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1 LEGISLAÇÃO E ORIENTAÇÕES PARA EDUCAÇÃO MUSICAL Belo Horizonte 2 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 03 1 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PARA ARTES ............................................ 06 2 A LEI 11.769/08 ............................................................................................ 10 3 MÚSICA COMO COMPONENTE DOS RCNEI E PCNS .............................. 17 3.1 A fala dos Referenciais para Educação Infantil .......................................... 17 3.2 As justificativas dos PCNs .......................................................................... 18 4 A EDUCAÇÃO MUSICAL COMO PRÁTICA SOCIAL ................................. 24 REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS .......................................... 31 ANEXOS .......................................................................................................... 34 3 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 INTRODUÇÃO Nos esforçamos para oferecer um material condizente com a graduação daqueles que se candidataram a esta especialização, procurando referências atualizadas, embora saibamos que os clássicos são indispensáveis ao curso. As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras, afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e provado pelos pesquisadores. Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que nada está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e melhorar nosso trabalho. Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distância, vocês são livres para estudar da melhor forma que possam organizar-se, lembrando que: aprender sempre, refletir sobre a própria experiência se somam e que a educação é demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, para a formação dos nossos/ seus alunos. Dentre os objetivos gerais contidos nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino fundamental (BRASIL, 1997), deseja-se que os alunos sejam capazes de utilizar das diferentes linguagens: verbal, musical, matemática, gráfica, plástica e corporal — como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação. Pois bem, a música é uma das linguagens que constitui a área de arte, juntamente com as artes visuais, o teatro e a dança. 4 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 As oportunidades de aprendizagem de arte, dentro e fora da escola, mobilizam a expressão e a comunicação pessoal e ampliam a formação do estudante como cidadão, principalmente por intensificar as relações dos indivíduos tanto com seu mundo interior como com o exterior (BRASIL, 1997, p. 19). Em 2008, o presidente da república sancionou uma lei, de número 11.769, tornando obrigatória a volta da música ao currículo de todas as escolas brasileiras, da educação infantil ao ensino médio. Nas análises de Cardoso (2009), a notícia foi recebida pelos profissionais da música com muito entusiasmo. A música nas escolas movimentará diversos mercados e setores culturais, valorizando a profissão dos músicos, sejam eles professores, técnicos ou outros profissionais ligados à área. Formadores de educadores musicais, fabricante de instrumentos, equipamentos e materiais didáticos, editores de livros, partituras musicais, entre outros. Se de um lado, há entusiasmo, por outro, há certa desconfiança e preocupação, porque foi vetado o parágrafo que diz que o ensino da música será ministrado por professores com formação específica na área, ou seja, a qualidade de ensino poderá ser prejudicada. Nesse contexto, os cursos de especialização vêm sanar essa lacuna e oferecer oportunidades de aprofundamento para muitos profissionais ligados a área. De todo modo, a aprovação desta lei é uma vitória, uma vez que já foram comprovados os benefícios da música: ela trabalha os hemisférios cerebrais, equilibrando o pensar e o sentir. A percepção auditiva trabalha a afinação. A melodia trabalha diretamente o emocional. A harmonia desenvolve o racional e a inteligência. A coordenação motora e movimentos são estimulados através da pulsação rítmica. É sabido que ela auxilia na aprendizagem da matemática, desenvolve a concentração, habilidades intelectuais, raciocínio lógico, etc. (CARDOSO, 2009). 5 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Ressaltamos que o material para estudo trata-se de uma reunião do pensamento de vários autores que entendemos serem os mais importantes para a disciplina. Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas regras de redação científica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser científico. Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar dúvidas e aprofundar 6 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 1 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PARA ARTES Discutir as leis brasileiras é a margem que se dá à interpretação de seus conteúdos e essa questão torna-se ainda mais grave quando o assunto é arte, conceito bastante relativo. Juntando-se um conceito relativo à legislação – e, ainda mais, à frágil estrutura escolar – brasileira, torna-se bastante delicado o tratamento da arte como disciplina do ensino fundamental, ainda que os documentos tragam orientações a esse respeito. Para Jussamara Souza (1998) falar sobre políticas educacionais é, portanto, falar sobre políticas de acordos e alianças; é desvendar o cenário onde nos movemos, o pano político de fundo e os bastidores das discussões. E na área específica de Educação Musical o processo não é diferente. Contextualizaremos brevemente as artes e a educação musical na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e nos Parâmetros Curriculares Nacionais para depois aprofundarmos na lei 11.769 que, como já exposto anteriormente animou e trouxe esperanças para a educação brasileira. LDBEN A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN – atualmente regulamenta os níveis e modalidades de educação e ensino (educação básica, educação profissional, educação superior, educação especial) estabelecendo normas à educação brasileira. Em relação à educação básica, especificamente ao ensino fundamental, a LDBEN estabelece áreas que devem fazer parte dos currículos nacionais, resguardadas as diferenças regionais. Art. 26. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento 7 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. § 2º. O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento culturaldos alunos. (BRASIL, 1996) A LDBEN determina que a organização do sistema de educação nacional seja mantida pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Estabelece também a obrigatoriedade dos educadores apresentarem formação em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena em universidades e instituições superiores de educação. PCN O objetivo inicial dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN – é servir de instrumento mediador nas discussões pedagógicas e de base para elaboração de projetos educativos, de planejamentos de aulas e para a análise e reflexão quanto à prática educativa, material didático e assuntos pertinentes à escola. Sua função é orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros (BRASIL, 1997) Sobre as aulas de arte no ensino fundamental, os PCN indicam uma relação entre aulas e as demais disciplinas da escola, buscando conexão com a cultura local e o espaço temporal que contextualizam as aulas. Contudo, sabe-se que os PCN não constituem uma regra a ser estritamente seguida, ele está mais para um guia para a prática escolar. Por sua natureza aberta, configuram uma proposta flexível, a ser concretizada nas decisões regionais e locais sobre currículos e sobre programas de transformação da realidade educacional empreendidos pelas autoridades governamentais, pelas escolas e pelos professores (BRASIL, 1997). 