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Cecília Alkimin 1 Direito das Coisas Prof. Marcelo Ferro Aula 1 - 06/03/15 Conceito de Direitos Reais O CC adota o nome direito das coisas, porém é possível chamar também de direitos reais. A definição de direito das coisas é o complexo de regras jurídicas que regulamentam a relação entre uma pessoa e coisas passíveis de serem apropriadas. Pode ser também um complexo de normas que regular o poder sobre os bens e os modos de sua utilização econômica. O direito pessoal é aquele que se estabelece em uma relação entre pessoas. O direito real é aquele em que se tem uma relação entre alguém e determinada coisa que é de sua propriedade e esse direito não surge de qualquer fato jurídico entre as pessoas. No primeiro caso, somente quem participa da relação jurídica é capaz de violar o direito que a outra parte possui dentro daquela relação. Já no segundo caso, qualquer um pode atentar contra o direito que determinada pessoa tem sobre certo bem, coisa ou atividade - primeiro caso somente sobre a coisa. No aspecto da aquisição, um direito pessoal não se adquire por usucapião, já no direito real isso é possível. A usucapião representa uma forma de aquisição da propriedade de um bem móvel ou imóvel em razão do tempo. Pela lógica da extinção do direito, também há diferenças. É possível perder o direito real em razão do tempo. O direito pessoal não se perde pelo decurso do tempo. A usucapião é conjugada entre o não uso do bem pelo proprietário e o uso do mesmo por uma outra pessoa, que não possui propriedade de tal. O art. 1.419, CC, fala sobre os bens e as garantias. Existe uma aderência do direito à coisa, independentemente do uso daquela coisa. Outra característica dos direitos reais é a prevalência erga omnes, que permite que a pessoa faça seu direito valer contra qualquer um que atente contra a propriedade. O direito real caminha com a coisa, possui caráter de ambulatoridade. Na essência, o direito real, ao aderir a coisa, vai com ela até onde a mesma se extinguir. Outra característica é a publicidade do direito real, o que é fundamental para sua compreensão e identificação, e vale tanto para propriedade móvel quanto para a imóvel. Uma escritura só opera a transferência de propriedade se for registrada em cartório (art. 1.227, CC). Sendo um bem móvel, a transferência da propriedade se perfaz com a tradição (art. 1.226, CC). No direito brasileiro, portanto, a propriedade não se transfere só em consenso. Vale ressaltar, entretanto, que nem toda tradição transfere a propriedade. Os direitos reais são taxativos, derivam da lei. Só são direitos reais aqueles previstos em lei, o que quer dizer que as partes não podem criá-los. No regime obrigacional prevalece a autonomia da vontade, o que não acontece nos direitos reais. Eles estão previstos no art. 1.225, CC. Alguns autores qualificam a alienação fiduciária como também um direito real, o mesmo para a retrovenda (pacto abjeto ao contrato de compra e venda, pelo qual o vendedor pode, dentro de Cecília Alkimin 2 um prazo determinado, comprar o objeto contratual vendido pelo mesmo preço pago pelo comprador). A Doutrina classifica os direitos reais em quatro: 1. Substância: direito que se aloja na coisa, em que o interesse está na própria coisa pelo sentido econômico dela. Analisa-se a propriedade na essência. Ou seja, observa-se a finalidade daquele bem e a função econômica que ele possui. 2. Valor da coisa: o interesse das partes não está na coisa como objeto de uma finalidade especifica, e sim ela vale pelo seu valor. O interesse não está no bem em si, mas pelo valor que ele carrega, liquidez. 3. Limitados: também conhecido como direito reais sobre coisa alheia. São casos, por exemplo, em que há um condomínio sobre certa propriedade. Se uma das partes morre, necessariamente a propriedade daquele bem é transferida para o condômino. O mesmo para o caso do usufruto, quando alguém entrega a propriedade para outrem, mas garante a posse até que o direito se extinga com a morte do proprietário original do bem. 4. Aquisição: ocorre quando se pactua um compromisso de compra e venda. Há o direito real de adquirir o bem objeto do contrato, ainda que ainda não se possa ter a posse do mesmo. Caso, por exemplo, em que alguém compra um apartamento ainda na planta. Esse direito é assegurado com todas as características dos direitos reais (arts. 1.417 e 1.418 do CC). Aula 2 - 09/03/15 Posse Se nós sabemos que a propriedade se corporifica nesse uso de poderes, percebe-se que alguns outros direitos reais podem representar esses poderes. A propriedade se exterioriza por atos presentes no art. 1.228, CC. Se isso é verdade, entende-se que o direito de propriedade é tão forte que é preciso atentar para situações em que ele se exterioriza. O direito se preocupa tanto com a propriedade que ele se pretende proteger uma situação de aparência de propriedade. Então, essa circunstância da aparência da propriedade justifica uma proteção jurídica. É por isso que o Direito protege essa situação jurídica chamada de posse, que anda muitas vezes com a propriedade, ao lado dela ou contra a mesma. A preocupação do legislador ao criar o instituto jurídico da posse é exatamente de proteger a posse, porque muitas vezes por trás da posse há a propriedade. Qualifica-se a posse como "a antessala da propriedade". Entretanto, por mais direitos que tenha o possuidor, isso não o torna proprietário. São situações em que o direito qualifica de forma diferente e, portanto, dá direitos diversos. A posse, embora muitas vezes seja a exteriorização da propriedade, algumas vezes essas figuras jurídicas não se confundirão. A posse, vale ressaltar, não é um direito real, mas é um instituto do direito das coisas. Pelo art. 1.196, CC, considera-se possuidor quem, de fato, possui o exercício Cecília Alkimin 3 da coisa. É preciso ler esse artigo combinado com o art. 1.228, CC. A chave do conceito de posse é a existência de uma situação fática que qualifica alguém como possuidor ou não. O art. 1.197, CC, traz um conceito importante. Nesse artigo há uma especificidade ao identificar que há dois tipos de posse o possuidor: o direto, que tem contato direto com a coisa; e o indireto, aquele que, ou por força de direito pessoal ou de direito real, transferiu a posse de coisa de direito. Assim, pode coexistir situações de possuidor direto e indireto. No art. 1199, CC, há o conceito de composse. Esse artigo traz uma hipótese de posse conjunta, quando duas ou mais pessoas estão na posse do mesmo bem. Cada pessoa em composse pode exercer sobre a coisa atos possessórios, independente da vontade do outro possuidor. Porém, não poderá, ao exercer algum ato possessório, excluir o outro possuidor. É nesse caso que poderá haver uma ação possessória. Na composse, todos os possuidores estão no mesmo nível. Outro conceito importante é o de detenção. A consequência do conceito é um rebaixamento da situação fática, aquele caso em que parece posse, mas, por força de disposição legal, aquilo que era posse deixa de sê-lo para ser classificado como detenção. O art. 1.198, CC, traz um conceito que é combatido pela Doutrina por ser impreciso na medida em que não identifica todas as hipóteses de detenção. A posse é um estado de fato sobre a coisa, mas nem toda situação de fato configura posse. A posse pode ser exercida em nome do proprietário e seguindo as ordens do mesmo, então aqui não está sendo exercida a posse, esta pessoa não se qualifica como possuidor. Esse caso é de uma posse que só existe em nome de uma relação contratual outra, que não é a de cessão da posse, assim, a pessoa que a exerce não é considerada possuidora. A usucapião é sempre posse somada ao tempo, por isso, não se aplica nesse caso explicitado. Essa situação fática da detenção deve ser analisada minuciosamente. É importanteperceber que um ato de permissão ou tolerância não induz posse (art. 1208, CC). Se não induzem posse, isso significa que caso alguém autorize outrem a ter um estado de fato sobre a coisa, isso não gerará nenhum direito possessório sobre a coisa. Dessa forma, entende-se que o art. 1.198, CC, traz um conceito incompleto de detenção. Não são possuidores os que os detém a coisa por tolerância ou permissão, ou aqueles que casos em que se segue ordens ou orientações do proprietário. Detenção nunca gera nenhum direito. A figura do detentor, portanto, é uma situação em que se percebe algo que a Doutrina chama de uma detenção desinteressada e dependente, na hipótese do art. 1.198, CC. Já pelo art. 1.208, CC, a figura é independente e interessada, porque durante a violência ou clandestinidade existe a detenção, mas cessada essa violência, é gerada a posse fundada no ilícito. Aula 3 - 13/03/15 {continuação - Posse} Cecília Alkimin 4 A ação possessória protege a posse. Nem toda posse dá ensejo à usucapião e toda posse da ensejo a proteção interdital. A essência da usucapião é dar direito a quem tem aparência de direito. A usucapião tem prescrição aquisitiva. A doutrina discorda porque prescrição é sempre extintiva. Usucapião é sempre posse somada ao tempo. Quanto melhor a posse, menor o tempo. Isto é, o tempo para que se dê uma solução jurídica. O art. 1.200, CC, dá uma qualificação de justa para a posse que não é violenta, clandestina e precária. No art. 1.201, CC, há mais uma definição de posse. Assim, fica definido que existem dois vícios quanto a posse: objetivos e subjetivos. Os vícios objetivos da posse são a violência, clandestinidade é precariedade. Os subjetivos são casos em que a posse é de má fé. A posse violenta é aquela inaugurada por um ato de violência física ou moral. Tanto a violência quanto a