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1 Logística Reversa e Economia Circular Unidade I Dr. Edmir Kuazaqui APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR Doutor e mestre em Administração. Pós-graduado em Marketing e bacharel em Administração com habilitação em Comércio Exterior. Coordenador e professor de MBA's em Administração Geral, Marketing internacional e Formação de Traders, Pedagogia Empresarial, Gestão de Pessoas na Era Digital: Desafios e Oportunidades, Compras, Marketing, Startups: Marketing e Negócios, Comunicação e Jornalismo Digital e Comércio Exterior. Consultor Presidente da Academia de Talentos, empresa especializada em marketing, consultoria e treinamentos. Coordenador do Grupo de Excelência em Relações Internacionais e Comércio Exterior do Conselho Regional de Administração (CRA/SP). Autor de livros. Sumário INTRODUÇÃO ................................................................................................. 4 1. LOGISTICA REVERSA: UMA NECESSIDADE CONTEMPORANEA DAS EMPRESAS ........................................................................................................ 5 1.1 POLÍTICA NACIONAL DE RESIDUOS SÓLIDOS (PNRS) .................... 5 1.2 RECICLAGEM ....................................................................................... 15 2. LOGÍSTICA REVERSA ......................................................................... 16 2.1 APROFUNDANDO O CONCEITO DE LOGÍSTICA REVERSA............ 17 2.2 A LOGISTICA REVERSA SOB O PONTO DE VISTA GLOBAL .......... 21 2.3 LOGISTICA REVERSA: UMA DISCUSSÃO SOB O PONTO DE VISTA LEGAL 24 3. O FUTURO DA LOGÍSTICA REVERSA E RECICLAGEM NO BRASIL 26 4. CONCLUSÕES ..................................................................................... 28 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 29 4 INTRODUÇÃO Em ambientes altamente competitivos e com recursos cada vez mais escassos, a logística reversa (ou logística inversa) e a economia circular são importantes fatores que as empresas devem considerar ao desenvolver as suas estratégias de negócios. Mais do que a sobrevivência da empresa e de seus negócios, implica principalmente no equilíbrio entre as boas relações com o mercado consumidor e interno, bem como na manutenção do ambiente onde a empresa está inserida. A empresa deve, então, ter uma visão sistêmica e mais ampla, de forma a atender todo a Cadeia e Sistema de Valores. Com o desenvolvimento da sociedade, as empresas e pessoas tiveram acesso a comodidades, bem como problemas. O aumento do consumo por parte da população gerou a necessidade das empresas se tornarem mais competitivas e, ao mesmo tempo, na geração de resíduos, constituído pelo lixo industrial e de consumo, bem como das sobras do processo de produção. Quadro I – Estrutura das apostilas de Logística Reversa e Economia Circular Apostila 01 Apostila 02 Importância da Logística Reversa. Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Reciclagem. Logística. Reversa sob o ponto de vista global e legal. O futuro da logística reversa e reciclagem no Brasil. Objetivos de Desenvolvimento Sustentado. Triple Bottom Line. Importância da Economia Circular Consumo Consciente. Educação. Desafios e Oportunidades. Fonte: Autor (2020). E é disso que trata esta apostila, onde contextuaremos toda a problemática de se obter o crescimento sustentado e atender de forma pontual as diferentes demandas de consumo por bens, mas com um olhar nas relações econômicas conjugadas com as questões ambientais e sociais. Ótima leitura!!! 5 1. LOGISTICA REVERSA: UMA NECESSIDADE CONTEMPORANEA DAS EMPRESAS O ambiente de negócios é definido como um sistema complexo de stakeholders que tem autonomia quanto às suas decisões, mas com especial cuidado com as suas consequências e impactos neste mesmo ambiente, pois fazem parte de um sistema complexo de relacionamentos. Todos são afetados pelas ações das empresas. Uma das grandes preocupações está no fato de que a empresa, para bem desenvolver as suas ações, deve entender que utiliza recursos escassos, considerando o conceito de planejamento estratégico. Esses recursos são fruto de processos de produção e, como tal, incidem sobre o ambiente de negócios e o meio ambiente. Neste último caso, uma das consequências diretas é a geração de descarte de resíduos sólidos e líquidos e lixo, ou seja, os detritos residuais se qualquer processo de fabricação, bem como das atividades e tarefas relacionadas a serviços aos serviços prestados. Como exemplo, temos uma indústria automobilística que possui uma fábrica (montadora) para a administração, fabricação e montagens de automóveis, que ocupa o espaço que é destinado aos estoques de insumos de produção como a matéria- prima, serviços e similares, a produção em si e armazenamento, que consomem recursos como energia e água. Portanto, um dos pontos principais é a otimização na aquisição e uso de recursos, onde por meio de planejamento estratégico, tático e operacional, é possível utilizar os recursos de forma mais racional, equilibrando as necessidades do mercado com o da empresa. Outro ponto é como o descarte e lixo são realizados, onde, porquê e como serão descartados e, desta forma, tentar descobrir meios para que a empresa possa racionalizar os processos e reduzir os possíveis impactos no ambiente onde a empresa está inserida. Daqui então surge os conceitos da logística reversa e economia circular. 