8 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Os PCN atendem a música em dois documentos organizados para a área da arte, sendo o primeiro referente à 1ª a 4ª séries (1º e 2º ciclos do ensino fundamental – atualmente 1º ao 5º ano) e 5ª a 8ª séries (3º e 4º ciclos do ensino fundamental – 6º ao 9º ano). Diversos autores analisaram a legislação mostrando seus aspectos positivos e negativos. Lima (2000) considera a LDBEN como documento que não especifica de quem é o papel da organização curricular para o ensino de arte nas escolas. A LDB nº9394/96 permite ampla liberdade de ação para elaboração dos projetos escolares, preocupando-se mais em criar parâmetros curriculares do que em impor um conteúdo curricular determinado (LIMA, 2000, p.40). A realidade das escolas difere daquela proposta pelos documentos norteadores da educação básica. Partindo do pressuposto que o ensino de arte contribui para outras disciplinas do currículo, tratando de forma natural e fazendo conexões com conceitos de cada área de conhecimento, nota-se que isso não é exatamente o resultado esperado. Segundo análises de Maura Penna (1998, p. 70) o documento dos PCN- Arte, que apresenta uma proposta tão abrangente, não chega, na verdade, a encarar de frente a questão de como viabilizar o trabalho com as diversas linguagens artísticas na escola. Quando ocorre essa inserção das aulas de artes nas escolas, muitas vezes uma única área é privilegiada. Fernandes (2004, p. 75) tem pensamento semelhante e diz que a presença de diferentes linguagens nem sempre acontece na prática e isso merece um exame cuidadoso. O que se encontra, na realidade, é, muitas vezes, a exclusividade da aula 9 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 de artes plásticas, fazendo com que os alunos não entrem em contato com as outras linguagens artísticas, como a música, a dança e o teatro. A música é, segundo os PCN (BRASIL, 1997), uma das possibilidades das aulas de arte no ensino fundamental, considerada assim porque está associada às tradições e culturas de cada época e região. As aulas de música no ensino fundamental incluem atividades de interpretação de música, o que pode ser julgado como apreciação e execução, inovação e criação. Atualmente, o desejo de que os profissionais da área de educação estejam a par da legislação educacional existe. A respeito desses documentos, todos ―exigem [...] uma análise profunda e amplas discussões, que envolva, entre outros aspectos, questões relativas à política educacional‖ (PENNA, 1998, p.61). Concordamos mais uma vez com Maura Penna ao lembrar que o desafio da área de educação musical é entender o que significa ensinar música na educação básica, que não é um espaço de profissionalização em nenhuma das áreas de conhecimento. Mas, logicamente, o fortalecimento da educação musical escolar não depende somente da universidade ou dos pesquisadores da área. Fundamentalmente, há que se investir na melhoria das condições de trabalho dos professores, provendo-lhes recursos materiais, didáticos e financeiros, e na abertura de concursos para professores de música, o que contribuirá para legitimar o papel da música no projeto político-pedagógico das escolas de educação básica, e, consequentemente, na formação geral de crianças, jovens e adultos. Enfim, podemos resumir que cabe ao poder público federal entender e tomar as medidas cabíveis para efetivação da educação musical nas escolas conforme preconiza a nova lei. 10 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 2 A LEI 11.769/2008 Desde a década de 1990, pesquisas e artigos sobre o ensino de música nas escolas vêm ganhando espaço nos encontros e seminários pelo país. Através das experiências cotidianas, da observação dos resultados positivos e da organização e sistematização de metodologias, aos poucos se comprova que é possível ensinar, com eficiência, conhecimento musical em grupo. Muito se discute sobre o retorno da música ao currículo escolar nacional. Em 18 de agosto de 2008 a aprovação da Lei 11.769 fomentou ainda mais tais discussões. Esta lei altera a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica (PEREIRA; AMARAL, 2010). A notícia foi recebida pelos profissionais da música com muito entusiasmo. Apenas a expectativa da volta da música nas escolas já movimentou diversos mercados e setores culturais, valorizando a profissão dos músicos, sejam eles professores, técnicos ou outros profissionais ligados à área, além de formadores de educadores musicais, fabricantes de instrumentos, equipamentos e materiais didáticos, editores de livros, partituras musicais, entre outros. A Lei 11.769 é sucinta e direta e diz que a música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular. É uma grande vitória a aprovação da lei, pois já está mais que comprovado os benefícios da música no auxílio à aprendizagem, entretanto, para os profissionais da área de educação musical, o valor da música transcende a ideia de apenas auxiliadora às outras áreas do conhecimento. Concordamos com Pereira e Amaral (2010) quando ressaltam que constantemente buscamos justificar o porquê de se estudar música. É como se a todo 11 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 tempo precisássemos demonstrar ou provar o valor musical perante a estrutura da vida em sociedade. Não se estuda música para ajudar na matemática, para diminuir a ansiedade ou ainda, para ocupar e relaxar a mente, simplesmente estuda-se música pela música. A música deve ser vista em sua finalidade essencial, tal como todas as demais áreas do conhecimento, pois representa por si só uma área específica que não necessita de justificação nas demais para existir na sociedade e adentrar na comunidade escolar. Ninguém se pergunta por que estudar português, matemática, física ou química, afinal, o estudo de tais campos do conhecimento científico já se justifica na necessidade que constatamos deles para a vida das pessoas. Posto isto, devemos passar a vera música também como ciência de acordo com suas especificidades, conforme enfatiza Souza (1989, p.82) ―Modelos estatísticos de análise foram experimentados o que tornou possível tomar a música e o indivíduo como sujeito em seu meio social como objeto de pesquisa‖. Nascido na Bélgica, Edgard Willems fundamentou seu trabalho em bases racionais para encontrar as relações entre música e ciência, possuindo como firme propósito fazer com que a educação musical ganhe status científico. A teoria de Willems baseia-se, por um lado, na ciência e, por outro, na psicologia (Piaget), que lhe fornece as bases para a compreensão do ser humano. Toda criança pode ser preparada auditivamente para Willems, contrariando a ideia de que o ensino musical é exclusivo para pessoas talentosas. Defende a necessidade do preparo auditivo anterior ao ensino de um instrumento musical, pois a escuta é a base da musicalidade. O som é o objeto de estudo do autor. Os fenômenos vibratórios são percebidos pelos sentidos, e o som, como fenômeno específico, é percebido pela audição. Por isso é necessário conhecer cientificamente o modo de funcionamento do ouvido. Ouvimos do jeito que ouvimos porque há uma estreita relação entre a fisiologia do ouvido e a escuta. É quase impossível imaginar o mundo sem música. 