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Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 38 Módulo 2: Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais No primeiro módulo do curso conhecemos algumas tecnologias de tratamento de dejetos de animais e seus benefícios econômicos e ambientais. Agora, no Módulo 2, vamos caracterizar os sistemas de produção de leiteiros e os dejetos de animais, trazendo uma série de informações importantes sobre o uso racional da água, dos volumosos e concentrados. Fonte: CNA Brasil / Foto: Bento Viana. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 39 Acompanhe os assuntos de cada aula: Aula 1 | Bovinocultura leiteira e tratamento dos dejetos • Panorama e perspectiva da cadeia produtiva do leite no Brasil • Alternativas ambientais para o tratamento dos dejetos • Os regimes de confinamento e a produção de dejetos Aula 2 | Caracterização dos sistemas de produção de bovinos leiteiros • Características dos sistemas de gado leiteiro confinado • Sistema de produção em free stall • Sistema de produção em Compost Barn Aula 3 - Caracterização dos dejetos de bovinos leiteiros • O que são dejetos • Classificação dos dejetos • Quantidade de dejetos produzidos pelos bovinos leiteiros • Parâmetros e características dos dejetos Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 40 Aula 4 | Consumo de água pelos bovinos leiteiros • Importância da água na bovinocultura leiteira • Requerimento diário de água dos bovinos • Fatores que influenciam o consumo de água Aula 5 | Métodos de racionalização do uso da água • Distribuição da água no planeta • Métodos de racionalização do uso da água na bovinocultura leiteira: prevenção dos desperdícios, coleta da água da chuva e reuso da água • Mensuração do consumo de água Aula 6 | Impacto da alimentação na produção de dejetos • Impacto ambiental da fermentação ruminal • Grupos de alimentos na bovinocultura leiteira • Nutrição de bovinos e produção de metano Siga em frente para conferir a primeira aula! Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 41 Aula 1: Bovinocultura leiteira e tratamento dos dejetos A cadeia produtiva do leite é uma das mais importantes atividades econômicas do País. Veja alguns números para ter uma dimensão do negócio: Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 42 Crescimento da produção leiteira A Embrapa Gado de Leite, jun- tamente com algumas empre- sas do segmento, destaca que o crescimento da produção lei- teira será sustentado mais pe- las melhorias na gestão das fa- zendas e na produtividade dos animais, do que pelo número de vacas em lactação (BRA- SIL, 2018; ZOCCAL, 2018). Ou seja, há uma tendência de ganhos em escalas por meio de incorporação de tecnologias e melhorias na gestão (BRASIL, 2018). Acompanhe na tabela a seguir o panorama e a perspectiva da produção de leite no País. Tabela 1 – Produção anual, importação, exportação e consumo de leite no período entre 2016 e 2028. Dados expressos em milhões de litros. Ano Produção Importação Exportação Consumo Consumo per capita de lácteos (litros/ habitante) 2016 33.656 1.880 236 35.301 171 2017 34.490 1.270 137 34.624 167 2018 35.277 1.271 141 36.317 - 2022 38.526 1.274 157 39.606 - 2028 43.399 1.280 182 44.586 - Fonte: adaptado de Brasil (2018) e Carvalho, Rocha e Gomes (2018), com dados do IBGE; MDIC/Aliceweb; Em- brapa Gado de Leite. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 43 Alternativas para o tratamento de dejetos Embora a produção de leite seja uma atividade que proporciona relevante desenvolvimento econômico e social, os animais produzem resíduos alta- mente poluentes. Desse modo, é necessário desenvolver, validar, implan- tar e monitorar alternativas viáveis de tratamento de dejetos (efluentes). Acompanhe duas dessas alternativas: Atualmente, a digestão anaeróbia dos dejetos provenientes da produção agropecuária se des- taca como uma forma de promover tanto a gera- ção de energia elétrica, quanto um produto final que pode ser utilizado como fertilizante. A digestão anaeróbia por meio de biodigestores é um processo para uma produção mais susten- tável do ponto de vista da reciclagem de resídu- os (os quais antes se caracterizavam por ser al- tamente poluentes), gerando energia alternativa e fertilizante orgânico. Digestão anaeróbia A compostagem aeróbia dos dejetos – seja no local onde os animais ficam alojados, como no caso do Compost Barn, seja separadamente, como na compostagem mecanizada, quando os dejetos são coletados e encaminhados para um sistema independente – representam outras al- ternativas tecnicamente viáveis de transformar os dejetos brutos em biofertilizantes. Compvostagem aeróbia Estas duas alternativas agregam sustentabilidade ao negócio! Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 44 Regimes de confinamento e produção de dejetos Os animais em sistemas de produção de leite podem per- manecer em regime de confi- namento, semiconfinamento ou livres a pasto. Contudo, diferentemente do que ocorre na bovinocultura de corte, mesmo nos casos em que estão semiconfina- dos e livres a pasto, os bovi- nos leiteiros ficarão confina- dos por pelo menos algumas horas durante o dia no local destinado à ordenha. Assim, parte dos dejetos produzidos em unidades leiteiras tendem a ficar concentrados no curral ou na sala de ordenha, sendo possível encami- nhá-los para algum sistema de tratamento. Lá na fazenda Rio Novo Em muitas propriedades, a geração dos resíduos na bovinocultura de leite advém principalmente do esterco puro e/ou diluído com água, recolhido na sala de orde- nha, e do esterco acrescentado à cama dos estábulos. E lá na fazenda Rio Novo não é diferente. Isso significa que todas as propriedades que trabalham com gado de leite de forma intensiva produzem diaria- mente um determinado volume de dejetos de animais que demandam um tratamento e destino coerente com a sua escala. Ao mesmo tempo em que essa situação exige uma so- lução, representa também uma oportunidade! Por que, então, não unir o útil ao agradável? Semiconfinamento Os bovinos permanecem em piquetes durante uma parte do dia. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 45 Na próxima aula, falaremos um pouco mais sobre os sistemas de produ- ção de bovinos leiteiros no Brasil. Vamos lá? Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 46 Aula 2: Caracterização dos sistemas de produção de bovinos leiteiros Os sistemas de produção de bovinos leiteiros mais utilizados no Brasil são a criação a pasto – com ou sem suplementação – e os sistemas confinados. Criação a pasto. Sistemas confinados Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 47 Aqui, neste curso, vamos abordar os sistemas confinados pelo fato de deixarem um acúmulo de dejetos em um mesmo local da propriedade e estes demandarem tratamentos adequados. Os mais utilizados são o se- miconfinamento, o free stall e o Compost Barn. Lá na fazenda Rio Novo O Compost Barn vem crescendo em importância aqui no Brasil, pois muitos produtores que antes trabalhavam a pasto agora estão confinando os animais para ganhar escala e, além disso, passaram a utilizar a antiga área de pastoreio para a produção de grãos e forragem. E é essa estratégia que pretendo adotar na proprieda- de Rio Novo! Sistemas confinados A principal característica dos sistemas de gado leiteiro confinado é o for- necimento do alimento exclusivamente no cocho. A base da alimentação são os alimentos conservados, como as silagens de milho e sorgo, fenos e gramíneas de alta qualidade balanceados com concentrados. No Cerrado brasileiro, os rebanhos são for- mados por animais híbridos ou puros das raças Girolando, Holandês, Gir leiteiro, Guzerá leiteiro, Jersey,entre outras. Mão na terra A alta quantidade de dejetos produzidos por unidade de área, característica dos sistemas confinados, pode ser considerada um problema ou uma oportunidade, já que é possível transformar esses efluentes para posterior utilização dos coprodutos derivados. Eu prefiro enxergar essa situação como uma oportuni- dade! Mas é bom que se saiba: manejar esses dejetos é um desafio que envolve conhecimento técnico e inves- timentos. Continue comigo nesse curso para adquirir esses co- nhecimentos! Híbridos Cruzados. Efluentes Resíduos provenientes das atividades humanas. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 48 Quer aprofundar seus conhecimentos no assunto? Você pode consultar o seguinte material na biblioteca do curso: • Gado de leite: O produtor pergunta, a Embrapa res- ponde. Coleção 500 perguntas - 500 respostas” – Fala sobre a caracterização dos sistemas de produção de bovinos leiteiros. Sistema de produção em free stall O primeiro sistema de produção que iremos abordar é o free stall. Ele sur- giu nos Estados Unidos, na década de 1950, e de lá se expandiu com rapi- dez para os outros países devido à facilidade de produção de um grande volume de leite em uma área restrita. Este modelo chegou ao Brasil e se tornou comum a partir da década de 1980. Esse sistema é caracterizado por um galpão coberto onde os bovinos têm acesso a ali- mentação em uma área res- trita para este fim, bem como a uma área dedicada a exercí- cios e descanso das vacas, em baias individuais forradas com material de cama. Os animais têm acesso livre às baias – daí o nome “free stall” –, onde eles descansam, embora não se permita que eles se virem. Quando deitadas, as vacas permanecem com o úbere e as pernas dentro da baia, enquan- to os dejetos são excretados em um corredor de limpeza. O corredor de limpeza é onde os dejetos são depositados para posterior remoção e tra- tamento. Recomenda-se que tenha declividade entre 1% a Material de cama Palha, areia, maravalha, material emborrachado. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 49 1,5% para facilitar o escoamento. A remoção dos dejetos nesse corredor pode ser mecanizada com o uso de trator com lâmina frontal ou por uma lâmina que automatiza a limpeza (raspador). Quando o gado leiteiro é mantido no sistema free stall, o esterco pode ser manejado nas formas líquida, semissólida e sólida. No entanto, o ideal para evitar a emissão de gases na atmosfera é fazer o tratamento do dejeto fresco, evitando que se decomponha a céu aberto. Nesta situação ideal, os efluentes brutos são coletados, homogeneizados e tratados na forma líquida. Sistema de produção em Compost Barn O segundo sistema de produ- ção que abordaremos é o Com- post Barn. Esse é um sistema utilizado para bovinos leiteiros com base em uma área de descanso co- letivo coberta e livre de divisó- rias para as vacas se movimen- tarem, com a cama constituída de material orgânico. No Compost de Barn, o piso do galpão é coberto com matéria orgânica, de modo que os bovinos não tenham contato permanente com a superfície de concreto. Efluentes brutos Urina, fezes e água. Material orgânico 40 cm de cama. Material orgânico Serragem ou maravalha, por exemplo. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 50 Neste sistema, é fornecido mais espaço para as vacas do que no free stall, pois não existem divisórias delimitando o espaço para cada animal. As características deste siste- ma são a necessidade de ma- terial para a cama e de revol- vimento diário do composto, para permitir a aeração. As fezes e a urina dos animais são misturadas com o material da cama, por isso o nome do sistema, pois ocorre um pro- cesso de compostagem a par- tir dessa mistura. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 51 Lá na fazenda Rio Novo Lembra quando lhe falei que estamos planejando im- plantar o Compost Barn lá na fazenda Rio Novo? Quando dei essa ideia para o meu avô, o Sr. Antônio, ele ficou bastante empolgado. Mas foi só eu virar as costas que as dúvidas começaram a surgir... O espaço para o galpão nós já temos, então ele resolveu perguntar para o Marcos, técnico do SENAR que presta assistência nas propriedades daqui da região, como deveria ser a tal “cama”... O Marcos enviou uma explicação bem completa. Confira! Mas, vô, pode contar comigo também! Afinal, dessa téc- nica eu entendo! Dica do Técnico Oi, Seu Antônio. Tudo bem com o senhor? Essa é uma dúvida importante. A cama pode ser feita de diferentes materiais, como, por exemplo: maravalha, serragem, casca de arroz, de café, de amendoim... O mais importante é que o material usado não deve ter uma de- composição muito rápida, e nem muito demorada. Se não, o resul- tado da compostagem não vai ser tão bom. Depois de um certo tempo de uso, a mistura formada pelo mate- rial da cama e pelos dejetos dos animais é retirada, gerando um biofertilizante. E olha que interessante: esse biofertilizante pode ser usado na sua própria fazenda ou, então, ser comercializado, gerando mais uma fonte de renda pra vocês. Estou torcendo aqui pra implantarem esse sistema! Podem contar comigo pro que precisarem! Um grande abraço! Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 52 Fora da área de compostagem, há também: • a área de alimentação, onde estão os bebedouros e comedouros; • o curral de espera; • a sala da ordenha. Os efluentes brutos destas áreas, no entanto, devem ser recolhidos e tratados por outro sistema, pois não formam o composto. De olho nos valores O seu Antônio também estava preocupado com os custos para implantar o Compost Barn. Calma, vô... Nesse sistema, os custos iniciais com instalações são menores quando comparados aos do free stall. Além disso, o Compost Barn ainda pode minimizar as despesas com o manejo de dejetos e reduzir a necessidade de água, quan- do comparado com outros sistemas intensivos. Efluentes brutos Fezes, urina, água residuária. Os relatos dos produtores que adotaram este sistema destacam que o bem-estar das vacas é superior, pois elas permanecem em um ambiente confortável e apresentam menos problemas de cascos, o que resulta em aumento na produção de leite e outros índices de desempenho, como a longevidade. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 53 Quer aprofundar seus conhecimentos no assunto? Você pode consultar o seguinte material na biblioteca do curso: • “Compost Barn: um novo sistema para a atividade leiteira”. Na próxima aula, vamos caracterizar os dejetos de bovinos leiteiros. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 54 Aula 3: Caracterização dos dejetos de bovinos leiteiros O termo dejeto é utilizado para des- crever não apenas o material excre- tado pelos animais, mas também: • a cama utilizada que escoa junto da urina e das fezes; • a água de consumo desperdiça- da dos bebedouros; • a água da lavagem das instala- ções; • o alimento desperdiçado; • os pelos. Os dejetos podem ser classificados em quatro categorias de acordo com sua porcentagem de sólidos, o que determina seu grau de consistência. É essa consistência dos dejetos que vai determinar qual será a melhor forma de manejo. Veja: Material excretado pelos animais Urina e fezes. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 55 Quadro 1 – Classificação dos dejetos conforme sua porcentagem de sólidos e características de manejo. Fonte: elaborado com dados de Lorimor e Powers (2004). Quantidade de dejetos produzidos O Marcos, técnico do SENAR, está nos ajudando com o tratamento dos dejetos na fazenda Rio Novo. E meu vô fez uma pergunta interessante a ele: quanto de dejeto o gado produz por dia? Além de responder com uma mensagem esclarecedo- ra, o Marcos ainda nos encaminhou uma tabela com- pleta para facilitar o cálculo.Leia a mensagem e consulte a tabela! Classificação Sólidos Características Líquido Até 4% Podem ser manuseados como um líquido, utilizando equipamento de irrigação. Pastoso 4-10% Podem requerer bombeamento. Dejetos de vacas leiteiras misturados com a água de limpeza da sala de ordenha geralmente são pastosos. Semissólido 10-20% Muito comum em sistemas de produção leiteira. São dejetos muito sólidos para serem bombeados e muito líquidos para serem retirados com uma pá carregadeira. Por isso, pode ser necessário adicionar água para o manuseio. Sólido 20% ou mais Podem ser manuseados com pá carregadeira ou garfo. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 56 Dica do Técnico Olha, Seu Antônio... A quantidade de dejetos produzida diariamente pelos bovinos leiteiros pode variar bastante entre uma pro- priedade e outra. Isso ocorre porque a quantidade produzida depende de muitos fatores, como o programa alimentar e a compo- sição da dieta dos animais. Dietas à base de forragem, por exemplo, geram maior volume de dejetos do que dietas à base de grãos. Depende, também, da composição genética do reba- nho, da idade dos animais, da produtividade das va- cas, do conforto ambiental (que impacta no consumo de água), da sazonalidade, do manejo da propriedade... É por isso que eu digo que o ideal é medir e monitorar os dejetos produzidos na própria propriedade. Mas não vou te deixar na mão, Seu Antônio. Vou te contar como esse valor pode ser estimado. Alguns estudos realizados por pesquisadores da Em- brapa mostraram que uma vaca leiteira elimina o equi- valente a 9% do seu peso vivo por dia. Desse volume total, 60% são fezes com teor de água de 85%. É bom considerar, também, que esses valores são mais expressivos nos sistemas de produção em confinamen- to, porque você tem uma grande quantidade de ani- mais gerando resíduos em um espaço muito limitado. Tô te encaminhando uma tabela com umas estimativas mais detalhadas. Dá uma olhada aí e, se tiver dúvida, me dá um toque! Veja a tabela encaminhada pelo Marcos: Dica do Técnico Olha, Seu Antônio... A quantidade de dejetos produzida diariamente pelos bovinos leiteiros pode variar bastante entre uma propriedade e outra. Isso ocorre porque a quantidade produzida depende de muitos fatores, como o programa alimentar e a composição da dieta dos animais. Dietas à base de forragem, por exemplo, geram maior volume de dejetos do que dietas à base de grãos. Depende, também, da composição genética do rebanho, da idade dos animais, da produtividade das vacas, do conforto ambiental (que impacta no consumo de água), da sazonalidade, do manejo da propriedade... É por isso que eu digo que o ideal é medir e monitorar os dejetos produzidos na própria propriedade. Mas não vou te deixar na mão, Seu Antônio. Vou te contar como esse valor pode ser estimado. Alguns estudos realizados por pesquisadores da Embrapa mos- traram que uma vaca leiteira elimina o equivalente a 9% do seu peso vivo por dia. Desse volume total, 60% são fezes com teor de água de 85%. É bom considerar, também, que esses valores são mais expres- sivos nos sistemas de produção em confinamento, porque você tem uma grande quantidade de animais gerando resíduos em um espaço muito limitado. Tô te encaminhando uma tabela com umas estimativas mais de- talhadas. Dá uma olhada aí e, se tiver dúvida, me dá um toque! Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 57 Animal Peso DT Água Densidade ST SV DBO Conteúdo de nutrientes (kg) (kg) (%) (kg/m3) (kg/dia) (kg/dia) (kg/dia) (kg N) Kg (P2O5) (K2O) Bezerra 68,0 5,4 88 1041 0,64 0,54 0,09 0,03 0,004 0,02 113,4 9,1 88 1041 1,09 0,91 0,14 0,05 0,01 0,04 Novilha 340,2 20,4 88 1041 3,04 2,59 0,31 0,10 0,04 0,10 453,6 27,2 88 1041 4,04 3,45 0,42 0,14 0,05 0,14 Vaca em lactação 453,6 50,3 88 993 6,49 5,49 0,76 0,33 0,17 0,18 635,0 70,3 88 993 9,07 7,71 1,06 0,46 0,24 0,26 Vaca seca 453,6 23,1 88 993 2,95 2,49 0,34 0,14 0,05 0,11 635,0 32,2 88 993 4,13 3,49 0,47 0,19 0,07 0,15 771,1 39,5 88 993 4,99 4,22 0,58 0,23 0,08 0,18 Vitela 113,4 3,0 96 993 0,12 0,05 0,02 0,01 0,01 0,02 Tabela 2 – Produção e características dos dejetos de bovinos leiteiros (valores em animal/dia). As características reais dos dejetos podem variar em torno de 30% dos valores tabelados, devido à genética, à dieta, ao desempenho dos animais e ao manejo da propriedade. DT = dejetos totais; ST = sólidos totais; SV = sólidos voláteis; DBO = demanda bioquímica de oxigênio (oxigênio utilizado na oxidação bioquímica da matéria orgânica em cinco dias, a 20 ºC) Fonte: Adaptado de Lorimor e Powers (2004). Mão na terra Vamos a um exemplo prático. Considere um sistema free stall com 100 vacas em lac- tação, as quais apresentam peso médio de 450 kg, pro- duzindo 50 kg/dia de esterco cada uma (dejetos totais). Se forem adicionados a esse volume a água de consu- mo que foi desperdiçada, a água de lavagem da orde- nha, entre outros, estima-se a produção de até 100 kg/ dia de efluentes brutos. Isso totaliza cerca de 10.000 kg/dia (ou 10 m3/dia) a serem coletados, estocados, tratados, transportados e utilizados! Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 58 Analisando os parâmetros dos dejetos Vamos analisar alguns dos parâmetros que aparecem na Tabela 2, refe- rentes às características dos dejetos de bovinos de leite: A quantidade de nitrogênio presente nos deje- tos tem grande importância poluidora, uma vez que esse elemento é indispensável para o cresci- mento de algas, podendo causar eutrofização de lagos e represas. Além disso, o nitrogênio presente nos processos de conversão de amônia em nitrato, e de nitra- to em nitrito, implica no consumo de oxigênio dissolvido na água. Por sua vez, o nitrogênio na forma de amônia livre é tóxico para os peixes, e na forma de nitrato está associado a doenças. Quantidade de nitrogênio A demanda bioquímica de oxigênio (DBO) é o parâmetro mais comum para mensurar o poten- cial de poluição de resíduos orgânicos. Esse parâmetro envolve a medida de oxigênio dissolvido utilizado pelos microrganismos na oxidação da matéria orgânica. Demanda bioquímica de oxigênio A quantidade de sólidos voláteis nos dejetos é um dos parâmetros mais relevantes para estimar a produção de biogás. Os sólidos voláteis representam a fração orgâni- ca do material que será fermentada no biodiges- tor para produzir o biogás. Quantidade de sólidos voláteis Eutrofização Adição excessiva de nutrientes no corpo d´água, fazendo com que organismos que se alimentam desses nutrientes cresçam rapidamente, como é o caso das algas. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 59 Além desses parâmetros, temos, ainda, a capacidade de produção de metano (B0), que compreende a máxima produção de metano possível a partir de determinada biomassa. As médias e os intervalos mínimos e máximos para a capacidade de pro- dução de metano de diferentes espécies, de acordo com dados da litera- tura, estão descritos na tabela a seguir. Tabela 3 – Capacidade de produção de gás metano de acordo com a categoria animal. Categoria B0 (m3 de metano/kg de sólidos voláteis) Volume mínimo Volume médio Volume máximo Suínos 0,32 0,38 0,44 Bovinos de leite 0,10 0,15 0,21 Bovinos de corte 0,12 0,17 0,23 Fonte: adaptado de Mito et al. (2018). Nosso próximo assunto será o consumo de água pelos bovinos leiteiros. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 60 Aula 4: Consumo de água pelos bovinos leiteiros O nutriente mais importante para os bovinos leiteiros é a água, pois ela está envolvida nos processos de: • digestão e metabolismo; • eliminação de elementos não aproveitáveis por meio da urina, das fezes e da respiração; • controle da temperatura corporal. Além disso, a água é o prin- cipal elemento constituinte do leite, perfazendo cerca de 90% desse produto. Requerimento diário deágua O requerimento diário de água dos bovinos varia significativamente devido a vários fatores, tais como: tamanho do animal, genética, fase de crescimento, ingestão de matéria seca na dieta, produção diária de leite, temperatura e umidade relativa do ar e ingestão de sódio. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 61 Além desses fatores, é necessá- rio considerar que a temperatura da água e aspectos de qualidade que afetem o sabor e odor tam- bém influenciam o consumo diário de água pelos bovinos. Fatores que influenciam o consumo de água Bovinos leiteiros Fonte: Adaptado de Palhares (2013). Você deve ter percebido que o consumo de água para a dessedentação é influenciado por muitos fatores. No entanto, se o produtor não tiver con- dições de mensurar esse volume na sua própria condição, é recomendado utilizar valores de referência de acordo com as categorias de animais que compõem o seu rebanho. A tabela abaixo apresenta essas informações. Aspectos de qualidade Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 62 Tabela 4 – Consumo de água de dessedentação* por bovinos leiteiros. Categoria animal Litros de água/dia Vaca em lactação 64 Vaca e novilha no final da gestação 51 Vaca seca e novilha gestante 45 Bezerro lactente (a pasto) 12 *Considerando intervalos de temperatura entre 21 °C e 32 °C. Fonte: Adaptado de Palhares (2013). Mão na terra São muitos os fatores, mas posso te garantir que o prin- cipal fator que influencia o livre consumo de água é o conteúdo de matéria seca na dieta. Alimentos com alta umidade, como silagens ou pasta- gens, têm altos teores de água. Já o feno, por exemplo, tem baixos teores. É impossível estruturarmos um projeto de produção de leite sem antes nos certificarmos sobre o fornecimento de água em quantidade e qualidade para atender não apenas aos animais, mas também aos processos de hi- gienização das instalações. Na sequência, veremos alguns métodos de racionalização do uso da água nas propriedades leiteiras. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 63 Aula 5: Métodos de racionalização do uso da água Antes de pensarmos em qualquer sistema de tratamento de dejetos, deve- mos adotar medidas com a finalidade de reduzir a produção dos efluentes. Nesse sentido, é fundamental focar no uso eficiente do alimento e da água. A água A água é um recurso natural limitado e essencial para qual- quer atividade agropecuária. Portanto, deve receber atenção especial dos produtores, técni- cos e funcionários. As fontes de água utilizadas em propriedades rurais podem ter três origens: pluvial, subterrâ- nea ou superficial. As fontes subterrâneas são os lençóis freáticos. As fontes superficiais são formadas pelos rios, lagos, canais etc. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 64 Distribuição da água no planeta Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 65 Lá na fazenda Rio Novo É por isso que lá na fazenda Rio Novo eu recomendo: vamos deixar a água de boa qualidade para atividades mais nobres, dessa maneira reduzindo a demanda so- bre as nascentes de água (subterrânea) e, consequen- temente, contribuindo para a conservação dos recur- sos hídricos. Métodos de racionalização Os métodos de racionalização do uso da água na bovinocultura leiteira devem compor o rol de medidas ligadas à sustentabilidade ambiental. Cabe destacar aqui três medidas passíveis de serem implantadas na rea- lidade brasileira, com o objetivo de economizar água e reduzir o volume de dejetos produzidos. São elas: a prevenção dos desperdícios, a coleta da água da chuva e o reúso da água (reaproveitamento). Prevenção dos desperdícios O excesso de diluição do dejeto que posteriormente deverá ser tratado re- presenta um fator antieconômico. Alguns cuidados são necessários para evitar a diluição dos dejetos, como: • desvio da água da chuva do sistema de tratamento; • diminuição dos desperdícios nos bebedouros; • aperfeiçoamento da limpeza das instalações, promovendo a ras- pagem dos dejetos antes da uti- lização de água. Os bebedouros devem oferecer água em quantidade e qualidade para saciar a sede dos bovinos, mas não devem apresentar vazamentos. Raspagem dos dejetos Limpeza a seco. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 66 Devem ser dimensionados con- siderando: • o período de máximo consu- mo, que geralmente ocorre nos meses mais quentes do ano; • o número de animais por lote; • o tipo de dieta fornecida. Mão na terra Existem diversos modelos de bebedouros disponíveis, com diferentes capacidades de armazenamento. O mais importante é que consigam suprir a exigência diária de água dos animais e sejam mantidos limpos e sem vazamentos! Outras formas de eficazes de economia de água são: • optar, sempre que possível, pela limpeza a seco por meio da raspagem do piso em substituição à lavagem com fluxo contínuo; • realizar a lavagem das instalações e equipamentos utilizando água quente, pois facilita a remoção de gordura; • efetuar a limpeza das instalações destinadas ao confinamento de bo- vinos com sistemas de água de alta pressão com baixa vazão (lava- jatos); • fazer uso de produtos detergentes. Coleta da água da chuva A captação da água da chuva é um processo simples que tem sido ado- tado cada vez mais frequentemente nas propriedades rurais. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 67 Consiste em conduzir a água captada dos telhados das casas e dos galpões, por meio de calhas e encanamentos, até cisternas ou outro tipo de reservatório. O uso que pode ser dado depende da qualidade da água coletada. As- sim, quanto mais for investido em tecnologia de coleta e armazenamen- to, maior será a qualidade da água e as possibilidades de uso e destino. A utilização da água para fins mais nobres, como para a dessedentação dos animais e higienização dos equipamentos de ordenha, dependerá da não contaminação dessa água com microrganismos patogênicos. In- dependentemente disso, a propriedade poderá utilizar a água da chuva para outros fins, como para a lavagem das instalações. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 68 Mão na terra O armazenamento da água da chuva pode ser feito de várias formas: em cisternas construídas no solo ou por meio do uso de materiais como mantas, fibra de vidro, alvenaria etc. Para dimensionar a cisterna, deverá ser considerada a precipitação local, a demanda de consumo de água, a du- ração do período seco e a área de superfície de captação. Veja algumas vantagens do aproveitamento da água da chuva: • é gratuito; • gera economia na utilização da água potável. Por exemplo: a água da chuva substitui a água potável na lavagem dos pisos; • tem baixo custo o sistema de captação (tanto em investimento e quan- to em manutenção); • oferece possibilidade de uso para inúmeras atividades na propriedade, dependendo da qualidade da água armazenada na cisterna (como, por exemplo, na agricultura); • colabora com a segurança hídrica da propriedade. Reúso da água A água residuária é aquela descartada após utilização em diversas ativi- dades ou processos, seja ela tratada ou não. Os efluentes resultantes do biodigestor também são classificados como água residuária. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 69 De forma geral, a vazão de águas residuárias geradas na criação de ani- mais depende: • do número de animais con- finados; • da quantidade de água des- perdiçada nos bebedouros; • da quantidade de água usa- da na higienização das ins- talações e no transporte hi- dráulico dos dejetos; • da existência ou não de sis- temas de isolamento para evitar a incorporação de águas pluviais. Já a água de reúso é a água residuária que se encontra dentro dos pa- drões exigidos para sua utilização nos fins pretendidos. As característi- cas químicas e físicasdas águas residuárias são bastante variáveis, pois dependem da digestibilidade e da composição da dieta, além da idade dos animais. A reutilização de águas residuárias é um método de gestão sustentável dos recursos hídricos nas propriedades rurais e aparece como um substituto ao uso de águas de boa qualidade. Lá na fazenda Rio Novo Nas propriedades produtoras de leite aqui no Brasil, uma das formas de reúso mais frequentes é o reúso da água, após o tratamento do biodigestor, para lavagem dos pi- sos e tubulações dos dejetos. Ou seja, a reutilização é fei- ta naqueles processos menos exigentes de qualidade da água. E é isso o que pretendo fazer na fazenda Rio Novo. É muito importante destacar que a água de reúso não deve ser utilizada para a limpeza da sala de ordenha ou de equipamentos. Já alertei o seu Antônio quanto a isso... Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 70 Um estudo realizado pela Em- brapa Gado de Leite constatou que, com o reúso, é possível obter uma economia de água na ordem de 82,5% a 86,0%. O consumo estimado de água em sistemas que fazem lim- peza hidráulica dos pisos do curral é de 200 a 250 litros/ unidade por animal/dia. Mensuração do consumo de água A mensuração do consumo de água é um procedimento importante. A utilização de hidrômetros é uma forma simples de realizar essas medições. Se soubermos qual é o consumo regular da propriedade e compararmos com a demanda dos animais e a quantidade de água necessária nos de- mais processos de produção, os registros podem nos indicar se há vaza- mentos no sistema ou alto consumo por alguma particularidade. Tudo aquilo que se mede passa a ser gerenciado. O impacto ambiental e econômico da mensuração do consumo de água e das medidas corretivas deve ser uma motivação para os técnicos e pecuaristas. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 71 Quer aprofundar seus conhecimentos no assunto? Você pode consultar os seguintes materiais na biblioteca do curso: • Comunicado Técnico nº 78 (“Reaproveitamento de água re- siduária em sistemas de produção de leite em confinamen- to”) – Trata sobre métodos de racionalização do uso da água na bovinocultura leiteira; • Cartilha “Gestão da Água na Suinocultura” – Trata sobre métodos de racionalização do uso da água na suinocultura. Na sequência, conheceremos os impactos da alimentação na produção de dejetos de bovinos leiteiros. Siga em frente! Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 72 Aula 6: Impacto da alimentação na produção de dejetos A principal caraterística da alimentação dos ruminantes é o marcante im- pacto da fermentação ruminal. Ela é resultado do processo evolutivo de milhares de anos que permite a estas espécies, dotadas de quatro estômagos, o processamento de alimentos fibro- sos, ricos em celulose, o que contribui para a produção de alimentos nobres, como o leite e a carne. Nós humanos, por exemplo, não temos a mesma capacidade de consumir esses tipos de alimentos fibrosos. Devido a esta fermentação, no entanto, um grande número de bovinos confinados em pequenas áreas aumenta os riscos de ocorrência de pro- blemas ambientais. Portanto, adotar programas adequados de nutrição, alimentação e manejo é fundamental para reduzir esses riscos. Formulação da dieta O excesso de nutrientes na dieta não é assimilado nem para a manuten- ção do animal, e nem para a produção de leite. Esse excedente é elimina- do nas fezes e na urina, o que contribui para a poluição ambiental e au- mento do custo de produção – por meio dos nutrientes desperdiçados. Alimentos fibrosos Pastos, silagem, feno e palhadas. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 73 Portanto, a dieta elaborada para cada fase do ciclo de produção de leite deve ser formulada de acordo com os melhores padrões científicos e fornecida de maneira ade- quada, proporcionando me- nores volumes de dejetos. Nesse sentido, devem ser considerados os produtos e as tecnologias utilizadas na ração que melhoram o de- sempenho e a eficiência na conversão do alimento em leite. Mão na terra A melhor conversão alimentar é aquela em que os nu- trientes fornecidos estão nas quantidades mais próxi- mas às necessidades dos animais, nem de forma escas- sa e nem em excesso. Assim, proporcionalmente, haverá maior produção de leite e menor consumo de alimentos, o que significa me- nor perda de nutrientes para o ambiente na forma de fezes, urinas e gases. Além disso, o sistema de aprovei- tamento dos dejetos não será sobrecarregado. Grupos de alimentos Os bovinos confinados são alimentados com dois grupos de alimentos: Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 74 Alimentos volumosos Os alimentos volumosos são compostos por mais de 18% de fibra bruta e apresentam baixo valor energéti- co, ou menos de 60% de nutrientes digestíveis totais. Exemplos: forrageiras, silagens (milho, sorgo, capim, cana-de-açúcar), fenos, restos culturais e resíduos de agroindústrias. Alimentos concentrados Os alimentos concentrados possuem menos de 18% de fibra bruta e apresentam alto valor energético, ou mais de 60% de nutrientes digestíveis totais. Exemplos: concentrados energéticos (menos de 20% de proteína bruta), que são os grãos e cereais (milho, sorgo, trigo, arroz, melaço, polpa cítrica); raízes e tu- bérculos (mandioca, batata); óleos de origem vegetal; e concentrados proteicos (mais de 20% de proteína bru- ta), que correspondem às oleaginosas (farelo de soja, farelo e caroço de algodão, farelo de amendoim). Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 75 As dietas com mais alimentos concentrados reduzem as emissões de metano entérico pelos animais e favorecem o meio ambiente. Já a produção de forragens conservadas está associada a um impacto ambiental variável, em função das etapas executadas durante o processo de geração do alimento. O uso de tratores e implementos mais eficientes é um método que contribui para mitigar as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) na agricultura. Isso porque o consumo de combustíveis fósseis, fator responsável pelo impacto ambiental, acaba sendo reduzido. Alimentação dos bovinos e produção de metano Uma nutrição adequada propicia o aumento das taxas de passagem e de fermentação e a diminuição do tempo em que o alimento permanece no rúmen do animal. Essas condições reduzem a quantidade de hidro- gênio disponível para a produção do gás metano. A manipulação da dieta dos ruminantes é uma alternativa para a dimi- nuição da produção de metano, bem como para a redução das perdas energéticas pelo animal. Alguns dos fatores que interferem na liberação de metano pelos bovinos incluem: Sempre que reduzimos as perdas durante os processos de conservação, estamos sendo mais eficientes. E este é o objetivo a ser perseguido! Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 76 • o nível de ingestão de alimento; • o tipo de carboidrato ingerido; • o processamento da forragem; • a adição de lipídios; • a manipulação da microflora ruminal, incluindo o uso de ionóforos. A redução da produção do metano (CH4) está associada à dimi- nuição das populações de protozoários no rúmen dos animais, já que estes são conhecidos por produzir hidrogênio e ter relação simbiótica com as bactérias metanogênicas. Dessa forma, ao diminuir a população de protozoários no rúmen ocorre a consequente diminuição de transferência de hidrogê- nio entre protozoários e bactérias metanogênicas, o que reduz a produção de metano. No entanto, as mudanças na composição da dieta, que provo- cam a diminuição da população de protozoários, também podem gerar distúrbios prejudiciais ao animal. Com esse assunto, finalizamos o Módulo 2 do curso. No terceiro e último módulo, teremos uma abordagem mais prática, focando no tratamento de dejetos de bovinos leiteiros propriamente dito. A utilizaçãode aditivos alimentares como ionóforos, extratos de plantas, ácidos orgânicos, probióticos e enzimas reduzem as perdas e o impacto ambiental. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 77 Atividade de aprendizagem Chegou o momento de verificar sua compreensão dos conceitos apre- sentados até aqui. As atividades aqui na apostila servem apenas para você ler e respondê-las com mais tranquilidade. Entretanto, você deverá acessar o AVA e responder lá as questões. Você terá duas tentativas e só desbloque- ará o próximo módulo depois que: (1) acertar as questões; ou (2) usar todas as suas tentativas. Questão 1 No que diz respeito ao sistema Compost Barn, assinale a alternativa correta. a) O galpão Compost Barn possui alojamentos individuais para cada vaca, onde elas permanecem deitadas sobre uma cama que pode ser de palha ou maravalha. b) A principal característica do sistema Compost Barn é a utilização de uma cama de material orgânico que cobre toda a superfície de solo do galpão. c) Nesse sistema, a cama de material orgânico pode ficar em contato direto com o solo e ter entre 50 e 70 cm de altura. d) A área de alimentação onde ficam bebedouros e comedouros loca- liza-se dentro da área de Compost Barn. Nesse mesmo local é feito o aproveitamento de água e de alimento desperdiçados a fim de auxiliar o próprio processo de compostagem. Módulo 2 – Sistemas de Produção Leiteiros e os Dejetos de Animais 78 Questão 2 Sobre a caracterização dos dejetos de bovinos leiteiros, assinale a alterna- tiva correta. a) Ao saber qual a raça do animal e o tipo de alimentação, é possível estimar com precisão a quantidade diária de dejetos produzidos. b) A importância do nitrogênio (N) como elemento poluidor presente nos dejetos de animais é limitada a ocasionar aumento nos gases de efeito estufa e prejuízo à camada de ozônio. c) Dejetos de bovinos leiteiros têm maior capacidade de produção de metano do que dejetos de bovinos de corte. Ao mesmo tempo, de- jetos de bovinos de corte e de leite produzem mais metano do que dejetos de suínos. d) O termo “dejeto” é utilizado para descrever a urina e as fezes dos animais, mais a cama utilizada (que escoa junto da urina e fezes), o desperdício da água de consumo pelos bebedouros, a água da lava- gem das instalações, o alimento desperdiçado e os pelos. Questão 3 Sobre os métodos de racionalização do uso da água na bovinocultura lei- teira, assinale a alternativa correta. a) O produtor deve optar pela lavagem em fluxo de água contínuo, que é preferencial à limpeza a seco, pois a água de lavagem será apro- veitada para a diluição dos dejetos que serão tratados. b) A captação da água da chuva é um processo simples, que tem o ob- jetivo de direcionar a água dos telhados diretamente para a diluição dos dejetos e a limpeza dos pisos das instalações. c) O número de animais confinados e a quantidade de água desper- diçada e usada para limpeza e no transporte dos dejetos são fato- res que influenciam na quantidade de águas residuárias geradas na criação. d) As águas de reúso podem ser utilizadas para a lavagem de pisos, nas tubulações de dejetos, na sala de ordenha e lavagem de equi- pamentos. Propriedades que utilizam água de reúso podem econo- mizar até 40% de água. _Hlk10806751
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