1.1 POLÍTICA NACIONAL DE RESIDUOS SÓLIDOS (PNRS) Para entender melhor a importância do assunto, têm-se de discutir a sua obrigatoriedade no sentido de atender o ambiente de negócios onde a empresa está inserida e de uma forma mais ampla, de toda a sociedade, constituída por pessoas e empresas. Embora ninguém discuta a sua importância, o assunto é parcialmente desconhecido pelas empresas, incluindo o que é, importância, instrumentos e aplicações que, em conjunto, contribuem significativa para os negócios da empresa e para esta sociedade como um todo. Uma das mais importantes variáveis macro ambientais, em conjunto com as de ordem econômica, demográfica, geográfica e tecnológica, reside no atendimento do meio ambiente e no Brasil, a legislação ambiental envolve a Política Nacional de 6 Resíduos Sólidos, que influencia diretamente no planejamento, estruturação e gestão de negócios de qualquer empresa situada no país. Mas, afinal, o que são resíduos sólidos? Entende-se pelos resíduos sólidos os originados de domicílios brasileiros (lixo doméstico), industrias (lixo industrial) e outros resíduos classificados como perigosos como os que trazem toxicidade e corrosão, excluindo os de origem radioativa, que tem uma legislação própria e descartes bem específicos. Figura I – Ciclo dos Resíduos Sólidos. Fonte: SAAE (2020). Embora o ponto essencial reside no planejamento e gestão de recursos de forma a otimizar o seu uso e encontrar formas corretas de realizar o descarte, nem sempre isso é possível, pois nem todas as empresas e gestores possuem conhecimentos, experiências e interesses para a realização de todo esse processo. Conforme a figura anterior, um dos pontos fundamentais é incorporar os processos de reciclagem em todos os processos de aquisição, produção e comercialização, incluindo os transportes até o consumidor final. Um dos principais impactos mais diretos reside no recebimento de resíduos sólidos nos aterros sanitários. Foi criada em 2010 a partir da Lei Federal no 12.305/2010 com o objetivo principal de reduzir o volume de resíduos sólidos para os lixões e aterros de todo o país. Mais do que tentar reduzir a possibilidade e escassez futura de recursos (produtivos e aqueles originados do meio ambiente), a partirda melhor utilização de matéria-prima no presente, influencia todas as decisões políticas e econômicas da 7 sociedade e até aqueles relacionados à saúde pública, pois os destinos de lixo se constituem como possíveis focos de ameaças à saúde da população. Qualitativamente, embora esse processo de descarte seja um conjunto de normas e diretrizes que visam adequar a empresa no presente e com as perspectivas de um futuro bem melhor, permite com que se desenvolva na empresa um conjunto de conhecimentos técnicos e humanos, que alicerçam competências que se constituem como vantagem competitiva e com uma imagem favorável aos stakeholders da empresa. Em outras palavras, a empresa obtém uma qualidade melhor daquela anterior à implantação do processo de gestão de resíduos. A PNRS está diretamente relacionada à destinação de resíduos sólidos e é o resultado de inúmeras discussões, pesquisas, interpretações e análises que envolveram o governo, as instituições governamentais e de cunho ambiental e de classe, empresas e pessoas tendo, a cada momento, novas descobertas, conhecimentos e aplicações. Trata-se de um processo dinâmico e que tem como objetivo principal a gestão integrada de resíduos sólidos no Brasil e, consequentemente, a redução da degradação ambiental. Pode-se afirmar, conforme comentado, que uma das principais razões para a criação de leis e normas reside na área de saúde pública. O lixo, produzido por empresas e pessoas pode gerar uma série de impactos relacionados à saúde, como a poluição, que contribui para a geração de um ambiente propicio para a proliferação de bactérias e respectivas doenças. Outro ponto é a contaminação da água pelos resíduos sólidos e líquidos, seja pelo descarte inapropriado, bem como a possibilidade de contato com mananciais e fontes de água. A coleta e descarte do lixo sólido e liquido resulta em grandes responsabilidades e custos públicos crescentes, onde o governo é cada vez mais onerado e sempre em condições de suprir todas as situações envolvidas. Esse processo, em termos práticos, não tem a capacidade de gerar receitas que seriam revertidas para a própria sociedade. Após o aumento da produção, iniciada pela Revolução Industrial, houve o aumento de consumo a partir de maior oferta, o que gerou em descartes cada vez maiores. Esse problema não é somente brasileiro, mas de ordem global. Os aterros e lixões se mostraram historicamente como formas ineficientes para o recebimento cada vez maior de resíduos, ocorrendo em alguns casos a degradação ambiental. A preocupação era tão grande que em 1975 a União Europeia definiu as diretrizes do Plano de Gestão de Resíduos Sólidos Europeu, que serviu como inspiração para PNRS brasileiro. Ressalta-se que temos nos casos de aterros o local, que poderia ser utilizado para outros fins mais apropriados, bem como na destinação de recursos econômicos e financeiros para a sua manutenção. Os responsáveis diretos pela destinação do lixo são todos aqueles envolvidos no Ciclo de Vida do Produto (CVP), ou seja, aqueles que fazem parte da elaboração e desenvolvimento de um produto, como os fornecedores de matéria-prima, as indústrias, os distribuidores, aqueles que os comercializam, bem como os seus 8 consumidores, cada qual com responsabilidades individuais, mas também de forma compartilhada. Em outras palavras, ao fabricar um automóvel, por exemplo, todos têm responsabilidades individuais, embora diferentes, sobre os resíduos gerados em cada fase. E todos possuem responsabilidades compartilhadas sobre o produto final. Esse compartilhamento permite com que as empresas possam contribuir dentro de suas responsabilidades e, ao mesmo tempo, influenciar as práticas de outros níveis da cadeia de valor do produto e, com isso, criar e desenvolver o que chamamos de ciclo virtuoso de negócios. Figura II – Responsabilidades individuais e compartilhada Fonte: Autor (2020). Conforme a figura, o fabricante pode realizar o descarte utilizando os instrumentos da logística reversa e/ou mesmo, na sua impossibilidade, de recorrer à coleta seleta de lixo. Essa coleta seletiva de lixo envolve a devolução, quando possível, daquele item que não estava adequado para uso, bem como que sofreu algum dano no processo de sua entrega. Já o consumidor, tem como alternativa direta a coleta seletiva de lixo. Neste caso, a educação e a conscientização são fatores essenciais para que se realize esse processo. Percebe-se a necessidade de simbiose entre empresas e consumidores, pois um não existe sem o outro. Desta forma, temos uma visão mais sistêmica e que geram resultados mais amplos. Além desses responsáveis, outros stakeholders foram se incorporando no decorrer do tempo e do desenvolvimento da sociedade, envolvendo desde a homologação da lei, incorporando os importadores, que são