12 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Ir ao cinema ver um filme sem música, assistir a novelas na televisão sem música, namorar sem música, barzinho e churrasco com os amigos sem música. Casamentos, formaturas, bailes de debutantes sem música. Até velórios necessitam de música! Marchas e canções encorajam e fortalecem os batalhões de soldados nas guerras. Carnaval sem música, cantigas de roda para as crianças brincarem, cantigas de ninar para embalar, nada disso existiria sem a música. O que seria do povo brasileiro nos anos de ditadura burlados pela música dos subversivos, que enganavam a censura nos bons tempos de Caetano e Chico Buarque? Teria o Jornal Nacional da rede Globo sem aquela vinheta característica, que toca todas as noites na abertura antes do tradicional Boa Noite!, a mesma força no ideário das pessoas? A música caracteriza momentos históricos, pessoas, situações e acontecimentos. Qualquer brasileiro é capaz de reconhecer a ópera O Guarani, de Carlos Gomes no noticiário radiofônico público chamado A Voz do Brasil às 19h. Além das afirmativas acima que consideramos verdadeiras, igualmente podemos afirmar que o valor da música e da educação musical sofre modificações a cada período histórico. Na Grécia antiga, berço de filósofos importantes como Platão e Aristóteles e dada a influência dos mitos gregos para o homem contemporâneo, já era de concordância geral que a música molda o caráter do homem, considerando-a resultado da emoção subjetiva (aulos). Já Pitágoras concebe a música como um sistema de sons e ritmos regidos pelas mesmas leis matemáticas que operam na criação, vendo-a em seu aspecto objetivo (lira), que induz a serena contemplação do universo. Inspirados nestas ideias, a música para os gregos é vista de duas maneiras, uma que acredita na relação entre ela e os sentimentos e outra regida sobre leis matemáticas universais. Na era medieval o maior propósito da música era louvar a Deus e o controle do aprendizado musical foi confiado à Igreja. A criança talentosa era levada à Igreja 13 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 para aprender o ofício de músico. O objetivo das scholae era centrado na boa produção musical, destinada a atender às necessidades litúrgicas das Igrejas, não existindo nenhuma preocupação com o desenvolvimento musical da criança ou com sua educação e bem-estar (raptos). A família medieval não é afetiva e a sociedade não via a criança e o adolescente como vemos hoje. A criança pequena era vista como um animalzinho, fonte de diversão e entretenimento para os pais e dado o elevado número de mortes de crianças não havia preocupação com a educação infantil. A produção musical da Idade Média é quase exclusivamente litúrgica. Há poucos registros de música profana, por conta principalmente da precariedade da escrita musical. O aprendizado de ambas assemelha-se e era procurado em obediência ao espírito da época. Educador musical suíço, Émile-Jacques Dalcroze elaborou uma proposta de educação musical baseada na interação entre escuta e movimento corporal. Dalcroze era combatido no meio musical por suas ideias revolucionárias. Muitas das conclusões a que chega não são frutos diretos da experimentação, mas de suas intuições. Suas propostas congregam duas fortes tendências românticas: o entendimento da arte como expressão de sentimentos e a crença em métodos racionais e definitivos. Dalcroze atribuiu aos órgãos educacionais, aos professores e aos artistas a responsabilidade de promover a educação das massas. O ideal de Dalcroze é a união dos indivíduos, num processo que caminha em direção ao coletivo, tendo como propósito cultivar os ―ritmos naturais‖. Suas ideias a respeito da educação das massas refletem a preocupação com o aumento populacional. Em sua intenção de democratizar o ensino, Dalcroze ressalta a importância da presença da música na escola. Entretanto, o enfraquecimento da Igreja provoca um afastamento das pessoas da vida religiosa, o que por sua vez, tem como consequência, a ausência da música nas escolas. Para Dalcroze, toda ação artística é um ato educativo e o sujeito a que se destina essa educação é o cidadão. 14 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Seu sistema é pensado como agente de educação coletiva, e talvez esteja aí a atualidade de sua proposta. Uma importante mudança se faz sentir na educação musical renascentista, quando a criança passa a ser vista como necessitada de cuidados especiais. Começam a ser criadas escolas de formação básica em música (séc. XVI), conhecidas como ―conservatórios‖ que na verdade eram orfanatos. A educação começa a ser organizada nos colégios e seminários e a criança a ser encarada com mais responsabilidade pela família, autoridades da Igreja e Estado (Ospedali). O ensino passa a ser responsabilidade dos colégios, estando a cargo dos jesuítas. Após a Revolução Francesa a música alcançou o povo e a instrução musical foi calcada na relação mestre/discípulo, saindo das igrejas. Na Inglaterra (séc. XVII) começa-se a pensar em um plano para criar escolas de música, mas foi necessário esperar até o século seguinte. Apenas a partir de finais do séc. XVII se firma o conceito de infância, não se podendo pensar no valor da educação musical antes disso. O séc. XX viu despontar uma série de músicos comprometidos com o ensino de música. Nos fins da década de 1930, Mário de Andrade, Magdalena Tagliaferro e Eros Volúsia, entre outros, apresentaram G.Capanema uma série de projetos sobre possíveis reformas do ensino artístico no Brasil, mas que nunca foram caracterizados. No entanto, o Estado Novo acabou endossando somente os projetos de fácil execução e que exigiam pequenas verbas, como o programa de canto orfeônico organizado por Villa-Lobos. A partir de 1937, o governo procurou disciplinar e organizar em profundidade o ensino de canto orfeônico nas escolas. As grandes concentrações cívico-artísticas organizadas por Villa-Lobos foram se tornando cada vez maiores, mas disciplinadas e em rigorosa obediência a cronogramas bem minuciosos. Dado o caráter grandiloquente, de conotação ufanista, das celebrações programadas por Villa-Lobos, a música ficava numa posição secundária em face ao 15 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 discurso verbalizado, de conteúdo nitidamente político e moralista. Defato, a música deveria inebriar os espectadores para que estes ouvissem os fortes apelos populistas assentados no nacionalismo (YING, 2007, p. 13). Deixando à parte as considerações sobre o engajamento político, o projeto de ensino musical através do canto orfeônico é considerado como um dos poucos projetos de ensino musical que tiveram tamanho alcance no país. Com a substituição do canto orfeônico pela Educação Artística em 1970 o Educador Musical tornou-se um animador cultural, mais do que um professor. A partir daí, o referencial musical passou a ser apenas o imposto pelos meios de comunicação, reforçando a imitação e o desprezo pela auto-expressão. Atualmente a música não é vista como forma de conhecimento, reduz-se a servir de lazer e entretenimento ou de auxiliar em outras áreas. O reconhecimento do valor da música pelo grupo social coloca-a ou não no currículo escolar. Esta é a questão crucial do Brasil hoje: resgate do valor da música perante a sociedade. Somente com a Lei 11.769 tal resgate parece criar possibilidades e se tornar possível. Sem dúvida a vontade política dos governantes é o maior facilitador ou entrave neste tipo de empreitada. Que a reflexão sobre os caminhos trilhados no passado, e os entranhados relacionamentos do ensino musical e a política, nos conduzam a novos rumos mais esclarecidos e equilibrados sobre esta questão tão importante ao nosso país (PEREIRA; AMARAL, 2010). Cruvinel (2003) ressalta que no contexto contemporâneo, acredita-se que através do ensino de música nas escolas, os alunos poderão ter uma Educação Musical transformadora, onde poderão vivenciar novas experiências tanto no âmbito individual quanto no coletivo. A partir da experiência em grupo, os alunos poderão vivenciar situações e dinâmicas, interagindo e socializando com os demais colegas, contribuindo para que sua formação musical e instrumental seja mais lúdica. O educador musical deve conduzir a aula, trabalhando não só novos conhecimentos da área musical, mas também, das áreas interdisciplinares, proporcionado uma formação musical mais crítica. 