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NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE | Farmacologia INTRODUÇÃO: - Um dos princípios básicos da farmacologia afirma que as moléculas dos fármacos precisam exercer alguma influência química sobre um ou mais constituintes das células para produzir uma resposta farmacológica - Para que os efeitos farmacológicos ocorram, é preciso haver uma distribuição não uniforme das moléculas do fármaco dentro do organismo ou do tecido, ou seja, as moléculas de um fármaco precisam “ligar-se” a constituintes específicos de células ou tecidos para produzir um efeito - Esses pontos de ligação tão importantes são frequentemente referidos como “alvos farmacológicos” ALVOS PROTEICOS PARA LIGAÇÃO DE FÁRMACOS: - Existem 4 tipos principais de proteínas reguladoras que atuam como alvos farmacológicos primários: 1. Receptores 2. Enzimas 3. Moléculas carregadoras (transportadoras) 4. Canais iônicos - Também existem muitos fármacos que além de se ligarem a seus alvos primários, são conhecidos por se ligarem a proteínas do plasma e a outras proteínas do tecido e a uma variedade de proteínas celulares, sem produzir efeitos fisiológicos evidentes RECEPTORES FARMACOLÓGICOS: ALVOS PARA A AÇÃO DOS FÁRMACOS: - Um fármaco é uma substância química que quando aplicada a um sistema fisiológico, afeta seu funcionamento de modo específico - O termo receptor, em farmacologia, descreve as moléculas proteicas cuja função é reconhecer os sinais químicos endógenos e responder a eles - Macromoléculas com que os fármacos interagem para produzir seus efeitos são conhecidas como alvos farmacológicos - A especificidade é recíproca, ou seja, classes individuais de fármacos se ligam apenas a certos alvos, e alvos individuais só reconhecem determinadas classes de fármacos - Nenhum fármaco é completamente específico em sua ação. Em alguns casos, ao aumentar a dose de um fármaco, a substância pode afetar outros alvos além de seu alvo principal e isso pode levar ao aparecimento de efeitos colaterais O QUE QUEREMOS DIZER COM RECEPTORES? - O termo receptor é empregado para descrever várias moléculas encontradas na superfície das células e envolvidas nas interações célula-célula que são importantes na imunologia, no crescimento celular, na migração e na diferenciação, algumas das quais se destacam como alvos farmacológicos RECEPTORES EM SISTEMAS FISIOLÓGICOS: - Os receptores constituem um componente-chave do sistema de comunicação química que todos os organismos multicelulares utilizam para coordenar as atividades de suas células e órgãos. Sem eles, seríamos incapazes de funcionar - Existe uma diferença importante entre agonistas, que “ativam” os receptores, e antagonistas, que se combinam com o mesmo ponto sem causar ativação e bloqueiam o efeito dos agonistas sobre aquele receptor - A distinção entre agonistas e antagonistas existe somente para receptores farmacológicos; não seria apropriado empregarmos o termo “agonista” para as outras classes de alvos farmacológicos NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE | Farmacologia ESPECIFICIDADE DOS FÁRMACOS: - Para que um fármaco seja útil como instrumento terapêutico ou científico, precisa exibir alto grau de especificidade pelo ponto de ligação - Nenhum fármaco age com especificidade total - Em geral, quanto menor a potência de um fármaco, e maior a dose necessária, maior a probabilidade de que outros pontos de ação, diferentes do local primário, ganhem importância. Esse fato está frequentemente associado ao aparecimento de efeitos colaterais indesejados, dos quais nenhum fármaco está livre INTERAÇÕES FÁRMACO-RECEPTOR: - A ocupação de um receptor por uma molécula de um fármaco pode ou não resultar na ativação desse receptor - A ligação e a ativação representam duas etapas distintas da geração de uma resposta mediada por receptor que é iniciada por um agonista - O fármaco que se liga a um receptor sem causar sua ativação e, em consequência, impede que um agonista se ligue a esse mesmo receptor recebe a denominação antagonista do receptor - A tendência de um fármaco se ligar aos receptores é governada por sua afinidade, ao passo que a tendência de um fármaco de, uma vez ligado, ativar o receptor é indicada por sua eficácia - Os fármacos com alta potência costumam apresentar alta afinidade pelos receptores e, consequentemente, ocupam uma porcentagem significativa de