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Função endócrina do tecido adiposo e o músculo esquelético O TECIDO ADIPOSO Tradicionalmente, o tecido adiposo é reconhecido enquanto uma estrutura armazenadora de energia por ser composto de triglicerídeo, cuja cadeia estrutural organiza-se pela presença de três ácidos graxos e uma molécula glicerol; tem como função o fornecimento de energia a outros tecidos, respondendo a demandas energéticas da via metabólica oxidativa, o isolamento térmico e a proteção de órgãos vitais contra choques e lesões traumáticas. Não aleatoriamente, esse tecido se localiza na porção visceral e subcutânea do corpo. Contudo, para além disso, o tecido adiposo tem sido largamente entendido como funcionalmente endócrino, sobretudo depois da descoberta da leptina (1994). Foram identificadas interações hormonais e metabólicas das quais o tecido adiposo é integrante. Não é, portanto, equívoco classificá-lo como um órgão endócrino. Ele secreta colesterol e ácidos graxos, este em decorrência da hidrólise do triglicerídeo, além das adipocinas. SÃO FUNÇÕES DO TECIDO ADIPOSO Fornecimento de energia (em jejuns prolongados e exercícios prolongados) Isolamento térmico e proteção de órgãos vitais contra choques e lesões traumáticas Interações metabólicas e hormonais LOCALIZAÇÃO DO TECIDO ADIPOSO: localização visceral e subcutânea para melhor desempenhar suas funções. DA FUNÇÃO ENDÓCRINA DO TECIDO ADIPOSO O tecido adiposo participa liberando para a corrente sanguínea algumas de suas substâncias não-lipídicas, denominadas adipocinas, as quais são produzidas pelos adipócitos (ou células adiposas). QUAIS SÃO AS ADIPOCINAS? Fonte:Ferreira e Lunz (2020)* CONHECENDO AS ADIPOCINAS Quantitativamente, os adipócitos produzem poucas adipocinas. Mesmo assim, uma vez que esse tecido é o maior do corpo, essa pequena quantidade já é considerável para causar impacto em diversas funções corporais, tais quais o controle de ingestão alimentar, o balanço energético, a sensibilidade à insulina, dentre outras. Algumas das adipocinas são citosinas, ou seja, mediam comunicação intracelular e transmitem informações às células-alvo pelo estabelecimento de interações com seus respectivos receptores. Vê-se: algumas das adipocinas são citosinas. Grosso modo, nem toda adipocinas é citosina. “Adipocina é um termo universal adotado para descrever a proteína que é secretada (e sintetizada) pelo tecido adiposo, sendo esta proteína uma citocina ou não.” (Trayhurn e Wood APUD Prado et al. 2009) Para melhor visualização da ideia: A QUAIS ADIPOCINAS DEVO DAR MAIS ATENÇÃO? Dessas adipocinas, adiponectina e leptina são as mais abundantemente produzidas nas células adiposas e participam de processos inflamatórios. Além dessas duas, o fator de necrose tumoral alfa (TNFα) e a interleucina 6 (IL-6), ambas citosinas, também se destacam porque, da mesma forma, têm participação nos processos mencionados. Todas essas ressaltadas têm ação sobre o tecido muscular esquelético. Por isso, serão analisadas e explicadas. MAS ANTES... O QUE É PROCESSO INFLAMATÓRIO? O processo inflamatório, ou simplesmente inflamação, pode ser definido como a reação imunológica do organismo contra elementos estranhos. Ele ocorre em diversas etapas e conta com a participação das citosinas, as quais podem ser secretadas por diferentes tipos de células, não se restringindo às de imunidade. As reações ao processo podem ser duas: pró-inflamatória ou anti-inflamatória. E ambas são esperadas no que tange às adipocinas que, embora sejam produzidas e secretadas pela mesma estrutura (adipócito), apresentam diferentes modos de atuação. Na obesidade, por exemplo, patologia relacionada a um processo inflamatório crônico, todas as adipocinas atuam de forma pró-inflamatória, diferente da adiponectina. TECIDO ADIPOSO E MÚSCULO ESQUELÉTICO As interações metabólicas entre os tecidos adiposo e muscular esquelético se dão a partir da secreção de substâncias que afetam-nos, concomitantemente. Qualquer alteração num desses tecidos afeta o outro através da atuação do mediador. De forma semelhante ao tecido adiposo, o tecido muscular esquelético também se comporta como um órgão endócrino, liberando moléculas que caem na corrente sistêmica e atuam sobre outros tecidos, como é o caso do tecido adiposo. A regulação massa livre de gordura x massa de gordura é dada pelas moléculas mencionadas ao longo do exposto: leptina, IL-6, TNFa e adiponectina. A ADIPOCINA ANTI-INFLAMATÓRIA... Alta concentração de adiponectina Ocorrência de patologias Baixa