projeto (milestones) e sua utilização durante a sua execução, bem como a identificação dos tipos de dependências que há entre as atividades e as consequências para o fluxo de trabalho de todo projeto. CONTEXTUALIZANDO No início da estruturação do plano de gerenciamento de tempo do projeto um dos documentos/ferramentas mais importantes é a definição de cada uma das atividades do projeto. Para que isso seja possível, você sabe que precisará da EAP do projeto. Lá você definiu que o projeto da loja de equipamentos para cozinha industrial terá seis(produtos) entregáveis: gerenciamento de projeto, contratação da imobiliária, fornecedores, inauguração e encerramento. Esses seis entregáveis geraram dezoito pacotes de trabalho que são os seguintes: escopo, cronograma, custo, riscos e acompanhamento e controle para o gerenciamento do projeto; escolha do imóvel e contrato de locação para a contratação da imobiliária; contratação de empreiteira, aquisição de equipamentos e aquisição de mobiliário para o produto “fornecedores”; recursos humanos e decoração para os serviços; marketing, seleção de convidados e empresa de eventos corporativos para a inauguração, e; prestação de contas, finalização do projeto e reunião de boas práticas para o encerramento. 03 Diante deste contexto, foi requisitado que você estruturasse as atividades do projeto, com os marcos bem definidos, precedências estabelecidas, datas das tarefas, entre outros. Lembrando das aulas de gerenciamento de projetos, você saca um template de uma lista de atividades e começa a redigir. Como ficaria esse documento para esse projeto? Quais são as estruturas que compõem essa lista? Qual será o nível de detalhamento que você fará? TEMA 1 – DO PORTFÓLIO ÀS ATIVIDADES Quando se pensa em uma organização voltada para planejamento e consequentemente para projetos, não é difícil imaginar que essa empresa faz planejamento estratégico. Para se ter uma boa gestão de projetos, é importante que se tenha anteriormente uma boa gestão estratégica desta organização, haja vista que, nos últimos anos, é perceptível a busca das organizações para se adequarem às exigências de um processo estratégico, na perspectiva de obterem vantagens e benefícios diferenciais no difícil processo de concorrência que tem se estabelecido em diversas áreas. Invariavelmente são os projetos, catapultados por um planejamento estratégico efetivo e amplificados por inovações técnicas, os protagonistas desse processo. A estratégia então tem como objetivo definir os objetivos de longo prazo de uma organização, dando subsídios para a formatação de projetos que vão definir os objetivos específicos de curto e médio prazo. Uma das grandes vantagens, traduzidas em fator de alta competitividade para as organizações é a capacidade de desenvolver o planejamento estratégico e aplicá-lo em projetos. Neste contexto, não é difícil observarmos grandes organizações estruturadas em portfólios, programas e projetos. É um processo lógico de decomposição das ações em prol da estratégia da empresa. Segundo o PMBOK (PMI, 2013, p. 9): Um portfólio refere-se a projetos, programas, subportfólios e operações gerenciados como um grupo para atingir objetivos estratégicos. Os projetos ou programas do portfólio podem não ser necessariamente interdependentes ou diretamente relacionados. Por exemplo, uma empresa de infraestrutura que tenha o objetivo estratégico de "maximizar o retorno dos seus investimentos" pode compor um portfólio que inclua uma mescla de projetos em petróleo e gás, energia, água, estradas, ferrovias e aeroportos. A partir desta mescla, a empresa 04 poderá decidir gerenciar projetos relacionados como um programa. Todos os projetos de energia podem ser agrupados como um programa de energia. Da mesma forma, todos os projetos de água podem ser agrupados como um programa de água. Assim, o programa de energia e o programa de água tornam-se componentes integrais do portfólio