16 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Porém, nem tudo é perfeito. O artigo segundo da proposta original da lei aqui discutida foi vetado. Veja o que diz o parágrafo único: ―O ensino da música será ministrado por professores com formação específica na área‖. Este veto é preocupante, pois coloca em xeque a qualidade do ensino musical que será oferecido aos alunos. É possível que esta decisão tenha sido tomada por saber-se que, no Brasil, não existem tantos profissionais habilitados para preencher todas as vagas do território nacional. E fazendo uma projeção ao prazo máximo para o início das atividades, é possível que as universidades não formem número suficiente de profissionais para atuarem em sala de aula. A lei dispõe no Art. 3º que os sistemas de ensino terão 3 (três) anos letivos para se adaptarem às exigências estabelecidas nos arts. 1º e 2º desta Lei (PEREIRA; AMARAL, 2010). Existe um outro problema. Em alguns estados brasileiros, principalmente da região nordeste, a distância de uma faculdade com cursos de música chega a 1.000km! Neste quadro o ensino coletivo se torna uma importante ferramenta no processo de democratização do ensino musical, pois é através dele que podemos dar acesso a um maior número de pessoas à Educação Musical. Para Kleber (2006) no ensino coletivo a interação social é utilizada como estratégia pedagógica. Sendo assim, não há como o professor generalista assumir a responsabilidade pela educação musical nas escolas. Um professor de artes não pode discursar com segurança sobre a expressividade exigida por Vivaldi em As Quatro Estações. Tal como Kleber, Galindo (2000) reforça a importância da qualidade na formação do educador musical, ressaltando que no ensino coletivo de música o educador deve ser dinâmico para que os alunos não percam a concentração e o interesse. Dinamismo subentende domínio da área trabalhada. Outra ferramenta importante para solucionar a carência no país de profissionais especializados na área musical para atender a demanda, seria a Educação à Distância. Esta modalidade de ensino cresce muito no Brasil, principalmente nos cursos de graduação. Os resultados são bastante estimulantes. 17 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Concluindo, em seu último artigo, que dispensa comentários, dispõe a Lei 11.769: Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Para que as aulas de Música não virem "hora do recreio", é preciso que os pais fiquem atentos em quem irá ministrar essas aulas e se esse ensino será contínuo e com uma metodologia capaz de desenvolver a capacidade musical dos estudantes de forma gradual, sem truncamentos e interrupções. Os profissionais de música precisam trabalhar para instituir gradualmente um Ensino Musical de qualidade, com metas pedagógicas precisas e contínuas. Devemos cuidar para que essa nova lei tenha um destino melhor do que as outras. As associações de classe, os coordenadores pedagógicos e professores da área devam trabalhar com responsabilidade junto ao MEC e às delegacias de ensino para a implantação de um ensino musical de qualidade (PEREIRA; AMARAL, 2010). 3 MÚSICA COMO COMPONENTE DOS RCNEI1s e PCN2s 3.1 A fala dos Referenciais para Educação Infantil Encontramos nos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil que a música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música está presente em todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas, políticas etc. Faz parte da educação desde há muito tempo, sendo que, já na Grécia antiga, era 1 REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL 2 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS 18 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 considerada como fundamental para a formação dos futuros cidadãos, ao lado da matemática e da filosofia. A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo à linguagem musical, sendo esta, uma das formas mais importantes de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na educação infantil, particularmente. A música no contexto da educação infantil vem, ao longo de sua história, atendendo a vários objetivos, alguns dos quais alheios às questões próprias dessa linguagem. Tem sido, em muitos casos, suporte para atender a vários propósitos, como a formação de hábitos, atitudes e comportamentos: lavar as mãos antes do lanche, escovar os dentes, respeitar o farol, etc.; a realização de comemorações relativas ao calendário de eventos do ano letivo simbolizados no dia da árvore, dia do soldado, dia das mães, etc.; a memorização de conteúdos relativos a números, letras do alfabeto, cores, etc., traduzidos em canções. Essas canções costumam ser acompanhadas por gestos corporais, imitados pelas crianças de forma mecânica e estereotipada (BRASIL, 1998). O trabalho com música deve considerar, portanto, que ela é um meio de expressão e forma de conhecimento acessível aos bebês e crianças, inclusive aquelas que apresentem necessidades especiais. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. 3.2 As justificativas dosPCNs Pelo PCN Artes, podemos relacionar várias tendências teórico- metodológicas no ensino de Artes nas escolas. Tendo em vista a atual sociedade, com seus 19 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 progressos e avanços científico-tecnológicos, o alto grau de disparidades sociais, a competição no mercado de trabalho e tantos outros aspectos inerentes à sociedade e seus problemas, as crianças e os jovens devem ser preparados para enfrentar esta nova realidade. Portanto, em primeiro lugar, observamos a preocupação na formação de cidadãos autônomos, críticos e participativos, aptos para ingressar no mercado de trabalho e atuar na sociedade de forma a contribuir na construção de uma nova realidade, respeitando as diversidades regionais, culturais e políticas. Com isso, enfatiza-se que os alunos se apropriem de conteúdos sociais e culturais de maneira crítica e construtiva. Para isso, é enfatizado o relacionamento contínuo e flexível com a comunidade, pois favorece a compreensão dos fatores políticos, sociais, culturais e psicológicos que se expressam no ambiente escolar. Além da formação de cidadãos críticos e participativos na sociedade, também verificamos as capacidades relativas aos aspectos cognitivo, afetivo, físico, ético e estético, necessários para o exercício da cidadania. Sendo a área de Arte constituída pelas linguagens artísticas como as Artes Visuais, a Música, o Teatro e a Dança, seu ensino visa a formação dos indivíduos para criar, se expressar e apreciar estas diversas linguagens. A pluralidade de ações, a ligação da arte com outras áreas de conhecimento, o estabelecimento de vínculos entre os conhecimentos escolares sobre a arte e seus modos de produção e aplicação na sociedade são alguns dos pontos importantes tratados no PCN Arte. A Arte como garantia de uma aprendizagem contextualizada em relação aos valores e modos de produção artística nas diversas épocas e meios socioculturais; o fazer artístico como desenvolvimento de potencialidades como percepção, intuição, reflexão, investigação, sensibilidade, imaginação, curiosidade e flexibilidade; o fazer artístico como experiência de comunicação humana e de interações no grupo, na comunidade, na localidade e nas culturas; a experiência do fazer, a experiência do apreciar e a experiência do contextualizar, todos estes representam aspectos considerados como fundamentais no ensino de Arte. 20 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Podemos dizer que a escola deve garantir um conjunto de habilidades que possibilitem ao aluno ter base suficiente para seguir no caminho do saber, apreciar e fazer artístico, atuando na sociedade de forma permanente, crítica e participativa. A presença do ensino de Arte e Música nas escolas brasileiras ocorreu, nos últimos anos, de forma bastante variada, destacando-se três momentos significativos: o Canto Orfeônico, entre as décadas de trinta e sessenta; a Educação Artística, na década de setenta e o momento atual, caracterizado por múltiplas interpretações e práticas. Verificamos a obrigatoriedade deste ensino através