responsáveis pelas embalagens de transporte, bem como da sua logística reversa. Não é possível enquadrar todas as situações para que haja o descarte de acordo com as práticas politicamente corretas e de acordo com o PNRS. Fornecedores de matéria-prima e insumos Empresa Fabricante Canais de Distribuição Física Consumidor Final Logística Reversa Coleta seletiva Coleta seletiva Coleta seletiva Coleta seletiva 9 Figura III – Programa Nacional de Resíduos Sólidos). Fonte: ECycle (a) (2020). Existem, entretanto, os seguintes instrumentos gerais, conforme a Presidência da República (2020) a serem atendidos e, por vezes, adaptados para cada situação e setor econômico: I - Os planos de resíduos sólidos; II - Os inventários e o sistema declaratório anual de resíduos sólidos; III - A coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras ferramentas relacionadas à implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; IV - O incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; V - O monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária; VI - A cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado para o desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos, processos e tecnologias de gestão, reciclagem, reutilização, tratamento de resíduos e disposição final ambientalmente adequada de rejeitos; VII - A pesquisa científica e tecnológica; VIII - A educação ambiental; IX - Os incentivos fiscais, financeiros e creditícios; X - O Fundo Nacional do Meio Ambiente e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; 10 XI - O Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir); XII - O Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa); XIII - Os conselhos de meio ambiente e, no que couber, os de saúde; XIV - Os órgãos colegiados municipais destinados ao controle social dos serviços de resíduos sólidos urbanos; XV - O Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos; XVI - Os acordos setoriais; XVII - No que couber, os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, entre eles: a). Os padrões de qualidade ambiental; b) O Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais; c) O Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; d) A avaliação de impactos ambientais; e) O Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima); f) O licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; XVIII - Os termos de compromisso e os termos de ajustamento de conduta; XIX - o incentivo à adoção de consórcios ou de outras formas de cooperação entre os entes federados, com vistas à elevação das escalas de aproveitamento e à redução dos custos envolvidos. Percebe-se a complexidade e a amplitude, que se os procedimentossejam devidamente respeitados e que haja o alcance das ações por parte das empesas. Mais do que isso, preconiza-se mais do que o atendimento para suprir questões relacionadas ao econômico, que sejam cumpridas de forma a se tornar como cíclico a preocupação com o meio ambiente e a saúde em geral da população. Essa visão sistêmica permite um novo dimensionamento dos objetivos de uma empresa, bem como propiciar um novo olhar sobre o mundo em que convivemos e que devemos contribuir. A coleta seletiva de lixo se refere à coleta seletiva entre o que pode ser reciclado ou não. Desta forma, é de praxe a coleta de resíduo sólido, seco e orgânico, que pode ter outras destinações como a compostagem e adubagem. Os recicláveis estão representados principalmente por categorias como papel e plástico, amplamente utilizados na nossa sociedade moderna. Sobre a Logística Reversa e Coleta Seletiva de Lixo, o ponto inicial é a coleta seletiva de resíduo, onde é realizada a coleta e a seleção dos resíduos e retorná-los para o início da cadeia produtiva e posterior processo de reciclagem e/ou reaproveitamento. 11 Figura IV – Coleta Seletiva de Lixo. Fonte: BLOG DA DESCARTE LEGAL.COM (2020). Essa visão sistêmica indica a complexidade e necessidade de gestão, inclusive a financeira, pois as empresas participantes devem arcar com os custos provenientes do deslocamento físico e processo de reciclagem, bem como, se não for de direta responsabilidade, a adoção da terceirização como apoio e/ou mesmo a utilização de cooperativas. Além da coleta seletiva de lixo, deve-se entender a importância da retirada deste lixo já separado. As empresas geradoras de lixo podem arcar com os custos da retirada, porém é de maior responsabilidade da área pública a retirada, transporte e descarte. Neste aspecto, o incentivo ao desenvolvimento de cooperativas é essencial para que o processo se realize da melhor forma e a remuneração dessas cooperativas reside na reciclagem e posterior devolução dos insumos à cadeia produtiva. O processo de reciclagem pode ser realizado pela empresa e/ou cooperativas. Deve-se, à princípio, realizar uma análise de custo-benefício, onde a empresa deve incorporar ao seu custo o valor do processo de reciclagem ou a presença de cooperativas de reciclagem, que envolve um custo marginal para a área pública. Desprovidas de status, as cooperativas devem receber melhor estrutura e condições para a realização das atividades cooperadas. Outro ponto fundamental reside nos acordos setoriais e respectivos termos de compromisso. Esse termo estabelece direitos, deveres e responsabilidades entre as partes intervenientes 12 Figura V – Cooperativas. Fonte: CAMAÇARI (2020). Para que os resultados do PNRS se materialize, é fundamental; os acordos setoriais entre o Poder Público e a iniciativa privada, de forma a padronizar e normatizar as ações necessárias por meio deste termo de compromisso entre as partes interessadas. Na existência de lei especifica, acordos setoriais e termos de responsabilidades pactuados, é necessária a fiscalização frequente. Para se obter os resultados esperados a partir da utilização dos instrumentos, é necessária a fiscalização do que está sendo executado conforme os critérios e padrões pré-estabelecidos. Envolve a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária. Como processo formal, envolve o monitoramento e sua frequência têm aumentado nos últimos anos, em decorrência da isonomia dos órgãos fiscalizadores para todos aqueles responsáveis pelo CVP, como no caso da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), que só possibilita a renovação da licença ambiental para as empresas sediadas no estado mediante a comprovação de seu processo de logística reversa. 