clandestinidade são vícios relativos, porque só podem ser alegados pela vítima. A oposição da posse violenta chama-se pacífica. A clandestina foi aquela obtida de forma às escondidas. O oposto disso é a posse pública. O prazo da usucapião começa quando a pessoa é desapossada. A posse precária é aquela que alguém tem, mas que deveria restituir é não o fez. Nesse caso, a origem a posse não é injusta. O prazo só é contato a partir do momento em que se percebe a perda da posse. Uma posse que começa de boa-fé, salvo prova em contrário, termina de má-fé (art. 1.203, CC). Essa regra estabelece a presunção iuris tantum, a boa-fé pode se transformar em má fé por uma mera circunstância de fato. O possuidor com justo título tem a presunção de boa-fé (art. 1.201, § único, CC). Justo título não é necessariamente um título que gere justiça, é um título hábil, em tese, para transferir o direito, mas ele no caso concreto não operou essa transferência. A presunção que advém do justo título é importante porque demonstra a boa-fé. Uma boa fé sem justo título, uma pessoa acha que recebeu uma doação quando algo foi dado em comodato. O inverso: a pessoa recebe uma doação, justo título, mas sabe que esse bem doado proveio de uma ilicitude, age de má fé. Aula 4 - 16/03/15 {continuação - Posse} No CC não há um rol de possibilidades em que se pode adquirir a posse. Ela é adquirida desde o momento em que é possível exercer em nome próprio um dos poderes inerentes à propriedade (uso, fruição, disposição), art. 1.204, CC. A posse, noção distinta da propriedade, existe quando se exerce em nome próprio um desses poderes. A aquisição da posse difere-se da detenção porque este não pode exercer em nome próprio, ao contrário daquele. A partir do momento em que se passa a ter a isso em nome próprio, é possível colher os frutos, manejar os interditos Cecília Alkimin 5 possessórios e contar prazo para a usucapião. Há duas formas de aquisição da posse, uma originária e outra derivada. No primeiro caso, é aquele caso em que não há consentimento do antecessor da posse, enquanto a segunda é aquela em que existe uma relação jurídica com o possuidor anterior. Então, a originária é aquela em que se ocupa a coisa. A derivada é aquela em há a transmissão da posse por meio de uma relação contratual. Quando se trata de aquisição originária, há uma posse nova. No outro caso, existe a possibilidade de unir a posse com a do antecessor. Assim, é possível só somar o tempo do antecessor na posse ao tempo do atual possuidor para contar o prazo da usucapião, desde que essas posses sejam contínuas. Isso se chama ascensão de posse. A aquisição da posse derivada pode ser por sucessão, quando se tem um evento causa mortis, ou por tradição, que se divide em três hipóteses. A tradição efetiva ou material é a mais simples, efetiva entrega da coisa. A tradição simbólica é aquela que, embora não ocorra uma entrega efetiva e imediata, há um ato simbólico envolvendo a transferência da posse. A terceira hipótese é a mais complexa, é chamada tradição consensual. A posse é uma situação de domínio sobre a coisa. Ou seja, esse é o elemento corpus, corpo sobre o qual incide a posse. Por uma teoria da posse, de Hiering, basta o corpus. Para o direito brasileiro, não é essa a teoria válida. A teoria subjetiva diz que é preciso ter o corpus e também a vontade de que aquele corpus seja de propriedade da pessoa, chamado animus domini. Essa é a teoria do Savigny. Há, ainda, situações em que a pessoa tem o corpus, mas não tem o animus. O direito brasileiro tem a chamada posse derivada, posse sem corpus, pois confere-se a posse por outro modo, através do exercício de um dos poderes da propriedade. Nesse caso, a forma de adquirir a posse é por meio do constituto possessório, essa é a terceira forma de obter a posse. Então, o constituto possessório ocorre quando alguém que tinha corpus e animus passa a ter só corpus, pois o animus é de outra pessoa. No consituto possessório, aquele que está na posse vai deixar de possuir a propriedade sobre a coisa. É diferente do caso em que a pessoa tem a posse e vai receber a propriedade. Na aquisição derivada, a maioria das vezes, o novo possuidor recebe a posse com as mesmas características do possuidor anterior, salvo prova em contrário. Vide art. 1.203, CC. Então, o antigo possuidor poderia ter uma posse de má fé, mas a do novo possuidor pode ser de boa-fé se for provado que ele não sabia dos vícios. O contrário também é válido. A aquisição originária é a nova posse, não traz consigo nada da posse anterior. Pelo art. 1.205, CC, foca claro que a aquisição da posse pode ser feita pelo próprio, pelo representante legal, procurador ou por terceiro, desde que ratificado posteriormente. O art. 1.206, CC, define que a posse adquirida por sucessão vem com os mesmos caracteres da posse anterior. Quando não é por sucessão, a posse vem com os mesmos caracteres, salvo prova em contrário (art. 1.203, CC). Assim, adquirir algo como herança ou legado, vem com os mesmos caracteres. Pelo art. 1.207, CC, empreende-se que o sucessor universal, aquele que sucede a pessoa em todos os bens e direitos - herdeiro, tem a soma da posse automática. Já o singular, pode somar a posse. Somar pode não ser vantajoso por conta de dívidas. Cecília Alkimin 6 O herdeiro singular pode ou não somar, mas o universal não tem essa possibilidade, necessariamente será somado. Não induzem posse os atos de permissão ou tolerância (art. 1.208, CC). Não é o caso do detentor, aquele que exerce em nome de outro e é subordinado. A permissão ou tolerância se aplica a casos, geralmente, de amigos ou família. A permissão é o empréstimo da coisa para alguém. A tolerância não é permissão do proprietário, mas este nada faz para impedir a posse. Essas situações não incorrem na posse, porém é possível perder a posse por usucapião. A tolerância não afasta o direito do proprietário. A permissão parte do proprietário. A tolerância é um atodo outro, e o proprietário apenas anui com a situação. A questão na tolerância é determinar qual o limite para que a posse tolerada não seja configurada como usucapião. Não há um limite temporal para a posse ensejar a usucapião, nesse caso. Principalmente porque, geralmente, não há continuidade na posse por tolerância. Ainda assim, é preciso que o proprietário tenha cuidado ao tolerar determinados atos que podem ensejar a usucapião. Um dos mais importantes efeitos da posse é a possibilidade de adquirir a propriedade pela usucapião. Na usucapião adquire-se a propriedade no momento em que se completa o prazo, por isso a sentença de uma ação de usucapião é declaratória. Então, o primeiro efeito da posse é a permissão de adquirir a propriedade. Na usucapião é preciso provar que se está na posse do bem há muito tempo, isso se faz através de contas no nome do possuidor, por exemplo. O segundo efeito da posse é a possibilidade de colher os frutos. O possuidor pode colher os frutos e, nesse caso, será preciso verificar a boa ou má fé do possuidor. O terceiro efeito é a possibilidade de defender a posse, pode ser o desforço possessório (violência envolvida) ou pelos interditos possessórios. O último efeito da posse é o direito de retenção. Quando é feita uma benfeitoria, existe o direito de ser indenizado pela benfeitoria. Na posse de má fé não se é indenizado pelas benfeitorias úteis, só pelas necessárias. O direito de retenção é a possibilidade de reter a coisa até o recebimento da indenização. Aula 5 - 20/03/15 {continuação - Posse} Interditos possessórios presentes no art. 1.210, CC. a) Interdito proibitório: protege da ameaça à posse (art. 932, CC). b) Ação de manutenção de posse: visa a proteger uma lesão chamada turbação, que é um incômodo da posse. c) Ação de reintegração da posse: protege a lesão mais grave, que é o esbulho, perda da posse. Cecília Alkimin 7 Princípio da fungibilidade das ações possessórias: se o caso é de turbação e se ingressou com uma ação de reintegração, o juiz pode transformar a ação em manutenção, não precisa extinguir o processo. Outra ação que protege a posse são os embargos de terceiro, os quais são uma ação específica para quem não é parte do processo. São casos de direitos conexos, dependentes de outra ação judicial e serão interpostos por um terceiro, é um procedimento da proteção possesória. Ação de nunciação de obra nova: essa ação não é uma ação possessória propriamente dita, mas pode ser utilizada para proteção de obra nova. É um caso em que se pede para parar uma obra em andamento. Aqui, os prazos são muito mais curtos. Pede-se uma liminar para pedir-se que pare a obra. Não tem um aspecto possessório por essência, mas pode ser um remédio cabível para proteção da posse, vide art. 934, CPC. Uma ação possessória discute exclusivamente a posse, seja ela justa ou injusta. Não importa se quem esbulhou ou turbou era o proprietário ou tinha outro direito real sobre a coisa. Discute-se a situação de fato. Então, na ação possessória não serão comparados os títulos, aspectos relacionados ao direito real, discute-se a situação fática da posse. O fato de ser proprietário do bem não dá o direito de esbulhar, tomar ou turbar a posse. Para recuperar a posse, a ação cabível, nesses casos, é a da reintegração da posse, ou seja, pede-se a posse em razão da propriedade. Dessa forma, a exceção de propriedade não é oponível nas ações possessórias (art. 1.210, § 2º, CC). O possuidor pode se defender com sua própria força se cumprir dois requisitos, presentes no art. 1.210, § 1º, CC: se o fizer logo; se usar a violência proporcionalmente à violência sofrida na perda da posse. Um efeito da posse é a defesa dela. - Efeitos da posse: usucapião; defesa da