receptores, mesmo em baixas concentrações - Os agonistas também têm significativa eficácia, enquanto os antagonistas apresentam, no caso mais simples, eficácia zero - Os fármacos que apresentam níveis de eficácia intermediários, ou seja, que desencadeiam uma resposta tecidual submáxima mesmo quando 100% dos receptores estão ocupados, são conhecidos como agonistas parciais, distinguindo-se dos agonistas plenos, cuja eficácia é suficiente para desencadear uma resposta tecidual máxima LIGAÇÃO DE FÁRMACOS A RECEPTORES: - A ligação dos fármacos aos receptores pode ser medida diretamente com a utilização de moléculas de fármacos (agonistas ou antagonistas) marcadas com um ou mais átomos radiativos - Técnicas de imagem não invasivas, como a tomografia de emissão de pósitrons (PET, do inglês positron emission tomography), também podem ser utilizadas para investigar a distribuição de receptores em estruturas como o cérebro humano in vivo. Essa técnica foi empregada, por exemplo, para medir o grau de bloqueio de receptores dopaminérgicos por fármacos antipsicóticos no cérebro de pacientes esquizofrênicos RELAÇÃO ENTRE CONCENTRAÇÃO E EFEITO DE FÁRMACOS: - Embora a ligação possa ser medida de modo direto, geralmente estamos interessados em uma resposta biológica, como, por exemplo, a elevação da pressão arterial, a contração ou o relaxamento de uma tira de músculo liso em um banho de órgão, a ativação de uma enzima, ou uma resposta comportamental, e esses fenômenos são frequentemente representados na forma de uma curva concentração × efeito (in vitro) ou dose × resposta - Tais curvas nos permitem estimar a resposta máxima que o fármaco é capaz de produzir (Emáx ) e a concentração ou dose necessária para produzir 50% da resposta máxima (EC50 ou ED50 ) - É frequentemente utilizada uma escala logarítmica para a concentração ou dose, a qual transforma a curva hipérbole retangular numa curva sigmoide em que a porção do meio é essencialmente linear (a importância da inclinação da porção linear ficará evidente mais adiante neste capítulo, quando considerarmos o antagonismo e os agonistas parciais) NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE | Farmacologia - Ao interpretar curvas concentração × efeito, é preciso lembrar que a concentração do fármaco junto aos receptores pode diferir da concentração conhecida do fármaco na solução que banha a preparação - Os agonistas podem estar sujeitos a uma rápida degradação enzimática ou à captação por células, à medida que se vão difundindo da superfície em direção ao local de ação, podendo alcançar um estado de equilíbrio em que a concentração do agonista nos receptores é muito menor que a concentração no banho RECEPTORES DE RESERVA: - A existência de receptores de reserva não implica subdivisão funcional do pool de receptores, mas apenas que o pool é maior do que o número necessário para evocar uma resposta completa - Esse excesso de receptores em relação ao realmente necessário pode parecer um desperdício de mecanismos biológicos, mas é altamente eficiente, já que um dado número de complexos do tipo agonista-receptor, a que corresponde determinado nível de resposta biológica, pode ser alcançado com uma concentração inferior de hormônios ou de neurotransmissores do que se houvesse disponibilidade de menos receptores - É possível uma economia na secreçãode hormônios ou transmissores à custa da disponibilização de mais receptores ANTAGONISMO COMPETITIVO: - A competição em nível receptor é importante devido às grandes potência e especificidade que podem ser alcançadas - Na presença de um antagonista competitivo, a ocupação do agonista em dada concentração desse agonista é reduzida, pois o receptor só é capaz de receber uma molécula de cada vez. Como os dois competem entre si, o aumento da concentração do agonista é capaz de restabelecer sua ocupação. Nesse caso, diz-se que o antagonismo é reversível ou superável - A superabilidade do bloqueio do antagonista pode ser importante na prática, pois permite que o efeito funcional do agonista seja restabelecido com o aumento em sua concentração - A eficácia dos antagonistas é igual a zero CARACTERÍSTICAS MARCANTES DO ANTAGONISMO COMPETITIVO: Deslocamento da curva log da concentração x efeito do agonista para a direita, sem alteração na inclinação ou no efeito máximo (o antagonismo pode ser ultrapassado se a concentração do agonista for aumentada) Relação linear entre