concentração de adiponectina Inibição do desenvolvimento Ela é a adipocina mais abundante e está envolvida na resposta anti-inflamatória de diversas patologias associadas ao sistema imune. Essa ação, aliás, está relacionada com as concentrações de citosinas pró-inflamatórias. Isso quer dizer que as concentrações e IL-6 e TNFα influenciam-na. E é válido ressaltar que TNFα e adiponectina se inibem mutuamente. No musculo esquelético, a adiponectina aumenta a sensibilidade à insulina. Ela aumenta a oxidação de ácidos graxos e a captação e utilização de glicose pelo músculo esquelético. Em patologias relacionadas a processo inflamatório, a concentração de adiponectina é reduzida. Supõe-se que a expressão de RNAm dessa proteína é diminuída quando é elevada a concentração do fator de necrose tumoral alfa (TNFa). LEPTINA, ADIPOCINA PRÓ-INFLAMATÓRIA A leptina é uma o fator de sinalização do eixo cérebro-tecido adiposo e confere, devido a isso, a sensação de saciedade, de menos fome, o que leva à redução da massa corporal. Além disso, inibe a secreção de insulina pelas células beta-pancreáticas. O papel da insulina na obesidade é direto. Se não há sinalização da leptina, vai haver obesidade no humano. Isso quer dizer que a concentração de leptina apresenta correlação direta e positiva com o percentual de gordura. Nas fibras musculares, a leptina tem papel central na homeostase energética celular. Ela aumenta a atividade da enzima adenosina monofosfato (AMPK), a qual visa manter o equilíbrio entre ATP e ADP dentro da célula; ela oferece equilíbrio fisiológico. Além disso, diversos processos intracelulares também estão associados à leptina, como a beta-oxidação dos ácidos graxos, a utilização da glicose e a biogênese de GLUT-4, o qual transporta glicose para dentro do músculo durante o esforço. FATOR DE NECROSE TUMORAL ALFA (TNF-α), PRÓ-INFLAMATÓRIA O TNFα é a adipocina autócrina e parácrina do tecido adiposo, não sendo, portanto, secretado para a corrente sanguínea. Essa substância é importante na regulação do processo de acúmulo de gordura nos adipócitos. Seu efeito sistêmico é a lipólise (quebra da gordura). Enquanto sua concentração apresenta relação inversa com a concentração de adiponectina, o fato é o contrário no que diz respeito à leptina. Quando sua concentração está elevada, a de leptina também aumenta e realiza suas funções. Então, pode-se dizer que, indiretamente, o TNF tem relação com a ingestão alimentar e com a termogênese. Essa substancia é per se pró-inflamatória e conduz à resistência à insulina. Por isso, atrapalha o metabolismo da insulina, o que reduz a translocação da GLUT-4 e a consequente diminuição da captação de glicose para dentro da célula. Ela conduz à degradação miofibrilar, perda de massa muscular e induz a apoptose celular nas fibras do músculo esquelético. INTERLEUCINA-6 (IL-6) O IL-6 é uma citosina sintetizada tanto pelos adipócitos quanto pelos miócitos. Sua concentração aumenta conforme a quantidade de massa de gordura e está relacionada à supressão da leptina e redução da biogênese do GLUT4 transportador de glicose para o meio intracelular. Entre as miocinas (citosinas das fibras musculares), IL-6 se destaca entre as liberadas durante o exercício físico. Dada a contração muscular, sua liberação é ativada. No tecido adiposo, esse aumento da expressão da interleucina leva à oxidação dos lipídios. “[...] a superativação de um dos tecidos pode promover atrofia ou diminuição da atividade no outro. Por exemplo, na obesidade, o aumento da massa gorda geralmente está associado com a relativa diminuição da massa magra e com a mudança da composição do tipo de fibra muscular. Por sua vez, o exercício físico está normalmente associado com a redução da massa gorda, tendo importante efeito terapêutico para o tratamento da obesidade.” (LUNZ, W. GUIMARÃES, L. et al, 2020) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PRADO, W. L; LOFRANO, M. C; OYAMA, L. M; DÂMASO, A. R. Obesidade e Adipocinas Inflamatórias: Implicações Práticas para a Prescrição de Exercício. Rev Bras Med Esporte – Vol. 15, No 5 – Set/Out, 2009 LIRA, C. A. B; LEOPOLDO, A. P. L; FERREIRA, L. G; DA CUNHA, M. R. H; ANDRADE, M. S; VANCINI, R. L. Interações metabólicas e hormonais entre o tecido adiposo e o músculo estriado esquelético. In: Tópicos em fisiologia e bioquímica com ênfase no exercício e treinamento físico. FERREIRA, Lucas Guimarães; LUNZ, Wellington e org. Vitória: EDUFES, 2020. 10-21 ISBN: 978-65-88077-07-8
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