posse, ser restituído pelos frutos; indenização pelas benfeitorias e, consequentemente, retenção da posse; indenização se houve dano ao bem. Para a indenização ser devida, dependerá da boa-fé do possuidor e do tipo de benfeitoria. A benfeitoria necessária deve sempre ser indenizada, seja no caso de possuidor de boa-fé, seja no de má fé. A lei não premia a má fé, mas não pode haver enriquecimento sem causa, porque a benfeitoria era necessária para a manutenção do bem. Por outro lado, o possuidor de má fé nunca será indenizado pela benfeitoria voluptuária. O possuidor de boa-fé tem direito de ser indenizado previsto no art. 1.209, CC, nos casos de benfeitoria necessária e útil, pode fazer valer, nesses casos, o direito de retenção. Em relação às voluptuárias, é possível retirá-las, mas desde que isso não deteriore a coisa. Terá direito à indenização se a benfeitoria não puder ser retirada e, nesses casos, não há direito de retenção. Pelo art. 1.220, CC, o possuidor de má fé tem direito à ser indenizado pelas benfeitorias necessárias, mas não terá direito de retenção. Não terá o direito de levantar as voluptuárias. De acordo com o art. 1.221, CC, não faz diferença entre boa fé e má fé. A benfeitoria, quando indenizável, pode ser compensada pelos danos causados ao bem. O dano sempre é ressarcido, Cecília Alkimin 8 seja de boa-fé ou não. A posse de má fé pode gerar uma ação própria para indenizar os danos pelo uso do bem, mas isso é diferente do dano provocado diretamente ao bem. No primeiro caso, é uma ação de reparação de danos, enquanto a segunda é relativa à uma ação possessória. Quando se tem que indenizar o possuidor de má fé é possível optar entre pagar pelo valor da coisa ou pelo custo dela. Sendo de boa-fé, paga-se o valor atual. Ambas as disposições estão presentes no art. 1.222, CC. De acordo com o art. 1.214, CC, se a posse é de boa-fé, enquanto persiste a posse, é possível colher os frutos. Quanto aos frutos pendentes, serão restituídos, irão para o novo possuidor, assim como aqueles que foram colhidos por antecipação. O possuidor de má fé, por sua vez, não terá direitos aos frutos, ao contrário, terá de indenizar o novo possuidor. Ressalta-se que boa-fé ou má fé dizem respeito à ciência da propriedade ou posse de um terceiro e, ainda assim, assumir a posse do bem. O possuidor de boa-fé não responde pela deterioração da coisa que não der causa, vide art. 1.217, CC. Por sua vez, responde o possuidor de má fé pela deterioração da coisa, salvo se provar que o mesmo aconteceria se na posse do real proprietário (art. 1.218, CC). Aula 6 - 23/03/15 Interditos possessórios Se não há posse, não há possibilidade de entrar com interditos possessórios. A circunstância se revela em outro remédio, que não o das ações possessórias. Embargos de terceiro protegem tanto a posse, quanto a propriedade. Art. 1.046, CPC, enfatiza a situação segunda a qual o embargante pode ser proprietário com posse ou somente possuidor. Isso significa que esse remédio jurídico cabe nas duas hipóteses, mas uma ação possessória não cabe na proteção da propriedade. Na verdade, quem tem título de propriedade e busca uma posse que nunca teve, não poderá usar interditos possessórios. O art. 1.228. CC, dispõe a possibilidade de rever a coisa, é a chamada ação reivindicatória. Nas ações do CC há um procedimento específico para reaver a posse. O provimento judicial é balizado pelo pedido e pela causa de pedir, em uma situação normal quem baliza é o autor. Provar a propriedade não se dá unicamente através do registro de propriedade, porque este pode ser anulado (art. 1.247, CC). A partir do art. 920, CPC, estão dispostas as ações possessórias. Esse artigo mostra o princípio da fungibilidade das ações possessórias, ou seja, é possível pedir algo diferente do que se mostrou de fato. A ação possessória pode trazer em seu contexto os pedidos suplementares constantes no art. 921, CPC. A ideia de que todo esbulhador está de má fé não é verdadeira, portanto, no desfazimento de obras e construções, o pedido deve estarmuito bem formulado, porque é possível que o possuidor esteja de boa fé e, nesses casos, ele terá direito de retenção. O direito de retenção tem que ser alegado na contestação. Então, o desfazimento pode ser relativizado pelo direito de retenção do possuidor de boa-fé. Cecília Alkimin 9 O art. 922, CC, traz o cárter dúplice de uma ação possessória. Isto é, o réu pode pedir também a ação possessória pelos caracteres que ele apresenta. Assim, caberá ao juiz decidir se autor ou réu são os verdadeiros possuidores. O art. 923, CPC, quer evitar uma confusão entre juízo petitório e juízo possessório. Se uma pessoa ingressa com uma ação judicial escorada na posse, a contestação não pode ser escorada na propriedade. Isso é semelhante ao disposto no art. 1.210, CC. Posse e propriedade são coisas diferentes, por isso ações que visam a proteção da posse não devem discutir a propriedade. Existe uma exceção, a da súmula 487 do STF, que dispõe ser possível discutir a propriedade quando ambos os possuidores dizem ter a posse calcada na propriedade. É o exemplo que duas pessoas compram uma mesma propriedade por má fé do vendedor e ambos discutem quem é, de fato, o proprietário e o possuidor. O art. 924, CPC, é essencialmente processual porque fixa o procedimento para as ações possessórias nas quais exista uma lesão na posse ocorrida a menos de um ano e um dia. Acima dessa data, as ações são outras, regidas pelo art. 282, CPC. Basicamente, a grande diferença é o prazo para contestar. É preciso situar no tempo a data da lesão à posse para saber qual o procedimento cabível. No art. 925, CPC, há a previsão do pedido de caução, garantia que o juiz pode pedir de ofício ou a requerimento da parte para resguardar o dano que pode advir ao réu na concessão de uma liminar. A caução pode ser real ou fidejussória (pode dar um bem ou uma garantia pessoal - dinheiro). O art. 926, CPC, repete o que consta no caput do art. 1.210, CC. O art. 927, CPC, só trata das ações de reintegração de posse e de manutenção da posse. O que está disposto no artigo é o que deve constar na petição inicial. Na ação de esbulho é preciso provar que se perdeu a posse, o que ocorre muitas vezes via testemunhal. Ou seja, cabe ao autor mostrar que a posse está com o réu. Mesmo que o réu tenha esbulhado a posse, se este não estiver com ela no momento da ação, não caberá interdito possessório. Os arts. 928 e 929 do CPC tratam de uma situação frequente nas demandas possessórias, que é a chamada audiência de justificação. Essa audiência existe para tentar entender a justificativa das testemunhas, no momento inicial do processo, que deem causa a liminar. O juiz busca se inteirar, mesmo sem ter ouvido o réu, pois este não contestou. A audiência serve para se provar a posse ou algum dos requisitos do art. 927, CPC. O réu não contesta, via de regra. Assim, o autor deverá justificar a sua posse. Só depois de decidida a justificação, o réu será citado para contestar a justificação em um prazo de 5 dias (art. 930, CPC). O art. 928, § único, CPC, estabelece que não é possível reconhecer liminar que envolva direito público. O que o art. 932, CPC, dispõe é sobre a necessidade de que o receio seja justo e assim definido pelo juízo. O art. 1.212, CC, tem dimensão importante do ponto de vista prático porque alude às hipóteses em que o esbulho foi cometido por uma pessoa, mas a posse está com outra. Isto é, o atual possuidor não foi quem praticou o esbulho. Não há demanda possessória contra esse possuidor, salvo se o mesmo souber que a coisa era objeto de esbulho. O que o artigo diz é que Cecília Alkimin 10 para a ação de esbulho é preciso provar que o terceiro não esbulhador sabia que a coisa era esbulhada, se não, cabe a ação reivindicatória, onde se discute o título de propriedade. Aula 7 - 26/03/15 Perda da posse O art. 1.223, CC, define as situações em que há perda da posse. A perda do exercício dos poderes inerentes à propriedade representa a perda da posse, o que é um espelho do art. 1.196 do CC. A perda da posse pode se dar por meio de um ato voluntário do possuidor, casos, por exemplo, em que ele abandona a coisa ou à dá em tradição. É importante observar as circunstâncias em que a tradição ocorre, pois ela pode representar a perda também da propriedade, não só da posse. A perda da posse também pode ocorrer através de um constituto possessório, declaração de vontade posta em um contrato, verbal ou escrito, em que se identifique o objetivo da transferência da posse. O art. 1.224, CC, trata da perda da posse. Por esse artigo, compreende-se que a simples perda do contato com a coisa não enseja a perda da posse, isto só ocorrerá no caso de esbulho, quando o possuidor souber que foi esbulhado. O art. 1.225, CC, elenca os 12 direitos reais taxativamente. A doutrina, porém, elenca mais possibilidades. Cabe ressaltar, entretanto, que somente a lei pode criar direitos reais. São os casos, por exemplo, dos arts. 1.361 e 9.514 do CC, que tratam da alienação fiduciária para bens móveis e imóveis, respectivamente. O mesmo vale para o art. 505, CC, que trata da retrovenda. A propriedade exige, muitas vezes, uma série de formalidades para ser constituída (vide art. 1.226, CC). O mesmo, no entanto, não se aplica necessariamente aos bens móveis, cuja tradição é suficiente para assegurar a posse é a propriedade. O próprio código traz exceções à essa ideia, presentes no art. 1.227, CC. A primeira delas é a ascensão (art. 1.248, CC). A segunda é a transferência da propriedade que se dá pela abertura da sucessão (art. 1.748 do CC). Aula 8 - 30/03/15 Propriedade Há uma evolução, ao longo da História do Direito, acerca