empresarial da empresa de infraestrutura. Em outras palavras, o portfólio é um conjunto de programas, projetos e processos que deliberadamente estão interligados para atingir a estratégia de uma organização. Figura 1 – Portfólio Conforme se pode observar na Figura 1, o portfólio pode se desmembrar em vários programas (e/ou projetos). Um programa é definido como um grupo de projetos “relacionados, gerenciados de modo coordenado visando à obtenção de benefícios que não estariam disponíveis se eles fossem gerenciados individualmente” (PMI, 2013, p.09). Os projetos dentro de um programa são relacionados entre si por meio do resultado comum ou da sua capacidade coletiva. Com base nisso, o filme já é conhecido, ou seja, os projetos se subdvidem em entregas, que se decompõe em pacotes de trabalho, que, por sua vez, podem se decompor em outros pacotes de trabalho ou em atividades. 05 Figura 2 – Definir as atividades Fonte: Adaptado de PMI, 2013. A partir do momento em que os pacotes de trabalho são divididos em atividades, tem-se o segundo processo do gerenciamento de tempo em projetos (Figura 2). Nesta etapa, a equipe do projeto tem como responsabilidade listar todas as atividades quem farão a composição de todo o projeto. TEMA 2 – LISTANDO AS ATIVIDADES Em um projeto, as atividades são as unidades indivisíveis para sua execução e planejamento. Nascem com base na estrutura analítica do projeto (EAP) na fase de planejamento do escopo, uma vez que são uma decomposição dos pacotes de trabalho. Aqui vale lembrar que a decomposição é uma ferramenta utilizada para “dividir e subdividir o escopo do projeto e suas entregas em partes menores e mais fáceis de gerenciar. Estas atividades representam o esforço necessário para completar um pacote de trabalho” (PMI, 2013, p. 151). Conforme aborda o PMBOK (PMI, 2013), as atividades consistem em um alicerce para desenvolver o cronograma, fazer estimativas e para executar e monitorar todo o trabalho da equipe do projeto. 06 Figura 3 – Pacotes de trabalho versus atividades Na Figura 3 é possível observar como essa decomposição acontece. O Projeto 1 é formado por 3 entregas: 1.1, 1.2, 1.3. Cada uma dessas entregas, que é o produto final que o cliente quer receber, é formada por pacotes de trabalho (PT). No caso da Entrega 1.1 tem-se dois pacotes: 1.1.1 e 1.1.2. As atividades vão se decompor exatamente dos pacotes de trabalho. Na Figura 3, o PT 1.1.2 tem 3 atividades a 1.1.2.1, 1.1.2.2 e 1.1.2.3. Para que o PT supramencionada seja realizado, será necessário que essas atividades sejam desenvolvidas. Definir as atividades é o processo de identificação e documentação das ações específicas a serem realizadas para produzir as entregas do projeto. O principal benefício deste processo é a divisão dos pacotes de trabalho em atividades que fornecem uma base para estimar, programar, executar, monitorar e controlar os trabalhos do projeto (PMI, 2013, p. 149). Ressalta-se aqui que decompor pacotes de trabalho em atividades é um trabalho de transformar “o que se quer” em “como se quer”, pois, à medida que as atividades do projeto vão surgindo, criamos uma metodologia de trabalho, indicamos como o projeto acontecerá nas suas mínimas partes. Para chegar até aqui, o objeto de trabalho já deve ser bastante conhecido, bem como os resultados esperados pelo projeto. Neste momento sempre aparece uma pergunta: até que ponto devo detalhar uma atividade? A resposta pode parecer simples: “o máximo que eu puder”. No entanto, como lembra Barcaui et al. (2010), quanto mais detalhamos 07 as atividades, maior o trabalho de planejamento e controle do projeto, o que torna necessário uma equipe grande e uma ótima matriz de comunicação para lidar com o extenso número de atividades. Essa decisão cabe ao gerente de projetos, que deve avaliar desde o tamanho do projeto versus o da empresa, a maturidade em gerenciamento de projetos desta quantidade de orçamento