razão de dose do agonista e concentração do antagonista Evidências de competição provenientes de estudos de ligação (binding) - O antagonismo competitivo é o mecanismo mais direto por meio do qual um fármaco pode reduzir o efeito de outro ou de um mediador endógeno ANTAGONISMO COMPETITIVO REVERSÍVEL: - Tipo mais comum e mais importante - 2 principais características: 1. Na presença do antagonista, a curva do log da concentração × efeito do agonista é deslocada para a direita, sem alteração na inclinação ou no efeito máximo, sendo a extensão do deslocamento uma medida da razão de dose 2. A razão de dose aumenta linearmente com a concentração do antagonista - A afinidade do antagonista é amplamente utilizada como base para a classificação do receptor NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE | Farmacologia ANTAGONISMO COMPETITIVO IRREVERSÍVEL: - Ocorre quando o antagonista se liga ao receptor na mesma posição do agonista, mas se dissocia dos receptores muito lentamente, ou não se dissocia, o que resulta no fato de não ocorrer alteração na ocupação do antagonista quando o agonista é adicionado - Ocorre em fármacos que possuem grupos reativos que formam ligações covalentes com o receptor. Esses compostos são utilizados como ferramentas de pesquisa para estudar a função dos receptores, e poucos são usados clinicamente - Inibidores enzimáticos irreversíveis que agem de forma semelhante são utilizados clinicamente e incluem fármacos como aspirina, omeprazol e os inibidores da monoamino-oxidase AGONISTAS PARCIAIS E CONCEITO DE EFICÁCIA: - A diferença entre os agonistas plenos e os parciais está na relação existente entre a ocupação dos receptores e a resposta - Um agonista pleno é um fármaco cuja eficácia é suficiente para produzir uma resposta máxima quando menos de 100% dos receptores estão ocupados - Um agonista parcial apresenta eficácia inferior, de modo que uma ocupação de 100% desencadeia apenas uma resposta submáxima - A potência dos agonistas depende de dois parâmetros: afinidade (a tendência do agonista de se ligar a receptores) e eficácia (a capacidade de, uma vez ligado a um receptor, dar início a alterações que provocam efeitos). ATIVAÇÃO CONSTITUTIVA DE RECEPTORES E AGONISTAS INVERSOS: - Os agonistas inversos podem ser considerados fármacos com eficácia negativa, o que os diferencia dos agonistas (eficácia positiva) e dos antagonistas neutros (eficácia zero) - Antagonistas neutros, ao se ligarem ao ponto de ligação do agonista, vão antagonizar tanto agonistas como agonistas inversos - O agonismo inverso foi inicialmente observado no receptor da benzodiazepina, mas tais fármacos são pró- convulsivos e, então, não são uteis para terapêutica - Em tese, um agonista inverso, por silenciar receptores constitutivamente ativos, deveria ser mais eficaz que um antagonista neutro em doenças associadas a mutações no receptor ou autoanticorpos direcionados contra o receptor que resultem em aumento da atividade constitutiva. Esses casos incluem certos tipos de hipertireoidismo, puberdade precoce e doenças da paratireoide MODELO DOS DOIS ESTADOS DO RECEPTOR: - Tanto os agonistas quanto os antagonistas se ligam a receptores, mas apenas os agonistas os ativam - De acordo com o modelo dos dois estados, a eficácia reflete a afinidade relativa do composto pelos estados de repouso e ativado do receptor. Os agonistas mostram seletividade pelo estado ativado; os antagonistas não NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE | Farmacologia exibem seletividade. Esse modelo, embora útil, não é capaz de explicar a complexidade da ação dos agonistas AGONISMO TENDENCIOSO: - O modelo dos dois estados apresenta um problema importante: os receptores não estão restritos a dois estados distintos, mas possuem uma flexibilidade conformacional muito maior, de modo que há mais do que apenas uma conformação inativa e outra ativa - As diferentes conformações que os receptores são capazes de adotar podem ser preferencialmente estabilizadas por diferentes ligantes, produzindo diferentes efeitos funcionais pela ativação de diferentes vias de transdução de sinal - Os receptores acoplados a sistemas de segundo mensageiro podem se acoplar a mais do que uma via intracelular efetora, desencadeando duas ou mais respostas simultâneas MODULAÇÃO ALOSTÉRICA: - Se ligam a locais no receptor diferentes do local de ligação do agonista e conseguem modificar a atividade