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Geografia Política e Geopolítica: convergências e divergências

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Contextualizações acerca da Geografia Política e da Geopolítica 
 
Analisar a Geografia e a Geopolítica, envolve uma compreensão da intensidade e da 
funcionalidade que ambos os termos assumiram dentro da Geografia ao longo dos 
anos. Um dos elementos que atinge os dois termos e pode ser o motivo de haver certa 
confusão, quanto a como a Geografia Política e a Geopolítica se estabelecem no 
campo do saber, é justamente a política. É necessário compreender a política inserida 
na Geografia e como ela faz parte do processo de intencionalidade que a disciplina 
assumiu. 
 
No artigo Geografia Política e Geopolítica : Velhas e novas convergências, Célio 
Augusto da Cunha Horta, questiona a necessidade de se diferenciar uma geografia 
da outra. Um primeiro ponto que ele cita e que mostra a fragilidade em querer 
determinar a geografia política e a geopolítica separadamente, é o fato de que os 
estudos ligados a essas áreas do conhecimento estão sempre relacionados aos 
Estados Nacionais. Deixando de lado, as organizações políticas que surgem contra o 
Estado e são independentes ao Estado. Tais organizações são hoje determinadas 
numa escala micropolítica. São as organizações das comunidades periféricas de uma 
cidade, organizações do campo, de comunidades tradicionais (indígenas, 
quilombolas), organizações ambientais. Deve-se ressaltar, que apesar de haver esse 
menosprezo pelas micropolíticas, tanto a Geografia Política quanto a Geopolítica, 
interferem de certa forma nas ações de tais organizações independentes. 
 
Vários estudiosos propuseram que a Geografia Política seria mais teórica e 
acadêmica, enquanto a Geopolítica seria mais pragmática, e de maior utilização pelas 
instituições do Estado (serviço militar). Dessa maneira, coloca-se em questão o 
quanto é relevante uma em relação a outra, através da atenção que se dá a uma e a 
outra. O estudo Geopolítico, é tratado nesse caso como um serviço ao Estado, seja 
em questões de ordenamento espacial, segurança militar, estratégias para resolução 
de conflitos políticos entre Estado e Estado, ou entre o Estado e os civis. Enquanto a 
Geografia Política serviria a um campo do saber, com fins de potencializar o campo 
do saber de uma universidade por exemplo. Surge uma discussão em como as duas 
Geografias podem prover a mesma quantidade de informações, mas que a 
Geopolítica consegue ser mais usual e transdisciplinar. A Geopolítica então não é 
apenas dos Geógrafos, mas de militares, cientistas políticos, historiadores, etc. 
 
O que convém dizer, é que as duas disciplinas deixaram de ser orientadas e motivadas 
pelo Estado e para o Estado. Houve um momento em que se institucionalizou a 
Geopolítica, mas hoje, o que se nota, é a Geopolítica distante do Estado e mais 
próxima do mercado capitalista. A Geopolítica continua mais usual e transdisciplinar, 
mas tornou-se mais usual para outros personagens do território, e para outros usos 
consequentemente. Por exemplo: A utilização de drones. Os drones podem servir 
como recurso tecnológico à Geopolítica, sendo utilizado pelo serviço militar, serviço 
ao Estado, portanto. Mas por outro lado, também pode ser utilizado por qualquer 
empresa de mapeamento e geoprocessamento que esteja a serviço de uma 
imobiliária para a implantação de um residencial por exemplo. 
 
No primeiro exemplo, existe o conflito político, econômico e tantos outros motivos que 
impulsionam esse tipo de prática no serviço militar entres territórios. No segundo 
exemplo percebe-se o serviço ao mercado consumidor, onde se analisa antes da 
compra e venda de lotes, o potencial de um lugar, e os conflitos políticos que se pode 
enfrentar: segurança do bairro, localização e transporte, status social dos bairros ao 
redor. É possível perceber então, que a partir do momento em que os recursos 
tecnológicos assumem a função de gerir a vida de cada parte de um território, A 
Geografia Política e a Geopolítica passam a ser instrumentos de qualquer pessoa que 
saiba manusear tais recursos tecnológicos inseridos em ambas as disciplinas. 
 
Com isso, buscando fazer as correlações entre a Geografia Política e a Geopolítica, 
clássica e contemporânea, nota-se que se deve considerar o Estado, 
institucionalizado, mas também, o povo. Ratzel, em a relação entre o solo e o Estado 
– Capítulo I – O Estado como organismo ligado ao solo, afirma que o Estado é uma 
parte da humanidade e uma parte do solo. De certo modo, Ratzel faz uma afirmação 
importante para a Geografia compreender a política estabelecida em um território. 
Mas por outro lado, algo que pode determinar de fato a estrutura do Estado nessa 
relação, povo e solo, é como se manifesta o conhecimento e o poder que o povo 
exerce sobre o solo habitado. Ratzel vai afirmar ainda que o povo não 
necessariamente deve falar a mesma língua, nem serem vinculados pela raça, mas 
têm apenas como ponto comum, o espaço habitado. Entretanto, o espaço habitado 
pode vir a ser dividido e dimensionado em suas divisões, de maneira contraditória à 
realidade do território. Por exemplo: É comum nos dias atuais, o crescimento das 
cidades ocorrer de maneira arbitrária e com um único foco, possibilitar o lucro às 
imobiliárias. Porém, desse modo, se exclui, aqueles que não tem moradia e não fazem 
parte da classe social que possa estar adquirindo esses imóveis. Assim, observa-se 
que o espaço habitado não é mais um ponto em comum entre os povos, justamente 
porque nem todos tem acesso de fato ao espaço para habita-lo. Assim como o 
crescimento demográfico, que segundo Ratzel, também é um ponto de fortalecimento 
da relação do povo com o solo. 
 