etc. Segundo Barcaui et al. (2010) para detalhar as atividades, algumas premissas podem ser levadas em conta, tais como: o tempo de duração da atividade; o controle sobre o custo do pacote de trabalho; as interdependências entre as atividades; o tipo de recurso que será disponibilizado; a duração das atividades não deve extrapolar o período de reporte colocado no plano de comunicação; a duração das atividadesdeve estar entre 1% e 10% do tempo total do projeto. De qualquer forma, para que seja possível fazer a decomposição em atividades, segundo o PMBOK (PMI, 2013), é preciso estar com o plano de gerenciamento do cronograma em mãos, pois é ele que define como serão desenvolvidas, executadas e controladas as atividades do projeto. Além disso, como se pode notar, é importante ter também a linha de base do escopo, com a declaração do escopo, a EAP (principalmente) e quando necessário o dicionário da EAP. Saiba mais O planejamento em ondas sucessivas é uma técnica de planejamento iterativo em que o trabalho a ser executado a curto prazo é planejado em detalhe, ao passo que o trabalho no futuro é planejado em um nível mais alto. É uma forma de elaboração progressiva. Portanto, um trabalho pode existir em vários níveis de detalhamento dependendo de onde está no ciclo de vida do projeto. Durante o planejamento estratégico inicial, quando a informação está menos definida, os pacotes de trabalho podem ser decompostos até o nível conhecido de detalhe. Conforme os eventos que estão para acontecer são mais conhecidos, os pacotes podem ser decompostos em atividades (PMI, 2013, p. 152). TEMA 3 – MATRIZ DE ATIVIDADES Uma vez tendo todas as atividades listadas, definidas, tem-se o que podemos chamar de matriz de atividades. Essa lista deve abranger todas as atividades do cronograma necessárias no projeto. Conforme demonstra a Figura 2, a lista deve conter ainda o identificador de atividades e uma descrição do escopo de trabalho de cada atividade, que deve ser detalhada o de forma que garanta que a equipe do projeto entenda qual ação/tarefa precisa ser realizada. 08 É importante também que cada atividade tenha um título próprio e que descreva o seu lugar no cronograma. A lista de atividades pode ser feita em formato de check-list ou já dentro de uma matriz que englobe outras importantes informações que são os atributos das atividades. Figura 4 – Matriz de atividades No exemplo trazido pela Figura 4, cada uma das quatro atividades listadas, que aborda a questão da mão de obra do projeto, possui uma descrição sucinta, porém esclarecedora sobre o trabalho que precisa ser feito, bem como um identificador, que é de ordem crescente. Segundo o PMBOK (PMI, 2013), a diferença entre milestones e atividades se dá na medida em que a última possui duração, para que o trabalho previsto na sua execução seja completado. Além disso, as atividades ainda possuem outros atributos, como recursos e custos associados à sua implementação. Ainda de acordo com o PMBOK (PMI, 2013), os atributos relacionados à atividade têm como objetivo expandir o conhecimento desta sobre o projeto, identificando os múltiplos componentes que podem ser associados a ela, por exemplo, quem é o responsável por cada atividade, quais recursos elas vão precisar, qual será o custo, se há precedência entre as atividades, entre outros. Tudo que for importante para o projeto e passível de ser definido por atividade pode ser descrito como atributo, cujo número varia de acordo com a área de aplicação. Faz-se necessário ressaltar que a matriz de atividades é desenvolvida progressivamente, pois, conforme o projeto vai sendo executado, os atributos do projeto podem ir aumentando. No início eles devem incluir: identificador da atividade (ID), a partir da identificação dos pacotes de trabalho na EAP, data prevista de início, término e também da duração; 09 nome da atividade, com uma descrição sucinta, clara e objetiva, e; código das