do agonista. - Além do local de ligação do agonista, no qual os antagonistas competitivos também se ligam, as proteínas dos receptores possuem muitos outros locais de ligação através dos quais os fármacos podem influenciar a função do receptor de várias maneiras: Aumentando ou diminuindo a afinidade dos agonistas pelo local de ligação do agonista Modificando a eficácia Produzindo eles mesmos uma resposta - Dependendo da direção do efeito, os ligantes podem ser antagonistas alostéricos ou facilitadores alostéricos do efeito agonista, e o efeito pode ser a alteração da inclinação ou o efeito máximo na curva log da concentração versus efeito do agonista - Os moduladores alostéricos positivos vão exercer seus efeitos apenas em receptores que estão sendo ativados por ligantes endógenos, e não naqueles que não estão ativados. Isso pode fornecer um grau de seletividade e uma redução no perfil de efeitos colaterais OUTRAS FORMAS DE ANTAGONISMO: ANTAGONISMO QUÍMICO: - Quando duas substâncias se combinam em solução, como consequência, o efeito do fármaco ativo é perdido Exemplo: uso de agentes quelantes (p. ex., dimercaprol) que se ligam a metais pesados e, dessa forma, reduzem sua toxicidade uso do anticorpo neutralizante infliximabe, que tem uma ação anti-inflamatória devido à sua habilidade de sequestrar o fator de necrose tumoral ANTAGONISMO FARMACOCINÉTICO: - Situação em que o antagonista reduz de fato a concentração do fármaco ativo em seu ponto de ação, podendo acontecer de várias maneiras BLOQUEIO DA RELAÇÃO RECEPTOR- RESPOSTA: - O antagonismo não competitivo descreve a situação em que o antagonista bloqueia, em algum ponto adiante do local de ligação no receptor, a cadeia de eventos que leva à produção de uma resposta pelo agonista NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE | Farmacologia ANTAGONISMO FISIOLÓGICO: - Interação entre dois fármacos cujas ações opostas no organismo tendem a se anular mutuamente Exemplo: a histamina age sobre os receptores das células parietais da mucosa gástrica estimulando a secreção ácida, enquanto o omeprazol bloqueia esse efeito por meio da inibição da bomba de prótons; pode- se dizer que esses fármacos atuam como antagonistas fisiológicosANTAGONISMO FARMACOLÓGICO: - Ocorre por meio de vários mecanismos: antagonismo químico antagonismo farmacocinético o (um fármaco que afeta a absorção, o metabolismo ou a eliminação de outro) antagonismo competitivo (ambos os fármacos ligam-se ao mesmo receptor); esse antagonismo pode ser reversível ou irreversível interrupção da relação receptor-resposta antagonismo fisiológico (dois agentes que produzem efeitos fisiológicos opostos) DESSENSIBILIZAÇÃO E TOLERÂNCIA: - O efeito de um fármaco diminui gradualmente quando é administrado de maneira contínua ou repetida - Tolerância é um termo empregado para descrever uma diminuição mais gradual da responsividade a um fármaco, que leva horas, dias ou semanas para se desenvolver - Resistência a um fármaco é uma expressão utilizada para descrever a perda de eficácia dos fármacos antimicrobianos ou antineoplásicos - Muitos mecanismos diferentes podem dar origem a esse tipo de fenômeno. Eles englobam: • alteração em receptores; • translocação de receptores; • depleção de mediadores; • aumento da degradação metabólica do fármaco; • adaptação fisiológica; • extrusão ativa do fármaco das células (relevante principalmente na quimioterapia antineoplásica) NATUREZA DOS EFEITOS FARMACOLÓGICOS: - Os fármacos agem principalmente sobre alvos celulares, produzindo efeitos em diferentes níveis funcionais, por exemplo, em nível bioquímico celular e em níveis fisiológico e estrutural - O efeito direto do fármaco sobre seu alvo produz respostas agudas no âmbito da bioquímica celular ou fisiológico - Respostas agudas geralmente conduzem a efeitos retardados que se manifestam no longo prazo, como dessensibilização ou infrarregulação dos receptores, hipertrofia, atrofia ou remodelamento dos tecidos, tolerância e dependência - As respostas retardadas que se manifestam em longo prazo resultam de alterações na expressão de genes, embora os mecanismos por meio dos quais os efeitos agudos provocam tais alterações sejam pouco compreendidos - Os efeitos terapêuticos podem se basear nas respostas agudas (uso de broncodilatadores para tratar a asma) ou nas respostas tardias (antidepressivos)
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