Os crescimentos demográficos, sem as políticas de organização do território, fazem 
com que o Estado se torne polarizado. Partes da população detém o solo, outras não, 
o que pode representar o enfraquecimento do poder do Estado. Ou seja, instrumentos 
de geopolítica, atualmente, são utilizados de maneira condizente a grupos e 
organizações empresariais, que regem o ordenamento territorial do espaço. A 
geopolítica, acaba por se tornar refém desses grupos, que podem influenciar as 
decisões do Estado. 
 
É possível identificar então que ocorre dentro de ambas as Geografias, a 
determinação de condutas políticas, orientadas por quem tem mais poder. Ou seja, 
quem utiliza o território e as pessoas que nele vivem, ao seu favor. Élisée Reclus, em 
A origem da família, do Estado e da propriedade, afirma que o homem desde o início 
de sua história apossou-se do poder. Para ele, desde o homem primitivo, a 
diversidade de organizações de pessoas era infinita, e que as pessoas envolvidas 
nessas organizações sociais e políticas, devido a criação de regras de convívio, 
devem se adaptar aos ideais das organizações conforme os ambientes, os 
cruzamentos, as alianças e as conquistas. Reclus faz a ponderação correta sobre a 
utilização de aparelhos geopolíticos para organizar o território, mas o que representa 
um empasse em relação às medidas políticas tomadas, é como são estabelecidas as 
“regras de convívio”. Quando Reclus afirma que o homem primitivo apossou-se do 
poder, na verdade é necessário lembrar, que alguns homens se apossaram do poder 
e o exerceram sobre o outro. Daí é que surgem, as divisões de atividades para 
homens e mulheres, as divisões no espaço, onde os que tinham poder se abrigavam 
onde tinha água por perto, terra boa para plantio, enquanto aqueles que eram 
dominados, ficavam com terras ruins, tinham que se deslocar muito para achar água 
e comida. Tal relação se perpetuou até o período colonial, e ainda é visível nos dias 
atuais, onde a educação que se instalou na escola, é colonial e estabelece relações 
de poder. Cadeiras enfileiradas, o professor deve permanecer em pé, e não se abre 
momentos para que o aluno possa articular o conteúdo com questionamentos. Assim 
como acontece na religião. 
 
A Geopolítica, enquanto instrumento de poder,se instalou nos âmbitos de convivência 
humana de uma maneira latente, de tal modo que interfere em todo o processo de 
formação do homem, desde o seu nascimento. São as limitações de espaço, de 
saneamento básico, de bens de consumo, de informação e em alguns casos de 
conhecimento. Fato estranho esse último, a geografia política é a base da geopolítica, 
tem o princípio de disseminar conhecimento, a geopolítica, entretanto organiza o 
conhecimento para que ele se torne acessível e seja potencializado por aqueles que 
detêm mais poder. 
 
A geopolítica pode-se dizer então, atua como um movimento estratégico em relação 
aos conhecimentos da geografia política. Uma estratégia, deve portanto ser mediada 
por algo ou alguém. Kropotikin em O Estado e o seu papel histórico, afirma que o 
Estado é a guerra. O papel do Estado seria organizar politicamente e militarmente 
uma nação, com o objetivo de possibilitar o progresso dela. Ou seja, o Estado é aquele 
que utiliza de estratégias geopolíticas a todo momento, para manter o seu povo em 
uma situação de controle e subversão. O Estado é a guerra no sentido de manter vivo 
todos os problemas sociais e situações de descaso com o ser humano, mas 
repreender qualquer ação que venha a contestar as “verdades” proclamadas pelo 
Estado. 
 
Quando se fala em “verdades” proclamadas pelo Estado, identifica-se um processo 
de representação do espaço, que tanto para o entendimento da geopolítica, quanto 
para o entendimento da geografia política é importante para entender um ponto de 
convergência que existe entre as duas disciplinas. 
 