do seguinte texto: O ensino de arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis de educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos (LDB n. 9.394/96, Art. 26, § 2º). A redação deste artigo nos permite realizar certos questionamentos: alguma modalidade de ensino de Arte - Artes Visuais, Música, Teatro ou Dança, deverá ser privilegiada ou todas elas deverão ser trabalhadas? Nas séries iniciais do ensino fundamental, que profissional deverá ministrar este ensino: a professora ou o professor especialista? Encontramos algumas respostas no sexto volume dos Parâmetros Curriculares Nacionais e apresentaremos uma reflexão sobre algumas dimensões do processo de ensinar e aprender a partir da leitura crítica deste documento, enfocando: a abordagem sociocultural da Educação Musical; o ensino de Arte ou de Educação Artística e a questão da formação docente. Abordagem sociocultural da Educação Musical Os estudos sobre a relação entre cultura e educação musical questionam a abordagem eurocêntrica que considera o repertório da tradição erudita europeia como o de ―maior valor‖ e revelam a importância de se considerar não a música, mas as músicas das diferentes culturas como componentes das diversas comunidades sociais. 21 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 A repercussão desta concepção para o ensino de Música encontra-se, por um lado, na importância de se considerar a diversidade cultural e musical da escola e, por outro, na necessidade de se trabalhar com as músicas, enquanto possibilidades diferenciadas de organização sonora e meios de ampliação da experiência e discurso musicais dos/as alunos/as. Este aspecto nos leva à afirmação sobre o trabalho com as diferentes culturas, encontrada no PCN-Arte (2000, p.51): [a arte] pode ser observada [...] na música dos puxadores de rede, nas ladainhas entoadas por tapeceiras tradicionais, [...] nos pregões de vendedores [...] O incentivo à curiosidade pela manifestação artística de diferentes culturas [...] pode despertar no aluno o interesse por valores diferentes dos seus [...] possibilitando [...] reconhecer em si e valorizar no outro a capacidade artística de manifestar-se na diversidade. Para Penna (2001, p.2), essa concepção do ensino de música ―é bem direcionada, uma vez que consideramos que a função da educação musical na escola de ensino fundamental é ampliar o universo musical do aluno‖. Acrescentamos à ênfase no conhecimento das diferentes culturas, a importância das discussões sobre o inter-relacionamento entre elas, considerando a multiplicidade, complexidade e entrelaçamento entre os traços e marcas culturais dos indivíduos e das relações sociais. Tal perspectiva aproxima-se do conceito de interculturalidade de Barbosa (1995, p.11), para quem: ―o termo 'Intercultural' significa a interação entre as diferentes culturas‖. Uma outra dimensão da relação entre cultura e ensino de Música trata de retroalimentar a perspectiva intercultural, trazendo para o debate a contribuição que a Música pode lhe conferir. A esse respeito, afirma Sekeff (1996, p.145): ―mais do que a herança genética, é exatamente a cultura que determina a música dos povos e justifica as suas realizações (ao mesmo tempo em que sua música vai constituir também sua cultura)‖. 22 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Consideramos que um trabalho crítico realizado com a multiplicidade de manifestações musicais das diferentes culturas, pode contribuir para que os/as alunos/as compreendam melhor as inter-relações existentes entre elas. Ou, dito de outra maneira, a perspectiva intercultural possui uma importante contribuição para os estudos e práticas do ensino de Música e, este ensino, pode desempenhar um papel relevante na compreensão das questões colocadas por tal abordagem. O texto do PCN-Arte (2000, p.30) afirma que chegou-se à década de noventa ―mobilizando novas tendências curriculares em Arte [...] São características [...] as reivindicações de identificar a área por Arte (e não mais por Educação Artística) e de incluí-la na estrutura curricular como área, com conteúdos próprios [...]‖. Entretanto, a mudança de nomenclatura de Educação Artística para Arte parece ainda pouco clara para a efetivação do ensino desta área. A título de exemplo, tomamos o edital do concurso para professores do estado de Minas Gerais. Neste concurso, realizado em 2001, houve cinco vagas para professor de Arte na região da 40ª Superintendência Regional de Ensino. Destas, umaera para professor de Arte - ensino médio - e quatro para professor de Educação Artística - 3º e 4º ciclos do ensino fundamental (Minas Gerais, 2001, p.266; 272). Ora, se a Arte deverá se constituir enquanto área em todos os níveis da educação básica, ainda que encontrem-se professores atuando nas escolas, esse número de vagas chega a ser inexpressivo. É interessante notar, também, a ambiguidade na denominação: Arte para o ensino médio e Educação Artística para o ensino fundamental. Não houve nenhuma referência à presença do professor especialista para as séries iniciais do ensino fundamental, o que nos faz supor que nas escolas da rede estadual mineira esta tarefa estará a cargo das professoras. Com relação às diferentes modalidades de Arte o edital foi bastante aberto, uma vez que o professor habilitado em qualquer uma delas poderia se submeter ao 23 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 concurso e seu trabalho ocorreria de acordo com sua habilitação específica. Isto parece demonstrar que, ainda que denominado genericamente como professor de Educação Artística, a expectativa era a de que seu trabalho fosse especializado, diversamente daquele concebido como polivalente, da década de setenta. A respeito da distribuição das modalidades do ensino de Arte nos currículos, encontramos no PCN-Arte (2000, p.108-109): Um bom planejamento precisa garantir a cada modalidade artística no mínimo duas aulas semanais, em sequência, a cada ano [...] Por exemplo, se Artes Visuais e Teatro forem eleitos respectivamente na primeira e segunda séries, as demais formas de arte poderão ser abordadas em alguns projetos interdisciplinares, em visitas a espetáculos, apresentações ou apreciação de reproduções e vídeos, pôsteres, etc. A mesma escola trabalhará com Dança e Música nas terceira e quarta séries, invertendo a opção pelos projetos interdisciplinares. Percebemos, com isto, que o contexto confuso e periférico do ensino de Arte possui, nas orientações didáticas deste documento, um forte direcionamento. Ensino de Música e formação docente Ao se referir à professora, o PCN-Arte (2000, p. 57) resvala na questão da sua pequena formação em Arte: ―o professor das séries iniciais não ter vivenciado uma formação mais acurada nesta área [...]‖. Mas a proposição de amplos e complexos objetivos como: ―expressar e saber comunicar-se em artes [...] interagir com materiais, instrumentos e procedimentos variados [...] compreender e saber identificar aspectos da função e dos resultados do trabalho do artista [...]‖ (PCN-Arte, 2000, p.53- 54); também nos fizeram refletir sobre a importância da formação e atuação docente. Consideramos relevante que a formação musical esteja inserida no contexto atual de reflexões e propostas para a formação de professores/as, inicial e continuada ou permanente. Como afirma Penna (2001, p.4): ―Faz-se necessário [...] buscar 24 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 meios para capacitar o professor das primeiras séries para o trabalho musical em suas turmas [...]‖. Quanto à questão do professor especialista, recorremos a um questionamento de Bellochio (2001, p.46): ―bastam 45 minutos de aula de música semanais, de modo desarticulado dos demais conhecimentos que estão sendo trabalhados pelos professores, para potencializar a educação musical na escola?