13 Figura VI – CETESB. Fonte: CETESB (2006). Uma das questões a serem atendidas é que as empresas devem observar o que deve ser realizado, critérios a serem atendidos e a formalização junto às entidades fiscalizadoras do seu cumprimento. Inicialmente, para um melhor entendimento, podemos categorizar os resíduos de acordo com o seu impacto: o pós-industrial e os pós consumo. Figura VII - Categorias de resíduos de acordo com os seus impactos. Fonte: Autor (2020). Pós-Industrial: Consumidor Final Fornecedores de matéria-prima e insumos PNRS Orgão regulador e fiscalizador Logística Reversa Coleta Seletiva Pós Industrial Pós Consumo 14 Se refere a todas as sobras decorrentes do processo de fabricação e finalização de um produto, como aparas de plásticos e papel, restos de alimentos, entre outros dependendo da empresa e do setor econômico onde ela está inserida. Deve-se tomar a devida atenção e cuidados às sobras decorrentes de materiais corrosivos e contaminantes, não biodegradáveis e combustíveis e que cause algum tipo de impacto ambiental. Os resíduos devem ser recolhidos por empresas que possuam o Atestado de Movimentação Residual, conforme definido em cada estado. Em São Paulo, conforme já comentado, o órgão regulador e fiscalizador é a CETESB. Como exemplo, temos o caso do McDonald’s (REVISTA GLOBO RURAL, 0/06/2010). A rede de franquias tem utilizado milhões de litros de óleo de cozinha para o preparo de seus lanches. O resíduo, que já era utilizado para a fabricação de sabão, começou também a se transformado em biodiesel, para atender os tanques que fazem a entrega de matéria-prima. Além disso, a rede tem todo um conjunto de tarefas que sustentam a coleta seletiva de resíduos sólidos no processo de fabricação do que comercializa. Envolve pesquisas e ações lideradas pela Arcos Dourados (proprietária da franquia no Brasil), Martin-Brower (logística e distribuição da rede) e outras parcerias com a Volkswagen, Shell, Termo King, SP BIO, Tiête Caminhões e ônibus, MWM International, Cummins, Tek Diesel e Ativos Técnicos e Ambientais (ATA). Pós Consumo: Existem os resíduos que sobram após o consumo, como as embalagens. Estas devem estar inseridas dentro dos processos de logística reversa e contempladas no acordo Setorial e o Termo de Compromisso. No geral, as embalagens são descartadas pelos consumidores e preferencialmente na coleta seletiva de lixo. Por outro lado, existem casos como embalagens de vidro que devem ser descartadas em locais apropriados e higienizados e/ou mesmo reprocessados por terceiros. Um dos casos bastante discutidos se refere na atualidade das pilhas e baterias, bem como de canudos de plásticos e similares. Seguindo o mesmo exemplo, os clientes da rede de franquias do McDonald’s descartam as sobras do que consumiram em caixas coletoras de seleção de lixo, divididos em recicláveis e orgânicos. Os custos para manter os órgãos fiscalizadores públicos têm aumentado exponencialmente, proporcionalmente ao crescimento também do lixo. Devem-se, portanto, procurar formas públicas e privadas para contornar a situação dos resíduos, onde faça parte de uma política nacional de ações mais coordenadas. Como citação desta necessidade, nem todas as áreas do país possui condições financeiras, estruturais e/ou mesmo de conhecimentos para a coleta seletiva deste lixo, entidades que podem realizar a reciclagem e nem locais apropriados para o descarte. Portanto, isso não implica somente nas lixeiras para a coleta dos resíduos sólidos e secos, mas também de uma estrutura pública, semi-pública e privada, para providenciar que os processos e tarefas sejam atendidas e se dar a destinação correta 15 do que for coletado. Daí a importância de se entender a logística reversa de forma mais sistêmica e como necessidade contemporânea. 1.2 RECICLAGEM Conforme o Ministério do Meio Ambiente (2020), a reciclagem é definida como “um conjunto de técnicas de reaproveitamento de materiais descartados, reintroduzindo-os no ciclo produtivo.” A reciclagem pode ser um comportamento que seja de direta responsabilidade de uma empresa, porém quando envolvemos a sociedade, passa a ser também, a responsabilidade, compartilhada com as entidades públicas. Trata-se de uma situação vantajosa sob os pontos de vista ambiental, social e econômico, pois reduz o consumo de recursos naturais, economiza água e energia e diminui o volume de lixo. Sob o ponto de vista econômico, existe a geração de trabalho e renda, que garante parte das atividades de um país. Conforme a TVBRASIL (2013), existe em média 400 mil pessoas que vivem direta e indiretamente dos processos de reciclagem no Brasil. É irrefutável a importância econômica e de inserção social da atividade no cenário econômico nacional. As cooperativas geralmente são constituídas por pessoas de baixa renda, que talvez não tivessem outras oportunidades para obter uma remuneração e atender as suas necessidades mais básicas. Figura VIII - Reciclagem Fonte: PORTAL DO PROFESSOR (2020). 16 O processo de reciclagem gera milhares de empregos diretos, concentrados nas cooperativas de tratamento e dos catadores de lixos, geralmente são coletadas garrafas pets, vidros, latas de alumínio, papel e papelão. De acordo com a AgênciaBrasil, o país produziu 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos em 2018. Conforme o Ministério do Meio Ambiente (2020), cerca 30% de todo o lixo gerado é reciclável. Entretanto, nem todo esse percentual é realmente objeto do processo de reciclagem. Dentre as diferentes razões para essa situação, nem sempre o descarte é realizado dentro das devidas condições exigidas; por outro lado, a cooperativa não tem acesso ao que é descartado, bem como não é possível o aproveitamento de tudo o que foi coletado, em virtude de limitações físicas e humanas, além de possível falta de demanda para a aquisição do que foi reciclado. É de responsabilidade de todos a solução dos problemas gerados pelo descarte de resíduos sólidos. Entretanto, conforme Juras (2000, p. 6), é do nível municipal a responsabilidade do tratamento do lixo local. Uma das soluções é o incentivo para a redução da geração de lixo, melhoria do aproveitamento dos resíduos sólidos e a implantação de um sistema mais eficiente, tanto sob a ótica da área pública, bem como da área privada. Conforme comentado, trata-se de assunto de ordem pública. Entretanto, empresas podem contribuir para que os impactos ambientais e sociais não se materializem. 