atividades predecessoras TEMA 4 – MARCOS NA MATRIZ DE ATIVIDADES Além disso, como demonstra a Figura 5, na matriz de atividades também são elencados os marcos do projeto, ou milestones, que são semelhantes às atividades normais do cronograma, com a mesma estrutura e atributos, porém com duração zero, pois representam um momento no tempo e não um trabalho em si (PMI, 2013). Figura 5 – Marcos do projeto Nesse contexto, a matriz de atividades cria também uma lista de marcos que identifica todos os marcos do projeto e indica se eles são obrigatórios, tais como os exigidos por contrato, ou opcionais, como os baseados em informação histórica. Eles podem ser de vários tipos (Barcui et al., 2010, p. 28): Entrega do produto ou serviço resultante, sendo, portanto, a data final do projeto;entrega dos pacotes de trabalho da EAP, sendo a data de término destes; reuniões, apresentações, eventos de importância no projeto que mereçam uma representação e acompanhamento da sua data no cronograma;eventos pontuais, cuja duração seja tão pequena que não compense uma representação temporal no cronograma, mas cujo registro pontual seja importante, tais como recebimentos de relatórios e validação das entregas do projeto; datas importantes ou restrições do projeto, como fechamento de contrato e datas preestabelecidas de paradas de manutenção; interface com eventos externos ao projeto, como recebimentos de material, equipamentos etc. Montes (2017) salienta que o gerente de projeto e sua equipe devem tratar a lista de milestones como prioridade para garantir que eles ocorram nas datas previstas e não impactem no sucesso do projeto. Atrasar a entrega dos marcos do projeto é atrasar a entrega do projeto em si. Ainda segundo Montes (2017, p. 1), “quando o projeto é terceirizado integral ou parcialmente, é uma boa prática atrelar em contrato a lista de marcos de responsabilidade do terceiro com seus pagamentos”. Outra boa prática é 010 incluir o marco no cronograma usando o verbo no particípio passado para que todos possam encontrar facilmente os marcos. Por exemplo: “mão de obra capacitada”. TEMA 5 – INTERFACE ENTRE AS ATIVIDADES Um dos jargões mais usados em projetos é aquele que diz que “todo o projeto possui começo, meio e fim”. Isso serve para evidenciar que não se deve iniciar um projeto sem ter claro quais são as atividades do seu encerramento, principalmente. No entanto, tem implícita uma questão importante, que é a inter- relação entre as atividades. Figura 6 – Relações entre as atividades No exemplo que temos utilizado durante a aula (Figura 6), é possível identificar essa relação entre as atividades. A atividade “Selecionar mão de obra”, que inicia todo o processo, possui três dias de duração e não tem relação de precedência com nenhuma outra atividade. Isso significa que ela não depende de nenhuma outra atividade para acontecer. Por outro lado, se observarmos a atividade seguinte (1.1.2.2), ela tem15 dias de duração e possui a precedência da atividade anterior, uma vez que, para contratar a mão de obra, é preciso ter feito a sua seleção anteriormente. Já atividade comprar equipamentos, que possui 31 dias de duração, não possui relação de dependência com nenhuma outra atividade. Ao contrário, a última atividade do exemplo é dependente das duas primeiras atividades. Antes de abordarmos sobre os tipos de dependência que veremos na próxima aula, é preciso entender o caráter dessas dependências, ou seja, o que as determina. Por exemplo, se observarmos, na Figura 6, o item 1.1.2.2, veremos que ele tem um caráter de dependência obrigatória com o item 1.1.2.1, uma vez que não é possível contratar a mão de obra para um projeto sem que se tenha terminado de fazer toda a seleção dessas pessoas. 