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CONCEITO Doença multifatorial e multissistêmica, apresentada como hipertensão arterial + proteinúria ou disfunção orgânica após a 20ª semana de gestação, em gestante anteriormente normotensa. Edema com aumento de > 1kg/semana, especialmente em mãos em pés. Pode evoluir com eclâmpsia (convulsão tônico-clônica generalizada ou coma), AVC hemorrágico, HELLP, insuficiência renal, edema agudo de pulmão. As complicações fetais estão relacionadas a insuficiência placentária e frequente necessidade de parto prematuro, com elevadas taxas de morbimortalidade neonatal. Pode levar a morte materna. ETIOLOGIA Ainda não bem estabelecida. Acredita-se que se deva do desenvolvimento placentário alterado e modificações na circulação uterina, cursando com hipóxia e reoxigenação placentária. Isso leva ao estresse oxidativo e, consequentemente, produção de fatores inflamatórios e antiangiogênicos. Em uma segunda fase, os fatores liberados lesam o endotélio sistematicamente, apresentando hipertensão arterial e lesão a órgão-alvo, sendo que o mais caracteristicamente lesado é o glomérulo, liberando proteínas na urina (proteinúria). A segunda onda de invasão ocorre entre 16 e 22 semanas de IG, em que há deficiência de invasão trofoblástica, as artérias espiraladas mantem camada muscular média, aumentando a dificuldade do fluxo sanguíneo. Isso lesa o vaso, fazendo vasoespasmo, aumento da permeabilidade, ativando os fatores de coagulação. A cascata da coagulação produz menos oxido nítrico e fatores de coagulação. FATORES PREDISPONENTES: Obesidade (IMC > 30 Kg/m²), síndromes metabólicas, doenças com resposta inflamatória crônica, como HAS, DM, LES, idade materna avançada, história familiar de DHEG, gestação múltipla, doença trofoblástica gestacional, DHEG em gestação prévia, doença renal, colagenoses, trombofilia, nuliparidade, hipertireoidismo mal controlado, gestante pequena para a idade gestacional, novo parceiro, intervalo entre gestações prolongado. DIAGNÓSTICO As doenças hipertensivas da gestação são classificadas em: HAS crônica, hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia e hipertensão do jaleco branco. Hipertensão do jaleco branco: presença de ≥ 140 x 90 mmHg nas consultas e < 135 x 85 mmHg em casa. Só pode ser considerada quando aparecer na primeira metade da gestação. HAS crônica: HAS antes das 20 semanas. Pré-eclâmpsia: HAS após 20 semanas + proteinúria significativa ou comprometimento a órgão-alvo (trombocitopenia, disfunção hepática, insuficiência renal, iminência de eclampsia ou eclâmpsia). A associação com comprometimento placentário (restrição no crescimento fetal/ alteração dopplervelocimétrica). Sobreposição HAS crônica a pré-eclâmpsia: quando aparecimento/piora da proteínuria OU quando há necessidade de acréscimo de anti- hipertensivos para controle OU quando disfunção a órgão-alvo. HAS gestacional: HAS que apareceu na gestação, sem proteinúria ou lesão a órgão alvo, que desaparece até 12 semanas após o parto. Níveis de pressão para serem considerados HAS: PAS 140 ≥ mmHg e/ou PAD ≥ 90mmHg em 2 ocasiões com pelo menos 4 h de intervalo. Proteinúria significativa: 300 mg em urina de 24h. Relação proteína/creatinina urinária ≥ 0,3. 1 + na avaliação qualitativa de proteína de amostra (distick). PARÂMETROS DE ACOMPANHAMENTO A SEREM TRATADOS E MONITORADOS: Crise hipertensiva ≥ 160 e/ou 110 mmHg confirmada em intervalo de 15 min. Sinais de iminência de eclampsia: cefaleia, fotofobia, fosfinas, cegueira temporária, visão turva e escotomas. Dispneia ou ortopneia. Hiperreflexia periférica. Náuseas e vômitos, dor epigástrica ou em hipocôndrio direito (comprometimento hepático). Eclâmpsia: convulsões tônico-clônicas em pacientes com diagnóstico de eclampsia. Síndrome de HELLP: hemólise (presença de esquizócitos e