2. LOGÍSTICA REVERSA Para que a logística reversa seja implementada e desenvolvida na empresa, esta deve estar devidamente estruturada de forma a ter os processos devidamente identificados e mensurados e, consequentemente, passível de gerenciamento, controle e avaliação. Figura IX – Logística Reversa Fonte: Diário do Nordeste (2020). 17 Destaca-se na logística reversa às referentes as embalagens. Entretanto outros segmentos e situações também estão presentes, de forma a envolver todos os setores econ6omicos do país. As empresas que comercializam pneumáticos, embalagens, óleos lubrificantes, pilhas e baterias já adotam comportamentos relativos à logística reversa antes da PNRS. Após, a mesma PNRS definiu e normatizou as principais diretrizes para outros tipos de materiais que impactavam o meio ambiente, as empresas e a sociedade como um todo, como nos casos de embalagens plásticas que envasam os óleos lubrificantes, lâmpadas fluorescentes, eletrônicos e resíduos de medicamentos e respectivas embalagens. Neste último caso, infelizmente ainda não existe um descarte consciente de restos de medicamentos e respectivas embalagens por parte do consumidor final, no processo de pós-consumo. 2.1 APROFUNDANDO O CONCEITO DE LOGÍSTICA REVERSA Num primeiro momento, trata-se de uma estratégia que visa a reciclagem de materiais no pós-consumo, ocorrendo a devolução pelo canal produtivo e posterior reutilização. Temos como exemplos a reciclagem de lâmpadas, latas de refrigerantes, pneus, papel e similares. Conforme explicado, ao invés de percorrer pelo canal de consumo e ser descartado no percurso, o resíduo é devolvido para os fabricantes originais ou empresas especializadas em reciclagem. Com a necessidade de empresas obterem a competitividade necessária, a abertura de mercado aos cenários internacionais, o aumento do custo país e consumidores à espera de diferenciais competitivos naquilo que geralmente consomem, destaca-se a preocupação com o meio ambiente e a preocupação com o próximo. Figura X – Reciclagem: Coleta Seletiva. Fonte: Coradin Ferro e Aço (2020). 18 Cabe ao processo da logística reversa propiciar para as empresas: Reciclar os materiais, de forma a adquirir uma nova forma. Os plásticos podem ser reciclados por meio de granulação, por exemplo, de forma a se tornar a matéria-prima principal para outras embalagens em diferentes formatos. Reaproveitar os produtos, voltando a utilizá-las com as mesmas destinações. As embalagens de vidro, como as garrafas de refrigerantes, devem ser higienizadas e reutilizadas com as mesmas finalidades. Remanufaturar os produtos, reformando e retornando ao estado original por meio de técnicas especificas de cada fabricante, como no caso de moveis de luxo. Recondicionados e/ou recauchutados, sofrendo consertos, adaptações e as adequações necessárias, mas com qualidade considerada inferior, como no caso de pneus. Transformar os produtos, modificando o seu uso de um estado para outro, como no caso de um container destinado para transporte e para uma estrutura de parte de um imóvel. Existem casos de containers que se transformaram em restaurantes. Nesta perspectiva, a logística reversa surge como forma de se obter esse diferencial competitivo e, ao mesmo tempo, a agregação de valor econômico, mas dentro de parâmetros legais e também mercadológicos. O ponto de partida é a redução de custos. Neste aspecto, a empresa deve avaliar o custo de todo o processo de reaproveitamento de resíduos sólidos, absorvendo os custos pela empresa ou realizando o processo por meio de terceirização. A Cadeia de Valores de Porter (1990) apresenta de forma direta as áreas internas da empresa industrial, cada qual estruturadas e que atendem necessidades especificas organizacionais, que, ao mesmo tempo, se complementam entre as outras áreas. Em conjunto, servem como áreas transformadoras para a entrega de valor ao consumidor da empresa, além da identificação de aspectos operacionais que servem como base para a formação de preços e consequente margem de lucro. Diretamente na logística reversa, a partir da análise da referida cadeia, é possível identificar como os processos de aquisição, estocagem, transformação e saída se processem, de forma a entregar o bem de forma otimizada ao consumidor final. 19 Figura XI - Cadeia de Valores de Porter. Fonte: Porter (1985). Deve ser realizada a análise dos processos internos derivados das áreas, de forma a identificar e eliminar os possíveis gaps nas áreas e entre elas. Num segundo momento, se procede o processo de transformação e as possíveis perdas e a existência de resíduos, razões e como implementar e providenciar a logística reversa na empresa, para a empresa e seus parceiros internos e externos. Os parceiros externos, como as empresas que fazem parte do ambiente de negócios devem contribuir para a materialização dos resultados das ações de logística reversa. Como exemplo de parceiro externo, temos as transportadoras, que contribuem para a composição e realização da distribuição física de bens, e como uma forma de devolução pelo mesmo canal de distribuição. Jayaraman, Patterson e Rolland (2003) afirmam que envolve o processo de planejamento, implementação, controle do fluxo de produtos acabados e suas respectivas informações, acrescidos da logística reversa, derivandodaí a teoria do CVP já mencionada nesta apostila e dentro do conceito das responsabilidades compartilhadas, do ponto de pós consumo até sua referida origem. Todo esse processo reverso tem por finalidade a recaptura do valor econômico do produto. Gonzalez-Torre, Alvarez, Sarkis e Adenso-Diaz (2010) afirmam que a logística reversa ainda tem encontrado ainda diversas barreiras, tanto no seu conhecimento, bem como a adesão sua implementação. Por vezes, a percepção é que houve erros em alguma parte do processo produtivo e respectiva