011 Segundo o PMBOK (PMI, 2013), há quatro tipos de dependências: obrigatórias ou arbitradas e internas ou externas. Elas devem ser associadas entre si, utilizando-se uma dependência de cada tipo, formando assim uma combinação possível de quatro tipos: dependências externas obrigatórias, dependências internas obrigatórias, dependências externas arbitradas, ou dependências internas arbitradas: As dependências obrigatórias são as exigidas legal ou contratualmente, ou inerentes à natureza do trabalho. Asdependências obrigatórias frequentemente envolvem limitações físicas, tais como num projeto de construção onde é impossível erguer a superestrutura antes que a fundação tenha sido concluída, ou num projeto de componentes eletrônicos, onde um protótipo tem que ser construído antes de ser testado. As dependências obrigatórias são também às vezes chamadas de dependências “hard logic” ou “hard dependencies”. As dependências técnicas podem não ser obrigatórias. A equipe do projeto define que dependências são obrigatórias durante o processo de sequenciamento das atividades. As dependências obrigatórias não devem ser confundidas com a designação de restrições de cronograma na ferramenta de cronograma (PMI, 2013, p.158). As dependências arbitradas, como o próprio nome diz são aquelas em que há uma lógica preferida por algum grupo ou pessoa. Normalmente, tem como fundamento a experiência e/ou algum benchmarking. Mesmo que haja outras sequências oportunas, a definição se dá por uma outra lógica já testada ou consentida. Por exemplo, quando o gerente do projeto antecipa o início de uma atividade por saber que a mesma terá início durante algum período anual conturbado na organização (final de ano). As dependências arbitradas devem ser totalmente documentadas já que podem criar valores de folga total arbitrários e posteriormente limitar as opções de agendamento. Quando técnicas de paralelismo são aplicadas, essas dependências arbitradas devem ser revisadas e consideradas para modificação ou remoção. A equipe do projeto define que dependências são arbitradas durante o processo de sequenciamento das atividades (PMI, 2013, p.158). Ainda segundo o PMBOK, as dependências externas estão relacionadas a eventos que não são pertencentes ao projeto, mas de alguma forma impactam na execução do projeto. Por exemplo, quando uma atividade de aquisição precisa ser antecipada por um receio de uma variação cambial. [...] as dependências internas envolvem uma relação de precedência entre as atividades do projeto e estão geralmente sob o controle da equipe. Por exemplo, quando um técnico do projeto não pode instalar um determinado software enquanto um outro técnico não finaliza a montagem do hardware, o que no caso seria uma dependência obrigatória interna. (PMI, 2013, p.158). FINALIZANDO A lista de atividades em um projeto é sempre uma conquista. Mostra que a organização e a equipe do projeto foram capazes de percorrer um longo percurso entre a estratégia organizacional e a tarefa, indivisível. 012 Mais do que isso, a partir do momento em que um projeto consegue listar suas atividades, ele está pronto para: conhecer a sua duração, comprometer individualmente seus stakeholders e membros da sua equipe, definir o seu custo global e unitário, além do nível de complexidade que ele possui. O desenvolvimento das atividades do projeto é imprescindível para que seja possível chegar a um grau hierárquico de execução. A definição das atividades e a identificação do tipo de dependência que há entre elas determinam a forma como iremos sequenciar essas atividades, tópico da próxima aula. 013 REFERÊNCIAS BARCAUI, A. B. et al. Gerenciamento do tempo em projetos. 3. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2010. MONTES, E. Lista dos marcos. Escritório de projetos, 2017. Disponível em: <https://escritoriodeprojetos.com.br/lista-dos-marcos>. Acesso em: 4 fev. 2018. PMI – Project Management Institute. Um guia do conhecimento em gerenciamento de projetos (Guia PMBOK). 