‖. Esta e outros professores e pesquisadores do campo da Educação Musical têm insistido que o trabalho com Música seja realizado pelo especialista, adequadamente formado para tal, ou pela professora, num trabalho colaborativo com o mesmo. Transcrevemos, ainda, a reflexão de Bellochio (2000, p. 03) sobre as possibilidades e limites da ação educativa em Música das professoras: Como possibilidades entendo, acima de tudo, o entrelaçamento entre diferentes áreas de conhecimentos que compõem o saber escolar [...] Os professores de SIEF conseguem potencializar, muito além da reprodução de canções, mediações dialógicas, utilizando-se de conhecimentos musicais [...] Entendo que alguns limites podem ser compreendidos pela questão do conhecimento específico em Música. Destacamos a possibilidade de entrelaçamento entre a Música e as demais áreas do conhecimento e informamos que, embora não tenha sido objeto deste texto, esta é uma das dimensões de nossa investigação. 4 A EDUCAÇÃO MUSICAL COMO PRÁTICA SOCIAL Anne-Marie Green (1987, p. 88 apud Souza, 2004) escreve em um de seus trabalhos que a presença da música em nossa vida cotidiana é tão importante que podemos considerá-la como um fato social a ser estudado. 25 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Para Souza, embora a frase pareça muito óbvia e apesar de estarmos acostumados a ouvir que a música é importante na vida das pessoas, vamos discutir um pouco sobre a questão social da música e suas relações no cotidiano das crianças e jovens. Socialmente a música deve ser considerada como uma comunicação sensorial, simbólica e afetiva que pode estar, muitas vezes, subjacente à nossa consciência, situação que os professores parecem não dar muita atenção, ou seja, a música ainda aparece como um objeto que pode ser tratado descontextualizado de sua produção sociocultural. Nos discursos e nas práticas ainda temos dificuldades de incluir todos aqueles ensinamentos das mais recentes pesquisas da área de musicologia, etnomusicologia e mesmo da educação musical. É preciso construir um conceito social da música porque não existe objeto musical independentemente de sua constituição por um sujeito. Não existe, portanto, por um lado, o mundo das obras musicais (que não são entidades universais e se desenvolvem em condições particulares ligadas a uma dada ordem cultural), e por outro, indivíduos com disposições adquiridas ou condutas musicais influenciadas pelas normas da sociedade. A música é, portanto, um fato cultural inscrito em uma sociedade dada (GREEN,1987 apud SOUZA, 2004). Esse entendimento mais ampliado sobre o significado social da música poderia ser útil para a compreensão das diferentes práticas musicais dos diversos grupos de estudantes na escola, e também revelar ―por que estudantes de diferentes grupos se envolvem em certas práticas musicais, por que evitam outras e como respondem à música na sala de aula‖ (GREEN, L. 1997, p. 33 apud SOUZA, 2004). Dessa forma, o que estaria no centro da aula de música seriam as relações que os alunos constroem com a música, seja ela qual for. Ainda citando Anne-Marie Green, a autora acredita ser mais importante definir o tipo de relação que os adolescentes, por exemplo, mantêm com a música do que ―se limitar a um estudo da prática ou do consumo musical unicamente por seu conteúdo ou gênero de música apreciada ou escutada‖ (GREEN, 1987, P. 95, apud SOUZA, 2004). 26 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Isso porque as preferências musicais dos adolescentes estariam ligadas a gêneros musicais que para eles possuem um significado relacionado à liberdade de expressão e de mudança. Ou seja, a relação que os adolescentes mantêm com a música representa uma manifestação de uma identidade cultural caracterizada por dupla pertença: classe de idade e do meio social (GREEN 1987 apud SOUZA, 2004 p. 100). Referindo-se aos os gêneros musicais que são altamente difundidos pela mídia, Green, A.-M. (1987) acredita que estes ―fazem parte de um processo de socialização, através dos quais os adolescentes criam suas relações sociais‖. Segundo a autora, esses gêneros musicais ―revestem-se aos olhos dos adolescentes de uma importância superior àquelasque se ligam às relações ‗obrigatórias de família‘. É por isso que o adolescente, que é quase sempre um aluno, sente uma impressão muito forte de liberdade com esses gêneros musicais‖ (GREEN, 1987 apud SOUZA, 2004). Investigando o fazer musical de jovens da cultura hip hop, Fialho (2003) afirma que o papel que a música ocupa na vida deles ―vai muito além do significado comumente atribuído a ela, como, por exemplo, o de entretenimento‖. Na medida em que os hip hoppers vão passando, gradativamente, de consumidores para produtores dessa música há uma transformação significativa em suas vidas. Muitos contam que antes de estar na cultura hip hop, fazendo rap, eram usuários de drogas. Outros praticavam crimes, como assaltos à mão armada e tráfico. Nessa realidade o rap surgiu como uma alternativa, onde foi possível deixarem as drogas e o crime, trocando-os pela música, e conquistando ou mantendo um status e reconhecimento dentro da sua comunidade. Eles atribuem ao rap o seu desligamento ―das coisas negativas‖. Também Müller (2000, p. 117) em seu estudo com crianças e adolescentes em situação de rua em uma escola de Porto Alegre observou que os alunos ―pareciam encontrar uma coesão na prática do rap, uma vez que, como grupo, se reconhecem como mais um integrante‖ do movimento hip hop. Nessa cultura 27 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 ―experimentam o sentimento de legitimação na sua vida de exclusões‖, trazida por um discurso que reivindica os direitos sociais e denuncia as dificuldades da vida na periferia para a qual tenta mobilizar a sociedade. Müller destaca ainda que ―a questão étnica‖ entre os alunos daquela escola ―era um fator relevante na sua identificação com o rap, uma vez que a grande maioria das crianças e adolescentes que frequentavam essa escola era de origem negra.‖ A autora conclui: ―o rap propiciava, portanto, momentos onde a autoestima individual crescia, também, em função da autovalorização do grupo como etnia, pois identificavam-se com as origens do movimento hip hop‖ (MÜLLER, 2000, p. 118). Esses exemplos mostram a inserção da música na vida de jovens, em seus aspectos comunitário e vivencial (Small, 1989 apud Souza, 2004) que foge à relação abstrata que normalmente as escolas propiciam. Como Ramos (2002, p. 89) alerta, os alunos ―vão construindo seu repertório a partir de suas vivências musicais nos ambientes da família, na mídia e na escola‖. Ao estudar a música da televisão no cotidiano de crianças de 9 e 10 anos, a autora chegou à conclusão de que para as crianças entrevistadas falar sobre música se baseia em suas próprias vivências musicais. Assim sendo, falar sobre música significa dizer ao colega as músicas que sabe cantar inteiras; as de que não aprenderam; as que não gostam; as que têm letras comprometedoras; as que têm letras que não entendem, e, por último, letras que falam de temas próximos de sua realidade social. Assim, escutar música significa aprender música com os cantores e grupos preferidos, aprender as músicas de que gostam e que, de alguma forma, falam de sua realidade (RAMOS, 2002, p. 89). As experiências musicais vividas pelas crianças em relação à televisão contribuem para novos conhecimentos das pesquisas sobre os meios de comunicação e para uma visão diferenciada do papel da mídia no cotidiano de crianças e seus processos de apropriação. Sobretudo busca valorizar as experiências cotidianas das crianças, sua vida no bairro e seus consumos musicais, questionando o que os alunos aprendem dentro da escola e, não menos importante, fora da escola. 