gestão, bem como no conhecimento mais profissional dos ganhos em detrimentos aos possíveis e nem sempre reais altos investimentos 20 financeiros de sua utilização. Outro fator preponderante é a falta de interesse e descompromisso quanto às relações ambientais. Tem como objetivos essenciais a reintegração da matéria-prima, considerada aqui como secundária, ao ciclo produtivo de uma empresa. Por outro lado, existe o retorno do produto ao mercado e com a contribuição econômica, financeira e como diferencial competitivo importante. Não envolve necessariamente um aumento de produção. Desta forma, não deve ser preocupação somente de uma área da empresa, mas de toda a organização; por outro lado, pensando de forma mais sistêmica, deve ser responsabilidade de todos os envolvidos: desde aqueles que oferecem a matéria- prima e serviços, quem produz e quem consome. A logística reversa não pode ser uma área da empresa, como um departamento, mas deve fazer parte de todas as operações de seus negócios. Tem como uma área de Governança Corporativa, que deve normatizar as práticas internas à organização de acordo com as normatizações necessárias externas e monitorar se estão efetivamente sendo realizadas e de acordo com as normas e critérios técnicos internos, externos e internacionais. Pensando desta forma: À princípio, deve ser considerada e retratada como uma filosofia onde a empresa e seus gestores tem a preocupação com o meio ambiente e bem-estar da sociedade como um todo; A geração de resíduos e descarte significa que a empresa não atendeu de forma pontual as razões pelas quais os insumos e matéria-prima foram adquiridos e destinados, diminuindo a margem de lucro; Reflete na saúde financeira da empresa, em razão das possíveis otimizações que podem ser geradas, seja pela análise prévia que reduziu os gaps e/ou pelos próprios resultados da logística reversa; Reflete no tratamento do descarte e/ou reaproveitamento de materiais com o objetivo de preservação ambiental e responsabilidade social, melhorando a visibilidade perante o mercado. Desta forma, percebe-se as diferentes contribuições para todo o Sistema de Valor da Empresa, constituído por diversos stakeholders como fornecedores de matéria-prima e serviços, distribuidores, entre outros e que contribuem para a perenidade do negócio e da empresa. Pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que tratamos de uma espécie nova de economia – considerada também como economia regenerativa, onde não existe mais espaço para perdas e falta de reaproveitamento, mesmo em épocas das chamadas “vacas gordas”, ou seja, com abundância de recursos naturais e/ou mesmo transformados. 21 2.2 A LOGISTICA REVERSA SOB O PONTO DE VISTA GLOBAL Com o aprofundamento da globalização e o avanço da internacionalização de empresas e negócios, não se pode mais limitar o alcance da logística reversa somente sob o ponto de visto do mercado nacional. As relações internacionais entre países resultam em operações de exportação e importação de bens físicos que transitam entre as fronteiras de países. Geram uma série de direitos, deveres e responsabilidades a serem cumpridas dentro do parâmetro das leis e normas internacionais. Figura XII – Logística Reversa Global. Fonte: Sindicato das Indústrias de Serrarias, Carpintarias e Tanoarias e de Marcenarias de Ponta Grossa (2020). Consideraremos nesta análise as relações com a Cadeia Global de Valor (CGV) e contextuaremos sob o ponto de vista das operações de importação, uma vez que o descarte de resíduos em processos de venda internacional é de responsabilidade do importador sediado no país, neste caso o Brasil. Cadeia Global de Valor (CGV) parte da realidade de que convivemos num mundo globalizado, constituído por organizações de diferentes nações com posições competitivas, que produzem e comercializam bens e serviços, e que fazem parte da cadeia produtiva de qualquer negócio. Entretanto, devem ter alguma relação com o mercado externo. No caso da indústria farmacêutica, por exemplo, o medicamento final pode ser o resultado da importação de matéria-prima de diferentes origens (empresas e países) que, em conjunto, constituem como o produto mais adequado e com a qualidade necessária e geralmente com menores custos de aquisição. 22 Esses países possuem competências especificas, denominadas como core competences (competências centrais), onde cada uma possui riquezas naturais, ou seja, competências de fornecimento de matéria-prima, serviços, processos, conhecimentos e tecnologias. O Brasil, por exemplo, devido às suas dimensões continentais, tem com a agricultura e a pecuária como dois setores econômicos bastante expressivos. Em outras palavras, essas cadeias globais se referem ao fornecimento de matéria-prima e serviços para outras localidades internacionais e vice-versa. O avanço da internacionalização é um fenômeno resultante de vários fatores que se complementam. Figura XIII – Cadeia Global de Valor (CGV). Fonte: ESPM (2020). Vale destacar sobre a evolução e importância do mercado global, contextualizado com a logística reversa: A Revolução Industrial propiciou o crescimento sustentado da produção, das suas melhores práticas e técnicas, que visaram o aumento do volume de produção e respeitando as premissas relacionadas à produtividade, economia de escala e sinergia. Com o aumento da competição nacional, as empresas procuraram expandir os seus negócios em mercados internacionais, o que requer uma outra estruturação organizacional e competências humanas e profissionais. Paralelamente, o desenvolvimento da Tecnologia da Informação (TI) e da Comunicação aprofundaram a Globalização, propiciando um ambiente favorável para o desenvolvimento de negócios das empresas e entre elas, independentemente de sua localização. 