5. ed. Project Management Institute, 2013. AULA 4 GERENCIAMENTO DE TEMPO EM PROJETOS Prof. Angelo Tadini 02 CONVERSA INICIAL Dando continuidade ao processo de montagem do cronograma do projeto, depois de ter listado todas as atividades e definido o tipo de dependência entre elas, é hora de estruturar uma forma lógica de executá-las, ou seja, sequenciá- las. Sem o processo de sequenciamento é impossível definir com clareza as datas em que as atividades irão acontecer. Por isso, nesta aula abordaremos como funciona o processo de sequenciamento, com foco nas inter-relações entre as diferentes atividades de diferentes pacotes de trabalho de diferentes entregas do projeto. Neste momento, cria-se a teia ou cadeia de ações do projeto, hierarquizando as atividades, sendo, desse modo, possível visualizar o impacto que as ações dos diferentes stakeholders têm no projeto, sobretudo no seu cronograma. Por fim, destaca-se a incorporação de mais uma ferramenta de gerenciamento de projeto que são os diagramas de sequenciamento. Por meio destes é possível desenhar as precedências entre as atividades, definindo os tipos de dependências existentes e criando condições para se ter um cronograma mais fidedigno à realidade. CONTEXTUALIZANDO A reunião para listar as atividades do projeto e iniciar o processo de montagem do cronograma do projeto foi um sucesso. Você e sua equipe foram capazes de fazer um arcabouço geral de todas as tarefas, as quais foram as seguintes: Figura 1 – Lista de atividades Id Loja de Equipamentos para Cozinha Industrial 1. Gerenciamento do projeto 1.1 Escopo 1.1.1 Estruturar Plano de Gerenciamento do Escopo (EAP) 1.2 Cronograma 1.2.1 Estruturar Plano de Gerenciamento do Cronograma 1.3 Custo 1.3.1 Estruturar Plano de Gerenciamento de Custo 1.4 Riscos 1.4.1 Estruturar Plano de Gerenciamento de Riscos 1.5 Acompanhamento e controle 1.5.1 Estruturar Plano de Acompanhamento e Controle do Projeto 03 1.5.2 Elaborar mensalmente relatório de Acompanhamento e Controle 2. Contratação de Imobiliária 2.1 Escolha do imóvel 2.1.1 Visitar os imóveis 2.1.2 Analisar os imóveis 2.1.3 Escolher o imóvel 2.2 Contrato de locação 2.2.1 Análise jurídica do contrato 2.2.2 Assinar contrato 3 Fornecedores 3.1 Contratação de empreiteira 3.1.1 Pedir cotação 3.1.2 Contratar empreiteira 3.2 Aquisição de equipamentos 3.2.1 Pedir cotações 3.2.2 Comprar equipamentos 3.3 Aquisição de mobiliário para o produto 3.3.1 Pedir cotações 3.3.2 Comprar mobiliários 4 Serviços 4.1 Recursos Humanos 4.1.1 Recrutar 4.1.2 Selecionar 4.1.3 Treinar 4.2 Decoração 4.2.1 Pedir cotação 4.2.2 Contratar decorador 5 Inauguração 5.1 Marketing 5.1.1 Desenvolver mídias de promoção 5.2 Seleção de convidados 5.2.1 Lista convidados 5.2.2 Enviar convites 5.2.3 Confirmar convites 5.3 Empresa de eventos corporativos 5.3.1 Pedir cotação 5.3.2 Contratar Empresa 5.3.3 Definir Plano de Trabalho da empresa 6 Encerramento 6.1 Prestação de contas 6.1.1 Pagar todos os fornecedores do Projeto 6.2 Finalização do projeto 6.1.2 Fazer relatório final do Projeto 6.3 Reunião de boas práticas 6.3.1 Fazer reunião de boas práticas 6.3.2 Incorporar as boas práticas no relatório final Você sabe que, após o processo de escrever todas as atividades do projeto, é preciso sequenciá-las. Você ficou responsável por sequenciar as atividades da “inauguração”. Como você faria esse sequenciamento? Quais seriam as relações de dependência entre as atividades dessa entrega? 04 TEMA 1 – SEQUENCIAMENTO DAS ATIVIDADES Segundo o PMBOK (PMI, 2013), o sequenciamento das atividades, que é o terceiro processo dentro do gerenciamento do cronograma do projeto (Figura 01), tem como princípio identificar e documentar os relacionamentos entre as atividades do projeto. Figura 2 – Sequenciamento das atividades . Fonte: Adaptado de PMI, 2013. Pensando no projeto como um esforço temporário para se atingir um objetivo específico por meio de um conjunto único de tarefas inter-relacionadas e da utilização eficaz de recursos, o objetivo de sequenciar as atividades é definir um trâmite lógico “do trabalho a fim de obter o maisalto nível de eficiência em face de todas as restrições do projeto” (PMI, 2013, p.153). O esforço aqui é entender como as atividades originárias de diferentes pacotes de trabalho do projeto se inter-relacionam durante a execução e assim propor uma lógica de acontecimentos primando para que seja utilizado aquele sequenciamento com o menor tempo possível, obtendo a melhor efetividade de acordo com as peculiaridades e restrições de cada projeto, uma vez que essas atividades estão conectadas entre si. Carvalho e Rabechini Jr. (2011) lembram da polêmica que pode ser essa fase do planejamento do projeto. Assim como no processo de decomposição 05 (transformar pacotes de trabalho em atividades), definir as relações de dependência/precedência entre as atividades pode gerar bastante discussão. Para ilustrar que tipo de debate pode surgir, pode-se comparar um currículo de engenharia de uma década atrás com os atuais. Nos currículos antigos era comum que as disciplinas de um semestre fossem consideradas pré-requisitos para as dos semestres seguintes. Consequentemente, um aluno que ficasse em recuperação em uma disciplina teria muita dificuldade para se formar no período regular. Ao longo das reformas curriculares, vários dos pré-requisitos foram questionados, e depois de exaustivos debates entre os professores, muitos foram retirados. Atualmente, os currículos apresentam poucas relações de dependência mandatórias, o que permitiu que vários cursos fossem feitos em paralelo (Carvalho; Rabechini Jr., 2011. p.110). Conforme abordam Avellar e Duarte (Sequenciamento..., 2018), o sequenciamento da atividade serve para que o gerente do projeto construa uma conformidade sobre as entregas do projeto que precisam ser realizados e em que ordem. Isso acaba hierarquizando as atividades, definindo aquelas mais importantes, as que podem ser realizadas em paralelo, as que podem ser remanejáveis ou as que sejam dependentes de fatores externos. Permite ainda que os stakeholders do projeto tenham uma visão sistêmica do trabalho que será realizado. O PMI (2013) enfatiza que, para que haja o sequenciamento das atividades, é necessário que o plano de gerenciamento do cronograma, a matriz de atividades, os atributos das atividades, a lista de marcos, e as especificações do escopo sejam parte integrante do planejamento. O PMBOK (PMI, 2013, p. 154) lembra ainda que, durante o sequenciamento, “todas as atividades e marcos, com exceção do primeiro e do último, devem ser conectados a pelo menos um predecessor”. Figura 3 – Precedência entre as atividades Conforme demonstra a Figura 3, a atividade “selecionar a mão de obra”, em tese, pode não possuir predecessor por ser a primeira desse pacote de trabalho. No entanto, ela pode estar relacionada a outro pacote de trabalho e por isso exigir a precedência de uma atividade daquele. 06 Normalmente toda atividade sucessora, se não identificada diferente, possui automaticamente a precedência de sua atividade antecessora. Por exemplo, a atividade “contratar a mão de obra” precisa que “selecionar mão de obra” já tenha acontecido para que ela possa ser executada. É o que se denomina de método do diagrama de precedência (MDP), do inglês Preceeding Diagramming Method (PDM). TEMA 2 – MÉTODO DO DIAGRAMA DE PRECEDÊNCIA Segundo o PMBOK (PMI, 2013), as relações de precedência entre as atividades podem ser de quatro tipos: término para início (TI); término para término (TT); início para início (II); início para término (IT). A relação de término para início (TI) é aquela em que uma atividade sucessora não pode começar até que uma atividade predecessora tenha terminado. Exemplo: para contratar a mão de obra (sucessora), é preciso anteriormente fazer a seleção da mão de obra (antecessora), conforme demonstra os itens 1.1.2.2 e 1.1.2.1, respectivamente, na Figura 3. É um relacionamento lógico e o mais comum entre as dependências das