da propriedade. No Direito romano, tinha direitos políticos quem era efetivamente proprietário. Depois, há a noção de propriedade na Idade Média, contexto no qual era fundamental conquistar e manter a conquista. Foi nesse momento que surgiu um Direito real que só acabou na reforma do CC02, a feitura. Ou seja, é onde surge os poderes de uso, gozo e fruição. No Código Napoleônico, há uma noção claramente individualista da propriedade. No começo do Séc. XX, a noção foi sendo alterada por uma ideia mais coletiva de propriedade. Verifica-se uma ideia muito clara de que a propriedade obriga, polo mais social, surgimento da função social da propriedade. Cecília Alkimin 11 A teoria de Léon Muguet, adotada em diversos ordenamentos, demostra que a proteção judicial só seja reconhecida se a propriedade cumprir sua função social. Isso significa que o juiz brasileiro que entende a propriedade dessa forma, tem que identificar se aquela proteção pedida está condizente com a função daquela propriedade. As ideias de função social são sempre ora limitadoras do direito de propriedade, ora impulsoras da propriedade. Essa política é fundada na dignidade da pessoa humana. O juiz, então, não tem um papel passivo durante o processo, por isso, cabe a ele movimentar o procedimento atribuindo sanções à parte que não desempenhar a prova necessária para a sentença. Cabe ressaltar que só o fato da propriedade ser produtiva não garante que ela esteja exercendo sua função social. A propriedade se presume plena e exclusiva até que se prove o contrário, vide art. 1.231, CC. A propriedade pura é aquela em que não há uma data ou um fim para seu exercício. É o contrário de uma propriedade resolúvel, quando pode haver uma cláusula de retrovenda que alterará a propriedade. Isto é, são propriedades que estão sujeitas à uma mudança no status de proprietário. Há a propriedade irrevogável e perpétua. Não se perde uma propriedade pelo não uso, tem que haver o uso por outro. Existe a propriedade inalienável e a alienável. Um testador pode gravar um bem com uma cláusula de inalienabilidade, além disso, não será um bem comunicável no regime de bens. Há regimesdistintos em relação à essas propriedades, móvel ou imóvel (art. 1.226 e 1.227 do CC). Uma propriedade nunca é absoluta, está sempre limitada por uma legislação específica. Nos arts. 1.229 e 1.230 do CC há uma noção clara dessa limitatividade. A proibição do uso do espaço aéreo ou do subsolo só pode ocorrer se houver justificativa razoável. Além disso, a propriedade do solo não corresponde aos bens previstos no art. 1.230, CC. Assim, fica claro que a propriedade não tem caráter absoluto. Aula 9 - 06/03/15 Ação reivindicatória Ação reivindicatória é uma ação que protege o direito de propriedade (ação petitória). Na petitória, discute-se o título de propriedade, a posse tem papel secundário. Aqui, não está mais em questão o estado de fato sobre a coisa, são os títulos (do autor e do réu) que brigam uns com os outros em juízo (art. 1.228, CC - parte final). O injustamente presente no art. 1.228, CC, tem a ver com a falta de título. Na ação reivindicatória, a briga é por títulos, quem ganhar terá a posse, objetivo secundário. O autor de uma ação reivindicatória deve, em primeiro lugar, provar que é proprietário. Eventualmente, o título pode ser contestado porque pode ser relativo. A prova da propriedade pode ser feita por todos os meios, não só pela existência de título. A defesa que, normalmente, se faz nessa ação é aquela em que o réu nega a propriedade. Outra defesa frequente é a usucapião. Cecília Alkimin 12 Nessa hipótese, o reconhecimento pelo juízo da usucapião não o induz na propriedade, uma vez que essa é uma defesa, os ritos das ações são diferentes. Não cabe reconvenção. O que se pode fazer é ajuizar uma ação de usucapião, que será distribuída por dependência (por conexão - por conta do risco de decisões antagônicas) na vara original da ação reivindicatória. Nesse caso, ambas as ações são julgadas pela mesma sentença, então, o juiz considerará um dos pedidos procedentes e o outro improcedente. Se for decidida a favor da usucapião, o possuidor incidirá na posse. A ação de imissão na posse é ação petitória em que o autor, invocando sua condição de proprietário, pede a posse que nunca teve, mas que tem direito pela força do título de propriedade. Não pode entrar com uma ação possessória porque nunca teve a posse. A ação de imissão na posse é uma ação reivindicatória especial, porque reivindica a posse, ainda que nunca a tenha tido, mas a qual tem direito. Faz-se uma invocação do título para que tenha direito a posse. Essa ação só tem relação com a imissão na posse. Essencialmente, a defesa que o réu pode alegar nesses casos é o defeito no título do autor. Isto é, aquele título não permite a posse da coisa. Aula 10 - 10/04/15 Desapropriação, descoberta e registro • Desapropriação A discussão na ação de desapropriação é tão somente calcular o valor da indenização, que sempre existe. A desapropriação sempre será em nome do interesse público. Tanto a CF, quanto o CC, falam em justa indenização, isto é, quanto o proprietário conseguiria naquele terreno. Outra discussão é quanto a prévia indenização. É prévia porque só se registra a transferência da propriedade com o pagamento da indenização majorado na ação de desapropriação, mas a posse é anterior, uma vez que é urgente a necessidade de exercer a função de interesse social. Na prática, tão logo seja feito o primeiro laudo de avaliação, o juízo já garante a posse do terreno. O art. 1.228, § 3º, CC, define que a desapropriação é feita em nome da utilidade pública, necessidade ou interesse público. A parte final do artigo dispõe sobre a requisição, que não tem a ver com desapropriação ou usucapião, ocorre quando o ente público requisita o imóvel em função de risco eminente. Cessado o perigo eminente, o ente público devolve o bem ao seu proprietário. O § 4º do art. 1.228, CC, é a maior flexibilização do direito de propriedade. Não há uma definição específica do que seria a extensa área prevista pelo artigo. Então, deverá o juiz avaliar o caso concreto. Fala-se em posse ininterrupta por 5 anos, o que se difere das hipóteses de usucapião, que usualmente tem prazos maiores para adquirir a propriedade. Poderá perder a propriedade se for uma área extensa, e a posse for de boa-fé por 5 anos ininterruptos. Além disso, é preciso haver um considerável número de pessoas, conceito aberto, mas em que deve ser pesado o interesse social. Esse artigo não exige que as pessoas morem naquele lugar. Não é definido Cecília Alkimin 13 também a forma da perda da propriedade, pois não é usucapião, já que neste caso não se exige indenização, enquanto nesse há previsão para indenizar. Uma parte da doutrina entende que esse artigo é inconstitucional, visto que cria uma espécie de desapropriação privada. • Descoberta A descoberta está regulada no art. 1.233 e ss do CC. Não é forma de aquisição da propriedade, ocorre quando se acha algo perdido de alguém. A descoberta pode gerar uma obrigação de restituir, mesmo que não se saiba à quem pertence aquele bem, além de gerar direito à recompensa. Ao achar o bem de alguém, é preciso devolvê-lo, mas esse ato gerará o direito de ser recompensado. A propriedade, vale ressaltar, não será adquirida. • Registro Formas de aquisição da propriedade imóvel: usucapião, acessão (quando uma coisa se junta à outra) e transcrição (título que será registrado no RGI). A grande discussão é saber se o título basta para adquirir a propriedade, o que dependerá de cada país. Para muitos países, como a França, Portugal, basta o título para se determinar a propriedade. Em outros países, caso do Brasil, o título dá o direito de adquirir a propriedade, mas não a propriedade em si. Ou seja, a propriedade é adquirida quando se pega o título e ele é transcrito na matrícula do imóvel. O registro pode ser anulado se for verificado que o título não exprime a verdade. Então, no sistema brasileiro, o título é a causa da propriedade e o registro é o que confere a propriedade. A presunção da propriedade pelo registro é relativa (iuris tantum). A prenotação é o protocolo do título no RGI. Em 30 dias, será feita a análise do título e da matrícula. Se cair em exigência, haverá um prazo para que seja cumprida. A prenotação é importante para garantir o aspecto temporal, ou seja, quem trouxe primeiro o título terá preferência na transcrição. Princípios que regem o registro: 1. Princípio da obrigatoriedade: a escritura não basta, é preciso escritura. 2. Princípio da fé pública: registro confere presunção relativa da propriedade. 