23 O termo Globalização é muito amplo, no seu conceito, bem como de suas implicações. Em todas as categorias de globalização listadas a seguir, existe a presença da logística e da logística reversa. A Globalização Produtiva tem como seu principal foco a produção de bens e seu excesso que gera estoques e vendas internacionais. Particularmente, é onde se concentram a maioria das tarefas e responsabilidades da logística reversa. A Globalização Financeira é consequência dos processos de compra e venda (importação e exportação), que geram os pagamentos financeiros. Esses pagamentos geram fluxos financeiros relacionados à transferência física, bem como daqueles derivados da devolução dos bens transacionados. A Globalização Econômica parte da perspectiva de internacionalização de ativos econômicos, como capital e respectivos recursos, com os imóveis, máquinas e equipamentos necessários para o desenvolvimento das atividades das empresas além-mar. Esses recursos devem estar devidamente integrados no sentido de atender as necessidades das empresas, bem como das responsabilidades de produção e logística. Em síntese, pode afirmar que é o resultado da Globalização Produtiva e Globalização Financeira. Ainda de forma paralela, instituições e organismos internacionais e nacionais, frente ao aprofundamento da globalização e o avanço da internacionalização, intensificou a normatização, controle e fiscalização dos efeitos da distribuição física da mercadoria na sociedade. Todosesses fatores contribuem para o desenvolvimento de políticas públicas mais consistentes que visem contribuir para o crescimento sustentado econômico e a minimização dos impactos ambientais e sociais, tanto no nível doméstico, como internacional Mais recentemente, não que essa preocupação seja nova, existe a necessidade de um consumo mais consciente, direcionando não mais a quantidade de consumo cada vez maior, mas daquele necessário para a manutenção do sistema como um todo. Figura XIV – importância da Logística Reversa. Fonte: ECycle (b) (2010). 24 Existem bens que tem preocupado as nações. Eletrônicos, como computadores, aparelhos de celular, pilhas e outros de categorias diferentes, como as garrafas pet, papelão e latinhas são produtos acabados que sofrem o processo de reciclagem. Entretanto, considerando as operações no mercado internacional, existem outros que se incorporam tanto no produto final, como também nos seus agregados, como as embalagens de transporte internacional (containers, pallets e/ou mesmo as embalagens de envase e proteção de bens importados). Computadores são produzidos em economias desenvolvidas, mas muitos componentes fabricados em economias emergentes como a indiana e importadas por vários outros países que nem sempre tem condições de avaliar os danos e a aplicação de ações assertivas para conter o fenômeno do descarte desses tipos de produtos e componentes. Os benefícios não devem estar somente associados aos resultados econômicos, mas também com a incorporação de processos sustentáveis obrigatórios na fabricação, distribuição e comercialização da empresa. Em outras palavras, a empresa ganha competitividade. Com o propósito de adequar as exigências internacionais que protegem o meio ambiente internacional, se subordinar às boas práticas empresariais e atender de forma positiva os seus diferentes grupos de interesse, como por exemplo, consumidores finais, acionistas, governo e entidades governamentais, o termo evoluiu para o de Economia Circular. Trata-se de uma atualização do conceito, que anteriormente estava relacionado ao fato da empresa ter um resíduo, descarte e/ou perda dentro do processo de fabricação e onde a empresa deveria ter uma solução para a reciclagem ou redução do dano ambiental. Sob nova roupagem, a Economia Circular traduz a necessidade de vivermos num ambiente sustentado e que a empresa deve conceber todos os processos da empresa, desde a ideia até o descarte do produto pelo consumidor, dentro do seu plano de negócios. 2.3 LOGISTICA REVERSA: UMA DISCUSSÃO SOB O PONTO DE VISTA LEGAL Como vimos, a PNRS contribuiu para o desenvolvimento das práticas sustentáveis e condiciona as partes envolvidas para uma série de direitos, deveres e responsabilidades, que são compromissadas inclusive pelo termo de compromisso. Não é somente a necessidade da introdução de práticas, mas também de sua comprovação de que todas as atividades foram cumpridas de acordo com a normatização. Na ausência de comprovação, parte-se da premissa de que o pactuado não foi atendido e os envolvidos sujeitos à autuação. 25 Como exposto, a responsabilidade da logística reversa não envolve somente uma área, mas de toda a organização e compromissada com os demais envolvidos. Desta forma, torna-se necessária que os processos, atividades e tarefas estejam devidamente registradas, incorporadas e ajustadas na empresa e, consequentemente, passíveis de gestão. Um processo deve ser devidamente documentado. De nada vale se procedimentos são realizados aleatoriamente e sem um controle efetivo. No pós- consumo, por exemplo, o descarte é realizado pela pessoa após o seu consumo final. No caso de uma empresa, cada etapa deve ter um procedimento que vise incluir e registrar o que está ocorrendo. Ao final de cada etapa, por exemplo, as peças fabricadas com defeito devem ser acondicionadas em lugar apropriado e registradas em relatórios específicos, estipulando, entre outros dados e informações, que procedimentos serão destinados, para quem, como e por quais razões será realizado todo o processo, sob supervisão de terceiro. Como se trata de um processo documentado, é possível a comprovação como no caso de que embalagens, por exemplo, passaram pelo processo de reciclagem. Existem instituições que emitem certificados de comprovação (Cerificados de Reciclagem) de que o processo foi atendido da forma como foi pactuado. Uma discussão recorrente é de quem é a responsabilidade do retorno e reciclagem de embalagens. Sob o ponto de vista do consumidor, existe a responsabilidade lógica, até em decorr6encia de que ele é o consumidor final e, portanto, como protagonista da devolução das embalagens. Para as empresas, a responsabilidade da fase industrial está bastante clara. Por outro lado, alguns entendem de que a responsabilidade das embalagens é por parte das empresas, onde eles possuem a responsabilidade formal da comprovação da logística reversa de embalagens. Dentro da filosofia da responsabilidade compartilhada, todos são protagonistas do processo de retorno das embalagens e devem atuar de acordo com os seus deveres. Os consumidores devem procurar o descarte por meio da coleta seletiva de lixo, e mesmo pressionar que fabricantes e pontos de venda tenham coletores para a recepção de resíduos. Quanto à fiscalização, a PNRS indica que cada estado deve ter o seu órgão fiscalizador, como o caso da CETESB no estado de São paulo, bem como no âmbito federal, aqui representado pelo Ministério do Meio Ambiente e também do Ministério Público. Por meio do Sistema Nacional de Informações sobre Gestão de Resíduos Sólidos (SINIR) (2020) é possível verificar as diretrizes de diferentes segmentos e como a logística reversa se relaciona. 