atividades. A relação término para término é aquela em que para uma atividade sucessora terminar a sua atividade predecessora também precisa terminar. Exemplo: para se conseguir treinar toda a mão de obra (sucessora) será necessário ter contratado toda a mão de obra (predecessora), conforme demonstra os itens 1.1.2.4 e 1.1.2.2, respectivamente, na Figura 3. A relação início para início é aquela em que, para a atividade sucessora iniciar, é preciso que a atividade predecessora também tenha iniciado. Para iniciar o treinamento da mão de obra, é preciso que ao menos que as compras dos equipamentos tenham iniciado, uma vez que esses serão utilizados durante os treinamentos, conforme demonstram os itens 1.1.2.4 e 1.1.2.3. Por fim a relação IT é aquela em que a atividade sucessora não pode ser encerrada até que uma atividade predecessora tenha sido iniciada. Exemplo: “O primeiro turno da guarda de segurança (sucessora) não pode terminar até que o segundo turno da guarda de segurança (predecessora) comece” (PMI, 2013. p. 156). Essa mesma lógica acontece com todas as classes que fazem plantões (Ex.: médicos, enfermeiros etc.). Saiba mais 07 Uma atividade predecessora é uma atividade que logicamente vem antes de uma atividade dependente em um cronograma. Uma atividade sucessora é uma atividade dependente que logicamente vem depois de outra atividade em um cronograma (PMI, 2013, p.156). Conforme já abordado, a relação TI é a mais utilizada pelos gerentes de projetos quando se fala em precedência. Por outro lado, a relação inversa (IT) raramente é utilizada, mas foi incluída aqui para apresentar uma lista completa dos tipos de relação do método do diagrama de precedência. Segundo o PMBOK (PMI, 2013, p.156) e conforme pode ser observado na Figura 4, O método do diagrama de precedência (MDP) é uma técnica usada para construir um modelo de cronograma em que as atividades são representadas por nós e ligadas graficamente por um ou mais relacionamentos lógicos para mostrar a sequência em que as atividades devem ser executadas. Atividade No Nó (ANN) é um método de representação de um diagrama de precedência. Este é o método usado pela maioria dos pacotes de software de gerenciamento de projetos. Figura 4 – Tipos de relações do MDP Fonte: PMI, 2013, p. 157. Na ANN os nós são em forma de retângulo e as dependências são em forma de setas, conforme pode ser observado na Figura 4. Na dependência término-início, a seta parte do final da atividade A para o início da atividade B. Já relação início-início, a seta parte do início da atividade A para o início da atividade B. Na término-término, a seta parte do fim da atividade A para o fim da 08 atividade B. Por fim, na precedência início-término, a seta parte do início da atividade A para o fim da atividade B. Essas formas de representação são muito importantes, pois conseguem transmitir o conceito e a situação do projeto de forma visual, sendo utilizada no gráfico de Gantt (que veremos nas próximas aulas) e em diversos softwares de gerenciamento de projetos. TEMA 3 – MONTANDO O DIAGRAMA DE REDES Salienta-se que, embora a relação TI seja a mais utilizada, dificilmente um projeto vai usar apenas essa forma de dependência, pois é bem provável que haja atividades que possam ser executadas concomitantemente. Definir essa lógica de precedência é estratégico para o sucesso ou fracasso do projeto que se está trabalhando. Na Figura 5 é possível entender um pouco como funciona essas relações de dependência dentro do MDP. Figura 5 – Diagrama de redes Fonte: Adaptado de Carvalho; Rabechini, 2011, p. 111. Nesse exemplo temos um rol de seis atividades, além do início e fim que servem apenas para definir o começo e término do pacote de trabalho ou projeto, ou seja, não contam como atividades. Todas as atividades possuem precedência término-início. Para que a atividade “B” ocorra, é necessário
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