28 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Considerar a música como uma comunicação sensorial, simbólica e afetiva, e, portanto, social, geralmente desencadeia a convicção de que nossos alunos podem expor, assumir suas experiências musicais e que nós podemos dialogar sobre elas. De todos os valores que potencializam o ensino de música nos dias de hoje, esse parece ser o mais importante. Quem são os alunos e alunas, sujeitos com os quais dialogamos em sala de aula? Que músicas são referências e referentes para a cultura, com as quais esses alunos e alunas se identificam, configurando os espaços e meios socioculturais do mundo em que vivem? Como os jovens/crianças aprendem música? E por último: como se dá a relação entre as dimensões herdadas e construídas na música vivida no lugar/mundo, o currículo da vida dos alunos e a música ensinada/aprendida no currículo do espaço escolar? Essas questões são questões básicas que podem orientar uma educação musical como prática social e que propõem ampliar o debate sobre o processo de ensino e aprendizagem de música e das dimensões curriculares dentro e fora da escola, explicitando questões relevantes sobre a vida dos alunos, contribuindo para a música na escola, lugar ainda privilegiado para encontros sociais que permite a nós, alunos e professores, analisar e desvendar as complexidades das músicas que nos rodeiam e que trazemos conosco. Pensar na educação musical, nessa perspectiva, parte da consciência da época em que vivemos, significa pensar também nos alunos que estão em sala de aula como sujeitos desse contexto histórico-cultural complexo e dinâmico. Hoje, os alunos representam uma geração que nasce, vive em meio a processos de transformação da sociedade contemporânea e suas repercussões no espaço social que habita, os quais presencia e dos quais participa. 29 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Como ser social, os alunos não são iguais. Constroem-se nas vivências e nas experiências sociais em diferentes lugares, em casa, na igreja, nos bairros, escolas, e são construídos como sujeitos diferentes e diferenciados, no seu tempo-espaço. E nós, professores, não estamos diante de alunos iguais, mas jovens ou crianças que são singulares e heterogêneos socioculturalmente, e imersos na complexidade da vida humana. Na condição de ser social, esses jovens adolescentes/ crianças (con)vivem com as transformações da sociedade, cuja dinâmica globaliza as pessoas e os lugares, organizam suas representações sobre si e sobre o mundo e interagem por meio de relações sociais no cotidiano com diferentes e diversos espaços e meios de socialização. Esses meios de socialização que oferecem referências de identidade ao ser jovem ou criança não são só os lugares tradicionais que representam relações pedagógicas institucionais como a família, a igreja e a escola. Os alunos estabelecem relações sociais e culturais em diferentes espaços e meios de socialização: no lugar em que residem, no bairro em que vivem, no grupo social e de amigos e, em diversas formas de lazer utilizadas no tempo livre, nos locais de práticas esportivas, na rua, no shopping, nos lugares de entretenimento da cidade, como os de grandes eventos e festas coletivas. A compreensão das práticas sociais dos alunos e suas interações com a cidade, o lugar como espaço do viver, habitar, do uso, do consumo e do lazer, enquanto situações vividas, são importantes referências para analisar como vivenciam, experimentam e assimilam a música e a compreendem de algum modo. Pois é no lugar, em sua simultaneidade e multiplicidade de espaços sociais e culturais, que estabelecem práticas sociais e elaboram suas representações, tecem sua identidade como sujeitos socioculturais nas diferentes condições de ser social, para a qual a música em muito contribui (SOUZA, 2004). As questões aqui expostas, discutidas e refletidas mostram que a legislação, por si só, não é suficiente para transformar as práticas educativas nas escolas. Além 30 Instituto Pedagógico de Minas Geraishttp://www.ipemig.com (31) 3270 4500 da imprecisão de seus termos, muitos professores foram formados dentro da concepção do ensino integrado/polivalente das diferentes linguagens artísticas. São professores de educação artística e estão preocupados em desenvolver práticas de educação artística, pois para tal foram formados e contratados. Portanto, não é possível exigir-lhes que atuem como professores especialistas de música, teatro, dança ou artes visuais. O fortalecimento da educação musical nas escolas passa, necessariamente, pelo investimento na formação musical continuada dos professores em serviço. Por outro lado, sabemos que são escassas as políticas de formação continuada em música elaboradas ou apoiadas pelos sistemas públicos de ensino. Aqui, é preciso ressaltar que também cabe à universidade a responsabilidade de propor projetos colaborativos e ações de formação continuada dos professores em serviço, envolvendo, além dos professores, diretores e membros da administração dos sistemas de ensino. No entanto, os educadores musicais ainda enfrentam o desafio de fazer com que os avanços da produção científica na área possam fertilizar concepções e práticas de ensino de música na educação básica, fortalecendo a presença da música nas escolas. É nesse sentido que Penna (2002, p. 17), mesmo reconhecendo que ―a educação musical ainda precisa ser valorizada socialmente de modo mais amplo‖, questiona: até que ponto a reduzida presença da música na educação básica não reflete o fato de que a educação musical reluta em reconhecer a escola regular de ensino fundamental [e médio] como um espaço de trabalho seu? Um espaço de trabalho que deve ser conquistado pelo compromisso com os objetivos de formação geral e de democratização da cultura, assim como pela busca de propostas pedagógicas e metodológicas adequadas para esse contexto escolar e a sua clientela. Finalizando, os resultados aqui apresentados apontam para a necessidade de examinar em que medida e de que formas os documentos curriculares elaborados por órgãos governamentais, como as secretarias e o Ministério da Educação, têm contribuído com as práticas educativas dos professores de música ou que atuam 31 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 com música nas escolas. Além disso, parece ser urgente investigar porque os professores com formação específica em música não têm sido absorvidos pelas escolas ou não se sentem atraídos a atuar como docentes da educação básica (DAL BEN ET AL, 2006). 32 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS ABRÃO, B. S. (Org.) História da filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1999. BEAUMONT, Maria Teresa de; FONSECA, Selva Guimarães. O ensino de música nas séries iniciais do ensino fundamental: saberes e práticas escolares. 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São Paulo: Dissertação de Mestrado em Artes – Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, 2007. http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/view/2455/1979 http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/view/2455/1979 35 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 ANEXO I LEI 11.769, de 18 de agosto de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica O PRESIDENTE DA REPÚBLICA .Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o O art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescido do seguinte § 6o: ―Art. 26. .................................................................................. ................................................................................................ § 6o A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2o deste artigo.‖ (NR) Art. 2o (VETADO) Art. 3o Os sistemas de ensino terão 3 (três) anos letivos para se adaptarem às exigências estabelecidas nos arts. 1o e 2o desta Lei. Art. 4o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 18 de agosto de 2008; 187o da Independência e 120o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Fernando Haddad ANEXO II EXPLICAÇÕES JURÍDICAS Este é mais um estudo das novidades legislativas ocorridas no Brasil. Ao mesmo tempo, busca-se fornecer ideias conceituais básicas a respeito dos termos legais. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm#art26%C3%82%C2%A76 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm#art26%C3%82%C2%A76 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm#art26%C3%82%C2%A76 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Msg/VEP-622-08.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Msg/VEP-622-08.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Msg/VEP-622-08.htm 36 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Base da Legislação Federal do Brasil: Lei ordinária. A Lei 11.769, de 18/08/2008 é uma lei ordinária. Lei ordinária é a norma jurídica3 criada pelo Poder Legislativo4 no exercício de suas atividades corriqueiras e típicas. As leis ordinárias são votadas por meio de processo ordinário e se sujeitam à sanção5 ou ao veto presidencial6. A lei considerada ordinária é a lei comum, é a lei habitual. Lei, por sua vez, é regra a que todos são submetidos que exprime a vontade imperativa do Estado. Norma jurídica obrigatória, de efeito social, emanada do poder público7 competente. 3 Preceito obrigatório imposto, ou reconhecido como tal, pelo Estado. Regra, artigo de lei, prescrição legal. Fórmula objetiva da vontade social, manifestada imperativamente a todos pelo Estado. O mesmo que norma legal. 4 Um dos três poderes da República Federativa encarregado de, principalmente, elaborar, discutir e aprovar leis. Na esfera federal, é exercido pelo Congresso Nacional, composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal; na esfera estadual, é exercido pelas Assembleias Legislativas; no Distrito Federal, pela Câmara Legislativa; e nos Municípios, pelas Câmaras de Vereadores. (CF/88, artigos 44 a 75). 5 ―É o ato do Poder Executivo pelo qual um projeto aprovado pelo Poder Legislativo é transformado em lei. Não confundir com promulgação da lei, que tem o mesmo efeito, mas é ato privativo do Congresso Nacional‖. 6 ―Recusa do Presidente da República a sancionar uma lei votada pelo Congresso Nacional. O veto pode ser parcial ou total e é necessariamente submetido à deliberação do Congresso, que pode rejeitá-lo. Nessa hipótese, o texto da proposição vetada volta à forma original, tal como havia sido aprovada anteriormente pelos parlamentares. O mesmo poder é exercido pelos governadores e prefeitos, nas respectivas esferas de influência‖. Também se fala em sanção presidencial. 7 Conjunto dos órgãos por meio dos quais o Estado e outras pessoas públicas exercem suas funções específicas. O poder do Estado, pelo qual ele mantém a própria soberania. O governo. 37 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Ato normativo aprovado pelo Poder legislativo e sancionado pelo Presidente da República. (CF/88, artigos 61 a 68). A lei ordinária distingue-se da lei complementar, que regula determinação da Constituição Federal. A Constituição Federal, por sua vez, é a ―lei básica‖ ou a ―lei maior‖. A Lei 11.769 foi publicada no Diário Oficial da União3 de 19/08/2008, na Seção I, página 1. Seu endereço na internet é: ―https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11769.htm‖ Ementa. A ementa da Lei 11.769 é a seguinte: ―Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica‖4 Referenda. A referenda à Lei 11.769 foi dada pelo Ministério da Educação (MEC) por meio da assinatura do Ministro Fernando Haddad. Veto. A Mensagem 622, de 18/08/2008, contém o comunicado ao Presidente do Senado Federal do veto parcial do Presidente da República ao Projeto de Lei 2.732, de 2008 (Câmara dos Deputados), 330, de 2006 (Senado Federal) que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. 3 Publicação oficial do Governo Federal. 4 Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11769.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11769.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11769.htmhttps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11769.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11769.htm 38 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 O Ministério da Educação manifestou-se pelo veto ao artigo 2º do projeto de lei. Isto porque o artigo vetado acrescentava parágrafo único ao artigo 62 da Lei 9.394 com a previsão de que o ensino da música seria ministrado por professores com formação específica na área. Nas razões do veto está explicado que é necessário esclarecer o significado da expressão ‗formação específica na área‘. Isto pelo fato de a música ser no Brasil prática social com diversos profissionais praticantes reconhecidos em todo o País sem formação acadêmica ou oficial. Esses profissionais estariam impossibilitados de ministrar tal conteúdo na maneira em que este dispositivo está proposto. Além disto, a exigência extrapola a definição de uma diretriz curricular e estabelece, sem precedentes, formação específica para a transferência de um conteúdo. Classificação de Direito. A classificação de Direito da Lei 11.769 é um tanto confusa e carece ser explicada. São estabelecidas as seguintes matérias: 1) Direito Constitucional; 2) Direitos Fundamentais; 3) Direitos primordiais; 4) Garantias asseguradas aos cidadãos e associações; 5) Direitos do homem; 6) Liberdades fundamentais; 7) Direitos políticos; 8) Liberdade de ensino e estudo. Ao que parece, todos os aspectos podem ser considerados como parte de uma só classificação: Direito Constitucional. Lei 11.769. O Congresso Nacional decretou e o Presidente da República sancionou a Lei 11.769, em 18/08/2008. O artigo 1º da Lei 11.769 acrescentou ao artigo 26 da Lei 9.394, de 1996 um parágrafo (§6º). 39 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 O artigo 2º foi vetado, conforme as explicações à Mensagem 622, de 2008. O artigo 3º determina que os sistemas de ensino terão 3 (três) anos letivos para se adaptarem às exigências estabelecidas nos arts. 1o e 2o da mesma Lei. Vigência. O artigo 4º previu a sua vigência na data de publicação da Lei. Esta se deu no D.O.U. de 19.08.2008. Lei 9.394/96. O artigo 26 da Lei 9.394 está localizado no Título V - Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino; Capítulo II – Da Educação Básica. Artigo 26. O caput do artigo 26 dispõe que os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. Os currículos devem abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil. (§ 1º) O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. (§ 2º) Inicialmente, o §3º previa que a educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, era componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos. A Lei 10.328, de 12/12/2001 transformou a educação física em componente curricular obrigatório da Educação Básica, com ajustes às faixas etárias e às 40 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 condições da população escolar, continuando a ser facultativa para os cursos noturnos. De acordo com a redação dada pela Lei 10.793, de 01/12/2003, a educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; II – maior de trinta anos de idade; III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; IV – amparado pelo Decreto- Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969; V – (VETADO) o inciso foi vetado e previa que a educação física seria facultativa aos alunos dos cursos de pós-graduação; VI – que tenha prole. O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia. (§ 4º) Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição. (§ 5º) A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2o deste artigo. (§6º) Conclusão. Pesquisas científicas já produzidas demonstraram os efeitos positivos que as músicas podem produzir sobre as ondas elétricas cerebrais. O ensino da música na Educação Básica, desta forma, deve contribuir na formação de crianças sempre mais saudáveis e equilibradas (MAFRA FILHO, 2010).
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