3. Princípio da continuidade: o registro de um título depende do registro do um título anterior. Entre vivos, transfere-se a propriedade por meio da transcrição (art. 1.245, CC). O registro terá efeitos desde o momento em que for prenotado (art. 1.246, CC). A anulação do registro importa na anulação de todos os registros posteriores, só que o CC dispõe que, anulado o registro, o proprietário reaverá o bem, independente de boa-fé do terceiro adquirente (art. 1.247, CC). Aula 11 - 13/04/15 Usucapião Cecília Alkimin 14 Aplicam-se as regras da usucapião imóvel à usucapião móvel. A usucapião representa a aquisição da propriedade imobiliária através do tempo. Está presente o animus domini, ânimo de proprietário. Quaisquer das formas de usucapião envolvem posse somada ao tempo. Contesta-se uma usucapião por meio da alegação de falta de posse ou de falta de tempo. Se a posse é de boa fé e está escorada em um justo título (inábil na hipótese concreta, mas título de proprietário) demanda menos tempo que a posse de má fé. Uma aparência de direito se transforma em direito efetivo através da convalidação. É extraordinária aquela que demanda mais tempo para ser reconhecida, contrária à ordinária. Em se tratando de imóveis, não é possível usucapir um bem da União.Existem transferências que se dão com gravame de cláusula de inalienabilidade, o que representa uma restrição à circulação da propriedade. No entanto, doutrina e jurisprudência aceitam a possibilidade de usucapir, nesses casos, por uma única justificativa: a usucapião é sempre uma aquisição originária, inaugura um estado sobre a coisa, ou seja, só se transfere por uma sentença judicial. Assim, não se aplicaria o gravame real. Se a usucapião é passível de prescrição aquisitiva, é preciso olhar para os sujeitos da relação. Isso significa que marido e mulher não podem usucapir bens um do outro, o mesmo para pais e filhos. A posse deve ser mansa e pacífica, aquela que é contestada judicialmente não configura usucapião, pelo art. 219 do CPC estabelece os efeitos da citação, entre eles, define que a citação interrompe a prescrição. Se o efeito é de interrupção, o prazo prescricional zera e começa de novo. Acontece que se o efeito for levado dessa forma, ainda que o proprietário perca a ação contra o possuidor, zeraria o prazo, então, o possuidor precisaria de 15 anos para usucapir novamente. Se isso acontecesse, levaria à uma situação que impediria a aquisição da propriedade, assim, a jurisprudência considera que o efeito interruptivo não ocorre quando a ação (ajuizada pelo proprietário contra o possuidor) é perdida. A sentença que julga a usucapião tem efeito declaratório (todo período anterior da posse foi usocapionem) e constitutivo (representa a modificação do nome do proprietário). Então, os efeitos são ex tunc. A sentença é levada no registro de imóveis para que seja transferida a propriedade. No CC, o art. 1.238 prevê a hipótese de usucapião extraordinária. O caput trata da posse de 15 anos mansa e pacífica, em que e adquire a propriedade sem título e independentemente de boa-fé. O prazo máximo é de 15 anos para usucapir. Existe uma situação que faz esse prazo ser diminuído para 10 anos, se o possuidor, ainda que de má fé, resida habitualmente ou realize obras de caráter produtivo no bem. Esse ônus cabe ao autor da ação de usucapião. Uma das formas de se defender de uma ação de reintegração de posse é a ação de usucapião. O art. 1.239, CC, prevê a hipótese de usucapião no imóvel rural. Esse artigo trata de imóvel rural no limite de 50 hectares, além disso, o autor da usucapião tem que tornar o solo produtivo em função de seu trabalho e morar no local. Não pode, cabe ressaltar, ser proprietário de outro imóvel, seja urbano ou rural. O prazo é reduzido para 5 anos. O art. 1.240, CC, traz o mesmo princípio só Cecília Alkimin 15 que se tratando de imóvel com 240 hectares. A usucapião só é concedida uma vez. O art. 1.240-A, CC, prevê usucapião para os casos em que um dos cônjuges é abandonado pelo companheiro. Segundo o art. 1.242, CC, basta que tenha justo título e boa-fé para se beneficiar do prazo de 5 anos. Não precisa ajuizar ação, porque o nome já consta como proprietário no RGI. Esse artigo é uma contraposição ao art. 1.247, CC. Aula 12 - 04/05/14 Formas de aquisição da propriedade A acessão da propriedade, prevista no art. 1.248, CC, é uma das formas de aquisição da propriedade móvel. Existe entre (i) dois imóveis, (ii) móvel e imóvel, (iii) dois móveis. Na acessão o que ocorre é que existem dois bens que existem separadamente, mas vêm a ser unificados, criando uma nova situação jurídica a ser regulamentada. O legislador dá soluções para esta nova situação considerando três princípios: 1. Principalidade do solo: tudo aquilo que é lançado no solo e nele adere, é atraído. Isto é, a coisa lançada passa a ser de propriedade daquele que é dono do solo. 2. Princípio econômico-jurídico: aproveitamento da coisa. Aquilo que resulta da acessão passa a ter aproveitamento que justifica a coisa como nova. 3. Boa fé: de quem plantou e construiu. O inciso V do art. 1.248, CC, é o mais comum dos casos. Representa saber qual o regime jurídico que advém da circunstância em que alguém (i) em solo próprio, faz uma construção usando materiais ou plantação de semente alheias; (ii) alguém usando materiais próprios constrói ou planta em terreno alheio; (iii) alguém não é dono nem dos materiais ou sementes e constrói ou planta em terreno alheio. Cada uma das hipóteses tem solução específica. O art. 1.249, CC, trata de hipótese pouco comum na prática, abarcando a propriedade ribeirinha. Tanto a aluvião, quanto a avulsão, tratam de novas propriedades surgidas na beira do rio, devido ao deslocamento de um pedaço de terra que se juntou a uma das margens, levando um dos terrenos à margem do rio a ter sua dimensão aumentada. A avulsão (art. 1.251, CC) requer indenização porque é violenta. Nesta hipótese, um pedaço de terra bruscamente se desprendeu de uma propriedade e se juntou a outra, é uma força da natureza violenta. A avulsão requer indenização ou o decurso de um ano sem reclamação para que haja acessão. A aluvião (art. 1.250, CC) não requer indenização, pois ocorre gradualmente o deslocamento. Na hipótese de aluvião, aquele que perdeu a terra não tem direito de pleitear qualquer indenização tendo em vista que esse é um risco inerente às propriedades ribeirinhas. Cecília Alkimin 16 Acessão de bem móvel para imóvel. Hipóteses: sementes plantadas no terreno, materiais de construção incorporados ao bem imóvel. Possíveis causas: desconhecimento de demarcação, construção e plantação em terreno alheio com a intenção de adquirir a propriedade, desapropriação judicial, dono de terreno sabe da construção de terceiro e permite que aquilo prossiga por pensar que obteria vantagens com aquilo. Regras gerais: o acessório segue o principal (princípio da gravitação jurídica); a indenização será devida conforme haja boa-fé das partes, que é caracterizada pela ignorância quanto à construção ou quanto à propriedade alheia; a lei visa evitar enriquecimento sem causa e premiação da má-fé; a lei não estabelece a possibilidade de se retirar aquilo que tenha sido construído ou plantado. Pelo art. 1.253, CC, a presunção é iuris tantum. O artigo seguinte fala da presunção de que o solo é o principal e fala da boa-fé. Se o sujeito agiu de boa-fé, somente paga os materiais. Porém, se agiu de má fé, pagará o valor dos materiais e indenizará em perdas e danos. Pelo art. 1.255, CC, aquele que planta ou semeia em terreno alheio, perderá os frutos para o proprietário. Se agir de boa-fé, será indenizado pelos gastos que teve. O parágrafo único do artigo citado quebre o princípio de que o solo atraí as coisas que se aderem a ele, portanto, pertencem ao proprietário do terreno. Apesar de não desfazer a construção ou plantação, se o sujeito estiver de boa fé e exceder consideravelmente o valor da propriedade, esta será adquirida por ele. Nesse caso, os três princípios estão em harmonia. Possíveis cenários do art. 1.256, CC. Tendo a construção do valor superior ao do terreno, o construtor de boa-fé adquire a sua propriedade, devendo indenizar o dono de boa-fé pelo valor do terreno (ambos estando de boa-fé). Se o valor da construção exceder o valor do terreno, estando tanto o construtor, quanto o dono do terreno, de boa-fé, o construtor adquirirá a propriedade do terreno, devendo, contudo, pagar a devida indenização ao dono do terreno. Se a construção tiver valor superior ao do terreno e estiver o dono dele de má-fé, enquanto o construtor está de boa-fé, o construtor adquirirá a propriedade do terreno sem ter que pagar indenização por isso. Quando ambos estiverem de má-fé, cabe apenas indenização material à quem construiu (pelo valor dos materiais empreendidos). Estando de má-fé o construtor, e o dono do terreno de boa-fé, o construtor não terá direito de propriedade do terreno/construtor, nem mesmo será indenizado. Segundo o art. 1.257, CC, dispõe sobre os casos de terceiros que pega equipamentos que não lhe pertenceme empregam no terreno que igualmente não lhe pertence. O dono do terreno fica com a acessão, porém o dono do equipamento o perderá. Não se pode ajuizar ação pedindo originariamente que o pagamento seja feito pelo primeiro construtor. Não há solidariedade. O art. 1.258, CC, não está se referindo à construção em todo o solo, mas sim aquela que é parcial e que não excede 20% do terreno alheio. Se há má fé, a punição é severa, poderá haver a obrigação de demolir a construção. Se a demolição não for possível, pagar-se-á perdas e danos. O art. 1.259, CC, é um espelho do artigo anterior, mas trata das hipóteses em que se exceda 20% do solo alheio. Acessão de móvel para móvel: obrou em material alheio e pagar indenização. Cecília Alkimin 17 Aula 13 - 08/05/14 Transição da propriedade móvel e a importância da posse • Usucapião Trata da aquisição da posse mobiliária e imobiliária. É uma forma de aquisição da posse originária, logo, a propriedade é inaugurada, sem guardar vínculos com o passado. A usucapião de móvel se dá em prazo inferior à usucapião de coisa imóvel. A usucapião se revela no mundo jurídico como a consolidação de uma aquisição imperfeita. A aparência que decorria dessa situação era consolidada. A usucapião é sempre posse somada ao tempo, só se pode rebater uma ação de usucapião usando um desses elementos. A posse deve ser ad usucapionen. Nem toda a posse direta dá direito à usucapião. Quando há o desdobramento da posse, por exemplo, no caso de locação, a posse direta não exclui a indireta. Art. 1.241, CC, determina que para que se proceda ao registro na sentença que julga procedente a ação de usucapião, se extrai uma