equinócitos no sangue periférico e/ou elevação DHL > 600 UI/L e/ou bilirrubinas indiretas > 1,2 mg/dL), comprometimento hepático (AST e ALT > 2x normal), consumo de plaquetas (plaqutopenia < 100.000/mm³). Avaliação do estado fetal: BCF ou US. Avaliação da restrição do crescimento fetal e oligodrâmnio por conta da redistribuição dos órgãos fetais. Oligúria: diurese < 500mL/24h (+ edema intenso/anasarca). Insuficiência renal aguda: creatinina sérica ≥ 1,2 mg/dL. Dor torácica: comprometimento endotelial pulmonar e cardíaco. Edema agudo de pulmão: intenso comprometimento endotelial pulmonar associado ou não a insuficiência cardíaca e/ou hipertensão grave. CLASSIFICAÇÃO: Precoce < 34 semanas – geralmente mais relacionada ao comprometimento placentário maior e circulação uteroplacentária na dopplervelocimetria anormal das artérias uterinas, com fetos com restrição de crescimento e piores desfechos maternos. Tardia ≥ 34 semanas – associadas a síndromes metabólicas, inflamação e comprometimento endotelial crônico. POSSIVEIS MARCADORES – LIMITADOS NA SENSIBILIDADE Doppler das artérias uterinas, no primeiro e segundo trimestres Marcadores sanguíneos: PAPP-A (pregnancy- associated plasma protein A), ADAM-12 (disintegrin and metalloproteinase-12), PP-13 (placental protein- 13), ácido úrico, leptina, homocisteína, sFlt-1 (soluble fms-like tyrosine kinase-1) e PlGF (placental growth factor). Marcadores urinários: albuminúria e a calciúria PREDIÇÃO DE DESFECHOS ADVERSOS NA PRÉ-ECLÂMPSIA – CALCULADORA FULLPIERS Eclâmpsia, coma, cegueira central, descolamento de retina, acidente vascular cerebral, descolamento prematuro da placenta, coagulopatia, disfunção hepática grave, hematoma hepático, edema pulmonar, infarto do miocárdio, insuficiência renal aguda e ascite. PREVENÇÃO DA PRÉ-ECLÂMPSIA AAS 100 a 150 mg/d Suplemento cálcio 1 a 2g/d Deve-se iniciar em torno de 12 semanas e (interrompe na 35 semana) suspendido após a 36 semana, permitindo a renovação de plaquetas com plena capacidade funcional para o parto. Sulfato de magnésio 4 g IV (bolus) administrado lentamente + 1 g IV/h em bomba de infusão. Usado iminência de eclampsia e pacientes com pré- eclâmpsia e sinais de gravidade (PA de difícil controle, síndrome de HELLP), deterioração clínica e laboratorial. Está associado ao risco de convulsão. Critérios: pré-eclâmpsia prévia, alteração nos índices de pulsatilidade da a. uterina (até 12 semanas). Isso previne a PE precoce. TRATAMENTO Eclâmpsia: preconiza-se colocar a gestante em decúbito lateral esquerdo ou semissentada em cama com grades laterais, utilizar cânula de Guedel, fornecer oxigênio nasal 5L/min e obter prontamente acesso venoso. Pré-eclâmpsia: Dieta normal – não relacionado ao sal. Repouso hospitalar ou domiciliar – sem evidências significativas Acompanhamento laboratorial 1 vez/semana com hemograma (hematórcrito, hemoglobina e plaquetas), DHL, bilirrubinas totais ou haptoglobina, creatinina e AST. Tratamento medicamentoso PE: HAS leve: PAS ≥ 140 e < 150 e/ou PAD ≥ 90 e < 100 mmHg HAS moderada entre PAS 150-160 e/ou PAD entre 100 e 110mmHg HAS grave: PAS ≥ 160 mmHg e/ou PAD ≥ 110 mmHg. Objetivo: reduzir 10 – 15% da PA, atingindo PA de uma HAS leve. Metildopa 750-2000 mg/dia Clonidina 0,2 – 0,6 mg/dia Nifedipino 20-120 mg/dia – crise hipertensiva 10 mg/dia Usados para evitar efeitos de um pico hipertensivo (sinais de gravidade) – são indicados para doença grave. PE NÃO É INDICAÇÃO DE CESÁREA! Ref: Peraçoli JC, Borges VT, Ramos JG, Cavalli RC, Costa SH, Oliveira LG, et al. Pré-eclâmpsia/ eclâmpsia. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); 2018. (Protocolo Febrasgo – Obstetrícia, nº 8/Comissão Nacional Especializada em Hipertensão na Gestação). Zugaib Obstetrícia.2 ed. Barueri. Manole, 2012 e alterações.
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