26 3. O FUTURO DA LOGÍSTICA REVERSA E RECICLAGEM NO BRASIL O mundo está passando por inúmeras mudanças e transformações e as empresas devem acompanhar esses movimentos, no sentido de se tornarem mais competitivas e direcionadas para a satisfação do cliente. Neste sentido, além de um planejamento e gestão mais apurada, outras situações e variáveis vão moldando o perfil das empresas. Uma das situações reside no COVID-19, que tem influenciado as práticas entre empresas e pessoas, além da mecanização e informatização. Dentro de um cenário com maior uso da Tecnologia da Informação (TI), temos a utilização de dispositivos autônomos, muitos deles representados por utilitários sem a presença de condutores já é uma realidade em algumas empresas. O uso intensivo da tecnologia e o fenômeno da Transformação Digital trouxeram inúmeros benefícios para a logística reversa, destacando: a) Inovações quanto a produtividade nos processos de produção. b) Racionalização de mão-obra. c) Identificação, controle e devolução de produtos. d) Medição dos níveis de qualidade em cada processo empregado. e) Controle da mercadoria no decorrer do transporte. f) Rastreamento do que está sendo realizado em tempo real. g) Medição dos níveis de satisfação do consumidor. h) Agilidade no que deve ser feito a partir de dados e informações Outro ponto fundamental é a efetividade das informações, onde dados e informações serão processadas em tempo real, bem como nas suas decisões e ações. Com isso, as práticas serão cada vez mais rápidas, no sentido de atender cada vez mais as necessidades econômicas e sociais das empresas e da sociedade onde convive. Outro ponto, mais fundamental está no fato da sociedade estar cada vez mais direcionada e engajada para as questões relacionadas ao meio ambiente e a sustentabilidade. Esse fenômeno obriga as empresas a reverem os seus conceitos e procedimentos, no sentido de se adequar positivamente frente a esse mercado. O Brasil, considerada como economia emergente, possui uma série de deficiências e gargalos logísticos que devem ser reduzidos e eliminados, algumas incorporadasinclusive ao Custo País: a) Carga tributária alta. b) Burocracia em excesso. c) Infraestrutura de transportes deficiente. d) Saúde com estrutura inadequada. e) Formação acadêmica para todas as pessoas da população. f) Práticas de trabalho em empresas não adequadas. g) Gestão pública inadequada. h) Recursos ambientais utilizados de forma inadequada. 27 Por outro lado, a desindustrialização é um fator preponderante, o que traduz também a necessidade das empresas em obterem os diferenciais competitivos a partir de uma atualização e desenvolvimento técnico, tecnológico e prático. Este fenômeno é resultante do custo Brasil, importação em desarmonia com a situação atual do país, que necessita exportar mais bens manufaturados ao invés da simples importação de consumo. Com o custo de mercadorias mais barata no mercado internacional, por vezes, a empresa pode optar em importar em revender produtos acabados e, desta forma, não gerar trabalho, empregos e necessidade de desenvolvimento e inovação tecnológica. 28 4. CONCLUSÕES Apresentamos nesta apostila o Programa Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), como lei e desdobramentos importantes para a inclusão e o desenvolvimento de práticas que respeitem o meio ambiente. Dentro do mundo de negócios contemporâneos, temos a logística e em especial a logística reversa como uma das formas inteligentes de desenvolvimento econômico e social para um país. Não é correto afirmar que da logística reversa: a) Incide maiores custos e despesas. b) Eleva os investimentos financeiros. c) Não traz nenhuma contribuição para a empresa. d) Não resulta nenhum benefício para a sociedade. A empresa, derivada de um conjunto de ações e estratégias, tem como objetivos principais a coleta seletiva, a devolução de resíduos sólidos e congêneres para os fabricantes, no sentido de não ocasionar dano ao ambiente onde a empresa desenvolve as suas ações. Nesta devolução, pode haver o descarte, bem como o reaproveitamento e/ou a reciclagem de produtos e similares, reduzindo os custos e melhorando os ciclos produtivos. Um dos focos principais reside nas embalagens, porém a diversificação de produtos é por demais extensa, envolvendo desde restos de medicamento até pneus e computadores. Um dos pontos fundamentais para o sucesso na implantação da logística reversa e o atendimento para suprir as necessidades ambientais reside na responsabilidade compartilhada, no monitoramento, acompanhamento e cobrança das pessoas, além da conscientização de empresas e pessoas quanto ao problema ambiental, bem como da fiscalização dos órgãos competentes. Independe do porte e setor econômico envolvido. O posicionamento para o desenvolvimento de um consumo mais sadio e consciente na sociedade é imprescindível para ela, pois torna-a melhor como empresa, melhor estruturada, bem como como ferramenta de melhoria de imagem institucional de empresas para o mercado. 29 REFERÊNCIAS AGÊNCIABRASIL. Brasil gera 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano, 08/11/2019. Disponível em <htpp/www.agenciabrasil.ebc.com.br>. Acesso em 18/05/2020. BLOG DA DESCARTE LEGAL.COM. Você sabe a diferença entre resíduo solido e lixo? Disponível em < http://blog.descartelegal.com/2016/02/15/saiba- diferenca-entre-lixo-e-residuo-solido/>. Acesso em 1/05/2020. CAMAÇARI NOTÍCIAS. Cooperativa de Reciclagem de Camaçari completa 20 anos, 26/07/2019. Disponível em < https://www.cn1.com.br/noticias/9/64967,cooperativa-de-reciclagem-de-camacari- completa-20-anos.html>. Acesso em 18/05/2020. CETESB. COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL. 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