carta de sentença, levando-a ao cartório do RGI para transferir a propriedade. Este tipo de posse é direta, pública (vide regra do art. 1.224, CC), mansa e pacífica, o ânimo é de proprietário e não deriva de uma relação obrigatória, bem como não deriva de tolerância ou mera permissão (art. 1.208, CC). Bens passíveis de usucapião são aqueles que estão no comércio e são passíveis de usucapião, os bens que estão fora do comércio não são passíveis de usucapião. Bens gravados com incomunicabilidade, inalienabilidade, impenhorabilidade também podem sofrer usucapião, já que esta é uma forma de aquisição originária, como determinou o STF. Em sendo a usucapião uma forma de prescrição, só pode haver interrupção da prescrição uma vez. Vale ressaltar que uma posse que não seja mansa, nem pacífica, jamais ensejará na usucapião. Quanto às questões processuais, aplica-se o art. 219 do CPC para a citação. Quando válida, a citação interromperá a prescrição. Por exemplo, se recebe a citação um dia antes de se completar os 15 anos de posse, não será possível alegar a usucapião. Entretanto, é possível que a ação possessória seja perdida pelo proprietário do terreno, então, o réu poderá continuar mantido no imóvel. A Doutrina e a Jurisprudência entendem que o efeito interruptivo da prescrição no caso da usucapião só ocorre no caso de procedente a ação possessória. Qualquer improcedência, com resolução do mérito ou sem, formando coisa julgada material ou formal, não induzem a interrupção da prescrição. Se o vencedor da ação possessória não executa a sentença de procedência do pedido, o prazo de usucapião continuará correndo e o réu poderá intentar a ação de usucapião. A usucapião poderá ser extraordinária, prevista no art. 1.238, CC. Esse caso demanda maior lapso temporal, exige 15 anos para imóveis. O prazo é maior porque a posse é menos qualificada, não requer título ou boa-fé. A usucapião extraordinária prescinde de boa-fé e título, mas exige 15 Cecília Alkimin 18 anos de posse, o que pode ser reduzido para 10 no caso do possuidor ter estabelecido no imóvel sua moradia ou tiver realizado obras ou serviços de caráter produtivo. Outra hipótese de usucapião é a ordinária, com disposição no art. 1.242, CC. Esta exige 10 anos, é mais qualificada, pois é fundada em justo título e na boa-fé. O prazo é reduzido para cinco anos se o imóvel tiver sido adquirido onerosamente e sendo objeto de anulação de registro, contrapondo-se com o art. 1.247, CC. Se o reivindicante não intentar ação anulatória de registro dentro de 5 anos, aplica-se o art. 1.242, CC. A aquisição deve ter sido onerosa com base no registro e os adquirentes devem ter estabelecido sua moradia. Além disso, para que se faça uso do prazo de 5 anos, é fundamental a boa-fé do adquirente. Outra forma de usucapião é a pró-labore/rural, vide art. 1.239, CC, c/c Lei 6969, art. 7º, a qual se dá em 5 anos, decorrendo do exercício de uma posse qualificada pelo trabalho, assim, exigindo um prazo menor, já que a área é de, no máximo, 50 hectares. O Estatuto da Cidade criou duas formas de usucapião: individual urbano ou coletiva urbano. Para se usucapir em 5 anos um imóvel urbano, este não poderá ser maior do que 250m², mas o possuidor pode ingressar com a ação pedindo apenas os 250m² do imóvel que seja maior que isto. A usucapião especial de imóvel urbano (coletiva) é restrita à imóveis localizados em zonas urbanas, relevante em relação às favelas. Não é necessário delimitar a área do bem usucapiendo. Pode haver litisconsórcio ativo. Exigências: possibilidade de várias pessoas usucapirem uma área urbana maior que 250m², os beneficiários são as pessoas de baixa renda, a finalidade deve ser residencial, além da posse tem que ter sido ininterrupta por 5 anos. Arts. 9º a 13 do Estatuto da Cidade. A alegação de usucapião como matéria de defesa é hipótese legal, prevista na Súmula 237 do STF. Na prática, isso significa que o atual possuidor, estando no imóvel há vários anos e podendo entrar com ação de usucapião, mas não o fazendo, poderá arguir usucapião como matéria de defesa, caso seja acionado posteriormente em ação possessória ou reivindicatória proposta pelo proprietário. Não cabe alegar usucapião em reconvenção porque esta ação tem um procedimento próprio, a reconvenção só permite que os procedimentos sejam iguais. É o mesmo princípio da aquisição por usucapião do bem imóvel, mas o prazo se reduz drasticamente para dar segurança jurídica. Alguns bens móveis são excepcionados, pois tem registro. Pelo art. 1.260, CC, a posse tem que ser contínua. • Ocupação Só pode ocorrer se o bem foi abandonado, quebrou ou não tem dono. Não pode, também, haver vedação específica da lei. Art. 1.263, CC. • Tradição Entrega da coisa com o intuito de transferir a propriedade. Não transfere-se a propriedade com contrato de aluguel ou comodato. É muito importante saber se quem transfere pode fazê-lo. Há peculiaridades, principalmente se não houver registro. A aparência de propriedade se dá pela Cecília Alkimin 19 posse, porque bens móveis raramente são registrados. Quando fica clara a boa-fé, a aquisição pode gerar propriedade. A transferência da coisa não precisa ser efetiva, pode ser simbólica para que se opere. A importância da tradição está na medida em que gera a transferência de propriedade. O contrato no nosso sistema não gera, por si só, essa transferência de propriedade. Arts. 1.267 e 1.268, CC. É preciso verificar a boa-fé do adquirente. • Constituto possessório Alienante que está se desfazendo continua na posse, mas o adquirente se torna proprietário por causa dessa cláusula. • Traditio breve mano Caso em que o comprador já está na posse do bem. • Especificação Mesmos princípios da acessão. Verifica-se a boa-fé e a má fé, para ver se hádireito à indenização. Também é preciso verificar o princípio da possibilidade de transferência de propriedade por quem fez a especificação, não podendo desfazer sem dano. Art. 1.269, CC, dispõe sobre o caso da escultura, se for proprietário parcial do material da escultura, a propriedade será dessa pessoa. Pelo art. 1.270, CC, é preciso verificar a boa-fé. • Perda da propriedade Tanto da propriedade móvel quanto do imóvel. No art. 1.275, CC, há previsão das hipóteses. Alienação é sempre compra e venda, doação, dação em pagamento, renúncia ao usufruto. Significa o direito perpétuo de usar e fruir. Abandono é renúncia tácita. A desapropriação, por ter interesse público, não é discutível, apenas debate a indenização. Aula 14 - 11/05/15 Vizinhança Vizinhança no sentido jurídico não é apenas a contiguidade de bens, é também a possibilidade de um imóvel sofrer interferências vindas de outro bem, afetando sua boa utilização. O regramento do direito de vizinhança parte da noção de que a propriedade não é absoluta, ou seja, o proprietário não pode usar o bem como quiser, sendo sua utilização limitada pelo bom uso e preservação da propriedade alheia. Atributos do direito de vizinhança: imposições de deveres legais, que podem representar restrições no uso da propriedade; caráter de necessidade, as regras do direito de vizinhança são criadas frente à uma imperiosa necessidade dos imóveis vizinhos, isto é, não para dar mais comodidade. Cecília Alkimin 20 Nesse contexto, as regras de vizinhança derivam da lei. Dever de abstinência e de tolerância. Essas regras surgem de uma questão de necessidade, é para se evitar um prejuízo. São obrigações propter rem. O art. 1.277, CC, prevê o uso anormal da propriedade, que diz respeito às interferências que afetem a segurança, a saúde e o sossego da vizinha. Se houver um desses casos, é possível que sejam cabíveis medidas judiciais. Os deveres impostos pelas regras de vizinha são positivos, de abstinência e de tolerância. O caso de perturbação sonora é regrado por uma obrigação de abstinência. Se o vizinho não o fizer, é possível entrar com uma ação judicial para o cumprimento de uma obrigação de não fazer. Casos dessa natureza, muitas vezes, são muito simples de serem resolvidos. Na avaliação o juiz deverá levar em conta até que ponto é uma intolerância impraticável ( § único, art. 1277, CC). Por exemplo, se o sujeito mora em uma região parcialmente industrial, admite-se que aquela atividade preexistente dificulta a plenitude das regras de vizinha. Por outro lado, é natural que o Poder Público impeça que uma indústria se instale em região residencial. O art. 1.278, CC, prevê que sempre que houver a justificativa do interesse público, a interferência terá que ser tolerada, mas será pago perdas e danos aos vizinhos. Pelo art. 1.279, CC, há previsão de que é possível manter a atividade interferente, desde que ela sofra medidas atenuantes do incómodo. A caução do dano infecto está prevista no art. 1.280, CC. Um proprietário de um prédio pode pedir pela demolição do prédio contíguo se este estiver caindo, na iminência de cair, ou se estiver para ser demolido. Muitas vezes, essa é uma medida cautelar, para depois se entrar com uma ação demolitória. Acontece também de se mover a terra na propriedade e isso pode efetivamente comprometer a segurança dos vizinhos. No REsp 85.806 se decidiu pela manutenção da obra que estava em curso, desde que realizadas certas cautelas que garantissem a segurança do imóvel. É possível embargar uma obra ainda em curso se dela decorrer dano a alguém ou violação ao regulamento administrativo. No recurso em questão, a violação do regulamento administrativo não trouxe nenhum dano, então este regulamento não poderia ser invocado. O art. 1.281, CC, dispõe sobre a possibilidade de que se proceda a prestação de um seguro da obra, que garante aos demais condôminos a necessária indenização no caso de dano