Com isso, Yves Lacoste em A Geografia – Isso Serve em primeiro lugar para fazer a 
guerra, afirma que a escala, enquanto meio representativo do espaço, deve considerar 
a realidade do mesmo e não privilegiar escolhas de valorização social, cultural ou 
econômica. Ele aborda o conceito de região, para exemplificar a sua afirmação. Para 
ele o conceito de região vem sendo manipulado, através de escolhas individualistas 
de representação espacial. Uma região está alicerçada em um conceito político. 
Encontra-se então certa confusão, quando se determina a região a partir de seus 
conjuntos espaciais, pois esses necessitam de serem representados de maneira 
coerente e de acordo com suas dimensões. Por isso, Yves coloca que existe um 
problema de escala na geografia. Um fenômeno deve ser representado em uma 
escala de análise que possa apreender o conteúdo real, caso contrário, diferentes 
escalas podem trazer diferentes significados sobre um mesmo fenômeno. 
 
É importante Lacoste citar isso, porque tanto a Geografia política, quanto a 
geopolítica, podem em algum momento não conseguir apreender o significado real 
dos fenômenos estudados. São as questões de intencionalidade citadas 
anteriormente no decorrer desse texto. As intenções de um profissional geógrafo, as 
intenções de um militar do exército, as intenções de uma empresa de logística, as 
intenções do Estado, ou até mesmo as intenções de uma família que controle os 
instrumentos de mercado, podem ditar as regras tanto da geopolítica, quanto da 
geografia política. Por exemplo: Uma pesquisa iniciada no meio acadêmico só 
consegue tomar as devidas proporções de financiamento e praticidade da pesquisa, 
a partir do momento em que o Estado possibilita os meios para isso, seja no salário 
dos professores pesquisadores, seja na compra de material para a realização da 
pesquisa. 
 
A intenção da pesquisa parte do pesquisador, mas ele depende do Estado para que 
ela se concretize. O mesmo pode-se perceber em relação a uma empresa de logística, 
ela pensa e trabalha em um determinado espaço, busca atingir determinados lugares 
dentro do espaço, mas para tal ação, necessita de pessoas que realizem o serviço de 
transporte, necessita de pessoas que queiram comprar o serviço, necessita de vias 
que possibilitem a realização do serviço. 
 
Nos dois exemplos acima, percebe-se a intenção como sendo uma ação livre, mas 
que ao mesmo tempo é dependente do Estado e de seu povo de certa forma. Convém 
analisar que entre as disciplinas de geopolítica e geografia política, nota-se um 
processo de subversão tanto para com o Estado, quanto para com os atores 
hegemônicos distribuídos pelo espaço. Porém deve-se ressaltar, que as duas 
disciplinas possuem antes de tudo, o conhecimento como arma. O que acontece é 
como está sendo instrumentalizado o processo de estabelecer o conhecimento sobre 
o espaço. 
 
Portanto, a individualidade das duas disciplinas é perceptível, mas tanto uma quanto 
outra assumem uma intencionalidade, que pode ser coerente com a ciência 
inicialmente, sendo tratadas como campos do saber, mas que podem ser manipuladas 
e articuladas de maneira perigosa. Onde se afirma, que tanto uma quanto outra têm a 
capacidade de orientar organizações escalares do espaço, orientar as políticas 
públicas, os meios de produção, o mercado consumidor, e culminar até em guerras. 
 
Por isso, a questão necessária a se enfrentar, talvez não seja buscar diferenciar 
especificamente geografia política e geopolítica, mas entender de que maneiras as 
duas tem influenciado a vida da humanidade e possibilitado as representações reais 
do espaço, como bem coloca Yves Lacoste. Articular a vida do homem no espaço, 
faz-se necessário, mas, um ponto mais necessário ainda, é possibilitar ao homem que 
ele tenha a vida de fato concretizada no espaço. Desigualdade social, fome, pobreza, 
injustiça, são palavras que apenas instrumentalizam o caos gerado pela má utilização 
da geografia política e da geopolítica. A Geografia é uma disciplina que integra 
saberes, mas quando é utilizada de forma arbitraria e desconexa com a realidade, 
acaba por não integrar o homem, que faz parte da construção de saberes. 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
HORTA, Célio Augusto da Cunha. Geografia Política e Geopolítica: velhas e novas 
convergências. In: GEOgraphia – Revista da Pós-Graduação em Geografia da UFF, 
Ano VIII, N.° 15. Niterói/RJ: UFF/EGG, 2006, p.51-69. (disponível on line) 
 
RATZEL, F. A relação entre o solo e o Estado – Capítulo I – O Estado como 
organismo ligado ao solo. Trad. Matheus Pfrimer. GEOUSP – Espaço e Tempo, São 
Paulo, n. 29, pp.51-58, 2011. 
 
KROPOTKIN, P. O Estado e seu papel histórico. Tradução Alfredo Guerra. São 
Paulo: Editora Imaginário/ Nu-Sol, 2000. (Trechos selecionados). (disponível on-line) 
 
RECLUS, Élisée. Origem da Família, das classes sociais e do Estado. IN: Èlisée 
Reclus (Org.: Manuel Correa de Andrade). Coleção Grande Cientistas Sociais. SP: 
Ática, 1985. 
 
 LACOSTE, Y. A Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 
Campinas/SP: Papirus, 1988.

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