Toda vez que se faz obra, é possível causar danos à terceiros. Muitas vezes, se as obras não foram aprovadas por profissionais, isto pode ocorrer. Por isso, existe a previsão do seguro. A passagem forçada decorre da situação fática em que um imóvel não tem saída para nascente, rua ou porto (art. 1.285, CC). A ideia da passagem forçada é exatamente permitir um melhor aproveitamento do imóvel. A Doutrina qualifica um imóvel nestas condições como imóvel encravado. As regras de direito de vizinha impõem que o vizinho permita a passagem. Não se confunde com a servidão porque esta é consensual, enquanto a passagem é forçada. O juiz verificará a passagem forçada no local em que menos causar problemas ao imóvel que servirá de passagem. Apesar de forçada, haverá indenização para o proprietário do imóvel que se presta a passagem. Outra hipótese de passagem forçada ocorre quando o imóvel que se presta para a Cecília Alkimin 21 passagem é desmembrado, neste caso, o trecho que tiver de tolerar a passagem, continuará fazendo isso (§ 2 º, art. 1.280, CC). Se cessar a razão pela qual ocorre a passagem, a indenização não será devolvida, porque o dano já foi sofrido, e não será mais preciso suportar a passagem. Um enunciado de Direito Civil, n º 88, considera que o encravamento não precisa ser somente físico, pode ser parcial, que torne complexa a exploração daquela passagem. É o caso, por exemplo, em que exista a passagem, mas o trecho em que isso é possível é claramente de difícil acesso. Algumas regras de direito de vizinha só se justificam quando há contiguidade. No caso da passagem forçada, muitas vezes isso irá acontecer. Porém, nem sempre se dará em razão da contiguidade. Os limites entre o prédio são previstos nos art. 1.297 e 1.298, CC. Essas linhas podem ser físicas ou imaginárias. A efetiva delimitação é originária ou pode ser refeita porque a outra desapareceu. Nessas condições, é possível constranger o vizinho a incorrer com a metade da delimitação, pois isto beneficia ambas as partes. Se entendemos que os vizinhos contíguos devem arcar com as delimitações, precisamos avaliar em que qualidade isso deve ser feito. Ou seja, é preciso auferir os custos dos materiais usados para a delimitação da divisória. O que determinará serão os costumes da comunidade local, conforme dispõe o § 1 º do art. 1.297, CC. Os tapumes especiais, necessário para evitar que animais invadam a propriedade vizinha, tem um custo superior, então, o vizinho que tem o animal de pequeno porte arcará com esses custos especiais. Não pagará o custo integral, mas sim aquele excedente. O art. 1.298, CC, traz uma regra sobre a solução da aviventa dos muros. O critério a ser usado é a conformidade com a posse justa, se esta não estiver provada, faz-se a decisão em partes iguais, e, não havendo forma de dividir, dá-se o terreno para um e indenização para outro. Aula 15 - 15/05/15 Direito de construir Certas construções são proibidas de serem realizadas, ainda que no próprio imóvel, em nome da segurança. Há regras de Direito Administrativo e de Direito de vizinhança que regulam a forma de construir nos imóveis. O art. 1.299, CC, coloca que o direito de construir não é livre, possui regulação pelo CC. O art. 1.301, CC, traz o conceito de janela. A distância mínima entre uma janela e outra é de um metro e meio, trabalha-se com uma certa razoabilidade para não defasar a intimidade das pessoas em nome do melhor aproveitamento do espaço urbano. O § 2º do artigo dispõe sobre o conceito de janela, a contrário sensu. Súmulas 414 e 120 do STF visam determinar que mesmo que a vista não seja direta e oblíqua, deve haver ao menos um metro e meio de distância. Paredes de vidro, por outro lado, não acarretam devassamento e, por isso, podem ser construídas em distâncias menores. O art. 1.302, CC, representa a servidão de janela ou usucapião de janela. Estipula um prazodecadencial para que se peça o desfazimento da obra. Deixando escoar o prazo sem que se exerça Cecília Alkimin 22 seu direito, aquela obra não mais poderá ser desfeita, demolida ou tampada. Quando a obra já está pronta, caberá nunciação de obra nova ou pedido de demolição, dependerá do caso concreto. O art. 1.304, CC, dispõe acerca das regras administrativas que definem o alinhamento. Levantar um prédio só pode ser realizado se não afetar a segurança do prédio vizinho existente. Será preciso indenizar o vizinho se o prédio estiver com a segurança comprometida, se houver gastos com o muro, ou se for preciso fazer escoramento. O valor da indenização variará conforme a extensão do dano. O art. 1.306, CC, tem aplicação maior para imóveis urbanos, quando proprietários dividem uma parede, são condôminos. O art. 1.308, CC, trata das regras relativas às paredes das construções. Só poderá encostar nelas aparelhos de uso normal, os de uso anormal, como fogões, não podem. Pelo art. 1.309, CC, é preciso fazer a construção evitando ao máximo a poluição ao meio ambiente, evitando vazamento de dejetos nos rios, etc. O art. 1.311, CC, dispõe sobre a hipótese de proibição de construção em locais passíveis de deslocamento de terra, e se aplica a outras hipóteses também. O inciso I do art. 1.313, CC, dispõe sobre uma obrigação de tolerância. Aula 16 - 18/05/15 Condomínio O condomínio envolve a coexistência de direitos reais de mais de um sujeito sobre o mesmo bem. Dessa forma, sendo mais de uma pessoa proprietária, usufrutuária, etc, haverá mais de um direito real recaindo sobre o mesmo bem. Trata-se das hipóteses relativas ao condomínio em geral, não ao edifício. O condomínio necessário decorre da força da lei. Por sua vez, o voluntário depende da vontade das partes ou mesmo de uma vontade comum em relação a aquisição do mesmo bem. Para alguns autores, a natureza jurídica da propriedade condominial é um único vínculo jurídico com uma pluralidade de titulares, direitos subjetivos sobre o mesmo bem. Há uma multiplicidade de interessados, uma finalidade que faz unir todos. A propriedade condominial surge a partir de uma vontade comum acerca do mesmo bem, ou por vontade de terceiros (por exemplo, um testador, que deixa o mesmo bem para mais de um terceiro). Quinhões tratam-se de parcelas (frações) sobre o bem móvel ou imóvel. Cada condômino tem um quinhão, que representa uma fração da propriedade, que não é necessariamente destacada das demais propriedades do bem, é, em verdade, uma fração sobre o todo. Um condômino, por exemplo, não pode exercer seu direito de propriedade de modo a diminuir a fração de outro condômino. Durante o condomínio, a coisa permanece indivisa. Muitas vezes, entretanto, pode ocorrer uma divisão física, desde que isso não represente um custo exagerado aos condôminos. Durante o período indivisa, não há propriedade específica sobre determinada parte do bem, há apenas a fração do todo. Assim, qualquer um que tiver seu quinhão, independentemente de seu tamanho, deverá ter seu direito respeitado. O condômino tem direito de alienar seu quinhão, respeitando o direito de preferência. Cecília Alkimin 23 Ninguém é obrigado a permanecer em condomínio para sempre, disto denota a divisibilidade da coisa. Propriedade por natureza se reputa, pode gerar quaisquer tipos de problema para o condômino. O art. 1.320, CC, dispõe acerca da extinção do condomínio. É possível que quem tenha um quinhão menor imponha uma vontade diferente daquela de quem tem o maior quinhão, a única forma de exercer seu direito é saindo do condomínio e isso dependerá da venda do quinhão para outro condômino ou para um terceiro. Há uma ação judicial especificamente para a extinção do condomínio, mas será preciso provar quem não houve nenhum comprador para aquele quinhão. Nesse caso, o juiz realizará um leilão, no qual terão os condôminos direito de preferência na compra. • Direitos e deveres: 1. Uso livre. Via de regra, o uso do bem é livre, mas existem limitações. O condômino não poderá usar se invadir o direito do outro ou se alterar a finalidade do bem. O art. 1.314, CC, prevê as hipóteses de uso do bem, estipulando que esta deverá estar de acordo com a destinação do mesmo. É possível dar seu quinhão em hipoteca. Pode haver ações possessórias entre condôminos, caso em que um não permite que o outro exerça plenamente sua posse. 2. Alienação da coisa. Não é algo tão livre, existe uma estipulação legal nos termos do art. 504, CC, que define necessário respeitar o direito de preferência. Só é possível vender à terceiro com base na mesma oferta oferecida aos condôminos, isto é, mesmo preço, mesma forma de pagamento. Sendo a oferta diferente, é preciso novamente oferecer aos condôminos a possibilidade de compra, dando prazo razoável, entre 15 e 30 dias, para que eles manifestem seu interesse. O mais seguro é que os demais condôminos participem da escritura de compra e venda e expressem sua anuência com tal negócio jurídico. Se o direito de preferência não for respeitado, é passível de anulação a compra e venda. Entra-se com ação pedindo a adjudicação do quinhão que foi alienado. 3. Divisão da coisa comum. O art. 1.320, CC, reconhece requerer a todo tempo o direito à alienação. Cada um deve suportar com seu quinhão as forças decorrentes da divisão (alienação) de uma fração. O art. 1.332, CC, estabelece as regras da divisão. 4. Renúncia à parte ideal. Art. 1.332, §§ 1 º e 2 º, CC. Os arts. 1.317 e 1.318, CC, tratam do regime de contratação de divisas por todos os condôminos ou por só um deles. Não há contrato, nem lei, que determine a solidariedade, isso dependerá do caráter da obrigação. A dívida que for contraída por um em benefício dos demais condôminos gera direito de regresso. A administração do condomínio compete à quem tem o maior quinhão. Arts. 1.323 até 1.327, CC. A propriedade é feita para ser perpétua, só se perde em função da alienação ou da usucapião. Propriedade resolúvel é prevista no art. 1.359, CC, caso em que a propriedade finda após o adimplemento da condição resolúvel. O art. 1.360, CC, fala sobre a propriedade ante tempos e prevê perdas e danos no caso da causa não ter relação com o que está disposto no título. Cecília Alkimin 24 Aula 17 - 22/05/15 Direito de Usufruto É um direito real muito importante na prática jurídica, devida sua finalidade econômica. Poe ser um direito real, recai sob uma coisa, e pode ser móvel ou imóvel, não pode ser consumida. Pode também recair sob bens regulares ou coletivos. Mais modernamente, fala-se em usufruto de empresa, de ações, e de títulos de créditos ou créditos. O usufruto confere a alguém o direito de usar e fruir da coisa. Usar, dispor e gozar. O proprietário fica com a faculdade de dispor, mas sem o uso econômico, pois ele não pode usar, nem fruir. O usufrutuário pode usar e fruir, mas não pode, por sua vez, dispor da coisa, nem do direito de usufruto que tem sobre a coisa, pode apenas ceder seu exercício. O usufruto pode ser vitalício, dura enquanto estiver vivo o usufrutuário. Quando falece o usufrutuário, extingue-se o usufruto, que não se transfere aos herdeiros, não é transmissível. É constituído em favor de uma pessoa e se extingue com a morte dessa pessoa. Mesmo sendo intransmissível, esse direito pode ter o exercício da posse transferido. O usufruto pode estar sujeito a condições específicas, como no caso de pessoas jurídicas, quando o usufruto é constituído e se dá por 30 anos. Tem natureza falimentar, uma vez que o usufrutuário alimenta-se a partir dos direitos decorrentes do usufruto. Transfere-se, portanto, seu conteúdo econômico. Há duas espécies: legal e voluntário. O primeiro é o caso de pais que têm sob poder os bens dos filhos, enquanto estes são incapazes. O segundo ocorre por ato intervivos,volitivo. O fideicomisso ocorre quando o testador deixa o bem para uma pessoa por um período e depois esse bem será transferido para um terceiro. Não confundir com usufruto. No fideicomisso, ambas as partes têm direitos separados, enquanto no usufruto, os direitos coexistem. O usufruto também pode ser adquirido por usucapião. - Obrigações do usufrutuário: os deveres são divididos em três momentos. 1. No momento da constituição de usufruto, o usufrutuário deve prestar caução. 2. Durante o exercício do usufruto, deve conservar a coisa, ou seja, não alterar a substância, manter a substância da coisa. Deve pagar as despesas ordinárias. 3. Ao final, deve restituir a coisa. -Extinção: 1. Morte do usufrutuário. 2. Esgotamento do prazo. 3. Consolidação – usufrutuário e proprietário se tornam a mesma pessoa. 4. Perecimento da coisa – se a coisa perece, não há mais usufruto. 5. Renúncia – é muito comum. Cecília Alkimin 25 6. Alienação do bem. -Artigos: Art. 1.689; Art. 1.693; Art. 1.390; Art. 1.391 - no caso do usucapião, registra-se a sentença, pois a usucapião se dá com a completude do prazo, mas a sentença terá de título; Art. 1.392; Art. 1.393 (O direito de usufruto não pode ser vendido, mas seu exercício pode ser cedido); Art. 1.394; Art. 1.395 - o usufrutuário fará a cobrança, pois tem posse e administração; Art. 1.396 - no usufruto, o proprietário e usufrutuário não devem se indenizar pelas despesas; Art. 1.397; Art. 1.398; Art. 1.399; Art. 1.400; Art. 1.401; Art. 1.402; Art. 1.403; Art. 1.404 - artigo polêmico. Despesa alta de conservação. O usufruto, se é alimentar, não pode gerar uma despesa de conservação muito grande. Desse modo, quem paga é o dono; contudo, o dono poderá cobrar do usufrutuário os juros, pois é ele que usa e frui as coisas; Art. 1.405; 1.406 - artigo importante. Se o usufrutuário é esbulhado na posse, e o sujeito que esbulhou fica muito tempo, adquire a propriedade por usucapião; Art. 1.407; Art. 1.408; Art. 1.409; Art. 1.410; Art. 1.411. Estipulação expressa - cláusula de acrescer. Aula 18 - 25/05/15 Direito de Superfície Direitos reais só podem surgir pela lei, assim, o direito de superfície é previsto pelo CCA, o qual estabeleceu essa previsão a partir do art. 1.369, CC. É uma exceção ao princípio da acessão. Isto é, ocorre quando alguém semeia planta ou edifica em terreno alheio usando materiais próprios, e, se estiver de boa-fé, poderá ser indenizado. Não se pode, entretanto, esquecer do princípio do solo, o que está nele à ele adere. Art. 1.253, CC: toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário. Esse direito permite que, ao invés de comprar terreno, celebre com o dono de uma superfície sem ter que pagar nada pelo terreno. O direito de superfície permite que o empreendedor construa na superfície do proprietário ao custo zero. A vantagem do dono do terreno é que, uma vez instituído o direito de superfície por determinados anos, ao fim desse prazo, a edificação toda se reverte para ele. O custo será nulo, pois terá um empreendimento funcionando sem que se tiver que despender nenhuma quantia. Escoado o prazo, o dono do terreno virá proprietário do que foi construído/plantado, pois quem construiu não mais será proprietário. As partes podem prever um valor simbólico de remuneração, que não é aluguel, para quem construiu. Nem sempre persiste Aula 19 - 29/05/15 Servidão Cecília Alkimin 26 - Conceito (Ver no livro) Art. 1.378, CC: Ao dizer que o prédio dominante e o serviente tem que ter diferentes donos, é uma obviedade. Para que exista, tem que se dar entre imóveis de donos diversos. Arts. 1.388 e 1.389, CC: A servidão perdura enquanto tiver utilidade. Outra hipótese que faz surgir as servidões são situações de maior comodidade. Art. 1.379, CC: Faz remissão expressa ao art. 1.242, CC, ao estabelecer a hipótese de usucapião de servidão. O parágrafo único prevê um prazo maior para aquele da usucapião ordinária. Interpreta-se que o prazo é, na verdade, de 15 anos. - Características da servidão: 1. Predialidade: não existe servidão pessoal, grava-se um imóvel em outro, e isto é feito somente se houver utilidade para o prédio dominante. No momento em que cessa a utilidade, é possível pedir pelo fim da servidão. A servidão não pode ser usada com fim diferente daquele que lhe foi determinado. 2. Vizinha: a Doutrina denota uma certa vizinha, porque, mesmo não havendo certa contiguidade entre os imóveis, não haverá servidão entre imóveis com uma distância gigantesca. 3. Utilidade perene: contraposta à um aspecto efêmero. Uma servidão existe para perdurar, o que pode ser perpetuamente. 4. Dever do prédio serviente: de tolerância ou de abstinência. 5. Indivisibilidade: não se adquire uma servidão por partes, nem a perde por partes, existe como um todo. Essa característica não afasta a possibilidade de alargamento da servidão, desde que isso seja justificado. 6. Não é perpétua: pode ser resgatada, o que significa implementar meios para que a servidão seja extinta e não mais opere o ônus sobre o prédio serviente. Pode ocorrer o resgate se houver uma modificação nas características do prédio, e pode haver o pagamento de certa quantia como indenização, 7. Seu exercício é feito de forma civilizada: da forma menos onerosa possível para o prédio serviente. 8. A servidão maior engloba a menor. 9. Quanto ao dever jurídico: podem ser servidões afirmativas, aquelas cujo dever jurídico implica em uma tolerância; e servidões negativas, que são assim classificadas porque o dever jurídico é de abstenção. 10. Quanto à continuidade: Classifica-se em servidões continuas e descontinuas. O primeiro caso é aquele em que as servidões são exercidas independentemente do ato humano. No segundo caso, exige-se um ato específico do homem para a sua realização. Cecília Alkimin 27 11. Diferença entre aparentes e não aparentes: as aparentes são aquelas que se revelam por obras exteriores, enquanto as não aparentes não se caracterizam no mundo exterior. Súmula 415 do STF - relativa a servidões de passagem não aparentes, que podem se tornar aparentes em função de obras que a exteriorizem. A súmula cogita a passagem de pessoas ou animas, que o dono do prédio dominante não se limitou a passar, mas realizou obras visando a tornar essa passagem mais cômoda. Essa situação transformou algo que, em princípio era não aparente em aparente. Essas obras acabam representando uma situação fática distinta, que não pode ser tolerada pelo prédio. Portanto, o que a súmula faz é reconhecer que algo que é originariamente não aparente em aparente, por conta das obras realizadas, com isso dá proteção possessória para aquele que fez as obras. Ele, então, usucapirá em uma servidão de passagem. Aula 20 - 01/06/15 {continuação - Servidão} Faz-se necessário respeitar a maior utilidade para o prédio dominante e aniquilar qualquer utilidade do prédio serviente. A servidão é indivisível, conforme dispõe o art. 1.386, CC. O art. 1.387, CC, prevê a extinção da servidão. Em uma desapropriação, a perda do direito real decorre da edição do decreto de desapropriação. O surgimento de servidão por usucapião deve ser registrado no RGI, então, a ressalva da desapropriação se justifica porque é o caso em que não decorre a perda do direito real do registro do imóvel. Um imóvel dominante que tem em seu benefício uma servidão, tem um incremento considerável no seu valor, o que representa para o credor hipotecário uma importância. Daí a ressalva do parágrafo único do artigo supracitado, que define que a servidão só poderá ser extinta com a anuência do credor hipotecário. O art. 1.388, CC, prevê hipóteses de cancelamento da servidão. São situações que decorrem
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